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0078/2008 - A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFMS
THE PRACTICE OF PHYSICAL ACTIVITY IN THE CITY UNIVERSITY OF UFMS

Autor:

• Caroline Silva de Oliveira - Oliveira, C. S. - Campo Grande, Mato Grosso do Sul - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - <carolsobike@hotmail.com>


Área Temática:

Não Categorizado

Resumo:

A implementação e o fortalecimento de iniciativas na atividade física e saúde são necessárias para orientar e propor práticas corporais de forma consciente e autônoma. Diante da relevância de levantamento de locais para prática de atividade física na elaboração de políticas públicas e práticas de intervenção, se faz necessário o conhecimento sobre onde e como esta atividade é desenvolvida, além das características de quem a busca. Este estudo teve por objetivos caracterizar os praticantes de atividade física na Cidade Universitária da UFMS, identificar as modalidades e motivos que os levavam a procurar aquele espaço e a importância de orientação profissional para esta prática. A coleta ocorreu por observação e entrevista com 75 indivíduos, em novembro de 2006. Os resultados indicaram que a maior parte eram homens, adultos, praticantes de caminhada e não tinham orientação profissional. Espera-se que estudos sejam realizados, pois estas informações podem colaborar para, intervenções e iniciativas de políticas públicas fundamentadas, além de direcionar elaboração de programas de incentivo a atividade física, como o Atlas do Esporte em âmbito municipal (em operacionalização).

Abstract:

The implementation and the strengthening of initiatives on physical activity and health are needed to guide and propose practical body in a conscious and autonomous. Given the relevance of the survey to place practice of physical activity in the development of public policies and practices of intervention, whether it is necessary knowledge about where and how this activity is developed, and the characteristics of who the search. This study was characterized goals practitioners of physical activity in the City University of UFMS; identify ways and reasons that led to seek that space and think about importance of vocational guidance for practice. The collection was for observation and interview, with 75 people in November 2006. The results indicated that most were men, adults, practiced mostly to walk and without professional guidance. It is hoped that the study is encouraging the development of projects in recognition of where and how physical activity is developed and characteristics of who the search. This information can collaborate to interpretations based, interventions and initiatives in public policy, as they may drive development of programs to encourage physical activity, such as municipal Atlas of Sports, in operation.

Conteúdo:

INTRODUÇÃO
A atividade física sempre existiu na história da humanidade e tem relação com as modificações ocorridas no processo de formação da sociedade. Estudos antropológicos e evidências históricas relatam a existência desta prática desde a cultura pré-histórica, como um componente integral da expressão religiosa, social e cultural 1.
Pela sua relação inversa com as doenças degenerativas, a atividade física é uma área relevante de investigação, pois indivíduos ativos tendem a apresentar menor mortalidade e morbidade por doenças respiratórias, cardiovasculares, diabetes, artrites e reumatismos 2. Dessa forma, várias instituições e organizações como a American Heart Association 3, a Organização Mundial de Saúde 4 e o Colégio Americano de Medicina Desportiva 5, têm enfatizado a importância da adoção de atividade física regular para a melhoria dos níveis de saúde individual e coletiva, especialmente para a prevenção e reabilitação de doenças cardiovasculares.
A atividade física é definida como qualquer movimento corporal produzido pela musculatura esquelética, portanto voluntário, que resulte num gasto energético acima de níveis de repouso as quais envolvem, por exemplo, a realização de atividades domésticas e de lazer; um exemplo de atividade física é uma caminhada a passos rápidos por 30 minutos realizada cinco vezes por semana 6.
Este estudo direciona-se no eixo da atividade física pela qualidade de vida. Segundo Nahas 7 é difícil definir qualidade de vida de forma objetiva, mas numa visão geral ela é a condição humana diante de um conjunto de parâmetros individuais e sócio-ambientais, modificáveis ou não, que caracterizam as condições em que vive o ser humano 7.
Ao que se refere à prática de atividades físicas, o Governo Brasileiro formulou a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNS) 8 visando modificar os altos índices de sedentarismo, ampliar e qualificar o acesso às práticas corporais no âmbito da atenção à saúde e produzir estratégias de melhoria da qualidade de vida da população 9.
A PNS reforça a importância de se trabalhar pela autonomia e qualidade de vida dos cidadãos, possibilitando a construção de modos de viver favoráveis à saúde10, 11.
Existem estudos importantes enfocando indivíduos, grupos e comunidades 2,3,4,5. Entretanto, nem todas as questões estão adequadamente respondidas nesta área, em particular quando se refere à população brasileira.
Entre os pontos em debate está aquele relativo aos dados sobre o nível de atividade física do brasileiro, uma vez que poucos são os estudos de âmbito nacional com este enfoque 12,13,14 .
A importância desses dados está na sua utilização como referência em políticas e programas de saúde pública na promoção da atividade física, portanto precisam ser representativos e atualizados periodicamente 7.
Pesquisadores voluntários mapearam as atividades físicas no Brasil em quase 300 abordagens diferentes, desde esportes preferidos até laboratórios, passando por clubes e turismo de lazer esportivo. Baseado neste mapeamento foi elaborado o Atlas do Esporte no Brasil 15 que põe em relevo as atividades esportivas e seus suportes institucionais e comunitários como um dos principais meios para o desenvolvimento social e econômico da sociedade brasileira na atualidade. Porém, verifica-se que não existe no Brasil um sistema de informações esportivas ou sobre práticas de atividades físicas em geral, o que impede e dificulta intervenções adequadas ou políticas públicas coerentes 16.
Para isso é importante mapear aspectos que envolvem a atividade física, como por exemplo, o Atlas do Esporte no Brasil 17. Democratizar e universalizar o direito à Educação Física exige o estabelecimento de metas, a coordenação de esforços públicos e privados, a elaboração de programas e eventos com vistas a maximizar o retorno social 15.
A implementação e o fortalecimento de iniciativas no campo da atividade física e saúde são necessárias para que trabalhadores dessas áreas tenham condições de orientar e propor práticas corporais ao cidadão de forma segura e eficaz.
Considerando a relevância de mapeamentos de locais para prática de atividade física na elaboração de políticas públicas e práticas de intervenção, se faz necessário o conhecimento sobre onde e como esta atividade é desenvolvida e as características da população que a busca.
Esta pesquisa está inserido no projeto “Mapeamento e descrição das condições dos espaços públicos onde é possível a prática de atividades físicas em Campo Grande – MS”, que tem como objetivo mapear os espaços públicos disponíveis na área urbana de Campo Grande para a prática de atividade física e as condições destes espaços.
Diante desse contexto, este estudo tem por objetivos: caracterizar os praticantes de atividade física na Cidade Universitária da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); descrever as atividades realizadas nesse local; identificar os motivos que os levam a procurar esse espaço e a opinião sobre a importância de orientação profissional para realização das mesmas.

MÉTODO
Tipo de pesquisa
O presente artigo caracteriza-se por uma pesquisa exploratória de caráter transversal. Exploratória, pois envolve levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas que têm experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão. Dessa forma, este tipo de estudo visa proporcionar um maior conhecimento para o pesquisador acerca do assunto, a fim de que esse possa formular problemas mais precisos ou criar hipóteses que possam ser pesquisadas por estudos posteriores 18. Transversal, visto que a coleta de dados ocorreu somente no mês de novembro de 2006.
Local
A Cidade Universitária da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), localizada na cidade de Campo Grande, possui como estrutura esportiva um estádio de futebol, pista de atletismo, pista de caminhada, ginásio poliesportivo, quadras poliesportivas, sala de musculação e complexo aquático.
Participantes do estudo
A população-alvo desse estudo foi composta pelos praticantes de Atividade Física (AF) na Cidade Universitária da UFMS.
A amostra foi composta por 75 indivíduos que realizavam AF entre 6h e 8h da manhã; 17h e 18h30 da tarde, pois foram os horários em que se constatou maior presença do público-alvo.
Instrumento
As informações foram obtidas por meio de roteiro de observação e de entrevista.
O roteiro de observação, composto de três itens, tinha por objetivo identificar as características de praticantes de AF na população do estudo quanto: a vestimenta para prática de AF, considerando roupas que permitissem a execução do movimento de modo confortável e adequado para aquela prática (roupas leves como bermuda, malhas, camisetas); o uso de calçados adequados, desconsiderando os que estavam de sapatos com saltos, sandálias ou descalços e proteção contra o sol, em que foi considerado o uso de boné ou roupa com manga comprida.
Importante salientar que a proteção contra o sol foi um aspecto observado tendo em vista a região ter alta Incidência de Raios Ultra-Violeta (IVU) nesse período do ano, com registros de IUV acima de 13 19, e este ser um fator de risco para o desenvolvimento do câncer de pele, o tipo mais incidente na maioria das regiões do Brasil 20.
O roteiro de entrevista foi composto por 16 questões que abordaram as variáveis sócio-demográficas: sexo, idade, profissão, nível de escolaridade, renda mensal e bairro em que residia; além de variáveis da prática AF: existência de locais para prática AF no bairro em que residia, atividade praticada dentro e fora da UFMS, freqüência da AF, motivo da busca pela AF e reconhecimento da importância da orientação profissional para a prescrição de AF.
Procedimentos
Para realização do estudo-piloto, os instrumentos foram aplicados em indivíduos com características idênticas aos que configuram na amostra deste estudo. A partir dos dados do teste-piloto, observaram-se questões que não corresponderiam às expectativas do objetivo deste estudo, sendo então descartadas e/ou alteradas.
A entrevista foi realizada através de abordagem direta aos indivíduos que se caracterizavam como praticantes de atividades físicas. Após a abordagem inicial, o entrevistador explanava brevemente o objetivo do estudo ao entrevistado, que posteriormente autorizava a utilização de suas informações apenas para fim de consolidação desta pesquisa e respondia às questões solicitadas voluntariamente.
Após a autorização do participante, a observação era realizada e os itens registrados em planilha.
Análise estatística
Os dados obtidos, tanto do teste-piloto como da amostra oficial, foram submetidos a análise estatística descritiva (freqüência, percentual, média e desvio padrão) e para isto foi utilizado o Software SPSS versão 10.0.














RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os participantes do estudo foram 75 indivíduos. Destes, 46 eram homens e 29 eram mulheres.
Na tabela 1 estão expostos os dados de observação.
Tabela 1- Dados resultantes da observação dos freqüentadores.
Observação Porcentagem
Roupa adequada 93%
Calçado adequado 84%
Proteção de sol 27%

Observa-se que a maioria vestia-se e calçava-se adequadamente para a AF. Foram encontradas pessoas que vestiam (5) e calçavam (12) vestimentas fora dos padrões recomendados para a prática de AF.
Uma minoria estava protegida contra os raios solares. O baixo uso de proteção solar pode ter ocorrido em função da prática de AF estar ocorrendo em um horário em que os raios solares são menos intensos. No entanto, no período de coleta o estado estava seguindo o horário de verão o que representava a realização da AF no sol das 16 horas.
Além dos dados de observação, procurou-se estimar o perfil do público do estudo.
Dos 75 participantes, 46 eram homens e 29, mulheres, apontando uma diferença numérica relativamente pequena entre participantes do sexo masculino e feminino. Porém a predominância masculina na prática de AF tem sido observada em outros estudos populacionais realizados em países desenvolvidos 15 e no Brasil 16, 17.
Em geral, existe uma tendência de as mulheres praticarem menos AF quando comparadas aos homens 21 sendo este comportamento observado desde a infância e adolescência 22. No Brasil, resultados semelhantes também têm sido descritos 23; no entanto, ainda são pouco conhecidos os fatores associados a esta menor participação das mulheres em atividades físicas.
Werneck et al.24 em seu estudo encontrou resultados semelhantes, visto que apenas um terço das mulheres praticava algum tipo de AF, enquanto quase 40% dos homens realizavam alguma AF. No estudo de Gomes et al. 13 , 36,8% dos homens participavam de atividade física, enquanto entre as mulheres o percentual era de apenas 19,3%. Em pesquisa realizada com funcionários de uma empresa estatal, Oliveira 23 observou, também, que as mulheres realizavam menos atividade física do que os homens.
Houve elevada variação na idade dos frequentadores, pois a mínima encontrada foi de 14 anos e a máxima de 68 anos, A média de idade foi de 38 anos e 48% se encontravam na faixa etária entre 18 e 36 anos.
Pode-se constatar que, hoje em dia, a prática regular de atividade física é muitas vezes encarada como “mecanismo de prevenção”25. Para que essa prevenção ocorra é importante agir na fase em que se inicia a maior parte dos decréscimos fisiológicos - a vida adulta intermediária (40–60 anos) 26.
Conforme constatou este estudo, a maioria dos indivíduos encontrava-se na faixa etária abaixo a fase adulta intermediária (menos de 40 anos). Tamayo et al. 27, relatou em seu estudo que para o adulto aderir à atividade física é mais complicado, pois ele tem que abrir espaço na sua agenda para praticá-la, e se esta exigir uma infra-estrutura determinada, procurar uma academia, um clube, um parque ou outro local apropriado, as barreiras para a prática começam a se multiplicar, fator este que pode explicar a menor presença de indivíduos desta faixa etária na Cidade Universitária.
As profissões citadas entre os 75 indivíduos foram: estudante (16), funcionário público (14), autônomo (12), do lar (10), comerciante (4), aposentado (3), auxiliar administrativo (2), motorista (2), professor (2), digitador (2), economista, auxiliar de estoque, advogado, engenheiro agrimensor, costureira, cabeleireiro, auxiliar de enfermagem, encarregado, manicure, enfermeiro padrão, pintor, biólogo, gerente, contador, jardineiro. Como se pode observar, a escolha do local da prática de AF está relacionada ao local de atuação profissional, visto que 22 indivíduos trabalhavam ou estudavam na própria Cidade Universitária.
O nível de escolaridade dos freqüentadores foi outro dado levantado neste estudo, porém os resultados apontaram para uma defasagem nas respostas, visto que os indivíduos (52) não responderam à essa questão; ensino superior (13); ensino fundamental (6) e ensino médio (4).
Em relação à renda, a maioria (31 dos 75 entrevistados) se enquadrava entre 2 e 5 salários mínimos; 19 declararam renda mensal acima de 5 salários mínimos, 18 afirmaram ter renda de até 2 salários mínimos e sete não souberam responder.
A renda per capita foi outra variável associada com AF. Na população de estudo, indivíduos com maior renda per capita configuraram como os que mais praticavam atividades físicas. Resultado semelhante foi observado em uma amostra representativa de indivíduos da Alemanha28, na qual homens e mulheres com maior nível sócio-econômico estiveram, respectivamente, quatro e três vezes mais engajados em atividades de lazer, independente de outros fatores relacionados ao estilo de vida. Ford et al.29 encontraram, também, associação entre nível sócio-econômico e AF, sendo homens e mulheres com menor nível sócio-econômico menos ativos fisicamente.
Quanto à localização da residência dos praticantes, 27 bairros da cidade foram citados. A maioria (65 indivíduos - 80%) residia em 17 bairros localizados próximos a UFMS, denominada Região Urbana do Bandeira, do Município de Campo Grande/MS.
Os resultados indicaram que 59% dos indivíduos não praticavam AF em seu bairro, pois residiam próximos a UFMS, inexistiam locais de prática no bairro, os locais estavam em más condições de uso e não havia infra-estrutura adequada.
Frente a isso, a questão seguinte queria identificar os motivos que os levaram a praticar AF na UFMS. Os motivos citados foram: lazer (28), perto de casa (19), recomendação médica (11), falta opção no bairro (11), gratuidade (7), amigos (3), saúde (1), ambiente agradável (1) e perto do trabalho (1).
Mais da metade dos indivíduos analisados moravam em bairros ao redor da UFMS e relataram que na região onde residiam os locais para prática de AF eram geralmente inacessíveis à população, pois eram privados e estavam em más condições de uso. Interessante observar que apesar de oito indivíduos estudar ou trabalhar na UFMS, apenas um justificou isto como motivo, além disto, somente um declarou que o ambiente da UFMS era agradável, por ser arborizado e calmo.
Diante desses dados tem-se um indicativo de escassez de locais públicos de fácil acesso ou que ofereçam uma infra-estrutura capaz de proporcionar a busca saudável e correta pela qualidade de vida, principalmente em regiões próximas à Universidade. Os espaços para a prática de AF são muitas vezes destinados a elite da população e estão concentrados geograficamente, além do que quase a totalidade das instalações existentes apresenta problemas de manutenção 30. Apesar das inúmeras atividades promovidas pela Prefeitura de Campo Grande nos vários parques públicos existentes, estes resultados explicitam falhas nas políticas e programas de incentivo a prática de AF, ou seja, as atividades podem estar sendo oferecidas em locais inadequados ao público que deseja e procura praticar AF.
O Gráfico 1 mostra as modalidades de AF mais citadas pelos freqüentadores da Cidade Universitária.

Entre as diversas modalidades de AF que poderiam ser praticadas na Cidade Universitária, apenas nove (9) foram apontadas: corrida, caminhada, natação, hidroginástica, futsal, futebol, voleibol, basquetebol, patinação e xadrez. As mais freqüentes foram: caminhada (38), futsal (11), basquetebol (10) e natação (9). Futebol, voleibol, patinação e xadrez foram citadas somente ma vez.
A caminhada foi a modalidade de AF mais freqüente entre os entrevistados. Dentre os motivos para explicar essa preferência tem-se o fato de ser uma modalidade individual, exigir pouco em termos de equipamentos, poder ser feita em qualquer lugar e ser considerada uma atividade simples, o que não quer dizer que as pessoas a fazem corretamente. É uma modalidade recomendada quase que unanimemente pelos profissionais da saúde. Sabe-se que é um dos exercícios aeróbios mais adequados para adultos, especialmente idosos e portadores de doenças cardíacas, porém o fato de ser de conhecimento da população seus benefícios, a caminhada pode ser ao mesmo tempo prejudicial, uma vez que sua prática é realizada sem orientação e de maneira incorreta.
A Cidade Universitária possui uma estrutura física favorável a realização de AF e é de fácil acesso à comunidade, não só acadêmica, como externa. De acordo com a observação e análise das respostas, nota-se que essa estrutura está sendo subutilizada, uma vez que no período da coleta foi observada a baixa utilização, principalmente dos locais destinados a prática de esportes coletivos ou que necessitem de materiais como bolas e redes. A Universidade não disponibiliza materiais esportivos para os freqüentadores; entretanto, por meio de projetos de extensão como futsal, voleibol, natação e hidroginástica, a UFMS oferece à comunidade externa a oportunidade de praticar AF, inclusive aos fins de semana.
Nos fins de semana, a prática de esportes coletivos e as atividades de lazer em família tiveram uma aderência maior em relação ao restante da semana, ou seja, os indivíduos levavam seus próprios materiais para a prática. Durante a coleta, observou-se um grupo de amigos jogando voleibol no estacionamento. Eles utilizavam duas árvores como postes para praticar aquele esporte. Ao questioná-los sobre o porquê de jogar naquele local, eles disseram que freqüentavam o local todo fim de semana e o escolheram por ser mais calmo e não terem que disputar a quadra com outras pessoas.
No Gráfico 2 estão expostos dados a respeito do recebimento ou não de orientação profissional para a prática de AF.
Conforme se observa no Gráfico 2, a prática da AF era realizada sem orientação profissional por mais da metade dos indivíduos. Dos 25 que receberam orientação, 14 responderam que esta veio por parte de médicos, 10 por profissionais de Educação Física e um por militar. Esses dados revelam que a busca pela AF ocorre sem orientação de profissionais capacitados a prescreverem atividades; assim como, muitos praticam AF sem um programa adequado, o que pode ocasionar tanto lesões quanto a não obtenção dos objetivos desejados.
O Gráfico 3 apresenta os resultados relacionados a importância do profissional de Educação Física na prescrição e orientação da AF a ser praticada.
A presença do profissional de Educação Física na organização e condução da AF foi vista como fundamental para a maioria dos entrevistados (69). Pode-se inferir que a maioria dos indivíduos tinha consciência da importância deste profissional para a prática regular de exercícios físicos; entretanto, a maioria deles não buscou ajuda na sistematização de sua AF e a realiza de maneira autônoma, o que pode acarretar efeitos opostos aos intencionados.
Ao perguntar aos indivíduos como a presença do profissional de Educação Física poderia ajudá-lo, eles indicaram situações como: orientação à realização do exercício (50), prescrição do plano de atividade (30), motivação (11) e avaliação (3).
Apesar dessa evidência em relação a visão dos praticantes de AF sobre a importância da presença do profissional de Educação Física, outra questão apresentou um contraponto: dos 69 indivíduos que consideravam importante a presença do profissional de Educação Física, 40 não estavam dispostos a pagar por esse serviço e 29 pagariam. Entre os 29 que pagariam pelos serviços, 18 disseram que desembolsariam até R$20,00 reais mensais.
Isto denota que a maioria dos participantes tem conhecimento sobre as atribuições do profissional de Educação Física; no entanto, não os reconhece como profissional que se mantém mercado de trabalho, visto a não disposição de pagamento pela orientação profissional do educador físico por mais da metade dos indivíduos.
Diante disto, cabe a classe profissional da Educação Física prestar esclarecimentos à sociedade sobre suas atribuições, valorizando assim o seu papel na sociedade.

CONSIDERAÇÕES
Os dados resultantes do roteiro de entrevista permitem ter o conhecimento de uma parcela da população da cidade de Campo Grande que pratica AF. Apesar de ser um público pequeno se comparado à população brasileira, a partir desses dados pode-se desenvolver uma referência de informações que possibilitem intervenções adequadas e coerentes quanto ao incentivo à prática de AF.
Salienta-se a importância de se trabalhar pela autonomia e qualidade de vida dos cidadãos, ampliando as suas possibilidades de construir modos de viver favoráveis à saúde e que reduzam sua vulnerabilidade ao adoecimento 11, 31.
Daí a importância de se conhecer quem freqüenta um local onde é possível praticar AF, o que eles fazem, o que os levam a se deslocarem até lá, até que ponto o profissional de Educação Física é visto como importante para os cidadãos, para que este possa intervir de maneira a proporcionar a população o direito à busca pela qualidade de vida através da AF.
A partir do Atlas verificou-se que não existe no Brasil um sistema de informações esportivas ou de práticas de atividades físicas em geral, impedindo assim que haja intervenções adequadas ou políticas públicas coerentes. Neste contexto, o objetivo de se instituir a coleta de dados sobre AF de modo sistemático no Brasil esta sendo reforçado.
Projetos de pesquisa como: “Análise espacial dos dados da Pesquisa do Esporte 32 por municípios do Estado de Mato Grosso do Sul”; “Levantamento e mapeamento dos espaços para atividade física no Estado de Mato Grosso do Sul” e “Mapeamento e levantamento dos espaços para atividade física na Região Imbirussu em Campo Grande/MS” por meio de Geotecnologias, alimentam o banco de dados sobre esporte, atividade física e Educação Física no Estado de Mato Grosso do Sul.
Além da identificação dos locais para a prática de AF em Campo Grande, caracterizar os praticantes que buscam os espaços públicos da cidade para a prática de AF se torna fundamental para a elaboração do Atlas MS.
Diante deste contexto, pode-se caracterizar os praticantes de AF na UFMS como homens, adultos, praticantes de caminhada, tinham por objetivo a busca pelo lazer, renda mensal entre dois e cinco salários mínimos, que não receberam orientação profissional para a prática de AF e tampouco estavam dispostos a pagar por este serviço.
Considerando os resultados e o fato da UFMS possuir o curso de Educação Física e ter instituído o Programa de Atividades Físicas (PAF), o qual por meio de atividades de extensão oferece modalidades esportivas (futsal, basquetebol, voleibol, lutas, natação), danças, ginástica, além do xadrez e hidroginástica para a comunidade acadêmica e sociedade em geral, questiona-se o não oferecimento de orientação ao público caracterizado neste estudo.
Instituições de ensino superior, órgãos públicos federais, estaduais e municipais e outras organizações têm em suas mãos instrumentos fundamentais para atuarem em seus papéis de mediadores entre o conhecimento e a sociedade, enfim, podem incentivar a prática de AF.
Espera-se que este estudo contribua para elaboração de projetos relativos à promoção da AF, visto que estas informações podem colaborar para interpretações fundamentadas de lideranças e gestores governamentais em suas intervenções e iniciativas de políticas públicas sobre Saúde e Educação Física, assim como direcionar a elaboração de programas de incentivo a AF, tanto em locais privados como públicos.


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Como

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Oliveira, C. S.. A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA NA CIDADE UNIVERSITÁRIA DA UFMS. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2008/nov). [Citado em 09/05/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/a-pratica-de-atividade-fisica-na-cidade-universitaria-da-ufms/3148?id=3148

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