PRESS RELEASE
Situação das doenças crônicas não transmissíveis nos países de língua portuguesa é desigual
Maria Cecília de Souza Minayo, Editora-chefe da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luiza Gualhano, Editora assistente da Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
O artigo de Deborah Malta e colegas Carga das Doenças Crônicas Não Transmissíveis nos Países de Língua Portuguesa, publicado na edição 28.5.2023 da Revista Ciência & Saúde Coletiva, dá detalhes do cenário nos países lusófonos. No texto, os autores demonstram estatisticamente como está a situação em nove países: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique e São Tomé e Principe, na África; Brasil, na América do Sul; Portugal, na Europa; e Timor Leste, na Ásia. Esses países possuem um Plano Estratégico de Cooperação em Saúde que identifica o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) como uma prioridade.
As DCNT constituem hoje um dos principais problemas de saúde global, sendo responsáveis por grande número de mortes prematuras, incapacidades e perda da qualidade de vida, provocando impactos sociais, emocionais e econômicos para as famílias e a sociedade (WHO, 2013; 2018; ABEGUNDE et al, 2007).
Estima-se que, anualmente, 41 milhões de mortes no mundo (71% de todas as mortes) se devam às DCNT e, desses óbitos, 15 milhões são prematuros (30 a 69 anos). Cerca de 12 milhões ocorrem em países de baixa e média renda, o que vai contra o senso comum que lhes atribui a primazia apenas de doenças infecciosas.
Pela ordem, as estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostram que a maior probabilidade de morte prematura por DCNT ocorre em regiões africanas (22%), no Mediterrâneo Oriental (24%), no Sudeste Asiático (23%), na Europa (17%), no Pacifico Ocidental (16%) e nas Américas (15%) (WHO, 2018). Dada a alta relevância desse tema, atuar sobre os fatores de risco trabalhando com prevenção e controle levou a OMS (WHO, 2013) a incluir o tema das DCNT na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, visando a reduzir a mortalidade prematura (UN, 2015).
Figura 1. Projeções das taxas de mortalidade prematura por DCNT na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa para 2030. Tendência (linha vermelha cheia) e projeções de idade padronizada por DCNT com base em 2015 a 2019 (linha tracejada laranja) e a meta ODS 2030 (linha pontilhada verde).
O estudo de Malta et al. (2023) constatou que as taxas de mortalidade por DCNT, particularmente as prematuras que afetam a população mais jovem (30 a 69 anos) está em declínio em Portugal e no Brasil (MALTA et al, 2015; SILVA et al, 2021), países com os melhores desempenhos, seguidos por Guiné Equatorial, Angola e Guiné Bissau. Os cenários são mais preocupantes em países como Timor Leste, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Moçambique, nos quais essas taxas vêm aumentando.
Os fatores de risco para DCNT mais frequentes são pressão alta elevada, uso de tabaco, alimentação hipercalórica e desbalanceada, obesidade e poluição do ar. Nos vários países, o peso desses fatores é diferente. Mas fica evidente que o continente africano apresenta enormes desafios para o controle e prevenção dessas enfermidades por causa de sua estrutura econômica, imensas desigualdades, falta ou desorganização dos serviços de saúde.
Merece destaque a questão da poluição do ar como fator de risco que afeta significativamente a saúde, causando grande número de mortes prematuras e hospitalizações. Vários estudos, dentre eles o de Nugent et al (2018), apontam associação da poluição com doenças cardiovasculares, diabetes, problemas reumáticos, cognitivos, neurodegenerativos e doenças respiratórias crônicas.
A Agenda 2030 destaca o princípio da responsabilidade compartilhada e os desafios de avançar e não deixar ninguém para trás. No entanto, sem o apoio dos países mais ricos e dos órgãos da OMS, dificilmente ocorrerão progressos e mudanças nos indicadores onde as DCNT aumentam.
Evidências apontam que o controle dos fatores de risco é mais efetivo, quando medidas são instituídas pelo Estado intervindo sobre o ambiente, regulando práticas de comercialização, disponibilidade e oferta de serviços, taxando produtos nocivos à saúde, rotulando alimentos, e intervindo no tabagismo e no uso abusivo de álcool e de sal, nesse último caso, pelas indústrias.
Em resumo, este belo artigo que, de forma inédita, estuda a carga de doenças crônicas não transmissíveis no conjunto dos países de língua portuguesa e diferencia os principais problemas entre eles, demonstra o inequívoco fato de que, cada vez mais, nós somos responsáveis pessoal e coletivamente por nossa saúde!
Referências
ABEGUNDE, D.O., et al. The burden and costs of chronic diseases in low-income and middle-income countries. Lancet [online]. 2007, vol. 370, no. 9603, pp. 1929-1938 [viewed 5 June 2023]. https://doi.org/10.1016/s0140-6736(07)61696-1. Available from: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0140673607616961
MALTA, D.C., et al. A implantação do Sistema de Vigilância de Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil, 2003 a 2015: alcances e desafios. Rev bras epidemiol [online]. 2017, vol. 20, no. 4, pp. 661-675 [viewed 5 June 2023]. https://doi.org/10.1590/1980-5497201700040009. Available from: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/T3kFzmg5dpG3wNjF4hSF4Dm/
NUGENT, R., et al. Investing in non-communicable disease prevention and management to advance the Sustainable Development Goals. Lancet [online]. 2018, vol. 391, no. 10134, pp. 2029-2035 [viewed 5 June 2023]. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(18)30667-6. Available from: https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(18)30667-6/
SILVA, A.G., et al. Monitoramento e projeções das metas de fatores de risco e proteção para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis nas capitais brasileiras. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2021, vol. 26, no. 4, pp. 1193-1206 [viewed 5 June 2023]. https://doi.org/10.1590/1413-81232021264.42322020. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/W5rkRnXnV9MRQRBTKFThh9L/
UN. Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. Nova York: United Nations, 2015.
WHO. Best buys and other recommended interventions for the prevention and control of Noncommunicable Diseases. Genebra: World Health Organization, 2017.
WHO. Global Action Plan for the Prevention and Control of NCDs 2013-2020. Genebra: World Health Organization, 2013.
WHO. Noncommunicable Diseases Country Profiles 2018. Genebra: World Health Organization, 2018.
Para ler o artigo, acesse
MALTA, D.C., et al. Carga das Doenças Crônicas Não Transmissíveis nos Países de Língua Portuguesa. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2023, vol. 28, no. 5, pp. 1549-1562 [viewed 5 June 2023]. https://doi.org/10.1590/1413-81232023285.11622022. Available from: https://www.scielo.br/j/csc/a/vhKgNScrB4434FpYkjdwbdD/
Créditos das imagens: Revista Unick
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