0401/2024 - CULTURA POPULAR E CUIDADO EM SAÚDE: PRÁTICAS DE BENZEÇÃO EM TERRITÓRIOS ATENDIDOS POR EQUIPES SAÚDE DA FAMÍLIA POPULAR CULTURE AND HEALTH CARE: BLESSING PRACTICES IN TERRITORIES SERVICED BY FAMILY HEALTH TEAMS
Introdução: O ofício de benzedeiras compõe a cultura religiosa brasileira. Objetivos: Intenta-se compreender como o ofício das benzedeiras, em município mineiro, pode impactar o processo saúde-doença-cuidado nos territórios atendidos pela Estratégia Saúde da Família do Sistema Único de Saúde. Busca-se também identificar como os trabalhadores da atenção básica se posicionam em relação à presença da prática de benzeção. Metodologia: Trata-se de pesquisa qualitativa onde, a partir de entrevistas semiestruturadas, resgata-se as percepções de benzedeiras, usuários e enfermeiros. Para o tratamento do conteúdo das entrevistas foi utilizada análise temática reflexiva. Tomou-se Pierre Bourdieu como norte teórico para refletir sobre a autonomia dos campos de saber e suas disputas. Resultados: Identificou-se as seguintes categorias: Representações sobre a prática; Saúde e Religiosidade/Espiritualidade; Relações com a benzeção. Conclusões: A relação entre os campos não é apenas de conflito. Existe uma disponibilidade dos sujeitos que deles fazem parte que os tem colocado em comunicação. Nesse diapasão, o saber biomédico e o saber da benzeção, ainda que distintos e cumprindo funções específicas, podem ser aliados no processo saúde-doença-cuidado.
Palavras-chave:
Atenção primária à saúde. Estratégia Saúde da família. Medicina tradicional. Espiritualidade. Humanização da assistência.
Abstract:
Introduction: The profession of faith healers makes up Brazilian religious culture. Objectives: The aim is to understand how the profession of faith healers, in a municipality in Minas Gerais, can impact the health-disease-care process in the territories served by the Family Health Strategy of the Unified Health System. It also seeks to identify how primary care workers position themselves in relation to the presence of the practice of blessing. Methodology: This is qualitative research , based on semi-structured interviews, the perceptions of faith healers, users and nurses are recovered. To treat the content of the interviews, reflective thematic analysis was used. Pierre Bourdieu was taken as a theoretical guide to reflect on the autonomy of fields of knowledge and their disputes. Results: The following categories were identified: Representations about practice; Health and Religiosity/Spirituality; Relationships with blessing. Conclusions: The relationship between the fields is not just one of conflict. There is an availability of the subjects that are part of them that has placed them in communication. In this sense, biomedical knowledge and blessing knowledge, although distinct and fulfilling specific functions, can be allies in the health-illness-care process.
Keywords:
Primary health care. Family Health Strategy. Traditional medicine. Spirituality. Humanization of assistance.
Conteúdo:
Introdução
A Estratégia Saúde da Família (ESF), vem se desenvolvendo, desde 1998, em todo o território brasileiro. São irrefutáveis a sua ampliação no espaço geográfico bem como o alargamento quantitativo de suas equipes nos múltiplos municípios e regiões do Brasil. Nessa direção, é mister levar em conta as diversidades regionais e municipais onde se instalaram essas equipes. As regiões se mostram desiguais em distintas vertentes (demográficas, econômicas, culturais). Assim, a atenção básica e a ESF são igualmente heterogêneas1,2,3. É fundamental considerar a diversidade dos municípios brasileiros, de modo que se tome como ponto de partida o mundo real das equipes na produção do cuidado cotidiano junto aos usuários e suas demandas4.
É importante atentar-se ao território nas suas singularidades e pluralidades, visto que é nele que os sujeitos constituem suas identidades individuais e coletivas. O território é o lócus de trocas materiais e simbólicas, o que o marca como “território utilizado” ou “território do cotidiano”5. Enquanto “território vivo”, ele é o espaço onde os sujeitos são vistos em toda a sua inteireza (demandas de trabalho, de lazer, de cuidados, de relações e afetos), alargando assim a abordagem da saúde e do processo de vida6.
O “território vivo”, do qual fazem parte as equipes Saúde da Família, abraça diferentes formas de cuidado em saúde. É nele que a benzeção se desponta enquanto cultura popular de cuidado e escuta. Essa prática, que por muito tempo foi criminalizada, em algumas regiões do país, tem sido regulamentada/legitimada7, tendo a possibilidade de se tornar patrimônio imaterial de Minas Gerais graças ao Projeto de Lei (PL 2024/2024)8.
A institucionalização do ofício das benzedeiras possui forte relação com o Movimento Aprendizes de Sabedoria (MASA), proveniente do estado do Paraná. Esse movimento objetiva a articulação de estratégias de resistência e de enfrentamento dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCT’s) paranaenses.9 Verifica-se uma diversidade de posicionamentos em relação à benzeção, desde o reconhecimento de suas práticas e aceitação pelas comunidades7 até a atuação com a aprovação de profissionais de saúde, como em Maranguape-CE10. Isso ocorre, de acordo os autores, devido a embates no sentido de a legislação não acompanhar o uso que a população faz das benzedeiras10. Ademais, é necessário pontuar que tanto a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASP) quanto a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEP-SUS) evidenciam práticas populares como as de parteiras, benzedeiras, raizeiros, pajés11.
Amparada na teoria de Bourdieu12,13 sobre os conflitos entre campos de saber, esta pesquisa busca perscrutar as relações entre religiosidade/espiritualidade e saúde. Ao enfatizar a necessária autonomia dos campos, a perspectiva Bourdieusiana compreende a inevitável tensão entre os diferentes domínios.
Metodologia
Trata-se de estudo de natureza qualitativa, realizado com 15 Equipes Saúde da Família (ESF) que atuam na zona urbana de município mineiro, localizado no pontal do Triângulo Mineiro - MG, possuindo 102.217 habitantes14. Não há equipes na zona rural.
A construção de dados teve início em setembro de 2023, ocasião na qual a pesquisadora principal se reuniu com todas as equipes na Secretaria Municipal de Saúde para explanar sobre o intuito do estudo e os procedimentos empregados aos integrantes das Equipes Saúde da Família (ESF) e convidá-los a participar. Embora o convite tenha sido direcionado aos diversos trabalhadores das ESF, houve presença maciça de enfermeiros/as.
Nesta reunião, os/as presentes sugeriram que o mapeamento de benzedeiras fosse conduzido pelos profissionais de enfermagem que, diuturnamente, acompanham o processo de construção do diagnóstico de comunidade. Em tal feito, definiu-se que o preenchimento das questões do formulário referentes à presença de benzedeiras na área adscrita e a indicação de usuários/as que faziam uso da benzeção ocorreria em reunião entre os profissionais que aderiram ao estudo e os Agentes Comunitários de Saúde (ACS). No momento de construção de dados, o município vivenciava mudanças nas coordenações de unidades de saúde, na composição das equipes e na contratação de ACSs. Os profissionais de enfermagem apresentaram-se como aqueles com maior tempo em exercício nas equipes e que atendiam aos critérios de inclusão no estudo, motivo pelo qual foram interlocutores fundamentais ao estudo.
Com o formulário foi possível identificar que oito dos quinze territórios atendidos pelas ESF possuíam a prática da benzeção. Ele possuía, ainda, a seguinte questão aberta: "O que você pensa sobre a utilização de práticas de benzeção por usuários da unidade de saúde?". Na apreciação das respostas foi empregada a análise temática reflexiva15.
A segunda fase da pesquisa, que consistia na realização de entrevistas com roteiro semiestruturado, ocorreu com usuárias, benzedeiras e enfermeiros/as das ESF dessas oito áreas adscritas. Foram incluídos profissionais de saúde que atuavam na unidade de saúde há, pelo menos, um ano; usuários/as atendidos nas unidades de saúde há, pelo menos, um ano, residentes no município e que utilizavam a prática de benzeção; benzedeiras que atuavam em área coberta pela ESF, exercendo seu ofício há, pelo menos, um ano e que residiam no município. Excluiu-se informantes menores de 18 anos de idade e profissionais em licença de saúde.
A previsão era de 24 participantes. Todavia, uma benzedeira estava hospitalizada na ocasião da pesquisa e uma usuária não aderiu ao estudo. Assim, o estudo envolveu 22 sujeitos, sendo oito enfermeiros, sete benzedeiras e sete usuárias. As entrevistas audiogravadas ocorreram no período entre outubro de 2023 a dezembro de 2023, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nas residências de usuárias e de benzedeiras.
A apreciação do material construído com a pesquisa aconteceu mediante análise temática reflexiva15, na qual as pesquisadoras desempenham um papel ativo na construção dos dados, num processo que não é linear no sentido de avançar através das fases, contrariamente trata-se de um processo de análise que é recursivo e iterativo, de movimentação para frente e para trás através das fases, de acordo com a necessidade16.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Minas Gerais sob parecer nº 6.438.838. O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado por todos os participantes da pesquisa, seguindo-se os preceitos estabelecidos pela Resolução 466/12, de 12/12/2012, do Ministério da Saúde17. Com intuito de preservar a identidade dos participantes, estes foram nomeados por letras, seguidas da ordem de realização das entrevistas: Benzedeiras (B1, B2...); Enfermeiros/as (E1, E2...); Usuários (U1, U2...).
Resultados e discussão
A totalidade das equipes Saúde da Família, no município pesquisado, situa-se na zona urbana. Das 15 ESFs, oito reconheceram a existência de benzedeiras na área.
Tabela 1 - Caracterização de participantes do estudo segundo religião, sexo, idade, cor, estado civil, escolaridade e tempo que faz uso da benzeção ou a pratica.
No que diz respeito ao perfil sociodemográfico dos/as enfermeiros/as predominam católicos (73%), do sexo feminino (87,5%), na faixa etária de 30 a 40 anos (75%), da cor branca (62,5%), casados/união estável (62,5%), com especialização (75%) (Tabela 1). Dentre aqueles que já fizeram uso da benzeção (87,5%), destacam-se católicos (50%) e kardecistas (25%), assim como aqueles/as que concluíram especialização (62,5%).
As praticantes da benzeção eram mulheres, católicas (57%), com 61 anos ou mais (100%), de cor parda (43%), casadas ou em união estável (57%), alfabetizadas (85,7%) e que iniciaram a prática em momentos diversos: entre 7 e 10 anos (43%) e entre 11 e 19 anos (43%) (Tabela 1).
Já em relação às usuárias, também predominou a religião católica, seja em combinação com outras religiões (42,9%) ou de forma exclusiva (28,5%). As participantes estavam na faixa etária de 30 e 40 anos (43%), eram solteiras (43%), negras (86%) e possuíam diferentes níveis de escolaridade, desde fundamental incompleto (28,5%) à especialização (28,5%). Segundo seus relatos, o uso da benzeção ocorria desde sua infância (85,7%) (Tabela 1).
O processo analítico da indagação "O que você pensa sobre a utilização de práticas de benzeção por usuários da unidade de saúde?" resultou no delineamento de posicionamentos dos/as enfermeiros/as sobre o uso da benzeção: prática relacionada à fé; prática relacionada à cultura; recurso que auxilia em momentos difíceis; respeito à diversidade religiosa; prática aliada do tratamento médico; prática submissa à racionalidade médica (Figura 1; Quadro 1).
Figura 1 - Posicionamentos dos/as enfermeiros/as de equipes saúde da família sobre o uso da benzeção.
Quadro 1 - Subcategorias temáticas e excertos referentes aos posicionamentos dos enfermeiros/as de equipes saúde da família sobre o uso da benzeção.
Na análise temática das entrevistas, reiterando pesquisa realizada em outro município mineiro7 foram identificadas três categorias: (1) Representações sobre a prática; (2) Saúde e Religiosidade/Espiritualidade; (3) Relações com a benzeção. Operou-se a organização dessas três categorias em dois temas: a benzeção no campo religioso (Tema I); campo científico e campo religioso (Tema II). Todas as informações relativas à análise temática das entrevistas são apresentadas no quadro 2.
Quadro 2. Categorias temáticas construídas com as entrevistas com enfermeiros/as das ESFs, benzedeiras e usuárias.
Tanto as categorias temáticas identificadas na questão dissertativa do formulário quanto as identificadas nas entrevistas são estruturantes da apresentação dos resultados e discussão.
A BENZEÇÃO NO CAMPO RELIGIOSO
Representações sobre a prática
A benzeção é um ofício onde predominam mulheres18,10,19 , de origem católica18,10 com idade variando entre 64 e 80 anos. Este perfil é consistente com o das benzedeiras participantes deste estudo.
Esse ofício é visto como uma tradição familiar transmitida de geração a geração18,7,10,19,20, de forma oral19,7, fazendo parte da cultura brasileira7,18,20. Segundo algumas depoentes, trata-se de um dom10,7, o que significa que não é qualquer um que tem a vocação para tal ofício. Nessa direção, a benzeção deve ser gratuita e não deve haver restrições de horário para atendimento7.
É uma ação que envolve fé de ambos sujeitos, benzedeira e quem recebe a benzeção. A fé é um traço fundamental na benzeção, sendo ela indispensável para se obter resultados18,21,22,23. A coparticipação no processo de cura ocorre na medida em que há troca de saberes, acompanhados de diálogo e escuta mútua, quem cuida e quem é cuidado18,22, no sentido de um “trabalho afetivo”24, onde ambas as partes serão afetadas.
Os instrumentos comumente utilizados são a oração e o uso de plantas. A imposição de mãos e o uso de plantas medicinais são recursos terapêuticos que compõem as Práticas Integrativas e Complementares (PICS), e muito se aproximam da oração com imposição de mãos e do uso de plantas pelas benzedeiras25. A oração é algo complementar em relação aos cuidados da medicina e está vinculada à fé, ambas relacionadas a melhoras no âmbito físico e psíquico18,21,23.
O uso de plantas medicinais tem se mostrado como um recurso popular de cuidado20, sendo também uma prática comum no ofício das benzedeiras, como demonstra pesquisa qualitativa18 realizada em alguns municípios de Minas Gerais. Outros estudiosos também fazem menção ao uso de plantas na benzeção18,7,21,20,23,26,27.
De acordo com o Ministério da Saúde, as PICS “são recursos terapêuticos que fortalecem o cuidado ofertado no SUS e ampliam a percepção da população no sentido da autonomia e do autocuidado”25(s/p). Trata-se de abordagens terapêuticas que ensejam a prevenção, a promoção e a recuperação da saúde. Tem como foco a escuta acolhedora, a constituição de laços terapêuticos e “a conexão entre ser humano, meio ambiente e sociedade”25(s/p). Tais práticas foram oficializadas por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e, atualmente, são ofertadas à população especialmente na atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS)25. Todavia, conforme verificado por Teixeira28, a benzeção ainda não foi considerada como referencial na formulação de políticas de saúde complementares, na esfera do SUS.
Os tensionamentos na institucionalização das PICS acenam para a diversidade de entendimentos e saberes no campo, inclusive no que tange aos conflitos entre os saberes científicos e os saberes populares. Em cada localidade podem ser avistadas diferentes configurações entre as relações dos campos. No município de Sobral (CE), a despeito da não inclusão das benzedeiras à PNPIC, elas são consideradas como Agentes não formais de saúde cujas ações colaboram para a abordagem da comunidade, identificação de possíveis demandas e encaminhamento aos serviços.26 Ademais, em algumas cidades e regiões elas são tidas como Agentes de Cura junto aos serviços de saúde, como recurso em saúde e terapia popular29, o que aponta para seu reconhecimento como saber popular e integrante do processo de cuidado em saúde10.
No que diz respeito ao papel desempenhado pela benzeção e os motivos para sua busca, estes podem ser diversificados. A benzeção é muito procurada para crianças, podendo se afirmar que a busca mais intensa por essa prática se dá em relação às demandas infantis, de modo a haver até mesmo benzedeiras que benzem, por opção, somente crianças30.
Quantas vezes as minhas meninas já tiveram aquele susto que vira o vento, né? Os antigos falam “vira o vento”, você dá remédio e não resolve, vai lá benze, resolve. Esse cobreirinho que aparece na gente de vez em quando, vai lá benze e resolve.(U2)
De acordo com Avelar Filho31, tem-se uma linguagem peculiar das comunidades de fala rural que expressam o modo como essas pessoas se manifestam e promovem seus valores e identidades. Como pode se visto na fala de U2, tais expressões circulam nas narrativas de usuárias e de benzedeiras, tais como: espinhela caída = lumbago; lombalgia; ventre (ou vento) virado = diarreia; cobreiro = herpes zoster; quebranto (ou quebrante) = feitiço; mau-olhado (ou olho gordo) = inveja).
No caso do adulto, a benzeção age no sentido de descarregar energias negativas, funciona como um instrumento de escuta e consequente alívio e tranquilização. A procura pela benzeção se dá também devido a diagnósticos inconclusivos e desejo de melhora. Assim, a requisição da benzeção pode se dar tanto por questões físicas, psicológicas e sociais32.
CAMPO CIENTÍFICO E CAMPO RELIGIOSO
Saúde e Religiosidade/Espiritualidade
De forma mais ampla se expõe a relação possível entre saúde e religiosidade/espiritualidade. Nesse quesito despontam, de um lado, o conhecimento e a familiaridade dos/as profissionais com o território. De outro lado, o respeito à diversidade religiosa dos profissionais (existem situações em que crenças divergentes não são respeitadas entre os colegas de trabalho), a não discriminação religiosa e a abertura à pluralidade religiosa em relação aos pares e aos usuários. Afirma-se haver respeito pela religião dos pacientes, sendo que “no postinho de saúde” ainda que o foco seja a saúde do paciente, não há discriminação religiosa no que diz respeito a atendimento e assistência. Porém, estudos realizados, percebem uma discriminação “cordial” no sentido de invizibilização e desprezo por certas práticas religiosas33.
Assim, é mister o respeito à crença do usuário. Necessário os trabalhadores da saúde estar atentos às crenças, especialmente em relação aos mais idosos. Estes costumam trazer demandas religiosas junto ao tratamento e são acolhidos com ética e respeito. Nessa direção, estudo aponta para a importância de se considerar a influência da religião nas práticas de cuidado, de modo a tomar em consideração demandas individuais específicas vinculadas a filiação religiosa33.
Conforme referido em estudo33, a vivência, os saberes, as experiências não devem ser desconsiderados em função de um modo de olhar instituído colonizador (o saber médico convencional) que despreza, evita, ignora outros saberes não instituídos em relação ao cuidado em saúde, demonstrando um despreparo para operar com a diversidade cultural. A equidade em saúde demanda um olhar sobre a influência da religiosidade/espiritualidade nos cuidados em saúde, na sua possível ação terapêutica33.
A formação para o trato com a dimensão religiosa/espiritual vem da prática, o acolhimento de demandas religiosas ocorre no dia a dia, na escuta ao longo do atendimento, não havendo preparo para lidar com essa realidade. Além de não haver formação específica para o manejo da religiosidade/espiritualidade, afirma-se que nem todos os trabalhadores da saúde estão sensíveis a ela. Estudo aponta haver evidências de que tratar da religiosidade/espiritualidade na prática clínica vincula-se a questões como redução da mortalidade, qualidade de vida e saúde mental. No entanto, a falta de treinamento desponta como empecilho para lidar com as referidas dimensões que não são mencionadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do curso de medicina, apontando assim não haver espaço para religiosidade/espiritualidade em documentos que regimentam o saber médico no contexto brasileiro32,34.
Apesar de nem todos os ACSs terem formação para lidar com questões religiosas/espirituais, são os grandes detentores do saber sobre o território, possuindo identificação profunda da área. Eles conhecem com intimidade a população em termos de religiosidade/espiritualidade. De acordo com estudo realizado35, a despeito das tentativas de identificar o ACS como profissional desprovido de formação técnico-científica, acredita-se nas suas potencialidades enquanto possuidor de identidade singular voltada para a liderança comunitária, o pertencimento social, a escuta e a produção de vínculos com a comunidade.
Acredita-se haver relação entre saúde e religiosidade/espiritualidade. A fé associada ao saber científico, independentemente de qual religião, pode ajudar. A fé não é apenas do usuário, mas também do trabalhador da saúde, visto que o impacto da religiosidade/espiritualidade no cuidado em saúde pode se dar para ambos. A fé em algo não necessariamente proporcionará a cura, mas poderá amenizar o sofrimento pelo qual o sujeito está passando. Pois como refere estudo, para além de soluções concretas relacionadas a problemas de saúde, está oculta uma busca humana pela valorização da subjetividade36.
A busca pela religiosidade/espiritualidade é algo bem particular. A descoberta de alguma doença sensibiliza, incentivando o sujeito a percorrer um itinerário terapêutico (que pode incluir, por exemplo, a benzeção). Em situações limite, como tratamento paliativo para câncer, usuários demandam por acolhimento espiritual paralelamente ao tratamento médico, pois em diversas situações, a religião pode trazer conforto33.
Por fim, apesar do modelo biomédico não enxergar a pessoa como um todo, no Livro de diagnóstico de enfermagem (Nanda), uma das peculiaridades no diagnóstico é a espiritualidade prejudicada, afirma a depoente. A despeito do livro de diagnósticos, devido a sua prática, enfermeiros acreditam que existe o impacto da religiosidade/espiritualidade na saúde das pessoas7,33. Há um esforço em respeitar a busca paralela de medicina e religiosidade/espiritualidade, porém, sem deixar de trazer ponderações sobre determinadas práticas (por exemplo, o banho com picão em crianças (E1); o uso de chás para tratamento de feridas em adultos) que podem ser prejudiciais29,7,37. Ux explicita a possibilidade de recorrer aos dois campos de saber, sem conflitos:
Eu penso que às vezes a gente vai no médico atrás de uma cura de algum problema de saúde, mas às vezes aquilo é espiritual. E aí a gente trata lá com o médico e não resolve, e aí vai lá na benzedeira, benze e aquela situação melhora. Eu acho que é bom tentar pelas duas linhas, né? Porque a gente nunca sabe, né, da onde que tá vindo aquele problema. (U1)
Assim, formas alternativas de cuidado não buscam travar disputa com o saber científico enquanto saber, mas vão de encontro a patologização da vida bem como a sua medicalização e comercialização. Os cuidados populares, do mesmo modo que a perspectiva biomédica, representam um entre tantos sistemas e propostas de cura, que podem se complementar, sem fazer uso de uma ideologia de validade e superioridade de um sistema sobre o outro38. Se complementam no sentido de que podem atuar concomitantemente, porém, possuem perspectivas de cuidado que se diferem da racionalidade biomédica39.
Relações com a benzeção
Uai, é importante, não é? porque procura a medicina que é a verdade, né, mas corre atrás do recurso do espaço, da benzeção que é uma ajuda, né? (B6)
A relação das práticas médicas com a benzeção pode variar entre conflitos e diálogos/complementação. Os relatos que indicam o diálogo são mais perceptíveis e recorrentes nas falas dos diferentes sujeitos (benzedeiras, enfermeiros/as e usuárias). Já o conflito é indicado quando a prática popular é usada em substituição ao tratamento médico. Ao contrário, quando é usada como uma prática integrativa, percebe-se como exitoso (E8). Acredita-se que práticas integrativas associadas à medicina convencional trazem benefícios (E8).
Estudo refere que as PICS, ao reconhecerem acolhimento e escuta (tecnologias leves e humanizadas), vão ao encontro do cuidado integral. Elas podem, assim, ser tidas tanto como alternativas ao tratamento convencional quanto como práticas complementares40. A despeito da implementação das PICS e da Estratégia sobre Medicina tradicional desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde41, estudo detectou um descompasso no que diz respeito ao reconhecimento dessas práticas pelo saber médico18.
A referida substituição do tratamento médico pode ser exemplificada por meio de recusa de usuários em tomar medicamento receitado e fazer uso de farmacinha popular (E3). Em relação ao tratamento de feridas, profissionais interferem no que concerne ao uso de determinadas práticas populares que podem ser prejudiciais (E3)29,7,37.
No sentido do conflito, há relatos de que a benzeção é procurada porque faltou acolhimento; a medicina não resolveu e a benzeção resolveu; “têm enfermidade que não é para médico”. Na perspectiva de usuárias, a “Medicina espiritual” fornece respostas que a medicina científica não consegue ofertar (U1), havendo coisas que a medicina não resolve, apenas a benzeção, questões espirituais, por exemplo (U4). Nesse diapasão, medicina e religião são vistas como diferentes, cada uma cumprindo a sua função (U6): tem coisas que são para a medicina e tem coisas que são para a benzeção (U6), conforme referido em outro estudo7.
Usuárias entendem, nesse sentido, que a benzeção anda junto com a ciência (U1), podendo se comunicar. Uma lida com questões físicas e a outra com questões da alma/espírito. O “postinho” é para tratar da matéria e a benzedeira para tratar do espírito/da alma, visto que a questão da enfermidade às vezes pode estar relacionada ao plano espiritual. Isso para dizer que a medicina, às vezes, não dá suporte sozinha às enfermidades. Por isso, é importante tentar nas duas frentes: científica e religiosa/espiritual. Nessa perspectiva, medicina e benzeção podem se complementar, conforme referido em outros estudos29,7,42,43.
Não se compreende como problema a procura pelos dois saberes, visto que nem tudo é para o médico, nem tudo é para a benzedeira, afirma B5. Essa reflexão apresenta o tipo de diálogo e comunicação estabelecidos por ambos os saberes para com os usuários. Por isso, é mister uma vivência da diversidade cultural pelos trabalhadores de saúde, posto que pode impactar no tipo de comunicação e diálogo estabelecidos. De outro modo, a ausência de trocas entre culturas e linguagens distintas pode estabelecer conflitos e incidir negativamente na adesão ao tratamento convencional, constituído por uma linguagem técnica e racionalista44.
Neste estudo identificou-se, também, um bom relacionamento entre benzedeiras e médicos: “Cobreiro os médicos não conseguem resolver e enviam o paciente para a benzedeira” (B4). Se por um lado, afirma-se haver médico que não acredita no trabalho da benzedeira, por outro lado, afirma-se que existe médico que confia e encaminha o paciente (B4)7. Nesse diálogo tem preponderado mais a disposição das benzedeiras em contribuir com o sistema de saúde, de modo que a troca se mantenha unilateral45. É lapidar o depoimento de B4: [Benzeção] é uma ciência que nem a gente entende direito, mas que dá certo.
A benzeção é vista como “ciência” no sentido de possuir uma lógica própria de compreensão e racionalidade que, de alguma forma, funcionam. Considera-se, nesse sentido, que existe um conhecimento específico de benzedeiras sobre as enfermidades que os médicos não têm domínio. Em contrapartida, quando entende que precisa ir “no postinho de saúde”, a benzedeira aconselha a procurar o médico (B6). Do mesmo modo também referiram outros estudos29,7,45,26. Essa postura, por sua vez, mostra o interesse da benzedeira em conciliar seu saber popular e ciência45.
Aqui faz-se referência a uma possível complementação/parceria entre os dois saberes onde, de acordo com os trabalhadores da saúde e os usuários, o uso concomitante da medicina e da religião não é visto como um problema, mas como uma solução. Acredita-se que essas possam andar juntas, desde que não haja prejuízo [em relação ao tratamento médico]7.
Percebe-se como importante o trabalho conjunto entre conhecimento científico e conhecimento popular. Ainda que tenham questões que “são só para medicina”, existem processos de cura que não passam somente pela ciência. Nessa direção, afirma-se que medicina e religiosidade/espiritualidade não são autossuficientes.
Enfim, profissionais recordam que o importante é o usuário como um todo, se a utilização dos recursos da medicina e da benzeção for bom para ele, o que importa é o seu bem-estar. Nesse sentido, é significativo o profissional da saúde estar atento ao fato de que as crenças populares podem se constituir enquanto técnicas evidentes de cuidado, ensejando contribuições ímpares para os usuários e suas famílias e desempenhando uma função tanto de promoção de saúde e bem-estar quanto de rede de apoio e acolhimento22.
Na contramão da perspectiva onde predomina o conflito entre os campos de saber, de acordo com Bourdieu12,13, esta pesquisa evidencia que a relação entre os campos não é apenas de conflito, mas de diálogo, sendo muitas vezes possível colocá-los em comunicação, a depender da disponibilidade ideológica dos sujeitos que deles fazem parte.
Perseguindo esse ponto de vista, compreende-se a participação da benzeção na saúde não como um empecilho ao saber e atuação da medicina convencional, mas como um recurso adicional na perspectiva da busca por respostas e por tentativas de restauração da saúde física, psíquica e social. Nesse sentido, a questão central é refletir sobre a religiosidade/espiritualidade no seu vínculo com a saúde como um processo e não como produto; é pensar a religiosidade/espiritualidade na sua dimensão dialógica com outras esferas da vida.
Conclusões
A benzeção é um ofício onde predominam mulheres de origem católica. É uma prática entendida enquanto tradição familiar que constitui a cultura popular religiosa brasileira, sendo transmitida de geração a geração, oralmente. É vista como um dom que não pode ser assumido por qualquer pessoa. A benzeção é gratuita e não deve ter horário restrito para atendimento. Trata-se de ação que envolve a fé de ambos sujeitos, a benzedeira e quem recebe a benzeção, para que funcione. Os instrumentos comumente utilizados nessa prática são a oração e o manejo de plantas.
A relação com a benzeção pode variar entre conflitos e diálogos/complementação. De acordo com as depoentes, o uso concomitante do saber científico e do saber popular/religioso não é visto como um problema, mas como uma solução. Os relatos que apontam o diálogo são mais perceptíveis e recorrentes nas falas dos diferentes sujeitos (benzedeiras, enfermeiros/as e usuários). Já o conflito é indicado quando a prática popular é usada em substituição ao tratamento médico. Considera-se que, em outros estudos, possam ser envolvidos profissionais que não se utilizam da benzeção de modo a explorar suas percepções e eventuais conflitos com a prática.
A benzeção é vista como saber, no sentido de possuir uma lógica própria de compreensão e racionalidade que, de alguma forma, funciona, considerando-se que existe um conhecimento específico de benzedeiras em relação a enfermidades para as quais o profissional de saúde não tem domínio. A evocação da benzeção como “ciência” feita por uma das participantes do estudo acena para a amplitude dos saberes populares e do quanto podem incidir em práticas de cuidado. Pontes e permeabilidades entre os saberes populares e o campo científico se efetivam nos movimentos de encaminhamento, tanto por parte de profissionais de saúde quanto por parte das benzedeiras.
Na perspectiva da “falta”, da não autossuficiência, tanto em relação a benzeção quanto em relação a medicina é que desponta o diálogo, a parceria. Assim, no contato entre os campos de saber não se estabelece apenas conflito, mas também diálogo. É possível perceber que a abertura dos sujeitos que deles fazem parte tem os colocado em comunicação. Nesse diapasão, o saber biomédico e o saber da benzeção, ainda que distintos e cumprindo funções específicas, podem ser aliados no processo saúde-doença-cuidado.
Financiamento: Pesquisa produtividade financiada pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) - PQ/UEMG.
Referências
1. Viana ALA, Pierantoni, CR, Heimann LS, Lima LD, Oliveira RG. Indicadores de monitoramento da implementação do PSF em grandes centros urbanos. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2002.
2. Ministério da Saúde (Brasil). Avaliação da implantação do Programa de Saúde da Família em dez grandes centros urbanos: síntese dos principais resultados. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2002.
3. Ministério da Saúde (Brasil). Saúde da família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 1997.
4. Cecílio LCO, Reis AAC. Apontamentos sobre os desafios (ainda) atuais da atenção básica à saúde. Cad. Saúde Pública. 2018; 34(8):e00056917.
5. Santos M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record; 2003.
6. Minayo MCS. Saúde-doença: Uma concepção popular da Etiologia. Cad Saúde Pública [internet]. 1988 [acesso em 2024 abr 12]; 4(4):363-81. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v4n4/03.pdf.
7. Assunção LM, Querino RA, Rodrigues LR. A benzedura nos territórios da Estratégia Saúde da Família: percepções de trabalhadores, usuários e benzedores. Saúde em Debate [internet]. 2020 [acesso em 2024 mar 05]; 44(126): 752-73. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2020.v44n126/762-773/pt.
8. Chiodi H. Benzedeiras e benzeção podem virar patrimônio imaterial dos mineiros [internet]. Jornal O tempo [internet]. 2024 abril 21 [acesso em 2024 fev 24]. Disponível em: https://www.otempo.com.br/politica/benzedeiras-e-benzecao-podem-virar-patrimonio-imaterial-dos-mineiros-1.3398966.
9. Andrade A de, Gómez JRM. Movimento Aprendizes de Sabedoria (MASA): cartografando processos de r-existência. Campo-Território: revista de geografia agrária [internet]. 2019 [acesso em 2024 out 20]; 14 (33): 129-56. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/49590/27701
10. Santos Neto EF. O rosário de lágrimas de Nossa Senhora nas mãos de Maria: benzeção e saúde no Brasil contemporâneo. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião [internet]. 2021 [acesso em 2024 fev 17]; 24(1):53-65. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/33834.
11. Opas. Medicinas tradicionais, complementares e integrativas – OPAS / OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/medicinas-tradicionais-complementares-e-integrativas. Acesso em: 01 jun 2024.
12. Bourdieu, P. Gênese e Estrutura do Campo religioso; Apêndice I: Uma interpretação da teoria da religião de Max Weber p. 27-98. In: A economia das trocas simbólicas Sérgio Miceli (org). 5. Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999. 361 p.
13. Bourdieu, P. Le champ scientifique. Actes de la Recherche em Sciences Sociales, n. 2/3, jun. 1976, p. 88-104 in Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 122-155.
14. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População [Internet]. 2022. [citado em 31 mai 2024]. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/indicadores.html?localidade=BR
15. Braun V, Clarke V. Thematic analysis: a practical guide. SAGE Publications, 2021.
16. Braun V, Clarke V. One size fits all? What counts as quality practice in (reflexive) thematic analysis? Qual. Res. Psychol. [internet]. 2020 [acesso 2023 nov 21]; 18(3):328–52. Disponível em: https://doi.org/10.1080/14780887.2020.1769238.
17. Conselho Nacional de Saúde (Brasil). Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos [Internet]. Brasília, DF: CNS; 2012 [acesso em 2024 abr 12]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
18. Almeida BAD, Borges LCA, Sanders LC, Pereira RL, Vidal CEL. Chá, reza e benzeção: aspectos da medicina tradicional em Minas Gerais. Revista de Ciências da Saúde Básica e Aplicada. 2022; 5(1): 1-15.
19. Hoffmann-Horochovski MT. Benzeduras, garrafadas e costuras: considerações sobre a prática da benzeção. Guaju [internet]. 2015 [acesso em 2024 mai 24]; 1(2):110-26. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/guaju/article/view/45038/27420.
20. Soares NA. Crenças e práticas de saúde no cotidiano de usuários da rede básica de saúde. Rev enferm UERJ [internet]. 2014 [acesso em 2024 fev 07]; 22(1):83-8. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/enfermagemuerj/article/view/11450.
21. Reimer IR, Oliveira EC. Apresentação do dossiê crenças e representações religiosas na cultura contemporânea. Revista Mosaico - Revista de História [internet]. 2018 [acesso em 2024 abr 04]; 11(1):2-4. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/6315.
22. Marin RC, Scorsolini-Comin F. Desfazendo o “mau-olhado”: magia, saúde e desenvolvimento no ofício das benzedeiras. Psicol cienc prof. [internet]. 2017 [acesso em 2024 jan 10]; 37(2): 446-60. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/bKCy6WKB3fb3TbZwWPK7DZw/?lang=pt&format=html.
23. Mota CS, Trad LAB, Villas Boas MJVB. O papel da experiência religiosa no enfrentamento de aflições e problemas de saúde. Interface (Botucatu) [internet]. 2012 [acesso em 2024 mai 24]; 16(42): 665-75. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/54Jb7N7g37pRMrFHjdJdqXp/.
24. Arouca S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão e crítica da Medicina Preventiva. São Paulo: Unesp; 2003.
25. Ministério da Saúde (Brasil). Gabinete do Ministro. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2024 [citado em 31 mai 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/pics.
26. Costa EP. Benzedeiras no sistema oficial de saúde do Ceará: relações entre religiosidade e medicina popular [internet]. Dissertação [Mestrado em Ciências da Religião]. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2009 [acesso em 2024 mai 24]. 43 f. Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2534/1/Elizabeth%20Parente%20Costa.pdf
27. Sant’Ana E, Seggiaro D. Benzedeiras & benzeduras. Porto Alegre, RS: Alcance; 2007. 109 p.
28. Teixeira CC. Benzimento: a resistência em forma de cuidado clama por seu espaço nas políticas públicas de saúde integrativa. ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste [internet]. 2022 [acesso em 2024 out. 10]; 9:20. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/aceno/article/view/13557
29. Jesien S, Marmitt LP, Meucci RD. Benzeção como recurso em saúde: estudo transversal com idosos moradores de área rural. Rev Saúde Pública [internet]. 2022 [acesso em 2024 mai 12]; 56:72. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/9PKWJZf6J8ByWnwRP48VTcQ/?format=html&lang=pt.
30. Feitosa PWG, Maia MAG, Ribeiro NFV, Leite VMBF, Freitas Neta MSB, Pinheiro SFL. “Não, eu só rezo em criança”: Benzedeiras e Construções epistemológicas em saúde no Cariri cearense. Id on Line Rev. Psic. [internet]. 2022 [acesso em 2024 mai 24];16(60):1120-29. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/3476/5480.
31. Avelar Filho JN. O folionês: uma variedade de fala na folia da roça vista pela ecolinguística. In: Fargetti CM, Murakawa CAA, Nadin OL, organizadores. Léxico e cultura. Araraquara: Letraria; 2015. p. 25-32.
32. Trofa GC, Germani ACCG, Oliveira JAC, Eluf Neto J. A espiritualidade/religiosidade como desafio ao cuidado integral: aspectos regulatórios na formação médica brasileira. Physis: Revista de Saúde Coletiva [internet]. 2021 [acesso em 2024 jan 30]; 31(4): e310409, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/6dTmDPXz8DDVdNQwHnMZ9kb/?format=pdf&lang=pt.
33. Fernandez JCA, Silva RA, Sacardo DP. Religião e saúde: para transformar ausências em presenças. Saúde Soc. 2018; 27(4):1058-70.
34. Borges MS, Santos MBC, Pinheiro TG. Representações sociais sobre religião e espiritualidade. Rev Bras Enferm. [internet]. 2015 [acesso em 2024 abr 06]; 68(4):609-16. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/wwp6mVznNNfjdKxwDkqHTVK/?lang=pt.
35. Oliveira HM, Carvalho YM. Saber da experiência e cuidado: o impacto das Agentes Comunitárias de Saúde na Saúde Pública. Tempus – Actas de Saúde Coletiva [internet]. 2021 [acesso em 2024 mai 06];15(1): 198-222. Disponível em: https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/2931.
36. Niel MM, Pereira PPG. Oogun À??*: estratégias de cuidado com a saúde no Candomblé em Nova Iorque (EUA). Interface (Botucatu)[internet]. 2019 [acesso em 2024 mai 06]; 23:e180088. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/8r94PCz5zyGKbjhTDQ6PdDM/?format=html&lang=pt.
37. Murakami R, Campos CJG. Religião e saúde mental: desafio de integrar a religiosidade ao cuidado com o paciente. Rev Bras Enferm. [internet]. 2012 [acesso em 2024 mai 06]; 65(2):361-7. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/tXdvKWGpyYDfKwCWMDHW3ZG/?lang=pt&format=html
38. Oliveira DC, Mendonça MOL. Autoconhecimento e autocura na perspectiva da ginecologia natural: relato de experiência de uma médica de família e comunidade. Rev Bras Med Fam Comunidade [internet]. 2023 [acesso em 2024 jan 10]; 18(45):3853. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/3853.
39. Rocha MB, Severo AKS, Silva AVF. Cuidado em Saúde na Umbanda. Psicologia: Ciência e Profissão. 2023; 43(e222817): 1-14.
40. Pereira EC, Souza GC, Schveitzer MC. Práticas Integrativas e Complementares ofertadas pela enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Saúde em Debate [internet]. 2022 [acesso em 2024 jan 14]; 46(1):152-64. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/yyMJm4f47BCgX6Qwnkk48pJ/?format=pdf&lang=pt.
41. Organización Mundial de la Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. Ginebra: OMS; 2013. [citado em 23 abr 2020]. Disponível em: https://www.who.int/topics/traditional_medicine/WHO-strategy/es/
42. Dos Santos FV. O ofício das benzedeiras: um estudo sobre práticas terapêuticas e a comunhão de crenças em Cruzeta – RN. Porto Alegre: Cirkula; 2018. 255p.
43. Boehs AE, Ribeiro EM, Grisotti M, Saccol AP, Rumor PCF. A percepção dos profissionais de saúde sobre os cuidados das mães de crianças entre 0 a 6 anos usuárias da Estratégia de Saúde da Familia. Physis [internet]. 2011 [acesso em 2024 jan 21]; 21(3):1005-21. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/physis/v21n3/13.pdf.
44. Cavalcanti AH. Territórios do cuidar: comunicação e memória nas medicinas dos povos tradicionais afro-brasileiros. Reciis – Rev Eletron Comun Inf Inov Saúde [internet]. 2020 [acesso 2024 fev 10];14(3):644-55. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43713.
45. Medeiros REG, Nascimento EGC, Diniz GMD, Alchieri JC. Na simplicidade a complexidade de um cuidar: a atuação da benzedeira na atenção a saúde da criança. Physis [internet]. 2013 [acesso em 2024 fev 12];23(4):1339-57. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/physis/2013.v23n4/1339-1357/pt.
46. Aguiar LC, Lamy Filho F, Thomaz EB, Cavalcante MC, Rocha HC, Dias NS, Lamy ZC. Utilização do cuidado popular por egressos de unidade de terapia intensiva neonatal. Acta Paul Enferm. [internet]. 2022 [acesso em 2024 jan 30]; 35:eAPE02187. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/TFpGrnnJ9kkTD5RvzH9w7PM/?format=pdf&lang=pt.
Outros idiomas:
POPULAR CULTURE AND HEALTH CARE: BLESSING PRACTICES IN TERRITORIES SERVICED BY FAMILY HEALTH TEAMS
Resumo (abstract):
Introduction: The profession of faith healers makes up Brazilian religious culture. Objectives: The aim is to understand how the profession of faith healers, in a municipality in Minas Gerais, can impact the health-disease-care process in the territories served by the Family Health Strategy of the Unified Health System. It also seeks to identify how primary care workers position themselves in relation to the presence of the practice of blessing. Methodology: This is qualitative research , based on semi-structured interviews, the perceptions of faith healers, users and nurses are recovered. To treat the content of the interviews, reflective thematic analysis was used. Pierre Bourdieu was taken as a theoretical guide to reflect on the autonomy of fields of knowledge and their disputes. Results: The following categories were identified: Representations about practice; Health and Religiosity/Spirituality; Relationships with blessing. Conclusions: The relationship between the fields is not just one of conflict. There is an availability of the subjects that are part of them that has placed them in communication. In this sense, biomedical knowledge and blessing knowledge, although distinct and fulfilling specific functions, can be allies in the health-illness-care process.
Palavras-chave (keywords):
Primary health care. Family Health Strategy. Traditional medicine. Spirituality. Humanization of assistance.
CULTURA POPULAR E CUIDADO EM SAÚDE: PRÁTICAS DE BENZEÇÃO EM TERRITÓRIOS ATENDIDOS POR EQUIPES SAÚDE DA FAMÍLIA
POPULAR CULTURE AND HEALTH CARE: BENZEÇÃO IN TERRITORIES SERVICED BY FAMILY HEALTH TEAMS
CULTURA POPULAR Y CUIDADO EN LA SALUD: PRÁCTICAS DE CURANDERÍA EN TERRITORIOS ATENDIDOS POR EQUIPOS DE SALUD DE LA FAMILIA
Luiza Maria de Assunção
Universidade do Estado de Minas Gerais
Email: luassunc@gmail.com
ORCID: 0000-0001-6106-1200
Rosimár Alves Querino
Universidade Federal do Triângulo Mineiro
Email: rosimar.querino@uftm.edu.br
ORCID: 0000-0002-7863-1211
RESUMO
Introdução: O ofício de benzedeiras compõe a cultura religiosa brasileira. Objetivos: Intenta-se compreender como o ofício das benzedeiras, em município mineiro, pode impactar o processo saúde-doença-cuidado nos territórios atendidos pela Estratégia Saúde da Família do Sistema Único de Saúde. Busca-se também identificar como os trabalhadores da atenção básica se posicionam em relação à presença da prática de benzeção. Metodologia: Trata-se de pesquisa qualitativa onde, a partir de entrevistas semiestruturadas, resgata-se as percepções de benzedeiras, usuários e enfermeiros. Para o tratamento do conteúdo das entrevistas foi utilizada análise temática reflexiva. Tomou-se Pierre Bourdieu como norte teórico para refletir sobre a autonomia dos campos de saber e suas disputas. Resultados: Identificou-se as seguintes categorias: Representações sobre a prática; Saúde e Religiosidade/Espiritualidade; Relações com a benzeção. Conclusões: A relação entre os campos não é apenas de conflito. Existe uma disponibilidade dos sujeitos que deles fazem parte que os tem colocado em comunicação. Nesse diapasão, o saber biomédico e o saber da benzeção, ainda que distintos e cumprindo funções específicas, podem ser aliados no processo saúde-doença-cuidado.
Palavras-chave: Atenção primária à saúde. Family Health Strategy. Medicina tradicional. Espiritualidade. Humanização da assistência.
ABSTRACT
Introduction: Benzeção is an integral part of Brazilian culture and religiosity. Objectives: The aim of this study was to understand how the practice of benzeção impacts the health-disease-care process in territories served by the Family Health Strategy in a municipality in Minas Gerais and explore primary care workers’ attitudes towards the practice. Methodology: We conducted a qualitative study using semi-structured interviews to capture the perceptions of benzedeiras, patients and nurses. The content of the interviews was analyzed using reflexive thematic analysis, drawing on Pierre Bourdieu’s theory of conflict between fields of knowledge. Results: The following categories were identified: representations of practice; health and religiosity/spirituality; relationship with benzeção. Conclusions: The relationship between the fields is not just one of conflict. The findings show that the openness of the subjects involved in the fields have placed the latter in communication. Thus, while biomedical knowledge and the knowledge of benzeção are different and fulfill specific functions, they can be used in combination in the health-disease-care process.
Keywords: Primary health care. Family Health Strategy. Traditional medicine. Spirituality. Humanization of care.
RESUMEN
Introducción: El oficio de las curanderas hace parte de la cultura religiosa brasileña. Objetivos: Se intenta comprender como el oficio de las curanderas, en un municipio de Minas Gerais, puede impactar en el proceso de salud-enfermedad-cuidado en los territorios atendidos por la Estrategia de Salud Familiar del Sistema Único de Salud. Se busca también identificar como los trabajadores de la atención básica se colocan con relación a la presencia de la práctica de la curandería. Metodología: Se trata de una investigación cualitativa donde, a partir de entrevistas semiestructuradas, se rescatan las percepciones de curanderas, usuarios y enfermeros. Para el tratamiento del contenido de las entrevistas fue utilizado un análisis temático reflexivo. Se tomó Pierre Bourdieu como norte teórico para reflexionar sobre la autonomía de los campos de saber y sus disputas. Resultados: Se identificaron las siguientes categorías: Representaciones sobre la práctica; Salud y Religiosidad/Espiritualidad; Relaciones con la curandería. Conclusiones: La relación entre los campos no son apenas de conflicto. Existe una disponibilidad de los sujetos que hacen parte de ellos que los colocan en contacto. En este sentido, el saber biomédico y el saber de la curandería, aunque distintos y cumpliendo funciones específicas, pueden ser aliados en el proceso salud-enfermedad-cuidado.
Palabras-clave: Atención primaria de salud. Estrategia de Salud Familiar. Medicina tradicional. Espiritualidad. Humanización de la asistencia.
Introduction
The Family Health Strategy (FHS) was introduced across Brazil in 1998. Its expansion in geographical and staff terms is irrefutable, meaning it is essential to consider diversity across the regions and municipalities where the family health teams operate. Brazil’s regions are unequal in many aspects (demographically, economically and culturally), making primary care and the FHS equally heterogeneous1,2,3. It is therefore essential to consider the diversity of municipalities in Brazil in order to understand the real world of health teams in the daily provision of care to meet patients’ health needs4.
It is important to take into consideration the singularities and pluralities of a given territory, as it is in this area that people form their individual and collective identities. Territory is the locus of material and symbolic exchanges, marking it as "used territory" or "everyday territory"5. "Living territory" is a space in which subjects are seen in their entirety (work, leisure, care, relationships and affects), thus requiring a broader approach to health care and the life process6.
The "living territory", of which family health teams are part, embraces different forms of health care. It is within this space that benzeção, or the act of praying for and blessing a person, emerges as a popular culture of care and listening. This practice, which was criminalized for some time, has been regulated/legitimated in some regions of the country7, and now has the possibility of being declared intangible heritage in the state of Minas Gerais thanks to Bill 2024/20248.
The institutionalization of the craft of benzedeiras (women who pray for and bless people) is strongly linked to the Movimento Aprendizes de Sabedoria (Apprentices of Wisdom Movement – MASA), from the state of Paraná. The aim of the movement is to coordinate strategies of resistance and confrontation implemented by traditional peoples and communities in the state9. Attitudes towards blessing vary from the recognition of its practices and acceptance in communities7 to approval by health professionals, as is the case of Maranguape in the state of Ceará10. However, benzeção and the use of this practice by the community is not legitimated within the law10. It is also important to note however that both the National Indigenous Peoples Health Care Policy (PNASP, acronym in Portuguese) and National Policy for Popular Education in Health (PNEP, acronym in Portuguese) include popular practices such as those performed by traditional midwives, benzedeiras, raizeiros (herbal healers) and pajés (shamans)11.
Drawing on Bourdieu’s12,13 theory of conflict between fields of knowledge, the aim of this study was to examine the relationship between religiosity/spirituality and health. By emphasizing the necessary autonomy of fields, the Bourdieusian perspective understands that tension between different domains is inevitable.
Methodology
We conducted a qualitative study with 15 family health teams (FHTs) working in the urban area of a municipality with 102,217 inhabitants14 in the of Pontal do Triângulo Mineiro region, in the state of Minas Gerais. There are no FHTs in the municipality’s rural area.
Data collection began in September 2023, when the lead researcher met with members of all the municipality’s FHTs at the municipal department of health to explain the study purpose and procedures and invite them to participate. While the invitation was made to all FHT members, there was a particularly strong presence of nurses.
Those attending the meeting suggested that the mapping of benzedeiras should be carried out by nursing professionals, who deliver care in the community daily together with community health workers (CHWs). It was also decided that the questions on the form regarding the presence of benzedeiras in the catchment area and identification of patients who used their services should be filled in during a meeting between professionals enrolled in the study and CHWs. During the data collection process, changes were being made to health center management, team composition and hiring of CHWs. The nurses were in general the longest serving team members and met the inclusion criteria, making them key interlocutors in the study.
The form results showed that benzeção was practiced in eight of the 15 territories covered by the FHTs. The form also contained the following open-ended question: "What do you think about the use of benzeção by patients?". The responses were analyzed using reflexive thematic analysis15.
In the second phase of the study, semi-structured interviews were conducted with patients, benzedeiras and nurses from the FHTs in the eight territories. The following inclusion criteria were used: health professionals who had been working in the health center for at least a year; patients living in the municipality who had been using the health center’s services for at least a year and used benzeção; and benzedeiras living in the municipality who had been practicing in an area covered by a FHT for at least a year. Informants under the age of 18 and professionals on sick leave were excluded.
The sample was originally intended to be made up of 24 participants. However, one of the benzedeiras was hospitalized during the study and one patient decided not to take part in the study. The final study sample therefore consisted of 22 participants: eight nurses, seven benzedeiras and seven patients. The recorded interviews were conducted between October and December 2023 in health centers and at the patients’ and benzedeiras’ homes.
The data were analyzed using reflexive thematic analysis15, in which the researcher plays an active role in identifying patterns in data as part of a process that is not linear but rather recursive and iterative, moving backwards and forwards between phases as necessary16.
The study was approved by Minas Gerais State University’s research ethics committee (reference code 6.438.838) and conducted in accordance with the ethical norms and standards set out in National Health Council Resolution 466/117. All participants signed an informed consent form. To protect their identity, study participants are named using a letter for each category followed by the order in which they were interviewed: benzedeiras (B1, B2, etc..); nurses (N1, N2, etc..); patients (P1, P2, etc..).
Results and discussion
All the municipality’s FHTs work in urban areas. Eight of the 15 FHTs recognized the existence of benzedeiras in the health area.
Table 1 – Characteristics of study participants (religion, gender, age, skin color, marital status, education level and length of time using or practicing benzeção)
The nurses were predominantly women (87.5%), white (62.5%), Catholic (73%), aged between 30 and 40 (75%), married/in stable union (62.5%) and had completed a specialist training course (75%) (Table 1). Among the nurses who used benzeção (87.5%), 50% were Catholic and 25% were Kardecists, and 62.5% had completed a specialist training course.
The benzedeiras were all women aged 61 years and over. They were predominantly Catholic (57%), brown (43%), married/in stable union (57%) and literate (85.7%), and started to practice benzeção at different ages: between 7 and 10 years of age (43%) and between 11 and 19 years of age (43%) (Table 1).
The patients were also predominantly Catholic, exclusively (28.5%) or together with other religions (42.9%). Most of the patients were aged between 30 and 40 years (43%), single (43%) and black (86%), with 28.5% not having completed primary school and 28.5% having completed a specialist training course. The majority of patients reported that they had been using benzeção since childhood (85.7%) (Table 1).
The analysis of the nurses’ answers to the question "What do you think about the use of benzeção by patients?" revealed the following attitudes towards benzeção: faith-related practice; culture-related practice; a resource that helps in difficult times; respect for religious diversity; a practice that is allied with medical treatment; a practice that is submissive to medical rationality (Figure 1; Box 1).
Figure 1 – Family health team nurses’ attitudes towards benzeção
Box 1 – Subthemes and excerpts illustrating family health team nurses’ attitudes towards benzeção.
The thematic analysis of the interviews identified three categories that are consistent with a study conducted in another municipality in Minas Gerais7: (1) Representations of practice; (2) Health and religiosity/spirituality; (3) Relationship with benzeção. These three categories were divided into two core themes: benzeção in the religious field (Theme I); and the scientific field and the religious field (Theme II). The results of the thematic analysis of the interviews are shown in Box 2.
Box 2. Thematic categories identified in the interviews with FHT nurses, benzedeiras and patients.
The results and discussion section is structured around both the thematic categories identified in the responses to the open-ended question on the form and those identified in the interviews.
BENZEÇÃO IN THE RELIGIOUS FIELD
Representations of practice
Benzeção is dominated by Catholic18,10 women18,10,19 aged between 64 and 80 years. This profile is consistent with that of the benzedeiras participating in this study.
The practice is seen as a family tradition passed down orally19,7 from generation to generation18,7,10,19,20 and as part of Brazilian culture7,18,20. According to some of the interviewees, benzeção is a gift10,7, meaning that not just anybody has the vocation. Benzeção should therefore be free, and no restrictions should be applied to the times a patient is seen7.
It is an action that requires faith from both parties (the benzedeira and the person receiving the blessing). Faith is therefore a fundamental element of benzeção, and is indispensable for achieving results18,21,22,23. Co-participation in the healing process occurs in the form of knowledge exchange, accompanied by dialogue and mutual listening between the caregiver and the cared for18,22, cultivating “affective labor”24, where both parties are affected.
The most commonly used instruments are prayer and plants. The laying on of hands and use of medicinal plants are integrative and complementary practices (ICPs), and are very similar to prayer with the laying on of hands and use of plants by benzedeiras25. Prayer is a form of complementary and alternative medicine and is intrinsically linked to faith, both of which have been related to improvements in physical and mental health18,21,23.
The use of medicinal plants is a popular care resource20 and common practice in the work of benzedeiras, as shown by a qualitative study18 conducted in municipalities in Minas Gerais. Other scholars also mention the use of plants in benzeção18,7,21,20,23,26,27.
According to the Ministry of Health, ICPs “are therapeutic resources that strengthen the care provided by the SUS [Sistema Único de Saúde or Unified Health System, the country\'s public health system] and broaden the population\'s perception of autonomy and self-care”25(s/p). They are therapeutic approaches aimed at disease prevention, health promotion and recovery and focused on active listening, building a therapeutic bond and promoting “a connection between human beings, the environment and society”25(s/p). Access to these practices was formalized by the National Integrative and Complementary Practices Policy (PNPIC, acronym in Portuguese), and they are currently offered mainly in public primary care services25. However, as Teixeira28 points out, benzeção has yet to be included in complementary health policies in the SUS.
The tensions that lie within the institutionalization of ICPs are a sign of the diversity of understanding and knowledge in the field, which includes conflicts between scientific and popular knowledge. The nature of relationships between fields vary from place to place. In Sobral in the state of Ceará, while benzedeiras are not included in the PNPIC, they are considered non-formal health agents who contribute to community engagement, the identification of potential health needs and patient referral26. In health services in some cities and regions they are also regarded as “healing agents”, and benzeção is considered a health resource and popular therapy29, attesting to its recognition as popular knowledge and an integral part of the health care process10.
The role played by benzeção and the reasons people seek this practice vary. Benzeção is commonly sought by parents for their children, with children accounting for the largest share of the demand for these services and some benzedeiras choosing only to bless children30.
How many times have my girls had a scare that changes the wind? The elders say "change the wind", you give them medicine and it doesn\'t work, go and get them blessed, that’ll sort it out. That rash you get now and again, go and get them blessed, that’ll sort it out.(P2)
According to Avelar Filho31, rural communities have their own language that conveys the way rural people express themselves and promote their values and identity. As can be seen in the words of P2, certain expressions are found throughout the narratives of both patients and benzedeiras, such as: espinhela caída (collapsed sternum) = lumbago or lombalgia (back pain); ventre (or vento) virado (upturned tummy) = diarrhea; cobreiro (rash) = herpes zoster; quebranto (or quebrante) = feitiço or bewitchment; mau-olhado (or olho gordo) or evil eye = envy.
In adults, benzeção releases negative energy and is an active listening tool, providing relief and reassurance. People often seek benzeção when they are not sure what is wrong with them and wish to get better. Thus, people may ask to be blessed for either physical, psychological or social reasons32.
THE SCIENTIFIC FIELD AND THE RELIGIOUS FIELD
Health and religiosity/spirituality
This theme highlights the wider relationship between health and religiosity/spirituality, revealing health professionals\' knowledge of and familiarity with the territory on the one hand and mutual respect for religious diversity among professionals (as sometimes different beliefs are not respected by co-workers), the absence of religious discrimination and openness to religious pluralism among peers and patients on the other. The analysis shows that nurses respect patients’ religion and that while the focus in the health center is patient health, there is no religious discrimination when it comes to care and assistance. However, studies have shown the existence of "cordial" discrimination, where certain religious practices are invisibilized and looked down on33.
It is therefore important to respect patients\' beliefs, and health workers should be aware of patients\' religious beliefs, especially when it comes to older patients. The latter often have religious needs, which need to be supported and accommodated ethically and with respect. In this respect, a study emphasizes the importance of considering the influence of religion on care practices and meeting patients’ specific religious needs33.
According to the authors33, individual life experiences and knowledge should not be disregarded by a colonial mindset (conventional medical knowledge) that look downs on, avoids and ignores other unestablished knowledges regarding healthcare, demonstrating a lack of lack of cultural competence. Health equity requires an understanding of the influence of religiosity/spirituality on health care and therapeutic practices33.
Learning to deal with the religious/spiritual dimension comes from practice. The accommodation of religious needs occurs on a day-to-day basis, through active listening during care. There is no preparation to deal with this reality. In addition to the fact that there is no specific training for dealing with religiosity/spirituality, not all health workers are sensitive to these aspects. Evidence shows that addressing patients’ religious/spiritual needs in clinical practice is linked to reduced mortality and improved quality of life and mental health. However, lack of training is an obstacle. These dimensions are not even mentioned in the national medicine curriculum guidelines, showing a lack of openness to religiosity/spirituality in the documents that govern medical knowledge in Brazil32,34.
While not all CHWs are trained to deal with religious/spiritual issues, they hold a significant amount of knowledge about a given territory and deeply identify with the area, having intimate knowledge of the community and their religious and spiritual beliefs. According to a previous study35, despite attempts to characterize CHWs as professionals without technical training, these workers possess a unique identity inclined towards community leadership, social belonging, active listening and building bonds with the community.
It is believed that there is a relationship between health and religiosity/spirituality. Faith, regardless of religion, combined with scientific knowledge, can help. It is not only the patient\'s faith that matters, but also the health worker\'s, since the impact of religiosity/spirituality on health care can affect both parties. Faith may not necessarily provide the cure, but it can ease suffering. As one study suggests, beyond concrete solutions to health problems, there is a hidden human quest for the valorization of subjectivity36.
The pursuit of religiosity/spirituality is a very individual thing. The discovery of an illness sensitizes the individual, encouraging them seek treatment (which may include, for example, benzeção). In limit situations such as palliative cancer care, patients may request spiritual support in tandem with medical treatment, because religion can often provide comfort33.
Finally, according to one of the interviewees, while the biomedical model fails to consider the individual as a holistic being, one of the diagnoses in the Nursing Diagnosis Handbook (NANDA) is impaired spirituality. Despite the handbook, based on their own experiences in their everyday practice, nurses believe that religiosity/spirituality has an impact on health7,33. Nurses make an effort to respect the parallel pursuit of medicine and religiosity/spirituality, always questioning certain potentially harmful practices (for example, herbal baths for infants using picão, a medicinal plant widely used in local communities to treat jaundice in newborns (N1); and the use of herbal teas to treat wounds in adults)29,7,37. P1 explains that it is possible that patients rely on both fields of knowledge without conflict:
Sometimes we go to the doctor looking for a cure to a health problem, but sometimes it\'s spiritual. So we go to the doctor and it doesn\'t go away, and so we go to the benzedeira, and the situation gets better. I think it\'s good to try both options, right? Because you never know where the problem comes from, right? (P1)
Thus, alternative medicine does not seek to question scientific knowledge as knowledge per se, but rather the pathologization, medicalization and commercialization of life. Popular care, like the biomedical model, is just one of an array of healing systems and approaches that can complement each other, without one system imposing an ideology of validity and superiority over the other38. They are complementary in that they can be used together, but the approach to care employed by alternative medicine differs from that of the biomedical model39.
Relationship with benzeção
It\'s important, isn\'t it? Because you seek real medicine, right, but you also seek the resources [that are available] in the area, benzeção, which helps, right? (B6)
The relationship between medical practices and benzeção ranges from conflict to dialogue/complementary practice. Dialogue stands out more and is recurrent in the accounts of the different categories of participants (benzedeiras, nurses and patients), with conflict being mentioned when a popular practice is used as a substitute for medical treatment. In contrast, when the alternative treatment is used as an integrative practice, it is viewed as successful (N8). The nurses believe that integrative practices associated with conventional medicine provide benefits (N8).
A previous study suggests that by emphasizing welcoming and active listening (soft and humanized care technologies) ICPs are accordant with comprehensive care. They can therefore be viewed as both alternative and complementary to conventional treatment40. Despite the implementation of the ICPs and the World Health Organization’s traditional medicine strategy41, a study detected setbacks in the recognition of these practices by medical knowledge18.
The substitution of medical treatment mentioned above is exemplified by patient refusal to take prescribed medication and use the popular pharmacy (N3). When it comes to treating wounds, professionals advise against the use of certain potentially harmful popular practices (N3)29,7,37.
Concerning conflict, interviewees report that people may seek benzeção due to lack of support in health services; “medicine didn\'t sort it out, and benzeção did”; “there are illnesses that aren\'t for doctors”. According to the patients, "spiritual medicine" provides answers that scientific medicine cannot offer (P1), and there are problems, spiritual issues for example, that only benzeção can solve (P4). Medicine and religion are therefore viewed differently, with both fulfilling its own function (P6): there are things that are for medicine and things that are for benzeção (P6). This is consistent with the findings of a previous study7.
Thus, from the patients’ perspective, benzeção goes hand in hand with science (P1), and both fields can dialogue with each other, with the latter dealing with physical issues and the former with issues of the soul or spirit. The health center is there to treat matter and the benzedeira to treat the spirit/soul, as illness may sometimes be linked to the spiritual plane, meaning sometimes medicine alone cannot provide the necessary support. It is therefore important to try on both fronts (the scientific and religious/spiritual), meaning that medicine and benzeção can complement each other, as highlighted by other studies29,7,42,43.
According to B5, seeking both types of knowledge is not a problem since not everything is for the doctor and not everything is for the benzedeira. This reflection illustrates the type of dialogue and communication both types of knowledge establish with patients. This is why health workers need to experience cultural diversity, since culture can influence the type of communication and dialogue established. Lack of interaction with different cultures and languages can lead to conflict and adversely affect adherence to conventional treatment, which adopts a technical and rationalist language44.
Our findings also show that benzedeiras and doctors have a good relationship: “Doctors can\'t solve cobreiro (rash) and send the patient to the benzedeira” (B4). Some doctors do not believe in the work of benzedeiras, while others trust them and refer patients to them (B4)7. In the dialogue between doctors and benzedeiras, the latter show greater interest in contributing to the health system, meaning that the exchange remains one-sided45. The following statement by B4 is insightful: [Benzeção] is a science that even we don\'t really understand, but it works.
Benzeção is seen as a "science" in the sense that it has its own logic and rationale, which somehow work. Benzedeiras therefore hold specific knowledge about illnesses that doctors have no grasp of. On the other hand, when the benzedeira realizes that the person needs to go to the health center, she advises them to go to the doctor (B6), as shown by other studies29,7,45,26. This attitude in turn shows the benzedeira\'s interest in reconciling her popular knowledge and science45.
This alludes to a possible complementary relationship/partnership between the two types of knowledge where, according to health workers and patients, the concurrent use of medicine and religion is seen as a solution rather than a problem. It is believed that they can go hand in hand, as long it does not adversely affect the medical treatment7.
Our findings show the importance of engagement between scientific and popular knowledge. While some problems are "just for medicine", other healing processes go beyond science alone. Medicine and religiosity/spirituality are thus not self-sufficient.
Finally, the health professionals highlight that it is important to consider the patient as a whole: as long as the use of medical resources and benzeção is good for the patient; what matters is the patient’s well-being. It is therefore important that health professionals are aware that popular beliefs and practices can constitute care, making a unique contribution to patients and their families and playing an important role in the promotion of health, wellbeing, support and welcoming22.
In contrast to Bourdieu’s12,13 theory of conflict between fields of knowledge, our findings show that the relationship between the fields in this study is not just one of conflict, but rather dialogue, often being possible to bring them into communication, depending on the ideologies shared by the subjects involved.
From this perspective, the participation of benzeção in health can be seen as an additional resource in the promotion of physical, psychological and social health rather than an obstacle to conventional medical knowledge and practice. In this sense, the central issue is the linkage between religiosity/spirituality and health as a process rather than a product, thinking of religiosity/spirituality and its dialogical engagement with other spheres of life.
Conclusions
Benzeção is a practice performed predominantly by Catholic women. It is a family tradition passed down orally from generation to generation that is part of Brazilian religiosity and popular culture. It is viewed as a gift that cannot be practiced by just anybody. Benzeção is free of charge and no restrictions should be applied to the times a patient is seen. It is an action that requires faith from both parties (the benzedeira and the person receiving the blessing) to work. The most commonly used instruments are prayer and plants.
The relationship between benzeção and conventional medicine ranges from conflict to dialogue/complementary practice. According to the interviewees, the concurrent use of scientific knowledge and popular/religious knowledge is viewed as a solution rather than a problem. Dialogue stands out more and is recurrent in the accounts of the different categories of participants (benzedeiras, nurses and patients), with conflict being mentioned when a popular practice is used as a substitute for medical treatment. Future studies should include professionals who do not use benzeção to explore their perceptions and potential conflicts with the practice.
Benzeção is seen as a field of knowledge in the sense that it has its own logic and rationale, which somehow work, with benzedeiras holding specific knowledge about illnesses that health professionals have no grasp of. The allusion to benzeção as a "science" by one of the study participants underlines the breadth of popular knowledge and the extent to which it can impact care practice. The referral of patients to doctors by benzedeiras and vice versa highlights the bridge between popular knowledge and the scientific field and the permeability of their boundaries.
Dialogue and partnership emerge from a perspective of "lack" or “non-self-sufficiency”, both in benzeção and medicine. Contact between these fields of knowledge gives rise to both conflict and dialogue. The findings show that the openness of the subjects involved in the fields have placed the latter in communication. Thus, while biomedical knowledge and the knowledge of benzeção are different and fulfill specific functions, they can be used in combination in the health-disease-care process.
Funding: This study was supported through a research productivity grant provided by Minas Gerais State University (UEMG) - PQ/UEMG.
References
1. Viana ALA, Pierantoni, CR, Heimann LS, Lima LD, Oliveira RG. Indicadores de monitoramento da implementação do PSF em grandes centros urbanos. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2002.
2. Ministério da Saúde (Brasil). Avaliação da implantação do Programa de Saúde da Família em dez grandes centros urbanos: síntese dos principais resultados. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2002.
3. Ministério da Saúde (Brasil). Saúde da família: uma estratégia para reorientação do modelo assistencial. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 1997.
4. Cecílio LCO, Reis AAC. Apontamentos sobre os desafios (ainda) atuais da atenção básica à saúde. Cad. Saúde Pública. 2018; 34(8):e00056917.
5. Santos M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record; 2003.
6. Minayo MCS. Saúde-doença: Uma concepção popular da Etiologia. Cad Saúde Pública [internet]. 1988 [acesso em 2024 abr 12]; 4(4):363-81. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v4n4/03.pdf.
7. Assunção LM, Querino RA, Rodrigues LR. A benzedura nos territórios da Estratégia Saúde da Família: percepções de trabalhadores, usuários e benzedores. Saúde em Debate [internet]. 2020 [acesso em 2024 mar 05]; 44(126): 752-73. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2020.v44n126/762-773/pt.
8. Chiodi H. Benzedeiras e benzeção podem virar patrimônio imaterial dos mineiros [internet]. Jornal O tempo [internet]. 2024 abril 21 [acesso em 2024 fev 24]. Disponível em: https://www.otempo.com.br/politica/benzedeiras-e-benzecao-podem-virar-patrimonio-imaterial-dos-mineiros-1.3398966.
9. Andrade A de, Gómez JRM. Movimento Aprendizes de Sabedoria (MASA): cartografando processos de r-existência. Campo-Território: revista de geografia agrária [internet]. 2019 [acesso em 2024 out 20]; 14 (33): 129-56. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/article/view/49590/27701
10. Santos Neto EF. O rosário de lágrimas de Nossa Senhora nas mãos de Maria: benzeção e saúde no Brasil contemporâneo. Numen: revista de estudos e pesquisa da religião [internet]. 2021 [acesso em 2024 fev 17]; 24(1):53-65. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/numen/article/view/33834.
11. Opas. Medicinas tradicionais, complementares e integrativas – OPAS / OMS | Organização Pan-Americana da Saúde. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/medicinas-tradicionais-complementares-e-integrativas. Acesso em: 01 jun 2024.
12. Bourdieu, P. Gênese e Estrutura do Campo religioso; Apêndice I: Uma interpretação da teoria da religião de Max Weber p. 27-98. In: A economia das trocas simbólicas Sérgio Miceli (org). 5. Ed. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1999. 361 p.
13. Bourdieu, P. Le champ scientifique. Actes de la Recherche em Sciences Sociales, n. 2/3, jun. 1976, p. 88-104 in Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p. 122-155.
14. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). População [Internet]. 2022. [citado em 31 mai 2024]. Disponível em: https://censo2022.ibge.gov.br/panorama/indicadores.html?localidade=BR
15. Braun V, Clarke V. Thematic analysis: a practical guide. SAGE Publications, 2021.
16. Braun V, Clarke V. One size fits all? What counts as quality practice in (reflexive) thematic analysis? Qual. Res. Psychol. [internet]. 2020 [acesso 2023 nov 21]; 18(3):328–52. Disponível em: https://doi.org/10.1080/14780887.2020.1769238.
17. Conselho Nacional de Saúde (Brasil). Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012. Aprova diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos [Internet]. Brasília, DF: CNS; 2012 [acesso em 2024 abr 12]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
18. Almeida BAD, Borges LCA, Sanders LC, Pereira RL, Vidal CEL. Chá, reza e benzeção: aspectos da medicina tradicional em Minas Gerais. Revista de Ciências da Saúde Básica e Aplicada. 2022; 5(1): 1-15.
19. Hoffmann-Horochovski MT. Benzeduras, garrafadas e costuras: considerações sobre a prática da benzeção. Guaju [internet]. 2015 [acesso em 2024 mai 24]; 1(2):110-26. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/guaju/article/view/45038/27420.
20. Soares NA. Crenças e práticas de saúde no cotidiano de usuários da rede básica de saúde. Rev enferm UERJ [internet]. 2014 [acesso em 2024 fev 07]; 22(1):83-8. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/enfermagemuerj/article/view/11450.
21. Reimer IR, Oliveira EC. Apresentação do dossiê crenças e representações religiosas na cultura contemporânea. Revista Mosaico - Revista de História [internet]. 2018 [acesso em 2024 abr 04]; 11(1):2-4. Disponível em: https://seer.pucgoias.edu.br/index.php/mosaico/article/view/6315.
22. Marin RC, Scorsolini-Comin F. Desfazendo o “mau-olhado”: magia, saúde e desenvolvimento no ofício das benzedeiras. Psicol cienc prof. [internet]. 2017 [acesso em 2024 jan 10]; 37(2): 446-60. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/bKCy6WKB3fb3TbZwWPK7DZw/?lang=pt&format=html.
23. Mota CS, Trad LAB, Villas Boas MJVB. O papel da experiência religiosa no enfrentamento de aflições e problemas de saúde. Interface (Botucatu) [internet]. 2012 [acesso em 2024 mai 24]; 16(42): 665-75. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/54Jb7N7g37pRMrFHjdJdqXp/.
24. Arouca S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão e crítica da Medicina Preventiva. São Paulo: Unesp; 2003.
25. Ministério da Saúde (Brasil). Gabinete do Ministro. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) [Internet]. Brasília, DF: Ministério da Saúde; 2024 [citado em 31 mai 2024]. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/p/pics.
26. Costa EP. Benzedeiras no sistema oficial de saúde do Ceará: relações entre religiosidade e medicina popular [internet]. Dissertação [Mestrado em Ciências da Religião]. São Paulo: Universidade Presbiteriana Mackenzie; 2009 [acesso em 2024 mai 24]. 43 f. Disponível em: http://tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/2534/1/Elizabeth%20Parente%20Costa.pdf
27. Sant’Ana E, Seggiaro D. Benzedeiras & benzeduras. Porto Alegre, RS: Alcance; 2007. 109 p.
28. Teixeira CC. Benzimento: a resistência em forma de cuidado clama por seu espaço nas políticas públicas de saúde integrativa. ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste [internet]. 2022 [acesso em 2024 out. 10]; 9:20. Disponível em: https://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/aceno/article/view/13557
29. Jesien S, Marmitt LP, Meucci RD. Benzeção como recurso em saúde: estudo transversal com idosos moradores de área rural. Rev Saúde Pública [internet]. 2022 [acesso em 2024 mai 12]; 56:72. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rsp/a/9PKWJZf6J8ByWnwRP48VTcQ/?format=html&lang=pt.
30. Feitosa PWG, Maia MAG, Ribeiro NFV, Leite VMBF, Freitas Neta MSB, Pinheiro SFL. “Não, eu só rezo em criança”: Benzedeiras e Construções epistemológicas em saúde no Cariri cearense. Id on Line Rev. Psic. [internet]. 2022 [acesso em 2024 mai 24];16(60):1120-29. Disponível em: https://idonline.emnuvens.com.br/id/article/view/3476/5480.
31. Avelar Filho JN. O folionês: uma variedade de fala na folia da roça vista pela ecolinguística. In: Fargetti CM, Murakawa CAA, Nadin OL, organizadores. Léxico e cultura. Araraquara: Letraria; 2015. p. 25-32.
32. Trofa GC, Germani ACCG, Oliveira JAC, Eluf Neto J. A espiritualidade/religiosidade como desafio ao cuidado integral: aspectos regulatórios na formação médica brasileira. Physis: Revista de Saúde Coletiva [internet]. 2021 [acesso em 2024 jan 30]; 31(4): e310409, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/6dTmDPXz8DDVdNQwHnMZ9kb/?format=pdf&lang=pt.
33. Fernandez JCA, Silva RA, Sacardo DP. Religião e saúde: para transformar ausências em presenças. Saúde Soc. 2018; 27(4):1058-70.
34. Borges MS, Santos MBC, Pinheiro TG. Representações sociais sobre religião e espiritualidade. Rev Bras Enferm. [internet]. 2015 [acesso em 2024 abr 06]; 68(4):609-16. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/wwp6mVznNNfjdKxwDkqHTVK/?lang=pt.
35. Oliveira HM, Carvalho YM. Saber da experiência e cuidado: o impacto das Agentes Comunitárias de Saúde na Saúde Pública. Tempus – Actas de Saúde Coletiva [internet]. 2021 [acesso em 2024 mai 06];15(1): 198-222. Disponível em: https://www.tempus.unb.br/index.php/tempus/article/view/2931.
36. Niel MM, Pereira PPG. Oogun Àṣẹ*: estratégias de cuidado com a saúde no Candomblé em Nova Iorque (EUA). Interface (Botucatu)[internet]. 2019 [acesso em 2024 mai 06]; 23:e180088. Disponível em: https://www.scielo.br/j/icse/a/8r94PCz5zyGKbjhTDQ6PdDM/?format=html&lang=pt.
37. Murakami R, Campos CJG. Religião e saúde mental: desafio de integrar a religiosidade ao cuidado com o paciente. Rev Bras Enferm. [internet]. 2012 [acesso em 2024 mai 06]; 65(2):361-7. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reben/a/tXdvKWGpyYDfKwCWMDHW3ZG/?lang=pt&format=html
38. Oliveira DC, Mendonça MOL. Autoconhecimento e autocura na perspectiva da ginecologia natural: relato de experiência de uma médica de família e comunidade. Rev Bras Med Fam Comunidade [internet]. 2023 [acesso em 2024 jan 10]; 18(45):3853. Disponível em: https://rbmfc.org.br/rbmfc/article/view/3853.
39. Rocha MB, Severo AKS, Silva AVF. Cuidado em Saúde na Umbanda. Psicologia: Ciência e Profissão. 2023; 43(e222817): 1-14.
40. Pereira EC, Souza GC, Schveitzer MC. Práticas Integrativas e Complementares ofertadas pela enfermagem na Atenção Primária à Saúde. Saúde em Debate [internet]. 2022 [acesso em 2024 jan 14]; 46(1):152-64. Disponível em: https://www.scielo.br/j/sdeb/a/yyMJm4f47BCgX6Qwnkk48pJ/?format=pdf&lang=pt.
41. Organización Mundial de la Salud. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional 2014-2023. Ginebra: OMS; 2013. [citado em 23 abr 2020]. Disponível em: https://www.who.int/topics/traditional_medicine/WHO-strategy/es/
42. Dos Santos FV. O ofício das benzedeiras: um estudo sobre práticas terapêuticas e a comunhão de crenças em Cruzeta – RN. Porto Alegre: Cirkula; 2018. 255p.
43. Boehs AE, Ribeiro EM, Grisotti M, Saccol AP, Rumor PCF. A percepção dos profissionais de saúde sobre os cuidados das mães de crianças entre 0 a 6 anos usuárias da Estratégia de Saúde da Familia. Physis [internet]. 2011 [acesso em 2024 jan 21]; 21(3):1005-21. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/physis/v21n3/13.pdf.
44. Cavalcanti AH. Territórios do cuidar: comunicação e memória nas medicinas dos povos tradicionais afro-brasileiros. Reciis – Rev Eletron Comun Inf Inov Saúde [internet]. 2020 [acesso 2024 fev 10];14(3):644-55. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/43713.
45. Medeiros REG, Nascimento EGC, Diniz GMD, Alchieri JC. Na simplicidade a complexidade de um cuidar: a atuação da benzedeira na atenção a saúde da criança. Physis [internet]. 2013 [acesso em 2024 fev 12];23(4):1339-57. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/physis/2013.v23n4/1339-1357/pt.
46. Aguiar LC, Lamy Filho F, Thomaz EB, Cavalcante MC, Rocha HC, Dias NS, Lamy ZC. Utilização do cuidado popular por egressos de unidade de terapia intensiva neonatal. Acta Paul Enferm. [internet]. 2022 [acesso em 2024 jan 30]; 35:eAPE02187. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/TFpGrnnJ9kkTD5RvzH9w7PM/?format=pdf&lang=pt.
Como
Citar
Assunção, L.M, Querino, R.A. CULTURA POPULAR E CUIDADO EM SAÚDE: PRÁTICAS DE BENZEÇÃO EM TERRITÓRIOS ATENDIDOS POR EQUIPES SAÚDE DA FAMÍLIA. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/dez). [Citado em 02/04/2025].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/cultura-popular-e-cuidado-em-saude-praticas-de-benzecao-em-territorios-atendidos-por-equipes-saude-da-familia/19449?id=19449