0454/2007 - Condições de radioproteção dos consultórios odontológicos
Radioprotection conditions in dentistry offices
Autor:
• Maria de Fátima Batista de Melo - Maria de Fátima Batista de Melo - Aracaju, Sergipe - Universidade Federal de Sergipe - <mfbmelo@infonet.com.br>Área Temática:
Não CategorizadoResumo:
Em 1998 o Ministério da Saúde estabeleceu as Diretrizes de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico, visando garantir a qualidade nos procedimentos prestados à população e assegurar a proteção radiológica aos profissionais da saúde. O objetivo desta pesquisa foi verificar a situação dos consultórios odontológicos quanto às especificações técnicas preconizadas e às medidas de proteção adotadas, utilizando-se um questionário com itens sobre equipamentos, técnicas e proteção radiológica. O universo foi composto pelos cirurgiões-dentistas do município de Aracaju/SE que executam o exame radiográfico como rotina, sendo a amostra final de 103 profissionais. Dentre os resultados encontrados, destacam-se o alto índice de profissionais que desconhecem as normas atuais (64,1%) e as especificações técnicas de seus equipamentos (51,5% desconhecem a quilovoltagem e 57,3% a miliamperagem), como também aqueles que utilizam o método visual de revelação (67%). Como condutas positivas, 62,1% dos pesquisados fazem uso da técnica do paralelismo e 98,1% utilizam a proteção plumbífera no paciente. Com isso, conclui-se que apesar de uma minoria conhecer as Diretrizes de Proteção, algumas medidas estão sendo corretamente adotadas; todavia, uma melhor conscientização se faz necessária. Palavras-chave: Radiologia, normas; Proteção Radiológica; Radiografia Dentária.Abstract:
In 1998, the Brazilian Health Ministry set up the Radioprotection in Medical and Dental Radiography Guideline, that aims to guarantee the quality of radiological procedures provide to all population and to assure the radioprotection requirements to health professionals. The purpose of this paper was to check out the current situation of the dental offices regarding the advocated technical specifications and the radioprotection, using a questionnaire that comprised questions about equipments, techniques and radioprotection. The universe of this research was the dentists from Aracaju borough that use the radiographic examination as a routine, with a final sample of 103 professionals. The results showed the respondents’ knowledge concerning the present standards (64,1%) and the technical details of their equipment was limit (51,5% do not know the kilovoltage peak and 57,3% the milliamperage of their machines), as well they develop their radiographies by visual method (67%). As positive behaviors, the paralleling technique was preferred by 62,1% and the lead apron was used by 98,1%. The results indicated that, despite the limited knowledge about the Guideline, some measures have been correctly adopted; however it is necessary to increase dentists’ awareness. Key words: Radiology, Standards; Radiation Protection; Radiography, Dental.Conteúdo:
O exame radiográfico é um valioso método auxiliar de diagnóstico nos diversos procedimentos adotados pelo cirurgião-dentista, sendo utilizado em qualquer manobra clínica pré-, trans- ou pós-operatória.
Desde a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad Röntgen, em novembro de 1895, várias pesquisas vêm enaltecendo a importância desta radiação para a humanidade, bem como suas ações deletérias devido à ação ionizante. Em nosso organismo a ação ionizante se faz sentir especialmente nos cromossomos, cujos efeitos se manifestam durante a divisão celular, causando a evolução anormal ou morte da célula1, sendo os principais riscos associados com baixas doses de radiação: o câncer, as mutações e as anomalias congênitas.2
As autoridades afirmam que qualquer dose de radiação tem potencial de produzir danos, mas, de acordo com a literatura, os efeitos potenciais da radiação advinda de aparelhos de raios X odontológico são mínimos, sendo o risco de indução de um câncer fatal por uma radiografia panorâmica de 1:1.000.000 e por uma radiografia intra-oral de 1:10.000.000.3 Todavia, apesar de o risco ser muito baixo, é importante considerar que os efeitos da radiação podem ser acumulativos, por isso todos os dentistas têm a responsabilidade profissional com seus pacientes, sua equipe e a si mesmo de minimizar todos os riscos que possam estar associados à radiação.3,4
A conscientização dessa ação deletéria dos raios X, através de efeitos somáticos ou genéticos, levou os pesquisadores a buscar medidas de segurança na aplicação desta radiação, surgindo na Alemanha em 1913 as primeiras regras para o uso dos raios X.5 Oito anos depois, em 1921, foram relatadas as primeiras recomendações de proteção radiológica pelo ‘British X-ray and Radium Committee’. Todavia, foi somente em 1928 que foram estabelecidas as primeiras normas de proteção pela ‘International Commission of Radiological Protection’.6
Seguindo a tendência mundial, em 01 de junho 1998 o Ministério da Saúde do Brasil estabeleceu a portaria nº 453 intitulada “Diretrizes de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico”7, que se preocupa com a necessidade de garantir a qualidade nos procedimentos de radiodiagnóstico prestados à população, assim como assegurar os requisitos mínimos de proteção radiológica aos profissionais da área de saúde.
A preocupação com as medidas de radioproteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas tem levado diversos pesquisadores a estudar o assunto em todo o mundo, assim como no Brasil, buscando avaliar os cuidados adotados para minimizar a exposição aos raios X, como também o uso dessa radiação nos consultórios e serviços públicos em geral. A metodologia aplicada nesses estudos consiste na elaboração de questionários, contendo diversas perguntas fechadas e/ou abertas sobre o assunto em questão.
Assim, constituiu o objetivo desta pesquisa verificar a situação atual dos consultórios odontológicos do município de Aracaju, quanto às especificações técnicas preconizadas pelo Ministério da Saúde, no que diz respeito às condições de instalação, manutenção e uso dos aparelhos de raios X e às medidas de proteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas entrevistados.
MÉTODO
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe (UFS), segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Tratou-se de uma pesquisa de campo, de caráter descritivo, com uma abordagem quantitativa através de levantamento de dados, utilizando a técnica de coleta de informações baseada num questionário com perguntas fechadas, elaborado especialmente para este fim e que foi entregue e recolhido pessoalmente. A partir desse questionário buscou-se avaliar de forma simples, porém ampla, o conhecimento e o comportamento dos entrevistados em relação às normas de proteção radiológica vigentes.
O universo desta pesquisa foi composto pelos cirurgiões-dentistas do município de Aracaju/SE, que executam o exame radiográfico na sua rotina clínica, sendo a amostra, inicialmente, compreendida por 30% de todos os cirurgiões dentistas inscritos entre 1974 e 2004 no Conselho Regional de Odontologia – Secção Sergipe (275 dos 917 profissionais), considerando um nível de confiança de 95 % (erro relativo de 5%). Contudo, dos profissionais que constituíam a amostra planejada, foi conseguido um retorno de 103 questionários, sendo o nível de confiança de 92% (erro relativo 8%).
A amostra foi selecionada a partir do banco de dados fornecido pelo Conselho Regional de Odontologia, onde depois de feitas as devidas exclusões, foram sorteados de forma aleatória e através do número de inscrição nesse Conselho.
Foram considerados critérios de exclusão do sujeito: ser especialista em radiologia; trabalhar em centros de diagnóstico por imagem; não atuar no município visado (Aracaju); falecimento; e não exercer a profissão.
A amostra final representa os profissionais que, após esclarecimento dos objetivos da pesquisa, dispuseram-se a participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e respondendo o questionário, durante as visitas do pesquisador.
Os dados colhidos nos questionários foram tabulados para serem analisados, sendo os resultados organizados como um banco de dados no programa Microsoft Excel 2003® e expressos sob a forma de percentagem. As conclusões basearam-se numa combinação de análise descritiva e discussão, sob o ponto de vista clínico, dos vários itens abordados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A preocupação com as medidas de radioproteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas tem levado diversos pesquisadores a estudar o assunto em todo o mundo, como Farman & Nortjé8, na África do Sul; Farman & Hines9, na América do Norte; Smith5, na Alemanha; Monsour et al.10, na Austrália; Mageean11, na Irlanda do Norte; Goren et al.12 e Geist & Katz13, nos Estados Unidos da América; Svenson & Petersson14, Svenson et al.15 e Svenson et al.16, na Suécia; Mutyabule & Whaites17, em Uganda; Jacobs et al.18, na Bélgica; Stavrianou et al.19, na Grécia; e Ilgüy et al.20, na Turquia.
No Brasil, alguns trabalhos de relevância são os de Melo et al.21, em São Paulo/SP; Capelozza & Álvares22, em Bauru/SP; Garcez Filho et al.23, em Aracaju/SE; Salineiro & Capelozza24, em Araçatuba/SP; Bóscolo et al.25, em Minas Gerais; Spyrides et al.26, no Rio de Janeiro/RJ; Barbosa & Gewehr27, nos Estados do Sul; e Silveira et al.28, em Olinda/PE.
Contudo, após mais de 8 anos da publicação das Diretrizes de Proteção Radiológica no Diário Oficial da União7, percebe-se que muitos erros são cometidos na prática diária nos consultórios odontológicos, como também a existência de muitos questionamentos por parte dos profissionais.
Na presente pesquisa, que emprega somente observação indireta através do uso de questionário auto-aplicável, não foi necessário a realização de estudo piloto, visto que a metodologia adotada, semelhante à da maioria dos pesquisadores revisados, está internacionalmente validada. Apenas na elaboração do questionário houve pequena adaptação dos itens abordados outrora, de forma a adequá-los à realidade local.
Em relação ao conhecimento pelos profissionais das normas vigentes e à inspeção da Vigilância Sanitária quanto ao uso da radiação no consultório odontológico, encontrou-se que 65% dos profissionais haviam recebido a visita da Vigilância, sendo que apenas 35,9% afirmaram ter conhecimento das normas vigentes. Dados semelhantes foram encontrados por Barbosa & Gewehr27, onde apenas 40% conheciam o conteúdo da portaria 4537. Entretanto, esses valores diferem dos encontrados por Melo et al.21, onde 54% conheciam as recomendações internacionais do período, e dos estudos de Garcez Filho et al.23 em que, de acordo com os autores, 88,6% dos entrevistados conheciam, ainda que superficialmente, as normas vigentes na época.
De acordo com a portaria 4537, art. 5 §10, alínea a, em radiografias intra-bucais a tensão no tubo de raios X deve ser maior ou igual a 50 kVp, preferencialmente maior que 60 kVp. Dos profissionais que souberam informar a respeito, foi encontrado que 34% dos aparelhos utilizados possuíam tensão maior que 60 kVp, 11,6% em 60 kVp e 2,9% em 50 kVp. Os valores da corrente destes aparelhos variaram entre 6 e 10 mA, segundo informação dos 42,7% que souberam informar.
Pelo fato de a tensão e a corrente do equipamento influenciar diretamente no poder de penetração da radiação e no contraste da imagem gerada11,29, é de relevante preocupação o fato de muitos cirurgiões-dentistas não conhecerem a tensão (51,5%) e a corrente (57,3%) de seus equipamentos, sendo esse fato também observado por Spyrides et al.26, em 62% dos entrevistados; por Mutyabule & Whaites17, em 65% deles; e por Ilgüy et al.20, em 86,9%.
Outro fator que influencia no tempo de exposição e na qualidade da imagem é a sensibilidade do filme radiográfico. Segundo as Diretrizes7, deve ser usado o receptor de imagem mais sensível que possa fornecer o nível de contraste e detalhe necessários. Apesar de ainda ser encontrado filmes de sensibilidade D, hoje no mercado estão disponíveis filmes de sensibilidade E, que reduz o tempo de exposição em 52%, comparando-se com o de sensibilidade D; como também são comercializadas películas com sensibilidade F, que necessitam de 20% menos tempo de exposição que as de sensibilidade E.19 Na presente pesquisa, foi encontrado que 50,5% dos profissionais utilizam filmes de sensibilidade E e 20,4% de sensibilidade E/F. Apenas 4 cirurgiões-dentistas (3,9%) continuam utilizando películas de baixa velocidade (sensibilidade D).
Valores semelhantes foram encontrados por Farman & Hines9; Monsour et al.10; Capelozza & Álvares22; Svenson & Petersson14; Svenson et al.15; Spyrides et al.26; Geist & Katz13; Tosoni et al.30; e Jacobs et al.18. Apenas os resultados de Goren et al.12 divergiram, onde somente 13% dos profissionais de Nova Iorque (EUA) utilizavam filmes de sensibilidade E. Novamente é destacável o número de entrevistados que não souberam informar o tipo de filme usado (25,2%), em concordância com os achados de Mutyabule & Whaites17, que encontraram 40%, sendo menor que os 65,8% relatados por Ilgüy et al.20
Pelos melhores resultados obtidos e menores irradiações teciduais que oferece, em radiografias intra-bucais deve-se utilizar, preferencialmente, a técnica do paralelismo com localizadores longos, dispositivos de alinhamento (posicionadores), e prendedores de filme de modo a evitar que o paciente tenha que segurá-lo (art. 5 §8, alínea d)7. Observou-se que 62,1% dos entrevistados utilizam essa técnica adaptada no seu dia-a-dia, demonstrando uma adequação às exigências atuais quando comparado ao valor de 81,4% encontrado por Garcez Filho et al.23 em 1990.
Valor semelhante foi encontrado por Goren et al.12; entretanto, a técnica da bissetriz foi mais utilizada nos achados de Melo et al.21, em mais de 80%; Monsour et al.10, em 75%; Spyrides et al.26, em 71%; Mutyabule & Whaites17, em 80%; e Tosoni et al.30, em 73,9%. O fato de a maioria (62,1%) utilizar posicionador, garantindo uma melhor perpendicularidade do feixe primário em relação ao filme, pode ter influenciado para que o número de repetições dos exames radiográficos variasse numa média de até duas repetições por dia de trabalho.
O art. 5 §9, alíneas c e d, das Diretrizes7 faz referência ao posicionamento adequado do operador ou qualquer membro da equipe, em relação à direção do feixe primário, e a não estabilização do cabeçote localizador e/ou do filme radiográfico durante as exposições. Portanto, a estabilidade do cabeçote deve ser verificada constantemente, evitando movimento depois de posicionado, o que pode resultar em perda de nitidez e meia lua, e no caso de ser necessário manter o filme na boca do paciente, isto deve ser feito por um acompanhante do mesmo.29
Na presente pesquisa, foi encontrado que 40,8% dos entrevistados pede ao paciente para segurar o cabeçote a fim de estabilizá-lo e que a maioria (76,8%) utiliza o posicionador para manter o filme na posição correta, apesar de 9,7% manter o filme na boca do paciente quando este não conseguia fazê-lo. Ao contrário dos dados encontrados por Melo et al.21, que relataram que considerável parte dos entrevistados mantinham pessoalmente o filme na boca do paciente ou alguém da equipe o fazia (22%); Monsour et al.10 encontraram que 40% dos profissionais o faziam; Garcez Filho et al.23, 37,1%; Salineiro & Capelozza24, 5%; Jacobs et al.18, 8%; e Ilgüy et al.20 relatou 16,8%.
De acordo com as Diretrizes de Proteção7, em seu art. 5 §7 alínea e, os equipamentos para radiografias intra-bucais devem possuir um localizador de extremidade de saída aberta para posicionar o feixe e limitar a distância foco-pele. Além disso, um método efetivo de redução da dose de radiação é manter a área irradiada a menor possível, compatível com o tamanho do objeto radiografado, sendo isso conseguido com o uso de cones localizadores longos.4 Em Aracaju, a maioria dos cirurgiões-dentistas entrevistados (83,5%) tem em seus consultórios equipamentos para radiografias intra-bucais com localizadores de extremidade de saída aberta para posicionar o feixe e limitar a distância foco-pele, sendo 56,3% localizadores tipo cilindro aberto plástico, e 27,2% cilindro aberto blindado. Dados semelhantes foram encontrados por Salineiro & Capelozza24 e Spyrides et al.26, sendo superiores aos encontrados por Capelozza & Álvares22, onde 51% dos aparelhos possuíam localizadores cilíndricos; e aos de Mutyabule & Whaites17, onde somente 39% possuíam cilindro plástico aberto. Todavia, 10,7% dos aparelhos têm localizador cônico, não sendo este tipo apropriado por haver interação do feixe primário com a extremidade de saída do localizador (art.5 §7 alínea e)7. Valor semelhante foi encontrado por Tosoni et al.30 que relataram que 9,7% dos profissionais ainda utilizam localizadores cônicos.
Quanto ao tipo de marcador de tempo de exposição, é indicado pelo Ministério da Saúde7 o tipo eletrônico, sendo ideal o uso do marcador digital, pela maior precisão na marcação do tempo, já que um marcador de tempo eficiente é essencial na prevenção de superexposição.11 Dos dentistas entrevistados, 44,7% utilizavam o marcador eletrônico e 34% faziam uso do marcador digital, totalizando 78,7% de profissionais seguindo as normas vigentes. Na literatura, Capelozza & Álvares22 registraram 86% de marcadores de tempo eletrônico; Spyrides et al.26, 82%; e Jacobs et al.18, 65%. Entretanto Mutyabule & Whaites17 relataram que 51% dos marcadores de tempo em Uganda, África, eram do tipo mecânico, número superior aos 18,4% encontrados nesta presente pesquisa.
A utilização do sistema de acionamento de disparo com retardo, apesar de ser defendido por Pereira31, é hoje de uso proibido, segundo o art.5 §8 alínea h das Diretrizes de Proteção do Ministério da Saúde7. Apesar disso, 44,7% dos profissionais ainda fazem uso deste dispositivo durante o exame radiográfico. Esse número é ainda menor que os 92% encontrado por Spyrides et al.26 no Rio de Janeiro.
O processamento radiográfico é uma das etapas mais importantes para obtenção de exames com qualidade; assim, métodos criteriosos devem ser adotados durante a sua execução. Diferentemente de Goren et al.12, que encontrou mais de 50% dos consultórios com processamento radiográfico automatizado, e de Svenson & Petersson14, com 89% dos processamentos desta forma, mas semelhante aos 100% achados por Spyrides et al.26 e os 94,4% relatados por Tosoni et al.30, todos os profissionais aqui entrevistados utilizavam o método manual de revelação, sendo 68% das câmaras escuras portáteis confeccionadas em acrílico vermelho e somente 32% em material opaco, como estabelece as normas (art.5 §6 alínea b)7.
Sabe-se ainda que o método tempo/temperatura é o mais indicado para o processamento, sendo proibido qualquer inspeção visual do filme durante os processamentos manuais (art.5 §12 alínea d)7. Apesar disto, 67% dos cirurgiões-dentistas entrevistados ainda utilizam-se deste artifício, sendo que dos 35% que não receberam a visita da Vigilância, 83,3% revelam por este método, demonstrando a importância desta Instituição na conscientização dos profissionais. O método visual também predominou nos trabalhos de Capelozza & Álvares22, com 97,2%; Salineiro & Capelozza24, com 100%; Spyrides et al.26, com 83%; Barbosa & Gewehr27, com 60%; e Tosoni et al.30, com 81,6% dos processamentos.
Entretanto, apesar de 33% dos cirurgiões afirmarem revelar pelo método tempo-temperatura, apenas 28,2% fazem uso de cronômetro, termômetro e tabela de revelação. Ou seja, 4,8% dos profissionais optam por revelar por uma técnica que eles não dispõem de todo material necessário para tal. Melhor resultado foi o encontrado por Farman & Hines9, na América do Norte, onde 93% dos profissionais faziam monitoração diária da temperatura das soluções processadoras.
A utilização de avental plumbífero, com no mínimo 0,25mm de chumbo e que garanta a proteção do tronco dos pacientes, está bastante difundida entre os profissionais das áreas da saúde. Assim como os dados relatados por Farman & Hines9, Monsour et al.10, Goren et al.12, Salineiro & Capelozza24, Spyrides et al.26 e Silveira et al.28, a grande maioria (98,1%) dos cirurgiões-dentistas avaliados na presente pesquisa afirmaram ser rotina o uso deste aparato, demonstrando um acentuado aumento no seu uso, quando comparado aos 48,6% encontrados por Garcez Filho et al.23 em 1990, na mesma cidade. No entanto o uso de protetores de chumbo para tireóide apresenta uma menor adesão por parte dos entrevistados, sendo observado em 70% dos consultórios. Farman & Hines9 encontraram 97% dos entrevistados utilizando este protetor; Monsour et al.10 obteve 50% de respostas positivas; Goren et al.12, 60%; e Silveira et al.28 encontraram 66,6%. Salineiro & Capelozza24 e Spyrides et al.26 não encontraram nenhum protetor de tireóide nos consultórios dos profissionais por eles pesquisados; Barbosa & Gewehr27 encontraram 42%; Tosoni et al.30, 18,9%; e Ilgüy et al.20, apenas 3,7%.
A proteção do profissional também tem sido enfatizada, uma vez que o poder de penetração das radiações ionizantes é inversamente proporcional ao quadrado da distância, sendo essencial a adoção de medidas eficazes que atenuem a sua penetração. Dessa forma é necessário que, em exames intra-bucais em consultórios, o operador mantenha-se à uma distância de, pelo menos, 02 metros do tubo e do paciente durante as exposições. Se a carga de trabalho for superior a 30mAmin por semana, o operador deve manter-se atrás de uma barreira protetora com uma espessura de, pelo menos, 0,5mm equivalentes ao chumbo (art.5 §9 alínea b)7. Foi encontrado no presente estudo que 7,8% dos dentistas utilizam o biombo como forma de proteção; 27,2% relatam se proteger atrás de uma parede de alvenaria, saindo da sala durante o exame, não sendo o mais indicado, pois o operador deve observar e ouvir o paciente durante as exposições (art.5 §8 alínea g)7; 32% utilizam avental plumbífero, pois em seus consultórios não é possível distanciar-se o suficiente do tubo; e 33% afirmaram utilizar do distanciamento como forma de auto-proteção, todavia 38% dos consultórios destes profissionais não permitem um distanciamento de mais de 2 metros.
Trabalhos anteriores demonstram concordância com os fatos aqui relatados. Monsour et al.10 encontraram que 9,1% dos profissionais utilizavam biombo ou outro tipo de barreira protetora e que considerável número ficava a menos de 2 metros de distância da fonte. Salineiro & Capelozza24 apontaram que 90% saíam da sala durante o exame, e Silveira et al.28 que 92,9% utilizavam este artifício, número maior que os 25% encontrados por Jacobs et al.18
Uma forma muito eficaz no controle individual do nível de radiação recebida é através da monitoração pessoal, no qual dosímetros são usados para mensurar a dose de radiação a que o indivíduo está exposto em um período pré-determinado. Neste estudo, apesar de 9,8% dos cirurgiões-dentistas da cidade não saberem do que se trata a monitoração pessoal, foi encontrado que 8,7% fazem uso deste dispositivo, resultado superior aos 3,6% encontrados por Ilgüy et al.20
Como proteção do público em geral, é indicado pelo Ministério da Saúde7 que as salas equipadas com aparelhos de raios X devem dispor de sinalização visível nas portas de acesso, contendo o símbolo internacional da radiação ionizante acompanhado da inscrição “raios X, entrada restrita”, e de quadro com orientações de proteção radiológica. É importante também que a sala de espera para os clientes esteja protegida de radiações secundárias. Segundo Marques Jr. et al.32, as divisórias de madeira apresentaram elevada transmissão da radiação (entre 53 e 89%); as paredes de tijolos com furos, assim como a de 5cm de concreto, revelaram baixa transmissão de radiação, entre 0,00114 e 0,00789%, valores que indicam uma proteção relativa da ordem de 10.000 a 100.000 vezes; por fim, as barreiras de tijolos maciços, 10cm de concreto e chumbo apresentaram as mais baixas transmissões observadas, variando entre 0,00084 e 0,00051%, o que equivale a uma proteção de 100.000 a 1.000.000 de vezes.
Em Aracaju, apenas 1,9% dos consultórios avaliados apresentam algum tipo de sinalização de radiação. Com relação à parede que separa a sala de espera do consultório, ou sala onde está instalado o equipamento, esta é de madeira em 33% dos casos, de alvenaria em 64% e em 1,9% dos consultórios não havia qualquer divisória. Garcez Filho et al.23 haviam encontrado 71,4% de divisórias de madeira, demonstrando uma tendência de adequação dos consultórios às normas de proteção, como o encontrado por Salineiro & Capelozza24, com 93% de divisórias de alvenaria.
Desde a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad Röntgen, em novembro de 1895, várias pesquisas vêm enaltecendo a importância desta radiação para a humanidade, bem como suas ações deletérias devido à ação ionizante. Em nosso organismo a ação ionizante se faz sentir especialmente nos cromossomos, cujos efeitos se manifestam durante a divisão celular, causando a evolução anormal ou morte da célula1, sendo os principais riscos associados com baixas doses de radiação: o câncer, as mutações e as anomalias congênitas.2
As autoridades afirmam que qualquer dose de radiação tem potencial de produzir danos, mas, de acordo com a literatura, os efeitos potenciais da radiação advinda de aparelhos de raios X odontológico são mínimos, sendo o risco de indução de um câncer fatal por uma radiografia panorâmica de 1:1.000.000 e por uma radiografia intra-oral de 1:10.000.000.3 Todavia, apesar de o risco ser muito baixo, é importante considerar que os efeitos da radiação podem ser acumulativos, por isso todos os dentistas têm a responsabilidade profissional com seus pacientes, sua equipe e a si mesmo de minimizar todos os riscos que possam estar associados à radiação.3,4
A conscientização dessa ação deletéria dos raios X, através de efeitos somáticos ou genéticos, levou os pesquisadores a buscar medidas de segurança na aplicação desta radiação, surgindo na Alemanha em 1913 as primeiras regras para o uso dos raios X.5 Oito anos depois, em 1921, foram relatadas as primeiras recomendações de proteção radiológica pelo ‘British X-ray and Radium Committee’. Todavia, foi somente em 1928 que foram estabelecidas as primeiras normas de proteção pela ‘International Commission of Radiological Protection’.6
Seguindo a tendência mundial, em 01 de junho 1998 o Ministério da Saúde do Brasil estabeleceu a portaria nº 453 intitulada “Diretrizes de Proteção Radiológica em Radiodiagnóstico Médico e Odontológico”7, que se preocupa com a necessidade de garantir a qualidade nos procedimentos de radiodiagnóstico prestados à população, assim como assegurar os requisitos mínimos de proteção radiológica aos profissionais da área de saúde.
A preocupação com as medidas de radioproteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas tem levado diversos pesquisadores a estudar o assunto em todo o mundo, assim como no Brasil, buscando avaliar os cuidados adotados para minimizar a exposição aos raios X, como também o uso dessa radiação nos consultórios e serviços públicos em geral. A metodologia aplicada nesses estudos consiste na elaboração de questionários, contendo diversas perguntas fechadas e/ou abertas sobre o assunto em questão.
Assim, constituiu o objetivo desta pesquisa verificar a situação atual dos consultórios odontológicos do município de Aracaju, quanto às especificações técnicas preconizadas pelo Ministério da Saúde, no que diz respeito às condições de instalação, manutenção e uso dos aparelhos de raios X e às medidas de proteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas entrevistados.
MÉTODO
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Sergipe (UFS), segundo a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Tratou-se de uma pesquisa de campo, de caráter descritivo, com uma abordagem quantitativa através de levantamento de dados, utilizando a técnica de coleta de informações baseada num questionário com perguntas fechadas, elaborado especialmente para este fim e que foi entregue e recolhido pessoalmente. A partir desse questionário buscou-se avaliar de forma simples, porém ampla, o conhecimento e o comportamento dos entrevistados em relação às normas de proteção radiológica vigentes.
O universo desta pesquisa foi composto pelos cirurgiões-dentistas do município de Aracaju/SE, que executam o exame radiográfico na sua rotina clínica, sendo a amostra, inicialmente, compreendida por 30% de todos os cirurgiões dentistas inscritos entre 1974 e 2004 no Conselho Regional de Odontologia – Secção Sergipe (275 dos 917 profissionais), considerando um nível de confiança de 95 % (erro relativo de 5%). Contudo, dos profissionais que constituíam a amostra planejada, foi conseguido um retorno de 103 questionários, sendo o nível de confiança de 92% (erro relativo 8%).
A amostra foi selecionada a partir do banco de dados fornecido pelo Conselho Regional de Odontologia, onde depois de feitas as devidas exclusões, foram sorteados de forma aleatória e através do número de inscrição nesse Conselho.
Foram considerados critérios de exclusão do sujeito: ser especialista em radiologia; trabalhar em centros de diagnóstico por imagem; não atuar no município visado (Aracaju); falecimento; e não exercer a profissão.
A amostra final representa os profissionais que, após esclarecimento dos objetivos da pesquisa, dispuseram-se a participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e respondendo o questionário, durante as visitas do pesquisador.
Os dados colhidos nos questionários foram tabulados para serem analisados, sendo os resultados organizados como um banco de dados no programa Microsoft Excel 2003® e expressos sob a forma de percentagem. As conclusões basearam-se numa combinação de análise descritiva e discussão, sob o ponto de vista clínico, dos vários itens abordados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A preocupação com as medidas de radioproteção adotadas pelos cirurgiões-dentistas tem levado diversos pesquisadores a estudar o assunto em todo o mundo, como Farman & Nortjé8, na África do Sul; Farman & Hines9, na América do Norte; Smith5, na Alemanha; Monsour et al.10, na Austrália; Mageean11, na Irlanda do Norte; Goren et al.12 e Geist & Katz13, nos Estados Unidos da América; Svenson & Petersson14, Svenson et al.15 e Svenson et al.16, na Suécia; Mutyabule & Whaites17, em Uganda; Jacobs et al.18, na Bélgica; Stavrianou et al.19, na Grécia; e Ilgüy et al.20, na Turquia.
No Brasil, alguns trabalhos de relevância são os de Melo et al.21, em São Paulo/SP; Capelozza & Álvares22, em Bauru/SP; Garcez Filho et al.23, em Aracaju/SE; Salineiro & Capelozza24, em Araçatuba/SP; Bóscolo et al.25, em Minas Gerais; Spyrides et al.26, no Rio de Janeiro/RJ; Barbosa & Gewehr27, nos Estados do Sul; e Silveira et al.28, em Olinda/PE.
Contudo, após mais de 8 anos da publicação das Diretrizes de Proteção Radiológica no Diário Oficial da União7, percebe-se que muitos erros são cometidos na prática diária nos consultórios odontológicos, como também a existência de muitos questionamentos por parte dos profissionais.
Na presente pesquisa, que emprega somente observação indireta através do uso de questionário auto-aplicável, não foi necessário a realização de estudo piloto, visto que a metodologia adotada, semelhante à da maioria dos pesquisadores revisados, está internacionalmente validada. Apenas na elaboração do questionário houve pequena adaptação dos itens abordados outrora, de forma a adequá-los à realidade local.
Em relação ao conhecimento pelos profissionais das normas vigentes e à inspeção da Vigilância Sanitária quanto ao uso da radiação no consultório odontológico, encontrou-se que 65% dos profissionais haviam recebido a visita da Vigilância, sendo que apenas 35,9% afirmaram ter conhecimento das normas vigentes. Dados semelhantes foram encontrados por Barbosa & Gewehr27, onde apenas 40% conheciam o conteúdo da portaria 4537. Entretanto, esses valores diferem dos encontrados por Melo et al.21, onde 54% conheciam as recomendações internacionais do período, e dos estudos de Garcez Filho et al.23 em que, de acordo com os autores, 88,6% dos entrevistados conheciam, ainda que superficialmente, as normas vigentes na época.
De acordo com a portaria 4537, art. 5 §10, alínea a, em radiografias intra-bucais a tensão no tubo de raios X deve ser maior ou igual a 50 kVp, preferencialmente maior que 60 kVp. Dos profissionais que souberam informar a respeito, foi encontrado que 34% dos aparelhos utilizados possuíam tensão maior que 60 kVp, 11,6% em 60 kVp e 2,9% em 50 kVp. Os valores da corrente destes aparelhos variaram entre 6 e 10 mA, segundo informação dos 42,7% que souberam informar.
Pelo fato de a tensão e a corrente do equipamento influenciar diretamente no poder de penetração da radiação e no contraste da imagem gerada11,29, é de relevante preocupação o fato de muitos cirurgiões-dentistas não conhecerem a tensão (51,5%) e a corrente (57,3%) de seus equipamentos, sendo esse fato também observado por Spyrides et al.26, em 62% dos entrevistados; por Mutyabule & Whaites17, em 65% deles; e por Ilgüy et al.20, em 86,9%.
Outro fator que influencia no tempo de exposição e na qualidade da imagem é a sensibilidade do filme radiográfico. Segundo as Diretrizes7, deve ser usado o receptor de imagem mais sensível que possa fornecer o nível de contraste e detalhe necessários. Apesar de ainda ser encontrado filmes de sensibilidade D, hoje no mercado estão disponíveis filmes de sensibilidade E, que reduz o tempo de exposição em 52%, comparando-se com o de sensibilidade D; como também são comercializadas películas com sensibilidade F, que necessitam de 20% menos tempo de exposição que as de sensibilidade E.19 Na presente pesquisa, foi encontrado que 50,5% dos profissionais utilizam filmes de sensibilidade E e 20,4% de sensibilidade E/F. Apenas 4 cirurgiões-dentistas (3,9%) continuam utilizando películas de baixa velocidade (sensibilidade D).
Valores semelhantes foram encontrados por Farman & Hines9; Monsour et al.10; Capelozza & Álvares22; Svenson & Petersson14; Svenson et al.15; Spyrides et al.26; Geist & Katz13; Tosoni et al.30; e Jacobs et al.18. Apenas os resultados de Goren et al.12 divergiram, onde somente 13% dos profissionais de Nova Iorque (EUA) utilizavam filmes de sensibilidade E. Novamente é destacável o número de entrevistados que não souberam informar o tipo de filme usado (25,2%), em concordância com os achados de Mutyabule & Whaites17, que encontraram 40%, sendo menor que os 65,8% relatados por Ilgüy et al.20
Pelos melhores resultados obtidos e menores irradiações teciduais que oferece, em radiografias intra-bucais deve-se utilizar, preferencialmente, a técnica do paralelismo com localizadores longos, dispositivos de alinhamento (posicionadores), e prendedores de filme de modo a evitar que o paciente tenha que segurá-lo (art. 5 §8, alínea d)7. Observou-se que 62,1% dos entrevistados utilizam essa técnica adaptada no seu dia-a-dia, demonstrando uma adequação às exigências atuais quando comparado ao valor de 81,4% encontrado por Garcez Filho et al.23 em 1990.
Valor semelhante foi encontrado por Goren et al.12; entretanto, a técnica da bissetriz foi mais utilizada nos achados de Melo et al.21, em mais de 80%; Monsour et al.10, em 75%; Spyrides et al.26, em 71%; Mutyabule & Whaites17, em 80%; e Tosoni et al.30, em 73,9%. O fato de a maioria (62,1%) utilizar posicionador, garantindo uma melhor perpendicularidade do feixe primário em relação ao filme, pode ter influenciado para que o número de repetições dos exames radiográficos variasse numa média de até duas repetições por dia de trabalho.
O art. 5 §9, alíneas c e d, das Diretrizes7 faz referência ao posicionamento adequado do operador ou qualquer membro da equipe, em relação à direção do feixe primário, e a não estabilização do cabeçote localizador e/ou do filme radiográfico durante as exposições. Portanto, a estabilidade do cabeçote deve ser verificada constantemente, evitando movimento depois de posicionado, o que pode resultar em perda de nitidez e meia lua, e no caso de ser necessário manter o filme na boca do paciente, isto deve ser feito por um acompanhante do mesmo.29
Na presente pesquisa, foi encontrado que 40,8% dos entrevistados pede ao paciente para segurar o cabeçote a fim de estabilizá-lo e que a maioria (76,8%) utiliza o posicionador para manter o filme na posição correta, apesar de 9,7% manter o filme na boca do paciente quando este não conseguia fazê-lo. Ao contrário dos dados encontrados por Melo et al.21, que relataram que considerável parte dos entrevistados mantinham pessoalmente o filme na boca do paciente ou alguém da equipe o fazia (22%); Monsour et al.10 encontraram que 40% dos profissionais o faziam; Garcez Filho et al.23, 37,1%; Salineiro & Capelozza24, 5%; Jacobs et al.18, 8%; e Ilgüy et al.20 relatou 16,8%.
De acordo com as Diretrizes de Proteção7, em seu art. 5 §7 alínea e, os equipamentos para radiografias intra-bucais devem possuir um localizador de extremidade de saída aberta para posicionar o feixe e limitar a distância foco-pele. Além disso, um método efetivo de redução da dose de radiação é manter a área irradiada a menor possível, compatível com o tamanho do objeto radiografado, sendo isso conseguido com o uso de cones localizadores longos.4 Em Aracaju, a maioria dos cirurgiões-dentistas entrevistados (83,5%) tem em seus consultórios equipamentos para radiografias intra-bucais com localizadores de extremidade de saída aberta para posicionar o feixe e limitar a distância foco-pele, sendo 56,3% localizadores tipo cilindro aberto plástico, e 27,2% cilindro aberto blindado. Dados semelhantes foram encontrados por Salineiro & Capelozza24 e Spyrides et al.26, sendo superiores aos encontrados por Capelozza & Álvares22, onde 51% dos aparelhos possuíam localizadores cilíndricos; e aos de Mutyabule & Whaites17, onde somente 39% possuíam cilindro plástico aberto. Todavia, 10,7% dos aparelhos têm localizador cônico, não sendo este tipo apropriado por haver interação do feixe primário com a extremidade de saída do localizador (art.5 §7 alínea e)7. Valor semelhante foi encontrado por Tosoni et al.30 que relataram que 9,7% dos profissionais ainda utilizam localizadores cônicos.
Quanto ao tipo de marcador de tempo de exposição, é indicado pelo Ministério da Saúde7 o tipo eletrônico, sendo ideal o uso do marcador digital, pela maior precisão na marcação do tempo, já que um marcador de tempo eficiente é essencial na prevenção de superexposição.11 Dos dentistas entrevistados, 44,7% utilizavam o marcador eletrônico e 34% faziam uso do marcador digital, totalizando 78,7% de profissionais seguindo as normas vigentes. Na literatura, Capelozza & Álvares22 registraram 86% de marcadores de tempo eletrônico; Spyrides et al.26, 82%; e Jacobs et al.18, 65%. Entretanto Mutyabule & Whaites17 relataram que 51% dos marcadores de tempo em Uganda, África, eram do tipo mecânico, número superior aos 18,4% encontrados nesta presente pesquisa.
A utilização do sistema de acionamento de disparo com retardo, apesar de ser defendido por Pereira31, é hoje de uso proibido, segundo o art.5 §8 alínea h das Diretrizes de Proteção do Ministério da Saúde7. Apesar disso, 44,7% dos profissionais ainda fazem uso deste dispositivo durante o exame radiográfico. Esse número é ainda menor que os 92% encontrado por Spyrides et al.26 no Rio de Janeiro.
O processamento radiográfico é uma das etapas mais importantes para obtenção de exames com qualidade; assim, métodos criteriosos devem ser adotados durante a sua execução. Diferentemente de Goren et al.12, que encontrou mais de 50% dos consultórios com processamento radiográfico automatizado, e de Svenson & Petersson14, com 89% dos processamentos desta forma, mas semelhante aos 100% achados por Spyrides et al.26 e os 94,4% relatados por Tosoni et al.30, todos os profissionais aqui entrevistados utilizavam o método manual de revelação, sendo 68% das câmaras escuras portáteis confeccionadas em acrílico vermelho e somente 32% em material opaco, como estabelece as normas (art.5 §6 alínea b)7.
Sabe-se ainda que o método tempo/temperatura é o mais indicado para o processamento, sendo proibido qualquer inspeção visual do filme durante os processamentos manuais (art.5 §12 alínea d)7. Apesar disto, 67% dos cirurgiões-dentistas entrevistados ainda utilizam-se deste artifício, sendo que dos 35% que não receberam a visita da Vigilância, 83,3% revelam por este método, demonstrando a importância desta Instituição na conscientização dos profissionais. O método visual também predominou nos trabalhos de Capelozza & Álvares22, com 97,2%; Salineiro & Capelozza24, com 100%; Spyrides et al.26, com 83%; Barbosa & Gewehr27, com 60%; e Tosoni et al.30, com 81,6% dos processamentos.
Entretanto, apesar de 33% dos cirurgiões afirmarem revelar pelo método tempo-temperatura, apenas 28,2% fazem uso de cronômetro, termômetro e tabela de revelação. Ou seja, 4,8% dos profissionais optam por revelar por uma técnica que eles não dispõem de todo material necessário para tal. Melhor resultado foi o encontrado por Farman & Hines9, na América do Norte, onde 93% dos profissionais faziam monitoração diária da temperatura das soluções processadoras.
A utilização de avental plumbífero, com no mínimo 0,25mm de chumbo e que garanta a proteção do tronco dos pacientes, está bastante difundida entre os profissionais das áreas da saúde. Assim como os dados relatados por Farman & Hines9, Monsour et al.10, Goren et al.12, Salineiro & Capelozza24, Spyrides et al.26 e Silveira et al.28, a grande maioria (98,1%) dos cirurgiões-dentistas avaliados na presente pesquisa afirmaram ser rotina o uso deste aparato, demonstrando um acentuado aumento no seu uso, quando comparado aos 48,6% encontrados por Garcez Filho et al.23 em 1990, na mesma cidade. No entanto o uso de protetores de chumbo para tireóide apresenta uma menor adesão por parte dos entrevistados, sendo observado em 70% dos consultórios. Farman & Hines9 encontraram 97% dos entrevistados utilizando este protetor; Monsour et al.10 obteve 50% de respostas positivas; Goren et al.12, 60%; e Silveira et al.28 encontraram 66,6%. Salineiro & Capelozza24 e Spyrides et al.26 não encontraram nenhum protetor de tireóide nos consultórios dos profissionais por eles pesquisados; Barbosa & Gewehr27 encontraram 42%; Tosoni et al.30, 18,9%; e Ilgüy et al.20, apenas 3,7%.
A proteção do profissional também tem sido enfatizada, uma vez que o poder de penetração das radiações ionizantes é inversamente proporcional ao quadrado da distância, sendo essencial a adoção de medidas eficazes que atenuem a sua penetração. Dessa forma é necessário que, em exames intra-bucais em consultórios, o operador mantenha-se à uma distância de, pelo menos, 02 metros do tubo e do paciente durante as exposições. Se a carga de trabalho for superior a 30mAmin por semana, o operador deve manter-se atrás de uma barreira protetora com uma espessura de, pelo menos, 0,5mm equivalentes ao chumbo (art.5 §9 alínea b)7. Foi encontrado no presente estudo que 7,8% dos dentistas utilizam o biombo como forma de proteção; 27,2% relatam se proteger atrás de uma parede de alvenaria, saindo da sala durante o exame, não sendo o mais indicado, pois o operador deve observar e ouvir o paciente durante as exposições (art.5 §8 alínea g)7; 32% utilizam avental plumbífero, pois em seus consultórios não é possível distanciar-se o suficiente do tubo; e 33% afirmaram utilizar do distanciamento como forma de auto-proteção, todavia 38% dos consultórios destes profissionais não permitem um distanciamento de mais de 2 metros.
Trabalhos anteriores demonstram concordância com os fatos aqui relatados. Monsour et al.10 encontraram que 9,1% dos profissionais utilizavam biombo ou outro tipo de barreira protetora e que considerável número ficava a menos de 2 metros de distância da fonte. Salineiro & Capelozza24 apontaram que 90% saíam da sala durante o exame, e Silveira et al.28 que 92,9% utilizavam este artifício, número maior que os 25% encontrados por Jacobs et al.18
Uma forma muito eficaz no controle individual do nível de radiação recebida é através da monitoração pessoal, no qual dosímetros são usados para mensurar a dose de radiação a que o indivíduo está exposto em um período pré-determinado. Neste estudo, apesar de 9,8% dos cirurgiões-dentistas da cidade não saberem do que se trata a monitoração pessoal, foi encontrado que 8,7% fazem uso deste dispositivo, resultado superior aos 3,6% encontrados por Ilgüy et al.20
Como proteção do público em geral, é indicado pelo Ministério da Saúde7 que as salas equipadas com aparelhos de raios X devem dispor de sinalização visível nas portas de acesso, contendo o símbolo internacional da radiação ionizante acompanhado da inscrição “raios X, entrada restrita”, e de quadro com orientações de proteção radiológica. É importante também que a sala de espera para os clientes esteja protegida de radiações secundárias. Segundo Marques Jr. et al.32, as divisórias de madeira apresentaram elevada transmissão da radiação (entre 53 e 89%); as paredes de tijolos com furos, assim como a de 5cm de concreto, revelaram baixa transmissão de radiação, entre 0,00114 e 0,00789%, valores que indicam uma proteção relativa da ordem de 10.000 a 100.000 vezes; por fim, as barreiras de tijolos maciços, 10cm de concreto e chumbo apresentaram as mais baixas transmissões observadas, variando entre 0,00084 e 0,00051%, o que equivale a uma proteção de 100.000 a 1.000.000 de vezes.
Em Aracaju, apenas 1,9% dos consultórios avaliados apresentam algum tipo de sinalização de radiação. Com relação à parede que separa a sala de espera do consultório, ou sala onde está instalado o equipamento, esta é de madeira em 33% dos casos, de alvenaria em 64% e em 1,9% dos consultórios não havia qualquer divisória. Garcez Filho et al.23 haviam encontrado 71,4% de divisórias de madeira, demonstrando uma tendência de adequação dos consultórios às normas de proteção, como o encontrado por Salineiro & Capelozza24, com 93% de divisórias de alvenaria.