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0232/2007 - Avaliação das necessidades em idosos residentes em instituições de longa permanência
Assessment of the care needs of the elderly living at a long-term stay institution

Autor:

• Silvana Mara Rocha Sydney Montenegro; Carlos Bruno da Silva - Montenegro,S.M.R.S. - Fortaleza, Ceará - Universidade de Fortaleza - <silvanamontenegro@yahoo.com.br>


Área Temática:

Não Categorizado

Resumo:

As instituições de idosos na sua maioria são constituídas por mulheres brancas, solteiras, pobres, com comprometimento nas atividades de vida diária e nos estados cognitivos, os diagnósticos mais comuns são doenças crônicas degenerativas e os acidentes vasculares cerebrais seguidos por depressão. Objetivo: identificar as necessidades de cuidados em idosos institucionalizados. Métodos: entrevista semi-estruturada onde a pergunta norteadora foi: Quais as necessidades de cuidados que essas idosas necessitam nesta instituição? A segunda entrevista realizada após programa de fisioterapia, inferiu-se sobre as percepções das idosas em relação à satisfação ou não de suas necessidades. Resultados: observamos nas falas das idosas a necessidade de realizar atividades variadas, entre as mais citadas foi a prática de exercícios físicos e dança. Na segunda entrevista foi relatado uma maior satisfação, pois já compreendiam a importância da atividade física para sua saúde e maior autonomia nas atividades diárias. As mudanças qualitativas referidas foram a melhora da auto estima e maior socialização entre as idosas, alegria de viver, melhora do sono, mais disposição para tarefas domésticas, maior adesão ao exercício físico. Conclusão: concluímos que o programa de fisioterapia foi capaz de promover mudanças qualitativas nos aspectos físicos e psicossociais das idosas, promovendo uma melhoria de sua qualidade de vida.

Abstract:

Those institutions, are constituted in great part by elderly, white, poor, single women, living on their own, compromised on everyday activities and cognitive states, in which the most common diagnosis are cerebrovascular accidents followed by depression. The aim of this study was to assess the care needs of the elderly living at a long-term stay institution. The methodology employed was qualitative, through participant observation. At first, a semi-structured interview was carried out in which were collected accounts of the care needs of those elderly institutionalized women, and then a second interview was conducted after the intervention of a Physical Therapy program, describing the elderly women’s perceptions in relation to the satisfaction - or lack thereof - of their needs. Results: we have observed in the elderly women’s speech the need of carrying out some activity that occupied their free time, among which the most cited were the practice of physical exercise and dance. After the second interview, the elderly revealed satisfaction with the physical therapy program, as they had already understood the importance of that intervention to their health and quality of life. Among the qualitative changes that were referred to, are the improvement of self-esteem and socialization, improvement in their sleep, more energy to perform household chores and everyday activities. Conclusion: we have concluded that the program has been able to promote qualitative changes in the elderly women’s physical and psycho-social aspects, giving emphasis to the maintenance of their quality of life.






Conteúdo:

INTRODUÇÃO


A instituição total é um local de residência ou trabalho, onde um grande número de indivíduos com situações semelhantes, estão separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada (Goffman, 1974).
Essas instituições, na maioria de longa permanência, são constituídas em grande parte por mulheres brancas idosas, solteiras, que vivem sozinhas, pobres, com comprometimento nas atividades de vida diária (AVDS) e nos estados cognitivos, em que os diagnósticos mais comuns são doenças crônicos degenerativas e os acidentes vasculares cerebrais seguidos por depressão (Manton; Cornelius; woodbury, 1995).
A sociedade transforma os idosos em um “estorvo”, por isso, são depositados em instituições, isolados e ignorados como pessoas. A instituição asilar é regida pela Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Brasil, lei 8.842 de 04/01/94 com nova Portaria no. 2.528 de 19/10/2006) diz: “ É vedada a permanência de portadores de doenças que necessitam de assistência médica ou enfermagem em instituições asilares de caráter social”. Prioriza o atendimento familiar quando comparado ao atendimento asilar: “Priorização do atendimento ao idoso através de suas próprias famílias, em detrimento do atendimento asilar, à exceção dos idosos que não possuam condições que garantam sua própria sobrevivência”. Revela ainda que a modalidade asilar foi estabelecida para suprir a ausência da família e assistir o idoso nos casos de abandono ou pobreza.
A institucionalização para a grande maioria dos idosos é fonte de dor e tristeza, o ambiente se torna silenciosos, indiferente, vazio, passando a representar os momentos finais de sua vida podendo contribuir para o maior problema psicológico do idoso: a depressão (Parmelee; Katz; Lawton, 1989). As instituições ou asilos são de caráter filantrópico, público ou privado e tem como objetivo oferecer abrigo, alimentação e cuidados básicos a idosos carentes e dependentes para que estes possam executar sua tarefas básicas da vida diária.
Com o crescimento do número de idosos no Brasil, algumas alternativas têm sido buscadas, no intuito de melhorar a qualidade de vida dessa população, e promover um adequado serviço de saúde, que vise à atenção nos diversos âmbitos relacionados à melhoria das condições de vida deste segmento populacional. Este quadro representa um desafio para saúde pública brasileira (Fleming, 1997, artigo impacto funcional ver. Saúde pública, 2004)
Assim, a idéia que norteia as questões da saúde do idoso diz respeito à manutenção de vida autônoma e independente, expressa pela capacidade de auto-determinação e execução de atividades de vida diária (AVD), sem necessidade de ajuda durante a velhice, de modo a tornar imprescindível sua avaliação (Farinat,1997, ver. Saúde pública, 2004).
Dessa forma, os métodos de avaliação funcional devem ser os mais abrangentes possíveis, especialmente no tratamento de idosos que são frágeis ou apresentam vários problemas de saúde, como no caso de idosos institucionalizados. A fragilidade é um construto que tem atualmente merecido esforços em sua conceituação, apesar de ser amplamente utilizado (Méd Reabil, 1995). Embora ainda foco de controvérsias quanto à sua conceituação, em linhas gerais os idosos frágeis são os indivíduos portadores de múltiplas condições crônicas, cujos problemas de saúde poderão levar a limitações funcionais e, frequentemente ao desenvolvimento de quadro de dependência funcional.
Considerando-se a própria idade como fator de risco para esses eventos, sabe-se que, entre os idosos com idade mais avançada (80 anos ou mais), estão os que já são imediatamente caracterizados como frágeis (Méd reabil, 1995, ver. Saúde pública, 2004).
Para Rebelatto (2004), faz-se necessário programar o ambiente de idosos frágeis para que possam viver mais dignamente com segurança e bem estar. Os idosos que residem em asilos, são considerados frágeis e a sua qualidade de vida está relacionada com o componente ambiental que pode ser avaliado através da qualidade dos serviços prestados a estes idosos. No Brasil, não dispomos de regulação pública concernente a um conjunto mínimo de requisitos para o funcionamento dessas instituições asilares para idosos, fato que é ao mesmo tempo, causa e efeito das más condições da maioria das instituições de longa permanência para idosos.
O Sistema Único de Saúde (SUS), garante em termos legais o acesso universal, igualitário e integral aos serviços de saúde. No entanto, os caminhos percorridos demonstram que o cuidado ao idoso institucionalizado não tem sido enquadrado de acordo com a proposta idealizada. Isso se dá com um somatório de vários fatores, dentre eles podemos citar a ausência de equipes de saúde que desempenhem ações preventivas de promoção da saúde nestas instituições de longa permanência para idosos.
Por outro lado, desde a década de 60, vários paises desenvolvidos, estipularam regras para o funcionamento de asilos, que focalizam variáveis de ordem estrutural e processual, exemplificada pela exigência de uma equipe mínima de saúde e o fornecimento de serviços básicos nestas instituições (Pickles et al,2004).
O trabalho de Kane et al (1991), consiste na proposição de um protocolo mínimo de registro dos domínios que devem merecer atenção dos avaliadores dos idosos institucionalizados; são: Funcionamento fisiológico do idoso; Capacidade física e funcional expressa em AVDS e AIVDS; Dor e desconforto; Cognição e afeto; Atividades sociais; Relações sociais e satisfação com a vida. Estes indicadores de saúde dos idosos institucionalizados são parâmetros que na grande maioria não são observados nas instituições de idosos no Brasil.
Embora prevaleça entre os estudiosos do envelhecimento a idéia de que o asilamento provoca o isolamento, a baixa auto-estima, entre outros efeitos, há uma corrente que recomenda essas instituições para aqueles idosos que possuem dependência total e impossibilidade de recuperação, levando-nos a considerar o valor social dessas instituições (Telles & Petrilli, 2001).
Chamowicz & Grego (1997) referem que “os fatores de risco para institucionalização tais como: morar só; ter suporte social precário e baixa renda são cada vez mais freqüentes no Brasil”. Segundo os mesmos autores “os idosos residentes nas principais capitais brasileiras apresentam alta prevalência de fatores de risco para a institucionalização: doenças crônico-degenerativas e suas seqüelas, hospitalizações recentes e dependência para realizar as atividades de vida diária”.
Não podemos negar a importância dessas instituições àqueles idosos que moram sós e que não têm família, pois essas instituições tornam-se um lugar de proteção e de cuidado. Pesquisa qualitativa realizada em Santiago de Cuba reforça essa consideração, quando os resultados apontam que os idosos, na sua maioria homens que viviam sós, consideravam a instituição um lugar de proteção, seu verdadeiro lar, a garantia de uma velhice tranqüila (Bell & cols.1999).
Dentre os requisitos propostos por Kane e colaboradores, destacamos os aspectos cognição e afeto, relações sociais e satisfação com a vida, por serem aspectos subjetivos que muitas vezes estão descartados num ambiente dessas instituições de longa permanência para idosos.
A vida cotidiana, em seu nível mais básico, é regida por três princípios universais, que formam a base para a participação nas atividades: primeiro, cada pessoa tem apenas 24 horas num dia; segundo, não se pode estar em dois lugares diferentes simultaneamente; terceiro, não há como se mover instantaneamente de um lugar a outro (Hanson; Hanson, 1993). Dessa forma, tempo e espaço representam a influência mais básica interferindo na estruturação das atividades diárias. Contudo, a vida diária não se limita apenas à dimensão do tempo e espaço. Ela é influenciada pela dimensão social no sentido de que expectativas sociais, normas e padrões também influenciam o modo de escolha das atividades. Em outras palavras, o dia representa uma unidade de tempo permeada pelos contextos físico (locais de ocorrência das atividades) e social (parceiros sociais) os quais criam oportunidades e restrições para a ocorrência de comportamentos ou atividades.
Em geral, todas as atividades humanas observáveis podem ser agrupadas como ocorrendo em três grupos principais de atividades. O primeiro e maior deles inclui todas as atividades produtivas, necessárias para gerar energia para a sobrevivência e conforto. O segundo grupo inclui as atividades de manutenção, tanto as dedicadas ao cuidado com o corpo, como aquelas relacionadas com a manutenção e organização das posses materiais. O tempo restante é o tempo livre ou lazer e constitui o terceiro grupo.
Outro ponto de vista classifica as atividades diárias em atividades obrigatórias e atividades discricionárias (Moss; Lawton, 1982). Atividades obrigatórias são aquelas necessárias para a sobrevivência pessoal, recaindo sobre elas maior teor restritivo do que opções de escolha. No campo geriátrico muitas vezes são denominadas atividades básicas da vida diária (Katz et al., 1963) e atividades instrumentais da vida diária (Lawton; Brody, 1969). Em conjunto, esse grupo inclui atividades rotineiras, familiares, constituindo-se em hábitos necessários para a sobrevivência e, portanto, universais. Essa universalidade implica poucas diferenças individuais, mesmo em relação a vários fatores como o cultural e econômico. O aspecto motivacional, cultural e as oportunidades também interferem nos modos de desempenho destas tarefas. Contudo, tais influências são mais relevantes para com as atividades instrumentais, onde a habilidade de execução é avaliada pelo desempenho em relação ao ambiente real, principalmente para o idoso, ao invés de um conjunto previamente estabelecido e desejado de habilidades ou comportamentos observáveis.
Já atividades discricionárias são aquelas escolhidas pela pessoa e que envolvem afeto, conhecimento, prazer e interesse, sofrendo, portanto, grande influência de inúmeros fatores como idade, cognição, nível socioeconômico, dentre outros (Lawton et al., 1986). Equivalem a um componente de competência diária, especificamente competência expandida, o qual exige um nível básico de cognição e domínio de conhecimentos específicos para a solução de problemas que se apresentam diariamente (Baltes et al., 1993).
A atividade física está dentro das atividades escolhidas pela pessoa e quando realizada com regularidade, associada a uma correta alimentação e a um estado emocional equilibrado, constitui uma das principais bases para a manutenção da saúde em todas as idades. Existem alguns trabalhos nesta área que relatam que exercícios físicos praticados com regularidade aumentam a capacidade corporal e trazem diversos benefícios à saúde. Segundo Matsudo & Matsudo (2000) dentre os benefícios podemos citar: os efeitos metabólicos apontados são aumento do volume sistólico; aumento da potência aeróbica; aumento da ventilação pulmonar; diminuição da pressão arterial; diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo, melhora da sensibilidade à insulina, levando a um melhor controle glicêmico, aumento da fração HDL, diminuição da LDL, redução significativa dos triglicérides.
Com relação aos efeitos antropométricos e neuromusculares ocorre, segundo os autores, a diminuição da composição corporal; aumento da força e massa muscular, da densidade óssea, da flexibilidade e do equilíbrio, diminuindo o risco de quedas (FONTOURA ET AL, 2002).
E, na dimensão psicológica, afirmam os autores que a atividade física atua na melhoria da auto-estima, do auto-conceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de medicamentos.
Guedes & Guedes (1995), por sua vez, afirmam que a prática de exercícios físicos habituais, além de promover a saúde, influencia na reabilitação de determinadas patologias associadas ao aumento dos índices de morbidade e da mortalidade. Defendem a inter-relação entre a atividade física, aptidão física e saúde, as quais se influenciam reciprocamente. Segundo os autores, a prática da atividade física influencia e é influenciada pelos índices de aptidão física, as quais determinam e são determinados pelo estado de saúde. Além dos benefícios fisiológicos da atividade física no organismo, as evidências mostram que existem alterações nas funções cognitivas dos indivíduos envolvidos em atividade física regular (Spirduso,1995). Essas evidências sugerem que o processo cognitivo é mais rápido e mais eficiente em individuos fisicamente ativos por mecanismos diretos: melhora na circulação cerebral, alteração na síntese e degradação de neurotransmissores; e mecanismos indiretos como: diminuição da pressão arterial, diminuição nos níveis de LDL no plasma, diminuição nos níveis de triglicerideos e inibição da agregação plaquetária.
Para Neto(1999), a perspectiva contemporânea é de relacionar aptidão física à saúde representa um estado multifacetado de bem-estar resultante da participação na atividade física. Supera a tradicional perspectiva do “fitness”, preconizada nos anos 70 e 80, centrada no desenvolvimento da capacidade cardiorespiratória e procura inter-relacionar as variáveis associadas à promoção da saúde. Remete, a um novo conceito de exercício saudável, no qual os benefícios ao organismo derivariam do aumento do metabolismo promovido pela prática de atividades moderadas e agradáveis. Conforme o autor o aumento em 15% da produção diária de calorias, cerca de 30 minutos de atividades moderadas pode fazer com que indivíduos sedentários passem a fazer parte do grupo de pessoas consideradas ativas, diminuindo, assim, suas chances de desenvolverem moléstias associadas à vida pouco ativa.
Segundo Matsudo (2000), sessões de 30 minutos de atividades físicas por dia, na maior parte dos dias da semana, desenvolvidas continuamente ou mesmo em períodos cumulativo de10 a 15 minutos, em intensidade moderada, já são suficientes para a promoção da saúde.
Estudos experimentais sugerem que a prática de atividades de intensidade moderada atua na redução de taxas de mortalidade e de risco de desenvolvimento de doenças degenerativas como as enfermidades cardiovasculares, hipertensão, osteoporose, diabetes, enfermidades respiratórias, dentre outras. A atividade física apresentou efeito favorável em pacientes com doenças crônicas como diabetes mellitus tipo 2 (Amer. College of sports Medicine, 2000) e demonstrou um efeito protetor no desenvolvimento de hipertensão e obesidade (Blair e Brodney,1999).
Estima-se que o estilo de vida sedentária seja responsável por cerca de 1/3 das mortes por doença coronariana, neoplasia do cólon e diabetes mellitus (Powell e Blair, 1994). São relatados, ainda, efeitos positivos da atividade física no processo de envelhecimento, no aumento da longevidade, no controle da obesidade e em alguns tipos de câncer (Powell et al., 1985; Gonçalves, 1996; Matsudo & Matsudo, 2000).





Risco e prescrição da Atividade Física

Por outro lado, as atividades físicas por sua própria natureza envolvem algum grau de risco e, mesmo com a utilização de procedimentos de segurança corretos e adequados, não se pode transformar a prática de atividades físicas em algo totalmente isento de riscos.
No que concerne aos idosos para Teixeira (1996), devemos ter ciência dos perigos que a atividade física por ventura possa representar para essa idade, tais como agravar lesões músculo-esqueléticas, exacerbar doenças cardiovasculares, desencadear lesões térmicas, desidratação e potencializar hipoglicemia. A competição, a emulação e a busca de superação de limites exponenciam os riscos das atividades físicas para idosos.
Daí a importância da prescrição de exercícios para idosos ser quantificada de forma individual por professores de educação física para os idosos sadios e por fisioterapeutas para os idosos portadores de alguma patologia, pois somente estes profissionais tem a formação necessária para prescrever individualmente o tipo, a intensidade, a duração, a freqüência e os períodos de progressão e descanso adequados e de acordo com o último posicionamento oficial do Colégio Americano de Medicina Esportiva, a quantidade e qualidade de exercícios recomendada para o desenvolvimento e manutenção da aptidão cardiorespiratória e muscular de adultos sadios é de uma intensidade de 55-65% a 80% da freqüência cardíaca máxima, de atividades que usem grandes grupos musculares. Devem ser evitadas altas intensidades e o exercício nunca deve ser realizado com o propósito de alcançar a fadiga ou exaustão (ACMS,1998).
Qualquer atividade física representa um custo energético em termos absolutos, que pode ser expresso no número de calorias por minuto que foram transformadas em trabalho muscular. Quanto maior o trabalho a ser realizado num determinado tempo, maior a demanda energética e, em decorrência, maior o consumo de oxigênio necessário para esta energia ser obtida dos substratos. Para a quantificação das atividades físicas, é necessário integrar a capacidade funcional com a intensidade relativa do esforço, ou seja o impacto fisiológico individual que é o VO2 max (American College Sports Medicine,1998).
A primeira providência a ser tomada para a orientação de atividades físicas para um idoso, após o seu exame clínico geral, é a quantificação da sua capacidade funcional de forma individual, seguindo-se os diversos procedimentos pelo American College of Sports Medicine, (1998). É importante salientar que o VO2 max. é o melhor indicador da capacidade funcional e deve ser a referência principal na orientação das atividades físicas (Stamford, 1998). Esta mensuração é realizada através do exame de ergoexpirometria realizado por médicos cardiologistas, no entanto, esta medida pode apresentar alguns problemas nos idosos por falta de familiaridade com atividades físicas mais intensas e fraqueza muscular. Nestas condições, adota-se a medida do VO2 máximo atingido que pode ser feita através da gasometria (medida direta) ou de ergômeros calibrados (medida indireta). A capacidade funcional também pode ser mensurada através de escalas de atividades de vida diária que medem a autonomia e a independência do idoso nas atividades rotineiras de autocuidado e nas atividades instrumentais da sua vida.
A prescrição de exercícios de idosos portadores de moléstias devem ser orientados de acordo com as limitações específicas de suas doenças. Uma vez que as limitações cardiovasculares são as principais causas da redução na capacidade funcional, diversos estudos reuniram algumas recomendações gerais para os portadores de patologias cardiovasculares, que devem ser seguidas sob orientação de fisioterapeutas, para que os exercícios de condicionamento produzam os efeitos desejados com os menores riscos e custos possíveis (Stamford,1988).
As recomendações são: a intensidade média de cada sessão entre 40 e 85% do VO2 max. Individual, constantemente reajustado através da freqüência cardíaca, do duplo-produto e da percepção do esforço, iniciando-se com a intensidade menor e na velocidade inversa à gravidade da doença e à idade;
A duração de cada sessão após um período de atividades preparatórias (aquecimento) de 10 minutos, atividade aeróbia entre 20 e 40 minutos, seguida de um período de relaxamento de 10 minutos;
A freqüência das sessões de condicionamento mínimo 3 vezes por semana não consecutivo; Tipo de atividade: aquelas que utilizam os grandes grupos musculares, que possam ser mantidas de forma contínua e rítmica;
Resistência muscular deve ser apenas para pacientes selecionados, de forma a evitar a hipertensão arterial e a manobra de valsalva encontradas nos exercícios isométricos,duas vezes por semana, 10 a 12 repetições de exercícios específicos realizadas de forma confortável para o desenvolvimento da força dos grandes grupos musculares para manter a massa corporal magra e óssea (Spirduso, 1995).
Cuidados especiais: a maior dificuldade de termoregulação decorrentes da redução na capacidade funcional, associada às restrições nos mecanismos de reidratação e na função renal, resultantes do envelhecimento, exigem que as condições ambientais onde os idosos realizam exercícios sejam rigorosamente controladas. Além da temperatura ambiental aumentada, as atividades físicas, algumas drogas, medicamentos e estados febris podem elevar a temperatura corporal e se os mecanismos de ajuste não puderem dissipar o calor convenientemente, ocorrerá retenção de calor, com graves conseqüências sobre o organismo, entre elas o choque hipertermico, onde o organismo torna-se incapaz de transferir calor para o ambiente causando uma falência cardio-circulatória grave que se não tratada urgentemente, pode desencadear insuficiência renal, hepática, perdas das funções cerebrais e coma (Kenney,1997).
Em virtude de algumas limitações decorrentes do processo de envelhecimento e outras concomitantes, os exercícios para idosos devem ser controlados quanto a:
- ajustes cardiovasculares (através de medidas repetidas e sistemáticas da freqüência cardíaca, da pressão arterial e do duplo-produto (produto da freqüência cardíaca pela pressão arterial sistólica, durante o exercício, é o melhor indicador do trabalho cardíaco e do consumo de oxigênio pelo miocárdio ou VO2= FC x PAS).
- hidratação através da administração de água regularmente e do controle do peso corporal antes e depois de cada atividade;
- ambiente com condições de ventilação;
- emergências através de recursos e equipes treinadas para o pronto atendimento (ACSM, 1998).
De acordo com Ettinger et al. (1996), existem basicamente dois tipos de prescrição de atividade para idosos, a forma tradicional, voltada para melhora da aptidão física e a nova, voltada para a promoção de saúde na população. Para idosos com patologias crônicas o novo método tem mais vantagens como: a freqüência pode ser de 3 a 5 vezes por semana com intensidade moderada e com 30 minutos por dia, pois tem menor chance de lesão.
Segundo Fiatarone, (1996), os exercícios de resistência muscular deve ser preferido ao exercício aeróbico nas seguintes circunstâncias:
Artrite severa; Inabilidade para suportar o peso corporal; Ulcerações no pé; Desordens do equilíbrio; Amputação; Doença pulmonar obstrutiva crônica; Baixo limiar para isquemia.
. As variáveis que devem ser priorizadas para prescrever atividade física na terceira idade para manter a independência funcional do individuo, segundo Fiatarone, (1996) são: Exercícios para força muscular; Exercícios de equilíbrio; Atividades aeróbicas; movimentos corporais totais; mudanças do estilo de vida.
O estilo de vida ou os fatores do comportamento que influenciam nas causas de doenças crônicas incapacitantes são: fumo, alimentação inadequada, consumo de álcool, obesidade e sedentarismo, além da herança genética que contribui com cerca de 20% a 30% para o aparecimento das doenças (Bertolami,2000; Rouquayrol,1999).
O movimento da Promoção da Saúde põe em destaque o estilo de vida valorizando comportamentos de autocuidado, possibilitando às pessoas aumentar o controle sobre os determinantes da saúde (Carta de Ottawa,1986).

A escolha de atividades dentro dessas duas categorias pode ser influenciada pela saúde do indivíduo, pelas oportunidades ou restrições impostas pelo meio social – idade, grau de instrução, renda, estado civil, dentre – e também o próprio ambiente (Branch et al. 1989). Em conjunto, podem atuar como barreiras ou facilitadores do grau de participação nas atividades cotidianas. Um meio ambiente com ampla gama de oportunidades faz com que o idoso se envolva num maior número de atividades. Assim, intervenções ambientais são fatores potentes para influenciar a aquisição de novos comportamentos, mesmo em idades avançadas. Grimley-Evans(1984) menciona que vários agravos e incapacidades apresentados pelos idosos que vivem em diferentes ambientes e com estilos de vida também diferentes, não resultam de fatores biológicos e/ou genéticos, mas de fatores socioeconômicos e culturais. Sem dúvida, uma abordagem mais qualitativa atribuindo mais importância às características psicossociais, culturais e econômicas desse grupo é fundamental para se compreender melhor os comportamentos observáveis dessa população.
Diante deste quadro, este estudo tem como objetivo descrever a percepção da satisfação ou não das necessidades de idosas submetidas a um programa de promoção de saúde através de um programa de fisioterapia composto de atividades educativas e preventivas.
A relevância deste tema é uma abordagem que representa a conscientização dessas idosas carentes, em relação a execução de atividades físicas, sociais e de lazer que satisfaçam suas necessidades de uma maneira integral. Acreditamos que este estudo poderá ser utilizado para contribuição de políticas sociais e de saúde mais efetivas para este segmento populacional, pois é notória a escassez de recursos e de profissionais de saúde nestas instituições de longa permanência.


MÉTODOS

Os sujeitos da pesquisa foram dez idosas residentes na instituição Casa São Vicente de Paulo, localizada no município de Fortaleza, Estado do Ceará. As idosas são mulheres pobres com baixa escolaridade, viúvas, faixa etária predominante de 70 a 80 anos.
O estudo foi realizado em dois momentos: o primeiro momento foram entrevistadas dez idosas antes da intervenção em março de 2006 e num segundo momento em março de 2007, após a intervenção do programa de fisioterapia.
A abordagem utilizada foi qualitativa, através da observação participante associada a entrevistas semi-estruturada, orientada por roteiro e aplicadas em dois momentos diferentes. As entrevistas foram gravadas pela pesquisadora e posteriormente transcritas na íntegra. A investigação compreendeu três estágios da análise de campo são: a seleção e definição de problemas; o controle sobre a freqüência e a distribuição de fenômenos; e a análise final e apresentação dos resultados.
No primeiro estágio foram coletados depoimentos das idosas sobre a definição delas de suas necessidades de uma forma global.
No segundo estágio foi realizado o controle da freqüência e da distribuição dos depoimentos, visando a seleção das falas consideradas mais freqüentes e importantes e transcritos da gravação dos relatos.
No terceiro estágio constou da análise e interpretação dos relatos revelados, realizando uma síntese das unidades significativas encontradas nos depoimentos.
Utilizou-se uma entrevista semi-estruturada, onde a questão norteadora foi: Quais as necessidades e cuidados que as idosas precisam ter dentro da instituição? O anexo – Instrumento de coleta de dados foi composto de duas partes. A primeira parte abrange dados referentes à identificação dos sujeitos da pesquisa.
A segunda parte refere-se ao levantamento de informações referentes às crenças dos sujeitos acerca dos benefícios das atividades educativas e preventivas na sua saúde.
Os depoimentos foram áudiogravados, após os sujeitos assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido, e coletados até serem suficientes para desvelar a realidade das necessidades percebidas pelas idosas.
O projeto do estudo foi apreciado e aprovado pelo Comitê de ética em pesquisa da Universidade de Fortaleza, através do processo 196/1996.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o discurso dos sujeitos foram desvelados vários temas de maior incidência e significação, de onde foram criadas as seguintes categorias analíticas: as principais necessidades percebidas pelas idosas, a necessidade do exercício físico, a importância do exercício físico para a sua saúde psicológica e social, percebida pelas idosas e os resultados na melhora da realização das atividades funcionais e na adesão ao programa de exercício.
A percepção, o conhecimento e as experiências individuais são fatores de grande importância no julgamento da qualidade de vida do individuo. Privilegiar a fala das pessoas na terceira idade significa reconhecer que estamos falando de um grupo de indivíduos, ainda estigmatizados pela sociedade, mas que possuem uma vasta experiência de vida, que deve ser estudada e valorizada (Moreira,Fiocruz,2000).
De acordo com as categorias analíticas a primeira trata-se da necessidade do exercício físico percebido pelas idosas como importante para sua saúde.
As entrevistas foram realizadas com dez idosas sobre sua percepção de melhora nas atividades funcionais cotidianas, foram coletados os seguintes dados e distribuídos em categorias analíticas como:

1) Necessidade de exercício físico:

“A gente sente falta de um programa de atividade física na instituição, pois já fazemos atividades de pintura uma vez por semana, o que não acontece com a atividade física, que nunca tinha.” F.P.S.
“ A Dra. Silvana sempre fala como é importante o exercício físico para a nossa saúde”
“ Pelo menos uma caminhada pelo jardim já faz bem pra saúde da gente”. M.A.M.

Um meio ambiente com ampla gama de oportunidades faz com que o idoso se envolva num maior número de atividades. Assim, intervenções ambientais são fatores potentes para influenciar a aquisição de novos comportamentos, mesmo em idades avançadas. Grimley-Evans(1984) menciona que vários agravos e incapacidades apresentados pelos idosos que vivem em diferentes ambientes e com estilos de vida também diferentes, não resultam de fatores biológicos e/ou genéticos, mas de fatores socioeconômicos e culturais.
Em relação à dimensão psicológica, afirmam os autores que a atividade física atua na melhoria da auto-estima, do auto-conceito, da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do estresse e da ansiedade e na diminuição do consumo de medicamentos (Fontoura et al,2002).
A maioria reafirmaram a necessidade de exercício físico como forma de melhorar a sua saúde e seu bem estar geral , o que denota a consciência com o autocuidado.O movimento da Promoção da Saúde põe em destaque o estilo de vida valorizando comportamentos de autocuidado e focaliza a capacidade funcional como um novo conceito de saúde do idoso (CARTA de OTTAWA,1986).

2) A importância do exercício físico no aspecto psicológico e social :

“A ginástica faz a gente sentir bem disposta nas tarefas de casa”; “arrumar a casa, fazer faxina é bom, mas não é como a ginástica, a gente se sente mais feliz”. M.J.J.

Weber, afirma que o elemento essencial na interpretação da ação é o dimensionamento do significado subjetivo daqueles que dela participam (WEBER, 1970 apud MINAYO, 1993).

“A ginástica é ótima”; “.“Eu vivo triste, pois minha patroa foi pra São Paulo e não vem mais me visitar, mas a doutora quando chega e faz a ginástica, a gente se esquece da tristeza”. L. T.
Agente sente mais tranqüilidade, fica mais calmo e se estiver com raiva, aí passa tudo. M.J.

Outro benefício psíquico referido na fala é a redução da ansiedade e descarregar as tensões do dia a dia numa instituição.
Segundo Minayo (1993), a fala torna-se reveladora de condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos (sendo ela mesma um deles), e, ao mesmo tempo, possui a magia de transmitir, através de um porta-voz (o entrevistado), representações de grupos determinados em condições históricas, sócio-econômicas e culturais específicas. Sem dúvida, uma abordagem mais qualitativa atribuindo mais importância às características sociais, culturais e econômicas desse grupo é fundamental para se compreender melhor os comportamentos observáveis dessa população.

“a ginástica faz a gente esquecer que nós não temos futuro não, adoecendo aqui, nós vamos para enfermaria esperar morrer, mas eu não vou ficar pensando nisso não, eu vou é fazer ginástica e dançar com a música do padre Marcelo”. M. T. J.
Agora tenho mais amigas aqui dentro, pois a gente combina no dia da ginástica para vim juntas para o salão fazer o exercício. R.S.

No aspecto social o exercício estimula a socialização e a cooperação entre as idosas e melhora o relacionamento entre elas.
Segundo Gurvich (1995) dentro do campo sociológico esta linguagem revela o nível das “camadas mais profundas”, que se refere ao mundo dos símbolos e dos significados. A linguagem comum e da vida cotidiana expressa o nível mais profundo dos significados, desejos, aspirações, motivos, atitudes, crenças e valores do ser humano.

3)Os resultados percebidos na melhora das atividades funcionais:

“ Eu ando com a ajuda de muletas, mas já estou conseguindo andar mais equilibrada e sem as muletas depois que comecei a fazer a ginástica”. E. B. R.
“Eu sentia muitas dores no corpo e agora me sinto melhor, depois da ginástica”. M. A. S. “As dores no meu joelho esquerdo melhoraram muito após o exercício com a dra. Silvana e os seus alunos”. B.S.
“Eu tenho muita insônia, mas no dia da ginástica eu durmo melhor, pois fico com vontade de dormir”. “Hoje, eu tenho mais cuidado com a minha saúde e mesmo que eu esteja cansada eu não deixo de fazer, pois me sinto com mais segurança e mais forte”. M.E.M.
“É muito bom a gente poder falar sobre o que a gente sente, pois nós os mais velhos estamos se acabando, e isso ninguém pode dar jeito, mas é bom desabafar e fazer ginástica”. E. G. V.
“Eu gosto muito da ginástica, a gente se mexe, dança e no final ainda reza e isto é muito bom para nós”. C. S.

Segundo Okuma (1989), privilegiar a fala das pessoas na terceira idade, significa reconhecer que estamos falando de um grupo de indivíduos, ainda estigmatizados pela sociedade, mas que possuem uma vasta experiência de vida, que deve ser estudada e valorizada.
Como pesquisadora, tomei a postura de ouvir os relatos, sem colocar as minhas crenças e valores, na tentativa de compreender a visão delas sobre o significado do programa de fisioterapia como promotor de saúde para a autonomia das atividades funcionais.

4) Adesão ao exercício físico

Foi observado que várias idosas aderiram ao exercício físico após a aplicação do programa de fisioterapia, pois continuaram a realizar as caminhadas pelo jardim, algumas realizam os exercícios recomendados pelo programa de fisioterapia, em folhetos explicativos, sempre que acordam pela manhã após o café; outras mais independentes conseguiram entrar numa aula de hidroginástica numa academia perto da instituição.


Considerações Finais

Usar o exercício físico para alcançar o objetivo de socializar as pessoas e melhorar sua comunicação pode ser uma boa estratégia de intervenção nas instituições asilares. Foi notável a importância da atividade física na rotina da instituição, solucionando assim alguns problemas de socialização.
A interação grupal é um dos modos mais bem sucedidos para estimular idosos à recuperar sua auto-estima, seu interesse pelo ambiente e pela sua vida cotidiana. (Taylor,1982).

Mckenna et al(1998), mostraram em seu estudo, os efeitos poderosos que os comportamentos individuais de quem faz atividade física, promove 3 vezes mais a atividade física para aqueles que ainda não se exercitam. A idéia básica transmitida pelo autor é de que profissionais de saúde que têm um modo de vida ativo ou se exercitam regularmente; transferem suas crenças, atitudes e comportamentos para seus pacientes.
Burns (1996), reforça recomendações acerca da atividade física como um meio de promover saúde e estabelecer uma rotina de atividades físicas prazerosas, através da dança e monitorar os progressos alcançados para que sirva de motivação.
Finalizando, gostaria de salientar que a idéia de promover atividade física através de um programa de fisioterapia junto à idosos carentes e institucionalizados deve constituir-se em estratégia de políticas públicas de saúde do idoso, podendo incorporar-se ao Programa de Saúde da família para que esses idosos possam usufruir de uma equipe multidisciplinar de atenção à saúde do idoso.






















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Citar

Montenegro,S.M.R.S.. Avaliação das necessidades em idosos residentes em instituições de longa permanência. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2007/mai). [Citado em 20/07/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/avaliacao-das-necessidades-em-idosos-residentes-em-instituicoes-de-longa-permanencia/704?id=704

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