Relevância da Pesquisa Nacional de Saúde para o SUS
Relevância da Pesquisa Nacional de Saúde para o SUS
Release da Edição 26.4 2021
Escrito por Cecília Minayo e Luiza Gulhano
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) é o mais abrangente inquérito populacional em saúde realizado no País e conta com duas edições 2013 e 2019. Esse estudo constitui um passo à frente em relação às PNAD/IBGE sobre a saúde dos brasileiros, acompanhadas e analisadas pela Ciência & Saúde Coletiva desde 1998. A PNS é conduzida pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde e tem a colaboração de instituições de ensino e pesquisa. Em seu desenho, inclui os fatores que favorecem a vida saudável e o adoecimento, o acesso e a utilização de serviços, a prevalência de doenças crônicas e das violências. Trabalha com o ciclo de vida e com medidas antropométricas da população. Em 2013, a PNS inovou ao acrescentar às questões pesquisadas, coleta da medida da pressão arterial, de sangue e de urina, numa subamostra nacional com cerca de 9.000 participantes.
Em edições anteriores, a Revista Ciência & Saúde Coletiva (C&SC) publicou vários artigos sobre essas duas importantes pesquisas. Neste número estão os resultados dos exames laboratoriais da PNS 2013, em particular, em relação às doenças crônicas, as que, em maiores proporções, hoje exigem mais cuidados no SUS e provocam mais mortes. Um achado de relevância incontestável é o fato de os dados autorreferidos pelos participantes subestimarem a prevalência das doenças: as estimativas laboratoriais mostram que as doenças crônicas renais, por exemplo, apresentam prevalência quatro vezes mais elevada do que a percebida pelo seu portador.
C&SC vem destacando a importância das PNS para a sociedade brasileira, pois elas constituem instrumentos fundamentais para planejamento das ações de saúde pública. Alguém poderia dizer que o momento é de falar da Covid-19. Sim, também na tragédia sanitária que a população brasileira está vivenciando, tanto os idosos como os jovens com comorbidades crônicas são os mais vulneráveis e os que mais morrem! Portanto, esta edição temática traz informações inéditas, oportunas e de qualidade e acende luzes para ação do Sistema Único de Saúde!
Confira o Editorial produzido pelas pesquisadoras: Deborah Carvalho Malta, Célia Landman Szwarcwald, Cimar Azeredo Pereira, segue abaixo para leitura.
Ciência & Saúde Coletiva
versão impressa ISSN 1413-8123versão On-line ISSN 1678-4561
Ciênc. saúde coletiva vol.26 no.4 Rio de Janeiro abr. 2021 Epub 19-Abr-2021
https://doi.org/10.1590/1413-81232021264.01142021
EDITORIAL
Pesquisa Nacional de Saúde, análises laboratoriais e monitoramento de metas de redução de Doenças Crônicas
Deborah Carvalho Malta1
http://orcid.org/0000-0002-8214-5734
Célia Landman Szwarcwald2
http://orcid.org/0000-0002-7798-2095
Cimar Azeredo Pereira3
http://orcid.org/0000-0001-6183-1607
1Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública, Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte MG Brasil.
2Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde, Fiocruz. Rio de Janeiro RJ Brasil.
3Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro RJ Brasil.
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) destaca-se por ser o mais abrangente inquérito populacional em saúde realizado no País e conta com duas edições 2013 e 2019. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde e em colaboração com instituições de ensino e pesquisa. A PNS inclui temas sobre determinantes e condicionantes em saúde, acesso e utilização de serviços, doenças crônicas, violências, fatores de risco, ciclos de vida, medidas antropométricas, além de ter inovado, em 2013, incluindo a coleta da medida da pressão arterial e material biológico (sangue e urina) em uma subamostra de cerca de 9.000 participantes.
Este suplemento da Revista Ciência e Saúde Coletiva contém artigos baseados em resultados dos exames laboratoriais da PNS 2013, e contribui para avançar nos conhecimentos sobre a saúde da população brasileira. Dentre as análises, a comparação entre os dados autorreferidos e as medidas bioquímicas de Diabetes Mellitus, doença renal crônica (DRC) e Colesterol, apontam que as medidas autorreferidas tendem a subestimar a prevalência das doenças, e conclui-se pela necessidade de incorporar o componente laboratorial na rotina dos inquéritos em saúde. Dados recentemente analisados e publicados amostram que a DRC é subestimada no País e as estimativas laboratoriais apresentam prevalências 4 vezes mais elevadas entre adultos1.
Neste suplemento, análises de diferentes calculadoras para estimar o Risco Cardiovascular (RCV) da população brasileira identificaram grande variação na proporção de indivíduos classificados como alto RCV, implicando em dificuldades na escolha da população alvo para priorização das políticas públicas. Os resultados indicam a necessidade de se avançar na definição dos valores de referência dos exames laboratoriais brasileiros, a partir de estudos nacionais.
Os resultados dos exames laboratoriais da PNS aqui apresentados, bem como das análises de inquéritos populacionais, possibilitam monitorar as metas dos Planos de Ação de Enfrentamento das DCNT. Desde 2015, com o aumento das desigualdades e as políticas de austeridade implantadas, ocorreram pioras nos indicadores de fatores de risco (FR) de DCNT (tabaco, consumo de frutas e hortaliças, atividade física, obesidade). Estes dados reforçam a importância de avançar em ações e políticas de promoção à saúde e medidas regulatórias para enfrentamento das DCNT.
A Revista C&C tem destacado a importância da PNS no contexto da saúde pública brasileira, provendo informações oportunas, de qualidade, que podem orientar o planejamento em saúde, futuras direções, avanços e desafios. Muitas outras análises serão possíveis com esta importante base de dados, visando buscar respostas para a saúde coletiva. Destacamos ainda que na PNS 2019 não foi coletado o componente laboratorial, portanto a base da PNS 2013 permanece ímpar, sendo um convite para novas análises, em especial visando explorar aspectos referentes aos determinantes sociais e às desigualdades em saúde. Destacamos ainda a necessidade de incorporar este componente em futuras pesquisas, bem como a defesa da sustentabilidade desta importante pesquisa para a Saúde Pública brasileira.
REFERÊNCIAS
1 Malta DC, Machado IE, Pereira CA, Figueiredo AW, Aguiar LK, Almeida WS, Souza MFM, Rosenfeld LG, Szwarcwald CK. Avaliação da função renal na população adulta brasileira, segundo critérios laboratoriais da Pesquisa Nacional de Saúde. Rev. bras. epidemiol. [Internet]. 2019 [cited 2021 Mar 05]; 22(Supl. 2):E190010.SUPL.2. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-790X2019000300407&lng=en [ Links ]
Fonte da imagem: Site do Ministério da Saúde
Fonte: Ciência & SaAúde Coletiva