0238/2025 - Educação em saúde: ênfases das pesquisas publicadas no período de 2014-24
Educação em saúde: ênfases das pesquisas publicadas no período de 2014-24
Autor:
• Valéria Vernaschi Lima - Lima, VV - <valeriavl@uol.com.br>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6659-3182
Resumo:
Este artigo de revisão visa analisar as ênfases abordadas pelas pesquisas publicadas na área de educação em saúde da Revista Ciência e Saúde Coletiva, nos últimos 10 anos. Dos 288 manuscritos submetidos à área de educação em saúde entre 2014-24 e encaminhados para a avaliação de pares, 26 foram aceitos para publicação. Os artigos publicados foram analisados segundo a abordagem hermenêutico-dialética, sendo identificadas quatro temáticas: (i) Formação em saúde; (ii) Educação popular; (iii) Comunicação em saúde; e (iv) Relações entre sujeitos, saberes e práticas em saúde. As temáticas foram problematizadas com vistas à identificação de estilos de pensamento, assim como desafios na produção e publicação de conhecimentos na área de educação em saúde, no contexto da saúde coletiva.Palavras-chave:
Educação em saúde; Educação permanente; Comunicação em saúde; Promoção da saúde; Saúde Coletiva.Abstract:
This review article aims to analyze the emphases addressed by research published in the area of health education in the Journal Ciência e Saúde Coletiva over the last 10 years. Of the 288 manuscripts submitted to the area of health education between 2014-24 and forwarded for peer review, 26 were accepted for publication. The published articles were analyzed according to the hermeneutic-dialectical approach, and four themes were identified: (i) Health education; (ii) Popular education; (iii) Health communication; and (iv) Relationships between subjects, knowledge and practices in health. The themes were problematized with a view to identifying styles of thought and challenges in the production and publication of knowledge in the area of health education, in the context of public health.Keywords:
Health education; Education, continuing; Health communication; Health promotion; Public health.Conteúdo:
No Brasil, o reconhecimento da Saúde Coletiva como um campo de conhecimento que emergiu no bojo de movimentos pautados pela democratização do país, particularmente entre as décadas de 1970 e 1980, destaca o caráter social e histórico na construção desse campo do conhecimento científico. Esse pressuposto reafirma o papel da cultura, da linguagem e da comunicação na produção e na disseminação dos fatos científicos1,2.
A publicação de conhecimentos do campo da saúde coletiva, considerando-se a conexão entre elementos sociais, econômicos, ambientais e culturais na produção de saúde-doença, tem qualificado tanto perspectivas quanto abordagens investigativas sobre fenômenos que constituem práticas sociais3-5.
Nesse sentido, a atenção direcionada às práticas sociais, como atividade humana, leva em conta tanto a natureza das respostas construídas frente às necessidades sociais, como os saberes que fundamentam explicações sobre os fenômenos observados e que promovem a construção de um pensamento conforme um estilo ou ponto de vista específico, no contexto de determinadas épocas e sociedades.
De modo ainda mais explicito, Fleck2 “afirma que o processo de conhecimento representa a atividade humana que mais depende das condições sociais, e o conhecimento é um produto social por excelência” (p. 85).
Ainda em relação à produção de conhecimento, Fleck2 estabelece uma diferenciação entre aqueles que efetivamente produzem fatos científicos daqueles que traduzem esses fatos em uma linguagem popular. Por meio de uma representação topográfica de dois círculos, um dentro do outro, este autor articula produção, linguagem e meios de divulgação dos fatos científicos.
Assim, os sujeitos que produzem e/ou disseminam os fatos de acordo com regras e linguagem técnico-científica são nominados especialistas e generalistas e pertencem ao círculo mais interno, chamado de “esotérico”. Os leigos qualificados como “educados” são aqueles responsáveis pela divulgação dos fatos científicos em mídias populares e pertencem ao círculo mais externo, chamado de “exotérico”2 (Figura 1).
Fig. 1
No tocante às formas de divulgação, a categorização apresentada por Fleck2 permite identificar os livros de referência e as revistas científicas como sendo os meios preferenciais para a comunicação técnico-científica de pesquisadores especializados. Os manuais acadêmicos e as diretrizes e normatizações técnicas são apresentados como exemplos de meios de divulgação geralmente utilizados por generalistas. Finalmente, os meios de comunicação de massa são preferencialmente utilizados por leigos para a tradução de assuntos e fenômenos segundo uma linguagem mais coloquial.
Certamente, o advento da internet e a emergência das redes sociais ampliaram de modo extraordinário o acesso às informações, exponenciando o círculo exotérico na disseminação de informação. O efeito colateral do uso desses novos dispositivos de mídia foi a visibilidade da opinião de leigos, que sem um cuidado com a veracidade das informações veiculadas, podem disseminar notícias falsas ou não fundamentadas pela ciência produzida no círculo esotérico.
O conjunto dos sujeitos e das produções dos dois círculos de uma determinada área de conhecimento é chamado por Fleck2 como ‘Coletivo de Pensamento’. Desse modo, uma comunidade de pessoas numa situação de influência recíproca de pensamentos e que interagem intelectualmente, trocando ideias, experiências e reflexões sobre fenômenos ou fatos de um determinado campo de conhecimento é reconhecida como sendo um coletivo de pensamento.
Paralelamente, como estilo de pensamento, Fleck2 identifica uma maneira singular de ver a realidade e agir sobre ela, ao invés de qualquer outra. Um estilo é uma abordagem, um modo preferencial de se explicar problemas que interessam a um coletivo de pensamento, do qual deriva formas de intervenção, a partir de uma dada posição e visando determinados objetivos. A partir de um coletivo de pensamento podemos reconhecer estilos de pensamento complementares, contraditórios ou mesmo ambíguos, uma vez que a influência recíproca, em ambientes democráticos, é dialógica7.
Com foco nas produções do círculo esotérico e partindo da premissa de que os pesquisadores que publicam livros de referência e artigos científicos constituem um coletivo que constrói estilos de pensamento, esse artigo busca investigar o perfil temático das publicações da área da educação em saúde, visando identificar os principais desafios na produção de estilos de pensamento nessa área de conhecimento.
A área de educação na Revista Ciência e Saúde Coletiva - RCSC
Desde a criação da RCSC em 1996, a publicação de produções científicas no formato de debates, pesquisas e novas ideias focaliza a área de saúde coletiva com abordagem multiprofissional. A relevância acadêmica da revista é evidenciada por meio da atual classificação no Qualis/Capes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, das indexações e do fator de impacto da revista.
No período de 2014-24, foram 42.466 submissões e 4.715 produções científicas publicadas na Revista Ciência e Saúde Coletiva. As áreas temáticas da revista foram progressivamente ampliadas, alcançando atualmente 19 áreas, incluindo resenhas. Ao considerarmos apenas essas áreas e resenhas, o número de aprovações nos últimos 10 anos foi de 1.966 artigos, que representam 13,36% do total de 14.714 manuscritos submetidos à revista nessas mesmas áreas no período de referência (Tabela 1).
Tab.1
O maior percentual das publicações se refere à área de epidemiologia (22,79%). Esta área, somada à epidemiologia das doenças não transmissíveis alcança aproximadamente 23,40% do total de publicações nas áreas temáticas da RCSC no período de 2014-24. Na área de Educação em Saúde, foram submetidos 288 manuscritos para avaliação tendo sido aprovados 26 artigos que correspondem a 1,32% do total de publicações das áreas temáticas da revista no período focalizado.
Método
A partir dos 288 manuscritos submetidos à área de educação em saúde entre 2014-24 e encaminhados para a avaliação de pares, os 26 artigos aceitos para publicação na Revista Ciência e Saúde Coletiva foram submetidos à análise dos temas abordados. No Quadro 1 estes artigos foram apresentados segundo a ordem cronológica das publicações.
Quadro 1
A análise realizada foi ancorada numa perspectiva hermenêutico-dialética, segundo proposição de Minayo8, que destaca:
“A hermenêutica oferece as balizas para a compreensão do sentido da comunicação entre os seres humanos; parte da linguagem como o terreno comum de realização da intersubjetividade e do entendimento” (p. 92); [...] “Enquanto a hermenêutica busca as bases do consenso e da compreensão na tradição e na linguagem, o método dialético introduz na compreensão da realidade o princípio do conflito e da contradição como algo permanente e que se explica na transformação” (p. 96).
Esta abordagem possibilita identificar em que dimensão os artigos publicados exploraram o significado dos fenômenos sociais estudados, considerando-se a historicidade, o contexto e a cultura presentes nas relações sociais, que influenciam e determinam a produção de conhecimentos e as práticas de saúde9.
De modo associado à perspectiva hermenêutico-dialética8, buscou-se identificar os estilos de pensamento que pudessem revelar metapontos de vista de um coletivo de pensamento2. Nesse sentido, foram identificados estilos de pensamento hegemônicos, assim como dissensos e contradições nos significados e sentidos identificados a partir das temáticas analisadas.
Para tanto, foram analisados principais os focos explorados pelos respectivos autores, considerando os resumos, as palavras-chave, a pergunta investigativa, os métodos empregados e as discussões presentes nos 26 artigos analisados, no sentido de serem reveladas as categorias que circunscrevem as temáticas do conjunto de publicações. A leitura integral dos textos possibilitou identificar em que dimensões a exploração dos elementos sociais e histórico-culturais nos fenômenos apresentados revelaram estilos de pensamento do coletivo que escolheu a Revista de Ciência e Saúde Coletiva como espaço científico para divulgar conhecimento na área de educação em saúde, no contexto da saúde coletiva.
Resultados e Discussões
A análise dos artigos publicados revelou quatro grandes temáticas nas quais os 26 artigos foram agrupados: (i) Formação em saúde; (ii) Educação popular; (iii) Comunicação em saúde; e (iv) Relações entre sujeitos, saberes e práticas em saúde.
Formação em Saúde
A formação em saúde foi a temática abordada pelo maior número de artigos publicados na área da educação em saúde entre 2014-24. A partir dos dez artigos vinculados a esta temática, foram identificadas três categorias analíticas: educação na graduação, educação na pós-graduação e educação permanente em saúde (Figura 1).
Fig. 1
De modo transversal, a formação em saúde foi considerada um elemento crítico para a qualificação das práticas e das intervenções em saúde. Definida como um processo dinâmico e dialogado com o mundo do trabalho, a formação em saúde foi abordada nos âmbitos da graduação, pós-graduação e prática profissional.
Três artigos focalizaram a formação graduada. Elegeram, como objeto de investigação, cursos brasileiros de graduação em Saúde Coletiva e em outras profissões da saúde, e cursos espanhóis de formação universitária para futuros professores de educação infantil. Como estilo de pensamento, o conjunto desses artigos aponta para a necessidade de ampliação das conexões entre trabalho e ensino e entre os saberes técnicos e humanistas, com destaque para a lacuna ou a insuficiência de determinados conteúdos ou experiências educacionais considerados relevantes na formação de profissionais de saúde10-12.
Os currículos da graduação em Saúde Coletiva foram analisados à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais desta área, evidenciando as disciplinas de Epidemiologia, Planejamento e Gestão em Saúde e de Ciências Humanas e Sociais como sendo eixos estruturantes dessa formação. A partir dessa análise, foi apontada a pouca problematização dos desafios voltados à consolidação do Sistema Único de Saúde – SUS, assim como, a pouca presença de vivências práticas em cenários reais do trabalho em saúde coletiva11.
Para as demais graduações da área da saúde, foi destacada a incipiente abordagem de elementos relacionados à arte, à cultura e à estética, com reflexões sobre o predomínio da abordagem técnica na formação de profissionais de saúde12.
Em relação à formação de futuros professores de educação infantil, foi destacada a predominância do enfoque preventivo em relação ao conceito de promoção da saúde, com reflexões sobre a noção de saúde circunscrita à falta de doença10.
No tocante aos cinco artigos que focalizaram programas de pós-graduação, quer em iniciativas de atualização ou de especialização latu senso13-15, quer em programas de residência16,17, os desafios explorados giraram em torno da ampliação de capacidades do perfil a ser formado e do uso de inovações metodológicas nos processos educativos. Como desafios, foram apontados: posições de resistência, derivada dos modelos educacionais tradicionais e dos modelos centrados na doença; circunscrição do cuidado à dimensão biológica dos processos de saúde-doença; e o distanciamento ou a baixa qualificação entre os processos de gestão e de cuidado, no âmbito dos serviços de saúde.
A disputa de modelos neste campo reflete diferentes intencionalidades educacionais e consequências desejadas no comportamento dos sujeitos expostos aos processos de formação, a partir dos conteúdos e modelos escolhidos para a abordagem do conhecimento. Em relação aos modelos educacionais tradicionais, Davini18 destaca que:
“no campo da capacitação do pessoal da Saúde, as mudanças de concepção não conseguiram superar o enfoque centrado na transmissão de conhecimento por meio de aulas. Pelo contrário, este enfoque se mantém no desenvolvimento de diversas propostas, de forma paralela ou simultânea, com as propostas alternativas. Sua manutenção ao longo do tempo, pode ser explicada, entre outras razões, pela persistência do modelo escolar nas formas de pensar a educação e por uma visão simplificada das pessoas e da prática, no campo das organizações. A persistência dos modelos escolares obedece não somente ao fator cultural ou aos “modelos mentais”, mas a uma visão muito restrita dos conceitos de aprendizagem e da aprendizagem do adulto nas organizações, de acordo com a mesma teoria educacional” (p.45).
Com relação à força do modelo biomédico e às dificuldades dos movimentos de tentativa de ampliação desse modelo, Campos19 considera que:
“A Medicina tradicional se encarrega do tratamento de doenças; para a clínica ampliada, haveria necessidade de se ampliar esse objeto, agregando a ele, além das doenças, também problemas de saúde (situações que ampliam o risco ou vulnerabilidade das pessoas). A ampliação mais importante, contudo, seria a consideração de que, em concreto, não há problema de saúde ou doença sem que estejam encarnadas em sujeitos, em pessoas” (p.852).
Como estilo de pensamento, nas discussões e considerações desse conjunto de artigos, aparece a defesa de estratégias e de dispositivos voltados ao desenvolvimento de capacidades crítico-reflexivas, visando um maior engajamento e criatividade dos educandos no processo de formação e de cuidado à saúde de pessoas e populações. Assim, foram exploradas narrativas reflexivas, discussões coletivas, cartografia social, caixa de experimentações, mapa conceitual, contextualização e customização de intervenções, interprofissionalidade, intersetoridade e a valorização da prática como espaço de produção de saberes.
No tocante à categoria Educação Permanente, embora quatro dos dez artigos analisados na temática “Formação em Saúde” tenham incluído o termo “Educação Permanente” como descritor de assunto, dois foram considerados nesta categoria e dois na categoria de educação pós-graduada. Nesse sentido, a abordagem da Educação Permanente em Saúde – EPS mostrou elementos ambíguos na identificação de estilos de pensamento. Essa polissemia parece ser relevante, uma vez que um dos artigos desta categoria focalizou, justamente, a problematização dos princípios que deveriam fundamentar as iniciativas de EPS20. O maior ponto de dissonância encontra-se na apresentação de iniciativas de educação continuada21, geralmente cursos de capacitação/atualização ou programas de residência, como sendo experiências de educação permanente22.
Na categorização aqui empreendida, as iniciativas educacionais cujo programa e conteúdos estão previamente definidos e não articulados à uma estratégia de transformação institucional não apresentam coerência com os princípios que caracterizam a EPS e deveriam ser nomeadas como educação continuada, mesmo que com ofertas periódicas. As iniciativas de EPS foram consideradas aquelas constituídas por ações voltadas à problematização dos desafios que as equipes de saúde identificam nos próprios processos de trabalho. A partir dos desafios, as equipes, de maneira crítica-reflexiva e criativa, são institucionalmente apoiadas na construção de novos saberes e na melhoria de intervenções na realidade, com vistas à qualificação da atenção à saúde20,23. Nesse sentido, Davini18 destaca que deveriam ser os problemas identificados pelas equipes, no cotidiano do trabalho, que deveriam orientar os processos de reflexão sobre a prática, ao invés dos temas elegidos pelos gestores e organizados em aulas ou oficinas com programações segundo atualizações de conteúdos ou práticas:
“Aproximar a educação da vida cotidiana e? fruto do reconhecimento do potencial educativo da situação de trabalho. Em outros termos, que no trabalho também se aprende. A situação prevê transformar as situações diárias em aprendizagem, analisando reflexivamente os problemas da prática e valorizando o próprio processo de trabalho no seu contexto intrínseco. Esta perspectiva, centrada no processo de trabalho, não se limita a determinadas categorias profissionais, mas a toda a equipe, incluindo médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, professores, trabalhadores sociais e todas as variantes de atores que formam o grupo” (p.45).
Comunicação em saúde
Em relação aos sete artigos agrupados nesta temática, foram identificadas as seguintes categorias analíticas: materiais educativos, tecnologia educacional e educação científica (Figura 2).
Fig. 2
De modo transversal, a comunicação foi explorada como um elemento central na divulgação de informações fundamentadas em evidências científicas. Na categoria de comunicação científica, um dos artigos explorou os desafios desse tipo de divulgação, com foco nas publicações brasileiras no campo da saúde coletiva. Foram destacados aspectos relativos ao financiamento, à classificação das revistas, ao impacto dos trabalhos publicados e à crescente dificuldade de adesão para a participação voluntária de pareceristas para as publicações científicas24.
Os demais artigos desta temática focaram na comunicação em saúde destinada às pessoas leigas, explorando materiais e tecnologias educacionais25-28, inclusive aqueles cujo objetivo foi a validação desses materiais por especialistas29 ou a análise de algoritmos da internet para subsidiar desenvolvedores de campanhas de prevenção de doenças30.
A promoção da saúde e o enfoque preventivo foram as ênfases predominantes, independentemente do tema abordado. Como método, foram utilizadas abordagens exploratórias descritivas, revisão de literatura e validação de conteúdo de materiais educacionais. Nas discussões apresentadas, os diferentes contextos culturais das populações alvo nas comunicações, a escolha de recursos e meios utilizados e o desfecho desejado foram apontados como sendo os principais desafios na produção de materiais educativos, campanhas de saúde ou tecnologia educacional.
O estilo de pensamento identificado considera que a comunicação em saúde não deve ser apenas uma transmissão de informações. Embora tenham sido apontados questionamentos sobre os conteúdos escolhidos e omitidos nas comunicações investigadas, assim como, sobre a efetividade dos materiais e tecnologias no sentido da mudança de práticas em saúde, a exploração do componente simbólico da linguagem mostrou ser uma fronteira na produção de conhecimentos nesta área. Para Minayo31:
“a postura interpretativa dialética reconhece os fenômenos sociais sempre com resultados e efeitos da atividade criadora, tanto imediata quanto institucionalizada. Portanto, torna como centro da análise a prática social, a ação humana e a considera como resultado de condições anteriores, exteriores, mas também como práxis. Isto é, o ato humano que atravessa o meio social conserva as determinações, mas também transforma o mundo sobre as condições dadas” (p. 232).
Considerando a fronteira de saberes identificada, a intersecção e o diálogo com perspectivas vinculadas às áreas da linguística, do materialismo histórico e da psicanálise poderiam ampliar a interpretação em futuras investigações nesta temática. Nesse sentido, poderiam ser formuladas hipóteses investigativas em relação ao sentido do discurso e à intencionalidade educacional revelada pela escolha de significantes que favorecem a construção de determinados significados32-34. Por meio dessas perspectivas, o processo de análise avançaria as constatações descritivas e permitiria enfatizar as relações entre discurso, poder, ideologia e inconsciente que influenciam o processo de produção de sentido, não apenas como um produto individual, mas como um processo social e histórico35-37.
Educação Popular
Considerando os seis artigos agrupados nesta temática, foram identificadas quatro categorias analíticas: conceito de educação popular, promoção da saúde, vigilância em saúde e autonomia, sendo que vários artigos abordaram mais do que uma categoria (Figura 3).
Fig. 3
Três artigos realizaram investigações teóricas, dois analisaram dados de pesquisas exploratórias e um conduziu uma revisão narrativa. Quatro são de autores nacionais e dois, internacionais. Nestes artigos, o conceito de educação popular foi desenvolvido de modo associado às práticas educativas em saúde, voltadas à emancipação e à conscientização das pessoas e de grupos sociais, estando frequentemente vinculado à noção de promoção da saúde38-40. Dois dos artigos agrupados nesta temática exploraram o conceito de literacia em saúde40,41.
O conceito de literacia, foi ganhando maior densidade ao longo das duas últimas décadas e atualmente se refere ao:
“[...] conhecimento e as competências pessoais que se acumulam através das atividades diárias, das interações sociais e através das gerações. O conhecimento e as competências pessoais são mediados pelas estruturas organizacionais e pela disponibilidade de recursos que permitem às pessoas acessar, compreender, avaliar e utilizar informações e serviços de forma a promover e manter uma boa saúde e bem-estar, para si e para aqueles que as rodeiam.”42 (p. 1582)”
A partir dos anos 2010, a literacia em saúde passou a ser explorada de modo vinculado à criação de materiais educativos e culturalmente relevantes, estando essa abordagem destacada na categoria de Comunicação em saúde, sendo, mais recentemente, articulado por autores brasileiros ao conceito de educação popular.
Em três dos seis artigos, a educação popular foi discutida como uma resposta às necessidades de aprendizagem de comunidades, com destaque para o diálogo e para a construção coletiva de conhecimentos em saúde que devem refletir valores culturais e diferenças decorrentes da inserção socioeconômica das pessoas nas sociedades38-40.
No tocante às metodologias utilizadas para o alcance de objetivos tão audaciosos quanto necessários à produção de saúde, houve o predomínio da indicação de métodos ativos de ensino-aprendizagem visando a problematização das vivências e da realidade, no sentido da construção de experiências, por meio da crítica e da reflexão. O reconhecimento e a valorização dos saberes prévios dos sujeitos e da cultura popular foram considerados estratégicos neste tipo de interação educacional, sendo estruturantes na construção-desconstrução de significados41,43.
Particularmente, para a vigilância em saúde38, o deslocamento de uma educação prescritiva para abordagens emancipatórias foi considerado um agir crítico e corresponsável entre profissionais de saúde e pessoas sob cuidado. Desse modo, os modelos normativos, verticalizados e pautados em técnicas descontextualizadas em relação aos valores e interesses e à historicidade e cultura das pessoas e sociedades foram apontados como insuficientes e ineficientes, frente ao desafio da educação em saúde.
A referência ao autor Paulo Freire44 é muito expressiva na quase totalidade dos artigos, nacionais e internacionais, e consolida um estilo de pensamento que atribui à educação um papel de libertação e de transformação social. Este autor, destaca que:
"A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim também a negação do mundo como realidade ausente dos homens"44 (pag. 81).
Cabe aqui considerar, que o conceito de educação contempla, igualmente, processos de reprodução como de transformação da realidade. Desse modo, o estilo de pensamento vinculado à educação popular e defendido na totalidade dos artigos aqui agrupados, representa uma perspectiva crítica da educação e voltada à transformação da realidade por meio da concepção problematizadora e conscientizadora45-48.
Neste contexto, as intervenções focalizadas pelos autores dessa temática foram consideradas desafiadoras, no sentido da participação ativa da população na produção de saúde e na busca por justiça social. Assim, o desenvolvimento de autonomia nos processos de promoção da saúde foi apontado como sendo um eixo estruturante para a individuação dos sujeitos e para a vivência de situações que resultem em aprendizagem e no desenvolvimento de capacidades reflexivas49 e capazes de transformar processos sociais e políticos41. Segundo as palavras de Freire47, também destacadas por autores de um artigo desta temática:
“A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas [...]. Ninguém e? sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, e? processo, e? vir a ser” (p. 105)
Relações entre sujeitos, saberes e práticas
Os três artigos agrupados nesta temática apontaram como categorias: relação médico-paciente, educação interprofissional e educação de atitudes e valores (Figura 4). As discussões desenvolvidas pelos autores problematizaram estas categorias nos âmbitos da formação e do trabalho em saúde.
Fig. 4
A análise das interações entre sujeitos focalizou encontros entre pacientes e profissionais de saúde, preceptores e estudantes de diferentes profissões, assim como, outras relações atravessadas por julgamentos morais no cuidado à saúde50-52. Os métodos utilizados nestas publicações contemplaram duas revisões integrativas50,52 e uma pesquisa exploratória51.
No tocante à relação entre médicos e pacientes, o estilo de pensamento encontrado se alinha às reflexões já exploradas nas categorias de “Formação em saúde” e “Educação Popular”, no sentido da insuficiência da abordagem técnica para um cuidado à saúde de qualidade. As relações consideradas difíceis foram analisadas segundo perspectivas complementares. Do ponto de vista dos pacientes, a baixa escuta, a falta de interesse e a atitude preconceituosa dos profissionais de saúde foram considerados fatores dificultadores na atenção à saúde. Do ponto de vista dos profissionais, problemas na obtenção, no compartilhamento de informações e na adesão dos pacientes ao plano de cuidado, doenças psicossomáticas e crônicas, sintomas como dor ou fortes emoções e certas características sociodemográficas e de vulnerabilidade dos pacientes foram, igualmente, considerados aspectos dificultadores na relação médico-paciente50.
No tocante à educação interprofissional, embora a interprofissionalidade tenha sido apontada como um elemento essencial para a efetividade das ações de saúde e melhoria da qualidade no atendimento aos usuários dos serviços de saúde, as barreiras para essa prática foram identificadas tanto no sistema educacional como no profissional. Como desafios, foram destacados: a presença pontual do trabalho interprofissional, quer no cotidiano dos profissionais, quer nos serviços de saúde; um misto de desinformação e de falta de disponibilidade, e a difícil tarefa de combinar ensino e assistência no trabalho dos preceptores de campo52.
No tocante à educação de atitudes e valores, as diferenças que excluem, isolam ou dificultam o cuidado à saúde, em função de um julgamento moral, foram analisadas de acordo com a escolaridade dos sujeitos investigados. Nesse contexto, a escolaridade foi considerada uma característica que pode contribuir para a redução de preconceitos e diminuir danos sociais associados às situações que envolvem, não apenas condições estigmatizantes de saúde51, mas de modo ampliado, diversidade de gênero, raça, etnia, orientação sexual, deficiência, religião e outras características. A empatia e os valores de inclusão, ao serem considerados como pertencentes ao domínio atitudinal e, nesse sentido, conteúdos de ensino-aprendizagem, foram vinculados a uma educação voltada à transformação da realidade e das relações entre sujeitos.
Considerações finais
A partir dos artigos selecionados, a análise das temáticas revela a complexidade dos fenômenos que envolvem relações sociais e seus desdobramentos na produção de significados nos processos educacionais em saúde. Por meio da abordagem hermenêutica-dialética, a necessidade de ampliação da problematização desses fenômenos aponta para um campo a ser melhor explorado. Nas reflexões finais destes artigos, diversos autores explicitaram a necessidade de pesquisas que avançassem em relação aos diagnósticos já evidenciados.
Assim, uma maior exploração dos contextos histórico, social e econômico e das relações de poder, que se expressam na produção e na divulgação da cultura, da linguagem, dos fatos científicos e dos valores que sustentam e definem as sociedades, pode representar uma das alternativas para o necessário aprofundamento. Neste sentido, um maior domínio dos aspectos semânticos da linguagem e da natureza social e cultural presente na produção da comunicação em saúde passa a requer o uso referenciais teóricos e de abordagens metodológicas que possibilitem explorar as tensões históricas, econômicas, sociais, ideológicas e, mesmo aquelas de natureza inconscientes, que influenciam ou determinam as relações sociais.
Como estilo de pensamento do coletivo de autores que publicaram na área de educação em saúde da Revista CSC, na última década, o apontamento da insuficiência e da inefetividade dos modelos educacional e de atenção à saúde baseados nas doenças, na racionalidade biomédica e na abordagem uniprofissional perpassaram as temáticas identificadas.
De modo transformador em relação a este estilo de pensamento hegemônico no século XX, embora ainda presente nos sistemas educacional e de saúde contemporâneos, os autores defendem o deslocamento da centralidade nas doenças para a identificação de necessidades de saúde das pessoas e populações. Para fundamentar e instrumentalizar esse deslocamento, indicam mudanças expressivas nos processos educacionais: a valorização do pensamento crítico-reflexivo e de metodologias ativas de aprendizagem, assim como, do trabalho interprofissional e da racionalidade biopisossocial, visando a integralidade do cuidado. Quer pautados em argumentação de natureza teórica ou em dados obtidos em pesquisas exploratórias, os autores advogam uma educação em saúde mais eficaz e de qualidade, inclusiva e transformadora. A síntese das pesquisas realizadas na área de educação em saúde descortina fronteiras para futuras publicações especialmente para aqueles que, pertencendo ao coletivo de pensamento referido à área da saúde coletiva, possam chamar para si uma parte dessa responsabilidade.
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A publicação de conhecimentos do campo da saúde coletiva, considerando-se a conexão entre elementos sociais, econômicos, ambientais e culturais na produção de saúde-doença, tem qualificado tanto perspectivas quanto abordagens investigativas sobre fenômenos que constituem práticas sociais3-5.
Nesse sentido, a atenção direcionada às práticas sociais, como atividade humana, leva em conta tanto a natureza das respostas construídas frente às necessidades sociais, como os saberes que fundamentam explicações sobre os fenômenos observados e que promovem a construção de um pensamento conforme um estilo ou ponto de vista específico, no contexto de determinadas épocas e sociedades.
De modo ainda mais explicito, Fleck2 “afirma que o processo de conhecimento representa a atividade humana que mais depende das condições sociais, e o conhecimento é um produto social por excelência” (p. 85).
Ainda em relação à produção de conhecimento, Fleck2 estabelece uma diferenciação entre aqueles que efetivamente produzem fatos científicos daqueles que traduzem esses fatos em uma linguagem popular. Por meio de uma representação topográfica de dois círculos, um dentro do outro, este autor articula produção, linguagem e meios de divulgação dos fatos científicos.
Assim, os sujeitos que produzem e/ou disseminam os fatos de acordo com regras e linguagem técnico-científica são nominados especialistas e generalistas e pertencem ao círculo mais interno, chamado de “esotérico”. Os leigos qualificados como “educados” são aqueles responsáveis pela divulgação dos fatos científicos em mídias populares e pertencem ao círculo mais externo, chamado de “exotérico”2 (Figura 1).
Fig. 1
No tocante às formas de divulgação, a categorização apresentada por Fleck2 permite identificar os livros de referência e as revistas científicas como sendo os meios preferenciais para a comunicação técnico-científica de pesquisadores especializados. Os manuais acadêmicos e as diretrizes e normatizações técnicas são apresentados como exemplos de meios de divulgação geralmente utilizados por generalistas. Finalmente, os meios de comunicação de massa são preferencialmente utilizados por leigos para a tradução de assuntos e fenômenos segundo uma linguagem mais coloquial.
Certamente, o advento da internet e a emergência das redes sociais ampliaram de modo extraordinário o acesso às informações, exponenciando o círculo exotérico na disseminação de informação. O efeito colateral do uso desses novos dispositivos de mídia foi a visibilidade da opinião de leigos, que sem um cuidado com a veracidade das informações veiculadas, podem disseminar notícias falsas ou não fundamentadas pela ciência produzida no círculo esotérico.
O conjunto dos sujeitos e das produções dos dois círculos de uma determinada área de conhecimento é chamado por Fleck2 como ‘Coletivo de Pensamento’. Desse modo, uma comunidade de pessoas numa situação de influência recíproca de pensamentos e que interagem intelectualmente, trocando ideias, experiências e reflexões sobre fenômenos ou fatos de um determinado campo de conhecimento é reconhecida como sendo um coletivo de pensamento.
Paralelamente, como estilo de pensamento, Fleck2 identifica uma maneira singular de ver a realidade e agir sobre ela, ao invés de qualquer outra. Um estilo é uma abordagem, um modo preferencial de se explicar problemas que interessam a um coletivo de pensamento, do qual deriva formas de intervenção, a partir de uma dada posição e visando determinados objetivos. A partir de um coletivo de pensamento podemos reconhecer estilos de pensamento complementares, contraditórios ou mesmo ambíguos, uma vez que a influência recíproca, em ambientes democráticos, é dialógica7.
Com foco nas produções do círculo esotérico e partindo da premissa de que os pesquisadores que publicam livros de referência e artigos científicos constituem um coletivo que constrói estilos de pensamento, esse artigo busca investigar o perfil temático das publicações da área da educação em saúde, visando identificar os principais desafios na produção de estilos de pensamento nessa área de conhecimento.
A área de educação na Revista Ciência e Saúde Coletiva - RCSC
Desde a criação da RCSC em 1996, a publicação de produções científicas no formato de debates, pesquisas e novas ideias focaliza a área de saúde coletiva com abordagem multiprofissional. A relevância acadêmica da revista é evidenciada por meio da atual classificação no Qualis/Capes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, das indexações e do fator de impacto da revista.
No período de 2014-24, foram 42.466 submissões e 4.715 produções científicas publicadas na Revista Ciência e Saúde Coletiva. As áreas temáticas da revista foram progressivamente ampliadas, alcançando atualmente 19 áreas, incluindo resenhas. Ao considerarmos apenas essas áreas e resenhas, o número de aprovações nos últimos 10 anos foi de 1.966 artigos, que representam 13,36% do total de 14.714 manuscritos submetidos à revista nessas mesmas áreas no período de referência (Tabela 1).
Tab.1
O maior percentual das publicações se refere à área de epidemiologia (22,79%). Esta área, somada à epidemiologia das doenças não transmissíveis alcança aproximadamente 23,40% do total de publicações nas áreas temáticas da RCSC no período de 2014-24. Na área de Educação em Saúde, foram submetidos 288 manuscritos para avaliação tendo sido aprovados 26 artigos que correspondem a 1,32% do total de publicações das áreas temáticas da revista no período focalizado.
Método
A partir dos 288 manuscritos submetidos à área de educação em saúde entre 2014-24 e encaminhados para a avaliação de pares, os 26 artigos aceitos para publicação na Revista Ciência e Saúde Coletiva foram submetidos à análise dos temas abordados. No Quadro 1 estes artigos foram apresentados segundo a ordem cronológica das publicações.
Quadro 1
A análise realizada foi ancorada numa perspectiva hermenêutico-dialética, segundo proposição de Minayo8, que destaca:
“A hermenêutica oferece as balizas para a compreensão do sentido da comunicação entre os seres humanos; parte da linguagem como o terreno comum de realização da intersubjetividade e do entendimento” (p. 92); [...] “Enquanto a hermenêutica busca as bases do consenso e da compreensão na tradição e na linguagem, o método dialético introduz na compreensão da realidade o princípio do conflito e da contradição como algo permanente e que se explica na transformação” (p. 96).
Esta abordagem possibilita identificar em que dimensão os artigos publicados exploraram o significado dos fenômenos sociais estudados, considerando-se a historicidade, o contexto e a cultura presentes nas relações sociais, que influenciam e determinam a produção de conhecimentos e as práticas de saúde9.
De modo associado à perspectiva hermenêutico-dialética8, buscou-se identificar os estilos de pensamento que pudessem revelar metapontos de vista de um coletivo de pensamento2. Nesse sentido, foram identificados estilos de pensamento hegemônicos, assim como dissensos e contradições nos significados e sentidos identificados a partir das temáticas analisadas.
Para tanto, foram analisados principais os focos explorados pelos respectivos autores, considerando os resumos, as palavras-chave, a pergunta investigativa, os métodos empregados e as discussões presentes nos 26 artigos analisados, no sentido de serem reveladas as categorias que circunscrevem as temáticas do conjunto de publicações. A leitura integral dos textos possibilitou identificar em que dimensões a exploração dos elementos sociais e histórico-culturais nos fenômenos apresentados revelaram estilos de pensamento do coletivo que escolheu a Revista de Ciência e Saúde Coletiva como espaço científico para divulgar conhecimento na área de educação em saúde, no contexto da saúde coletiva.
Resultados e Discussões
A análise dos artigos publicados revelou quatro grandes temáticas nas quais os 26 artigos foram agrupados: (i) Formação em saúde; (ii) Educação popular; (iii) Comunicação em saúde; e (iv) Relações entre sujeitos, saberes e práticas em saúde.
Formação em Saúde
A formação em saúde foi a temática abordada pelo maior número de artigos publicados na área da educação em saúde entre 2014-24. A partir dos dez artigos vinculados a esta temática, foram identificadas três categorias analíticas: educação na graduação, educação na pós-graduação e educação permanente em saúde (Figura 1).
Fig. 1
De modo transversal, a formação em saúde foi considerada um elemento crítico para a qualificação das práticas e das intervenções em saúde. Definida como um processo dinâmico e dialogado com o mundo do trabalho, a formação em saúde foi abordada nos âmbitos da graduação, pós-graduação e prática profissional.
Três artigos focalizaram a formação graduada. Elegeram, como objeto de investigação, cursos brasileiros de graduação em Saúde Coletiva e em outras profissões da saúde, e cursos espanhóis de formação universitária para futuros professores de educação infantil. Como estilo de pensamento, o conjunto desses artigos aponta para a necessidade de ampliação das conexões entre trabalho e ensino e entre os saberes técnicos e humanistas, com destaque para a lacuna ou a insuficiência de determinados conteúdos ou experiências educacionais considerados relevantes na formação de profissionais de saúde10-12.
Os currículos da graduação em Saúde Coletiva foram analisados à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais desta área, evidenciando as disciplinas de Epidemiologia, Planejamento e Gestão em Saúde e de Ciências Humanas e Sociais como sendo eixos estruturantes dessa formação. A partir dessa análise, foi apontada a pouca problematização dos desafios voltados à consolidação do Sistema Único de Saúde – SUS, assim como, a pouca presença de vivências práticas em cenários reais do trabalho em saúde coletiva11.
Para as demais graduações da área da saúde, foi destacada a incipiente abordagem de elementos relacionados à arte, à cultura e à estética, com reflexões sobre o predomínio da abordagem técnica na formação de profissionais de saúde12.
Em relação à formação de futuros professores de educação infantil, foi destacada a predominância do enfoque preventivo em relação ao conceito de promoção da saúde, com reflexões sobre a noção de saúde circunscrita à falta de doença10.
No tocante aos cinco artigos que focalizaram programas de pós-graduação, quer em iniciativas de atualização ou de especialização latu senso13-15, quer em programas de residência16,17, os desafios explorados giraram em torno da ampliação de capacidades do perfil a ser formado e do uso de inovações metodológicas nos processos educativos. Como desafios, foram apontados: posições de resistência, derivada dos modelos educacionais tradicionais e dos modelos centrados na doença; circunscrição do cuidado à dimensão biológica dos processos de saúde-doença; e o distanciamento ou a baixa qualificação entre os processos de gestão e de cuidado, no âmbito dos serviços de saúde.
A disputa de modelos neste campo reflete diferentes intencionalidades educacionais e consequências desejadas no comportamento dos sujeitos expostos aos processos de formação, a partir dos conteúdos e modelos escolhidos para a abordagem do conhecimento. Em relação aos modelos educacionais tradicionais, Davini18 destaca que:
“no campo da capacitação do pessoal da Saúde, as mudanças de concepção não conseguiram superar o enfoque centrado na transmissão de conhecimento por meio de aulas. Pelo contrário, este enfoque se mantém no desenvolvimento de diversas propostas, de forma paralela ou simultânea, com as propostas alternativas. Sua manutenção ao longo do tempo, pode ser explicada, entre outras razões, pela persistência do modelo escolar nas formas de pensar a educação e por uma visão simplificada das pessoas e da prática, no campo das organizações. A persistência dos modelos escolares obedece não somente ao fator cultural ou aos “modelos mentais”, mas a uma visão muito restrita dos conceitos de aprendizagem e da aprendizagem do adulto nas organizações, de acordo com a mesma teoria educacional” (p.45).
Com relação à força do modelo biomédico e às dificuldades dos movimentos de tentativa de ampliação desse modelo, Campos19 considera que:
“A Medicina tradicional se encarrega do tratamento de doenças; para a clínica ampliada, haveria necessidade de se ampliar esse objeto, agregando a ele, além das doenças, também problemas de saúde (situações que ampliam o risco ou vulnerabilidade das pessoas). A ampliação mais importante, contudo, seria a consideração de que, em concreto, não há problema de saúde ou doença sem que estejam encarnadas em sujeitos, em pessoas” (p.852).
Como estilo de pensamento, nas discussões e considerações desse conjunto de artigos, aparece a defesa de estratégias e de dispositivos voltados ao desenvolvimento de capacidades crítico-reflexivas, visando um maior engajamento e criatividade dos educandos no processo de formação e de cuidado à saúde de pessoas e populações. Assim, foram exploradas narrativas reflexivas, discussões coletivas, cartografia social, caixa de experimentações, mapa conceitual, contextualização e customização de intervenções, interprofissionalidade, intersetoridade e a valorização da prática como espaço de produção de saberes.
No tocante à categoria Educação Permanente, embora quatro dos dez artigos analisados na temática “Formação em Saúde” tenham incluído o termo “Educação Permanente” como descritor de assunto, dois foram considerados nesta categoria e dois na categoria de educação pós-graduada. Nesse sentido, a abordagem da Educação Permanente em Saúde – EPS mostrou elementos ambíguos na identificação de estilos de pensamento. Essa polissemia parece ser relevante, uma vez que um dos artigos desta categoria focalizou, justamente, a problematização dos princípios que deveriam fundamentar as iniciativas de EPS20. O maior ponto de dissonância encontra-se na apresentação de iniciativas de educação continuada21, geralmente cursos de capacitação/atualização ou programas de residência, como sendo experiências de educação permanente22.
Na categorização aqui empreendida, as iniciativas educacionais cujo programa e conteúdos estão previamente definidos e não articulados à uma estratégia de transformação institucional não apresentam coerência com os princípios que caracterizam a EPS e deveriam ser nomeadas como educação continuada, mesmo que com ofertas periódicas. As iniciativas de EPS foram consideradas aquelas constituídas por ações voltadas à problematização dos desafios que as equipes de saúde identificam nos próprios processos de trabalho. A partir dos desafios, as equipes, de maneira crítica-reflexiva e criativa, são institucionalmente apoiadas na construção de novos saberes e na melhoria de intervenções na realidade, com vistas à qualificação da atenção à saúde20,23. Nesse sentido, Davini18 destaca que deveriam ser os problemas identificados pelas equipes, no cotidiano do trabalho, que deveriam orientar os processos de reflexão sobre a prática, ao invés dos temas elegidos pelos gestores e organizados em aulas ou oficinas com programações segundo atualizações de conteúdos ou práticas:
“Aproximar a educação da vida cotidiana e? fruto do reconhecimento do potencial educativo da situação de trabalho. Em outros termos, que no trabalho também se aprende. A situação prevê transformar as situações diárias em aprendizagem, analisando reflexivamente os problemas da prática e valorizando o próprio processo de trabalho no seu contexto intrínseco. Esta perspectiva, centrada no processo de trabalho, não se limita a determinadas categorias profissionais, mas a toda a equipe, incluindo médicos, enfermeiros, pessoal administrativo, professores, trabalhadores sociais e todas as variantes de atores que formam o grupo” (p.45).
Comunicação em saúde
Em relação aos sete artigos agrupados nesta temática, foram identificadas as seguintes categorias analíticas: materiais educativos, tecnologia educacional e educação científica (Figura 2).
Fig. 2
De modo transversal, a comunicação foi explorada como um elemento central na divulgação de informações fundamentadas em evidências científicas. Na categoria de comunicação científica, um dos artigos explorou os desafios desse tipo de divulgação, com foco nas publicações brasileiras no campo da saúde coletiva. Foram destacados aspectos relativos ao financiamento, à classificação das revistas, ao impacto dos trabalhos publicados e à crescente dificuldade de adesão para a participação voluntária de pareceristas para as publicações científicas24.
Os demais artigos desta temática focaram na comunicação em saúde destinada às pessoas leigas, explorando materiais e tecnologias educacionais25-28, inclusive aqueles cujo objetivo foi a validação desses materiais por especialistas29 ou a análise de algoritmos da internet para subsidiar desenvolvedores de campanhas de prevenção de doenças30.
A promoção da saúde e o enfoque preventivo foram as ênfases predominantes, independentemente do tema abordado. Como método, foram utilizadas abordagens exploratórias descritivas, revisão de literatura e validação de conteúdo de materiais educacionais. Nas discussões apresentadas, os diferentes contextos culturais das populações alvo nas comunicações, a escolha de recursos e meios utilizados e o desfecho desejado foram apontados como sendo os principais desafios na produção de materiais educativos, campanhas de saúde ou tecnologia educacional.
O estilo de pensamento identificado considera que a comunicação em saúde não deve ser apenas uma transmissão de informações. Embora tenham sido apontados questionamentos sobre os conteúdos escolhidos e omitidos nas comunicações investigadas, assim como, sobre a efetividade dos materiais e tecnologias no sentido da mudança de práticas em saúde, a exploração do componente simbólico da linguagem mostrou ser uma fronteira na produção de conhecimentos nesta área. Para Minayo31:
“a postura interpretativa dialética reconhece os fenômenos sociais sempre com resultados e efeitos da atividade criadora, tanto imediata quanto institucionalizada. Portanto, torna como centro da análise a prática social, a ação humana e a considera como resultado de condições anteriores, exteriores, mas também como práxis. Isto é, o ato humano que atravessa o meio social conserva as determinações, mas também transforma o mundo sobre as condições dadas” (p. 232).
Considerando a fronteira de saberes identificada, a intersecção e o diálogo com perspectivas vinculadas às áreas da linguística, do materialismo histórico e da psicanálise poderiam ampliar a interpretação em futuras investigações nesta temática. Nesse sentido, poderiam ser formuladas hipóteses investigativas em relação ao sentido do discurso e à intencionalidade educacional revelada pela escolha de significantes que favorecem a construção de determinados significados32-34. Por meio dessas perspectivas, o processo de análise avançaria as constatações descritivas e permitiria enfatizar as relações entre discurso, poder, ideologia e inconsciente que influenciam o processo de produção de sentido, não apenas como um produto individual, mas como um processo social e histórico35-37.
Educação Popular
Considerando os seis artigos agrupados nesta temática, foram identificadas quatro categorias analíticas: conceito de educação popular, promoção da saúde, vigilância em saúde e autonomia, sendo que vários artigos abordaram mais do que uma categoria (Figura 3).
Fig. 3
Três artigos realizaram investigações teóricas, dois analisaram dados de pesquisas exploratórias e um conduziu uma revisão narrativa. Quatro são de autores nacionais e dois, internacionais. Nestes artigos, o conceito de educação popular foi desenvolvido de modo associado às práticas educativas em saúde, voltadas à emancipação e à conscientização das pessoas e de grupos sociais, estando frequentemente vinculado à noção de promoção da saúde38-40. Dois dos artigos agrupados nesta temática exploraram o conceito de literacia em saúde40,41.
O conceito de literacia, foi ganhando maior densidade ao longo das duas últimas décadas e atualmente se refere ao:
“[...] conhecimento e as competências pessoais que se acumulam através das atividades diárias, das interações sociais e através das gerações. O conhecimento e as competências pessoais são mediados pelas estruturas organizacionais e pela disponibilidade de recursos que permitem às pessoas acessar, compreender, avaliar e utilizar informações e serviços de forma a promover e manter uma boa saúde e bem-estar, para si e para aqueles que as rodeiam.”42 (p. 1582)”
A partir dos anos 2010, a literacia em saúde passou a ser explorada de modo vinculado à criação de materiais educativos e culturalmente relevantes, estando essa abordagem destacada na categoria de Comunicação em saúde, sendo, mais recentemente, articulado por autores brasileiros ao conceito de educação popular.
Em três dos seis artigos, a educação popular foi discutida como uma resposta às necessidades de aprendizagem de comunidades, com destaque para o diálogo e para a construção coletiva de conhecimentos em saúde que devem refletir valores culturais e diferenças decorrentes da inserção socioeconômica das pessoas nas sociedades38-40.
No tocante às metodologias utilizadas para o alcance de objetivos tão audaciosos quanto necessários à produção de saúde, houve o predomínio da indicação de métodos ativos de ensino-aprendizagem visando a problematização das vivências e da realidade, no sentido da construção de experiências, por meio da crítica e da reflexão. O reconhecimento e a valorização dos saberes prévios dos sujeitos e da cultura popular foram considerados estratégicos neste tipo de interação educacional, sendo estruturantes na construção-desconstrução de significados41,43.
Particularmente, para a vigilância em saúde38, o deslocamento de uma educação prescritiva para abordagens emancipatórias foi considerado um agir crítico e corresponsável entre profissionais de saúde e pessoas sob cuidado. Desse modo, os modelos normativos, verticalizados e pautados em técnicas descontextualizadas em relação aos valores e interesses e à historicidade e cultura das pessoas e sociedades foram apontados como insuficientes e ineficientes, frente ao desafio da educação em saúde.
A referência ao autor Paulo Freire44 é muito expressiva na quase totalidade dos artigos, nacionais e internacionais, e consolida um estilo de pensamento que atribui à educação um papel de libertação e de transformação social. Este autor, destaca que:
"A educação como prática de liberdade, ao contrário daquela que é prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim também a negação do mundo como realidade ausente dos homens"44 (pag. 81).
Cabe aqui considerar, que o conceito de educação contempla, igualmente, processos de reprodução como de transformação da realidade. Desse modo, o estilo de pensamento vinculado à educação popular e defendido na totalidade dos artigos aqui agrupados, representa uma perspectiva crítica da educação e voltada à transformação da realidade por meio da concepção problematizadora e conscientizadora45-48.
Neste contexto, as intervenções focalizadas pelos autores dessa temática foram consideradas desafiadoras, no sentido da participação ativa da população na produção de saúde e na busca por justiça social. Assim, o desenvolvimento de autonomia nos processos de promoção da saúde foi apontado como sendo um eixo estruturante para a individuação dos sujeitos e para a vivência de situações que resultem em aprendizagem e no desenvolvimento de capacidades reflexivas49 e capazes de transformar processos sociais e políticos41. Segundo as palavras de Freire47, também destacadas por autores de um artigo desta temática:
“A autonomia vai se constituindo na experiência de várias, inúmeras decisões que vão sendo tomadas [...]. Ninguém e? sujeito da autonomia de ninguém. Por outro lado, ninguém amadurece de repente, aos vinte e cinco anos. A gente vai amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia, enquanto amadurecimento do ser para si, e? processo, e? vir a ser” (p. 105)
Relações entre sujeitos, saberes e práticas
Os três artigos agrupados nesta temática apontaram como categorias: relação médico-paciente, educação interprofissional e educação de atitudes e valores (Figura 4). As discussões desenvolvidas pelos autores problematizaram estas categorias nos âmbitos da formação e do trabalho em saúde.
Fig. 4
A análise das interações entre sujeitos focalizou encontros entre pacientes e profissionais de saúde, preceptores e estudantes de diferentes profissões, assim como, outras relações atravessadas por julgamentos morais no cuidado à saúde50-52. Os métodos utilizados nestas publicações contemplaram duas revisões integrativas50,52 e uma pesquisa exploratória51.
No tocante à relação entre médicos e pacientes, o estilo de pensamento encontrado se alinha às reflexões já exploradas nas categorias de “Formação em saúde” e “Educação Popular”, no sentido da insuficiência da abordagem técnica para um cuidado à saúde de qualidade. As relações consideradas difíceis foram analisadas segundo perspectivas complementares. Do ponto de vista dos pacientes, a baixa escuta, a falta de interesse e a atitude preconceituosa dos profissionais de saúde foram considerados fatores dificultadores na atenção à saúde. Do ponto de vista dos profissionais, problemas na obtenção, no compartilhamento de informações e na adesão dos pacientes ao plano de cuidado, doenças psicossomáticas e crônicas, sintomas como dor ou fortes emoções e certas características sociodemográficas e de vulnerabilidade dos pacientes foram, igualmente, considerados aspectos dificultadores na relação médico-paciente50.
No tocante à educação interprofissional, embora a interprofissionalidade tenha sido apontada como um elemento essencial para a efetividade das ações de saúde e melhoria da qualidade no atendimento aos usuários dos serviços de saúde, as barreiras para essa prática foram identificadas tanto no sistema educacional como no profissional. Como desafios, foram destacados: a presença pontual do trabalho interprofissional, quer no cotidiano dos profissionais, quer nos serviços de saúde; um misto de desinformação e de falta de disponibilidade, e a difícil tarefa de combinar ensino e assistência no trabalho dos preceptores de campo52.
No tocante à educação de atitudes e valores, as diferenças que excluem, isolam ou dificultam o cuidado à saúde, em função de um julgamento moral, foram analisadas de acordo com a escolaridade dos sujeitos investigados. Nesse contexto, a escolaridade foi considerada uma característica que pode contribuir para a redução de preconceitos e diminuir danos sociais associados às situações que envolvem, não apenas condições estigmatizantes de saúde51, mas de modo ampliado, diversidade de gênero, raça, etnia, orientação sexual, deficiência, religião e outras características. A empatia e os valores de inclusão, ao serem considerados como pertencentes ao domínio atitudinal e, nesse sentido, conteúdos de ensino-aprendizagem, foram vinculados a uma educação voltada à transformação da realidade e das relações entre sujeitos.
Considerações finais
A partir dos artigos selecionados, a análise das temáticas revela a complexidade dos fenômenos que envolvem relações sociais e seus desdobramentos na produção de significados nos processos educacionais em saúde. Por meio da abordagem hermenêutica-dialética, a necessidade de ampliação da problematização desses fenômenos aponta para um campo a ser melhor explorado. Nas reflexões finais destes artigos, diversos autores explicitaram a necessidade de pesquisas que avançassem em relação aos diagnósticos já evidenciados.
Assim, uma maior exploração dos contextos histórico, social e econômico e das relações de poder, que se expressam na produção e na divulgação da cultura, da linguagem, dos fatos científicos e dos valores que sustentam e definem as sociedades, pode representar uma das alternativas para o necessário aprofundamento. Neste sentido, um maior domínio dos aspectos semânticos da linguagem e da natureza social e cultural presente na produção da comunicação em saúde passa a requer o uso referenciais teóricos e de abordagens metodológicas que possibilitem explorar as tensões históricas, econômicas, sociais, ideológicas e, mesmo aquelas de natureza inconscientes, que influenciam ou determinam as relações sociais.
Como estilo de pensamento do coletivo de autores que publicaram na área de educação em saúde da Revista CSC, na última década, o apontamento da insuficiência e da inefetividade dos modelos educacional e de atenção à saúde baseados nas doenças, na racionalidade biomédica e na abordagem uniprofissional perpassaram as temáticas identificadas.
De modo transformador em relação a este estilo de pensamento hegemônico no século XX, embora ainda presente nos sistemas educacional e de saúde contemporâneos, os autores defendem o deslocamento da centralidade nas doenças para a identificação de necessidades de saúde das pessoas e populações. Para fundamentar e instrumentalizar esse deslocamento, indicam mudanças expressivas nos processos educacionais: a valorização do pensamento crítico-reflexivo e de metodologias ativas de aprendizagem, assim como, do trabalho interprofissional e da racionalidade biopisossocial, visando a integralidade do cuidado. Quer pautados em argumentação de natureza teórica ou em dados obtidos em pesquisas exploratórias, os autores advogam uma educação em saúde mais eficaz e de qualidade, inclusiva e transformadora. A síntese das pesquisas realizadas na área de educação em saúde descortina fronteiras para futuras publicações especialmente para aqueles que, pertencendo ao coletivo de pensamento referido à área da saúde coletiva, possam chamar para si uma parte dessa responsabilidade.
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