0338/2024 - SER MULHER EM RELACIONAMENTO COM HOMENS QUE VIVENCIAM O ADOECIMENTO PELO USO DE ÁLCOOL: REVISÃO INTEGRATIVA BEING WOMEN IN RELATIOSHIP WITH MEN WHO EXPERIENCE ILLNESS DUE TO THE USE OF ALCOHOL: INTEGRATIVE REVIEW
Objetivo: investigar como as mulheres são afetadas pelo convívio conjugal com pessoas adoecidas pelo uso álcool. Metodologia: revisão integrativa, realizada entre fevereiro e abril de 2024, nas bases de dados: LILACS, Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus e SienceDirect. Os critérios de inclusão foram artigos completos, disponíveis, publicados de 2001 a 2024, com população alvo de mulheres não alcoolistas em relacionamento com pessoa adoecida pelo uso de álcool, e o desfecho analisado foram os efeitos dessa convivência para as mulheres. Os critérios de exclusão foram estudos com relações conjugais em que apenas as mulheres apresentavam adoecimento pelo uso de álcool, desfechos relacionados à relação conjugal em si, à família e/ou a outros entes familiares, e/ou a mulheres com outros graus de relação, e dissertações de mestrado e/ou doutorado. Foram selecionados vinte e sete artigos para esse estudo. Resultados: foram organizados em duas categorias temáticas: 1) Experiências de vida de esposas de homens adoecidos pelo uso de álcool 2) Mulheres e as repercussões na saúde mental e física. Considerações finais: Mulheres em relações conjugais com homens adoecidos pelo álcool são expostas a sofrimentos, violência, e risco aumentado para desenvolvimento de agravos mentais e físicos.
Objective: to investigate how women are affected by marital life with people sickened by alcohol use. Methodology: integrative review, carried out between February and April 2024, in the following databases: LILACS, Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus, and SienceDirect. The inclusion criteria were complete, available articles, published2001 to 2024, with a target population of non-alcoholic women in a relationship with a person illalcohol use, and the outcome analyzed was the effects of this coexistence on women. The exclusion criteria were studies with marital relations in which only women had illness due to alcohol use, outcomes related to the marital relationship itself, to the family and/or other family members, and/or to women with other degrees of relationship, and master\'s and/or doctoral dissertations. Twenty-seven articles were ed for this study. Results: were organized into two thematic categories: 1) Life experiences of wives of men who became ill due to alcohol use; 2) Women and the repercussions on mental and physical health. Conclusion: Woman in marital relationships with men sickened alcohol are exposed to suffering, violence, and an increased risk of developing mental and physical problems.
Keywords:
Women; Alcoholism; Spouses; Family relations;
Conteúdo:
INTRODUÇÃO
Estudar mulheres é estudar as diferentes formas de ser mulher dentro do contexto sociocultural. As distintas formas de vivenciar as relações, as formas de discriminação e exclusão, atribuem as mulheres condições e vulnerabilidades que irão afetar o acesso a saúde e seus determinantes(1). Neste sentido, conhecer a pluralidade do ser mulher permite promover uma saúde coletiva abrangente e equânime.
Em paralelo, a presença de indivíduos adoecidos pelo consumo de álcool apresenta-se relevante no campo da saúde individual e coletiva(2). Esse adoecimento reflete em relações familiares constituídas em desarmonia, conflitos, com experiências de sofrimento para o indivíduo adoecido e seus familiares(3–5), como filhos que referem memórias de sentimentos ambíguos em relação a pais adoecidos por uso de álcool(6). Essas famílias precisam reestruturar-se à medida que o uso do álcool afeta as condições de vida da pessoa adoecida(4). Assim, entende-se que o adoecimento originado pelo uso de álcool extrapola o corpo, refletindo em implicações afetivas, sociais e culturais para o indivíduo e a família.
No que tange as relações conjugais, compreende-se que essas se estabelecem mantendo a estrutura social patriarcal em que mulheres são constantemente subjugadas, precisando atender as demandas sociais dos papéis de mãe, esposa e mulher o que atribui condições desiguais nas relações afetivas e podem contribuir para sofrimentos e vulnerabilidades de mulheres em diferentes realidades(7).
Têm-se, portanto, três vias que se encontram: ser mulher, famílias que adoecem junto ao indivíduo que consome álcool e relações conjugais nos moldes patriarcais. Essa intersecção resulta em vivências que podem alterar as condições de vida e saúde de mulheres.
Nesse contexto, torna-se relevante a compreensão da subjetividade dessas mulheres, sendo desejável entender os fatores que confluem nessas relações, localizando essas mulheres no campo sociocultural que estão/são submetidas e como o marcador do adoecimento do álcool interfere nas dinâmicas conjugais. Assim, questiona-se quais os efeitos das relações conjugais permeadas por adoecimento pelo consumo do álcool para as mulheres-companheiras?
Deste modo, esse estudo tem por objetivo investigar como as mulheres são afetadas pelo convívio conjugal com pessoas adoecidas pelo uso álcool através de uma revisão integrativa de literatura.
MATERIAIS E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada de fevereiro a abril de 2024.
CRITÉRIOS DE ELEIÇÃO
Para definição de quais estudos eram elegíveis para essa revisão foram utilizados como critérios ter população alvo: mulheres não alcoolistas cuja intervenção analisada fosse ter relacionamento com pessoa adoecida pelo uso de álcool, e o desfecho analisado fosse os efeitos dessa convivência para as mulheres. Sobre o adoecimento dos conjugues foram considerados: ter consumo abusivo do álcool com repercussões na saúde, ter diagnóstico de dependência de álcool, ter sido hospitalizado por causas relacionadas ao uso de álcool, estar ou ter estado em tratamento para consumo de álcool, ou ser um adoecimento referido pelas mulheres. Ademais, foram incluídos estudos que denominavam as mulheres como esposas.
Por fim, a revisão foi restrita a estudos publicados entre os anos de 2001 e 2024, em formato de artigos completos publicados, disponíveis para leitura, sem restrição de idioma. O ano de 2001 foi considerado como marco inicial devido criação da Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001, a Lei de Saúde Mental no Brasil. A partir da qual inicia mudanças nas condutas relacionadas à saúde mental no Brasil, objetivando abarcar um maior número de artigos nacionais.
Não foram incluídos estudos que avaliaram as relações conjugais em que apenas as mulheres apresentavam adoecimento pelo uso de álcool, estudos que apresentavam desfechos relacionados à relação conjugal em si, à família e/ou a outros entes familiares, e/ou a mulheres com outros graus de relação que não a conjugal, impossibilitando a estratificação dos efeitos exclusivos nas mulheres conjugues, nem dissertações de mestrado e/ou doutorado.
FONTES DE INFORMAÇÃO
As buscas foram realizadas de fevereiro a abril de 2024, nos bancos de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online - Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus e SienceDirect.
ESTRATÉGIA DE PESQUISA
Foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde – DECS, e seus respectivos pares Medical Subject Headings – MESH: mulheres/women; esposas/wife/spouse; alcoólicos/alcoolistas/alcoholic; alcoolismo/Alcoholism; casamento/relacionamento conjugal//Marriage; minorias/relações homoafetivas/ Sexual and Gender Minorities, associados ao operador booleano AND. Os termos de pesquisa foram identificados observando-se palavras nos títulos, resumos e indexação de assuntos desses estudos.
Assim, foram aplicadas em cada base de dados as seguintes expressões de busca: (mulheres) AND (casamento) AND (alcoólicos); (mulheres) AND (casamento) AND (alcoolistas); (mulheres) AND (relacionamento conjugal) AND (alcoolistas); (mulheres) AND (relacionamento conjugal) AND (alcoólicos); (esposas) AND (alcoolistas); (esposas) AND (alcoólicos); (mulheres) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (relacionamento conjugal) AND (álcool); (mulheres) AND (casamento) AND (alcoolismo) AND (Minorias Sexuais e de Gênero); (mulheres) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (alcoolistas); (esposas) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (alcoolistas); (Women) AND (Marriage) AND (Alcoholics); (wife) AND (alcoholics); (spouse) AND (alcoholics); (Women) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (marriage) AND (alcoholics); (Women) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (alcoholics); (wife) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (alcoholics).
Após, a pesquisa foi submetida a aplicação de filtros: 2001 a 2024, texto completo disponível. Para artigos em idioma não português foi realizada tradução livre.
PROCESSO DE SELEÇÃO
O processo de seleção foi realizado por dois revisores separadamente. Após aplicação dos filtros foi realizada leitura de título e resumo, a partir da qual foram selecionados os estudos que apresentavam compatibilidade com os critérios de elegibilidade acima descritos para leitura do texto completo. Os artigos que apresentavam inconsistência nos critérios por leitura de título e resumo foram incluídos para leitura do texto completo.
Por fim, foi realizada leitura completa dos artigos, aqueles que atenderam aos critérios de elegibilidade, foram incluídos como amostra desse estudo. Os artigos em outros idiomas foram traduzidos utilizando tradução simultânea disponível online e/ou tradução livre. Após realização do processo de seleção, foi realizada reunião entre revisores para análise dos artigos incluídos para texto completo que apresentaram dubiedade. Assim, 27 artigos participaram da composição da amostra. Os dados extraídos dessa revisão estão depositados no repositório Scielo, acessível na página https://data.scielo.org/.
O esquema do processo de seleção está estruturado na Figura 1 – Esquema de Pesquisa.
PROCESSO DE COLETA DE DADOS
A coleta de dados foi realizada por uma revisora, a qual extraiu os dados dos artigos elegíveis. Esses foram organizados segundo categorização dos resultados, apresentando autoria, ano, título, país, objetivos do estudo e desenho metodológico, e conforme os efeitos das relações conjugais com pessoas adoecidas pelo uso de álcool nas mulheres. Por fim, esses resultados foram associados a literatura científica presente por meio da discussão.
Fig.1
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram selecionados vinte e sete artigos para análise. A Coréia do Sul (25%; n=7) foi o país com maior número de publicações, seguido do Brasil (21,43%; n=6) e Índia (17,86%; n=5). Nove artigos (32,14%) foram publicados nos últimos cinco anos (2019-2024), e quinze (53,57%) utilizaram abordagem quantitativa (Quadro 1 – Categorização dos estudos).
O primeiro ponto observado é que todos os estudos foram realizados com mulheres/cis em relações heterossexuais. Neste ponto, chamamos atenção para manutenção de pesquisas que primam por estudos com configurações conjugais normativas e respaldam-se em dados epidemiológicos onde o adoecimento pelo uso do álcool, em todas as regiões do mundo, é majoritariamente masculino(2), apesar de indicadores nacionais apontarem uma crescente taxa de consumo das mulheres(8). Além disso, em nenhum dos estudos encontrados houve uma discussão analítica acerca da classe e raça/cor em intersecção às discussões de gênero.
Para melhor apresentação dos resultados, eles foram divididos em duas categorias temáticas: 1) Experiências de vida de esposas de homens adoecidos pelo uso de álcool; 2) Mulheres e as repercussões na saúde mental e física.
1) Experiências de vida de esposas de homens adoecidos pelo uso de álcool
Nove artigos analisaram as experiências de vida por meio das percepções, história de vida, cotidiano e/ou memórias das mulheres sob a ótica de serem esposas/ex-esposas de um homem adoecido pelo uso de álcool. Assim, esses estudos primaram pela análise a partir do ponto de vista dessas mulheres.
Foram relatadas experiências de vida, pregressas as relações amorosas, com presença de pais e/ou familiares adoecidos pelo consumo de álcool(9,10). Ademais, a dificuldade de percepção das mulheres em relação ao beber abusivo dos esposos, não conseguindo delimitar quando esse beber tornar-se uma dependência(10–12).
A convivência com figura paterna adoecida pelo uso do álcool interfere na formação emocional dos filhos(5), além disso, pode haver um aspecto transgeracional que naturaliza eventos vivenciados antes com os pais, e agora com os esposos(13). Assim, mulheres que tiveram pais adoecidos por uso de álcool podem apresentar recursos emocionais mais fragilizados(5). Essa naturalização pode dificultar a percepção do momento em que os esposos passam a desenvolver o adoecimento pelo uso do álcool.
As mulheres, contudo, percebem a persistência do consumo e/ou dificuldade dos esposos em controlar a quantidade que se bebe(11,14). Ademais, convivem com a ambiguidade de comportamentos dos esposo quando sóbrios e alcoolizados, contrapondo momentos de afetividade, quando sóbrios, com momentos de distanciamento afetivo quando alcoolizados(11).
À medida que o adoecimento pelo uso de álcool institui-se, os esposos passam a: distanciar-se das responsabilidades afetivas e paternas(12); perdem o emprego(9,11,15) e gastam as finanças familiares com a bebida alcoólica(14); em contrapartida as mulheres vivenciam: preocupação com a saúde e dinheiro(15); aumento das responsabilidades familiares(11), incluindo a responsabilidade financeira(9,15); o isolamento social e familiar(10,15); a tentativa de suprir o papel social de pai, e disposição em sacrificar-se em prol dos filhos(15). Assim, a partir do adoecimento dos esposos há exposição a vulnerabilidades financeiras e sobrecarga emocional nas mulheres.
O adoecimento pelo consumo de álcool afeta as relações sociais dos indivíduos através da incapacidade funcional, redução ou inexistência da produtividade no trabalho, envolvimento em acidentes, violência urbana e familiar, além do adoecimento físico e psíquico(16). Ademais, como uma condição de saúde complexa afeta as pessoas e suas relações afetivas(17,18) nas experiências de vida e condições de saúde dos seus familiares(3).
O adoecimento pelo uso de álcool dos esposos expõe, ainda, as mulheres a experiências de violências. Em algumas famílias, a violência contra as mulheres estava associada ao padrão de consumo de álcool pelos esposos, sendo observado o aumento dos comportamentos violentos quando alcoolizados(10–12,14).
As mulheres referem serem vítimas de agressão e conflitos conjugais(9), vivenciando situações de violência doméstica(10) com episódios de violência verbal(10,14), física e/ou sexual(10,15). Neste último, relata-se condições de incapacidade de negociar comportamentos sexuais seguros por medo de sofreram abusos físicos(19), além de conflitos sexuais relacionados à recusa das mulheres a terem relações sexuais, repulsão ao contato ou tentativa sexual por parte dos maridos(15). Ademais, ainda são referidas situações de violências contra seus filhos(10,11,14).
Deste modo, compreende-se que, de forma gradativa ou simultânea, a violência contra as mulheres são experenciadas junto ao adoecimento dos homens. Contudo, essas realidades não foram analisadas, nos artigos encontrados, sob a perspectiva interseccional. Essa lacuna alimenta uma visão deturpada de que todas as mulheres, cujos esposo adoecem pelo uso de álcool, vivenciam essas experiências de forma similar.
O uso da violência como demarcação de poder por parte dos homens é entendido como reafirmação do controle e dominação em relação às esposas. Há, portanto, necessidade de elucidar a existência de uma realidade conformada a partir da coabitação de raça, gênero e classe social que adquirem fatores qualitativos nessas experiências(7). Não se trata da perspectiva de quem sofre mais, mas de como as intersecções cruzam-se nessas realidades.
Essas inferências são necessárias quando observamos os dados nacionais sobre a violência contra mulher que evidenciam a maioria (45%) das vítimas de violência são mulheres negras(20). Ademais, existem indícios ainda que, as mulheres pretas são mais vulneráveis quando comparadas as mulheres pardas, e que há superioridade na prevalência de violência física contra mulheres negras quando comparadas as mulheres brancas(20). Esses dados expõem a necessidade de estudos que analisem essas vivências sob a teoria interseccional possibilitando evidenciar quais aspectos essas vivências se distanciam ou se encontram.
Quadro 1
O ambiente familiar das mulheres se constitui, então, de maneira disfuncional. Soma-se às questões financeiras, à sobrecarga emocional, e às situações de violência, a desarmonia familiar com conflitos entre os esposos adoecidos e os filhos(10,12). Deste modo, as mulheres experenciam preocupações sobre os filhos, como o medo de que os comportamentos dos pais sejam considerados modelos a serem seguidos pelos filhos(14), além das inseguranças relacionadas à repercussão do contexto familiar do adoecimento pelo uso de álcool vivenciado pelos filhos(9,14).
Destarte, o ambiente familiar apresenta-se como modulador social e comportamental. A estruturação de normas tende a seguir o que é social e culturalmente aceito dentro dos espaços onde coabitam. Isso se traduz nas normas de quando se bebe, quem bebe, quanto pode beber e o que se bebe(21). Assim, o desenvolvimento desses indivíduos, enquanto agentes sociais, é formado por memórias de seus antecessores geracionais em relações com álcool, sendo esse comportamento apreendido e muitas vezes esperado para as novas gerações(22).
Evidencia-se que a complexidade de eventos advindos do adoecimento dos esposos, expõe as mulheres ao adoecimento das suas relações conjugais. Assim, as entendem como conflituosas, estressantes, entendidas como pouco amorosos(9). Atrela-se, ainda, a desconexão na comunicação entre os casais com dificuldades de comunicação emocional por parte das mulheres decorrente da raiva e do ressentimento(15) nutridos no adoecimento dessa relação. Nessa vivência, a necessidade em manter as relações, mesmo com o comportamento dos companheiros(12), faz-se por questões econômicas(14) ou por entenderem que o divórcio é maléfico para os filhos(15).
Neste sentido, a tentativa de solidariedade frente ao fracasso do casal(23), as orientações morais e religiosas(10), a ausência de recursos para o enfrentamento(12), as expectativas relacionadas ao tratamento dos esposos(11) fomentam a manutenção do relacionamento. Desse modo, recaem sobre elas a obrigação de suportarem esse contexto até precisarem decidir entre: fugir de casa, tentar o divórcio ou manter as relações por medo do futuro dos filhos(15).
As mulheres são, portanto, tomadas por sentimentos de medo(11,14), culpa pela falta de controle sobre o beber(9,11) e vergonha pelas situações sociais de embriaguez dos esposo, impotência(10,11), manifestações de raiva, ansiedade e horror derivados do medo das violências e comportamentos dos esposos durante embriaguez(15). Há, portanto, um compilado de fatores que resultam em uma autoestima inferior(15) e que subjuga as mulheres as condições de sofrimento.
Contudo, institui-se um modo de relação bem fundamentado no sistema patriarcal, o qual construiu atos estilizados repetidos ao longo do tempo que são cotidianamente performados pelo indivíduo e coletivo, tomando-os como crenças naturais(24). Assim, essas mulheres, mesmo compreendendo aspectos desassociados da relação, vêm-se na obrigação de manutenção do sistema familiar, garantindo para os filhos a vivência dessa dinâmica patriarcal.
Por conseguinte, relacionar-se com homens adoecidos expõe as mulheres a um adoecimento conjunto, sendo percebido por elas como uma incapacidade de controlar os efeitos do álcool na família(12). Essas mulheres enfrentam um severo nível de estresse associado à exposição à violência doméstica e sinais de adoecimento mental(10).
Assim, por meio dos estudos sobre as experiências de vida das mulheres sob a perspectiva de mulheres-esposas é possível compreender que o adoecimento dos homens-companheiros adquire mudanças no campo social e familiar, com fragilidade da relação conjugal, estabelecendo um lugar de sofrimento e estressores contínuos que contribui para maior vulnerabilidade das mulheres. Questiona-se, por fim, como essas experiências estão sendo vivenciadas por mulheres em outras configurações conjugais, e de quais maneiras esses condicionantes podem apresentar-se em diferentes formas de ser mulher.
2) Mulheres-esposas e as repercussões na saúde mental e física
Dezoito estudos analisaram as condições relacionadas a saúde. Evidenciaram-se agravos ou risco de agravos no campo físico e mental, e o desenvolvimento de estratégias terapêuticas para o cuidado centrado nas mulheres.
Ao analisar os estudos com foco central na saúde das mulheres que vivem com homens adoecidos pelo uso de álcool, atribui-se maior sofrimento psíquico associado a menores satisfações conjugais, a presença de violência, menor apoio social percebido da família e maior frequência na tentativa de lidar com o consumo do parceiro(25), maiores chances de hipertensão arterial sistêmica e são mais propensas a sofrerem com insegurança alimentar, violências e desenvolverem hábito de fumar(26). Além disto, podem apresentar ansiedade, transtorno do sono, sintomas de depressão e sintomas físicos(27).
Nesse sentido, essas relações acabam por expor essas mulheres há maior propensão para o desenvolvimento de sofrimento psicológico(28). A maioria (93,53%) das esposas de maridos em transtorno pelo uso de álcool, apresentaram estresse, estando 67,70% das mulheres na fase de resistência. Pontua-se como fontes do estresse a responsabilidade por tudo e a raiva diante da alcoolização do cônjuge, entre outros(29).
Nesse campo, a ansiedade e a depressão destacam-se. No estudo de Lopes e Franco Júnior (2018): 55% das mulheres apresentaram-se com ansiedade e 43,3% com depressão(30). Em consonância, ser esposa de um homem adoecido pelo uso de álcool aumenta a prevalência do Transtorno de Depressão Maior (TDM)(31). Ademais, a exposição a violência por parceiro intimo (VPI) aumenta em 37,5 vezes a chance de esposas sofrerem com depressão moderada/grave e em 8,15 vezes a chance para ansiedade moderada/grave, quando em relações com homens em dependência de álcool(32).
Relacionado à saúde sexual, ressalta que a avaliação das percepções de risco de adquirir o Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV evidencia um equívoco no modo de transmissão e o reconhecimento do risco em potencial para o HIV associado ao consumo de álcool do esposo e a possíveis atividades sexuais extraconjugais exercida por eles(19), refletindo relações de poder e violência na saúde dessas mulheres.
As complexas condições associadas às relações conjugais e seus desdobramentos atribuem a essas mulheres um enfrentamento menos adaptativo, comparadas as mulheres do público geral(33). Ademais, essas estratégias de enfrentamento podem variar conforme a atmosfera familiar, o comportamento dos esposos e de fatores genético e de personalidade das esposas(34), as quais podem utilizar da evitação, do ajuste de expectativas, da competição ou da busca por apoio para manterem a relação(34). Por fim, essas mulheres apresentam, ainda, baixas pontuações nas escalas de resiliência(35) reforçando as necessidades de suporte para lidarem com a complexidade dessas experiências.
Neste sentido, estudos Coreanos foram expressivos nas diferentes avaliações de métodos terapêuticos para suporte e enfrentamento dessas mulheres. Os estudos que trabalharam com a terapia do perdão mostraram-se eficazes para melhora da resiliência, da autoestima, da espiritualidade e codependência(36,37), além de possibilitar a essas mulheres a vivência de recuperação por meio dessa terapia(38).
Nas mulheres submetidas ao uso do programa eneagrama, foi observado melhora na codependência e na raiva por meio do perdão(39). Ademais, o uso do método autobiográfico, evidenciou que as mulheres submetidas a esse método apresentaram melhora no sentido de vida, nas pontuações de somatização, depressão, hostilidade e índice de gravidade(40). Enquanto, o uso do método logo-autobiografia mostrou que as mulheres podem adquirir um sentido da vida por meio do sofrimento(41).
Enfatiza-se que nos estudos Coreanos(36,37,40,41) há uma indicação do uso dessas terapêuticas pelos profissionais de Enfermagem, mostrando uma tendência desses estudos a valorizar e estimular a atuação dessa classe profissional no cuidado mental dessas mulheres. Ademais, Margasinski (2022) apresenta a elaboração e validação do Questionário de Dependência Emocional para pesquisa individual e em grupo de esposas de pessoas adoecidas pelo álcool, apresentando-se como uma ferramenta útil para definição de metas terapêuticas para esse grupo(42).
Assim, as experiências acima descritas suscitam o questionamento acerca da ausência de estudos, nesta revisão, que abordem o cuidado das mulheres nos grupos de apoio a familiares como Al-Anon, e nas instituições do Sistema Único de Saúde (SUS) como o CAPS-ad, o que pode indicar uma fragilidade no cuidado a nível de suporte social e institucional, ou aspectos operacionais que dificultaram o encontro de pesquisas voltadas para essa temática.
A convivência com as exigências sociais relacionadas ao gênero atrela-se a situações de violência e sobrecarga do cuidado de esposos adoecidos pelo uso de álcool. Neste sentido, compreende-se que a vivência de violências, independente da tipologia, resulta em adoecimento mental de mulheres(43). Ademais, esse adoecimento precisa, também, ser compreendido pelo prisma racial, pois, ao longo da história, a intersecção de gênero e raça foi construída em circunstâncias opressão e exclusão que potencializa o adoecimento mental de mulheres negras(44).
Dessarte, esse panorama permite a compreensão de que estar nesse lugar social de esposa de um homem adoecido pelo uso de álcool infere em aspectos singulares que intervêm nessas relações e na saúde dessas mulheres.
Este estudo limita-se por não avaliar o grau de evidência das pesquisas encontradas, e por apresentar processo de pesquisa limitado, podendo ter artigos de relevância que não foram encontrados, ou foram “perdidos”.
Por fim, entende-se que os resultados analisados permitiram identificar lacunas do conhecimento, principalmente em relação às demais conformações de relacionamentos conjugais e aos estudos interseccionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo aponta que as evidências científicas acerca do convívio conjugal de mulheres com pessoas com dependência de álcool elucidam um adoecimento concomitante ao dos esposos com indicações de uma correlação entre esse processo de adoecer e as experiências de vida conflituosas, estressantes e de episódios de violências, no qual as mulheres apresentaram risco aumentado para agravos mentais e físicos.
Apesar da complexidade em que se instituem essas vivências, nota-se que essas mulheres referem ausência de suporte familiar e/ou social necessário, e não há relatos sobre cuidado terapêutico no Brasil, sugerindo atenção de cuidado centrada no homem-companheiro, não abarcando os demais familiares. Aponta-se, também a ausência a de estudos nacionais que abordem o cuidado das mulheres a nível de suporte institucional. Isto pode contribuir para manutenção de relações conjugais permeadas pelo álcool apesar das suas implicações na saúde física e mental dessas mulheres.
Compreendendo a Saúde Coletiva enquanto um conjunto de saberes que busca a promoção, proteção e recuperação da saúde em consonância com as particularidades de cada sujeito e tomando por base as experiências coreanas encontradas, pode-se elucidar importância de estudos que permitam o cuidado centrado na vida das mulheres afetadas pelo consumo de álcool de seus cônjuges.
Por fim, destaca-se a ausência de estudos que avaliem as condições de vida e saúde dessas mulheres sob a perspectiva interseccional, e de mulheres em outras conformações conjugais, contribuindo para invisibilidade de condições no campo racial, afetivo, econômico, cultural e afins, constituindo importante lacuna de conhecimento.
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BEING WOMEN IN RELATIOSHIP WITH MEN WHO EXPERIENCE ILLNESS DUE TO THE USE OF ALCOHOL: INTEGRATIVE REVIEW
Resumo (abstract):
Objective: to investigate how women are affected by marital life with people sickened by alcohol use. Methodology: integrative review, carried out between February and April 2024, in the following databases: LILACS, Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus, and SienceDirect. The inclusion criteria were complete, available articles, published2001 to 2024, with a target population of non-alcoholic women in a relationship with a person illalcohol use, and the outcome analyzed was the effects of this coexistence on women. The exclusion criteria were studies with marital relations in which only women had illness due to alcohol use, outcomes related to the marital relationship itself, to the family and/or other family members, and/or to women with other degrees of relationship, and master\'s and/or doctoral dissertations. Twenty-seven articles were ed for this study. Results: were organized into two thematic categories: 1) Life experiences of wives of men who became ill due to alcohol use; 2) Women and the repercussions on mental and physical health. Conclusion: Woman in marital relationships with men sickened alcohol are exposed to suffering, violence, and an increased risk of developing mental and physical problems.
SER MULHER EM RELACIONAMENTO COM HOMENS QUE VIVENCIAM O ADOECIMENTO PELO USO DE ÁLCOOL: REVISÃO INTEGRATIVA
BEING WOMEN IN RELATIONSHIP WITH MEN WHO EXPERIENCE ILLNESS DUE TO THE USE OF ALCOHOL: INTEGRATIVE REVIEW
Laiza Carvalho Costa, Federal University of Bahia, Multidisciplinary Health Institute, Anísio Teixeira Campus, laiza.ccosta@hotmail.com, https://orcid.org/0000-0001-5500-8737
Maria Lidiany Tributino de Sousa, Federal University of Western Bahia, https://orcid.org/0000-0002-2332-8821
George Gonçalves Machado, Federal University of Bahia, george.goncalves.m@gmail.com, https://orcid.org/0009-0009-6313-0041
ABSTRACT
Objective: to investigate how women are affected by marital life with people sickened by alcohol use. Methodology: integrative review, carried out between February and April 2024, in the databases: LILACS, Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus and SienceDirect. The inclusion criteria were complete, available articles, published from 2001 to 2024, with a target population of non-alcoholic women in a relationship with a person sickened by alcohol use, and the outcome analyzed was the effects of this coexistence on women. The exclusion criteria were studies with marital relationships in which only women suffered from illness due to alcohol use, outcomes related to the marital relationship itself, the family and/or other family members, and/or women with other degrees of relationship, and master\'s and/or doctoral dissertations. Twenty-seven articles were selected for this study. Results: they were organized into two thematic categories: 1) Life experiences of wives of men sickened by alcohol use 2) Women and the repercussions on mental and physical health. Final considerations: Women in marital relationships with men sickened by alcohol are exposed to suffering, violence, and an increased risk of developing mental and physical problems.
KEYWORDS: Women; Alcoholism; Spouses; Family Relations
ABSTRACT
Objetivo: investigar como as mulheres são afetadas pelo convívio conjugal com pessoas adoecidas pelo uso álcool. Metodologia: revisão integrativa, realizada entre fevereiro e abril de 2024, nas bases de dados: LILACS, Scielo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus e SienceDirect. Os critérios de inclusão foram artigos completos, disponíveis, publicados de 2001 a 2024, com população alvo de mulheres não alcoolistas em relacionamento com pessoa adoecida pelo uso de álcool, e o desfecho analisado foram os efeitos dessa convivência para as mulheres. Os critérios de exclusão foram estudos com relações conjugais em que apenas as mulheres apresentavam adoecimento pelo uso de álcool, desfechos relacionados à relação conjugal em si, à família e/ou a outros entes familiares, e/ou a mulheres com outros graus de relação, e dissertações de mestrado e/ou doutorado. Foram selecionados vinte e sete artigos para esse estudo. Resultados: foram organizados em duas categorias temáticas: 1) Experiências de vida de esposas de homens adoecidos pelo uso de álcool 2) Mulheres e as repercussões na saúde mental e física. Considerações finais: Mulheres em relações conjugais com homens adoecidos pelo álcool são expostas a sofrimentos, violência, e risco aumentado para desenvolvimento de agravos mentais e físicos.
KEYWORDS: Women; Alcoholism; Spouses; Family relations;
INTRODUCTION
Studying women means studying the different ways of being a woman within the sociocultural context. The different ways of experiencing relationships, forms of discrimination and exclusion, attribute to women conditions and vulnerabilities that will affect access to health and its determinants(1). In this sense, knowing the plurality of being a woman allows us to promote comprehensive and equitable collective health.
In parallel, the presence of individuals sickened by alcohol consumption is relevant in the field of individual and collective health(2). This illness reflects on family relationships constituted by disharmony, conflicts, with experiences of suffering for the ill individual and their family members(3–5), such as children who report memories of ambiguous feelings in relation to parents who became ill due to alcohol use(6). These families need to restructure themselves as the use of alcohol affects the living conditions of the sick person(4). Thus, it is understood that illness caused by alcohol use goes beyond the body, reflecting affective, social and cultural implications for the individual and the family.
Regarding conjugal relationships, it is understood that these are established maintaining the patriarchal social structure in which women are constantly subjugated, needing to meet the social demands of the roles of mother, wife and woman, which attributes unequal conditions in affective relationships and can contribute for suffering and vulnerabilities of women in different realities(7).
There are, therefore, three paths that meet: being a woman, families that become ill with the individual who consumes alcohol and marital relationships in patriarchal ways. This intersection results in experiences that can change the living conditions and health of women.
In this context, understanding the subjectivity of these women becomes relevant, and it is desirable to understand the factors that come together in these relationships, locating these women in the sociocultural field to which they are subjected and how the alcohol marker of illness interferes with marital dynamics. Thus, the question arises what are the effects of marital relationships permeated by illness due to alcohol consumption for female partners?
Therefore, this study aims to investigate how women are affected by marital life with people sickened by alcohol use through an integrative literature review.
MATERIALS AND METHODS
This is an integrative literature review carried out from February to April 2024.
ELECTION CRITERIA
To define which studies were eligible for this review, the criteria used were to have a target population: non-alcoholic women whose intervention analyzed was having a relationship with a person sickened by alcohol use, and the outcome analyzed was the effects of this coexistence on women. Regarding the spouses\' illness, the following were considered: having alcohol abuse with repercussions on their health, having a diagnosis of alcohol dependence, having been hospitalized for causes related to alcohol use, being or having been undergoing treatment for alcohol consumption, or being an illness reported by women. Furthermore, studies that called women wives were included.
Finally, the review was restricted to studies published between 2001 and 2024, in the format of full published articles, available for reading, without language restrictions. The year 2001 was considered the starting point due to the creation of Law No. 10,216, of April 6, 2001, the Mental Health Law in Brazil. From which it begins changes in conduct related to mental health in Brazil, aiming to cover a greater number of national articles.
Studies that evaluated marital relationships in which only women suffered from illness due to alcohol use, studies that presented outcomes related to the marital relationship itself, the family and/or other family members, and/or women with other degrees of illness were not included. relationship other than marital, making it impossible to stratify the exclusive effects on female spouses, nor master\'s and/or doctoral dissertations.
SOURCES OF INFORMATION
The searches were carried out from February to April 2024, in the databases: Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online - Sicelo, Google Scholar, Pubmed, PsyINFO, Web of Science, Scopus and SienceDirect.
RESEARCH STRATEGY
The following Health Sciences Descriptors – DECS, and their respective pairs were used Medical Subject Headings – MESH: women/women; wives/wife/spouse; alcoólicos/alcoolistas/alcoholic; alcoholism/Alcoholism; marriage/marital relationship//Marriage; minorities/homoaffective relationships/ Sexual and Gender Minorities, associated with the Boolean operator AND. Search terms were identified by observing words in the titles, abstracts and subject indexing of these studies.
Thus, the following search expressions were applied to each database: (mulheres) AND (casamento) AND (alcoólicos); (mulheres) AND (casamento) AND (alcoolistas); (mulheres) AND (relacionamento conjugal) AND (alcoolistas); (mulheres) AND (relacionamento conjugal) AND (alcoólicos); (esposas) AND (alcoolistas); (esposas) AND (alcoólicos); (mulheres) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (relacionamento conjugal) AND (álcool); (mulheres) AND (casamento) AND (alcoolismo) AND (Minorias Sexuais e de Gênero); (mulheres) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (alcoolistas); (esposas) AND (Minorias Sexuais e de Gênero) AND (alcoolistas); (Women) AND (Marriage) AND (Alcoholics); (wife) AND (alcoholics); (spouse) AND (alcoholics); (Women) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (marriage) AND (alcoholics); (Women) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (alcoholics); (wife) AND (Sexual and Gender Minorities) AND (alcoholics) .
Afterwards, the research was subjected to the application of filters: 2001 to 2024, full text available. For articles in non-Portuguese languages, a free translation was carried out.
SELECTION PROCESS
The selection process was carried out by two reviewers separately. After applying the filters, the title and abstract were read, from which studies that were compatible with the eligibility criteria described above were selected for reading the full text. Articles that presented inconsistency in the criteria by reading the title and abstract were included for reading the full text.
Finally, the articles were fully read and those that met the eligibility criteria were included as a sample for this study. Articles in other languages were translated using simultaneous translation available online and/or free translation. After carrying out the selection process, a meeting was held between reviewers to analyze the articles included in full text that presented doubts. Thus, 27 articles participated in the sample composition. The data extracted from this review are deposited in the repository Scielo, accessible on the page https://data.scielo.org/.
The selection process scheme is structured in Figure 1 – Research Scheme.
DATA COLLECTION PROCESS
Data collection was carried out by a reviewer, who extracted data from eligible articles. These were organized according to the categorization of results, presenting authorship, year, title, country, study objectives and methodological design, and according to the effects of marital relationships with people sickened by alcohol use in women. Finally, these results were associated with the scientific literature present through discussion.
Figure 1
RESULTS AND DISCUSSIONS
Twenty-seven articles were selected for analysis. South Korea (25%; n=7) was the country with the highest number of publications, followed by Brazil (21.43%; n=6) and India (17.86%; n=5). Nine articles (32.14%) were published in the last five years (2019-2024), and fifteen (53.57%) used a quantitative approach (Table 1 – Categorization of studies).
The first point observed is that all studies were carried out with cis women in heterosexual relationships. At this point, we draw attention to the maintenance of research that focuses on studies with normative marital configurations and is supported by epidemiological data where illness due to alcohol use, in all regions of the world, is mostly male.(2), despite national indicators pointing to a growing rate of consumption by women(8). Furthermore, in none of the studies found was there an analytical discussion about class and race/color intersecting with discussions of gender.
To better present the results, they were divided into two thematic categories: 1) Life experiences of wives of men sickened by alcohol use; 2) Women and the repercussions on mental and physical health.
1) Life experiences of wives of men sickened by alcohol use
Nine articles analyzed life experiences through perceptions, life history, daily life and/or memories of women from the perspective of being wives/ex-wives of a man sickened by alcohol use. Thus, these studies focused on analyzing from the point of view of these women.
Life experiences were reported, prior to romantic relationships, with the presence of parents and/or family members sickened by alcohol consumption(9,10). Furthermore, women\'s difficulty in perceiving their husbands\' abusive drinking, not being able to determine when this drinking becomes a dependency(10–12).
Living with a father figure who is ill due to alcohol use interferes with the emotional formation of children(5), in addition, there may be a transgenerational aspect that naturalizes events experienced previously with parents, and now with spouses(13). Thus, women who had parents who became ill due to alcohol use may have more fragile emotional resources(5). This naturalization can make it difficult to perceive the moment when spouses start to develop an illness due to alcohol use.
Women, however, notice the persistence of consumption and/or their husbands\' difficulty in controlling the amount they drink(11,14). Furthermore, they live with the ambiguity of their husband\'s behavior when sober and drunk, contrasting moments of affection, when sober, with moments of emotional distance when drunk.(11).
As the illness due to alcohol use sets in, the spouses begin to: distance themselves from emotional and paternal responsibilities(12); lose their job(9,11,15) and spend the family\'s finances on alcoholic beverages(14); on the other hand, women experience: concern about health and money(15); increased family responsibilities(11), including financial responsibility(9,15); social and family isolation(10,15); the attempt to fulfill the social role of father, and willingness to sacrifice oneself for the benefit of children(15). Thus, when their husbands become ill, women are exposed to financial vulnerabilities and emotional overload.
Illness caused by alcohol consumption affects the social relationships of individuals through functional incapacity, reduced or non-existent productivity at work, involvement in accidents, urban and family violence, in addition to physical and mental illness.(16). Furthermore, how a complex health condition affects people and their emotional relationships(17,18) in the life experiences and health conditions of their family members(3).
Falling ill as a result of spouses\' alcohol use also exposes women to experiences of violence. In some families, violence against women was associated with the pattern of alcohol consumption by husbands, with an increase in violent behavior when drunk(10–12,14).
Women report being victims of aggression and marital conflicts(9), experiencing situations of domestic violence(10) with episodes of verbal violence(10,14), physical and/or sexual(10,15). In the latter, conditions of inability to negotiate safe sexual behaviors due to fear of physical abuse are reported(19), in addition to sexual conflicts related to women\'s refusal to have sexual relations, repulsion to contact or sexual attempts by their husbands(15). Furthermore, situations of violence against their children are still reported(10,11,14).
In this way, it is understood that, gradually or simultaneously, violence against women is experienced alongside the illness of men. However, these realities were not analyzed, in the articles found, from an intersectional perspective. This gap feeds a distorted view that all women whose husbands become ill due to alcohol use experience these experiences in a similar way.
The use of violence as a demarcation of power by men is understood as a reaffirmation of control and domination in relation to their wives. There is, therefore, a need to elucidate the existence of a reality shaped by the cohabitation of race, gender and social class that acquire qualitative factors in these experiences(7). It is not about the perspective of those who suffer most, but about how intersections intersect in these realities.
These inferences are necessary when we look at national data on violence against women, which show that the majority (45%) of victims of violence are black women(20). Furthermore, there is also evidence that black women are more vulnerable when compared to brown women, and that there is a higher prevalence of physical violence against black women when compared to white women(20). These data expose the need for studies that analyze these experiences under the intersectional theory, making it possible to highlight which aspects these experiences distance or meet.
Table 1
The women\'s family environment is therefore dysfunctional. In addition to financial issues, emotional overload, and situations of violence, family disharmony with conflicts between sick spouses and children(10,12). In this way, women experience concerns about their children, such as the fear that their parents\' behaviors will be considered models for their children to follow(14), in addition to insecurities related to the repercussions of the family context of illness caused by alcohol use experienced by children(9,14).
Therefore, the family environment presents itself as a social and behavioral modulator. The structuring of norms tends to follow what is socially and culturally accepted within the spaces where they cohabit. This translates into the norms of when you drink, who drinks, how much you can drink and what you drink(21). Thus, the development of these individuals, as social agents, is formed by memories of their generational predecessors in relationships with alcohol, with this behavior being learned and often expected for new generations(22).
It is evident that the complexity of events resulting from the illness of spouses exposes women to the deterioration of their marital relationships. Thus, they understand them as conflicting, stressful, perceived as unloving(9). It is also linked to the disconnection in communication between couples with difficulties in emotional communication on the part of women resulting from anger and resentment(15) nurtured in the illness of this relationship. In this experience, the need to maintain relationships, even with the behavior of companions(12), which happens for economic reasons(14) or because they understand that divorce is harmful to their children(15).
In this sense, the attempt at solidarity in the face of the couple\'s failure(23), moral and religious guidelines(10), the lack of resources to face(12), expectations related to the treatment of spouses(11) encourage the maintenance of the relationship. In this way, the obligation falls on them to endure this context until they need to decide between: running away from home, seeking a divorce or maintaining relationships for fear of their children\'s future.(15).
Women are therefore overcome by feelings of fear(11,14), blame for lack of control over drinking(9,11) and shame due to social situations of husband\'s drunkenness, impotence(10,11), manifestations of anger, anxiety and horror derived from fear of violence and behaviors of spouses during drunkenness(15). There is, therefore, a collection of factors that result in lower self-esteem(15) and that subjugates women to conditions of suffering.
However, a well-founded mode of relationship was established in the patriarchal system, which constructed stylized acts repeated over time that are performed daily by the individual and collective, taking them as natural beliefs(24). Thus, these women, even though they understand disconnected aspects of the relationship, find themselves obliged to maintain the family system, guaranteeing their children the experience of this patriarchal dynamic.
Therefore, having relationships with ill men exposes women to joint illness, which is perceived by them as an inability to control the effects of alcohol in the family(12). These women face a severe level of stress associated with exposure to domestic violence and signs of mental illness(10).
Thus, through studies on women\'s life experiences from the perspective of women-wives, it is possible to understand that the illness of men-partners acquires changes in the social and family field, with fragility in the marital relationship, establishing a place of suffering and continuous stressors that contribute to women\'s greater vulnerability. Finally, the question is how these experiences are being experienced by women in other marital configurations, and in what ways these conditions can present themselves in different ways of being a woman.
2) Women-wives and the repercussions on mental and physical health
Eighteen studies analyzed health-related conditions. Problems or risk of problems in the physical and mental field were highlighted, and the development of therapeutic strategies for women-centered care.
When analyzing studies with a central focus on the health of women who live with men sickened by alcohol use, greater psychological distress is attributed to lower marital satisfaction, the presence of violence, less perceived social support from the family and greater frequency of attempts to deal with partner\'s consumption(25), greater chances of systemic arterial hypertension and are more likely to suffer from food insecurity, violence and develop a smoking habit(26). In addition, they may present anxiety, sleep disorders, symptoms of depression and physical symptoms.(27).
In this sense, these relationships end up exposing these women to a greater propensity to develop psychological suffering(28). The majority (93.53%) of wives of husbands with alcohol use disorder experienced stress, with 67.70% of women in the resistance phase. Sources of stress include responsibility for everything and anger at the spouse\'s alcoholism, among others(29).
In this field, anxiety and depression stand out. In the study by Lopes and Franco Júnior (2018): 55% of women presented with anxiety and 43.3% with depression(30). Accordingly, being the wife of a man sickened by alcohol consumption increases the prevalence of Major Depression Disorder (MDD)(31). Furthermore, exposure to intimate partner violence (IPV) increases the chance of wives suffering from moderate/severe depression by 37.5 times and the chance of moderate/severe anxiety by 8.15 times, when in relationships with men who are addicted to alcohol(32).
Related to sexual health, it highlights that the assessment of risk perceptions of acquiring the Human Immunodeficiency Virus - HIV highlights a mistake in the mode of transmission and the recognition of the potential risk for HIV associated with the husband\'s alcohol consumption and possible activities extramarital sexual activity carried out by them(19), reflecting power relations and violence in the health of these women.
The complex conditions associated with marital relationships and their consequences give these women less adaptive coping skills compared to women in the general public(33). Furthermore, these coping strategies may vary depending on the family atmosphere, the husband\'s behavior and the wives\' genetic and personality factors(34), which may use avoidance, adjustment of expectations, competition or the search for support to maintain the relationship(34). Finally, these women also have low scores on the resilience scales(35) reinforcing support needs to deal with the complexity of these experiences.
In this sense, Korean studies were significant in the different evaluations of therapeutic methods to support and cope with these women. Studies that worked with forgiveness therapy proved to be effective in improving resilience, self-esteem, spirituality and codependency(36,37), in addition to enabling these women to experience recovery through this therapy(38).
In women undergoing the enneagram program, an improvement in codependency and anger was observed through forgiveness(39). Furthermore, the use of the autobiographical method showed that women submitted to this method showed an improvement in the meaning of life, in somatization, depression, hostility and severity index scores(40). While, the use of the logo-autobiography method showed that women can acquire a meaning in life through suffering(41).
It is emphasized that in Korean studies(36,37,40,41) there is an indication of the use of these therapies by nursing professionals, showing a tendency for these studies to value and encourage the role of this professional class in the mental care of these women. Furthermore, Margasinski (2022) presents the development and validation of the Emotional Dependence Questionnaire for individual and group research on wives of people sickened by alcohol, presenting itself as a useful tool for defining therapeutic goals for this group(42).
Thus, the experiences described above raise questions about the absence of studies, in this review, that address the care of women in family support groups such as Al-Anon, and in institutions of the Unified Health System (SUS) such as CAPS- ad, which may indicate a weakness in care in terms of social and institutional support, or operational aspects that made it difficult to find research focused on this topic.
Coexistence with social demands related to gender is linked to situations of violence and overload of care for spouses sickened by alcohol use. In this sense, it is understood that the experience of violence, regardless of the type, results in mental illness in women(43). Furthermore, this illness also needs to be understood from a racial perspective, as, throughout history, the intersection of gender and race was constructed in circumstances of oppression and exclusion that exacerbate the mental illness of black women.(44).
Therefore, this panorama allows us to understand that being in this social place as the wife of a man sickened by alcohol use infers unique aspects that intervene in these relationships and in the health of these women.
This study is limited by not evaluating the degree of evidence of the research found, and by presenting a limited research process, which may have relevant articles that were not found, or were “lost”.
Finally, it is understood that the analyzed results allowed us to identify gaps in knowledge, mainly in relation to other forms of marital relationships and intersectional studies.
FINAL CONSIDERATIONS
The present study points out that the scientific evidence regarding the marital life of women with people with alcohol dependence elucidates an illness concomitant with that of the husbands, with indications of a correlation between this process of becoming ill and conflicting, stressful life experiences and episodes of violence, in which women presented an increased risk of mental and physical problems.
Despite the complexity in which these experiences are established, it is noted that these women report a lack of necessary family and/or social support, and there are no reports on therapeutic care in Brazil, suggesting care centered on the man-partner, not encompassing the other family members. The absence of national studies that address women\'s care at the level of institutional support is also highlighted. This can contribute to the maintenance of marital relationships permeated by alcohol despite its implications for the physical and mental health of these women.
Understanding Public Health as a set of knowledge that seeks the promotion, protection and recovery of health in line with the particularities of each subject and based on the Korean experiences found, the importance of studies that allow life-centered care can be elucidated of women affected by their spouse\'s alcohol consumption.
Finally, the lack of studies that evaluate the living and health conditions of these women from an intersectional perspective, and of women in other marital configurations, is highlighted, contributing to the invisibility of conditions in the racial, affective, economic, cultural and similar fields, constituting an important knowledge gap.
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Como
Citar
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Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/ser-mulher-em-relacionamento-com-homens-que-vivenciam-o-adoecimento-pelo-uso-de-alcool-revisao-integrativa/19386?id=19386&id=19386