0236/2024 - VIOLÊNCIA NAS RELAÇÕES DE INTIMIDADE ENTRE JOVENS UNIVERSITÁRIOS: reflexões teóricas a luz da análise bioecológica
VIOLENCE IN INTIMATE RELATIONSHIPS AMONG YOUNG UNIVERSITY STUDENTS: theoretical reflections in the light of bioecological analysis
Autor:
• Greice Kely Oliveira de Souza - Souza, G. K. O. - <greicekely@hotmail.com.br>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9134-0809
Coautor(es):
• Rosely Cabral de Carvalho - Carvalho, R.C. - <rccarvalho@uefs.br>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1060-2780
• Sinara de Lima Souza - Souza, S. L. - <sinarals@uefs.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8003-2093
• Jaciele de Souza dos Santos - Santos, J. S. - <jacisdossantos@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0181-1038
• Vivian Ranyelle Soares de Almeida - Almeida, V. R. S. - <ranyalmeida89@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0482-8433
• Givanildo da Silva Nery - Nery, G.S. - <givanildogsn@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9004-868
Resumo:
A violência nas relações de intimidade é considerada um grave problema de saúde, social e relacional visto que suas formas e consequências comprometem diretamente os direitos humanos e a saúde das pessoas envolvidas e não está restrita ao contexto da violência conjugal. Esse artigo tem por objetivo apresentar as contribuições da teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano na análise da violência nas relações de intimidade de jovens universitários. Foi possível refletir sobre a tríade: juventude, violência e relações de intimidade, como um conjunto de relações sociais, consideradas as influências contextuais, processos históricos e políticos constituidores de uma subjetividade no mundo. Com vistas ao modelo teórico do diagrama da teoria de Urie Bronfenbrenner os níveis do ambiente de uma comunidade universitária e os pontos mais distais podem estar relacionados com a VRI, e reveladas as características demográficas e socioeconômicas da/o jovem e de seu/sua parceiro (a). Dessa forma, observa-se a importância de reflexões teóricas do ambiente ecológico acerca do tema, no sentido de entendê-lo como fenômeno complexo, multicausal que se interligam e conectam com a violência nas relações de intimidade.Palavras-chave:
Violência por parceiro íntimo; Adulto jovem; Desenvolvimento humano.Abstract:
Violence in intimate relationships is considered a serious health, social and relational problem, since its forms and consequences directly compromise the human rights and health of the people involved and are not restricted to the context of conjugal violence. This article aims to present the contributions of the Bioecological Theory of Human Development in the analysis of violence in intimate relationships among young university students. It was possible to reflect on the triad: youth, violence and intimate relations, as a set of social relations, considering the contextual influences, historical and political processes that constitute a subjectivity in the world. In view of the theoretical model of the diagram of Urie Bronfenbrenner\'s theory, the levels of the environment of a university community and the most distal points may be related to VRI, and the demographic and socioeconomic characteristics of the young person and his/her partner were revealed. Thus, it is possible to observe the importance of theoretical reflections on the ecological environment on the subject, in order to understand it as a complex, multicausal phenomenon that are interconnected and connected with violence in intimate relationships.Keywords:
Intimate partner violence; Young adult; Human development.Conteúdo:
Este artigo tem como objetivo apresentar as contribuições teórico-metodológicas da teoria bioecológica do desenvolvimento Humano (TBDH) de Urie Bronfenbrenner que permitem analisar a violência nas relações de intimidade de jovens universitários, permitindo a pesquisadores, especialidades em saúde coletiva, profissionais da saúde mental e agentes políticos a reflexão teórica, prática e interventiva sobre os campos de ação, transformação e desenvolvimente das relações de cuidado e promoção de saude no âmbito acadêmico.
A teoria tem sido utilizada para auxiliar no entendimento de fenômenos que são associados ao desenvolvimento humano em suas diversas fases (infância, adolescência, vida adulta e velhice)1,2 e compondo distintas áreas do conhecimento, como por exemplo: família, contextos sociais de vulnerabilidade, processos de exclusão social, inclusão e deficiência, a atenção integral ao paciente e estudos epidemiológicos, além de diversos outros campos3-5.
Trata-se de uma teoria contemporânea, integrativa, diversa e sistêmica2. Bronfenbrenner, procurou ao longo do tempo reavaliar, expandir e revisar criticamente algumas concepções reveladas em relação à sua teoria e durante quatro décadas trabalhou em prol de um modelo científico adequado para estudar o desenvolvimento humano, de forma que a teoria estivesse implicada e aplicada a políticas públicas e práticas sociais que melhorassem a qualidade de vida das pessoas e de seus contextos4,5.
O olhar da violência nas relações de intimidade de jovens universitários à luz da teoria bioecológica do desenvolvimento humano estimula algumas análises ainda pouco exploradas na literatura científica e de fundamental importância para construção de políticas públicas de combate a violência e de construção de ambiente promotores de saúde e de relações sociais positivas.
Dentre as análises pouco exploradas inclue-se: (1) a compreensão de como condições psicológicas, socioeconômicas, culturais e familiares de indivíduos explicam a gênese e emergência do comportamento violento em distintos contextos e variadas relações intersubjetivas; (2) como pessoas vivenciam posições e/ou papéis distintos, seja como vitimas ou perpetradores da violência, inseridas em diferentes contextos e por fim (3) quais processos e interligações com o contexto, trajetória de vida e experiências cotidianas explicam a configuração de relações de intimidade violentas6,7.
A violência nas relações de intimidade é considerada um grave problema de saúde, social e relacional8 visto que suas formas e consequências comprometem diretamente os direitos humanos e a saúde das pessoas envolvidas e não está restrita ao contexto da violência conjugal.
Estudos nacionais e internacionais apontam que as taxas de prevalência são preocupantes, onde há legitimação e a normalização da violência nas relações de intimidades entre os jovens9-13. A concepção do fenômeno como um fato normal, revelada em estudo recente13 revela que a sua naturalização permeia questões culturais, sociais e de gênero.
Pesquisas apontam que, muitas vezes, a violência entre parceiros íntimos em situação marital iniciam na fase de namoro, o que pode determinar um padrão de relacionamento ao longo do ciclo de vida14-16. O alto risco para a violência nas relações de intimidade na fase de namoro ainda não é reconhecido em toda sua totalidade, apesar que os estudos apontam altos índices da VRI na fase de namoro17,18. Todavia, se analisarmos essa fase como sendo o início de experiências de relacionamentos afetivos e sexuais que podem culminar em relações futuras e duradouras e como o fenômeno pode estar presente nesta etapa do desenvolvimento humano é de extrema importância e urgência19.
Vários termos são utilizados na literatura para designar a violência nos relacionamentos íntimos. A violência nas relações amorosas foi definida desde 2004 como sendo um conjunto de atos violentos com predomínio da força20. Todavia, atualmente, o conceito de violência nas relações de intimidade (VRI) se tornou mais amplo, designando relações de intimidade como uma prática ou ameaça de um ato de violência que ocorre com um dos membros de um casal, seja do mesmo sexo ou do sexo oposto.
A violência nas relações de intimidade de jovens universitários é um fenômeno ainda pouco estudado no contexto brasileiro, comparado com os estudos que abordam a violência entre parceiros íntimos adultos, bem como com o campo de estudos internacionais sobre este constructo21,22.
Para uma maior compreensão desse fenômeno multicausal o paradigma sistêmico da Teoria Bioecológica do Desenvolvimento Humano23, se apresenta enquanto um importante modelo teórico-metodologico que possibilita análises contextuais, dinâmicas e transformativas sobre o papel de vitimas e agressores frente à violência.
Análises teóricas, como a defendida neste trabalho, são relevantes para elaboração do pensamento crítico, entendimento das trajetórias desenvolvimentais idiográficas, construção de cuidado em saúde e desenvolvimento de intervenções efetivas na resolução da violência enquanto problema social.
JUVENTUDE, VIOLÊNCIA E RELAÇÕES DE INTIMIDADE: uma tríade complexa
O estatuto da juventude através da Lei 12.852/2013 estabelece que são consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 (quinze) e 29 (vinte e nove) anos de idade, abordando a ideia de juventude vinculada a transição entre adolescência e vida adulta, uma concepção que reflete o resultado de alguns movimentos intrnacionais como a conferência internacional da juventude realizada em Grenoble, França (1964), a Declaração da ONU (Organização das Nações Unidas) sobre Juventude em 1965 e o Ano Internacional da Juventude - estabelecido pela ONU (1985) que vão construir o terreno para discussão sobre proteção social da juventude na arena política no Brasil a partir dos anos 200024,25.
A juventude é uma importante etapa do ciclo da vida para além dos demarcadores cronológicos amplamente utilizados, devendo ser vista como categoria social que incorpora um conjunto de relações sociais, influencias contextuais e processos históricos e polítcos constituidores de uma subjetividade no mundo26,27.
Os jovens brasileiros possuem recortes raciais, de gênero e classe distintos, o que revela a não existência de uma juventude, mas várias juventudes, com diferentes necessidades, limitações, potencialidades, desigualdades e territorialidades, não permitindo se falar de juventude no plural, mas sim no singular28.
Fenômenos como a construção da identidade, a obtenção da condição adulta, o pensamento crítico, a transformação de valores, a maior proximidade com a grupalidade e os pares, o afastamento do núcleo parental, o conflito com gerações anteriores e a busca por uma emancipação política e o desenvolvimento de uma autonomia no mundo são questões centrais que configuram o universo da juventude28,29.
Tais fenômenos influenciam na exposição a diferentes modos de vulnerabilização e risco (vulnerabilidade a violência, a exclusão social, as doenças crônicas e agudas, ao transtorno mental, ao preconceito e discriminações) com impactos na qualidade de vida, bem-estar e processos do desenvolvimento de jovens ao longo da vida30,31.
Dados do Atlas da juventude revelam que o Brasil possui cerca de 50 milhões de jovens, representando quase ¼ (um quarto) de toda nossa população, as regiões norte e nordeste contam com a maior proporção de jovens e a maioria da juventude brasileira são pessoas negras32.
De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (INEP), referentes ao ano de 2022, através do censo da educação superior, menos de 25% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos têm acesso ao ensino superior no Brasil33.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS)34 realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstrou que cerca de 29,1 milhões de pessoas de 18 anos ou mais sofreram violência psicológica, física ou sexual, no Brasil; no caso das meninas frequentemente o agressor é o companheiro, ex-companheiro ou familiar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define violência como o uso intencional de força física ou poder, real ou em ameaça, contra si, contra outra pessoa, ou contra a coletividade, que pode resulte ou possa ocasionar em lesões, morte, danos psicológicos, desenvolvimento prejudicado ou privação35-37. Constitui-se como um grave problema biopsicossocial, amplamente relacionada a consequências de leves a graves na saúde dos indivíduos, dos grupos familiares e da comunidade38.
A violência no contexto das relações amorosas apresenta-se de diversas maneiras e categorias, a depender da relação entre os envolvidos, podendo ser considerada violência doméstica, violência conjugal, ou violência nas relações de intimidade. A violência doméstica pode compreender como um comportamento violento de forma continuada ou um padrão de controlo coercivo exercido, direta ou indiretamente, sobre qualquer pessoa que habite no mesmo agregado familiar39.
A violência conjugal diz respeito a todas as formas de comportamento violento exercidas por um dos parceiros sobre o outro40. Por último, a definição de violência nas relações de intimidade ou violência entre parceiros íntimos (VPI) surge da demanda de amplificar a noção de violência conjugal, de forma a abranger a violência exercida entre parceiros envolvidos em diferentes tipos de relacionamentos íntimos, como é o caso das relações de intimidade juvenil41,42.
A violência entre parceiros íntimos engloba diversos tipos de comportamentos, como comportamentos abusivos, a violência psicológica, física e sexual, que podem estar presentes nos relacionamentos íntimos de jovens adultos, caracterizado como o uso da força ou qualquer ato físico ou psicológico infligido com a intenção de ferir, magoar ou causar dor no/a parceiro/a amoroso/a41-43.
A transformação das relações de intimidade em relações violentas e opressoras possui toda uma conjuntura histórica associada ao estabelimento das relações de poder e construção de hierarquias sociais produtoras de desigualdades entre os generos44.
As transformações sociais, econômicas, políticas e culturais ocorridas nos últimos anos vem modificando as relações de intimidade e produzindo novas formas de se nomear um relacionamento, alguns autores sintetizaram o “ficar”, o “pegar” e o “namorar” como mecanismo de desengajamento afetivo-amoroso e objetificação das relações45-47.
A compreensão de que as relações amorosas são líquidas, descartáveis e com tempo pré- determinado se tornaram comuns na última década48. O “ficar” é entendido como uma relação que menospreza o sentido de continuidade, fidelidade, lealdade e conjungalidade conferindo formas de violência simbólica nos relacionamentos amorosas.
Esses modelos de relacionamentos são replicados de formas distintas nos mais diversos contextos culturas, sociais e afetivos na ocidentalidade48. Ponderando que a universidade é um dos principais ambientes de sociabilidade dos jovens, o exercício da violência neste contexto assume uma dimensionalidade política, intersubjetiva e constextual específica exigindo múltiplos olhares teóricos e críticos.
ALGUMAS REFLEXÕES E INTERPRETAÇÕES DO MODELO BIOECOLÓGICO SOBRE VRI DE JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Condizente com o pensamento sistêmico e inserido na Teoria Geral dos Sistemas, desde a Ecologia do Desenvolvimento Humano (1979) até a Bioecologia do Desenvolvimento Humano (2005), podemos afirmar que Bronfenbrenner propôs e desenvolveu uma Teoria Geral da Bioecologia do Desenvolvimento Humano. Para melhor entender o desenvolvimento humano é necessário considerar todo o sistema bioecológico que envolve o indivíduo propondo que o comportamento humano (conduta) nasce em função do intercâmbio da pessoa com seu ambiente, entregando uma bidirecionalidade, de forma que tanto o sujeito, quanto o ambiente se mantêm em contínua influência, produzindo circunstâncias de continuidade e mudança para a realização de determinadas condutas1. Dessa forma, o contexto e o ambiente podem ser potencialmente benéficos ou impeditivos para determinadas metas.
Na teoria ecológica, existe um destaque para pesquisas realizadas nos ambientes naturais dos participantes, a fim de que se investigue o maior número de ambientes e das relações interpessoais nesses contextos. A sistematização desse modelo teórico está organizada como um conjunto de sistemas alinhados, segundo Bronfenbrenner, “o desenvolvimento é definido como mudança duradoura na maneira pela qual uma pessoa percebe e lida com seu ambiente”, e, portanto, compreendemos o ambiente ecológico como uma grande estrutura composta por camadas e ligadas umas às outras, em que o microssistema, mesossistema, exossistema e macrossistema são partes do contexto3. As propriedades da pessoa e do meio ambiente, a estrutura dos cenários ambientais e os processos ocorrendo dentro e entre eles devem ser considerados como interdependentes e analisados em termos de sistemas3.
Para a melhor compreensão dos fatores que podem estar relacionados com a VRI, construiu-se um modelo teórico (Figura 1) por níveis categóricos, procurando identificar os fatores que estariam em um nível mais distal e que poderiam ter uma influência direta sobre o problema em questão ou, indiretamente, através de fatores mais próximos.
Dessa forma, os pontos mais distais que podem estar relacionados com a VRI, podem ser referidos as características demográficas e socioeconômicas da/o jovem e de seu/sua parceiro (a). Estudos tem demonstrado que as mulheres são mais vitimizadas e correm mais riscos de abuso sexual por parte do parceiro íntimo8 e entre os indivíduos mais jovens observa-se que a vitimização é bidirecional, isto é, tanto o sexo masculino quanto o feminino perpetuam a violência, existindo uma diferenciação na forma e na intensidade da violência propagada contra o parceiro49,50. Em outro estudo, pertencer às classes econômicas mais baixas, passar por dificuldades financeiras ou ser economicamente dependente do parceiro aumentaram o risco de ocorrência desse fenômeno51.
Fig.1
O desenvolvimento humano ocorre através da interação entre a pessoa em desenvolvimento e os contextos –micro, meso, exo e macro–interconectados, que se influenciam, possibilitando interação e desenvolvimento em uma construção que abrange desde o grupo mais próximo até a realidade mais distante que atinge e impregna a vida social, conforme ilustrado na Figura 1. O desenvolvimento humano é, nesse espectro, interativo e contextualizado, e, o indivíduo não é um ser passivo. Antes disso, é interativo, copartícipe no próprio processo de desenvolvimento, sendo também dependente de outros que com ele interajam.
Um olhar para o objeto de estudo, com base no modelo de Bronfenbrenner, conforme Figura 1, possibilita analisar o jovem no seu contexto universitário onde são desenvolvidas as interações e os processos de desenvolvimento de pessoas, como é um ambiente de influência direta e recíproca com os professores, amigos e família por exemplo, e estas ligações ou ambientes comuns a dois ou mais microssistemas denominados mesossistemas. O exossistema, no caso específico dos Serviços de Saúde, é a rede de serviços que age sobre um ou mais microssistemas onde a pessoa em desenvolvimento está inserida. O macrossistema engloba um espaço que abrange todos os sistemas citados acima, seja na dimensão geográfica, como social, cultural, política ou religiosa. O Modelo ecológico se baseia em três premissas básicas:
i. A pessoa é um ser ativo que interage com o meio e é capaz de modificá-lo;
ii. O ambiente influencia diretamente no desenvolvimento humano e, como já foi dito anteriormente, a pessoa em desenvolvimento influencia o meio, dessa forma estabelece um processo bidirecional, onde a adaptação ocorre mutuamente;
iii. O ambiente é formado a partir de inter-relações estabelecidas entre os contextos mais profuso e que se integra com ambientes mais simples, sensibilizando, dessa forma, esse segundo e, por conseguinte, o desenvolvimento de quem nele está inserido3.
Em concordância com a teoria ocorre uma transição ecológica quando a posição da pessoa no meio ambiente ecológica é modificada, ocasionando assim em uma mudança de papel, ambiente, ou ambos3. As transições ecológicas existem durante todo o ciclo vital e são atributos da rede de apoio social e afetiva da pessoa. Conforme Bronfenbrenner3, quando há a transição de um microssistema conhecido para participar de um novo contexto há um fenômeno de movimento no espaço ecológico52. Assim, quando um jovem adentra uma universidade ele passa por essa mudança. A transição ecológica aciona o funcionamento de uma rede que existe estruturalmente e passa a ter significado no desenvolvimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo reflete sobre a violência nas relações de intimidade entre jovens universitários a luz da teoria bioecológica do desenvolvimento humano. com as novas configurações, os relacionamentos estão cada vez mais fluidos, não há a necessidade de compromisso, e isso faz com que sejam mais frágeis. O que não os exime da possibilidade da ocorrência da violência, e as diversas causas para esse comportamento violento são apontados como: criação dos pais, as famílias cada dia mais desestruturadas, a mídia e a sociedade e que apesar de presente no nosso cotidiano ainda não é discutida com a devida relevância.
Bronfebrenner privilegia os estudos em desenvolvimento de forma contextualizada e em ambientes naturais, sendo possível analiar a violência nas relações de initimidade de jovens sob essa ótica, pois apreende a realidade de forma abrangente, tal como é vivida e percebida pelo ser humano no contexto em que habita. O ambiente ecológico do desenvolvimento humano não se limita apenas a um ambiente único e imediato, é um conjunto de estruturas que se interligam e se interconectam, onde interferem e sofrem interferências mutuamente.
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