OBESIDADE: A DOENÇA DO SÉCULO
OBESIDADE: A DOENÇA DO SÉCULO
Na edição 25.8, a Revista Ciência & Saúde Coletiva, por meio do artigo de Streb e colaboradores (2020), “Simultaneidade de comportamentos de risco para a obesidade em adultos das capitais do Brasil” destaca a obesidade como um preocupante problema de saúde pública, por causa de sua evidente associação com várias doenças crônicas, elevada mortalidade e alto custo de atendimento pelo setor saúde. O tema é tratado pela análise de uma pesquisa nacional por meio de entrevista telefônica pelo Sistema Vigitel (Sistema de Vigilância em Saúde por Telefone-Ministério da Saúde) com 54.174 pessoas, das quais 35.448 (83,1%) adultas, com idade entre 18 e 59 anos. O foco do trabalho é na população adulta, na qual a obesidade pode estar correlacionada com síndrome metabólica, incapacidade funcional, doenças cardiovasculares, agravos osteomiarticulares, transtornos mentais e depressão.
A origem da obesidade pode ser genética, mas, geralmente, está associada a elementos culturais, tornando muito difícil atribuir uma proporção exata para cada um dos fatores que a provocam (MONTEIRO et al, 2005; CLARO et al, 2015; DANTAS, 2020; GONÇALVES et al, 2020; EICKEMBERG et al, 2020). O fato de estar ligada ao estilo de vida traz a responsabilidade pelo seu controle e superação para o colo do indivíduo em primeira instância, além de evidenciar como uma questão social fortemente influenciada por gostos e costumes familiares, mercantilização e propaganda de produtos.
O inédito neste artigo foi verificar a associação simultânea de comportamentos de risco e obesidade em homens e mulheres adultos residentes nas capitais do Brasil (STREB et al, 2020). Os autores observaram se a exposição a um determinado comportamento está relacionada à adoção de outros. Dos 35.448 adultos entrevistados, os homens obesos apresentaram simultaneidade do consumo de carnes com gordura, tempo excessivo na posição sentada, inatividade física e presença de quatro comportamentos de risco associados (MENEGUCI et al, 2015), dentre os quais, tempo elevado de exposição à televisão, distúrbios relacionados ao sono, fumar e ingerir bebidas alcoólicas em excesso. Esses comportamentos parecem se agrupar e exporem os indivíduos a um risco aumentado de doenças crônicas. Entre as mulheres obesas sobressaiu como fatores de risco o consumo simultâneo de doces e de carnes com gordura e sedentarismo.
Qual é a importância de estudos como este? São várias as lições que ele propicia. A primeira é que não existe uma determinação genética ou hereditária. Há uma grande probabilidade de que hábitos saudáveis possam ser cultivados, fazendo com que a situação de obesidade familiar não se manifeste nas gerações seguintes. Em segundo lugar, o artigo mostra qual é o vilão dessa história: a simultaneidade de escolha de comidas gordurosas e bebidas açucaradas e modo de vida sedentário. Em terceiro lugar, a constatação pelos autores de que talvez os efeitos mais graves da obesidade sobre a saúde não sejam muito severos na vida adulta: eles se guardam insidiosamente para a velhice, progredindo para situações de multimorbidade por doenças crônicas, incapacidade funcional e mortalidade precoce. Por fim, e muito importante, o fato de que cabe aos cidadãos conscientes as melhores decisões para criar um estilo de vida saudável: nunca o papel do sujeito na história de sua saúde foi e é mais relevante e imprescindível do que no mundo atual!
Referências
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Dantas, R.C.O.; Roncalli, A.G. Reprodutibilidade do protocolo para usuários com hipertensão arterial assistidos na Atenção Básica à Saúde. Ciência & Saúde Coletiva. 2020; 25(8):3037-3046.
Eickemberg, M.; Amorim, L.D.A.F; Almeida, M.C.C.; Pitanga, F.J.G.; Aquino, E.M.L.; Fonseca, M.J.M.; Matos, S.M.A. Obesidade abdominal no ELSA-Brasil: construção de padrão ouro latente e avaliação da acurácia de indicadores diagnósticos. Ciência & Saúde Coletiva. 2020; 25 (8):2985-2998.
Gonçalves, D.F.; Teixeira, M.T.B.; Silva, G.A.S.; Duque, K.C.D.; Machado, M.L.S.M; Ribeiro, L.C.. Fatores reprodutivos associados ao excesso de peso em mulheres adultas atendidas pela Estratégia Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva, 2020; 25 (8):3009-3016.
Meneguci, J.; Teles Santos, D.A.; Barboza Silva, R.; Gomes Santos, R.; Sasaki, J.E.; Tribess, S.; et al. Comportamento sedentário: conceito, implicações fisiológicas e os procedimentos de avaliação. Motricidade. 2015; 11(1): 160-174.
Monteiro, C.A.; Moura, E.C.; Jaime, P.C.; Lucca, A.; Florindo, A.A.; Figueiredo, I.C.R.; et al. Monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas por entrevistas telefônicas. Revista de Saúde Pública. 2005; 39(1):47-57.
Streb, A.R; Del Duca, G.F.; Silva, R.P.; Benedet, J.; Malta, D.C. Simultaneidade de comportamentos de risco para a obesidade em adultos das capitais do Brasil. Ciência & Saúde Coletiva. 2020; 25 (8): 2999-3007.
Cecília Minayo – editora-chefe
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