Bicentenário do Brasil independente sob o olhar da saúde
Reafirmando seu compromisso com o Brasil e com os brasileiros, a Revista Ciência & Saúde Coletiva publica no mês de setembro de 2022 uma edição temática sobre os 200 anos da soberania política do país, sob o prisma da história da saúde. Sob a editoria dos pesquisadores Gilberto Hochman, Tânia Salgado Pimenta e Ricardo Cabral de Freitas, os textos refletem a extraordinária ampliação de temas de intervenção e pesquisa resultantes de novos olhares e perspectivas teóricas e metodológicas, a partir de avanços historiográficos, científicos e tecnológicos nacionais e internacionais.
O leitor encontrará nas páginas desta Edição Temática, estudos sobre a saúde dos escravizados; as renhidas disputas jurisdicionais entre a medicina acadêmica e as artes curativas tradicionais provenientes da cosmologia indígena e africana; as relações entre Sociedade e Estado por meio de políticas de vacinação e enfrentamento de epidemias; a criação de espaços institucionais de ensino, pesquisa e debates e afirmação de identidades próprias à comunidade médica e de saúde pública do país.
Com o passar dos anos, a capital do Império, a cidade do Rio de Janeiro deixa de ser a única referência no campo em foco. Esse descentramento aparece nos artigos que analisam importantes experiências regionais e locais de caráter inovador. Os autores escrevem sobre questões que, embora praticamente invisíveis para análises tradicionais de médicos e sanitaristas, tornaram-se relevantes para qualquer balanço atual sobre a história da saúde no bicentenário do Brasil independente.
A maior parte dos trabalhos se dedica ao século XIX, com ênfase nos efeitos da emancipação política do país e no processo de institucionalização das instituições de saúde durante o período imperial. Contudo, alguns artigos avançam até o início do século XX, enfatizando continuidades, contradições e instabilidades que marcaram o campo nas primeiras décadas.
O ano do primeiro centenário foi caracterizado por muitas celebrações, mas também foi um tempo de crise política, econômica e de eleições. Um século depois, em 2022, esse mesmo cenário de crise se afigura, o que dificulta um olhar mais otimista e esperançoso sobre o Brasil. Apesar de tudo, é impossível desconhecer – embora levando em conta todas as contradições e percalços – a importância do Sistema Universal de Saúde (SUS) que, em seus 32 anos de vida, tem contribuído efetivamente para o cumprimento da promessa civilizatória feita pelo amplo campo da medicina e da saúde!