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0355/2023 - Fatores associados à Capacidade Antioxidante Total da Dieta da população Brasileira
Factors associated with the Total Antioxidant Capacity of the diet of the Brazilian Population

Autor:

• Mariane A. Silva - Silva, M. A. - <nutrimarianealves@gmail.com>

Coautor(es):

• Lara G. Suhett - Suhett, L.G. - <mariane.nutricaoufv@gmail.com>

• Ilana Nogueira Bezerra - Bezerra, I. N. - <ilana.bezerra@uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2072-0123

• Saraia P. Machado - Machado, P. S. - <soraia.arruda@uece.br>



Resumo:

Objetivo: avaliar se condições socioeconômicas e demográficas estão associadas à Capacidade Antioxidante Total da Dieta (CATd) da população brasileira.
Métodos: estudo realizado com 46.164 brasileiros com 10 ou mais anos de idade, avaliados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018). O consumo alimentar foi avaliado por meio do recordatório de 24 horas, sendo a CATd determinada a partir do somatório do teor de antioxidantes de cada alimento ingerido, a partir de uma base de dados, com informações do valor da CAT em mmol/100g de 3.100 alimentos. Modelos de regressão logística multinomial foram propostos para testar a relação entre fatores socioeconômicos e CATd.
Resultados: A mediana da CATd foi de 3.48 (0.62 – 24.55) mmol/1.000 Kcal. As mulheres, indivíduos de maior idade (adultos e idosos) e moradores da zona rural e regiões Nordeste, Sul e Sudeste do país apresentaram uma maior ingestão de antioxidantes. Por outro lado, indivíduos com maior escolaridade e renda apresentaram menor valor da CATd.
Conclusão: a situação socioeconômica e demográfica associou-se ao consumo de antioxidantes, reforçando a importância de identificação dos grupos de risco para alimentação inadequada, para melhor direcionamento na implementação de políticas públicas e intervenções nutricionais.

Palavras-chave:

Dieta, Consumo alimentar, Antioxidantes, fatores socioeconômicos

Abstract:

Objective: To assess whether socioeconomic and demographic conditions are associated with the Total Antioxidant Capacity of the Diet (TACd) of the Brazilian population.
Methods: Study carried out with 46.164 Brazilians aged 10 or over, evaluated by the Family Budget Survey (POF 2017-2018). Food consumption was assessed through a 24-hour recall, with CATd determinedthe sum of the antioxidant content of each food ingested,a database, with information on the CAT value in mmol/100g of 3,100 foods. Multinomial logistic regression models were proposed to test the relationship between socioeconomic factors and CATd.
Results: The median CATd was 3.48 (0.62 – 24.55) mmol/1000 Kcal. Women, older individuals (adults and the elderly) and residents of rural areas and the Northeast, South and Southeast regions of the country had a higher intake of antioxidants. On the other hand, individuals with higher education and income had lower CATd values.
Conclusion: the socioeconomic and demographic situation was associated with the consumption of antioxidants, reinforcing the importance of identifying risk groups for inadequate nutrition, for better targeting in the implementation of public policies and nutritional interventions.

Keywords:

Diet, Food consumption, Antioxidants, socioeconomic factors

Conteúdo:

INTRODUÇÃO

A Capacidade Antioxidante Total da Dieta (CATd) pode ser definida como uma ferramenta de avaliação da ingestão de antioxidantes. Trata-se de um índice útil para avaliar a qualidade da alimentação, uma vez que leva em consideração as diversas formas químicas dos antioxidantes nos alimentos, bem como os diferentes graus de capacidade antioxidante e o efeito cumulativo ou sinérgico que os mesmos podem apresentar no organismo. Estudo realizado com a população Americana identificou que a CATd pode ser um importante preditor de mortalidade por todas as causas1, uma vez que o seu resultado está diretamente associado ao nível de estresse oxidativo no organismo2. Ainda, essa ferramenta pode ser utilizada como marcador da qualidade da dieta, com implicações para pesquisas sobre o início, instalação e desenvolvimento de doenças crônicas3.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 74% das mortes que acontecem no mundo4 e a alimentação inadequada é considerada um dos principais fatores de risco para redução da qualidade de vida, bem como aumento da mortalidade5. Pesquisas sobre a CATd têm sido realizadas no âmbito internacional6,7 e com diferentes faixas etárias8,9. Entretanto, estudos com dados brasileiros são escassos9, principalmente no que se refere aos fatores associados à ingestão de antioxidantes. Destaca-se ainda que os resultados são conflitantes em relação à associação entre a qualidade da alimentação e a condição socioeconômica e demográfica10,11. Compreender os fatores associados aos hábitos alimentares inadequados, do ponto de vista do baixo consumo de antioxidantes, permite a identificação de grupos de risco para essa condição.
Portanto, considerando que a condição socioeconômica influencia na dieta dos indivíduos e que a capacidade antioxidantes da dieta é um fator de risco modificável para a ocorrências de DCNT, o objetivo do presente estudo foi avaliar se condições socioeconômicas e demográficas estão associadas à Capacidade Antioxidante Total da Dieta (CATd) da população brasileira.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo transversal, que analisou dados secundários do Inquérito Nacional de Alimentação (INA), realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em uma subamostra da última edição da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-201812.
O inquérito utilizou amostra representativa da população brasileira, gerando estimativas para as cinco grandes regiões, áreas urbana e rural e diferentes níveis socioeconômicos. Para seleção da amostra foi utilizada uma amostra comum, ou amostra mestra, desenhada pelo IBGE a partir do Sistema Integrado de Pesquisas Domiciliares (SIPD). Utilizou-se um plano amostral conglomerado dividido em dois estágios. As unidades primárias de amostragem (UPAs) foram derivadas da amostra mestra, que é composta por um conjunto de setores censitários. A seleção das UPAs foi realizada por amostragem com probabilidade proporcional ao número de domicílios em cada setor. No segundo estágio, selecionou-se os domicílios por amostragem aleatória simples. Os setores foram distribuídos nos quatro trimestres do ano de realização da pesquisa. Detalhes da metodologia foram previamente descritos13.
Na POF 2017-2018, o total de domicílios selecionados foi de 57.920. Para o Inquérito Nacional de Alimentação (INA), 20.112 domicílios com 46.164 indivíduos com 10 anos ou mais de idade foram avaliados.
As variáveis socioeconômicas e demográficas foram obtidas por meio de entrevistas realizadas nos domicílios. Para o presente estudo, foram utilizados os seguintes dados: sexo (feminino e masculino), idade categorizada (10 a 19, 20 a 59 e 60 ou mais anos), raça/cor autorrelatada (branco, pardo, preto, amarelo e indígena), escolaridade categorizada (até 4, 4 a 8, 9 a 11 e 12 ou mais anos de estudo), renda familiar mensal em reais (R$) categorizada pelo quartil (<1927,00; 1927,00 a 3183,73; 3183,74 a 5454,99; >5454,99), situação do domicilio (urbano e rural) e região geográfica do país (norte, nordeste, sudeste, sul e centro-oeste).
O consumo alimentar foi avaliado por meio de dois recordatórios de 24 horas em dias não consecutivos, seguindo o método dos múltiplos passos14, com informações detalhadas sobre a quantidade consumida, horários e locais de consumo, ocasião das refeições, e forma de preparo para alimentos específicos. Foram utilizados, no presente estudo, os dados do primeiro dia de consumo. Para a estimativa da quantidade consumida pelos indivíduos, utilizou-se as tabelas de medidas referidas para os alimentos consumidos no Brasil do INA 2017-2018, com suas respectivas quantidades em gramas ou mililitros. Para estimativa das calorias consumidas, utilizou-se a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TBCA), da Universidade de São Paulo, Food Research Center (FoRC), Versão 7.0 (Disponível em http://www.fcf.usp.br/tbca).
Para determinação da capacidade antioxidante total da dieta (CATd) foi utilizada uma base de dados, com informações do valor da CAT em mmol/100g de 3.100 alimentos15. Essa base de dados foi originada da compilação dos resultados de análises laboratoriais (ensaio FRAP) de alimentos de diferentes países, portanto, é possível identificar detalhes do alimento, como país de origem ou marca do produto.
Quando o valor de CAT do alimento não estava disponível na base de dados foi considerado os valores de alimentos semelhantes botanicamente. Ainda, quando não tinha estabelecido o valor da CAT do alimento cozido, foram considerados os níveis da CAT do alimento in natura. Quanto às preparações culinárias, a receita de preparação das mesmas foi padronizada, sendo os ingredientes desmembrados e calculado a CAT de cada item.
O valor da CAT do alimento estabelecido na base de dados e artigos foi multiplicado pela quantidade em gramas consumida, obtendo-se o conteúdo antioxidante consumido em cada alimento. A capacidade antioxidante total da dieta (CATd) foi calculada por meio do somatório da capacidade antioxidante de cada alimento consumido16, e o valor final expresso por 1.000 Kcal, visando realizar o ajuste do consumo pela energia total da dieta. Outros estudos também realizaram o ajuste energético8,9, com o objetivo de analisar o efeito do nutriente sem a influência energética17.
Os resultados foram descritos em médias, quando variáveis contínuas, ou frequências percentuais, quando categóricas, com seus respectivos intervalos de confiança de 95%, considerando a complexidade do desenho e os pesos amostrais. A normalidade dos dados foi avaliada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Para comparação da média do CATd entre os grupos avaliados foram utilizados os Teste t de Student e ANOVA com post hoc de Bonferroni
A capacidade antioxidante total da dieta classificada em quartil foi considerada como variável dependente, e como variáveis explicativas, a condição socioeconômica e demográfica dos indivíduos. Modelos de regressão logística multinomial foram propostos para estabelecer a relação entre variáveis dependente e independentes. Para isso, foi efetuada a análise bivariada entre as variáveis e as variáveis preditoras que tiveram valor de p inferior a 20% foram inseridas pelo método backward no modelo multivariado da regressão, sendo aquelas com menor significância retiradas uma a uma do modelo. O procedimento foi repetido até que todas as variáveis presentes no modelo possuíssem significância estatística. O nível de significância estatística adotado foi de 5%
As análises foram realizadas no programa Stata versão 14.0 (SPSS Inc., Chicago, IC, USA).

RESULTADOS

Do total de indivíduos avaliados, a maioria era do sexo feminino, adulto, raça preta e parda e residentes na zona urbana. Quase metade dos indivíduos possuíam 12 ou mais anos de estudo e residiam na região Sudeste do país (Tabela 1).
A CATd variou de 0.62 a 24.55 mmol/1.000 Kcal, com mediana de 3.48 mmol/1.000 Kcal. As mulheres apresentaram uma ingestão de antioxidantes significativamente maior que os homens, assim como os adolescentes apresentaram menor ingestão de antioxidantes, quando comparado aos adultos e idosos. Também foram observadas diferenças na ingestão de antioxidantes, de acordo com a região geográfica. O menor e maior consumo de antioxidantes foi observado nos indivíduos que moravam nas regiões Norte e Sul do país, respectivamente (Tabela 1).
Após análise bivariada, observou-se que as mulheres apresentaram 1.7 vezes maior prevalência de consumo aumentado de antioxidantes (último quartil), quando comparadas aos homens. Ainda, adultos e idosos, moradores da zona rural e domiciliados nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do país também apresentaram maior consumo de antioxidantes. Em contrapartida, indivíduos com maior escolaridade e renda apresentaram menor prevalência em pertencer ao último quartil de pontuação da CATd, ou seja, menor prevalência em apresentar uma dieta com maior potencial antioxidante (Tabela 2).
No modelo final, observou-se uma maior prevalência de dieta mais antioxidante (último quartil) entre os indivíduos do sexo feminino, adultos e idosos e domicílios situados na zona rural. Além disso, moradores das regiões Nordeste, Sul e Sudeste apresentaram dieta com maior potencial antioxidante. Em contrapartida, a maior escolaridade e renda estiveram inversamente associadas ao maior consumo de antioxidantes (Tabela 3).

DISCUSSÃO

Neste estudo, a situação socioeconômica e demográfica associou-se significativamente ao consumo de antioxidantes. Indivíduos do sexo feminino, adultos ou idosos e moradores da zona rural e regiões Nordeste, Sul e Sudeste do país apresentaram uma dieta com maior potencial antioxidante. Em contrapartida, a maior escolaridade e renda estiveram associados à menor CATd.
O consumo médio de antioxidantes foi de 5.2 ± 6.1 mmol/1.000 Kcal. Pelo nosso conhecimento, este é o primeiro estudo a avaliar a CATd da população Brasileira, a partir de uma amostra representativa, considerando todos os alimentos consumidos em um dia. Koehnlein et al. (2014)18 utilizaram os dados da POF 2008-2009 para avaliar o teor de antioxidantes dos 36 alimentos mais consumidos pelos Brasileiros, encontrando uma média de 10.3 mmol/d. Ainda, a CATd encontrada neste trabalho é menor do que a observada em adultos Iranianos (7.8 mmol/d)19. No entanto, essas diferenças podem ser atribuídas, em parte, ao ajuste energético utilizado no nosso trabalho e ausente nos demais estudos. Tal ajuste tem como objetivo evitar que o efeito de um nutriente específico seja confundido ou distorcido pelo consumo energético total do indivíduo17.
As mulheres apresentaram uma maior ingestão de antioxidantes, corroborando com outros estudos que evidenciaram que o público feminino possui uma alimentação de melhor qualidade, cuida mais da saúde e do corpo20, tem maior conhecimento nutricional e inclui alimentos mais saudáveis na dieta21. Evidências apontam que as mulheres apresentam um maior consumo de frutas, verduras e legumes que os homens11 e estes grupos alimentares estão entre os que mais contribuem para a ingestão de antioxidantes22. Cabe destacar ainda que o grupo dos chás tem grande contribuição para o potencial antioxidante da alimentação9 e é mais consumido pelo público feminino, com o objetivo de emagrecimento, entre outras razões23.
A idade esteve entre os fatores associados ao potencial antioxidante da dieta dos brasileiros. Os adultos e idosos apresentaram maior ingestão de antioxidantes quando comparados aos adolescentes. Acredita-se que os indivíduos mais velhos estão mais propensos à adoção de um estilo de vida saudável por reconhecerem a importância da alimentação adequada para a saúde ou necessária para tratamento das DCNT, uma vez que esse grupo apresenta uma maior prevalência dessas doenças24. Ainda, diferenças geracionais no consumo alimentar podem explicar o fato de adultos e idosos terem apresentado uma alimentação de melhor qualidade, uma vez que a formação dos hábitos alimentares ocorreu em uma época onde havia menor oferta de alimentos ultraprocessados25.
Esse achado é preocupante, pois já se tem observado um aumento das DCNT entre os indivíduos jovens26 e a adoção de dietas com pior qualidade na fase da adolescência pode favorecer a adoção de hábitos que perdurem pela vida adulta e favoreçam o surgimento de doenças associadas à má alimentação5,26. Estudo que avaliou a evolução dos alimentos mais consumidos no Brasil entre 2008-2009 e 2017-2018 identificou uma redução no consumo de frutas na população, sendo mais acentuada entre os adolescentes27.
Em relação à localização dos domicílios, moradores da zona rural apresentaram uma dieta com maior potencial antioxidante, quando comparados aos indivíduos da zona urbana. Análise dos dados de disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil já demonstra diferenças importantes na aquisição de alimentos para consumo domiciliar entre as áreas urbanas e rurais do país. Domicílios da área rural apresentaram maior participação tanto de alimentos in natura ou minimamente processados como de ingredientes culinários processados do que os da área urbana (58,2% versus 47,1% e 24,5% versus 21,1% das calorias totais, respectivamente). Por outro lado, a participação tanto de alimentos processados quanto de alimentos ultraprocessados foi maior nas áreas urbanas (11,1% e 20,6%, respectivamente) do que nas áreas rurais (5,8% e 11,5%)28. Alimentos in natura e minimamente processados, incluem frutas, legumes, verduras, feijões, tubérculos, dentre outros, que são itens que possuem em sua composição maior teor de antioxidantes8,22. Corroborando com esses dados, uma análise da Pesquisa Nacional de Saúde mostrou que brasileiros residentes na zona rural apresentam maior frequência de consumo de alimentos in natura e minimamente processados, com destaque para o consumo de feijão, que foi maior na área rural do que na área urbana (OR=1.20; IC 95%: 1,14-1,26), independente do sexo, idade, raça, escolaridade e região brasileira; enquanto que os moradores da zona urbana apresentam maior ingestão de alimentos ultraprocessados29.
No presente estudo, indivíduos com maior renda e escolaridade apresentaram menor ingestão de antioxidantes. Nossos resultados são contrários ao trabalho de Jun et al., (2017)8, realizado com adultos Coreanos, que identificou que o menor status socioeconômico foi associado ao menor consumo de antioxidantes. No entanto, estudo com dados da POF 2017-2018 identificou que indivíduos com maior poder aquisitivo apresentaram maior adesão ao padrão “Ocidental”30, enquanto os alimentos tipicamente brasileiros, como arroz e feijão, foram consumidos com mais frequência entre indivíduos de menor renda31. A tradicional combinação de feijão e arroz foi responsável por uma alta contribuição para a ingestão de fenólicos e flavonóides e CATd elevado18.
A relação entre a qualidade da alimentação e o nível socioeconômico ainda é controverso. Estudos evidenciaram relação direta entre renda e escolaridade e o maior acesso a alimentos saudáveis, dado o maior poder de compra32,33. Por outro lado, o maior nível socioeconômico também foi associado ao maior consumo de alimentos ultraprocessados34, sugerindo que a condição socioeconômica pode aumentar o acesso à alimentação no Brasil, influenciando o consumo alimentar, mas sem que isso reflita necessariamente na qualidade da alimentação. O fato de indivíduos de menor renda e escolaridade apresentarem maior média de ingestão de antioxidantes pode estar relacionada a questões de acesso à alimentação, uma vez que alimentos tradicionais da dieta brasileira, como feijão e algumas frutas regionais, ainda possuem menor custo35.
As regiões Nordeste, Sul e Sudeste apresentaram uma dieta com maior potencial antioxidante, quando comparadas ao norte do país. Uma maior prevalência de padrão alimentar saudável, composto por verduras e legumes crus e cozidos, frango, frutas, sucos de frutas naturais e leite, foi encontrada nas regiões Sul e Sudeste do país36. E segundo Malta et al. (2015)37, Centro-Oeste e Sudeste são as regiões brasileiras com maior consumo diário de frutas e hortaliças, seguidas, em ordem decrescente, pelas regiões Norte, Sul e, por fim, Nordeste. O fato da região Nordeste ter apresentado ingestão elevada de antioxidantes pode ter a mesma explicação quanto ao acesso a alimentos mais baratos na região, mas que possuem alto teor desses nutrientes.
Este estudo apresenta como limitação a utilização de base de dado teórica para avaliação da CATd. No entanto, apesar dessa limitação ser inerente à ferramenta, a CATd tem sido amplamente recomendada como bom marcador da qualidade da dieta3, além de bom preditor de mortalidade por todas as causas1. Como pontos fortes, destaca-se que esse é o primeiro estudo com amostra representativa da população Brasileira que avaliou o teor antioxidante da alimentação, considerando todos os alimentos consumidos. Ainda, cabe ressaltar que a POF 2017-2018 é considerada a mais completa base de dados de pesquisas do gênero no país, sendo também a mais atual.
Em conclusão, o presente estudo identificou que a situação socioeconômica e demográfica associou-se significativamente ao consumo de antioxidantes. Indivíduos do sexo feminino, adultos ou idosos e moradores da zona rural e regiões Nordeste, Sul e Sudeste do país apresentaram uma dieta com maior potencial antioxidante. Em contrapartida, a maior escolaridade e renda estiveram associados à menor CATd. Esses resultados reforçam a importância da identificação dos grupos de risco para alimentação inadequada para melhor direcionamento na implementação de políticas públicas e intervenções nutricionais que promovam a alimentação saudável, com maior teor de antioxidantes.






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Referências

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Silva, M. A., Suhett, L.G., Bezerra, I. N., Machado, P. S.. Fatores associados à Capacidade Antioxidante Total da Dieta da população Brasileira. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2023/nov). [Citado em 22/12/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/fatores-associados-a-capacidade-antioxidante-total-da-dieta-da-populacao-brasileira/18981?id=18981

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