0353/2024 - A OPORTUNIDADE DE PENSAR E PROMOVER A AGROECOLOGIA COMO ESTRATÉGIA PARA ENFRENTAR AS CRISES ALIMENTAR E CLIMÁTICA THE OPPORTUNITY TO UNDERSTAND AND PROMOTE AGROECOLOGY AS A STRATEGY TO TACKLE FOOD AND CLIMATE CRISES
A adoção de processos insustentáveis de desenvolvimento econômico vem contribuindo para a conformação de uma crise global, onde limites biofísicos do planeta têm sido extrapolados, com diversas implicações para os sistemas naturais, a biodiversidade e a saúde humana. Crise que limita, ainda mais, o acesso de uma imensa parcela da população brasileira e latino-americana, historicamente vulnerabilizada, a direitos cidadãos básicos, como o direito à terra e ao alimento, gerando o que pode ser considerado uma “crise de crises”. O presente artigo de opinião parte da constatação de retrocessos significativos em diversas políticas públicas, no Brasil e na América Latina, especialmente aquelas voltadas para a redução das desigualdades e a promoção da cidadania. Apresenta evidências que a superação da “crise de crises”, discutida ao longo do texto, precisa considerar a adoção de modelos de produção, distribuição e consumo de alimentos que sejam, ao mesmo tempo, sustentáveis, soberanos e inclusivos. Conclui com a ideia que a agroecologia tem imenso potencial de promover, nas diferentes partes do país e da América Latina, uma economia que seja regenerativa, do ponto de vista ecológico, e distributiva, do ponto de vista social.
Palavras-chave:
Agroecologia; Alterações Climáticas; Segurança Alimentar e Nutricional; América Latina.
Abstract:
The adoption of unsustainable economic development processes has contributed to a global crisis, in which the planet\'s biophysical limits have been exceeded, with several implications for natural systems, biodiversity and human health. This crisis further limits the access of a huge portion of the Brazilian and Latin American population, historically vulnerable, to basic citizen rights, such as the right to land and food, generating what can be considered a “crisis of crises”. This opinion article starts acknowledging significant setbacks in several public policies, in Brazil and Latin America, especially those aimed at reducing inequalities and promoting citizenship. It presents evidence that overcoming the “crisis of crises”, discussed throughout the text, needs to consider the adoption of food production, distribution and consumption models that are, at the same time, sustainable, sovereign and inclusive. It concludes with the idea that agroecology has immense potential to promote, in different parts of the country and Latin America, an economy that is regenerative,an ecological point of view, and distributive,a social point of view.
Keywords:
Agroecology; Climate Change; Food and Nutrition Security; Latin America.
Conteúdo:
Introdução
Compreender a crise alimentar, no contexto atual, demanda a consideração de seu caráter complexo, multidimensional e intersetorial, onde interesses públicos e privados se sobrepõem e produzem, como resultado, o comprometimento da saúde, individual e coletivamente, a perda da qualidade de vida e a violação de direitos humanos básicos1. Sob essa perspectiva, é possível evidenciar processos de determinação socioambiental da insegurança alimentar, ao redor do planeta, onde cada componente contribui para o agravamento do outro, retroalimentando um sistema complexo que se expressa a partir da degradação ambiental, da limitação de acesso à terra, do enfraquecimento da soberania alimentar, dos impactos sobre as atividades agrícolas mais tradicionais, da insegurança alimentar e nutricional e da degradação das condições de vida e trabalho2,3.
Como resultante, geram-se crises sanitárias e sociais de grandes dimensões, comprometendo a saúde das populações do campo, determinando migrações forçadas e vulnerabilizando ainda mais indivíduos e grupos historicamente apartados das benesses dos projetos de desenvolvimento econômico no campo4. Crises que ocorrem em territórios historicamente fragilizados que, cada vez mais, sofrem com os impactos das mudanças no clima e nos sistemas ambientais3.
A adoção de processos insustentáveis de desenvolvimento econômico, em diferentes partes do planeta, vem contribuindo para a conformação de uma crise climática, onde os limites biofísicos do planeta têm sido alcançados ou, mesmo, extrapolados, com possíveis implicações irreversíveis para os sistemas naturais e a biodiversidade, comprometendo a vida em suas diferentes formas, em escala planetária5. Tais processos também comprometem o desenvolvimento humano, em sua mais ampla acepção, limitando o acesso de uma imensa parcela da população mundial a direitos cidadãos mais básicos e, consequentemente, produzindo desigualdades, individual e coletivamente6. E é justamente nesse espaço de produção e reprodução de desigualdades que se circunscrevem as crises alimentar e climática vivenciadas no Brasil e em outros países da América Latina4,7.
A agroecologia é um amplo conjunto de conhecimentos e práticas que determina processos justos, equilibrados e sustentáveis de produção, comercialização e consumo de alimentos, com respeito aos processos históricos de desenvolvimento dos povos e promoção da igualdade entre os indivíduos8,9. Envolve processos de transformação da natureza, através do trabalho, de forma ecologicamente equilibrada e sustentável do ponto de vista socioambiental9,10. Pela sua orientação à sustentabilidade e pela capacidade de promover espaços de enfrentamentos das desigualdades socioambientais, determinadas por diferentes processos de desenvolvimento econômico, a agroecologia tem sido apontada, por diferentes autores, como uma estratégia para promover, de forma integrada, o enfrentamento das crises alimentar e climática, no Brasil e em diversas partes do planeta8,9,10.
O presente artigo nos convoca a refletir sobre a agroecologia como estratégia para o enfrentamento das crises alimentar e climática, no Brasil e na América Latina.
Alguns antecedentes das crises alimentar e climática, no Brasil e na América Latina
Com o início do processo de redemocratização do país, em meados dos anos 1980 e, sobretudo, a partir do início dos anos 1990, evidencia-se, na política econômica brasileira e em outros países da América Latina, igualmente saídos de governos autoritários, uma gradual migração para projetos desenvolvimentistas de orientação neoliberal11,12. Sob o arquétipo neoliberal, os primeiros governos brasileiros pós-redemocratização passaram a limitar os investimentos estatais na indústria nacional, levando a um processo de desindustrialização que perdura até os dias de hoje13,14. Ao mesmo tempo, passaram a oferecer crescentes e substantivos subsídios a determinadas cadeias de produção agropecuária, sobretudo aquelas voltadas à exportação de commodities agrícolas como a soja, o milho, o algodão, além das exportações de carne suína, bovina e aviária11,12.
Esta inflexão histórica, marca o início de um processo de reprimarização da economia nacional, levando o Brasil a se posicionar, há mais de três décadas, como um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas (em particular, de grãos)15. Um projeto de desenvolvimento que deixou a economia do Brasil suscetível às flutuações internacionais dos preços dessas commodities, seja pelo peso que têm na composição do Produto Interno Bruto nacional, seja pelo fato de somente uma commodity (a soja) representar 25% de todas as exportações do país16, num contexto em que o agronegócio é responsável por quase a metade das exportações nacionais17.
Este processo, também, acabou por contribuir para o aprofundamento das históricas desigualdades, já que as grandes cadeias exportadoras de monoculturas estão sustentadas pelo uso de grandes extensões de terra, marcadas pela grande concentração econômica e política em corporações transnacionais, cada vez mais nas mãos de poucos, e na intensa mecanização e uso de insumos químicos que, além de forçarem o êxodo de populações do campo para a periferia das grandes cidades, ainda contribuem para a degradação e a poluição dos biomas e ecossistemas nacionais4. Situações-problema que, nas últimas décadas, vêm senso agravadas – em frequência e intensidade – pelas mudanças no clima causadas pela intervenção insustentável dos seres humanos sobre o ambiente4,5,7.
A agroecologia como estratégia para enfrentar as crises alimentar e climática
Um dos principais desafios que se colocam no bojo das estratégias de enfrentamentos das crises alimentar e climática, no país, é a necessidade de garantir espaços e projetos de desenvolvimento seguros e justos, para indivíduos e grupos da população, em todo o território nacional, e que não comprometam a diversidade e os sistemas naturais do Brasil3,4,8. Uma perspectiva que promova, nas diferentes regiões do país, uma economia que seja regenerativa, do ponto de vista ecológico, e distributiva, do ponto de vista social. Uma economia que não esteja nem acima do teto ecológico e nem abaixo do fundamento social5,18.
A agroecologia, entendida tanto como um paradigma e como uma política de Estado, em nosso país2,10, adquire, nesse contexto, um papel central na discussão sobre a transição de um modelo de desenvolvimento agrário baseado na economia do agronegócio para uma lógica diversificada, multifuncional e sustentável de produção, orientada pelo conceito de soberania alimentar e pela necessidade de enfrentamento da “crise de crises”, nacional e regionalmente.
Antes de mais, é preciso ressalvar que a agroecologia não pode ser entendida como modelo a ser adotado em substituição ao agronegócio, visto que ambos operam em escalas e possuem propósitos bastante distintos. A alternativa agroecológica considera os custos socioambientais e sanitários relacionados aos impactos do agronegócio nos diferentes biomas e territórios do Brasil, onde determina o aumento da concentração de terras e renda e o agravamento das desigualdades já existentes, com impactos desproporcionais sentidos nas áreas e grupos da população mais vulnerabilizados. Contabiliza os custos dos impactos e dos incentivos ao agronegócio, para o setor público, relativizando as vantagens econômicas do agronegócio. E, assim, contrapõe-se ao modelo agrícola hegemônico, buscando promover práticas agrícolas justas, sustentáveis do ponto de vista socioambiental e capazes de promover um resgate do patrimônio alimentar, nacional e regionalmente.
A agroecologia precisa, então, ser compreendida como alternativa para o atual modelo de desenvolvimento econômico, adotado pelo país, e por outros países latino-americanos, a partir de três domínios, indissociáveis e interconectados: como uma prática social, já que é viva e produzida histórica e culturalmente, ao redor do planeta, através de práticas camponesas, expressadas pela tradicional relação do indivíduo com a terra, promovendo o resgate do patrimônio alimentar nacional e contribuindo para a garantia da soberania alimentar; como uma ciência, já que engloba conhecimentos e práticas construídos e aprimorados ao longo de gerações, com método e tecnologias que garantem a sustentabilidade do uso de recursos naturais nos diferentes processos produtivos, métodos estes que vêm sendo aprimorados, a partir do avanço e do estímulo ao desenvolvimento tecnológico e científico no marco de programas e políticas de promoção da agroecologia, no país; e como um movimento sociopolítico, capaz de conjugar diferentes pautas e lutas em torno de projetos de desenvolvimento agrário mais justos e sustentáveis, construído a partir de alianças entre o poder público, a academia, os atores da prática e as representações da sociedade civil2,9,19.
Segundo Schmitt et al.19, um dos processos mais importantes advindos da intensa articulação social em torno de projetos centrados na agroecologia foi a possibilidade de subsidiar a construção de políticas públicas, no Brasil e em outros países da América Latina, a partir da organização de uma ampla e diversa rede de atores-chave, representando movimentos sociais, organizações da sociedade civil, instituições acadêmicas e instâncias de governos. Um movimento que tem suas origens na articulação de projetos de educação popular e organização social no campo com o trabalho de ação pastoral - em particular a Pastoral da Terra - e da organização sindical, que resultou em um “movimento de movimentos” em torno da questão agrária. Movimento este que, desde os anos 1960, vem conformando uma corrente contra hegemônica em relação aos projetos de desenvolvimento agrário conduzidos pelo governo brasileiro, que privilegia a expansão da fronteira agrícola e a intensificação da produtividade8,10,11,19.
A partir desta organização, intensificada na segunda metade da década 1980 e fortalecida a partir do início dos anos 2000, registra-se, no Brasil e em diversos países latino-americanos, o desenvolvimento de políticas de estímulo à agroecologia8,10, políticas essas que buscam, em seus respectivos países, enfrentar a hegemonia e o peso desproporcional do agronegócio sobre as economias regionais, fortemente reprimarizadas pela lógica neoliberal que predomina na região11,15.
Um marco no contexto das políticas regionais para a promoção da agroecologia, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) foi instituída no Brasil, em 2012, com o objetivo de articular programas e ações indutoras da transição agroecológica e do estímulo à produção orgânica e, assim, contribuir para o uso sustentável de recursos naturais e a oferta de alimentos mais saudáveis para a população. Reconhecida pelo seu ineditismo e premiada pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em 2018, a PNAPO trouxe um modelo de gestão compartilhada, paritária, entre o governo e a sociedade civil, no âmbito da Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), principal espaço de participação e controle social da política. Também inovou ao articular diferentes setores de governo na gestão de seus programas e diretrizes, através da Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica (CIAPO).
Em 2019, através do Decreto 9.759, tanto a CNAPO quanto a CIAPO foram extintas, inviabilizando a mais reconhecida política regional de promoção da agroecologia na América Latina. Importantes programas desenvolvidos no âmbito da PNAPO foram enfraquecidos ou completamente desmontados, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que teve redução de orçamento da ordem de 80%, e o Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica – Programa ECOFORTE, cuja última edição havia se encerrado em 2019, e não renovada. Somente em 2023, no primeiro ano do terceiro mandato do Presidente Lula da Silva, a CNAPO e a CIAPO são recriadas, revitalizando a PNAPO.
Além da formulação de políticas públicas, algumas iniciativas importantes têm sido desenvolvidas, no país, no sentido de dar maior visibilidade às experiências exitosas de produção agrícola sustentada pelos princípios da agroecologia, como os Congressos Brasileiros de Agroecologia (CBA). Com edições acontecendo desde 2003, o último CBA (12ª edição) foi realizado em novembro de 2023, um período de retomada de grandes eventos presenciais pós-pandemia e, também, um momento histórico de reconstrução de políticas garantidoras dos direitos humanos mais básicos no país. Reuniu cerca de dez mil pessoas entre pesquisadores, docentes, técnicos, estudantes, agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e ativistas de movimentos sociais e representantes de mais de 20 países das Américas, da África e da Europa.
A 12ª edição do CBA também representou um marco para a retomada de importantes programas voltados à promoção da agroecologia no país, como o anúncio, já na solenidade de abertura, da retomada do Programa ECOFORTE. Ecos do XII CBA são ouvidos até hoje, e servem de inspiração para articular instâncias de governo e organizações da sociedade civil em torno de estratégias e programas – como a articulação em torno da inclusão do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA) no Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO) –, visando a promoção de modelos mais sustentáveis de desenvolvimento, uso da terra e produção de alimentos.
Considerações finais
Nos últimos anos, vimos observando retrocessos significativos em diversas políticas públicas na América Latina, especialmente aquelas voltadas para a redução das desigualdades e a promoção da cidadania. No Brasil, país que durante mais de uma década foi referência mundial no combate à fome, assistimos ao desmonte de programas voltados para a superação da insegurança alimentar e, como consequência direta, o retorno do país ao mapa da fome.
Ao mesmo tempo, evidenciam-se as consequências de processos insustentáveis de desenvolvimento econômico sobre o clima e os sistemas naturais na região. O aumento da frequência de eventos climáticos extremos, a desertificação de extensas porções do território latino-americano, a perda de biodiversidade e o aquecimento global, entre outros fenômenos, não apenas aprofundam a crise alimentar, como resultam em novos desafios para a Saúde Pública regional, impactando direta e indiretamente as políticas, programas e sistemas de saúde latino-americanos.
Em um contexto de disputa entre visões de mundo e de processos de desenvolvimento, a agroecologia se apresenta como uma estratégia viável para a garantia de direitos fundamentais - como o acesso à terra e à alimentação - a todos os indivíduos, independente de raça, cor, etnia, gênero, escolaridade ou lugar de residência. Uma estratégia que precisa ser fortalecida, permanentemente, a partir de um processo permanente de diálogo e de convergência em torno de projetos de desenvolvimento justos e sustentáveis, onde os interesses coletivos tenham primazia em relação aos interesses privados.
Com o retorno de projetos progressistas de governo em diferentes países da região, inclusive no Brasil, retoma-se a esperança e fortalecem-se as perspectivas de organização de políticas e ações visando o enfrentamento das crises climática e alimentar, bem como de suas consequências sobre a Saúde Pública regional. Nesse sentido, a oportunidade de organizar esta discussão serve como um chamado às instituições acadêmicas do campo da Saúde Pública, aos movimentos sociais do campo, das águas e das florestas e das cidades, aos representantes do controle social e à população em geral. Um chamado à responsabilidade que temos nesse momento histórico, no que diz respeito à garantia dos direitos e um sistema alimentar justo e sustentável.
Referências
1 – Camera S, Wegner R. Direito humano à alimentação, (in) segurança alimentar e desenvolvimento: os desafios à realização progressiva na América Latina. Revista de Direito Internacional. 2017; 14(1): 21-35.
2 – Saubourin E, Niederle P. Agricultura Familiar na América Latina: das políticas agrícolas diferenciadas aos instrumentos de promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da Agroecologia. Texto de Conjuntura n. 13. Rio de Janeiro: Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura - OPPA, 2016. Disponível em: https://agritrop.cirad.fr/581643/1/TEXTO%20DE%20CONJUNTURA%2013.pdf [Acesso 26 fev 2024]
3 – Sousa LRMD, Ditterich RG, Melgar-Quinõnez H. A pandemia de Covid-19 e seus entrelaçamentos com desigualdade de gênero, insegurança alimentar e apoio social na América Latina. Interface-Comunicação, Saúde, Educação. 2021; 25: e200651.
4 – Lampis A, Campello Torres PH, Jacobi PR, Leone AL. A produção de riscos e desastres na América Latina em um contexto de emergência climática. O Social em Questão. 2020; 23 (48): 75-96.
5 – Rockström J, Steffen W, Noone K, Persson A. Planetary boundaries. New Perspectives Quarterly. 2010; 27(1): 72-74.
6 – Gough I. Universal basic services: A theoretical and moral framework. The Political Quarterly. 2019; 90(3): 534-542.
7 – Brandão, AL; Casemiro, JP; Peres, F. Inseguridad Alimentaria y Emergencia Climática: sindemia global y un desafío de salud pública en América latina/ – 1. ed. -- Porto Alegre, RS: Editora Rede Unida, 2023.
8 – Nicholls CI, Altieri MA, Vázquez LL. Agroecología: Principios para la conversión y el rediseño de sistemas agrícolas. Agroecología. 2015; 10(1): 61-72.
9 – Guhur D, Silva, NR. Agroecologia [verbete]. In: AP Dias, AB Stauffer, LHC Moura, MC Vargas (orgs.). Dicionário de Agroecologia e Educação. Rio de Janeiro: EPSJV-Fiocruz/Expressão Popular, 2021.
10 – Canuto JC. Agroecologia, princípios e estratégias para o desenho de agroecossistemas sustentáveis. REDES: Revista do Desenvolvimento Regional. 2017; 22(2): 137-151.
11 – Miranda AC, Moreira JC, Carvalho RD, Peres F. Neoliberalismo, uso de agrotóxicos e a crise da soberania alimentar no Brasil. Ciência & saúde coletiva. 2007; 12: 7-14.
12 – Bühler EA, Guibert M, Oliveira VLD. Agriculturas empresariais e espaços rurais na globalização: abordagens a partir da América do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016.
13 – Cano W. A desindustrialização no Brasil. Economia e sociedade. 2012; 21: 831-851.
14 – Gelatti E, Coronel DA, Barros FC, Bobato AM, Gabbi MTT. Desindustrialização no Brasil: uma análise à luz das exportações e importações (1997 a 2018). RDE-Revista de Desenvolvimento Econômico. 2020; 1(45): 234-258.
15 – Lamoso LP. Reprimarização no território brasileiro. Espaço e Economia. Revista brasileira de geografia econômica. 2020; (19): 1-31.
16 – MDIC. Balança Comercial Preliminar Parcial do Mês. Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília: MDIC, 2023. Disponível em: https://balanca.economia.gov.br/balanca/pg_principal_bc/principais_resultados.html [Acesso 26 fev 2024]
17 – MAPA. Balança Comercial do Agronegócio - 2022. Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI)/Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Brasília: MAPA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/exportacoes-do-agronegocio-fecham-2022-com-us-159-bilhoes-em-vendas [Acesso 26 fev 2024]
18 – Dillman KJ, Czepkiewicz M, Heinonen J, Davíðsdóttir B. A safe and just space for urban mobility: A framework for sector-based sustainable consumption corridor development. Global Sustainability. 2021; 4: e28.
19 – Schmitt CJ, Niederle PA, Ávila M, Sabourin E, Petersen P, Silveira L, ... Bianconi Fernandes G. La experiencia brasileña de construcción de políticas públicas en favor de la Agroecología. In: E Sabourin et al. (orgs) Políticas públicas a favor de la agroecología en América Latina y El Caribe. Porto Alegre: Evangraf /Criação Humana/Red PP-AL: FAO, 2017. p. 73-122.
20 – ABA. Associação Brasileira de Agroecologia. Carta Política do 12o Congresso Brasileiro de Agroecologia, 2023.
Outros idiomas:
THE OPPORTUNITY TO UNDERSTAND AND PROMOTE AGROECOLOGY AS A STRATEGY TO TACKLE FOOD AND CLIMATE CRISES
Resumo (abstract):
The adoption of unsustainable economic development processes has contributed to a global crisis, in which the planet\'s biophysical limits have been exceeded, with several implications for natural systems, biodiversity and human health. This crisis further limits the access of a huge portion of the Brazilian and Latin American population, historically vulnerable, to basic citizen rights, such as the right to land and food, generating what can be considered a “crisis of crises”. This opinion article starts acknowledging significant setbacks in several public policies, in Brazil and Latin America, especially those aimed at reducing inequalities and promoting citizenship. It presents evidence that overcoming the “crisis of crises”, discussed throughout the text, needs to consider the adoption of food production, distribution and consumption models that are, at the same time, sustainable, sovereign and inclusive. It concludes with the idea that agroecology has immense potential to promote, in different parts of the country and Latin America, an economy that is regenerative,an ecological point of view, and distributive,a social point of view.
Palavras-chave (keywords):
Agroecology; Climate Change; Food and Nutrition Security; Latin America.
LA OPORTUNIDAD DE PENSAR Y PROMOVER LA AGROECOLOGÍA COMO ESTRATEGIA PARA ENFRENTAR LAS CRISIS ALIMENTARIA Y CLIMÁTICA
THE OPPORTUNITY TO UNDERSTAND AND PROMOTE AGROECOLOGY AS A STRATEGY TO TACKLE FOOD AND CLIMATE CRISES
Paulo Petersen – Coordinador ejecutivo, Asesoría y Servicios a Proyectos en Agricultura Alternativa (AS-PTA). ORCID: 0000-0002-9934-3059.
Juliana Casemiro - Profesora Asociada, Instituto de Nutrición de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro (INU/UERJ). ORCID: 0000-0001-6940-2479.
Ana Laura Brandão – Investigadora, Escuela Nacional de Salud Pública Sergio Arouca, Fundación Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). ORCID: 0000-0002-7148-2268.
Marco Antônio Carneiro Menezes – Director, Escuela Nacional de Salud Pública Sergio Arouca, Fundación Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). ORCID: 0009-0003-0330-9425.
Frederico Peres – Investigador Sénior, Escuela Nacional de Salud Pública Sergio Arouca, Fundación Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). ORCID: 0000-0003-2715-6622.
Autor correspondiente: Frederico Peres – Investigador Sénior, Escuela Nacional de Salud Pública Sergio Arouca, Fundación Oswaldo Cruz (Ensp/Fiocruz). ORCID: 0000-0003-2715-6622. e-mail: frederico.peres@fiocruz.br
RESUMEN
La adopción de procesos de desarrollo económico insostenibles ha contribuido a la conformación de una crisis global, donde los límites biofísicos del planeta han sido sobrepasados, con diversas implicaciones para los sistemas naturales, la biodiversidad y la salud humana. Crisis que limita, aún más, el acceso de una inmensa parcela de la población brasileña y latinoamericana, históricamente vulnerable, a los derechos ciudadanos básicos, como el derecho a la tierra y al alimento, generando lo que se puede considerar una “crisis de crisis”. El presente artículo de opinión parte de la premisa de que existen retrocesos significativos en diversas políticas públicas, en Brasil y en América Latina, especialmente aquellas dedicadas a la reducción de las desigualdades y la promoción de la ciudadanía. Presenta evidencia de que la superación de la “crisis de crisis”, discutida a lo largo del texto, necesita considerar la adopción de modelos de producción, distribución y consumo de alimentos que sean, al mismo tiempo, sostenibles, soberanos e inclusivos. Concluye con la idea de que la agroecología posee un inmenso potencial para promover, en las diferentes regiones del país y de América Latina, una economía que sea regenerativa, desde el punto de vista ecológico, y distributiva, desde el punto de vista social.
Palabras clave: Agroecología; Alteraciones Climáticas; Seguridad Alimentaria y Nutricional; América Latina.
ABSTRACT
The adoption of unsustainable economic development processes has contributed to a global crisis, in which the planet\'s biophysical limits have been exceeded, with several implications for natural systems, biodiversity and human health. This crisis further limits the access of a huge portion of the Brazilian and Latin American population, historically vulnerable, to basic citizen rights, such as the right to land and food, generating what can be considered a “crisis of crises”. This opinion article starts acknowledging significant setbacks in several public policies, in Brazil and Latin America, especially those aimed at reducing inequalities and promoting citizenship. It presents evidence that overcoming the “crisis of crises”, discussed throughout the text, needs to consider the adoption of food production, distribution and consumption models that are, at the same time, sustainable, sovereign and inclusive. It concludes with the idea that agroecology has immense potential to promote, in different parts of the country and Latin America, an economy that is regenerative, from an ecological point of view, and distributive, from a social point of view.
Keywords: Agroecology; Climate Change; Food and Nutrition Security; Latin America.
Introducción
Comprender la crisis alimentaria, en el contexto actual, exige la consideración de su carácter complejo, multidimensional e intersectorial, donde los intereses públicos y privados se superponen y producen, como resultado, el deterioro de la salud, individual y colectivamente, la pérdida de la calidad de vida y la violación de los derechos humanos básicos1. Bajo esa perspectiva, es posible evidenciar los procesos de determinación socioambiental de la inseguridad alimentaria, alrededor del planeta, donde cada componente contribuye al agravamiento del otro, retroalimentando un sistema complejo que se expresa a partir de la degradación ambiental, la limitación del acceso a la tierra, el debilitamiento de la soberanía alimentaria, los impactos sobre las actividades agrícolas más tradicionales, la inseguridad alimentaria y nutricional y la degradación de las condiciones de vida y trabajo2,3.
Como resultado, se generan crisis sanitarias y sociales de grandes dimensiones, comprometiendo la salud de las poblaciones del campo, determinando migraciones forzadas y vulnerando todavía más a los individuos y grupos que han sido históricamente apartados de los beneficios provenientes de los proyectos de desarrollo económico en el campo4. Dichas crisis ocurren en territorios históricamente fragilizados y así, cada vez más, sufren con los impactos de los cambios en el clima y en los sistemas ambientales3.
La adopción de procesos insostenibles de desarrollo económico, en diferentes partes del planeta, contribuye a la conformación de una crisis climática, donde los límites biofísicos del planeta ya han sido alcanzados o, incluso, sobrepasados, con posibles implicaciones irreversibles para los sistemas naturales y la biodiversidad, comprometiendo la vida en sus diferentes formas, globalmente5. Tales procesos también comprometen el desarrollo humano, en su más amplia acepción, limitando el acceso de una inmensa parte de la población mundial a los derechos ciudadanos más básicos y, en consecuencia, produciendo desigualdades, individuales y colectivas6. Así, justamente en ese espacio de producción y reproducción de desigualdades se circunscriben las crisis alimentaria y climática vividas en Brasil y en otros países de América Latina4,7.
La agroecología es un amplio conjunto de conocimientos y prácticas que determina procesos justos, equilibrados y sostenibles de producción, comercialización y consumo de alimentos, que respeta los procesos históricos de desarrollo de los pueblos y promueve la igualdad entre los individuos8,9. Involucra procesos de transformación de la naturaleza, por medio del trabajo, de forma ecológicamente equilibrada y sostenible desde el punto de vista socioambiental9,10. Por su inclinación a la sostenibilidad y su capacidad de promover espacios de enfrentamiento a las desigualdades socioambientales, determinadas por diferentes procesos de desarrollo económico, la agroecología ha sido señalada, por diferentes autores, como una estrategia para fomentar, de forma integrada, el enfrentamiento a las crisis alimentaria y climática, en Brasil y en diversas partes del planeta8,9,10.
El presente artículo nos llama a reflexionar sobre la agroecología como estrategia para el enfrentamiento a las crisis alimentaria y climática, en Brasil y en América Latina.
Algunos antecedentes de las crisis alimentaria y climática, en Brasil y América Latina
Con el inicio del proceso de redemocratización del país, a mediados de los años 1980 y, especialmente, a partir de los primeros años de la década de 1990, se evidencia, en la política económica brasileña y en otros países de América Latina, también provenientes de gobiernos autoritarios, una migración gradual hacia los proyectos desarrollistas de orientación neoliberal11,12. Bajo el arquetipo neoliberal, los primeros gobiernos brasileños posteriores a la democratización pasaron a limitar las inversiones estatales en la industria nacional, lo que condujo a un proceso de desindustrialización que perdura hasta la actualidad13,14. Al mismo tiempo, comenzaron a ofrecer subsidios crecientes y sustanciales a determinadas cadenas de producción agropecuaria, principalmente aquellas dedicadas a la exportación de materia prima agrícolas como la soja, el maíz, el algodón, además de las exportaciones de carne porcina, bovina y aviar11,12.
Esta inflexión histórica marca el inicio de un proceso de reprimarización de la economía nacional, lo que ha llevado a Brasil a posicionarse, desde hace más de tres décadas, como uno de los mayores exportadores mundiales de materia prima agrícola (en particular, de granos)15. Se trata de un proyecto de desarrollo que dejó a la economía de Brasil susceptible a las fluctuaciones internacionales de los precios de esos productos, ya sea por su peso en la composición del Producto Interno Bruto nacional, o por el hecho de que solo un producto (la soja) representa el 25% de todas las exportaciones del país16, en un contexto en que el agronegocio es responsable de casi la mitad de las exportaciones nacionales17.
Asimismo, este proceso terminó contribuyendo a la profundización de las desigualdades históricas, ya que las grandes cadenas exportadoras de monoculturas se sostienen debido al uso de grandes extensiones de tierra, marcadas por la gran concentración económica y política en manos de corporaciones transnacionales, cada vez más en las manos de menos personas, y en la intensa mecanización y uso de insumos químicos que, además de forzar el éxodo de poblaciones del campo a las periferias de las grandes ciudades, contribuyen a la degradación y contaminación de los biomas y ecosistemas nacionales4. Estas son situaciones-problemas que, en las últimas décadas, se han agravado en frecuencia e intensidad debido a los cambios en el clima causados por la intervención insostenible de los seres humanos sobre el ambiente4,5,7.
La agroecología como estrategia para enfrentar las crisis alimentaria y climática
Uno de los principales desafíos que surge en el marco de las estrategias de afrontamiento de las crisis alimentaria y climática, en el país, es la necesidad de garantizar espacios y proyectos de desarrollo seguros y justos, tanto para individuos como para grupos de la población, en todo el territorio nacional, y que no comprometan la diversidad y los sistemas naturales de Brasil3,4,8. Una perspectiva que promueva, en las diferentes regiones del país, una economía que sea regenerativa, desde el punto de vista ecológico, y distributiva, desde el punto de vista social. Una economía que no esté ni encima del techo ecológico ni debajo del fundamento social5,18.
La agroecología, entendida como un paradigma y una política de Estado, en nuestro país2,10, adquiere, en ese contexto, un papel central en la discusión sobre la transición desde un modelo de desarrollo agrario basado en la economía del agronegocio hacia una lógica diversificada, multifuncional y sostenible de producción, orientada por el concepto de la soberanía alimentaria y por la necesidad del enfrentamiento de la “crisis de crisis”, nacional y regionalmente.
Antes que nada, es necesario resaltar que la agroecología no puede ser comprendida como un modelo que se adopta para sustituir el agronegocio, ya que ambos operan en escalas y poseen propósitos bastante diferentes. La alternativa agroecológica toma en cuenta los costos socioambientales y sanitarios relacionados con los impactos del agronegocio en los distintos biomas y territorios de Brasil, donde determina el aumento de la concentración de tierras e ingresos, y el agravamiento de las desigualdades ya existentes, cuyos impactos desproporcionados se sienten en las áreas y grupos de la población más vulnerables. Contabiliza los costos para el sector público provenientes de los impactos y de los incentivos al agronegocio, relativizando las ventajas económicas del agronegocio. De esta manera, la agroecología se contrapone al modelo agrícola hegemónico, buscando promover prácticas agrícolas justas, sostenibles desde el punto de vista socioambiental, y capaces de promover la recuperación del patrimonio alimentario a nivel nacional y regional.
Por lo tanto, la agroecología necesita ser comprendida como alternativa al actual modelo de desarrollo económico, adoptado por el país y por otros países latinoamericanos, a partir de tres dominios, indisociables e interconectados: primero, como una práctica social, ya que está viva y se produce de forma histórica y cultural, alrededor del planeta, por medio de prácticas campesinas, expresadas por la relación tradicional del individuo con la tierra, lo cual promueve la recuperación del patrimonio alimentario nacional y contribuye a la garantía de la soberanía alimentaria; segundo, como una ciencia, ya que engloba conocimientos y prácticas construidas y perfeccionadas a lo largo de las generaciones con métodos y tecnologías que garantizan la sostenibilidad del uso de recursos naturales en los diferentes procesos productivos. Dichos métodos han sido mejorados a partir del avance y el estímulo del desarrollo tecnológico y científico en el marco de programas y políticas de promoción de la agroecología en el país; y por último, como un movimiento sociopolítico, capaz de conjugar diferentes pautas y luchas en torno a proyectos de desarrollo agrario más justos y sostenibles, construido a partir de alianzas entre el poder público, la academia, los actores de la práctica y las representaciones de la sociedad civil2,9,19.
Según Schmitt et al.19, uno de los procesos más importantes derivado de la intensa articulación social en torno a proyectos centrados en la agroecología fue la posibilidad de subsidiar la construcción de políticas públicas, en Brasil y en otros países de América Latina, a partir de la organización de una amplia red de actores clave, que incluye movimientos sociales, organizaciones de la sociedad civil, instituciones académicas e instancias gubernamentales. Un movimiento que tiene su origen en la articulación de proyectos de educación popular y organización social en el campo junto con el trabajo de acción pastoral (especialmente la Pastoral da Terra) y de organización sindical. Esto dio lugar a un “movimiento de movimientos” en torno a la cuestión agraria. Movimiento que, desde los años sesenta, ha establecido una corriente contrahegemónica en relación con los proyectos de desarrollo agrario impulsados por el gobierno brasileño, que privilegia la expansión de la frontera agrícola y la intensificación de la productividad8,10,11,19.
A partir de esta organización, que se intensificó en la segunda mitad de la década de los ochenta y se fortaleció desde inicios de los años 2000, se registra en Brasil y en diversos países latinoamericanos el desarrollo de políticas de estímulo a la agroecología8,10. Estas políticas buscan, en sus respectivos países, afrontar la hegemonía y el peso desproporcionado del agronegocio sobre las economías regionales, las cuales sufren una fuerte reprimarización debido a la lógica neoliberal que predomina en la región11,15.
Un marco en el contexto de las políticas regionales para la promoción de la agroecología fue la promulgación de la Política Nacional de Agroecología y Producción Orgánica (PNAPO) en Brasil en 2012, con el objetivo de articular programas y acciones que indujeran la transición agroecológica y el estímulo a la producción orgánica y así, poder contribuir al uso sostenible de recursos naturales y a la oferta de alimentos más saludables para la población. La PNAPO, reconocida por su carácter inédito y premiada por la Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y Agricultura (FAO) en 2018, estableció un modelo de gestión compartida y paritaria entre el gobierno y la sociedad civil, en el ámbito de la Comisión Nacional de Agroecología y Producción Orgánica (CNAPO), principal espacio de participación y control social de la política. También innovó mediante la articulación de diferentes sectores del gobierno en la gestión de sus programas y directrices, a través de la Cámara Interministerial de Agroecología y Producción Orgánica (CIAPO).
En 2019, a través del Decreto 9.759, tanto la CNAPO como la CIAPO fueron extinguidas, lo que inviabilizó la política de promoción de la agroecología más reconocida en América Latina. Programas relevantes desarrollados en el ámbito de la PNAPO fueron debilitados o totalmente desmantelados, como el Programa de Adquisición de Alimentos (PAA), que sufrió una reducción de presupuesto del orden del 80%, y el Programa de Fortalecimiento y Ampliación de las Redes de Agroecología, Extractivismo y Producción Orgánica - Programa ECOFORTE, cuya última edición había finalizado en 2019 y no fue renovada. Solo en 2023, durante el primer año del tercer mandato del Presidente Lula da Silva, la CNAPO y la CIAPO fueron restablecidas, revitalizando la PNAPO.
Además de la formulación de políticas públicas, algunas iniciativas de gran importancia se han desarrollado en el país, en el sentido de dar mayor visibilidad a las experiencias exitosas de la producción agrícola sustentada por los principios de la agroecología, como los Congresos Brasileños de Agroecología (CBA). Con ediciones que se celebran desde 2003, el último CBA (12ª edición) se realizó en noviembre de 2023, el cual fue un periodo de reanudación de grandes eventos presenciales tras la pandemia y, a su vez, un momento histórico de reconstrucción de políticas garantes de los derechos humanos más básicos en el país. Reunió cerca de diez mil personas, incluidos investigadores, docentes, técnicos, estudiantes, agricultores familiares, pueblos y comunidades tradicionales, activistas de movimientos sociales y representantes de más de 20 países de las Américas, África y Europa.
La 12ª edición del CBA también representó un marco en la reanudación de programas importantes dedicados a la promoción de la agroecología en el país, como fue el anuncio durante la ceremonia de apertura, de la reactivación del Programa ECOFORTE. Los Ecos del XII CBA resuenan hasta hoy y sirven de inspiración para articular instancias del gobierno y organizaciones de la sociedad civil en torno a estrategias y programas. Un ejemplo es la articulación en torno a la inclusión del Programa Nacional de Reducción de Agrotóxicos (PRONARA) en el Plan Nacional de Agroecología y Producción Orgánica (PLANAPO), todo ello velando por la promoción de modelos más sostenibles de desarrollo, uso de la tierra y producción de alimentos.
Consideraciones finales
Durante los últimos años, hemos observado retrocesos significativos en diversas políticas públicas en América Latina, especialmente aquellas dedicadas a la reducción de las desigualdades y la promoción de la ciudadanía. En Brasil, país que durante más de una década fue referente mundial en el combate contra el hambre, pudimos observar el desmantelamiento de programas diseñados para la superación de la inseguridad alimentaria y, como consecuencia directa, el regreso del país al mapa del hambre.
Al mismo tiempo, se evidencian las consecuencias de los procesos insostenibles de desarrollo económico sobre el clima y los sistemas naturales en la región. El aumento de la frecuencia de eventos climáticos extremos, la desertificación de extensas porciones de territorio latinoamericano, la pérdida de la biodiversidad y el calentamiento global, entre otros fenómenos, no solo profundiza la crisis alimentaria, sino que conlleva a nuevos desafíos para la Salud Pública regional, impactando directa e indirectamente las políticas, programas y sistemas de salud latinoamericanos.
En un contexto de disputa entre visiones de mundo y de procesos de desarrollo, la agroecología se presenta como una estrategia viable que garantiza los derechos fundamentales, tales como el acceso a la tierra y a la alimentación, para todos los individuos, independientemente de su raza, color, etnia, género, escolaridad o lugar de residencia. Esta es una estrategia que debe fortalecerse permanentemente, partiendo de un proceso permanente de diálogo y de convergencia en torno a proyectos de desarrollo justos y sostenibles, donde los intereses colectivos posean prioridad sobre los intereses privados.
Con el restablecimiento de los proyectos progresistas de gobierno en diferentes países de la región, incluyendo a Brasil, se recupera la esperanza y se refuerzan las perspectivas de organización de políticas y acciones orientadas a afrontar las crisis climáticas y alimentarias, así como sus consecuencias sobre la Salud Pública regional. En este sentido, la oportunidad de organizar esta discusión sirve como un llamamiento a las instituciones académicas del campo de la Salud Pública, a los movimientos sociales del campo, las aguas, las florestas y las ciudades, a los representantes del control social y a la población en general. Un llamamiento a la responsabilidad que nos atañe en este momento histórico, en cuanto a la garantía de los derechos y un sistema alimentario justo y sostenible.
Referencias
1 – Camera S, Wegner R. Direito humano à alimentação, (in) segurança alimentar e desenvolvimento: os desafios à realização progressiva na América Latina. Revista de Direito Internacional. 2017; 14(1): 21-35.
2 – Saubourin E, Niederle P. Agricultura Familiar na América Latina: das políticas agrícolas diferenciadas aos instrumentos de promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional e da Agroecologia. Texto de Conjuntura n. 13. Rio de Janeiro: Observatório de Políticas Públicas para a Agricultura - OPPA, 2016. Disponível em: https://agritrop.cirad.fr/581643/1/TEXTO%20DE%20CONJUNTURA%2013.pdf [Acesso 26 fev 2024]
3 – Sousa LRMD, Ditterich RG, Melgar-Quinõnez H. A pandemia de Covid-19 e seus entrelaçamentos com desigualdade de gênero, insegurança alimentar e apoio social na América Latina. Interface-Comunicação, Saúde, Educação. 2021; 25: e200651.
4 – Lampis A, Campello Torres PH, Jacobi PR, Leone AL. A produção de riscos e desastres na América Latina em um contexto de emergência climática. O Social em Questão. 2020; 23 (48): 75-96.
5 – Rockström J, Steffen W, Noone K, Persson A. Planetary boundaries. New Perspectives Quarterly. 2010; 27(1): 72-74.
6 – Gough I. Universal basic services: A theoretical and moral framework. The Political Quarterly. 2019; 90(3): 534-542.
7 – Brandão, AL; Casemiro, JP; Peres, F. Inseguridad Alimentaria y Emergencia Climática: sindemia global y un desafío de salud pública en América latina/ – 1. ed. -- Porto Alegre, RS: Editora Rede Unida, 2023.
8 – Nicholls CI, Altieri MA, Vázquez LL. Agroecología: Principios para la conversión y el rediseño de sistemas agrícolas. Agroecología. 2015; 10(1): 61-72.
9 – Guhur D, Silva, NR. Agroecologia [verbete]. In: AP Dias, AB Stauffer, LHC Moura, MC Vargas (orgs.). Dicionário de Agroecologia e Educação. Rio de Janeiro: EPSJV-Fiocruz/Expressão Popular, 2021.
10 – Canuto JC. Agroecologia, princípios e estratégias para o desenho de agroecossistemas sustentáveis. REDES: Revista do Desenvolvimento Regional. 2017; 22(2): 137-151.
11 – Miranda AC, Moreira JC, Carvalho RD, Peres F. Neoliberalismo, uso de agrotóxicos e a crise da soberania alimentar no Brasil. Ciência & saúde coletiva. 2007; 12: 7-14.
12 – Bühler EA, Guibert M, Oliveira VLD. Agriculturas empresariais e espaços rurais na globalização: abordagens a partir da América do Sul. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016.
13 – Cano W. A desindustrialização no Brasil. Economia e sociedade. 2012; 21: 831-851.
14 – Gelatti E, Coronel DA, Barros FC, Bobato AM, Gabbi MTT. Desindustrialização no Brasil: uma análise à luz das exportações e importações (1997 a 2018). RDE-Revista de Desenvolvimento Econômico. 2020; 1(45): 234-258.
15 – Lamoso LP. Reprimarização no território brasileiro. Espaço e Economia. Revista brasileira de geografia econômica. 2020; (19): 1-31.
16 – MDIC. Balança Comercial Preliminar Parcial do Mês. Secretaria de Comércio Exterior/Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Brasília: MDIC, 2023. Disponível em: https://balanca.economia.gov.br/balanca/pg_principal_bc/principais_resultados.html [Acesso 26 fev 2024]
17 – MAPA. Balança Comercial do Agronegócio - 2022. Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI)/Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). Brasília: MAPA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/noticias/exportacoes-do-agronegocio-fecham-2022-com-us-159-bilhoes-em-vendas [Acesso 26 fev 2024]
18 – Dillman KJ, Czepkiewicz M, Heinonen J, Davíðsdóttir B. A safe and just space for urban mobility: A framework for sector-based sustainable consumption corridor development. Global Sustainability. 2021; 4: e28.
19 – Schmitt CJ, Niederle PA, Ávila M, Sabourin E, Petersen P, Silveira L, ... Bianconi Fernandes G. La experiencia brasileña de construcción de políticas públicas en favor de la Agroecología. In: E Sabourin et al. (orgs) Políticas públicas a favor de la agroecología en América Latina y El Caribe. Porto Alegre: Evangraf /Criação Humana/Red PP-AL: FAO, 2017. p. 73-122.
20 – ABA. Associação Brasileira de Agroecologia. Carta Política do 12o Congresso Brasileiro de Agroecologia, 2023.
Como
Citar
Petersen, P., Casemiro, J., Brandão, AL, Menezes, M.A.C, Peres, F. A OPORTUNIDADE DE PENSAR E PROMOVER A AGROECOLOGIA COMO ESTRATÉGIA PARA ENFRENTAR AS CRISES ALIMENTAR E CLIMÁTICA. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/out). [Citado em 06/12/2025].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/a-oportunidade-de-pensar-e-promover-a-agroecologia-como-estrategia-para-enfrentar-as-crises-alimentar-e-climatica/19401?id=19401