0517/2007 - Conhecimento da população de Viçosa, MG Sobre as formas de transmissão da AIDS
Awareness of the population of Viçosa, MG of the ways of aids transmission
Autor:
• Marcela Miranda de Lima - Marcela Miranda de Lima - Viçosa, MG - Universidade Federal de Viçosa - <limamm@gmail.com>Área Temática:
Não CategorizadoResumo:
A AIDS é um dos mais graves problemas de saúde pública atuais e uma importante forma de prevenção reside no conhecimento, por parte da população, das formas de transmissão da doença. Com o objetivo de avaliar o grau de conhecimento da população da cidade de Viçosa em relação às formas de transmissão da AIDS, foram aplicados 376 questionários, com onze perguntas de múltipla escolha sobre as formas de transmissão da AIDS, bem como sexo, idade e escolaridade dos entrevistados. Os dados mostraram que as formas de transmissão enfatizadas pelas campanhas de saúde estão bem assimiladas, enquanto situações do cotidiano que não oferecem risco apresentaram elevado número de respostas incorretas. As diferenças encontradas entre os sexos não foram significativas. Quando os dados foram estratificados por idade e escolaridade, foram encontradas diferenças significativas para algumas perguntas em que as pessoas com mais de 55 anos e de menor escolaridade apresentaram maior número de respostas incorretas. Pode-se concluir que a população viçosense conhece as principais formas de transmissão da AIDS, mas uma parte desconhece a ausência de risco de algumas atividades cotidianas. Esses dados podem ser usados para a elaboração de campanhas de esclarecimento visando à redução do preconceito.Palavras-chave: AIDS, transmissão, conhecimento, escolaridade, idade.
Abstract:
AIDS is a major public health problem, reaching all groups of society. Knowing the ways of transmission is a way of preventing the disease. In order to evaluate the level of awareness of the population of the city of Viçosa about AIDS transmission, a questionnaire based on studies made in Europe was done about the ways of transmission of the disease. Eleven multiple-choice questions about the ways of AIDS transmission, sex, age and educational degree was obtained from 376 interviewees. The data showed that the ways of transmission emphasized on health campaigns are well assimilated, while daily situations that offer no risk presented a high number of incorrect answers. The differences were not significant when data was arranged by sex. When the same data was arranged by age or educational degree, there were differences for some questions in which people aged more than 55 and with a lower educational degree had a higher number of incorrect answers. It is possible to conclude that the population of Viçosa knows the main ways of AIDS transmission, but a part of it does not know the absence of risk in some quotidian situations. This data may be used to elaborate elucidative campaigns in order to reduce prejudice.Key-words: AIDS, transmission, awareness, educational degree, age
Conteúdo:
A AIDS já devastou vários países, revertendo quadros de desenvolvimento nacional, aumentando a distância entre ricos e pobres e empurrando grupos estigmatizados cada vez mais para a margem da sociedade ². Milhões de pessoas já foram mortas, dizimando famílias e comunidades inteiras, e milhões de outras pessoas tiveram suas vidas negativamente afetadas pela doença ³.
A AIDS foi descrita inicialmente em 1981, nos Estados Unidos, quando foram notificados os primeiros casos. Em 1983, foi identificado o agente etiológico, o vírus denominado HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) 4. Desde então, inúmeras têm sido as pesquisas em todos os campos associados à doença, como transmissão, prevenção e tratamento na tentativa do seu controle.
De acordo com o Programa Nacional de DST e AIDS do Ministério da Saúde, a epidemia da doença no Brasil está em processo de estabilização. Entre 1980 e 2004, foram registrados 362.364 casos no País. A incidência da AIDS diminuiu entre os homens, ao passo que aumentou entre as mulheres. O Brasil tem, hoje, aproximadamente 600 mil portadores do vírus HIV 5. Segundo Melo ¹, percebe-se que um quadro de uma epidemia restrita a determinados grupos de risco (como homossexuais, hemofílicos e usuários de drogas) foi substituído por outro no qual se destacam mulheres, jovens e heterossexuais.
Na XIII Conferência Internacional Sobre AIDS, ocorrida em Durban, África do Sul, em 2000, cientistas chegaram a um consenso de que a melhor estratégia para combater a AIDS seria integrando-se a prevenção com cuidados, tratamento e mitigação, sendo o programa brasileiro de combate à AIDS amplamente reconhecido como um exemplo dessa integração 6.
Ainda não existem vacinas para a AIDS 7 e, devido à ausência de cura até o presente momento, o controle da doença reside, hoje, na prevenção. Entretanto, o esforço para a prevenção da AIDS difere do de outros problemas de saúde, uma vez que as conseqüências de outros comportamentos de risco como fumo, bebida ou o uso de drogas são geralmente reversíveis, oferecendo assim múltiplas oportunidades de intervenção. Para muitos problemas de saúde, a falha em algum ponto da intervenção pode resultar ainda em sucesso posterior, mas a falha na intervenção no caso da AIDS pode ser a infecção pelo HIV e, na ausência de cura, quase certamente resultará em morte prematura 8.
Fazem parte do processo preventivo: o desenvolvimento da intervenção, a sua implementação, disseminação, e por último, a avaliação dos programas 9. A experiência ao longo dos vinte anos de epidemia mostrou que existem diversas alternativas de controle da disseminação da AIDS. Dentre estas alternativas encontram-se campanhas de prevenção em massa realizadas na mídia; marketing social de preservativos (distribuição ou venda a baixo custo); tratamento de DSTs; projetos de prevenção realizados com públicos-alvo específicos como jovens, “garotas de programa” e seus clientes, usuários de drogas injetáveis; testagem e aconselhamento voluntários e prevenção de transmissão mãe-filho. Estas diferentes formas têm se mostrado efetivas e, quando aplicadas e dosadas corretamente, podem levar à significativa redução nos níveis de prevalência da doença ².
Independentemente do tipo de intervenção adotada, um efetivo planejamento e implementação requerem um processo rigoroso de avaliações posteriores. No entanto, estas avaliações posteriores têm sido altamente negligenciadas na prática 9. O Ministério da Saúde desenvolve inúmeras campanhas de massa visando à adoção de comportamentos seguros por parte da população, mas não há uma avaliação do resultado destas campanhas sobre a população. Para se ter uma idéia, data de 2005 a primeira avaliação específica de uma campanha do Ministério da Saúde 10.
Esta avaliação faz-se ainda mais necessária quando avaliados o alto custo das campanhas contra a AIDS e a escassez de recursos disponíveis. Assim, reveste-se de importância uma precisa e contínua avaliação do impacto de cada método de prevenção, para que uma análise custo/benefício seja feita, de modo que os investimentos possam ser feitos da melhor forma possível ².
As formas de avaliação dessas estratégias são na maioria das vezes específicas para cada uma, o que por vezes dificulta comparações. Uma forma de comparação geral e ampla é a avaliação do número de casos de AIDS detectados no período de aplicação da estratégia, por unidade de tempo, em comparação com um período próximo sem aplicação na mesma população. Outra forma, mais simples, é a avaliação do conhecimento da população a respeito das questões abordadas nas campanhas, verificando diretamente o impacto das estratégias de informação ².
O presente trabalho teve como o objetivo avaliar o grau de informação da população da cidade de Viçosa acerca das formas de transmissão da AIDS, norteando, com os resultados obtidos, preparações de campanhas preventivas.
MÉTODOS
Uma forma simples de se determinar a eficiência de programas de prevenção é a avaliação direta do conhecimento da população a respeito das questões abordadas nas campanhas ². Sendo assim, para este estudo adotou-se a aplicação de questionário estruturado, em virtude do seu baixo custo e por possibilitar respostas rápidas a questões relativas ao nível de conhecimento da comunidade.
População de referência e Amostra
A cidade de Viçosa possuía, no último censo, 64.854 habitantes 11, estando situada na Zona da Mata sudeste do estado de Minas Gerais. A cidade abriga a Universidade Federal de Viçosa, tendo grande número de estudantes, professores e funcionários.
O questionário foi aplicado a transeuntes e trabalhadores da feira livre de agricultores do município, local este escolhido devido ao grande fluxo de pessoas de diferentes estratos populacionais. Os transeuntes foram abordados aleatoriamente, totalizando 376 questionários.
Instrumento
O instrumento de coleta consistiu em um questionário com 11 perguntas com respostas fechadas (Sim, Não, Talvez e Não sabe) e perguntas acerca de dados gerais (sexo, idade e grau de escolaridade). Como base para a elaboração do instrumento de coleta, foi utilizado um relatório de estudo realizado na União Européia 12. Após a elaboração de uma primeira versão do questionário, este foi pré-testado com 10 pessoas, tendo sofrido algumas adaptações, sobretudo na linguagem utilizada.
Os procedimentos do estudo foram desenvolvidos de forma a proteger a privacidade dos indivíduos, garantindo a participação anônima e voluntária. O projeto de pesquisa incluindo o questionário foi avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Viçosa.
Coleta de dados
A equipe de entrevistadores foi composta por oito estudantes do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Viçosa entre o 3º e o 10º período, participantes do Programa de Educação Tutorial (PET).
Análise estatística
A análise estatística dos dados foi realizada seguindo um critério de agrupamento de respostas, sendo as quatro possíveis respostas agrupadas em duas categorias, “informado” (inf) e “não informado” (n-inf).
A resposta NÃO foi considerada informada para as questões: (1) Comendo alimentos preparados por uma pessoa com AIDS, (2) Manipulando objetos tocados por uma pessoa com AIDS, (3) Bebendo em um copo que acaba de ser usado por uma pessoa com AIDS, (6) Usando um vaso sanitário que acaba de ser utilizada por uma pessoa com AIDS, (7) Apertando a mão de uma pessoa com AIDS, (8) Beijando a boca de uma pessoa com AIDS, (10) Cuidando de uma pessoa com AIDS e (11) Doando sangue. As demais respostas (Sim, Talvez e Não sabe) foram consideradas não informadas para estas mesmas questões.
A resposta SIM foi considerada informada para as demais questões; (4) Recebendo sangue doado por uma pessoa com AIDS, (5) Sendo picado por uma seringa usada por uma pessoa com AIDS e (9) Tendo relações sexuais sem proteção com uma pessoa com AIDS. Os dados não agrupados em informado e não informado podem ser visualizados na tabela 1.
As freqüências de respostas de informado e não informado referentes a cada pergunta foram então comparadas entre as variáveis sexo, idade e escolaridade, utilizando-se o teste do Qui-quadrado ao nível de 5% de significância. Para os resultados significativos, foram testados os seguintes contrastes, utilizando-se o mesmo teste:
- Mais de 55 (+55) contra demais idade;
- Ensino Fundamental contra Ensino Médio;
- Ensino Fundamental e Médio contra Ensino Superior.
RESULTADOS
Para o uso de seringas contaminadas, 97% dos entrevistados responderam tratar-se de uma forma de transmissão; para relação sexual sem proteção, 98%; e recepção de sangue de doador contaminado, 97%. A pergunta a respeito do aperto de mão teve 94% de respostas corretas (Figura 1).
Quanto a outras possíveis formas de transmissão, 73% dos entrevistados responderam que não se pode contrair o vírus ao beber em um copo que acaba de ser usado por uma pessoa com AIDS, 66% ao usar um assento sanitário nestas condições, 43% beijando a boca de um portador e 68% ao doar sangue simplesmente.
Quando os dados foram estratificados por sexo, apenas a pergunta referente à transmissão por beijo na boca teve diferença significativa, sendo que as mulheres apresentaram maior número de respostas corretas (χ2= 5.82; p= 0.01). Quando os mesmos foram estratificados por idade - menores e maiores que 55 anos - , foram encontradas diferenças para as perguntas 1, 2, 3, 6, 7, 8 e 10 (Tabela 2), em que as pessoas com mais de 55 anos apresentaram menor número de respostas corretas. Na estratificação por grau de escolaridade, houve diferença entre as pessoas que possuíam até o Ensino Fundamental e aquelas que possuíam Ensino Médio completo para as perguntas 1, 2, 3, 6, 8 e 10 (Tabela 3), em que aquelas que possuíam o ensino médio tiveram maior número de respostas corretas do que aqueles que possuíam até o ensino fundamental. Também houve diferença entre as pessoas que possuíam até o Ensino Médio e aquelas que possuíam Ensino Superior para as perguntas 1, 3, 6, 8 e 11 (Tabela 3), para as quais as pessoas com nível superior tiveram maior número de acertos.
DISCUSSÃO
Na primeira avaliação de Campanha de Saúde realizada pelo Ministério da Saúde, Porto 10 encontrou um resultado que demonstra sucesso de campanha vinculada pela mídia, em especial a televisão. Os dados do presente estudo mostram que as formas de transmissão como a transmissão sexual, o uso de seringas contaminadas e a recepção de sangue de doador contaminado, enfatizadas pelas campanhas de saúde e pela mídia em geral, estão bem sedimentadas (Figura 1). O aperto de mão, apesar de não ser tão enfatizado pela mídia, teve um alto número de respostas corretas.
Entretanto, cabe ressaltar que o conhecimento da população sobre as formas de transmissão de doenças (neste caso, a AIDS) não implica necessariamente em mudança de atitude 13, 14. Este é um grande desafio na elaboração de campanhas educativas, uma vez que além de chegar até a população, a mensagem vinculada deve ser capaz de provocar mudanças comportamentais. Segundo Chor 14, ao pensarmos na prevenção de doenças, são necessárias estratégias adequadas a realidades específicas. Em 2003, a Campanha de Carnaval de Prevenção à AIDS do Ministério da Saúde, por exemplo, foi voltada a um público específico - meninas entre 13 e 19 anos, mostrando-lhes a necessidade de que elas não tivessem vergonha de adquirir preservativos. Em uma pesquisa realizada para avaliar os efeitos dessa campanha, descobriu-se que ela foi bem recebida entre as jovens, além de ter causado discussões sobre o tema, e aparentemente ter contribuído para reforçar atitudes 10.
Um fato importante observado em nosso estudo merece especial atenção: o conhecimento equivocado quanto a determinadas formas de transmissão, como o uso de assento sanitário, o beijo na boca, a doação de sangue e o uso de copo previamente utilizado por um portador da doença. Essas questões apresentaram os menores níveis de acerto, todos inferiores a 75%. Resultados semelhantes também foram observados em outros estudos 13. As respostas erradas obtidas podem ser decorrentes das dimensões culturais ou simbólicas da AIDS, incluídas no imaginário do risco da doença 15. O imaginário do risco da AIDS relaciona-se com os significados atribuídos à doença de maneira negativa, uma vez que esta há muito tempo vem sendo atribuída à idéia de contágio, à necessidade de limites corporais e à simbologia do sangue e saliva 15. Este imaginário e simbolismo geram, em muitos casos, a falta de informação da população que associa a possibilidade de contaminação a diversas situações do cotidiano que não oferecem risco.
Quanto às perguntas sobre outras situações do cotidiano que não oferecem risco de transmissão, como comer alimentos preparados por um doente, manipular objetos tocados por este e cuidar de um portador da doença, os índices de acerto situaram-se entre 75 e 90%. Embora estas situações também recebam pouca atenção da mídia, elas apresentaram um índice de acerto maior do que as acima citadas. Este resultado pode ser explicado por constituírem situações que não envolvem os grandes símbolos associados à doença: sangue e saliva.
As respostas relacionadas à pergunta referente ao beijo na boca chamam bastante atenção devido ao grande número de pessoas que acreditam que este oferece algum risco (57%). A resposta “talvez”, que foi considerada incorreta, representou 28% do total, refletindo a falta de consenso existente na comunidade científica. Na década de 1980, muitas informações contraditórias foram vinculadas em relação à transmissão do vírus através do beijo na boca 13 e este conceito pode ter sido incorporado pelas pessoas e influenciado suas respostas. Embora o Ministério da Saúde 16 desconsidere o beijo na boca como forma de contaminação e pesquisadores afirmem que a saliva não contém vírus em quantidades infectantes 17, grande parte da população ainda apresenta dúvida quanto a esta situação. Fernandes et al. 13, em sua pesquisa em uma população de favela do Rio de Janeiro, encontraram 27,1% de respostas incorretas, número bastante semelhante ao encontrado neste trabalho, 14 anos depois, indicando uma falha na divulgação desta informação.
Embora, como visto acima, a maioria da população esteja consciente de que a recepção de sangue contaminado é uma forma de transmissão, muitos entrevistados acreditam que a doação de sangue traga algum tipo de risco para o doador (32%). Dados semelhantes foram encontrados por Sawyer et al. 18, em que pessoas entrevistadas responderam que há risco de contaminação no ato de doação de sangue. Estes dados podem refletir a falta de campanhas educativas de hemocentros, esclarecendo a população sobre as medidas de prevenção tomadas para que o doador não corra nenhum risco. Doadores e receptores estão protegidos pela legislação 19, onde o uso de material descartável em todas as fases do processo e o teste do sangue a ser utilizado é obrigatório. Percebeu-se uma confusão dos entrevistados entre o ato de doar e o de receber sangue, sendo que, para muitos, doação correspondia ao ato de receber sangue via transfusão, o que pode justificar parte dos resultados encontrados. Este tipo de dúvida pode acarretar em uma menor procura por doação de sangue, o que não se é desejável para a saúde pública.
O fragmento a seguir foi extraído da cartilha da campanha do Dia Mundial de Luta contra a Aids do Governo Federal 20 e aponta para o problema da falta de informação da população em geral: “O preconceito e a discriminação contra as pessoas vivendo com HIV/AIDS são as maiores barreiras no combate à epidemia, ao adequado apoio, à assistência e ao tratamento da AIDS e ao seu diagnóstico. Os estigmas são desencadeados por motivos que incluem a falta de conhecimento, mitos e medos.” Apesar de haver essa consciência, as campanhas ainda são fortemente voltadas para as formas de transmissão, dando menor enfoque às formas de não transmissão.
Quando os dados foram estratificados por idade (menor e maior que 55 anos), observou-se um número significativamente maior de respostas incorretas para os maiores de 55 anos justamente nas questões pouco abordadas pela mídia nas campanhas. Cabe ressaltar que, para as formas de transmissão bem enfocadas pela mídia, não houve diferença entre as idades, podendo este fato estar também associado às informações obtidas na escola, relacionadas às formas de não-transmissão. Este resultado pode ser reflexo de campanhas informativas destinadas a um público mais jovem e à resistência ou falta de acesso do público mais velho aos novos conhecimentos a respeito da doença. Há ainda o fato de que, no início da epidemia da AIDS, a doença era associada à idéia de morte, e as campanhas visando à prevenção da doença estiveram amplamente associadas ao terrorismo, ao medo 21. Segundo Ayres 21, estas campanhas terroristas tiveram um efeito de aumento da discriminação e do preconceito com relação à doença, além de afastar as pessoas do problema na época. O elevado índice de respostas erradas encontrados nesta faixa etária para situações de não-transmissão pode contribuir grandemente para o aumento do preconceito com relação aos portadores da doença. Campanhas direcionadas a indivíduos acima de 55 anos, como em grupos de terceira idade, e campanhas veiculadas pela televisão abordando as formas de não-transmissão, podem ser uma boa opção para reverter este quadro.
Na estratificação por escolaridade, indivíduos que possuíam Ensino Superior apresentaram maior número de respostas corretas com relação a indivíduos com Ensino Médio, e estes, por sua vez, apresentaram maior índice de acerto quando comparados com aqueles que possuíam até o Ensino Fundamental. Com estes dados pode-se dizer que, para a população amostrada neste estudo, a escolaridade está diretamente relacionada ao conhecimento sobre as formas de transmissão e não-transmissão da doença. Questões envolvendo as situações de não-transmissão, como preparo de alimento, uso de copo, uso de vaso sanitário e beijo foram aquelas cujas respostas estiveram mais relacionadas com a escolaridade, ocorrendo um aumento gradativo no número de respostas corretas com maiores níveis de escolaridade. Por outro lado, questões envolvendo situações de transmissão tiveram número de acertos independentes da escolaridade. A doação de sangue mais uma vez chama a atenção pelos resultados encontrados. Não foi verificada diferença significativa entre Ensino Fundamental e Médio (cerca de 35% de erro para ambos), contrastando com um menor número de respostas erradas entre os que possuem Ensino Superior (10% de erro).
Segundo Pitta 22: “a questão comunicacional no campo da saúde passa a não mais se reduzir a planejamento e elaboração de produtos comunicativos, mas a se conformar como um conjunto mais complexo de processos, estratégias, táticas e inventividades, entre as quais os produtos comunicativos são apenas parte.” Assim, a campanha em si é o resultado final de todo uma estratégia de ação com vistas à saúde da população. Entretanto, para se montar uma estratégia, é preciso primeiro conhecer o problema, ou seja, conversar com a população, saber o que ela já sabe, se os meios atualmente utilizados são eficientes, se são aprovados, enfim, é preciso um envolvimento dos sujeitos com o problema a ser trabalhado.