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0309/2024 - A interseccionalidade de gênero, raça e classe social nas trajetórias de vida de mulheres que tentaram suicídio
The intersectionality of gender, race and social class in the life trajectories of women who attempted suicide

Autor:

• Jéssica Pereira Manelli - Manelli, J.P - <jessica.manelli@unesp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0258-886X

Coautor(es):

• Dinair Ferreira Machado - Machado, D.F - <dinair.machado@unesp.br; asdinamachado@yahoo.com.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3006-7110



Resumo:

Objetivo: Analisar a tentativa de suicídio de mulheres sob interseccionalidade de gênero, raça e classe social. Métodos: Trata-se de estudo qualitativo nos moldes da história de vida tópica, realizado com 7 (sete) mulheres que relataram tentativas de suicídio durante a vida. A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista individual, com apoio de um questionário para caracterização sociodemográfica e um de roteiro semiestruturado. Resultados: A análise integral das entrevistas revelou quatro categorias de análise temáticas: 1) Trajetórias de subsistência e desvelamento da expressão da desigualdade social; 2) A infância e a adolescência marcadas pela violência no contexto familiar; 3) A divisão sexual do trabalho e a desigualdade de gênero como frutos do patriarcado; 4) A dificuldade na autoafirmação étnico-racial como desdobramento do racismo e mecanismo de invisibilidade social. Constatou-se a interdependência dos eixos de opressão: gênero, raça e classe social na trajetória de vida das mulheres que viram no suicídio uma estratégia factível de cessar o sofrimento causado pela estrutura social. Conclusão: Este estudo revelou que as tentativas de suicídio em mulheres devem ser abordadas sob a ótica da interseccionalidade macrossocial, rompendo com perspectivas individualistas e biologizantes.

Palavras-chave:

Tentativas de suicídio; Interseccionalidade; Estrutura Social.

Abstract:

Objective: To analyze the suicide attempts of women under the intersectionality of gender, race and social class. Methods: This is a qualitative study along the lines of a topical life story, carried out with 7 (seven) women who reported experiences of suicide during their lives. Data collection occurred through individual interviews, supported by a questionnaire for sociodemographic characterization and a semi-structured script. Results: The full analysis of the interviews revealed four categories of thematic analysis: 1) Subsistence trajectories and development of the expression of social inequality; 2) Childhood and adolescence marked by violence in the family context; 3) The sexual division of labor and gender inequality as fruits of patriarchy; 4) The difficulty in ethnic-racial self-affirmation as an outcome of racism and a mechanism of social invisibility. The interdependence of the axes of oppression was verified: gender, race and social class in the life trajectory of women who saw suicide as a feasible strategy to end the suffering caused by the social structure. Conclusion: This study revealed that suicide attempts in women must be approachedthe perspective of macrosocial intersectionality, breaking with individualistic and biologizing perspectives.

Keywords:

Suicide attempts; Intersectionality; Social Structure.

Conteúdo:

INTRODUÇÃO
O reconhecimento do suicídio como grave problema de saúde pública de nível global que requer prioridade e resposta rápida em intervenções, vem sendo sinalizado desde o ano de 2014 com a publicação do relatório Preventing suicide: a global imperative pela Organização Mundial da Saúde. Estima-se que mais de 700 mil pessoas no mundo morrem por suicídio a cada ano, sendo que 80% dessas mortes acontecem nos países mais empobrecidos, evidenciando uma contundente relação entre o suicídio e a pobreza.1-2
O Brasil tem apresentado um crescente aumento de mortes por suicídio no decorrer dos anos. Em estudo realizado entre os anos 2000 e 2018 sobre as tendências de mortalidade por agravos e doenças não transmissíveis, constatou-se que o país teve crescimento anual médio de 1,4% nas taxas de mortes por suicídio ³. Além disso, no ano de 2019 o suicídio entre os jovens de 15 a 29 anos configurou como a quarta causa de morte e entre os adolescentes com idade entre 15 e 19 anos a segunda causa de mortes.4-7
Deste modo, o suicídio no país vem sendo um problema complexo multidimensional que exige enfrentamento e deve ser prevenido e compreendido nos seus diferentes significados e momentos históricos distintos.8-10 Historicamente o paradigma hegemônico norteador da sociedade é de que o suicídio é um fenômeno individual, frequentemente relacionado aos transtornos mentais e ao uso abusivo de substâncias psicoativas. Portanto, reiteradamente tem sido abordado pelos profissionais de saúde numa perspectiva biologicista e psicologizante, que reduz a complexidade do suicídio ao sujeito retirando de cena o contexto sociocultural e histórico de opressão e lutas de classe.11
O comportamento suicida se divide em três categorias: as ideações suicidas, os planos de suicídio e as tentativas de suicídio. A primeira se refere aos pensamentos de que a vida não vale a pena ser vivida, podendo estes se configurarem como passageiros ou não. A segunda se trata dos planejamentos sobre as formas, meios, local e momento para a realização do suicídio. E por fim, as tentativas de suicídio, enfoque desse trabalho, que diz respeito a execução de comportamentos com intenção de morte, mas cujo desfecho não resulta em óbito.12
Quanto às tentativas de suicídio, estima-se que os números superem as mortes autoprovocadas em pelo menos dez vezes, sendo que as tentativas de suicídio são mais frequentemente realizadas por mulheres.12 As motivações podem ser explicadas pela desigualdade socioeconômica, racial e de gênero fruto das sociedades capitalistas, racistas e patriarcais que naturalizam a desigualdade de poder entre homens e mulheres, construindo papeis sociais cristalizados aos sujeitos e deixando as mulheres vulneráveis a toda forma de opressão e violência.12-15 Segundo dados do IBGE a população brasileira em sua maioria é composta por negros 56%, essa categoria inclui pardos com 46,5% e pretos com 9,3%.16 A partir de uma perspectiva sociológica e política, ambos os grupos, pretos e pardos, são incluídos na categoria “negros”, uma vez que possuem condições de vida parecidas e inferiores a dos brancos.17
Ao terem negada sua condição de sujeito de direitos, as mulheres passam a vivenciar trajetórias de vidas marcadas por negligências familiares, societárias e políticas. Esse processo as torna mais suscetíveis ao sofrimento psíquico, sendo o suicídio, na maioria das vezes, tomado por elas como uma alternativa para cessar o sofrimento. Contudo, cabe ressaltar que a categoria mulher não é homogênea, mas sim ordenada e atravessada pelos três eixos de opressão: classe social, raça e gênero, que coexistem indissociavelmente desde a formação da sociedade brasileira e estruturam interseccionalmente o modo de vida e visão de mundo das mulheres, tornando alguns grupos ainda mais vulneráveis que os outros, a depender da condição financeira, cor de pele, identidade de gênero e orientação sexual.18-21
Dessa forma, a interseccionalidade é concebida como uma teoria transdisciplinar que tem como objetivo incorporar as identidades e suas complexidades tendo como pano de fundo as desigualdades sociais sob a ótica integrada de raça, gênero e classe social. Trata-se de uma abordagem que denuncia as repercussões das estruturas que discriminam e criam desigualdades, a partir do patriarcado, do racismo e capitalismo, expondo como as opressões se desenvolvem ao longo dos três eixos e são legitimadas por políticas específicas que contribuem com processos ativos de desempoderamento.22-25
Sob a perspectiva da interseccionalidade se torna possível compreender como se dão as desigualdades sociais no grupo de mulheres, as discriminações e as sobreposições de opressões, o olhar interseccional permite analisar a estrutura social e a maiores vulnerabilidades das mulheres negras dentro dessa organização.26-27 Diante desse contexto, é necessário que o suicídio seja abordado sob a perspectiva social, uma vez que toda morte ou tentativa de morte denuncia aspectos sobre o modelo de sociedade vigente.11
Sendo assim, o presente estudo buscou responder a seguinte pergunta de pesquisa: O que as tentativas de suicídio realizadas por mulheres revelam sobre a estrutura social brasileira? E teve como objetivo analisar a tentativa de suicídio em mulheres sob interseccionalidade de gênero, raça e classe social.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo qualitativo nos moldes da história de vida tópica com mulheres que passaram por atendimento em uma Unidade de Saúde Escola do Interior Paulista.
Participaram deste estudo, 7 (sete) com idade acima de 18 anos, residentes do território adscrito da unidade, que tiveram tentativa de suicídio em suas trajetórias de vida e que estavam em acompanhamento terapêutico há mais de um mês com equipe multiprofissional da Residência de Saúde Mental inserida na Unidade de Saúde Escola. O número de participantes foi selecionado a partir da técnica de poder da informação. A técnica do poder de informação foi proposta com finalidade orientar pesquisadores de estudos qualitativos sobre o número de participantes da pesquisa, uma vez que determinar previamente o número de sujeitos, nem sempre é possível, passando ser necessária a análise continuada sobre o número de participantes ao longo da coleta de dados.28
Após aprovação da pesquisa em comitê de ética, sob parecer nº 5.410.457 os critérios de inclusão e exclusão foram discutidos com a equipe de residentes da Residência Multiprofissional de Saúde Mental (no qual a pesquisadora estava inserida) para levantar quais usuárias do serviço poderiam ser selecionadas para participar do estudo. As mulheres foram convidadas para participar da pesquisa por meio de contato telefônico realizado pela própria pesquisadora.
Não foram incluídas neste estudo pessoas que não se identificaram como mulher, menores de 18 anos, que não residiam no território de adstrição da unidade de saúde, que não possuíam história prévia de tentativa de suicídio e que não passaram por atendimento em saúde mental com equipe da Residência Multiprofissional de Saúde Mental.
A coleta de dados ocorreu por meio de entrevista individual, inicialmente com apoio de um questionário para caracterização sociodemográfica das participantes da pesquisa e em seguida as mulheres foram entrevistadas nos moldes da história de vida tópica que foi norteada por um roteiro semiestruturado. As entrevistas foram realizadas de forma individual pela própria pesquisadora, em sala de atendimento da unidade de saúde, possibilitando um espaço privativo e seguro para a expressão das participantes no decorrer das entrevistas, garantindo o sigilo e confidencialidade.
Após o levantamento de dados, as narrativas foram transcritas integralmente e organizadas para análise. A Análise de dados foi feita por meio da análise de conteúdo, na modalidade de análise temática de Bardin. Os nomes utilizados nessa pesquisa são fictícios e foram escolhidos pelas próprias participantes, garantindo o anonimato.
RESULTADOS
Quadro 1 – (em anexo)
Conforme quadro acima, a idade média das mulheres foi de 37,8 anos, todas se identificaram como cisgênero e sobre a orientação sexual, uma mulher se autodeclarou assexual, uma homossexual, uma bissexual e quatro como heterossexuais. Duas participantes possuíam Ensino Fundamental incompleto, duas com Ensino Médio completo, duas com ensino superior completo e uma com ensino superior incompleto. Com relação à cor de pele, uma mulher preferiu não se autodeclarar, duas se autodeclararam como pardas e quatro como brancas.
A renda média familiar das participantes foi de R$ 1.779,14, no entanto, duas mulheres não conseguiram dar essa informação, pois viviam com o companheiro e outros familiares, não possuindo acesso a renda dos mesmos. Sobre a ocupação, uma mulher recebia o Benefício de Prestação Continuada (BPC) em decorrência de sua condição de saúde e uma mulher encontrava-se formalizada por meio do Microempreendedor Individual (MEI), mas declarou que não possui renda suficiente para o próprio sustento; uma mulher era estudante e quatro estavam sem emprego. Destas, duas estavam inseridas em uma associação que visa à geração de renda e inserção dos usuários (as) no mercado de trabalho, além disso, duas realizavam trabalhos informais por meio de vendas de artesanato ou de produtos de terceiros.
Após análise integral e minuciosa das entrevistas emergiram quatro categorias de análise temáticas: 1) Trajetórias de subsistência e desvelamento da expressão da desigualdade social; 2) A infância e a adolescência marcadas pela violência no contexto familiar; 3) A divisão sexual do trabalho e a desigualdade de gênero como frutos do patriarcado; 4) A dificuldade na autoafirmação étnico-racial como desdobramento do racismo e mecanismo de invisibilidade social.
Categoria 1: Trajetórias de subsistência e desvelamento da expressão da desigualdade social
As condições de subsistência das mulheres foram marcadas pela pobreza, expressa nas dificuldades financeiras e de acesso inclusive à alimentação: “Minha infância não foi ruim, mas foi muito pobre, a gente comia o que tinha e esperava o que vinha, vivia na medida do possível. Faltava comida às vezes, uma roupa de frio e até um chinelo.” (Natália). Os rebatimentos da pobreza também são expressos na história de Olívia “A gente passou fome, a gente levava o resto que sobrava da merenda da escola para ter o que comer a noite e para minha mãe ter o que o comer no outro dia”.
E diante desse cenário desigual o trabalho infantil também se fez presente na história das participantes “Eu quase não tive infância, a gente passava muita necessidade, então eu e minha irmã, a gente começou a pegar reciclagem porque não tinha sapato, não tinha nada, não tinha mochila para levar as coisas para a escola, a gente só tinha o chinelo (Olivia)”.
As narrativas demonstraram que as mulheres entrevistadas, mesmo quando crianças, foram inseridas no trabalho para o sustento da própria família. Essa responsabilidade imposta pela organização social desigual continuou na juventude, marcando suas trajetórias "Na minha juventude, eu trabalhava. Meu pai morreu e minha mãe morava com meus dois irmãos mais novos, eu tinha medo de passar fome, eu precisava ficar aqui para trabalhar, garantir que eles tivessem pelo menos arroz e feijão, para nunca mais passar pelo que passei (Natália)”.
Categoria 2: A infância e a adolescência marcadas pela violência no contexto familiar
Recordar a infância e a adolescência foi motivo de sofrimento para as participantes, pois suas trajetórias também escancararam duras vivências de violências, experienciadas dentro do contexto familiar, como verbalizou Maria Julia: “A única coisa que eu lembro era que minha mãe brigava com o meu pai, lembro da minha mãe brigando com meu pai, dando facada nele”.
A história de vida de Avalon também foi marcada por situações de violência no seio familiar “A questão que minha mãe me espancava era bem difícil, as coisas que ela fazia comigo, todo tipo de violência, não só física, eu não só sofria violência como via meus irmãos sofrendo a violência e não podia fazer muita coisa sobre, não tinha para onde ir, eu sofri alguns assédios sexuais”
As narrativas evidenciaram o controle e a violação dos corpos das mulheres desde a tenra idade, como pontuou Natália: “Eu menstruei aos 9 anos, eu levei uma surra da minha mãe porque eu menstruei, porque a minha prima falou para minha mãe que eu menstruei com 9 anos porque eu estava viciada em homem. E eu ainda apanhei, eu tinha medo de menstruar”.
Nem a casa e nem os pais protegeram essas mulheres, que sofreram todos os tipos de violência, desde a física a sexual “Eu lembro que eu sofri muito, meu pai, ele judiava muito de mim e da minha mãe, meu pai era um carrasco, batia muito na minha mãe, meu próprio pai tentou aproveitar de mim quando eu era criancinha (Larissa)”. Quando os abusos não vieram dos próprios familiares, vieram de pessoas conhecidas que tinha acesso a casa e as mulheres “Com 10 anos fui molestada, era amigo do meu padrasto, tinha cheiro de reboco, lembro do cheiro e me dá aflição, fiquei ruim, precisei de psicólogo, psiquiatra (Tereza)”.
As reiteradas sobreposições de violências vivenciadas favoreceram a fragilização e/ou rompimentos dos vínculos familiares sendo a principal motivação para a saída de casa e para o casamento “Ele (pai) veio com arrogância, me deu um tapa na cara, fez eu engolir o cigarro, queimou minha boca. Comecei a discutir, peguei as minhas coisas, chamei meu namorado e fui embora (Olivia)”.
Categoria 3: A divisão sexual do trabalho e a desigualdade de gênero como frutos do patriarcado
As histórias de vida das mulheres entrevistadas foram atravessadas pelo controle de seus desejos e possibilidades diante da figura paterna e de forma geral da figura do homem dentro instituição familiar “Meu pai dizia que ele já estava fazendo muito deixando eu estudar e eu ia trabalhar? Quando meus pais se casaram, minha mãe trabalhava, ele tirou minha mãe do trabalho, isso, com o apoio do próprio pai dela (Solange)”.
A divisão sexual do trabalho também pôde ser observada na trajetória das participantes, “Meu irmão me disse: eu já decidi, eu dispensei a cuidadora e a mãe vai morar com você, já que você não faz nada, você vai cuidar dela e levá-la para os tratamentos (Solange)”. Contudo, Solange não aceitou a imposição e criticou o modelo de sociedade estruturado na divisão sexual do trabalho “Me sinto tranquila por não ter assumido essa responsabilidade, mas não é isso que esperam de mim, esperam que os filhos cuidem da mãe e me incomoda esse julgamento da sociedade dizer que eu abandonei ela”.
Os papéis e tarefas a serem cumpridas e determinadas pelo gênero se configuraram nas narrativas como constituintes da subjetividade das mulheres, perpassando seus desejos, sonhos e suas relações ou envolvimentos amorosos: “Nós éramos amigos, eu quis ter filho e não dava para ter com outro, então decidi ter com ele que era um amigo e que dizia que gostava de mim, mas depois descobri que ali eu entrei num inferno e nunca consegui sair, nele vivo até hoje! (Natália)”
Para Olívia o desejo e a alegria da maternidade entraram em choque com a realidade e a falta de suporte sociofamiliar “Eu queria demais, então sabe quando mistura todos os sentimentos: medo, alegria, tudo! Eu chorava e gritava: eu estou grávida. Depois do parto eu quase não conseguia me sentar, eu começava a chorar e ao mesmo tempo que eu queria meu filho, eu não queria mais, aquele desespero não saia, eu tinha vontade de sumir, de correr”.
Além da maternidade, o casamento também apareceu nas narrativas como uma tarefa imposta, a ser cumprida, cobrada socialmente e internalizada pelas mulheres como um dever, conforme explicitado na fala de Olívia “No começo, eu tinha nojo de beijar ele, porque assim, eu não gostava e não amava ele, mas eu não queria ficar sozinha, queria casar primeiro que a minha irmã, porque eu era mais velha, queria casar-se logo, não queria ficar para a tia”.
Mas o casamento não foi como as mulheres esperavam, para algumas delas desde o início o companheiro já praticava diferentes tipos de violência. “Deu tudo errado, porque depois que eu tive filho, ele se sentiu meu dono e aí ele começou a botar o pé no meu pescoço (Natália)”. A partir desse momento, as agressões foram se intensificando de diferentes formas “É difícil falar o que eu vivi, porque teve coisas que eu me envergonho, entende? Tem coisas que vão morrer comigo, porque eu me envergonho. Eu me lembro de quantas vezes eu fui agredida por não querer transar! Eu sinto nojo de homem, porque eu fui obrigada a fazer sexo muitas vezes sentindo dor, as vezes menstruada, com enxaqueca, as vezes cansada (Natália)”.
No relacionamento elas vivenciaram todo tipo de violência, o controle masculino sobre suas vidas perpassou do físico ao psicológico “Eu não podia me maquiar, passar um batom, que ele virava falava que estava horrível, não podia passar um creme, que o cheiro do creme dava rinite nele e ele reclamava, perfume nem pensar! (Solange)”.
Chamou atenção ainda, caso em que o agressor invadiu, armado, o trabalho da participante para agredi-la “Eu apanhei do pai da filha, ele entrou no meu trabalho com um facão e desceu o facão nas minhas costas (Tereza)”. Nesse sentido, denota-se que mulheres estão sujeitas a violência, principalmente em suas casas, mas também em todos os espaços que ocupam: nas ruas, no trabalho, entre outros.
Além disso, teve um caso em que o agressor usufruía dos rendimentos da participante “Eu tinha um salário e era um salário muito bom, mas eu não tomava posse dele, quem controlava tudo era o meu marido (Solange)”. A violência patrimonial também foi praticada de outras formas: “Ele bebia e escondia meus documentos (Larissa)”.
Os diferentes tipos de violências vivenciados, a não aceitação da separação por parte do agressor e o medo do julgamento e a vergonha de estar naquela situação são fatores que distanciaram as mulheres da busca por ajuda e proteção nos serviços da rede de atenção “Eu não fui atrás, porque como eu te falei, existem acontecimentos da minha vida que eu me envergonho. Então eu sei do julgamento das pessoas, hoje já tem muita abertura para essas coisas, passa televisão propaganda sobre rede de ajuda, essas coisas; mas tudo isso aconteceu bem depois, naquele período e no período anterior a isso, as pessoas acham assim: ‘ele faz isso, porque ela merece’, entendeu? (Natália)”.
Categoria 4: A dificuldade étnico-racial como desdobramento do racismo e mecanismo de invisibilidade social
A autodeclaração sobre a identidade étnica foi motivo de atenção, pois se tornou explicito o fenômeno do embranquecimento racial, sinalizando a dificuldade no reconhecimento identitário entre as mulheres, como observado em uma das falas de Natália “Eu sempre sofri muito bullying, a vida inteira desde criança, eu sofria bullying porque meu nariz é comprido, porque meu cabelo era pouco, porque eu tenho a pele marrom, mas hoje eu sou mais marrom do que eu já fui, já fui considerada branca”.
Quando não se reconhece como pertencente a um grupo étnico/racial se torna difícil a identificação de discriminações e preconceitos, invisibilizando o racismo na sociedade. Fato este que ficou claro na fala de Larissa quando questionada sobre essa experiência disse: “Não, porque eu sou morena clara né? Nem se eu fosse escura, eu acho que não (Larissa).” Sendo a identidade étnica e racial um constructo histórico social a indefinição identitária passa a ser uma estratégia ideológica de divisão entre os grupos e contribui para exclusão e silenciamento dos mesmos.
Desse modo, a vivência do racismo e da xenofobia foi reconhecida apenas por Natália, em uma de suas falas disse: “A família dele (marido) nunca gostou de mim, que eu era preta, pra eles eu sou preta! Eles odeiam nordestino e eu sou baiana (Natália)”. Solange preferiu não se autodeclarar, mas Avalon, Olívia, Tereza e Maria Júlia não abordaram diretamente a questão justamente por serem de cor de pele branca o que já as posicionam em situação de privilégio e de não vulnerabilidade neste eixo de opressão, como pontuou criticamente Avalon “Eu como uma pessoa branca e sei que por ser branca, eu tive privilégios, eu posso entrar nos lugares sem medo de ser julgada, de ser seguida”.
No entanto, Larissa que se autodeclarou parda, não associou a influência da cor em sua difícil trajetória de vida, mas suas narrativas deixaram explícitas a falta de oportunidades e de acesso a bens e serviços, inclusive descreveu alguns trabalhos desenvolvidos em condições análogas ao escravismo “Trabalhava desde cedo até a tarde, todos os dias, não tinha salário nenhum, eu ganhava uns trocadinhos, trabalhava a troco de alimento e remédio”.
Além disso, Larissa contou também que viveu longo tempo em situação de rua “Eu estava sentada lá e um homem falou assim: Você quer morar em casa? Eu aceitei, pois já estava cansada de morar na rua”. O homem que lhe ofertou moradia era um homem que ela havia acabado de conhecer, por sua vez, cansada de sobreviver nas ruas, opta por correr os riscos inerentes a esse envolvimento desde que tendo um local para morar.
DISCUSSÃO
Sob a ótica da determinação social, o sujeito é um ser social e ao se desenvolver socialmente tem o seu processo saúde-doença determinado pela estrutura social vigente. Deste modo, ao analisar o processo saúde-doença, se faz necessária a compreensão da historicidade da vida produzida pelos sujeitos que têm os processos psicológicos e biológicos subordinados a um determinado modelo de organização econômico, sociocultural e histórico.29
Nesse sentido, as dimensões psíquicas, biológicas e sociais integram os sujeitos, porém a última assume posição hierárquica predominando e definindo a partir da coletividade os processos de saúde-doença individuais. Sob essa lógica, a estrutura social não se reduz a um dos fatores de risco, mas é o elemento responsável pela totalidade dialética que segundo sua forma de organização pode produzir saúde ou doença.30
Gênero e raça têm sido incorporados na literatura da interseccionalidade como eixos de opressão interdependentes juntamente com a classe social. Em geral as mulheres frente a hierarquização e subordinação imposta pelo patriarcado são mais propensas a distintas situações de violências e de violação de direitos sociais a medida que organiza e prescreve os comportamentos e atitudes das mulheres frente a sociedade, padrões esses que impactam ainda mais as mulheres negras.21-24
Tais regras e normatizações comportamentais ordenam os papéis sociais das mulheres desde tenra idade, costumeiramente as meninas, ainda criança, substituem a figura da mãe na realização das atividades domésticas e cuidados com demais familiares, sendo esse processo crucial na socialização dos sujeitos e manutenção do lugar historicamente atribuído às mulheres.31 Isso significa dizer que as mulheres são encarregadas pelo trabalho denominado reprodutivo, que se caracteriza pela reprodução e manutenção da força de trabalho. Sob o pano de fundo do patriarcado, o trabalho reprodutivo pode ser associado ao escravismo, à medida que o casamento pode tornar a mulher propriedade exclusiva do homem.27
O patriarcado é compreendido como um sistema de organização em que a autoridade do pai (patriarca) sobre a mulher e os filhos (as) se configurou historicamente pela construção da propriedade privada, tornando assim uma dimensão estruturante na exploração e apropriação das mulheres legitimando o poder dos homens sobre as mulheres. Além disso, é por meio da dominação e do controle sobre os corpos, sobre o trabalho e a vida de mulheres que o patriarcado atende a dois interesses: o controle sobre a prole (mais força de trabalho e reprodução de riqueza) e a garantia de que os descendentes são “legítimos” (para a reprodução da herança).27,32
A divisão sexual do trabalho, ocorrida dentro da instituição familiar, mas não restrita a ela, não pode ser concebida somente como diferenças de atividades e trabalhos desenvolvidos entre homens e mulheres, pois constrói e solidifica os mecanismos de sujeição das mulheres, se estruturando como a base das relações hierárquicas e das desigualdades. Nascer mulher em uma sociedade capitalista e patriarcal como no Brasil é indício de subalternidade e exploração duplicada, contudo, se a mulher for negra é triplicada.27,31
Além da desigualdade social e da divisão sexual do trabalho, chamou atenção neste estudo que algumas mulheres tiveram dificuldades em reconhecer sua cor de pele, explicitando assim o não reconhecimento identitário. Desse modo, a autodeclaração e a identidade racial foram alguns pontos que entraram em evidência, juntamente com a vivência do racismo, expresso pela experiência da violência, ausência de oportunidades e processos de exclusão. De acordo com Devulsky16, a identidade racial é apreendida ao longo do processo de socialização, sendo a cor um dos aspectos envolvidos nessa definição, mas não único, já que a identidade também se vincula ao exercício e garantia de direitos, bem como em vantagens e desvantagens sociais.
Nesse estudo, somente duas das mulheres participantes se autodeclararam como pardas e discorreram sobre trajetórias de vida atravessadas pela pobreza e principalmente pelas mais duras formas de violência, no entanto, uma delas não identificou os impactos do racismo em sua história. As dificuldades e dúvidas sobre a identidade étnica/racial explicitam a complexidade e a influência de processos históricos e violentos presentes na construção e composição das identidades raciais, reafirmando a tese de Carneiro17 de que a identidade racial/étnica enquanto fenômeno sociocultural pode ser historicamente construído ou destruída.
Deste modo, Nego Bispo33 além de acrescentar novas reflexões sobre a resistência negra no contexto brasileiro, incluiu e reiterou a sua própria trajetória de vida como forma de representatividade na luta antirracista. Na condição biográfica e existencial de um quilombola o autor, com propriedade teórica e vivência cotidiana de luta e resistência contra o racismo, defende que a historicidade contribuiu para a quebra da identidade da população negra no Brasil.
Para o autor, a colonização foi também uma estratégia clara e planejada de distanciamento da população de suas origens, cultura, do apagamento de suas memórias, do ocultamento dos sentidos iniciais e da imposição de novas formas de nomear e de viver, desterritorializando assim os sujeitos e os povos.34 Assim como os colonizadores substituíram as diferentes autodenominações dos povos originários também o fizeram como o povo africano, ignorando suas diferenças e denominando de negros, essa estratégia de generalização foi utilizada não somente para “domesticar” os diferentes grupos, como também para destituir suas identidades para enfim desumanizá-los e coisificá-los.
A ausência e/ou a negação da identidade cultural foram historicamente destruídas pelo processo de escravização no Brasil o qual destituiu a principais bases de valores socioculturais do povo africano, atacou suas identidades coletivas e individuais e impôs uma hierarquização dos povos, sendo que historicamente os povos originários “indígenas” e os negros têm sido rotulados como seres inferiores, incapazes intelectualmente, feios esteticamente e com costumes e culturas denominadas de selvagens.33
Contemporaneamente vem acontecendo um movimento, denominado por Nego Bispo33, de resistência cultural com novas formas de ressignificar e reafirmar essas identidades para enfrentar o etnocídio e o preconceito vivido por esses grupos. Contudo, esse movimento ainda não teve alcance desejado na sociedade e existem pessoas que não se identificam com as características do seu grupo.
O racismo dita normas e discrimina grupos e pessoas hierarquizando-as, portanto, é uma forma de organizar e estruturar transversalmente a sociedade em todas as dimensões, configurando-se assim como um marcador de privilégios e subalternidades entre os grupos nos campos macro e micropolíticos da vida cotidiana.35
Deste modo, a abordagem sobre as mulheres que tentaram suicídio deve levar em conta a interseccionalidade entre gênero, raça e classe social, buscando romper com a crença de que a classe trabalhadora é homogênea e a-histórica, pelo contrário, precisa ser apreendida como fenômeno heterogêneo e sócio-histórico que é composto por pessoas reais e em contextos concretos permeados por relações de poder e dominação segundo gênero e raça.27
Sob a ótica interseccional torna-se visível a inseparabilidade e interdependência estrutural do racismo, patriarcado e capitalismo, que marcam a diversidade existente dentro da categoria ‘mulher’, pois como defende Lélia Gonzalez36 a abstração da universalização contribui para o encobrimento da realidade vivenciada, e cruelmente experienciada principalmente por mulheres negras, as mais atingidas por todas as dimensões das desigualdades.
Mulheres negras possuem maiores dificuldades de acesso à saúde, menores oportunidades de escolarização e de ingresso ao mercado de trabalho formal, são as mais afetadas pelas piores condições de trabalho e menor remuneração, são as que começam desde a infância lutar pela sobrevivência e viverem a perversidade do trabalho infantil.36 Assim, surge a proposta analítica da interação estrutural de dominação como forma de incorporar as influências políticas legais no desvelamento das peculiaridades da opressão sobre os diferentes corpos e cotidiano das mulheres.21
Reitera-se a crítica realizada por Berenchtein Netto11, quando ele diz que quando se fala em suicídio, tenta-se a todo modo fazer com que as pessoas permaneçam vivas, mas não são realizadas tentativas para compreender por que os sujeitos buscam a morte. A interseccionalidade é uma ferramenta que explica essa lacuna das motivações que levam mulheres a buscarem a morte, revelando que classe social, raça e gênero são categorias de opressão que perpassaram a subjetividade, os corpos e as experiências das mulheres em dado momento histórico e social.
Deste modo, a pergunta de pesquisa deste estudo: O que as tentativas de suicídio realizadas por mulheres revelam sobre a estrutura social? Foi respondida pelas narrativas das participantes que denunciaram trajetórias de vidas marcadas pela pobreza, opressão, violência e racismo como causas do sofrimento psíquico e pela busca da morte, por meio das tentativas de suicídio. A estrutura social capitalista, patriarcal e racista que renega a existência das mulheres por meio da exploração, invisibilidade e violência, pratica a necropolítica.37
Sob a perspectiva da necropolítica cabe ao Estado o estabelecimento dos limites entre o direito a violência e a morte de uma determinada população, esses limites sob a égide da necropolítica são flexibilizados conforme o interesse do capital que classifica indivíduos e grupos segundo sua capacidade de produção social. Deste modo, os que estão à margem da sociedade são irrelevantes socialmente, podendo ser substituído facilmente e portanto, passível de morte. A necropolítica tem o poder de ditar os grupos que deixam viver e os que deixam morrer, ou seja, o não investimento em políticas de proteção social, de igualdade de gênero e de combate ao racismo é também uma forma de matar socialmente aceitável contemporaneamente.37
O suicídio é uma das facetas na necropolítica, pois quando o Estado não interfere nesses marcadores sociais a morte passa ser um horizonte viável, uma estratégia de acabar com a dor causada pela impotência de não conseguir avançar nos degraus meritocráticos do sistema. Ao expor essas mulheres a situações de vulnerabilidade extrema, a necropolítica, ao mesmo tempo que isenta a ausência do Estado e da Determinação Social e de raça e gênero individualiza e torna subjetivo o fenômeno do suicídio.37
CONCLUSÃO
A presente pesquisa trouxe contribuições importantes para o campo da saúde mental sob a ótica da coletividade no cuidado realizado com mulheres. Ao ampliar a análise sobre a organização sociocultural e histórica calcada no capitalismo, patriarcado e racismo e sua relação com as tentativas de suicídio realizadas por mulheres, evidenciou a letalidade dos sistemas de opressão e exploração as quais estão expostas.
Vale ressaltar que essa pesquisa se trata de um estudo qualitativo e local, não sendo possível a generalização de seus resultados, desse modo, considera-se importante novos estudos que possam alcançar outros contextos e diferentes intersecções, tais como a realidade de mulheres trans, indígenas, quilombolas, com deficiência e outras diversidades que compõem a categoria mulher.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos às mulheres participantes desse estudo, por compartilharem suas trajetórias de vida, dando contorno a essa pesquisa e principalmente por fomentarem novos sentidos em nós, vozes que ecoaram, nos ensinando sobre novos olhares ao mundo, sobre o cuidado em liberdade, sobre a defesa do SUS e à luta por uma sociedade mais justa e igualitária.
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Manelli, J.P, Machado, D.F. A interseccionalidade de gênero, raça e classe social nas trajetórias de vida de mulheres que tentaram suicídio. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/ago). [Citado em 22/12/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/a-interseccionalidade-de-genero-raca-e-classe-social-nas-trajetorias-de-vida-de-mulheres-que-tentaram-suicidio/19357?id=19357

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