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0193/2007 - AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS EM IDOSOS PERTENCENTES A UM PROGRAMA ASSISTENCIAL
NUTRITIONAL EVALUATION AND PREVALENCE OF NO TRANSMISSIBLE CHRONIC DISEASES OF ELDERLY FROM AN ASSISTENCIAL PROGRAM

Autor:

• ROBERTA RIBEIRO SILVA - Silva, R.R. - 302, MG - Universidade Federal de Alfenas-UNIFAL-MG - <betaribeiro@hotmail.com>


Área Temática:

Não Categorizado

Resumo:

RESUMO
Objetivou-se avaliar o estado nutricional e a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos que participavam de um programa assistencial da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), Alfenas, MG, Brasil. Foram coletadas variáveis socioeconômicas, antropométricas, bioquímicas e pressão arterial sistêmica de 82 indivíduos de 60 a 87 anos, sendo 90,2% do sexo feminino. Encontrou-se 52,4% de sobrepeso, 28,0% de eutrofia e 19,5% de baixo peso pelo IMC e 37,8% apresentaram percentual de gordura corpórea (%GC) elevada. Relacionando-se Índice de Massa Corpórea (IMC) com %GC, 63,4% dos idosos com sobrepeso, 12,5% dos eutróficos e 11,8% dos com baixo peso apresentavam %GC elevado. A razão da circunferência da cintura e do quadril (RCQ) revelou 40,2% em risco alto e 12,2% em risco muito alto para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Quanto à pressão arterial, 22,0% eram hipertensos. Em relação aos exames bioquímicos observou-se que, 39,3%, 39,3% e 3,3% dos idosos apresentavam valores plasmáticos elevados de colesterol, triglicerídios e glicose, respectivamente. Programas de educação nutricional continuada e de monitoramento do estado nutricional e de saúde são necessários para melhoria da qualidade de vida destes indivíduos estudados.
Palavras – chave: avaliação nutricional, idosos, doenças crônicas não transmissíveis.


Abstract:

ABSTRACT
To evaluate nutritional state and the prevalence of no transmissible chronic diseases in elderly that participated in an assistential program of the Federal University of Alfenas (UNIFAL-MG), Alfenas, Minas Gerais, Brazil. Socioeconomic variables were collected, as well as anthropometrics, biochemistries and systemic blood pressure of 82 individuals from 60 to 87 years, being 90,2 % female. The results demonstrated that 52,4% of overweight, 28,0% of eutrophic and 19,5% of low weight for body mass index (BMI) and 37,8% presented high % body fat percentile (BF%). Relating to BMI and BF%, 63,4% of the elderly with overweight, 12,5% of the eutrophic and 11,8% of low weight presented high BF%. The wais-to-hip ratio revealed 40,2% in high risk and 12,2% in very high risk for the development of cardiovascular diseases. In addition, 22,0% were hypertensions. In relation to the biochemical exams it was observed that 39,3%, 39,3% and 3,3% presented higher plasma values of cholesterol, triglycerides and glucose, respectively. Programs with continuous nutritional education and management of the nutritional state and health are necessary to improve life quality these studied individuals.

Keys-words: nutritional evaluation, elderly, hypertension, no transmissible chronic diseases


Conteúdo:

INTRODUÇÃO
De acordo com o censo de 2000, o número de idosos no Brasil, era de 14.546.029 pessoas, representando um aumento de 35,6% em relação ao ano de 1991. As estimativas apontam para a possibilidade de, nos próximos 20 anos, no Brasil, o número de idosos ultrapassar 30 milhões de pessoas, devendo representar quase 13,0% da população1.
Com o processo de envelhecimento populacional, aumentam cada vez mais a necessidade do estudo dos fatores que incidem sobre a prevalência das doenças crônicas não transmissíveis associadas à idade, bem como o aprofundamento da compreensão sobre o papel da nutrição na promoção e manutenção da independência e autonomia dos idosos2.
As alterações relacionadas à idade ocorrem praticamente em todas as partes do corpo, trazendo diversas mudanças funcionais ao organismo idoso. Dentre elas, a redução da massa magra, aumento do tecido adiposo corpóreo e a menor eficiência de bombeamento do coração, podendo haver diminuição do fluxo sangüíneo. Também, o olfato e o paladar podem tornar-se menos agudos, a mastigação se tornando difícil devido a perda dos dentes, a menor secreção de ácido clorídrico e bile dificultando a digestão e a perda do tônus do trato gastrointestinal levando a constipação3.
Assim, há um aumento do risco de desenvolver desnutrição, já que a deficiência nutricional é um problema relevante na população idosa, pois com o avanço da idade, os gerontes apresentam condições peculiares, devido a alterações do próprio envelhecimento, doenças sistêmicas e, ou, situação socioeconômica, que condicionam o seu estado nutricional 4.
Por outro lado, a obesidade leva os distúrbios das condições de saúde do organismo, sendo representados por distúrbios psicológicos, sociais, aumento do risco de morte prematura e o aumento de risco de doenças de grande morbimortalidade, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, hiperlipidemias, doenças cardiovasculares e câncer. Além disso, pode estar associada a outras doenças que podem interferir na qualidade de vida do indivíduo obeso5.
A nutrição e a alimentação na terceira idade, ainda são pouco exploradas, não tendo recebido a devida atenção6. Com o aumento de pessoas acima dos 60 anos de idade, aumenta a necessidade de estudos que investiguem o perfil nutricional e o estado de saúde para que as propostas de educação continuada tenham adesão e impacto na qualidade de vida desses indivíduos. Dentro desse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o estado nutricional e a prevalência de doenças crônicas não transmissíveis em idosos regularmente inscritos em um programa assistencial da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG).
METODOLOGIA
População estudada
O estudo, do tipo transversal, foi realizado com 82 idosos, de ambos os sexos, com 60 anos ou mais, regularmente matriculados na Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da UNIFAL-MG, em Alfenas, MG. A coleta de dados foi realizada no período de fevereiro a julho de 2005, pelas pesquisadoras devidamente treinadas.
A UNATI contava com 242 inscritos, sendo que somente 206,0 (85,1%) freqüentavam as atividades do programa. Destes, 92 (44,7%) apresentavam idade igual ou superior a 60 anos e foram convidados a participar do estudo. Desses indivíduos, 10,9% recusaram em participar da pesquisa. Quanto à realização dos exames de glicemia, colesterol e triglicerídios somente 61 (74,4%) dos 82 indivíduos, aceitaram submeter-se aos testes.
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFAL-MG, sendo realizado posteriormente à assinatura de um termo de consentimento esclarecido para todos os participantes.


Coleta dos dados
Para caracterização da população em estudo, aplicou-se um questionário socioeconômico. Na determinação do diagnóstico do estado nutricional, a partir da antropometria, as medidas recomendadas7 e feridas foram: peso, estatura, circunferência da cintura e do quadril.
Avaliação antropométrica
Para mensuração do peso utilizou-se balança eletrônica digital portátil, tipo plataforma, marca Kratos, com capacidade para 150 Kg e sensibilidade de 50 g. A estatura foi aferida utilizando o antropômetro Alturaexata, de altura máxima de 2,13 m e precisão de 1 mm, conforme metodologia prescrita por Jelliffe8. O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado através da relação entre peso corporal total, em quilogramas, e estatura, em metros ao quadrado. A avaliação do estado nutricional foi realizada por meio do IMC, utilizando-se os pontos de corte para idosos propostos pelo Nutrition Screening Iniciative9.
As circunferências da cintura e do quadril foram mensuradas utilizando fita métrica inelástica, com extensão de 2m, flexível e inelástica, dividida em centímetros e subdivida em milímetros. A circunferência da cintura (CC) foi obtida durante a expiração normal, sendo circundada a menor circunferência horizontal localizada abaixo das costelas e acima da cicatriz umbilical. A do quadril (CQ) foi verificada na região glútea sendo circundada a maior circunferência horizontal entre a cintura e os joelhos. Os dados obtidos pela relação cintura-quadril (RCQ), que mede o risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, foram comparados com referenciais propostos por Bray e Gray 10.
A porcentagem de gordura corporal (%GC) foi avaliada utilizando o aparelho de bioimpedância bicompartimental da marca Biodynamics BIA 310e. A classificação foi realizada de acordo com os pontos de corte para %GC adaptados para idosos 11.

Aferição da pressão arterial
A aferição da pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) foi realizada em esfigmomanômetro manual da marca Sankey. A classificação da pressão arterial foi realizada segundo LIP e CHUNG12.
Exames bioquímicos
A glicemia, colesterol e triglicerídios foram analisados pelo aparelho da marca Accutrend Roche que utiliza os pontos de corte para os níveis de normalidade da glicose, colesterol e triglicerídios recomendados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia13.
Análise estatística
Os dados obtidos foram armazenados em banco de dados criado no programa Epidata versão 2.0, sendo posteriormente processados e analisados no programa Epi Info versão 6.014 e Statistical Package for the Social Science for Windows (SPSS), versão 10.0, ano 200015. Os dados contínuos foram analisados pelos testes de média, desvio-padrão e correlação de Pearson. Os dados categóricos foram analisados pelo teste de Qui-Quadrado ou teste exato de Fischer. Adotou-se o nível de 5% de significância (p<0,05).










RESULTADOS
A população em estudo foi composta por 82 indivíduos de 60 a 87 anos, pertencentes ao Programa UNATI da UNIFAL – MG, dos quais 90,2% eram do sexo feminino e 9,8% do sexo masculino. A distribuição entre as faixas etárias apresentou 73,2% dos indivíduos entre 60 e 69 anos; 19,5% entre 70 e 79 anos e 7,3% com 80 anos ou mais (Tabela 1).
Quanto ao nível de escolaridade, 24,4% dos idosos completou o ensino médio e 24,4% o ensino superior. Em relação à renda, 41,5% apresentavam renda familiar mensal mínima de cinco a sete salários mínimos, seguida de 21,9% com três a quatro salários. Em 46,3 e 43,9% dos casos, uma a duas pessoas e três a quatro eram dependentes dessa renda, respectivamente. Verificou-se, ainda, que 43,9% dos gerontes eram casados e 35,4% viúvos (Tabela 1).
Na população em estudo, foram avaliadas as alterações fisiológicas decorrentes do envelhecimento. A perda dos dentes e sensação de plenitude pós-prandial foram às condições mais relatadas, 47,5 e 36,6%, respectivamente, seguidas de 30,5% de relato de intestino preso, 29,3% de redução do apetite, 19,5% de alterações negativas no olfato e, ou, paladar e 4,9% de dor ao mastigar (Tabela 1).
Observou-se que, 67,1% dos idosos faziam uso crônico de medicamentos, desses 42,9% usavam somente um tipo, 21,4% dois, 21,4% três e 14,3% quatro tipos. Das drogas utilizadas 46,3% eram anti-hipertensivas, 4,9% hipocolesterolemiantes e 4,9% hipoglicemiantes.
Os valores médios dos dados contínuos dos indivíduos estudados estão apresentados na Tabela 2.
Segundo dados do Índice de Massa Corpórea (IMC), a maior prevalência foi de sobrepeso (52,4%), seguido de eutrofia (28%) e de baixo peso (19,5%). Entretanto, 62,2% dos indivíduos apresentavam Percentual de Gordura Corporal (%GC) normal (Tabela 3). Quando foi realizada a análise combinada do estado nutricional, segundo o IMC e o %GC, observou-se que 63,4% dos idosos com sobrepeso, 12,5% dos eutróficos e 11,8% dos com baixo peso pelo IMC possuíam %GC elevado (p= 0,0000).
A análise da RCQ demonstrou 40,2% da população em risco alto, 34,2% em risco moderado, 13,4% em risco baixo e 12,2% em risco muito alto para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (Tabela 3).
Aproximadamente 30% dos idosos apresentaram pressão arterial ideal, 24,4% pressão arterial normal, 24,4% normal elevada e 22,0% algum grau de hipertensão arterial. Observou-se que 54,5% dos idosos eutróficos; 45,5% dos que apresentavam sobrepeso e 37,5% dos indivíduos com baixo peso apresentavam algum grau de hipertensão arterial, com valores pressóricos que caracterizavam o quadro de hipertensão arterial sistêmica grau I, II ou hipertensão arterial diastólica isolada.
Na classificação da RCQ com a pressão arterial, dos idosos que apresentaram pressão arterial normal 32,8% tinha risco muito alto e 35,9% risco moderado, para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Para os idosos com hipertensão, 66,7% deles apresentaram RCQ de alto risco e 27,7% de risco moderado. Analisando-se RCQ com %GC foi observado que 35,5% e 37,4% dos gerontes com risco alto e com risco moderado, respectivamente, apresentaram %GC elevado.
Dos 61 idosos que realizaram os exames bioquímicos, 96,7% tinham glicemia normal, 59,0 e 50,8% colesterol e triglicerídios limítrofe, respectivamente, e ainda, 39,4% dos idosos apresentaram valores altos para colesterol e triglicerídios.
Quando foram comparados os níveis de colesterol, glicose e triglicerídios plasmáticos com o estado nutricional observou-se glicemia normal em 31 (52,5%) dos indivíduos com sobrepeso. Os idosos com valores séricos de colesterol limítrofe (50%) e alto (58,3%) estavam com sobrepeso. E aqueles com níveis elevados de colesterol (58,3%) e triglicerídios (66,7%) apresentaram sobrepeso. Entretanto os resultados não apresentaram diferenças significativas (Tabela 4).
Quanto às associações entre as variáveis estudadas, apenas o %GC e o IMC apresentou associação, com Odds de 13,5 e intervalo de confiança de 4,0 a 44,8 e p=0,000.
Em relação à análise de correlação, pode-se observar que IMC, % GC, CC e CQ apresentaram correlação significativa entre si e com a pressão sistólica e diastólica. No entanto, não houve correlação significativa dessas variáveis com a glicose, colesterol e triglicerídios (Tabela 5).
DISCUSSÃO
O estudo teve como população, os idosos freqüentadores da UNATI da UNIFAL - MG, Alfenas, MG. Para Cervato et al16 esses programas são estratégias para preparar a sociedade para uma realidade cada vez mais emergente: o aumento da população idosa no mundo, em especial nas nações em desenvolvimento. Este tipo de programa tem grande contribuição em manter as pessoas ativas e saudáveis, com maior autonomia, direito ao trabalho, ao lazer, à informação e à educação. No presente estudo, houve um predomínio da população feminina, constituindo 90,4% da amostra. Cervato et al.16 relataram elevada participação de mulheres em programas voltados para a terceira idade e a maior sensibilidade destes, às necessidades demandadas para a promoção da saúde, em decorrência de suas experiências anteriores na utilização dos serviços de saúde, além da maior expectativa de vida para o sexo feminino.
Verificou-se que a maioria dos idosos apresentava bom nível socioeconômico, tanto de escolaridade quanto de renda familiar mensal. Isto pode ser devido ao fato de que os idosos com melhores rendas, não necessitem complementar sua aposentadoria. E por apresentar maior escolaridade reconhecem a necessidade do auto cuidado, que envolve melhoria na saúde e prática de atividades de lazer16.
Na análise das alterações sistêmicas decorrentes do envelhecimento relacionadas à idade, foi relatada plenitude pós-prandial, intestino preso, redução do apetite e alterações de olfato e paladar. Também se destacou o uso de prótese dentária e dor ao mastigar. Segundo Campos, Monteiro e Ornelas17 as alterações na capacidade mastigatória do idoso são devidas ao aparecimento freqüente de cáries, próteses mau adaptadas e doenças periodontais. As alterações sensoriais, decorrentes das alterações fisiológicas do envelhecimento, podem estar associadas ao decréscimo do apetite.
O uso de medicamentos entre os gerontes foi de 68,3%. Passero e Moreira18 relataram que os idosos costumam utilizar muito mais medicamentos do que pessoas de outra faixa etária, assim, estão mais propensos a sofrer seus efeitos adversos, incluindo as interações medicamento-alimento. Além disso, o fato de consumir mais medicamentos, concomitante a menor eficiência da função orgânica, pode levar a um aumento do risco de intoxicação. A utilização, a longo prazo, de drogas terapêuticas que interferem na digestão, na absorção e no metabolismo de nutrientes pode, também, ocasionar perda de peso e conseqüente desnutrição e anorexia17.
Verificou-se nesse estudo maior prevalência de sobrepeso em relação à eutrofia e baixo peso. Estes resultados confrontam com estudos de Passero e Moreira18 que observaram maior prevalência de eutrofia (36,7%) na população, seguido de sobrepeso (33,3%) e de baixo peso (30,0%). Esses resultados estão em concordância com Santos e Sichieri19 e com o Relatório da OPAS20, onde o sobrepeso teve sua prevalência aumentada na população brasileira, inclusive em idosos, a partir de 1975, passando de 15,1 para 23,4% e de 22,9 para 32,4% para homens e mulheres idosas, respectivamente. Paralelamente a isso, o baixo peso e a eutrofia tiveram sua prevalência diminuída, o que demonstra a transição nutricional da população do País.
É importante que os valores de IMC se correlacionem com outras medidas independentes da composição corporal, tendo em vista que o IMC não reflete a distribuição regional de gordura ocorrida com o processo de envelhecimento21. Em idosos, o emprego do IMC apresenta dificuldades em função do decréscimo da estatura, do acúmulo de tecido adiposo, da redução da massa corporal magra, da diminuição da quantidade de água do organismo e pela freqüente presença de patologias22. Assim, pela análise do %GC, constatou-se 62,2% de eutrofia e 37,8% de excesso de gordura corporal, o que pode ser explicado pelo declínio da massa magra, bem como do tecido ósseo e da água total do organismo, durante a fase posterior da vida adulta23.
No que diz respeito à hipertensão arterial sistêmica (HAS), a idade superior a 60 anos, em ambos os sexos são fatores de risco associados à patologia. No presente estudo, 46,3% dos idosos relatou possuir HAS, sendo que, de acordo com Taddei et al24 a prevalência de HAS entre idosos foi de 65,0%, podendo chegar até a 80,0%.
Considerando o IMC, 57,1% dos indivíduos que possuíam pressão arterial elevada foram classificados com sobrepeso. Entretanto, 52,4% dos indivíduos com pressão normal também apresentaram sobrepeso. Esses achados se diferenciam dos trabalhos de Cabrera e Jacob Filho5 que encontraram entre idosos avaliados pelo Honolulu Heart Program, uma relação direta entre IMC e HAS. Provavelmente, a não associação encontrada no presente trabalho seja pela limitação do número de participantes.
A RCQ tem sido usada em estudos populacionais como preditora dos riscos de doenças cardiovasculares6. Os resultados de RCQ demonstraram-se elevados em 40,3% dos idosos.
Pela classificação da RCQ, observou-se 40,2% dos idosos em risco alto e 12,2% em risco muito alto para desenvolver doenças cardiovasculares (DCV). Os gerontes com % GC elevado apresentaram risco alto (35,5%) e risco moderado (38,7%) para DCV. Esses resultados sugerem uma alta predisposição desta população em desenvolver doenças crônicas não transmissíveis, visto que, o acúmulo de gordura na região abdominal apresenta estreitas relações com doenças cardiovasculares. Entretanto, uma das principais limitações da RCQ é a ausência de pontos de corte específicos para a população idosa. Utilizam-se, até o momento, os critérios propostos para os adultos jovens, sem considerar as alterações na distribuição de gordura inerentes ao processo de envelhecimento25.
Observou-se que, dos 68 idosos que possuíam RCQ alto, 75% apresentavam pressão arterial normal. Tal fato pode ser explicado pelo uso regular de anti-hipertensivos pelos idosos que já tinham conhecimento de sua patologia e aos pontos de corte adotados para classificação de RCQ serem baseados em evidências de populações específicas de brancos, podendo, assim, não ser totalmente apropriados para idosos, mulheres e algumas etnias5. Quando analisou-se os 21 indivíduos com HAS, 80,9% apresentaram RCQ alto. Não foi observada associação entre a RCQ e a pressão arterial, assim como Ukoli et al 26, também, não verificaram relação entre os idosos nigerianos de ambos os sexos.
Outro fator que pode ter limitado o resultado, foi o fato da aferição da pressão arterial ter sido realizada uma única vez, por se tratar de um estudo transversal. De acordo com o National Institutes of Health27 o diagnóstico da HAS só é obtido pela referência do uso regular de medicamentos anti-hipertensivos ou duas medidas da pressão arterial (PA), com PA sistólica acima de 139 mmHg e, ou, PA diastólica acima de 89 mmHg.
Segundo Passero e Moreira18 os indivíduos hipertensos, geralmente, têm aumento de peso corporal, associado a elevada taxas de colesterol total, e, ou, triglicerídios e glicemia. Lepira, et al28 evidenciaram que as médias de triglicerídios e de colesterol total e suas frações estavam dentro da faixa de normalidade e foram similares em indivíduos com e sem hipertensão. Entretanto, 16% dos indivíduos sem hipertensão e 23% dos hipertensos estavam com elevados níveis de colesterol.
Associação da pressão sistólica com IMC também foram observadas por El ayachi et al29 e por Lepira, et al28 em um estudo que mostrou que os hipertensos apresentaram maior IMC e CC.
A freqüência elevada de hiperglicemia (32,4%) foi relatada por Pires, Gagliardi e Gorzoni30, em estudo retrospectivo, em indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos. Este resultado difere do presente trabalho, no qual foi encontrada apenas 3,3% de indivíduos com glicose sérica elevada.
Em relação aos níveis séricos de colesterol, 39,4% da amostra apresentava valor elevado. Freqüência próxima (30,0%) foi encontrada por Taddei et al24 em um estudo multicêntrico com idosos maiores de 65 anos, cuja população total era de 2196 indivíduos.
No presente estudo, observou-se que 50,8 e 39,4% dos gerontes apresentaram valores de triglicerídios limítrofes e elevados, respectivamente. Esses resultados foram superiores aos encontrados por Pires, Gagliardi e Gorzoni30 cuja prevalência foi de 20,0% de idosos com triglicerídios alterado. Segundo Duarte e Nascimento31 e Amado e Arruda32, os níveis séricos de triglicerídios tendem a se elevar com a idade, refletindo a incapacidade do idoso de controlar tais níveis.
Estudo realizado com mulheres idosas pelo Nurse´s Heath Study, demonstrou que as obesas apresentavam 39 vezes mais chances de desenvolver diabetes que as eutróficas33. Entretanto, os dados encontrados no presente estudo não demonstraram associações relevantes entre sobrepeso e glicose sérica elevada, já que dos indivíduos que apresentaram sobrepeso, somente 3,3% possuíam glicose elevada.
Quanto ao colesterol sérico, ficou evidenciado que 50% dos indivíduos com níveis limítrofes estavam com sobrepeso. E que 58,3% com níveis elevados apresentaram sobrepeso. Entretanto, não foi encontrada associação entre colesterol e sobrepeso. Cercato et al33 em estudo com 1213 indivíduos, também não encontraram associação entre níveis elevados de colesterol e obesidade. Em relação ao triglicerídios, observou-se que a metade dos indivíduos classificados com sobrepeso (50,0%), teve níveis elevados. Esses resultados corroboram e até mesmo apresentam maiores prevalências quando comparados com os de Njelekela, et al34 que demonstraram entre mulheres obesas maiores níveis de triglicerídios, colesterol total e LDL. E ainda com os achados de El ayachi et al29 que observaram níveis elevados de triglicerídios (11,8%) e colesterol (10%) entre mulheres marroquinas.
Apesar de El ayachi et al29 ter observado que triglicerídios se correlacionou positivamente e significativamente com IMC e ainda Njelekela, et al.34 ter encontrado correlação positiva do IMC e CC com colesterol, triglicerídios para ambos os sexos, as correlações entre IMC com os dados bioquímicos estudados no presente trabalho estão de acordo com os achados de Baral et al35 que encontraram, em idosos no Nepal, correlação positiva do IMC com triglicerídios, colesterol e frações embora sem significado estatístico.
CONCLUSÃO
A população estudada era composta na sua maioria por mulheres, com bom nível de escolaridade e renda familiar. Os idosos pertencentes à UNATI, apresentaram risco muito alto para desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Observaram-se também altas prevalências de sobrepeso e excesso de GC, colesterol e triglicerídios elevados, além de hipertensão arterial.
Portanto, a avaliação nutricional antropométrica e bioquímica do idoso são de extrema importância para a identificação das alterações que acompanham o envelhecimento e se refletem no estado nutricional e no possível desenvolvimento de doenças.




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Silva, R.R.. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL E PREVALÊNCIA DE DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS EM IDOSOS PERTENCENTES A UM PROGRAMA ASSISTENCIAL. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2007/abr). [Citado em 08/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/avaliacao-nutricional-e-prevalencia-de-doencas-cronicas-nao-transmissiveis-em-idosos-pertencentes-a-um-programa-assistencial/660?id=660

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