EN PT

Artigos

0289/2025 - Sexualidade e prevenção do HIV” em jogo: diálogos entre adolescentes de uma escola pública no Rio de Janeiro, Brasil.
“Sexuality and HIV prevention” at stake: dialogues between adolescents at a public school in Rio de Janeiro, Brazil.

Autor:

• Adriana Kelly Santos - Santos, A.K - <akellybj@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6606-0020

Coautor(es):

• Iaralyz Fernandes Farias - Farias, IF - <iaralyzff@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2515-612X



Resumo:

Esta pesquisa qualitativa, realizada entre 2015 e 2018, corrobora com as iniciativas de comunicação e educação sobre prevenção do HIV. Com a perspectiva intersetorial e territorial, o estudo pretende descrever a metodologia empregada na produção compartilhada de um jogo de imagens, com 36 cartas e regras de jogabilidade, construído com estudantes do curso de formação de professores das séries iniciais, de uma escola pública de Ensino Médio, situada no Rio de Janeiro, Brasil. Igualmente, busca discutir como eles/as significam as relações entre sexualidade, saúde e prevenção do HIV. O método da problematização freireana orientou a observação direta e as intervenções no cotidiano escolar. Foram discutidos temas de interesse dos/as jovens: estratégias de “desconstruções” da perspectiva biomédica-prescritiva e heteronormativa, hegemônica nos discursos sobre a sexualidade e prevenção ao HIV; preservativo feminino; significados das terminologias soropositivo para o HIV, sorodiferentes e carga viral (CD4e CD8); testagem; PrEP e PEP; tratamento e efeitos colaterais medicamentoso. Conclui-se que a metodologia adotada viabilizou a educação entre e por pares e a criação do jogo “Sexualidade e prevenção do HIV”, de modo contextualizado e interativo.

Palavras-chave:

Adolescentes, Comunicação e Educação em Saúde, Sexualidade, Prevenção do HIV.

Abstract:

This qualitative research, carried out between 2015 and 2018, corroborates communication and education initiatives on HIV prevention. With an intersectoral and territorial perspective, the study aims to describe the methodology used in the shared production of an image game, with 36 cards and gameplay rules, built with students from the teacher training course for the initial grades, from a public high school, located in Rio de Janeiro, Brazil. It also aims to discuss how they understand the relationship between sexuality, health and HIV prevention. The Freirean problematization method guided direct observation and interventions in everyday school life. Topics of interest to young people were discussed: strategies for “deconstructing” the biomedical-prescriptive and heteronormative perspective, hegemonic in discourses on sexuality and HIV prevention; female condoms; meanings of the terms HIV-positive, serodifferent and viral load (CD4 and CD8); testing; PrEP and PEP; drug treatment and side effects. The conclusion is that the methodology adopted enabled peer-to-peer education and the creation of the game “Sexuality and HIV prevention”, in a contextualized and interactive way.

Keywords:

Adolescents, Communication and Health Education, Sexuality, HIV Prevention.

Conteúdo:

PISTAS INICIAIS, COMEÇANDO O JOGO
Evocamos as palavras de Renato Russo que diz na canção Índios: “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”, não apenas pelo brilhantismo do poeta que marcou a juventude dos anos de 1980 e 1990 e de sua luta contra a Aids, também para, a partir desta memória, mirarmos o espelho da atualidade que nos mostra a juvenilização do Human Immunodeficiency Virus (HIV) no Brasil1. Apesar dos avanços das biotecnologias de prevenção ofertadas no Sistema Único de Saúde (SUS)2, ao compararmos os anos de 2020 e 2022, o número de casos de infecção pelo HIV aumentou 17,2%, entre estes 114.593 (23,4%) casos na faixa-etária entre 15 e 24 anos3. Frente a esta realidade, alarmante, ainda teremos chance de desdizer o poeta?
Esta provocação permeou o estudo das inter-relações entre sexualidade e prevenção do HIV junto a estudantes do ensino médio da rede pública na cidade do Rio de Janeiro, tendo como base a produção compartilhada de um jogo de imagens sobre esses temas. O estudo, ao articular as áreas da Educação e da Saúde, reitera a relevância de parcerias interinstitucionais e intersetoriais envolvendo adolescentes/jovens, profissionais dessas áreas, representantes da sociedade civil organizada e da comunidade acadêmica na agenda da prevenção ao HIV4,5,6.
Com esse olhar, neste artigo, partimos da premissa de que a interação com e entre adolescentes/jovens é central para o entendimento das gramáticas e experiências relativas à sexualidade e à prevenção do HIV na juventude, atentando-se aos marcadores intersecionais como determinantes à epidemia do HIV 4,5,6,7,8. Conforme nos ensina Foucault9, a experiência é qualquer coisa que nos transforma, e a partir dela é possível modificar o que se pensa e o que se é. O transformar a si também implica em mudanças no modo de interagir com o outro e, nesta intersubjetividade, a atenção à circularidade dos sentidos - ao que é dito e/ou silenciado - permite o acesso às práticas forjadas nesse processo ético-estético9. Desta feita, este artigo, descreve o itinerário metodológico empregado na elaboração compartilhada do jogo de imagens “Sexualidade e prevenção do HIV”; e apresenta a análise das interações com os/as adolescentes, narrando como a partir de suas experiências, individuais e coletivas, eles/as constroem as gramáticas acerca da sexualidade e prevenção do HIV.

PERCURSOS METODOLÓGICOS: DIÁLOGOS E BRICOLAGENS
Antecedentes da pesquisa: descobertas e consequências
Este estudo de caso, apresenta uma pesquisa-intervenção ocorrida entre 2015 e 2018 que, alicerçada na análise da micropolítica das práticas socioculturais10;11, investigou as interrelações sobre sexualidade, saúde e prevenção do HIV entre jovens matriculados no ensino médio público. Antecede este estudo a pesquisa, coordenada pela primeira autora entre 2011 e 2015, que averiguou os sentidos da prevenção do HIV/Aids presentes em 590 materiais educativos (cartilhas, cartazes, folhetos, etc) produzidos no âmbito do SUS e por entidades da sociedade civil organizada.
Dentre estes materiais, apenas 18 deles destinavam-se aos adolescentes/jovens, a maioria das mensagens reiteravam o discurso biomédico na abordagem da prevenção (“Use Camisinha”), assim como na referência à adolescência e ao adolescente. Em termos da prevenção do HIV, endossavam o uso de preservativos (masculino e feminino) e a prevenção combinada (PC), essa última, em menor ocorrência. Convergindo com essa evidência, estudos indicam que a comunicação sobre a PC na juventude é diminuta e representa um desafio1,6;12;13.
Quanto aos discursos sobre a adolescência, essa era associada a uma “fase da vida”, a “mudanças hormonais” e às “diferenças anatômicas” entre os sexos; já o adolescente era representado como “rebelde”, “imaturo” ou “desprovido de conhecimento”, em relação ao seu corpo, à sexualidade ou às tecnologias de prevenção. Contrapondo a essa semiose, de modo mais raro, circulavam mensagens vinculadas às perspectivas da saúde sexual e reprodutiva e aos estudos sobre gênero, aludindo à concepção da adolescência e do adolescente como uma construção social. Este, considerado “sujeito” com “direitos e deveres”, de “orientação sexual” e “identidade de gênero” distintas, sendo “capaz de refletir” sobre “desejos”, “atitudes e comportamentos”, e aquela como uma “fase de transformação”, “descobertas” e de “responsabilidade”.
Essas evidências, discursivas e pragmáticas, justificaram a definição do objeto do estudo e fundamentaram a decisão de estar com os/as adolescentes para conhecer suas histórias de vida e compreender como eles/as significavam as relações entre saúde, sexualidade e prevenção ao HIV. Nesse diálogo, se averiguaria a correspondência entre os aspectos identificados nos materiais educativos supracitados e as experiências dos jovens, e se produziria coletivamente um material comunicativo destinado a adolescentes. Tal escolha metodológica ganhou força frente à descoberta do jogo Dixit, do latim: “Ele disse”. Comercializado pela empresa Galápagos, o jogo envolve raciocínio, criatividade, estratégia, adivinhação e convida o jogador a narrar uma história, sem ser muito óbvia, a partir de uma carta. As cartas, por sua beleza estética surrealista, transportam o jogador ao mundo onírico e o convoca a interpretar as ilustrações a seu modo. O encontro com o Dixit, nos fez pensar: estaria ali a chave para problematizar os jogos de verdades9p:276 (“conjunto de regras de produção da verdade”) que alicerçavam as percepções dos adolescentes sobre as dimensões socioculturais, intersubjetivas e biológicas envolvidas nas intersecções entre sexualidade e prevenção do HIV?

Territórios geográficos e interacionais
No rastro dessa ideia, no início de 2015, a partir de nossa rede pessoal, conhecemos uma escola estadual, localizada na região central do município do Rio de Janeiro, que oferecia o ensino médio para adultos, no horário noturno, e o curso de formação de professores para as séries iniciais (alfabetização e básico) no horário integral. A localização do colégio corroborava para a maior diversidade sociocultural, essa expressa no ingresso de alunos oriundos de diversos bairros do município e de cidades da região metropolitana, e na presença de pessoas de diferentes cores de pele, identidades de gênero e de classe social (baixa e média); atributos que determinaram a escolha deste território como local de estudo.
Na escola existiam diversas pesquisas na área da saúde, o que em certa medida facilitou a recepção do estudo, embora era nítida a resistência em acolher “mais uma pesquisa”. Isto se devia à percepção de que alguns/as pesquisadores/as “usavam” a escola como parte de seus projetos (extensão/pesquisa), sem, contudo, se implicarem com as demandas escolares. Frente à questão, em conversa com a diretora, problematizamos as bases conceituais e metodológicas do estudo argumentando nossa perspectiva de que a pesquisa é uma experiência em que os sujeitos intervêm no cotidiano estudado, ou seja, uma ação política pautada na reciprocidade e respeito à alteridade9,10,11,14.
Enfrentado esse percalço metodológico, após a aprovação do projeto por instâncias responsáveis, em setembro de 2015, começamos a observação etnográfica, ancorada nos estudos de gênero15 e nas análises das relações de saber-poder9(Quadro 1). Esta etapa, transversal ao estudo, perdurou até 2018, consistindo na observação do cotidiano escolar, na definição dos participantes do estudo e no mapeamento dos discursos e percepções sobre sexualidade e prevenção ao HIV/Aids. Inicialmente, interagimos com representantes da gestão escolar (diretora, inspetora de alunos, coordenadora pedagógica), professores e alunos dos cursos de formação de professores e do ensino médio regular vislumbrando definir o perfil dos participantes do estudo. Observou-se que os integrantes do curso de formação de professores expressaram maior receptividade e disponibilidade para participar da pesquisa, aliado a esse fato, este grupo era constituído por adolescentes, público de interesse do estudo. Ademais, este curso abrigava projetos extraclasse circunscritos ao nosso objeto, a exemplo do “Papo de Jovem (PPJ)” (nome fictício), que discutia diversidade e equidade de gênero, racismo, intolerância religiosa e discriminação.
À luz dessas descobertas, convidamos para participar das etapas da observação e da Oficina um professor de Biologia e uma professora de História, ambos coordenadores do projeto PPJ, com idade entre 50 e 55 anos, primeiro se autorreferiu negro e gay, a segunda mulher cis e branca. Além deles, contamos com a presença de 30 alunos de uma das turmas do 2º e do 3º ano, total de 60 discentes, e 20 integrantes do PPJ, com idade entre 16 e 18 anos, de diferentes identidades de gênero/ orientação sexual, classe social, cores de pele e crença religiosa. Os alunos do PPJ também atuavam como multiplicadores no Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (PSE), ainda em curso na escola. À época, pós o golpe político que destituiu a presidenta Dilma Rousseff (2016), era nítido o desinvestimento no PSE e o avanço de uma agenda refratária ao debate de gênero nas escolas, inclusive no âmbito das ações de prevenção do HIV1,16.
Em continuidade à etapa de observação, conhecemos os recintos do prédio de quatro andares de modo a capturar as nuances desse cenário e as relações ali construídas. Concomitantemente, a leitura do projeto político pedagógico e da matriz curricular, aliada à participação nas atividades extraclasses, possibilitaram identificar a frequência e em que situações o tema sexualidade e prevenção ao HIV/Aids circulavam e sob qual perspectiva. Esta estratégia nos permitiu, acessar os discursos, saberes e práticas atinentes a essas temáticas, igualmente nos fez explorar os territórios institucionais e relacionais17 e, descortinar o olhar “idealizado dos pesquisadores” que pouco entendiam sobre as dinâmicas desse novo ambiente.
As descobertas provenientes das observações sedimentaram o caminho para a Oficina Sexualidade, Saúde e Prevenção do HIV que aconteceu durante 2016 e 2018 nas instalações da escola, em dias e horários previamente estabelecidos. Em 2016, iniciamos a Oficina com encontros semanais, durante a disciplina de Biologia ou após o horário das aulas, com a participação, em média, de 80 alunos e dois docentes que integraram a etapa da observação. Em 2017 e 2018, os encontros foram quinzenais com o mesmo grupo de alunos e professores, além dos convidados: uma enfermeira, cis hetero, branca, servidora pública federal que atua no cuidado a crianças e adolescentes que vivem com HIV, uma psicanalista e escritora, cis hetero e branca, um ativista que vive com HIV, homem gay e branco.
Nas atividades da Oficina, a partir do método problematizador de Freire14, discutiram-se os aspectos subjetivos, socioculturais e biomédicos concernentes à sexualidade e prevenção do HIV/Aids. Numa ambiência inventiva e interativa, usando diferentes formas de comunicação (cartas, bilhetes, jogos, textos narrativos, rodas de conversa, desenhos, músicas), identificamos os temas-geradores, acessamos as biografias dos adolescentes (percepções, conhecimentos, curiosidades, crenças, atitudes, afetos) e construímos um espaço de educação emancipatória14,17,18 (Quadro 2). À luz dessa reflexividade, em 2018, elaboramos as imagens das cartas e as regras de jogabilidade, as quais foram validadas por 40 alunos de uma das turmas do 3º ano e 20 do PPJ que participaram da Oficina e, 30 alunos de uma das turmas do 1ºano que não conheciam o jogo (Quadros 3 e 4). Esse processo resultou no jogo Sexualidade e Prevenção do HIV, com 36 cartas e as regras de jogabilidade. O percurso metodológico, ora descrito, permite a replicação do estudo em escolas e unidades de saúde estimulando a prevenção do HIV/Aids na juventude.
As informações foram registradas no caderno de campo, para este artigo, procedemos a leitura transversal destes registros e a análise enunciativa11;19, identificando-se os enunciados, expressões e frases e, posteriormente, agrupando as categorias empíricas segundo as regularidades e raridades discursivas, a saber: tornar-se adolescente, sexo-sexualidade, diversidade de gênero, prevenção do HIV. A seção Sexualidade e prevenção do HIV: intersecções e intervenções, discute a circularidade e a apropriação dessas categorias no contexto escolar. As falas dos interlocutores aparecem sinalizadas por siglas, indicando-se a posição social, seguida do número de inserção na pesquisa - A:1 adolescente; P:1 professor, M:1, mãe.

SEXUALIDADE E PREVENÇÃO DO HIV EM JOGO: INTERSECÇÕES E INTERVENÇÕES
A escola: institucionalidades, saberes e poderes
A Escola Formação de Professores – EFP (nome fictício) ocupa um lugar de vanguarda na formação de professores das séries iniciais, o antigo magistério, desde sua criação na década de 1960, na ditadura cívico-militar brasileira. A arquitetura modesta abrigava a história deste território vinculando presente-passado. No corredor do 1º andar se destacavam as memórias de sua fundação - quadros com fotografias da 1ª turma de normalistas e de premiações recebidas, além da placa comemorativa dos 50 anos da EFP com os dizeres: “Ética humanista, autodisciplina, solidariedade, respeito aos limites necessários à boa convivência social, compromisso com uma educação pública, gratuita e de qualidade, respeito à diversidade cultural”.
Essa memória institucional era reatualizada no projeto político pedagógico e, com certa frequência, o discurso humanístico era ratificado nas falas dos profissionais, estudantes e seus familiares referindo-se à escola como uma "segunda casa". Esta expressão nativa, por um lado, denotava a experiência de pertencimento àquele cotidiano; por outro, incutia nas entrelinhas o papel do Estado-família no controle dos corpos nos espaços sociais. Na modernidade, o Estado instaurou, gradativamente, medidas educacionais, higiênicas e morais com o intuito de governar os saberes sobre a infância e a juventude, deslocando a centralidade da instituição família na tarefa de “educar” e “cuidar” das crianças e jovens20.
Essa percepção engendrava, ao mesmo tempo, valores humanitários, morais e disciplinares na formação dos jovens e, por vezes, a "segunda casa" era comparada a um "quartel". Na cerimônia cívica de “incorporação” de novos alunos, ritual semelhante à "condecoração militar", os alunos trajavam uniforme de gala com o distintivo da EFP, hasteavam as bandeiras do Brasil, do Estado e da Escola cantando os respectivos hinos e os alunos do 3º ano transmitiam o distintivo aos novatos. A “receptividade encenada” era vista pelos jovens como “protocolar”, isto porque a violência dos trotes aos novatos e a rigidez nas relações cotidianas revelavam a hostilidade e o pouco acolhimento institucional. Essa experiência visibiliza o poder disciplinar da escola e seu potencial de reproduzir desigualdades16,20,21.
Era nesse contexto, permeado por diferentes lógicas e modos de vida, que os adolescentes passavam o dia imersos numa intensa programação de aulas, atividades esportivas, culturais e alguns momentos de descanso. Para eles/as essa rotina "disciplinar" gerava um clima de animosidade e dificultava o engajamento às atividades propostas. Para driblar tal controle, os jovens colocavam seus corpos em movimento e agenciavam seus afetos, criando modos de existência: nas quadras e corredores, muitos deles ficavam vidrados nos celulares, enquanto outros comiam guloseimas, dançavam, grafitavam ou cochilavam. Os namoros eram frequentes, uma menina beijava o crush, outra abraçava sua companheira e um garoto acariciava o namorado, porém volta e meia, a inspetora de alunos separava as "duplas", mas findada a abordagem, os casais retomavam as carícias.
No diálogo com a inspetora, descobrimos que a expressão "duplas" se referia aos casais homoafetivos. Tal eufemismo visibilizava as gramáticas inscritas nesse território e indicava formas sutis de discriminação e preconceitos16,21. Os jovens que se autorreferiram gays, bissexual e lésbica, não raramente, mencionavam o sentimento de “rejeição” e “desigualdade” por parte de outros estudantes e profissionais da escola, ainda que em minoria. O ambiente “heteronormatizador, controlador e disciplinador”21,p.2, somado a algumas práticas hostis e LGBTfóbicos tem impactado negativamente na subjetividade dos jovens, causando prejuízos a suas vidas 16,21.
O discurso heteronormativo15, naturalizado em nossa cultura, modulava a organização do espaço escolar, a exemplo da clássica divisão dos banheiros segundo o sexo. Entretanto, essa regra nem sempre era respeitada, por conta dos banheiros danificados ou falta de água na escola exigindo que meninos e meninas frequentassem o mesmo espaço; ou por “vontade” dos estudantes - quando o banheiro era usado para “namorar”. Para os/as jovens, a lógica binária, dominante na EFP, desconsiderava outras identidades de gênero e restringia o direito de igualdade. À época, na EFP era debatida a normativa governamental22 que contemplava o direito “ao uso de banheiros, vestiários e demais espaços segregados por gênero, quando houver, de acordo com a identidade de gênero de cada sujeito” (art. 6º)p2; e no art. 7° enfatizava que: “Caso haja distinções quanto ao uso de uniformes e demais elementos de indumentária, deve ser facultado o uso de vestimentas conforme a identidade de gênero de cada sujeito” p2. Apesar da relevância desta medida, nenhuma intervenção aconteceu na arquitetura do ambiente escolar, em certo modo, tal resistência perpetua as práticas de segregação dos corpos considerados “desviantes” e os discursos edificados na moral sexual cristã9,15.
O uniforme, de estilo da década de 1960, reiterava este enquadramento - meninas vestiam saia plissada azul, ainda que ocasionalmente era facultado o uso de calça comprida, enquanto os meninos vestiam calça de brim azul, e ambos trajavam camisa branca com a logo da EFP. A tentativa de homogeneizar os corpos e apagar a diversidade de gênero não passava desapercebida, as meninas, frequentemente, questionavam seus trajes dizendo “não gostar de usar saias” e sentirem “insegurança” em virtude de “elogios” machistas recebidos no trajeto casa-escola e vice-versa. A determinação de como se vestir e se comportar ou que ambientes frequentar, definia um conjunto de regras e procedimentos de produção da verdade sobre o sexo-gênero-sexualidade no cotidiano escolar9,13,15,16,20. Em última instância, criava gramáticas que geram interditos aos corpos que, corajosamente, biografam suas existências, lutando contra as iniquidades de gênero 16,21.
A sociabilidade também era construída por identificações afetivas e atravessada pelo enquadramento heteronormativo, como a clássica divisão em grupos de “meninos” e “meninas”. Era perceptível a constituição de grupos que se vinculavam por proximidade religiosa prevalecendo a referência à prática católica ou evangélica; já a proximidade por cor de pele e classe social não fora anunciada tampouco aprofundada, sendo um limite do estudo. Entre os jovens do PPJ era nítida a organização por “grupinhos”, todavia acolhendo-se a diversidade de gênero, raça e de religião. Ali, o diálogo sobre esses assuntos fluía de modo menos tenso, a exemplo, de ações contra homofobia e intolerância religiosa lideradas por uma aluna que se autorreferia como uma mulher negra, cisgênero e umbandista, e por um aluno católico, homem gay e branco. Entre os estudantes que não participavam do PPJ, quando indagados sobre a relação entre sexualidade, religião e prevenção do HIV, evitavam se posicionar. Tais assuntos mobilizavam resistências, devido a isto, vários estudantes se recusavam a participar do estudo. Apesar desse silenciamento, nas atividades de campo seguimos atentas aos “nós” interseccionais no cotidiano escolar7,8,12,16,21.
Os discursos sobre sexualidade, prevenção do HIV, religião e racismo, entremeados por perspectivas conservadoras e progressistas, circulavam nos projetos PPJ e Gravidez na Adolescência, nas atividades extraclasse e eventos culturais (Quadro 1). Na disciplina de Biologia, oferecida no 2º ano, abordavam-se os conteúdos: sexualidade e sexo, reprodução, gravidez e métodos contraceptivos, genética, diversidade e sexo biológico, prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), vida sustentável. Predominava o ensino da educação sexual, sob viés da moral-cristã, o que pode “reforçar o caráter perigoso da sexualidade” 16, p.8 e minimizar as dimensões subjetivas e socioculturais intrínsecas aos saberes sobre o sexo-sexualidade17,21.
Nos corredores da EFP, murais e cartazes divulgavam informações contra o racismo, em defesa da tolerância religiosa e da diversidade de gênero. No acesso ao 2º andar, se avistava um belo desenho do rosto humano contemplando a diversidade de gênero, em um dos muros da quadra de esportes, a pintura de uma mulher ornamentava os sentidos do feminino, noutro se avistava um grafite com a caricatura de um homem vestido de terno azul batendo com um livro em um casal de meninos gays. Algumas destas cenas integraram as cartas do jogo (Quadros 4 e 5).
Este grafite gerou polêmica entre os profissionais, alunos e pais. Um professor dizia: "a escola não pode estimular a violência", outro reiterava "isso é preconceito com as religiões evangélicas"; outra professora problematizava "esse trabalho mostra o que acontece na realidade e esse é nosso papel: o de formar cidadãos". Em acordo com essa opinião, outro professor disse: "as imagens expressam um trabalho feito pelos alunos, o que eles vivenciam, aprendem e consideram importante dizer". Quando perguntamos ao professor do PPJ sobre o feito, ele enfatizou: "a saída foi colocar uma interrogação no livro, e, deixar que cada um construa sua interpretação". Tal controvérsia desvela a necessidade de romper os “silenciamentos”, “violências” e “segregações" circunscritas ao dispositivo sexualidade-gênero-religião e evidencia a relevância deste debate na agenda da prevenção ao HIV 8;12.
A conjuntura política do país, entre 2017 e 2018, refletia as raízes desses acontecimentos. Neste período, o então deputado Jair Messias Bolsonaro, do Partido Liberal (PL), com o lema “Deus, Pátria e Família” liderava a corrida à Presidência da República. Outrossim, sua campanha endossava a artificiosa pauta da “ideologia de gênero”13,16,21 que, orquestrada pelo movimento Escola sem Partido21, propunha a retirada dos conteúdos de gênero e sexualidade do currículo do Ensino Médio e o retorno compulsório do ensino religioso. Esta agenda messiânica era fortalecida por discursos conservadores que acirravam a ideia da centralidade da família no diálogo sobre a sexualidade com os adolescentes12. No âmbito das políticas de prevenção ao HIV/Aids, efetivava-se o progressivo desinvestimento de campanhas, inclusive retirando da esfera pública as cartilhas que abordavam a saúde sexual e reprodutiva13, além da falta de testes e medicamentos no SUS1,2,4,. Enfim, como nos advertira o poeta, será que “vimos um mundo doente”?

Adolescência, sexualidade, normas de gênero e prevenção do HIV: (des)construções
O contexto institucional e sócio-político atravessava as experiências dos estudantes influenciando no modo como significavam a adolescência e as relações entre sexualidade-normas de gênero. Para os jovens, apesar de muitas vezes se sentirem tratados como “crianças”, a adolescência era reconhecida como um momento de "independência" e "responsabilidade", bem como de “descobertas”, “incertezas” e “mudanças” em relação às escolhas profissionais ou às experiências afetivo-sexuais. Tal reflexão, posta por outros estudiosos1,16,21, 23, desconstrói as práticas socioculturais que infantilizam ou desqualificam a adolescência e o adolescente e nos faz indagar: em que medida os espaços institucionais (escolas e unidades de saúde) criam condições para uma escuta ativa e atenta às subjetividades em jogo na adolescência?
Nas interações com os/as adolescentes, sustentamos a escuta ativa, acolhendo os afetos e emoções manifestadas, principalmente diante de temas considerados sensíveis como o da sexualidade, uma vez que as mudanças psicológicas, físicas e nas relações sociais vividas na adolescência incidem nas decisões sobre saúde sexual23. Por isso, é crucial o diálogo aberto e franco sobre sexualidade9, como nos disse uma jovem - "sexualidade é ser, é essência, é o ser humano, é vida e precisamos falar sobre isso e quebrar esse tabu! (A-11,16 anos)”. Outra jovem enfatizou que o assunto flui melhor entre amigos do que com os pais, afirmando: “é muito difícil conversar sobre sexo com a minha família (A-27, 15 anos)”; e por uma mãe entrevistada durante o “Sábado Solidário”: “Não é por ser homem ou mulher, é coisa de jeito. Tenho dois filhos, e o menino prefere conversar sobre esse assunto com o irmão mais velho dele (M, 2)”.
Para estudantes e pais, a escola mediava o diálogo sobre educação sexual contribuindo para ultrapassar essa barreira comunicativa. A escola, mesmo com as hierarquias disciplinares, ainda é um espaço estratégico para problematizar os discursos que negligenciam ou silenciam as relações entre saúde sexual e reprodutiva, diversidade de gênero e prevenção do HIV6,12,16,17,21. Igualmente, potencializa o desenvolvimento da educação entre pares de modo a amplificar este debate17,18.
Em acordo com a literatura especializada1,12,16,18, constatamos que a iniciação sexual continua despertando curiosidades entre adolescentes e orientando as intervenções técnico-científicas relativas à saúde sexual e reprodutiva. Apesar dos adolescentes parecerem empoderados e seguros de suas escolhas, na prática, a iniciação das experiências sexuais aumentava a “pressão interna” e os “conflitos”. Algumas jovens expressaram “vergonha”, “pudor” e “medo”, uma delas nos disse: "para a mulher, as coisas são mais escondidas e será que isso tem a ver com seu corpo? (A-30,16 anos)”. Outra narrativa feminina endossava a percepção do controle do corpo da mulher22: “a gente se priva do conhecimento do próprio corpo por conta de regras sociais sobre o que é certo e o que é errado, o que é ser homem e o que é ser mulher. Não é mole” (A-23, 17 anos).
Para eles/as os discursos moralistas e reducionistas, associando a descoberta sexual feminina apenas ao “rompimento de uma pele”, cristalizam os “preconceitos concernentes à virgindade”. Nesta toada, eles/as seguiam decifrando os padrões hegemônicos de masculinidade22, em que o “homem deve perder a virgindade o mais cedo possível como prova de sua virilidade” (A-28, 18 anos) e de que a “mulher pode retardar tal decisão”, no sentido de “se guardar para o futuro marido” (A-03, 16 anos). Estes discursos, reconhecidos por eles/as como machistas, se contrapunham ao que buscavam em suas experiências afetivo-amorosas. A desconstrução dos estereótipos das normas de gênero permanece tencionando o modo como os/as jovens significam seus corpos, seus desejos e sua sexualidade16,21,22,23.
Nesse fio discursivo, a conversa em torno da identidade de gênero e orientação sexual produzia ressonâncias, para alguns adolescentes “classificar” uma pessoa como “gay, lésbica ou cisgênero” significava normatizar a sexualidade. Para outros, a experiência de manifestar sua orientação sexual – “gay”, “lésbica” e “bissexual” era vista como uma positividade, porém, encontramos relatos de “insegurança e medo frente à essa descoberta” (A-05,16 anos). O desconhecimento de como as práticas sexuais acontecem, entre cis heterossexuais ou entre as pessoas do mesmo sexo, ancorava “tabus” e “equívocos”. Comprovamos que o dispositivo sexo-gênero-sexualidade, na atualidade, configura novos regimes, gramáticas e significações, como enfatizado por Paiva13 e Carrara,15.
Os discursos sobre o risco de gravidez seguem no centro das preocupações gerando “medo”, proliferando a ideia de “abstinência sexual ou de interdições ao sexo”, e com frequência, a gravidez aparece associada à “interrupção dos estudos”, à “falta de apoio familiar” e do “parceiro”. Evidências afirmam a recorrência dessa percepção entre jovens1,12,21 e enfatizam que a gravidez na adolescência é uma situação vulnerabilizadora24, por isso, a “acuidade, competência teórica e técnica” são indispensáveis no trato deste assunto17.
As percepções de risco de gravidez apareciam vinculadas aos discursos do sexo seguro e da prevenção do HIV, sob o enfoque biomédico e sociocultural12,16. Uma das intervenções do PPJ dispunha, na entrada da EFP, um display com preservativos masculinos e femininos, e ao lado um cartaz com mensagens “Previna-se contra o HIV: use camisinha”. Nos corredores do 2º andar se avistavam cartazes de Campanhas de Aids, um deles com a fotografia de jovens gays se abraçando e segurando uma camisinha. Noutro cartaz, a cantora Kelly Key, adolescente que encantava a juventude com o hit Baba Baby, sensualizava a camisinha e segurando-a na boca dizia: “Mostre que você cresceu. Neste carnaval, use camisinha". A mensagem remetia, implicitamente, à estrofe “baba a criança cresceu” convocando o jovem à responsabilidade e à adesão ao sexo seguro e prevenção de HIV. Na Oficina, a análise dessas peças publicitárias pelos adolescentes mobilizou o diálogo sobre educação sexual e autocuidado, revelando o potencial deste tipo de metodologia nas práticas educativas13;19.
Entre fluídos, segredos e desejos, a dimensão subjetiva modulava as práticas de sexo seguro e da prevenção do HIV, muitos adolescentes relatavam que usar o preservativo “cortava o clima” e o “prazer”. Na trilha do prazer-desprazer, a confiança no parceiro balizava a prática do sexo (in)seguro. Muitos adolescentes, apesar de cientes do risco de ISTs e de gravidez, narravam: “na verdade a gente só transa [sem camisinha] com quem a gente gosta e confia" (A-02, 17 anos). Um dos professores reafirmou esse pensamento: “muitos [jovens] usam a camisinha no início do relacionamento, mas com o tempo, quando já confiam no parceiro, eles abrem mão dessa proteção”.
O sexo desprotegido estava relacionado às normas de gênero na visão de uma adolescente, pois segundo ela, “as meninas fazem sexo sem camisinha para agradar o parceiro" (A-31, 18 anos); outras já associavam esta situação à "falta de amor próprio", à "insegurança" e ao "medo". Um grupo minoritário, expressou que o sexo desprotegido teria relação com o “desejo de constituir uma família”, embora alguns adolescentes admitissem que esse assunto nem sempre era dito no momento da “negociação” do uso do preservativo. Em termos do uso do preservativo prevalecia a escolha pela camisinha masculina, tendo em vista que parte considerável das adolescentes desconheciam a “camisinha feminina”, e entre aquelas que conheciam, diziam “ter pouca familiaridade”, relatando que era "incômoda", "horrorosa", "desconcentrava". Apesar do maior quantitativo de mulheres na EFP, observamos que o preservativo feminino ainda era pouco distribuído na escola, sendo justificado a dificuldade de obtê-los no SUS.
Apesar das iniciativas de prevenção do HIV na EFP notamos que o assunto ainda era visto como um tema sensível e por vezes silenciado. Muitos estudantes relatavam “vergonha de falar com professores e pais”, preferindo conversar com amigos ou profissionais de saúde:
“A maioria dos jovens tem receio de contar para os pais que teve uma relação sexual e, quando descobre que tem uma doença, cresce muito mais esse receio. Então ninguém fala, vejo que é proibido ter HIV, é proibido você fazer sexo. Até que isso tem se quebrado, mas é o que está, vamos dizer assim, nas grandes famílias tradicionais” (A-25, 17anos).
Os sentidos transmissão-prevenção do HIV apareciam vinculados, sendo unânime o reconhecimento de que “usar camisinha é a melhor forma de se prevenir do HIV e de outras ISTs, além de gravidez” (A-09, 18 anos), convergindo com outras evidências científicas 1,12,13,21,23,24. Também conheciam a “contaminação” por compartilhamento de seringas e transmissão vertical, essa última foi mais enfatizada pelos estudantes do PPJ. Outros assuntos também mobilizavam curiosidades, a saber: diferenças entre as terminologias soropositivo para o HIV, sorodiscordantes e sorodiferentes; significados de carga viral (CD4e CD8); testagem; PrEP, PEP e PC; efeitos colaterais medicamentosos. Estudantes afirmaram que o pouco conhecimento ou o desconhecimento sobre PrEP, PEP e PC está relacionado às barreiras de acesso aos serviços, ao desinvestimento nas ações de comunicação de massa e no nível comunitário; percepção comum em outras realidades 13,21,23. Estudos indicam que a ausência da representação de adolescentes nos anúncios das campanhas pode despertar a ideia de que a PrEP não é para eles23, frente a isso recomenda-se uma abordagem holística sobre o tema e sua inclusão nas políticas e programas de educação sexual1, 2,13.
Para alguns estudantes a percepção das novas possibilidades de tratamento incidia na decisão de usar ou não o preservativo e construía as representações do HIV como “tratável” e “curável”, e por digressão, dissociavam a antiga imagem da Aids - uma doença que tem cara (gays) e mata1. No embalo das canções Índios de Renato Russo e Ideologia de Cazuza, escolhidas pelos pesquisadores, discutiu-se os aspectos históricos da epidemia, como os estigmas relacionados à pessoa que vive com o HIV e a adesão às novas tecnologias de prevenção4,23 de modo a engajar a juventude na luta contra Aids. Encorajada por esse debate, uma adolescente contou que já havia feito o teste, em meio a risos de tensão, disse: “ufa, foi um alívio ler Negativado para HIV” (A-011-, 18 anos), reforçando a importância da testagem como prevenção23. Não escutamos depoimentos de soropositividade ao HIV entre os estudantes, não sendo possível inferir se havia caso de infecção. Constatamos que o desconhecimento dos processos de transmissão-prevenção do HIV promove vulnerabilidades16,18 e requer uma comunicação factual e contextualizada5,6,23, de maneira que os jovens reflitam sobre suas experiências e se apropriem das informações científico-técnico disponibilizadas1,13. Desta feita, é importante afirmar as conquistas semânticas, subjetivas, socioculturais, biomédicas e pragmáticas da história da Aids na esfera pública2,4,8,13,16,21.

PARTIDAS (IN)CONCLUSAS, O JOGO CONTINUA?
Esta pesquisa seguiu a prerrogativa da escuta e da interação com o outro como condição do fazer científico. As experiências advindas desse encontro revelou que o processo comunicativo construído na elaboração do jogo Sexualidade e Prevenção do HIV conectou pesquisadores, professores e jovens e contribuiu para problematizar, de modo aberto, franco e contextualizado, temas a serem abordados na prevenção ao HIV na juventude, a saber: intersecções entre infecção por HIV, sexualidade, normas de gênero e religião; afetos e prazeres que determinam práticas sexuais protegidas (ou não); transmissão vertical; o direito ao acesso à testagem, à PrEP, PEP e PC; os efeitos dos medicamentos na vida dos jovens.
A comunicação sobre a prevenção do HIV na juventude abarca continuidade, metodologias problematizadoras e educação entre/por pares, de modo a explicitar as gramáticas que buscam desobjetificar os corpos e tornar visíveis: os “(d)efeitos da cor”, as dobradiças dos corpos que transitam entre os sexos e as normas sociais, a fé professada ou silenciada ou ainda o grito daqueles que se agarram com unhas e dentes nas bordas da vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Knauth, DR, Pilecco, FB. Prevenção da AIDS e do HIV entre adolescentes e jovens adultos em seis municípios brasileiros. [periódico na Internet]. Saúde e Soc 2024; [acessado 2024 jun 25]; 33(1) [cerca de 12p.] Disponível: https://shre.ink/ekpQ
2. Grangeiro A, Ferraz D, Magno L, Zucchi EM, Couto MT, Dourado I. Epidemia de HIV, tecnologias de prevenção e as novas gerações: tendências e oportunidades para a resposta à epidemia. Cad Saúde Pública [periódico na Internet]. 2023 nov [acessado 2024 jan 28]; 39 (13) Suppl 1: [cerca de 9p.] Disponível: https://shre.ink/ekpH
3. BRASIL. Boletim Epidemiológico HIV e Aids 2023. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: https://shre.ink/ekpn
4. Calazans, GJ, Parker, R; Terto, VJ. Refazendo a prevenção ao HIV na 5ª década da epidemia: lições da história social da Aids. [periódico na Internet]. SAÚDE DEBATE 2022 Dez [acessado 2024 mai 8]; 46 [cerca de 15p]. Disponível: https://shre.ink/ekp1
5. Karan, A; Hartford, E; Coates, T. The potential for political leadership in HIV/AIDS communication campaigns in Sub-Saharan Africa. [serial on the Internet] Global Health Action. 2017 Fev [cited 2024 abr 7]:[about: 7p.]; 10. Disponível: https://shre.ink/ekfP
6. Farias, IF, Amaral, AMR, Martins, VH, Santos, AK. Comunicação em saúde sobre HIV/Aids: mapeamento bibliométrico de artigos científicos internacionais (2007-2017) e caracterização dos artigos de acesso aberto (2017). Em Questão 2020; 26(3):173–195.
7. Nyatsanza, T; Wood, L. Problematizing oficial narratives of HIV and AIDS education in Scotland and Zimbabwe. Journal of Social Aspects of HIV/AIDS 2017; 14(1):185-192.
8. Cazeiro, F; Leite, JF; Costa, AJ. Por uma decolonização do HIV e interseccionalização das respostas à aids. [periódico na Internet]. Physis: Revista de Saúde Coletiva 2023; (33) e33024.
9. Foucault, M. Ética, Sexualidade, Política. Ditos e escritos V. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2014.
10. Aguiar, K, Rocha, ML. Micropolítica e o Exercício da Pesquisa-intervenção: Referenciais e Dispositivos em Análise. Psicologia Ciência e Profissão 2007; 27(4): 648-663.
11. Fischer, RMB. Trabalhar com Foucault: Arqueologia de uma paixão. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
12. Paiva V, Antunes MC, Sanchez MN. O direito à prevenção da Aids em tempos de retrocesso: religiosidade e sexualidade na escola. Interface (Botucatu). 2020; 24: e180625
13. Mora, C, Nelvo, R, Monteiro, S. Peças de comunicação governamental sobre profilaxia pré-exposição (PrEP) e pós-exposição (PEP) ao HIV (2016-2019): análise de seu conteúdo e circulação entre homens gays, mulheres trans/travestis e profissionais do sexo. Saúde E Sociedade 2022; 31(4): e210855.
14. Freira, P. Comunicação ou Extensão? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
15. Carrara, S. Moralidades, racionalidades e políticas sexuais no Brasil contemporâneo. Mana 2015; 21(2):323-345.
16. Bonfim, J, Mesquita, MR.Nunca falaram disso na escola: um debate com jovens sobre gênero e diversidade. Psicol. soc. 2020; 32: e192744.
17. Silva, CG, Borba, PLO. Encontros com a diferença na formação de profissionais de saúde: juventudes, sexualidades e gêneros na escola. Saúde Soc. São Paulo, 2018; 27(4):1134-1146
18. Ayres, JRCM. Cuidado: trabalho e interação nas práticas de saúde. Rio de Janeiro: CEPESC: UERJ/IMS: ABRASCO, 2009.
19. Kelly-Santos, A, Monteiro, S, Ribeiro, AP. Acervo de materiais educativos sobre hanseníase: um dispositivo da memória e das práticas comunicativas. Interface Comunic., Saude, Educ., 2010; 14(32): 37-51.
20. Cezar, MRA. As novas práticas de governo na escola: o corpo e a sexualidade entre o centro e as margens. In. Branco, GC, Veiga-Neto, A. Foucault: filosofia & política. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.
21. Matta, TF, Taquette, SR, Souza, LMBM, Moraes, CL. Diversidade sexual na escola: estudo qualitativo com estudantes do Ensino Médio do Município do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública 2021; 37(11):e00330820
22. Brasil, Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoções dos Direitos de Lésbicas, Gays, Travestis e Transexuais – CNCD/LGBT Resolução N° 12, DE 16 DE JANEIRO DE 2015; p.2. Disponível: https://shre.ink/ekf0
23. Warzywoda S, Fowler JA, Dyda A, Fitzgerald L, Mullens AB, Dean JA. Acesso, adesão e uso da profilaxia pré-exposição por jovens: uma revisão sistemática de barreiras e facilitadores. Ther Adv Infect Dis. 2024; 11:20499361241303415. Disponível: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11624559/ .
24. Cabral, CS, Brandão, ER. Gravidez na adolescência, iniciação sexual e gênero: perspectivas em disputa. Cad. Saúde Pública 2020; 36(8):e00029420.


Outros idiomas:







Como

Citar

Santos, A.K, Farias, IF. Sexualidade e prevenção do HIV” em jogo: diálogos entre adolescentes de uma escola pública no Rio de Janeiro, Brasil.. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/ago). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/sexualidade-e-prevencao-do-hiv-em-jogo-dialogos-entre-adolescentes-de-uma-escola-publica-no-rio-de-janeiro-brasil/19765

Últimos

Artigos



Realização



Patrocínio