0197/2006 - Avaliação das ações de saúde bucal no programa saúde da família no distrito de Mosqueiro (Pará )
BUCCAL HEALTH ACTIONS EVALUATION IN THE FAMILY HEALTH PROGRAM IN THE MOSQUEIRO DISTRICT (PARÁ)
Autor:
• Danielle Tupinambá Emmi - Danielle Tupinambá Emmi - Belém, Pará - Universidade Federal do Pará - <dtemmi@yahoo.com.br>Área Temática:
Não CategorizadoResumo:
A ampliação das equipes do Programa Saúde da Família (PSF), com a implantação da equipe de saúde bucal (ESB), previsto na Portaria 1.444 de 28/12/2000, foi um importante passo para a reorganização da atenção à saúde bucal e um maior acesso da população de baixa renda às ações de saúde e tratamento dentário de qualidade. No Distrito de Mosqueiro (PA), a ESB foi incluída no contexto do PSF em 2002 e desenvolve suas atividades junto a comunidade, com visitas domiciliares, em escolas e na própria Unidade Saúde da Família. Com o objetivo de avaliar as ações de saúde bucal executadas, foi aplicado um questionário com questões fechadas e semi-abertas para 103 usuários do PSF que freqüentaram uma das Unidades Saúde da Família em julho de 2004. Os dados obtidos foram tabulados e demonstraram que a maioria dos usuários é de adultos jovens, do gênero feminino e que já concluiu o ensino médio, porém sem acesso ao ensino superior. Este público considera que houve uma melhora considerável na qualidade de saúde bucal, apresentando-se satisfeito quanto a atuação da atual equipe.Palavras-chave: Programa Saúde da Família; Equipe de Saúde Bucal; satisfação; ações de saúde bucal.
Abstract:
The enlargement of Family Health Program team´s with the implantation of Buccal Health Team (BHT), foreseen in Decree 1.444 of 28/12/2000, was an important step for the reorganization of the attention in buccal health and a provides a big access to the low income population to the health´s action and a better dental treatment. In the Mosqueiro District (Pará), in 2002, the BHT was enclosed in the context of the FHP and develops its activities together the community, with home visits, in schools and in the own Family Health Unit. With the objective of evaluating the executed actions in buccal health, a questionnaire was applied with closed and half-open subjects for 103 users of the Family Health Program that they frequented one of the Family Health Units in July of 2004. The obtained data were tabulated and demonstrated that the most of the users belongs to young adults, of the feminine gender and that it already concluded the medium education, however without access to the higher education. This public considers that there was a considerable improvement in the quality of buccal healthcoming satisfied as the performance of the current team.Key-words: Family Health Program; Buccal Health Team; satisfaction; actions of buccal health.
Conteúdo:
A estratégia do PSF prioriza as ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família de forma contínua e integral, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes (Ministério da Saúde1, 2002) e que deve ser prestado na Unidade Básica de Saúde ou no domicílio pelos profissionais que compõem as Equipes de Saúde da Família (ESF). Estes profissionais devem criar vínculos de co-responsabilidade de enfrentar os desafios de uma nova produção de saúde, pois as ações priorizadas pelo programa não devem se restringir ao setor saúde, e sim estar articuladas com diferentes setores para intervir nos determinantes e condicionantes do processo saúde-doença, fundamentando-se na atenção continuada à população e vigilância à saúde.
Segundo as diretrizes do programa, a equipe de saúde da família deve estar preparada para o conhecimento da realidade das famílias pelas quais é responsável; a identificação dos problemas de saúde mais prevalentes e situações de risco as quais à população está exposta; a elaboração de um plano com a participação da comunidade para o enfrentamento dos determinantes do processo saúde-doença; a prestação de assistência integral e o desenvolvimento de ações educativas (Ministério da Saúde2, 2000).
As equipes de saúde da família trabalham sempre com o território de abrangência definido, sendo responsáveis por desenvolver ações de promoção e prevenção de saúde acompanhando a população com alta resolubilidade e custos indiretos baixos. Os territórios do PSF envolvem o domicílio, as micro-áreas, creches e escolas. A partir dessa delimitação da área de abrangência é possível identificar, com mais facilidade, os principais problemas de saúde que afetam aquela comunidade, compreendendo os principais agravos da população, permitindo que seja elaborado diagnóstico e avaliação permanente para planejar e desenvolver ações de saúde coerentes com a realidade vivida.
Para Camargo-Borges e Japur3 (2005), conceber o processo saúde/doença como situado e contextualizado e, mais ainda, gerando uma rede de relações em que se controem necessidades por meio de um processo dinâmico e dialógico entre as pessoas envolvidas, convida à construção de uma prática mais sensível às interações, à escuta e à permanente negociação entre equipe-comunidade. Assim sendo, o diálogo se mostra como a ferramenta-mestra da relação, possibilitando a construção de novos sentidos na especificidade da assistência local desejada.
A saúde bucal, segundo Narvai4 (2001), é parte integrante e inseparável da saúde geral do indivíduo e está diretamente relacionada às condições de alimentação, moradia, trabalho, renda, transporte, lazer, acesso aos serviços de saúde e à informação.
Um levantamento realizado em 1998 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Ministério da Saúde constatou que cerca de 29,6 milhões de brasileiros, ou 19,5% da população nunca foi ao dentista. Nas áreas rurais esse índice chega a 32%.
Souza5 (2001) afirma que, no contexto do PSF, a saúde bucal deve ser entendida como objeto de intervenção de todos os profissionais da equipe e não exclusivamente dos que trabalham especificamente na área odontológica. Incorporar a saúde bucal no PSF não significa necessariamente incluir o cirurgião-dentista – CD na equipe mínima constituída por médico, enfermeiro e auxiliar de enfermagem, mas exige articular o trabalho desses profissionais a uma equipe de saúde bucal.
As equipes de saúde bucal devem ser preparadas para prestar assistência individual e desenvolver ações coletivas, sempre voltando sua atuação para a promoção de saúde, controle e tratamento das doenças bucais.
Para Rabello e Corvino6 (2001), mudar o sistema atual de assistência à saúde, significa passar por modificações desde o ensino, que dá ênfase à tecnologia de equipamentos, às ações centralizadas e altamente especializadas.
Para isso é necessário inicialmente que haja uma modificação no paradigma da prática odontológica baseada no modelo cirúrgico-restaurador. É preciso então, que sejam formados clínicos gerais com sólidos conhecimentos clínicos, mas também de saúde coletiva, para poder aliar a competência técnica ao compromisso social.
Moreira7 (1999) ressalta que o CD somente deve ser incorporado à equipe de saúde da família após treinamento, que deve proporcionar ao profissional a compreensão das políticas de saúde propostas pelo SUS, estimular a desmonopolização dos saberes de saúde bucal para o restante da equipe e capacitar o desenvolvimento de atividades em grupo, como educação em saúde, porque o sucesso dos programas destinados a elevar o nível de saúde bucal, segundo Volschan et al8 (2002), depende, fundamentalmente, de recursos humanos adequadamente preparados.
A atuação da Equipe de Saúde Bucal (ESB) no Distrito de Mosqueiro (PA)
O Distrito de Mosqueiro é uma ilha localizada a 60 Km de Belém que apresenta, segundo censo do IBGE de 1991, 18.309 habitantes.
Apresenta equipes de saúde da família há cerca de 4 anos nas Unidades Básicas de Saúde dos bairros prestando atendimento à população. Em 2002, com base na Portaria 1.444, do Ministério da Saúde, de 28 de dezembro de 2000 foi implantada uma Equipe de Saúde Bucal (ESB) dentro da modalidade I preconizada pelo Ministério da Saúde para aumentar as ações de promoção, prevenção e procedimentos odontológicos, levando ações de saúde bucal diretamente às comunidades. Esta ESB atua fazendo visitas domiciliares, visitas em escolas e creches, com palestras de educação em saúde, procedimentos preventivos, tratamento restaurador atraumático - ART e alguns procedimentos curativos que são realizados nas crianças em um odontomóvel.
A atenção à população ribeirinha também faz parte das ações da ESB, que desenvolve atividades educativa, preventiva e curativa (ART), geralmente domiciliar, já que é uma clientela que apresenta dificuldades geográficas de acesso às Unidades e ao atendimento.
Todas essas ações foram planejadas após levantamento das condições de saúde bucal da população, realizada em 2002, o que serviu para nortear as ações de saúde bucal a serem desenvolvidas de acordo com as necessidades da população.
Passados 2 anos da implantação de um planejamento em saúde bucal dentro do Programa Saúde da Família de Mosqueiro (PA), é importante avaliar as ações que estão sendo executadas e como estão sendo desenvolvidas pela equipe, através da visão e grau de satisfação dos usuários, pois segundo Ware et al9 (1983), a medida de satisfação do usuário é uma avaliação pessoal dos cuidados e serviços de saúde que são dispensados. Isso implica num julgamento sobre a qualidade dos serviços ofertados como medida de otimização das ações.
Favaro e Ferris10 (1991) afirmam que abordar a satisfação dos usuários implica trazer um julgamento sobre características dos serviços e, portanto sobre sua qualidade. Assim, a perspectiva do usuário fornece informação essencial para completar e equilibrar a qualidade dos serviços. Sobre isso, Esperidião e Trad11 (2005) consideram que todas as pesquisas no âmbito da satisfação do usuário devem propiciar aperfeiçoamento para o cotidiano dos serviços de saúde e avanços significativos para a gestão dos serviços de saúde.
Segundo Vaitsman e Andrade12 (2005), a ampla utilização de pesquisas de satisfação do usuário dão destaque aos pacientes nos serviços e sistemas de saúde, focalizando as distintas dimensões que envolvem o cuidado à saúde, desde a relação profissional-paciente até a qualidade das instalações dos serviços, passando pela qualidade técnica dos profissionais de saúde. Isso é feito por meio da coleta direta de informações junto aos respondentes por meio dos questionários.
O termo satisfação está diretamente ligado ao ato de explicar, diz respeito ao atendimento dos desejos, necessidades e expectativas dos usuários que fazem parte de uma comunidade, com a intenção de que as necessidades sejam realmente atendidas e traduzidas em ofertas de ações e serviços (Santos e Pereira13, 2003).
O ato de avaliar acompanha o fazer humano. A necessidade de avaliar serviços, em especial os serviços de saúde, além de servir para melhorar o desempenho dos prestadores de serviço, alavancar a satisfação de funcionários e usuários, melhorar o contexto do trabalho e a qualidade de vida das pessoas, proporciona melhores resultados em termos de eficiência e eficácia do sistema (Chiavenato14, 1994).
Segundo Barbisan et al15 (1995), programas que visam melhoria da assistência médica e odontológica devem levar em conta as expectativas da população a respeito do que é oferecido e esperado, visto que a satisfação deve ser usada como medida do resultado do atendimento odontológico.
Para Gattinara et al16 (1995), a qualidade dos serviços de saúde pode ser considerada como resultado de vários fatores, entre eles competência profissional, acessibilidade, eficácia, eficiência e satisfação do usuário.
Ao avaliar serviços na sua qualidade, é preciso perguntar quem é o usuário, em que acredita e o que espera do serviço. Uma das questões relacionadas à avaliação e à qualidade é aquela relacionada ao resultado final, isto é, a satisfação do usuário (Braga17, 1998).
OBJETIVOS
Avaliar as ações de saúde bucal desenvolvidas pelo Programa Família Saudável - PFS (denominação municipal do Programa Saúde da Família) no Distrito de Mosqueiro (PA), identificando o grau de satisfação dos usuários quanto às ações de saúde bucal desenvolvidas e em que aspectos a implantação da Equipe de Saúde Bucal trouxe benefícios para população usuária.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada através de estudo quantitativo descritivo, uma vez que se busca avaliar objetivamente as ações de saúde bucal desenvolvidas no Programa Família Saudável - PFS no Distrito de Mosqueiro (PA) através da visão do usuário, com a intenção de melhorar as práticas de atenção à saúde.
Participaram da pesquisa 103 pessoas, todos usuários do PFS, que freqüentaram a Unidade Saúde da Família de Carananduba, em Mosqueiro (PA), no mês de julho de 2004. A coleta de dados foi feita através da aplicação de questionário com os usuários que aguardavam atendimento nos diversos setores da Unidade, que depois de esclarecidos sobre a finalidade do estudo, colaboravam espontaneamente respondendo o questionário, após assinar o termo de consentimento livre e esclarecido, aprovado pelo Comitê de Bioética do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Pará.
O questionário era composto da maior parte das perguntas fechadas e algumas semi-abertas, que eram lidas pela pesquisadora para os entrevistados.
Os dados coletados foram analisados e trabalhados quantitativamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao avaliar as ações de saúde bucal do Programa Família Saudável de Mosqueiro (PA), foi necessário uma análise da satisfação do usuário, pois os autores Ware et al9 (1983), Favaro e Ferris10 (1991), Santos e Pereira13 (2003), Barbisan et al15 (1995), Braga17 (1998) são incontestáveis em afirmar que a medida da satisfação do usuário é uma avaliação da qualidade dos serviços de saúde.
Na análise quanto ao grau de instrução dos usuários (gráfico 1), verifica-se que a maioria deles já concluiu o ensino médio (37,9%). Porém, é possível verificar também que ainda temos pessoas sem nenhuma instrução (2,9%), assim como nenhum dos entrevistados cursa ou cursou o ensino superior (0,0%).
Devido a essa variação de escolaridade é preciso que se saiba trabalhar muito bem a educação em saúde, seja na Unidade ou nas visitas domiciliares, para que atinja a todos e que todos sejam conscientizados da importância da manutenção da saúde bucal, criando vínculos de responsabilidade entre Equipe de Saúde Bucal e a família. Para isso, segundo Pucca Jr.18 (2004) é necessário que as universidades adeqüem seus currículos para que sejam formados excelentes profissionais clínicos gerais e com sólidos conhecimentos de saúde coletiva; evitando-se a ênfase à tecnologia de equipamentos e às ações centralizadas e altamente especializadas (Rabello e Corvino6, 2001).
O gráfico 2 mostra o acréscimo dos conhecimentos relatados pelos usuários antes e após a inclusão da Equipe de Saúde Bucal na Unidade Saúde da Família de Carananduba, com relação a todos os assuntos relacionados a promoção da saúde bucal. O flúor foi o que apresentou maior percentual de conhecimento por parte dos usuários, com aumento de 280%, seguido do fio dental com aumento de 137,5%. A escovação foi a que apresentou menor percentual de acréscimo com apenas 13,7%. É possível observar então que, a ESB foi de grande importância ao passar conhecimentos indispensáveis para a população na manutenção da saúde bucal.
Com relação aos dados referentes à melhora da qualidade de saúde bucal após a inclusão da ESB na Unidade Saúde da Família de Carananduba (gráfico 3), 42,8% dos entrevistados considera que sua saúde bucal e de sua família melhorou muito, enquanto 38,8% relata ter tido uma melhora razoável. Já 12,6% dos usuários acham que houve pouca melhoria de qualidade e 5,8% considera, até agora, nenhuma melhora significativa na qualidade de saúde bucal sua ou de sua família.
Quando os usuários foram questionados quanto aos fatores que melhoraram e que consideram de relevância após a inclusão das ESB (gráfico 4), o mais citado foi as orientações sobre higiene bucal (38), seja através de palestras, nas visitas em casa ou na própria consulta. O maior acesso ao atendimento foi considerado por 35 entrevistados, pois os encaminhamentos feitos pela ESB facilitaram muito o acesso ao tratamento odontológico. Já as visitas em casa, mencionadas por 30 usuários, possibilitam um maior contato com o profissional, assim como facilita o atendimento, sendo evitado muitas vezes que o usuário se desloque até a Unidade em busca de atendimento. Os cuidados de saúde bucal também foram considerados como melhorias por 13 entrevistados, pois assim há um incentivo por parte dos profissionais para os hábitos adequados de higiene bucal, além de estar sendo executado com consciência. A melhora da qualidade de saúde bucal foi mencionada 8 vezes, principalmente porque as mães reconhecem que seus filhos não apresentam cáries após os cuidados e orientações constantes passadas pela ESB. Seis pessoas mencionaram que a qualidade do atendimento foi um fator relevante, porém, 6 entrevistados consideram que a inclusão da ESB no PSF não influenciou em nada. Dez pessoas não responderam a pergunta.
Com os resultados mostrados pelo gráfico 5, pode-se observar que a maioria dos usuários está muito satisfeito com a ESB da Unidade Saúde da Família de Carananduba, pois 52,4% aferiram nota entre 9 e 10 para a equipe. Já 37,8% se disse satisfeito com a atuação da CD e ACD, atribuindo nota entre 6 a 8, enquanto 7,8% considera-se pouco satisfeito. Apenas 1,9% dos usuários se acha insatisfeito com a atuação da ESB.
Trad et al19 (2002) afirmam que quanto maior o nível de informação do usuário sobre objetivos, atividades e regras de funcionamento do PSF, maior o grau de satisfação em relação ao programa. O nível de informação está condicionado pelo grau de escolaridade do usuário e a eficácia das estratégias de comunicação e informação em saúde utilizada pela equipe.
De um modo geral, a população se demonstra satisfeita com as ações de saúde bucal desenvolvidas pela ESB, quando relata, no momento da aplicação dos questionários, que após a inclusão da ESB, adquiriram conhecimentos novos sobre saúde bucal, que antes desconheciam, como por exemplo, a importância do flúor e utilização do fio dental. Além disso, as notas atribuídas também podem expressar a satisfação dos usuários quanto aos serviços dispensados. Estudos como o de Trad et al19 (2002), também demonstram satisfação do usuário com as melhorias trazidas pelo PSF.
Goldbaum et al20 (2005) mencionam que a dinâmica estabelecida entre clientela e serviço é realimentada pelo grau de resolutividade dos serviços de saúde e grau de satisfação do usuário. Sobre o assunto, Campos21 (2005) comenta que no campo da qualidade em saúde, trabalha-se com a premissa de que bons processos de trabalho podem levar a bons resultados.










