EN PT

Artigos

0271/2025 - Covid-19 e a domesticação da sexualidade de adolescentes e jovens na emergência da pandemia (2020-2022)
Covid-19 and the domestication of adolescent and young people's sexuality in the emergence of the pandemic (2020-2022)

Autor:

• Cristiane S. Cabral - Cabral, CS - <cabralcs@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3025-2404

Coautor(es):

• Vera Paiva - Paiva, V - <veroca@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8852-3265

• Djalma Barbosa - Barbosa,, D - <djalma.barbosa@ufr.edu.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6143-7543



Resumo:

As interações sociais e sexuais de adolescentes e jovens foram fortemente impactadas pela pandemia de covid-19 e aprofundaram os obstáculos para discutir, no espaço escolar, temas relativos à prevenção e educação para sexualidade. Este artigo aborda o processo de socialização da sexualidade, em meio à pandemia de covid-19, a partir dos resultados de duas pesquisas articuladas com jovens de 16-19 anos, estudantes de ensino médio e moradores de regiões periféricas em São Paulo. Utilizamos métodos mistos para produção de dados: a) observação das interações entre jovens e colaboração nos espaços escolares; b) questionário, respondido antes da pandemia (2019) e após reabertura das escolas (2022); c) 40 entrevistas individuais em profundidade (2022). O contexto escolar é cenário de experimentações e aprendizados de gênero e sexualidade, capaz de acolher tanto a reiteração da cisheteronormatividade, mas também a expressão da não binaridade sexual e de gênero. A pandemia acirrou um processo de domesticação da sexualidade, servindo tanto como estratégia de prevenção como de adaptação ao contexto pandêmico. Assédio e consentimento nas relações afetivo-sexuais são temas de forte interesse dos/as jovens e precisam ser incorporados em programas de intervenção e de prevenção voltado ao público juvenil.

Palavras-chave:

covid-19; escolas; jovens; sexualidade

Abstract:

The social and sexual interactions of adolescents and young people were significantly impacted by the COVID-19 pandemic, increasing challenges in addressing prevention and sexual education in schools. This article addresses the socialization of sexuality during the COVID-19 pandemic, based on two researches with young people aged 16–19, high school students from peripheral areas in São Paulo. A mixed-methods approach was used: a) observation of interactions among young people and collaborative activities in school settings; b) a questionnaire self-administered before the pandemic (2019) and after schools reopened (2022); and c) 40 individual in-depth interviews (2022). The school environment is a setting for experimentation and learning about gender and sexuality, capable of welcoming both the reinforcement of cisheteronormativity and the expression of gender and sexual non-binary identities. The pandemic has intensified a process of domestication of sexuality, functioning both as a preventive strategy and as an adaptation to the pandemic context. Harassment and consent in affective-sexual relationships are topics of great interest to young people and should be central to intervention and prevention programs targeting this population.

Keywords:

covid-19; schools; young people; sexuality

Conteúdo:

INTRODUÇÃO
A pandemia de covid-19 afetou a sexualidade juvenil de forma multifacetada e impôs
adaptações diversas na vida cotidiana, sobretudo nas experiências de sociabilidade. Em
tempos ordinários, o período da adolescência e juventude é marcado pela intensificação da
aprendizagem sobre gênero e sexualidade. 1,2 Dos espaços do território escolar, a esperada
sociabilidade se estende para jogos, festas, espaços de lazer e de convivência comunitária,
com aumento de interações sociais fora de casa e entre pares. O extraordinário forjado pelo
período mais agudo da pandemia de covid-19 produziu adaptações inéditas e específicas
dessa geração de jovens, aprofundando a primazia das interações digitais em detrimento dos
encontros face a face com amigos/as e parceiros/as afetivo-sexuais não coabitantes.
No Brasil, instituições públicas de ensino mantiveram aproximadamente 18 meses de
ensino remoto, realizado de modo bastante precário nas periferias. As escolas fecharam em
março de 2020 e reabriram paulatinamente no segundo semestre de 2021 depois da vacinação
de professores e jovens. O acesso à informações qualificadas sobre saúde sexual e
reprodutiva, sob ataque de grupos conservadores 3 , ficou ainda mais limitado no período.
A literatura científica tem ressaltado os efeitos da pandemia na vida de adolescentes e
jovens 4,5 com especial ênfase sobre o crescimento de eventos de saúde mental. 6,7 Documenta-
se depressão, ideação suicida, maior convívio com membros do grupo doméstico (permeado
por tensões e violências), impacto dos contextos de violência (intrafamiliar e urbana), medo
da morte (sua ou de entes próximos) 6-10 , experiências que concebemos como sofrimento
psicossocial. 11,12 O debate acadêmico, contudo, pouco abordou como a sinergia da covid-19
com outras epidemias - em especial as de HIV/Aids, sífilis e violência sexual - afetou as
vidas desta geração. Poucas dimensões da vida afetiva e sexual desses jovens têm sido objeto
de atenção, embora as diferenças e desigualdade baseadas nas identidades sexuais e de gênero
sejam fonte histórica de mal-estar. 13
Normas, valores e expectativas sociais ligadas à sexualidade e gênero são aprendidos
por meio da familiarização de cada pessoa com práticas, crenças, representações sociais,
modelos de comportamento e formas de interação presentes em seu contexto sócio-
histórico. 2,14 Instituições sociais – família, escola, grupos de pares, religião, plataformas
digitais – transmitem e reforçam expectativas normativas, mediadas pelos mecanismos de
controle social. 1,15 Há uma pedagogia da sexualidade e do gênero que ocorre mediante a
apreensão de elementos culturais que definem feminilidade, masculinidade e
heteronormatividade, diluídos na vida cotidiana. 16,17 Esse processo, que é duradouro e pode
mudar de rumo, carrega as marcas do advento sanitário da covid-19.

2
Neste artigo, discutimos como a socialização para a sexualidade, a experimentação e a
iniciação sexual se adaptaram nos espaços e tempos da emergência dessa primeira crise
sanitária mundial do século XXI. Apresentamos resultados produzidos por duas pesquisas,
integradas e complementares, que buscaram superar o silenciamento sobre a vida afetivo-
sexual de adolescentes e jovens e compreender os modos de sua adaptação ativa e produtiva
ao contexto vivido nos espaços de interação digital e presencial. A primeira pesquisa,
“Vulnerabilidades de jovens às IST/HIV e à violência entre parceiros: avaliação de
intervenções psicossociais baseadas nos direitos humanos”, começou em 2019 como projeto
multisetorial, interdisciplinar e de métodos mistos, em oito escolas públicas de ensino médio
localizadas nas periferias das cidades de São Paulo, Sorocaba e Santos. No período de
fechamento dos estabelecimentos de ensino, a pesquisa seguiu em curso, utilizando meios
digitais de comunicação, revisando e inovando estratégias metodológicas.
A segunda pesquisa, “Em tempos de COVID-19: iniciação sexual, socialização e
exposição ao risco de jovens de escolas públicas de ensino médio”, respondeu às dificuldades
de abordar o tema da sexualidade com os jovens em suas casas durante o fechamento das
escolas e ao silenciamento dessa pauta. As duas pesquisas compartilham um núcleo comum
de pesquisadores e reuniram um corpus empírico, com integração estimulada e oportunizada
pelo edital da FAPESP (Chamada de Rápida Implementação UN-Research Roadmap
COVID-19) que visava superar limitações metodológicas impostas pela pandemia à pesquisa
social.
Ao investigar como o contexto da emergência da pandemia de covid-19 afetou a
socialização afetiva e sexual de adolescentes e jovens observamos cenários e experiências
desta geração que acomodou sua vida cotidiana às incertezas e perdas nos primeiros anos
desta epidemia no Brasil, adaptação que a equipe de pesquisa simultaneamente enfrentou.

CAMINHOS METODOLÓGICOS
Diversas estratégias metodológicas foram mobilizadas e adaptadas ao fechamento dos
estabelecimentos de ensino no período pandêmico que atravessou a 1ª pesquisa. Em 2019,
com o apoio de estudantes selecionados como bolsistas de iniciação científica para ensino
médio (IC-EM-CNPq) e concebidos como “interlocutores-pesquisadores”, observávamos
diretamente as interações entre jovens nos territórios/espaços escolares, com registros em
diários de campo sobre como encarnavam e experimentavam suas identidades de gênero e
suas interações afetivo-sexuais, dentro e no entorno das escolas. Com apoio desses IC-EM
capacitados como agentes-jovens (AJ), realizamos um levantamento inicial de percepções,

3
comportamentos e atitudes dos/as jovens em relação à sociabilidade juvenil, sexualidade,
gênero, violência entre parceiros/as e prevenção de IST/HIV/Aids, buscando informar a
construção de uma intervenção de “prevenção integral” baseada em direitos humanos. Com a
emergência da covid-19, de abril de 2020 a setembro de 2021, o trabalho de campo nos oito
territórios foi adaptado para interações online.
Conectados digitalmente, “frequentamos” semanalmente a intimidade das casas de
104 AJ em 2020-2021 via google meet, a maioria acessando a internet por meio do celular,
frequentemente compartilhado com outras pessoas. A comunicação acontecia com pouca (ou
nenhuma) privacidade (dependendo do horário e contexto familiar), que impedia o
aprofundamento de conversas sobre vida sexual, identidades de gênero, uso de prevenção
para IST/Aids e gravidez, dentre outras experiências significativas da sociabilidade juvenil.
Supervisionados/as por docentes da equipe, os AJ produziram webinários e material de
prevenção para redes sociais com foco na covid-19. Uma lacuna temática persistia.
Depois da retomada presencial das aulas em 2021, seguimos com observações das
interações nos espaços escolares. Entre maio e setembro de 2022, realizamos um inquérito
junto a 1119 estudantes do 3º ano de EM nas 08 escolas participantes – estudantes afetados
pelos diferentes surtos da covid-19, com altos números de brasileiros morrendo diariamente,
pela experiência das escolas fechadas nos dois primeiros anos do EM.
Paralelamente, no âmbito da 2ª pesquisa, as entrevistas individuais superaram a
limitação metodológica da 1ª pesquisa, buscando compreender a dinâmica da sexualidade
juvenil e das violências baseadas em identidade de gênero e sexual nos primeiros anos da
covid-19. 18 Entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023, realizamos 40 entrevistas em
profundidade com jovens com idade entre 16 e 19 anos nos 4 territórios escolares da cidade
de São Paulo abordados no 1º projeto (cf. Tabela 1). Os primeiros convites para participação
no estudo foram feitos de forma aleatória, no momento da saída das escolas. Para compor a
diversidade do grupo, recorreu-se à técnica bola de neve a partir de indicações dos/as
primeiros/as jovens entrevistados/as. Buscamos estudantes entre 16 e 19 anos que cursavam
nível médio em escolas públicas da região. A leitura exaustiva das transcrições na íntegra
informou a construção de categorias analíticas deste material empírico.
A caracterização sociodemográfica dos participantes dos dois projetos está descrita na
Tabela 1. Frequências absolutas e relativas são apresentadas nas tabelas 2 e 3; o teste qui-
quadrado foi utilizado para avaliar diferenças entre grupos, com nível de significância de 5%.
As análises foram realizadas no software R (versão 4.4.2). A classificação sobre gênero
(pessoas cis, trans e outras identidades) foi composta a partir das respostas dadas em relação

4
às perguntas sobre sexo designado ao nascimento e gênero com que se identifica atualmente.
Quem assinalou sexo feminino ao nascimento e se identificou como mulher, foi categorizada
como mulher cis; quem respondeu sexo masculino ao nascimento e se identificou como
homem, foi categorizada como homem cis; as demais possibilidades compõem a categoria
pessoas trans ou outras identidades.
Trabalhamos no âmbito do que Burawoy 19 nomeou como “extended case method”,
quando o foco original do 1º projeto-intervenção foi modificado para registrar o impacto da
covid-19 entre estudantes de ensino médio e desenhar/implementar com os/as AJ atividades
de prevenção à infecção e adoecimento pela covid-19 e ao sofrimento psicossocial que
emergia como epidemia e queixa nas escolas. As estratégias metodológicas responderam às
mudanças da vida cotidiana dos primeiros anos da pandemia da covid-19, buscando co-
produção de “inéditos viáveis” 18 para implementar pesquisa e intervenção.
O comitê de ética autorizou a dispensa de assinatura de responsável para jovens com
16 e 17 anos e participantes assinaram termos de consentimento (TCLA ou TCLE). As
expressões êmicas estão assinaladas entre aspas no texto; os nomes utilizados são fictícios;
perguntas e opções de resposta utilizadas no questionário estão em itálico.
TABELA 1
RESULTADOS
A seguir, apresentamos as perspectivas e experiências de adolescentes e jovens
moradores de regiões periféricas paulistas, focalizando seu processo de socialização para a
sexualidade no emergir da pandemia de covid-19.

Redes sociais como espaço de socialização para a sexualidade
A socialização mediada pela internet e redes sociais foi potencializada pelas medidas
de distanciamento social na emergência da covid-19, com ampliação do acesso e diversidade
de informações, assim como oportunidades de interação e diversão, povoando de maneira
inédita e singular o processo de socialização para a sexualidade desta geração. 20-22 Jovens
usaram os dispositivos digitais para diminuir o isolamento e a solidão, para conversar com
colegas e buscar informações sobre prazer sexual (34,9%, n=418), gravidez (35,4%, n=425),
HIV (23,7%, n = 284), covid-19 (60,1%, n=721), saúde mental (63.4%, n= 760), bem como
acessar e/ou compartilhar conteúdo erótico e interagir afetivo-sexualmente.
A visualização e troca de conteúdo de cunho sexual (“sexting”) e o acesso à
pornografia foram tematizados em diferentes momentos das pesquisas. Em 2022, 35,8%

5
(n=429) dos respondentes ao questionário já haviam visualizado e/ou trocado mensagens com
conteúdo sexual. A troca de nudes pelo celular ocupava um caráter de prática preliminar às
relações sexuais. Gilson (17 anos) conta que “conversava bastante sobre coisas que [o casal]
queria fazer um com o outro e ficava trocando nudes”. Carla (16 anos) enviava e recebia
fotos, mas “não rolava sexo virtual, eu não me tocava, apenas ele”. Kelly (18 anos) diz que
trocou muitos nudes durante a pandemia, apenas com quem conhecia para controlar possíveis
vazamentos na internet (“eu sabia que se espalhasse alguma coisa teria vindo dele”).
O acesso à pornografia online foi recorrente, sem diferença significativa entre moças
cis (35,5%, n = 224) e rapazes cis (35,6%, n = 190). Tanto nas rodas de conversa nas escolas
como nas entrevistas individuais criticava-se a pornografia como “sexo que não é de
verdade”, “é muito forçado”, valorizando os enredos das cenas de aproximação entre corpos e
cenários que enquadram o exercício da sexualidade. O recurso crítico à pornografia foi
observado em outros estudos com jovens e integra o processo de socialização para a
sexualidade 20,22 : primeiro como curiosidade sobre práticas sexuais e, à medida que o
aprendizado dos scripts e enredos das práticas sexuais são sedimentados, se distanciam da
noção de sexo como algo instintivo. Nessa direção, passam a valorizar o debate sobre
consentimento e assédio, tema emergente ao longo das pesquisas.
Indubitavelmente a internet participa da socialização para a sexualidade dessa
geração, com as marcas de gênero que produzem a vida sexual atravessada por debates
promovidos nas redes sociais. 20 O celular e as conexões digitais integram vários passos da
dinâmica de encontros e interações até a realização da cena sexual encarnada nos corpos que
se encontram em movimento.

Visibilidade da não binaridade sexual e de gênero na volta aos espaços escolares
A volta às aulas presenciais foi ansiada e comemorada; expressava o cansaço com a
vida digital, a possibilidade de escapar do intenso convívio doméstico, a expectativa de
reencontrar colegas, a necessidade de recuperar as experiências (sexuais) suprimidas pelo
distanciamento social. Diversos rapazes expressaram um sentimento de perda de
oportunidades (“se não fosse a pandemia teria transado muito mais”).
Os espaços escolares seguiram relevantes para a expressão e a experimentação com
identidades de gênero e a iniciação às práticas afetivo-sexuais. O banheiro feminino e os
passeios escolares eram locais de “pegação” (entre meninas principalmente). Ambientes
como vestiários ou qualificados como “bem vazio, escuro e esquecido” (o “murinho”) em
todos os territórios eram lugares para beijos e carícias mais ardentes por todas identidades,

6
com frequentação intensificada após o período do isolamento social-sanitário. Uma estudante
exemplificou: “fui no passeio de casal com um menino e voltei casal com uma menina”. Um
rapaz narra que preferia ficar na escola, o máximo de tempo possível, pois ali ele se sentia
“aceito”. Em suas palavras:

“desde sempre eu fui afeminado, aí quando eu fui pra escola pública,
eu vi que toda essa recepção foi muito diferente. As pessoas de lá eram
muito diferentes, me aceitavam melhor, compreendiam a minha
situação. Tive um monte de professores que chegaram em mim e
falaram: ‘Olha, se você precisar de ajuda, eu tô aqui’. Então, tinha todo
esse apoio dentro da escola” (João, 18 anos).

Em outra escola, um dos 20 jovens presentes na sala que debatia os resultados do
questionário e diante do slide sobre identidade sexual comenta alto: “bem, todo mundo sabe
que tenho carteirinha de viado, mas não sou gay!”. A performance corporal dele é
reconhecida por ele e pelos outro/as como de “gay-viado”. A pesquisadora pergunta então:
“O que você quis dizer com isso?”, e ele responde: “porque sou viado, mas não transei
ainda...”. Essa afirmação, que não causou estranheza nenhuma na plateia de estudantes,
exemplifica, ao mesmo tempo, a fluidez, a diversidade e as singularidades experimentadas no
processo de socialização desse/as jovens que se encontravam presencialmente nas escolas,
depois de passarem 18 meses “produzindo sua aparição em vídeo”.
No território escolar, as imagens sobre sexualidade nos banheiros compõem o
cotidiano - como para inúmeras gerações de estudantes. Nas rodas de conversa de novembro
de 2022, os AJ ressaltaram os exemplos dos grafitos e anime “Belo Pau”, no banheiro
masculino, e da pichação de “Morte ao Pênis”, no banheiro feminino. Segundo ele/as: “o
grafito foi feito propositalmente numa cabine (banheiro), pois faz um elogio ao órgão genital
masculino... porque é o único lugar em que a frase conversa com o ambiente”, não ficaria
sem contexto, é lugar de acesso mais privado. Não houve grande discordância ou
repercussão.
A cultura dos grafitos e murais foi incorporada pelas direções e coordenações de
algumas escolas, compondo outros espaços para além dos banheiros. Em um destes (figura
1), a ilustração com alusão a um casal gay, pintada na lateral da escadaria pelos próprios
estudantes da escola, provocou debates. Estudantes e professores/as ou técnicos/as, sobretudo
do período noturno, reagiram indicando a polarização política sobre o tema da sexualidade
juvenil nas escolas: “estão incentivando os jovens!” ou “para que isso se tem tanta coisa para
desenhar!” mostravam o tensionamento provocado pelas posições político-partidárias
conservadoras. Vários jovens “ge?nios fortes” questionaram as falas de docentes

7
“conservadores”, enquanto outra professora conferia legitimidade às possibilidades de
expressão sexual e identitária naquele contexto, defendendo “estamos em outro momento”,
frase que assinalava mudança cultural e a história de ampliação de direitos.
A expressão pública da sexualidade nas escolas participantes do estudo foi frequente,
com intensidades e formas diferentes, e de modo singular através de grafites. Trata-se de uma
tradicional forma de linguagem de comunicação juvenil. A permissão ou não para as
ilustrações como as captadas pelos/as pesquisadores/as e pelos AJ exemplificam contextos
mais abertos ao debate sobre sexualidade, promovidos pelas escolas no projeto.

Fig.1

Início da vida sexual e o exercício da sexualidade
O início da vida sexual é tradicionalmente definido pela idade da primeira relação sexual e associado à penetração, perspectiva que reflete um padrão heteronormativo predominante em diversos campos disciplinares. Apesar de concordarmos com a necessidade de ampliação desta definição, sobretudo neste contexto de diversificação das identidades sexuais23, essa noção segue prevalente nessa geração. Seguimos ouvindo frequentemente sobre uma virgindade que “se perde” (e transforma a menina em moralmente “perdida”) pelo sexo com penetração. Um menino AJ conta numa roda de conversa a história de seu pai: “um rapaz tímido, e o avo? tinha medo que ele fosse homossexual. Então o levou a um bordel para que fizesse sexo com mulheres; ele era ainda novo, menor de idade!”. Seu espanto alude tanto ao recurso a um bordel para o início da vida sexual, outrora bastante comum entre rapazes, quanto ao fato de seu avô buscar assegurar a heterossexualidade de seu pai através do expediente do sexo penetrativo com prostitutas – scripts para socialização que perderam espaço nas últimas décadas.2,24
A iniciação sexual (IS) foi abordada no questionário aplicado nas escolas após o retorno presencial às aulas (2022) e nas entrevistas individuais realizadas em 2022/2023. No questionário, um conjunto de perguntas auxiliava a descrição da iniciação sexual: “Você já teve relações sexuais/transou alguma vez?”; “Com que idade você teve a sua primeira relação sexual?”; “O que fizeram na primeira relação sexual? – com opções de resposta: sexo oral; sexo vaginal; sexo anal; masturbação; prefiro não responder”. Nas entrevistas individuais enriquecemos o detalhamento descritivo da iniciação sexual. Os dois procedimentos metodológicos indicaram a primazia do sexo penetrativo vaginal na iniciação sexual.
Quando analisamos a iniciação por identidade de gênero no inquérito de 2022, metade dos estudantes de 3º ano ainda não havia iniciado a vida sexual (49,2%, n = 590), proporção semelhante entre homens cis (45,6%, n=243) e mulheres cis (52,9%, n=334). A primeira relação sexual ocorreu em média aos 15,1 anos entre os meninos cis e 15,4 entre as meninas cis. Há maior proporção de “pessoas trans ou outras identidades” com início da vida sexual (cf. Tabela 2). Houve diferença de gênero (p<0,01) quanto a/ao parceiro/a da primeira relação sexual. A maioria das moças cis (23%, n=145) teve a iniciação sexual com namorado, enquanto os rapazes cis iniciaram a vida sexual com amigas ou ficantes (24%, n=128); foi diminuta a referência de iniciação sexual com trabalhadoras sexuais (0,6%, n=3 – apenas meninos cis).
Dentre os/as respondentes do questionário, os motivos principais para não ter iniciado a vida sexual foram não ter encontrado o/a parceiro/a ideal/adequado (26,1%, n=313) e não estar no momento certo (23,2%, n=278). As respostas teve vontade, mas nunca teve oportunidade (13,3%,n=159) e não teve vontade (10,2%, n=122) foram menos frequentes. Tal qual observado em outra pesquisa realizada há 20 anos com jovens brasileiros/as12, o desejo de casar-se virgem (8,3%, n=99), motivos religiosos (5,8%, n=70), medo de engravidar (8,0%, n=96), medo de contrair alguma doença (7,3%, n=88) seguem como importantes motivos para adiamento da primeira relação sexual.
Os dados sobre iniciação sexual foram apresentados em todas as escolas em rodas de conversa, quando realizávamos a devolutiva dos resultados - etapa necessária na abordagem baseada em direitos humanos adotada pelos pesquisadores, que fomenta ações locais, conjuntamente planejadas e com participação da comunidade, buscando estimular a renovação de políticas públicas locais. Em uma destas oportunidades, uma estudante relatou sobre o contexto de iniciação sexual de uma amiga, dizendo que aquela seria uma situação bastante comum: uma colega (14 anos) foi influenciada pelo namorado (com 18 anos) a “transar” e, logo em seguida, ele a deixou. A diferença de idade entre parceiros chamou a atenção do/as agentes jovens (AJ), que caracterizaram a garota como uma vítima do namorado.
Outro tema muito debatido foi a proporção dos que declararam não queriam mas tiveram a 1ª relação ou que se sentiram forçadas/os na 1ª transa - moças cis (5,4%, n=33) e de rapazes cis (2,4%, n=13). Exemplos e narrativas compartilhadas insistiam que “as meninas são mais assediadas, mas os meninos também o são” e emergia o debate sobre assédio sexual, consentimento e estupro, temas que explodiram nas redes sociais nos primeiros anos da covid-19. Foram adotados por essa geração como pauta ativa no seu processo de socialização para sexualidade.
TABELA 2

Práticas de prevenção em tempos sindêmicos
Os resultados do inquérito sobre práticas de prevenção indicaram que tomar banho pós-transa foi o principal método para a prevenção da gravidez, tanto para meninos quanto meninas (cf. Tabela 3). O banho pré-transa (uma das opções no questionário) foi o cuidado mais utilizado para evitar covid-19. O banho também ensejou interessantes debates em algumas escolas, porque faz parte do script de prevenção “de tudo” (da covid-19 inclusive) relacionado à atividade sexual. O uso do preservativo externo foi o segundo cuidado mais indicado, tanto para prevenção da gravidez quanto IST.
As diferenças de gênero são notáveis: entre garotos, era frequente justificar as “escapadas” para o futebol com colegas, para ir às festas no “fluxo” da favela, ou ainda, de recusar “máscaras focinheiras e chinesas” (indicando adesão ao discurso negacionista do então presidente da República). Cerca de 1/4 (n=331) dos respondentes do inquérito relatou perda de parentes ou pessoas próximas para a covid-19. Já as garotas cis permaneceram (p<0,01) mais “presas” e dedicadas ao trabalho doméstico e de cuidado de crianças e idosos (média de 9,0 horas de trabalho doméstico), do que garotos cis (média de 6,2 horas) - aspecto observado desde os primeiros meses neste e em outros estudos.6,7,25
A experiência da primeira relação sexual durante o período agudo da pandemia foi “tenso”. Diante de tantas mortes e controvérsias sobre (não)uso de máscaras, ausência de testes para covid-19, o casal teve que arriscar, como ilustra Ellen (16 anos): “os dois estavam minimamente saudáveis, não tinha gripe ou febre ou náusea, estava tranquilo, só não dava para ter certeza, se tinha pegado ou não tinha pegado ou era assintomático, que não sentia nada”.
A troca de nudes ou interação digital com parceiros/as foram consideradas práticas que não os/as expunham à covid-19 nem às ISTs e gravidez. A masturbação foi bastante incentivada na mídia por sexólogos e outros profissionais da saúde, sobretudo no início da pandemia de covid-19, como uma prática de prevenção e importante estratégia para o bem-estar e a saúde mental.26,27 Nas palavras de Vinícius (19 anos): “eu amava! Foi insano! Era todo dia”. A esperada e normativa iniciação sexual dos rapazes e/ou a intensificação da prática da automasturbação esteve bastante relacionada ao material pornográfico.
A vigilância familiar para frequentar lugares públicos produziu “escapadas planejadas”, especialmente de meninos e pessoas LGBT.18 Todavia, fazer sexo nas dependências da casa ou em espaços contíguos (quintal, escada do prédio) foi alternativa para transar de forma segura – no sentido de menor risco de contrair o vírus da covid-19. Nos primeiros dois anos da covid-19 o domicílio foi lugar para os encontros afetivo-sexuais, em interações remotas e/ou presenciais.
TABELA 3

DISCUSSÃO
A socialização para a sexualidade dessa geração de adolescentes e jovens que viveu a emergência da pandemia de covid-19 foi singular: escolas fechadas e o imperativo de manter distanciamento social potencializou e estimulou uma sociabilidade mediada pela internet. Ao impacto do governo conservador de extrema-direita, das famílias, das igrejas e de grupos de pares somou-se à integração de uma vida, a busca de informações no mundo digital, em especial por meio de redes sociais. Esse período do curso vida seguiu abrigando as primeiras experimentações afetivo-sexuais e processos de construção da identidade; o pareamento afetivo-sexual seguiu parâmetros registrados pela literatura2,24 - garotas quase sempre com “namorados” e rapazes com “ficantes”, “conhecido/as”.
A proporção de identidades (sexuais e de gênero) não binárias chama a atenção, sobretudo pelo contexto sócio-político e sanitário fortemente marcado pelo conservadorismo. A proporção aqui apresentada é bastante superior ao que geralmente se observa em pesquisas de base populacional21, embora nossa amostra não seja aleatória. Ademais, outros estudos recentes vêm apontando a emergência e/ou aumento nas declarações de identidades não cis-heteronormativas28,29. Assim, consideramos que não há empenho conservador no Brasil que, em tempos mediados pelo celular, aplicativos e redes sociais faça a roda do novo regime sexual do século XXI retroceder.3 Um novo regime implicado no debate sobre direitos sexuais, como definiu Carrara30, concebe o desejo como uma verdade interna e a sexualidade boa/normal como pla?stica e consentida, associada a? felicidade e ao bem-estar.
Os resultados das duas pesquisas em tela mostram que estamos convivendo, no Brasil, com a disputa deste novo regime com o dispositivo relacionado a? moralidade crista?: permanece ativa uma socialização para a sexualidade que valoriza o sexo heterossexual, monoga?mico e em casa, ainda que com menos ênfase em sua faceta reprodutiva. Este regime hegemônico no século passado segue na disputa pela afirmação de um único sexo bom/normal, cristão, mas sem representar sua exata traduc?a?o. Por outro lado, apesar do tom da disputa política e do amplo rechaço conservador às identidades e sexualidades dissidentes que temos vivido na última década, o contexto escolar segue sendo cenário de experimentações e aprendizados sobre gênero e sexualidade, capaz de acolher tanto a reiteração da cisheteronormatividade, mas também a expressão da não binaridade sexual e de gênero. Os/as jovens precisam lidar com estas normas/representações múltiplas e, por vezes, contraditórias no processo de aprendizado da sexualidade.2,14
A sociabilidade juvenil, premida pela urgência sanitária, propiciou às/aos jovens um certo tempo para ponderar sobre os “afetos que realmente importam” (inclusive sobre o valor “das amizades”). Apesar das angústias narradas, seja nos encontros online ou nos depoimentos individuais, o tempo (in)tenso da pandemia abriu espaço para auto-observação e o aprendizado sobre si, seja em termos de identidade ou de gostos que permearam a experiência sexual.
Os primeiros anos da pandemia de covid-19 foram também um tempo da domesticação da sexualidade, dando um tempo de/para decifração dos próprios corpos e gostos, inclusive por meio da masturbação, estimulada como prática protegida da infecção pela covid-19.25,26 Domesticação também no sentido de tornar o espaço doméstico (especialmente na ausência das figuras genitoras/responsáveis) como lócus para encontros afetivo-sexuais, sobretudo para casais que seguem a norma heteronormativa. Trata-se de uma mudança nos costumes, que já vinha se processando nas duas últimas décadas2,24, porém acirrada na/pela pandemia de covid-19, e usada tanto como estratégia de prevenção como de adaptação ao contexto pandêmico.
A casa se tornou um espaço relativamente seguro contra a covid-19, mas também um lugar com menor privacidade e maior vigilância parental, aspectos que impactaram nas experiências sexuais dos/as jovens.31,32 Encontramos o contexto em que jovens hetero-dissidentes precisaram se recolher e fazer um duplo confinamento: seja em relação à expressão de sua identidade sexual e de gênero no âmbito da família, seja em relação à ameaça da infecção pelo vírus da covid-19.31,32 Esse duplo confinamento e a domesticação aumentou a exposição a diversos tipos de violência, incrementando a vulnerabilidade de jovens sexo-dissidentes ao sofrimento psicossocial e, quando “escapavam da domesticação”, às IST e à covid-19.
A idade da iniciação sexual sem diferença entre as pessoas cis também chama a atenção, embora este fenômeno já se insinuasse antes da pandemia.33 A hipótese de que o uso de algum insumo preventivo no momento da iniciação sexual é um preditor da prevenção de IST ou de gravidez ao longo da vida segue forte na literatura.34 As pesquisas populacionais apontavam cerca de 70% de declaração positiva em relação ao uso da camisinha nos anos de 1990 e 2000.2,35 Nosso estudo apresenta valor semelhante, mas abriga também proporções elevadas de estratégias de prevenção ineficazes, como banho após a relação sexual como forma de prevenção de gravidez.
Observamos a existência de um conjunto de crenças (que permanecem em patamares elevados de declaração), ao lado da adesão à informação/conhecimentos equivocados sobre prevenção. Tal cenário é devedor do contexto crescente de perseguição sobre educação sexual nas escolas, ao mesmo tempo em que se multiplica o número de dispositivos vacinais, hormonais (diferentes tipos de contraceptivo) ou de antiretrovirais disponíveis no processo de socialização para a sexualidade de adolescentes e jovens. Foi uníssono entre os/as jovens o quanto a pandemia agravou o silenciamento sobre temas relativos à saúde sexual e reprodutiva nas escolas.
Os dados sobre o início da vida sexual provocaram as melhores discussões sobre gênero e sexualidade na direção do bom debate no quadro dos direitos humanos. Nos debates com professores e jovens, era consenso a necessidade de desenvolvimento e implementação de programas de prevenção integral12 nas escolas – da covid-19, das ISTs, da gravidez não planejada e da violência (seja por pares ou entre parceiros/as íntimos/as). Igualmente, a demanda por ampliação de temas relativos à sexualidade, incluindo o do assédio e do consentimento nas relações afetivo-sexuais foi apontada como central para programas de intervenção e de prevenção voltado ao público juvenil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As duas pesquisas aqui abordadas foram implementadas junto a estudantes de escolas públicas de São Paulo, o que expressa um recorte de classe e o estímulo à participação de jovens com inserção no ensino formal. Os resultados apresentados e discutidos no artigo mostram o quanto a pandemia de covid-19 marcou o exercício da sexualidade juvenil, seja pelas dificuldades de circulação e/ou fechamento de principais lugares de sociabilidade nesta fase da vida (como as escolas), seja pelo acirramento das conexões digitais através das redes sociais, ou ainda, pela dificuldade e/ou interdição de expressões dissidentes de gênero e da sexualidade no âmbito doméstico. Ressaltamos como o território escolar segue ocupando lugar central na dinâmica da construção de si e do aprendizado da sexualidade, mesmo abrigando toda a controvérsia sobre gênero que se abateu sobre o ensino laico nestas últimas décadas de forte investida do conservadorismo político-ideológico no Brasil.
O debate sobre sexualidade na adolescência, em especial o que estimula a participação de adolescentes e jovens na sua educação para sexualidade nas escolas, tem sido silenciado por lideranças conservadoras e religiosas que reagem cada vez mais fortemente a políticas públicas brasileiras bem-sucedidas em décadas anteriores e bem avaliada por pais e responsáveis. As teses do movimento “escola sem partido” e da “ideologia de gênero” (adotadas por governos eleitos em 2018) e, mais recentemente, o alinhamento de gestores públicos ao movimento “eu escolhi esperar” e de militarização das escolas públicas têm impacto no direito constitucional à educação sexual e à prevenção integral sem qualquer tipo de discriminação. Este tipo equivocado de intervenção viola o direito à experiência sexual com prevenção e autocuidado, consensual e sem violência, além de negligenciar, em especial, jovens que experimentam práticas e identidades que escapam da binaridade rígida e da tradicionalista cisheteronormatividade.

Agradecimentos
Agradecemos à FAPESP pela viabilização dos estudos (processo 2017/25950-2; processo 2021/08571-3), e ao CNPq (processo 308568/2022-2). Agradecemos ao colega Ivan França Jr. pela leitura e comentários ao manuscrito.

Contribuição das/os autoras/es:
Todas/os autoras/es contribuíram para concepção, análise, redação e revisão final do manuscrito.
Referências
1. Bordiec S. La fabrique sociale des jeunes. Socialisations et institutions. Louvain-la-Neuve: De Boeck Supérieur; 2018. 176p.
2. Bozon M, Heilborn ML. Iniciação à sexualidade: modos de socialização, interações de gênero e trajetórias individuais. In: Heilborn ML. et al., organizadores. O aprendizado da sexualidade: reprodução e trajetórias sociais de jovens brasileiros. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. p. 155-206.
3. Paiva V, Antunes MC, Sanchez MN. O direito à prevenção da Aids em tempos de retrocesso: religiosidade e sexualidade na escola. Interface (Botucatu) 2020;24:e180625.
4. Rocha E, Rezende V. A pandemia da covid-19 na vida de crianças e adolescentes no Brasil: efeitos secundários e o financiamento de políticas públicas [relatório]. Repositório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. 2022.
5. Sobrinho ALS, Abramo HW, Villi MC, organizadores. Jovens e saúde: revelações da pandemia no Brasil 2020-2022. 23ª ed. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2022. 390p.
6. Halldorsdottir T, Thorisdottir IE, Meyers CCA, Asgeirsdottir BB, Kristjansson AL, Valdimarsdottir HB, Allegrante JP, Sigfusdottir ID. Adolescent well-being amid the COVID-19 pandemic: Are girls struggling more than boys? JCPP Adv 2021;1(2):e12027.
7. Cabral CS, Guimarães J, Teixeira A, Generoso NK, Franca Junior I, Borges ALV. “A gente quer abraçar o amigo”: a pandemia de covid-19 entre adolescentes de baixa renda. Rev Saude Publica 2023;57(Supl 1):5s.
8. Richard V, Dumont R, Lorthe E, Loizeau A, Baysson H, Zaballa ME, Pennacchio F, Barbe RP, Posfay-Barbe KM, Guessous I, Stringhini S, SEROCoV-KIDS Study Group. Impact of the COVID-19 pandemic on children and adolescents: determinants and association with quality of life and mental health—a cross-sectional study. Child Adolesc Psychiatry Ment Health 2023;17(17):1-11.
9. Pandemic school closures: Risks and opportunities [editorial]. Lancet Child Adolesc Health 2020;4(5):341.
10. Hoyt LT, Dotson MP, Suleiman AB, Burke NL, Johnson JB, Cohen AK. Internalizing the COVID-19 pandemic: Gendered differences in youth mental health. Curr Opin Psychol 2023;52:101636.
11. Paiva V, Garcia MRV. Psychosocial Suffering and Sexuality in the Context of Covid-19 and Attacks on Human Rights. Estudos e pesquisas em psicologia (Online) 2022;22(4):1351-1371.
12. Paiva V, Ayres JR, França-Jr I, Garcia MRV, da Silva CG, Simões JA, Galeão-Silva LG, Billard J. From “combined prevention” to “comprehensive prevention”: building the response to the syndemic with adolescents and youth in São Paulo, Brazil (2020-2023). Cadernos de Saúde Pública 2025; 41(4):e00084323
13. Rubin GS. Thinking Sex: Notes for a Radical Theory of the Politics of Sexuality. In: Vance CS, editora. Pleasure and Danger: Exploring Female Sexuality. Boston e Londres: Routledge e Kegan Paul; 1984. p. 3-41.
14. Bozon M. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro: FGV; 2004. 172p.
15. Kågesten A, Gibbs S, Blum RW, Moreau C, Chandra-Mouli V, Herbert A, et al. Understanding factors that shape gender attitudes in early adolescence globally: a mixed-methods systematic review. PLoS ONE 2016;11(6):e0157805.
16. Phoenix A. Youth and gender: new issues, new agenda. Young 1997;5(3):2-19.
17. Guimarães J, Cabral CS. Negociando normalidade(s): construções da identidade de gênero entre meninas. Estud Fem 2020;28(3):e60678.
18. Paiva V, Garcia MRV, França-Jr I, da Silva CG, Galeão-Silva LG, Simões JA, Ayres JR; Research Group on Youth’s Health and Human Rights. Youth and the COVID-19 crisis: Lessons learned from a human rights-based prevention programme for youths in São Paulo, Brazil. Glob Public Health 2021;16(8-9):1454-1467.
19. Burawoy M. The extended case method: four countries, four decades, four great transformations, and one theoretical tradition. Berkeley, Calif.: Univ. of California Press; 2009. 338 p.
20. Amsellem-Mainguy Y, Vuattoux A. Les jeunes, la sexualité et internet. Paris: Éditions François Bourin; 2020. 224p.
21. Bergström M. (org.). La sexualité qui vient. Jeunesse et relations intimes après #metoo. Paris: Éditions La Découverte, 2025. 388p.
22. Cabral CS, Brandão ER, Pilecco FB, Reis AP, Olivar JMN, Knauth DR. Sexualidade e reprodução: aportes de uma investigação socioantropológica multissituada com “nativos(as) digitais”, Cad. Saúde Pública 2025; 41(4):e00229323.
23. Cabral CS, Carvalho NP, Thomazzi GL. Singular ou plurais? Diversificação dos percursos/processos de iniciação sexual de jovens brasileiros.as. Saúde Soc (Online) 2024;33(1):e230839pt.
24. Bajos N, Bozon, M. Enquête sur la sexualité en France Pratiques, genre et santé. Paris: La Découverte; 2008. 609 p.
25. Gouveia R, Almeida NA. Vidas confinadas. Famílias, quotidianos e vulnerabilidades sociais no início da pandemia covid-19 em Portugal. Lisboa: ICS, 2022.
26. Giami A. COVID-19 et sexualités: l’émergence d’un nouveau paradigme des sexualités. Sexologies, Volume 30, Issue 1, January–March 2021.
27. Silva TCS. Prazer no isolamento: sexualidade em tempos de pandemia de COVID-19. Dissertação (mestrado) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 2024. 116p.
28. Spizzirri G, Eufrásio R, Lima MCP, et al. Proportion of people identified as transgender and non-binary gender in Brazil. Sci Rep 2021;11(1):2240.
29. Suess Schwend A. Trans health care from depathologization and human rights perspective, Public Health Review 2020, v.41, n.3.
30. Carrara S. Moralidades, racionalidades e poli?ticas sexuais no Brasil contempora?neo. MANA. 2015; 21(2):333-45.
31. Lindberg LD, Bell DL, Kantor LM. The Sexual and Reproductive Health of Adolescents and Young Adults During the COVID-19 Pandemic. Perspect Sex Reprod Health. 2020 Jul 21;52(2):75–79.
32. López-Sáez MA, Platero RL. Spanish youth at the crossroads of gender and sexuality during the COVID-19 pandemic. European Journal of Women’s Studies, 29(1suppl), 90S-104S. 2022.
33. Paiva V, Bermúdez XP, Merchan-Hamann E, Tagliamento G, Antunes MC, Brito I, Silva VN, Casco R, Sanchez M, Bernardes C. Cenas escolares e sexualidade: saúde e prevenção nas escolas na perspectiva dos direitos humanos. UNESCO 2022.
34. Guerrero Núñez J. Disminución desigual de las tasas de fecundidad en adolescentes de 32 países de la Región de las Américas, 1960-2019. Revista Panamericana de Salud Pública 2020;44:e71.
35. Paiva V, Calazans G, Venturi G, Dias R. Idade e uso de preservativo na iniciação sexual de adolescentes brasileiros. Rev Saúde Pública 2008;42(pl 1):45-53.


Outros idiomas:







Como

Citar

Cabral, CS, Paiva, V, Barbosa,, D. Covid-19 e a domesticação da sexualidade de adolescentes e jovens na emergência da pandemia (2020-2022). Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/ago). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/covid19-e-a-domesticacao-da-sexualidade-de-adolescentes-e-jovens-na-emergencia-da-pandemia-20202022/19747

Últimos

Artigos



Realização



Patrocínio