0349/2024 - Esposas do Cárcere: manifestações de violências em um presídio na região sul do Brasil Inmate Wives: expressions of violence inside a prison in the southern region of Brazil
Este estudo tem como objetivo analisar como a violência estrutural e institucional se manifestou na vida de mulheres companheiras de homens privados de liberdade uma prisão na região sul do Brasil. Trata-se de um estudo etnográfico desenvolvido ao longo de cinco meses do ano de 2022 com seis mulheres que visitavam seus companheiros no presídio. Gênero e classe social, caracterizados pela violência estrutural, apresentaram-se como marcadores sociais responsáveis por limitar suas escolhas e as vulnerabilizar. A violência institucional evidenciou-se nas experiências dessas mulheres por meio da institucionalização secundária, revelando episódios de violência moral e psicológica. Conclui-se que o cárcere representa um depósito da exclusão social, marcado pelas violências estruturais e responsável por perpetuar as estruturas institucionais injustas capazes de condicionar as mulheres às experiências sociais marcadas por precarização, privações de oportunidades e proteção das leis.
Palavras-chave:
Violência; Prisões; Estudos de Gênero; Violência de Gênero.
Abstract:
This study aims to analyze how structural and institutional violence manifested in the lives of women who are partners of incarcerated men in a prison in the southern region of Brazil. It is an ethnographic study conducted over five months in 2022 with six women who visited their partners in prison. Gender and social class, characterized by structural violence, emerged as social markers responsible for limiting their choices and making them vulnerable. Institutional violence was evident in these women\'s experiences through secondary institutionalization, revealing episodes of moral and psychological violence. It is concluded that incarceration represents a repository of social exclusion, marked by structural violence and responsible for perpetuating unjust institutional structures that condition women to social experiences marked by precarity, deprivation of opportunities, and lack of legal protection.
Introdução
Entre 2000 e 2019, a ocupação do sistema prisional aumentou 25% no mundo e, em 2019, eram 11,7 milhões de pessoas, o que representa o tamanho populacional comparável a países como Bolívia e Bélgica1. O Brasil possui a terceira maior população encarcerada do mundo, atrás dos Estados Unidos e da China2. Em 2022, o país apresentou aumento de 257%, com 832.295 pessoas presas, cuja maioria é formada por pessoas pobres, negras (68%) e jovens com idade entre 18 e 29 anos3.
Os homens representam 96% da população encarcerada no país4, e as mulheres são as que mais frequentam os presídios na condição de visitantes, principalmente mães, irmãs, filhas e companheiras5,6. As visitas nos presídios masculinos são cinco vezes maiores que nos femininos em alguns estados brasileiros7.
As prisões no Brasil têm más condições e os impactos sociais do encarceramento são pouco debatidos, principalmente quanto às famílias dos presos. Trata-se de um problema relevante, pois cada pessoa na prisão afeta cinco outras que sofrem dificuldades sociais, financeiras e psicológicas8.
A violência estrutural caracteriza-se por circunstâncias capazes de vulnerabilizar indivíduos, como iniquidades de gênero, raça, etnia, más condições econômicas e políticas, as quais podem produzir sofrimentos, doenças e agravos. Ou seja, toda injustiça social corresponde à violência estrutural. Desta forma, a partir de relações de poder desiguais são estabelecidos modos de vida, comportamentos e políticas institucionais e governamentais9,10. Devido ao fato de a violência estrutural materializar-se por meio de atitudes políticas e econômicas que beneficiam alguns grupos em detrimento de outros, estruturando e legitimando as desigualdades sociais, no contexto prisional torna-se crucial compreendê-la como responsável por expor grupos vulneráveis à criminalidade. A violência estrutural tem como expressão a violência institucional e, também frequente no contexto do cárcere, uma vez que própria privação se caracteriza como vulnerabilidade, devido ao fato de a pessoa privada de liberdade ocupar a posição cuja vida é negligenciável9.
A violência institucional cometida no cárcere é perpetrada por meio de normas, regras e procedimentos punitivos capazes de controlar ações e manter uma determinada ordem. Está inserida e legitimada no contexto da violência estrutural, caracterizando-se pela institucionalidade da violência11, momento em que os comportamentos institucionais negligenciam as necessidades dos indivíduos12.
As violências estruturais e institucionais inerentes à situação do cárcere experienciadas por mulheres visitantes, analisadas simultaneamente nesta pesquisa apresentam caráter inédito na contribuição teórico-metodológica das Ciências Sociais e Humanas na Saúde Coletiva, uma vez que as violências e sua relação com a saúde no cárcere são fenômenos invisibilizados e de difícil acesso na perspectiva científica. Este estudo tem como objetivo analisar como a violência estrutural e institucional se manifestou na vida de mulheres companheiras de homens privados de liberdade uma prisão na região sul do Brasil.
Métodos
Este é um estudo de cunho etnográfico em que se investigou as experiências de mulheres companheiras de homens presos durante as visitas ao cárcere. A investigação ocorreu por meio de “descrição consistente”, resultante da imersão no cotidiano do grupo investigado, e concentrou-se nos detalhes e informações subjacentes, buscando explicar modos de vida e expor padrões de significado, que podem ser traduzidos pela cultura13.
A etnografia é uma importante ferramenta na pesquisa em unidades prisionais pois possibilita adentrar as fronteiras da prisão, permitindo documentar fenômenos invisibilizados. Além disso, demonstra disponibilidade para interagir com os visitantes nas filas de espera e ocupa-se da relação entre prisão-sociedade e da articulação interna e externa do encarceramento14.
O percurso etnográfico ocorreu durante cinco meses, entre julho e dezembro de 2022, em um presídio da região sul do Brasil com mais de trinta anos de funcionamento. A unidade prisional apresentava, na data da coleta, ocupação de 341 presos, quase 40% a mais do que sua capacidade. Realizou-se observação-participante por meio da imersão nos locais em que circulavam as visitantes, caracterizando-se como um entre-lugar, ou seja, um arranjo espacial que demarca uma fronteira, os quais eram permitidos apenas aos visitantes circularem. A imersão ocorreu de três a quatro vezes por semana e era marcada pelas interações com trabalhadores, homens presos que trabalham dentro do presídio e familiares em dias de visitas. No entanto, a partir do objetivo do estudo, acompanhou-se a rotina de visitas das mulheres companheiras de homens presos.
O cotidiano foi documentado em um diário de campo, que acompanhou a pesquisadora durante a coleta de dados, permitindo uma análise detalhada das situações vivenciadas. Nele, foram registradas percepções, incluindo tensões relacionadas à segurança e ao fato de a pesquisadora ser mulher em um ambiente majoritariamente masculino.
Após cinco meses de investigação etnográfica, deu-se início a realização de entrevistas, a fim de aprofundar as percepções que emergiram no campo. Os critérios de elegibilidade das participantes das entrevistas foram: 1) ser companheiras de homens presos; 2) ter visto a pesquisadora nos dias de visitas pelo menos uma vez; e 3) ter interesse e disponibilidade para ser entrevistada. O convite foi realizado pelo setor de Assistência Social do presídio no momento da marcação das visitas sociais e íntimas.
As entrevistas foram realizadas no presídio após a saída das mulheres das visitas, uma vez que vinham sendo acompanhadas pela pesquisadora em suas rotinas como visitantes. Os procedimentos de segurança, como a passagem pelo raio X e pelo scanner corporal, a vistoria nas sacolas e a revista em seus corpos foram acompanhadas pela pesquisadora.
As entrevistas ocorreram por meio de roteiro semiestruturado, com duração média de 40 minutos, a partir dos seguintes temas: (1) relacionamento com o companheiro encarcerado; (2) experiência sobre a rotina do cárcere; (3) situações de violências vividas na prisão; e (4) desafios enfrentados pela família devido ao contexto do cárcere.
A pesquisadora, para estabelecer confiança com as entrevistadas, afirmou não ter acesso aos prontuários e desconhecer os crimes cometidos. Além disso, alegou que não pertencia a nenhuma formação jurídico-policial e garantiu que a privacidade seria mantida durante as entrevistas. Tal postura foi desenvolvida pela pesquisadora ao perceber a necessidade de tornar a conversa mais confortável15.
O tratamento dos dados foi realizado por meio da técnica de análise de conteúdo temática, cuja finalidade foi identificar, codificar, analisar e interpretar temas que emergiram do corpus textual16.
A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa Catarina (CEPSH-UFSC), sob número 5.440.345. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi lido e explicado pela pesquisadora, que solicitou a assinatura das participantes. Os nomes utilizados são fictícios e nenhum outro dado que pudesse ser associado a identificação das mulheres foi apresentado.
Resultados e Discussão
Participaram deste estudo seis mulheres companheiras de homens em situação de privação de liberdade. As características sociodemográficas das interlocutoras são apresentadas no Quadro 1.
Apenas duas mulheres recebiam algum tipo de benefício do Estado: uma recebia Auxílio-reclusão e outra o Bolsa Família. Nenhuma delas conhecia ou fazia parte de alguma Organização da Sociedade Civil de defesa dos direitos de pessoas presas e familiares. O grupo possuía baixa renda familiar, estavam desempregadas ou inseridas em trabalhos precários, com pouca escolaridade e eram obrigadas a oficializar o relacionamento com os seus companheiros no formato de casamento ou união estável. Além disso, apenas duas residiam em casas próprias, enquanto três viviam em imóveis alugados ou emprestado por familiares e uma residia com os pais.
Violência Estrutural: “se está na cadeia boa coisa não é”
O conceito de violência estrutural contribui para a compreensão dos marcadores sociais, como classe, raça, gênero, sexualidade e faixa etária, que resultam em experiências individuais de sofrimento. Refere-se aos elementos estruturais estabelecidos histórica e socialmente e que determinam os indivíduos que sofrem e os que estão protegidos de riscos, agravos, danos e iniquidades. Mais do que isso, define quem terá liberdade ou privações de escolhas e ações a partir do sexismo, pobreza, racismo e violência política. Comumente os mecanismos de violência assumem caráter invisível e podem ocorrer em instituições e espaços normativos10.
As violências estruturais se configuram como cruéis, pois resultam em miséria, fome e diversas formas de submissão e exploração. É considerada a violência causadora da miséria existente no mundo17.
Neste estudo, gênero revelou-se como um determinante social importante para a violência estrutural. Para Butler18, gênero é definido como uma performance, uma espécie de roteiro composto por atos que culmina na perpetuação da crença de diferenças originárias entre mulheres e homens, abrangendo construções sócio-históricas. No entanto, ainda se reconhece o intuito de torná-las inquestionáveis sob a legitimidade das ciências naturais, a partir de argumentos fisiológicos19.
A violência estrutural possui efeitos nas trajetórias das entrevistadas, apresentando-se de diferentes formas, como pela importância dada às visitas nos presídios masculinos, vista como uma atribuição feminina. O ato de visitar quem está privado de liberdade é explanado por estudiosas da área, em contraponto com a realidades dos presídios femininos, em que a presença dos companheiros não é frequente5,6. No contexto do cárcere, o ato de visitar relaciona-se com a identidade de gênero, uma vez que por serem mulheres e esposas sentem-se obrigadas a visitar e não abandonar os companheiros, como revelado por Marcele:“Maior desafio é não abandonar porque não tem como virar as costas, é meu marido. A partir do momento que fiz essa escolha, vou ter que apoiar e visitar”.
A obrigatoriedade em não abandonar o companheiro aparece como norma social, demonstrando a supervalorização da figura feminina que permanece com o companheiro e assume o papel de cuidadora dentro e fora da prisão, o que implica em visitar frequentemente no presídio. Lermen20, por meio da experiência etnográfica, apresenta os significados sociais das visitas e a dedicação das mulheres em presídios masculinos, definindo “puxar sacola” como ato de amor e cuidado, típicos da identidade de gênero nas trajetórias femininas.
As mulheres enfrentam o fardo de cuidar do companheiro e da família, lidando com desafios como a ausência do parceiro, ser a principal provedora financeira e adaptar-se à rotina prisional (visita, assistência jurídica e acesso à saúde), o que se apresentou como fatores relevantes, como narrado por Sabrina: “tu paga advogado, manda bolsa, gasta muito. Parei de trabalhar mais por causa dele, porque ele não recebe visita a não ser a minha. Então preciso me dedicar”.
Além dos gastos inerentes ao cárcere – sacola mensal com produtos de higiene pessoal e comidas não perecíveis – a subsistência das famílias sofreu impactos, uma vez que o emprego precisa ser abandonado em virtude da adaptação às agendas de visitas e demais atividades na busca por direitos. Além disso, a solidão e a situação da mulher como principal provedora durante a privação também foram evidenciadas por Marcele: “É difícil enfrentar tudo sozinha. Sobra tudo para mim (..) pago advogado, banco presídio, são gastos que não estavam no meu orçamento”.
As dificuldades revelam a situação da prisão como desfecho das violências estruturais baseadas nas desigualdades de gênero e no dispositivo amoroso a que estão submetidas21. O apoio, a sobrecarga e a dedicação são resultadas das performances esperadas dessas esposas, tornando a relação alvo de dedicação quase exclusiva e fortalecendo o dispositivo amoroso. Neste processo de subjetivação, o casamento é o elemento central, e faz com que muitas mulheres suportem situações de desigualdade e violências nas relações amorosas em virtude da preservação do relacionamento21.
Embora nenhuma situação de violência física perpetrada por parceiro íntimo tenha sido revelada, a obrigatoriedade em não abandonar o companheiro resulta da violência estrutural a que estão submetidas pelo fato de serem mulheres. As restrições impostas pelas desigualdades de gênero e classe social configuraram-se como desvantagens e interferem nas trajetórias de vida22. Essas trajetórias foram marcadas - antes e depois do cárcere - por limitações, dificuldades e imposição de responsabilidades, resultando em precariedade22. Entretanto, as falas apresentam agência e função baseada nas relações de poder5, e muitas mulheres assumiram esses papéis devido à dependência do companheiro21. Além disso, não identificam tais ações como resultantes de um complexo cenário de desigualdade de gênero como determinante para as situações de violência.
Identificou-se a compreensão que a sociedade tem dessas mulheres por meio da identidade “mulher de preso”, que se apresenta como um sintoma e, ao mesmo tempo, efeito da violência estrutural9, como cita Laura: “As pessoas julgam demais (..), pensam que todo preso é igual. Minha família perguntava como eu ficaria com ele se foi usuário e em seguida foi preso”.
O trecho revela o estigma sofrido por envolver-se com alguém que cometeu um crime, inclusive por membros da família. Ainda, afirma que a sociedade iguala todas as pessoas que estão em privação de liberdade, ignorando histórias de vidas e contextos, criminalizando a pessoa presa e seus familiares. Neste sentido, “ser mulher de preso” - “casar-se com bandido” - configura-se um novo marcador social da violência estrutural produzido pelo cárcere, uma vez que elabora e reforça a figura do bandido como perigoso e marginalizado, definindo, assim, as privações de escolhas e ações a partir da violência política inerente à essa figura e suas companheiras.
A extensão da criminalização aos familiares gera sofrimento e apresenta-se como “tatuagem social”, uma marca na trajetória destas mulheres. Por isso, não revelar a verdadeira história, muitas vezes, é uma aposta, como relatado por Carla: “Todo mundo pensa que se está na cadeia boa coisa não é. Por isso, eu preferia mentir que era separada ou viúva do que dizer que ele estava na cadeia, porque assim acabava o assunto”.
Carla preferiu, por mais de vinte anos, afirmar que não tinha companheiro, uma vez que afastava comentários estigmatizadores devido ao fato de o marido estar preso. Revela ainda que, devido à reincidência do marido, as filhas cresceram neste contexto, o que impediu que o companheiro participasse do processo.
As mulheres compartilharam experiências de estigma e exclusão após aprisionamento de familiares, enfrentando desconfiança e constrangimento social. Desta forma, ter um companheiro nesta situação resulta em mecanismos invisíveis de punição e promove a estigmatização e a exclusão de familiares23,24.
O adoecimento físico e mental é associado por Carla ao estresse causado pelo último episódio de encarceramento do companheiro: “na última prisão começaram esses problemas. Eu perdi uma porcentagem do pulmão e tive cinco paradas. Mais tarde, Deus me deu a vida de volta, aí eu penso “O Senhor, me deu a vida de volta para isso?”. Carla também relatou que possui um filho na mesma situação, revelando que o sofrimento demasiado quase lhe custou a vida, a qual questiona a continuidade após a recuperação.
Quando questionada sobre a sua situação de saúde, Josiane diz: “Acho que a minha saúde psicológica está bem abalada. Não vou dizer que é fácil, porque não é, mexe muito com o emocional, abala muito o psicológico”. Josiane revelou que sua saúde mental foi prejudicada após o encarceramento do companheiro. Além disso, devido aos gastos financeiro e de tempo que precisa dedicar à situação, não tem condições de realizar tratamento.
A exposição às vulnerabilidades e sofrimentos inerentes ao contexto do cárcere, apresenta-se como um fator de risco para as mulheres de homens presos, sendo um dos impactos da violência estrutural. A natureza estressante inerente ao ambiente prisional repercute na saúde das mulheres através de doenças físicas e mentais, apesar de elas não se referirem às violências cotidianas como um aspecto impactante em seus processos de saúde. Percebe-se que a concepção compreendida pelas interlocutoras se baseia na abordagem biologicista, desconsiderando a dimensão histórico-social do adoecimento25. Neste sentido, a noção restrita da concepção de saúde faz com que os aspectos que compõem o conceito ampliado, o qual considera seus vários determinantes, não sejam claramente identificados e mencionados por elas, como as situações de violências produzidas pelo cárcere.
As consequências na vida das mulheres foram apontadas por estudo recente em que se estima que 3,3 milhões de brasileiros sofram algum tipo de transtorno diante do encarceramento de um familiar8. Desta forma, as vulnerabilidades apresentam-se como resultado da somatória de sofrimentos resultantes das práticas organizacionais da instituição prisão e de sofrimentos morais, causados pela exclusão social de ter um familiar preso. Por reconhecer as vulnerabilidades ao sofrimento advindos do cárcere, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) contempla em suas ações de promoção da saúde e de prevenção de agravos a atenção aos familiares de pessoas presas26.
Ao investigar as trajetórias de mulheres companheiras de homens presos, observou-se a manutenção das desigualdades sociais capazes de perpetrar as múltiplas formas de submissão e exploração, dentre elas, as assimetrias baseadas na identidade de gênero, o trabalho precário, a baixa renda familiar, o desemprego, baixos níveis de escolaridade e a estigmatização.
Ser companheira de um homem privado de liberdade apresenta-se como um marcador social de violência estrutural específico no contexto do cárcere, capaz de estabelecer privações e sofrimentos às companheiras de homens em privação de liberdade. Tais violências – potencializadas pelo contexto do encarceramento - corroboram para trajetórias marcadas por restrições existenciais, materiais e simbólicas e com consequências à situação de saúde. Trata-se da manutenção de um sistema socioeconômico e político que legitima a exclusão e a marginalização de um grupo vulnerável ao sofrimento social.
Violência Institucional: “era só um sabonete. Precisava me humilhar tanto?”
A violência institucional foi identificada na experiência das mulheres por meio de situações em que estão expostas no cenário da prisão, como normas, discursos e penalidades institucionais. Os excertos revelaram submissão às regras e aos códigos do presídio, o que expõe a reprodução das estruturas sociais injustas, regras formais e informais que violam os direitos humanos.
Dentre as regras inerentes ao presídio, o ato de visitar o companheiro preso merece atenção. O direito à visita íntima é conquistado diante do cumprimento de requisitos, dentre eles possuir união estável ou ser casada com o homem preso. Desta forma, outros formatos de relacionamento não garantem o direito de realizar a visita. Este fator obriga-as a oficializar o relacionamento com seus companheiros, o que implica em um elo maior acompanhado da perda de autonomia e liberdade de escolha quanto à situação conjugal. Marcele cita: “tinha toda a documentação da união estável para fazer porque a gente não era casado. Então tudo é um processo difícil, tem que ir ao cartório, pegar a assinatura dele, pagar e esperar (..)”.
A maioria das mulheres não apresentava situações conjugais oficializadas anteriormente à prisão. Vincular-se de maneira permanente a esses homens torna-se um requisito e, caso contrário, elas não existem para o sistema carcerário. Desta forma, identifica-se que a norma institucional fortalece as injustiças de gênero, uma vez que condiciona a visita íntima com valorização da instituição casamento, acarretando a manutenção do status quo desta instituição. Historicamente, o casamento representa uma reprodução da relação de dominação entre homens e mulheres. Fortemente inspirada e legitimada pelas lutas feministas, a recusa ao casamento está ligada à afirmação das mulheres como sujeitos livres da dominação masculina, sobretudo da constituição de uma identidade feminina que opta em romper com a noção conjugal do casamento e da família27,18.
A violência institucional é identificada por meio das normativas de vestimentas e regras em que estão submetidas as mulheres visitantes. Para adentrar a prisão, todas devem vestir-se da mesma maneira: top que não contenham nenhum material metálico, blusa branca, calça de moletom cinza e chinelos coloridos, para que não sejam trocados com os utilizados pelo preso, processo que caracteriza duplamente a identidade retirada, uma vez que, além de utilizarem roupas iguais, são identificadas primeiramente como “visita do fulano”, “mulher do beltrano”. Desta forma, aponta-se para a perpetração da violência em forma de extensão da mortificação do eu28, que atinge não apenas as pessoas institucionalizadas, como todas aquelas que adentram a prisão. As companheiras estão expostas às humilhações e violações responsáveis por mutilar as identidades individuais e as subjetividades, transformando-as em objetos, o que contribui para despersonalização e perda de seus papéis sociais28.
A proibição de utilizar vestimentas e artefatos símbolos de feminilidade está ligada à interdição da sexualidade da mulher neste cenário. Assim, ao retirar tais identidades, estabelece-se o controle dos corpos, o que corrobora para a identidade de uma “mulher de família” como a única figura permitida a visitar o presídio. A violência institucional é identificada pelas iniciativas repressivas de obediência e censura, assumindo o caráter de uma sexualidade centralizada no casal, na família, marcada pelo puritanismo e pela interdição29.
As regras e procedimentos que não são cumpridos na íntegra ocasionam na proibição das visitas. Ainda, as mulheres estão autorizadas a levar apenas os seguintes objetos nas visitas íntimas: um sabonete líquido, uma manta, um lençol e uma toalha, todos na cor branca. Os objetos são minuciosamente fiscalizados pela vigilância. A conferência também ocorre na saída das mulheres, que devem apresentar todos os objetos que as acompanharam na revista da entrada. Caso isso não ocorra, as mulheres podem sofrer penalidades – como a retirada da carteirinha de visitação – que as impede de realizar as próximas visitas íntimas e sociais, como relata Josiane: “Se eu cometer algum erro ou ele lá dentro fizer algo proibido, eles tiram a carteirinha na hora e cortam a visita”.
Sem a carteirinha de visita, nenhum familiar acessa o presídio. O documento é fornecido após análise documental cuja investigação abarca antecedentes criminais, situação socioeconômica e grau de parentesco com a pessoa presa. Após sua emissão, quaisquer descumprimentos de regras – isso serve para familiares e presos – a penalidade é a retirada da carteira e, consequentemente, a proibição da visita.
As falas das mulheres e os relatos registrados no diário de campo demonstraram a rotina do presídio definida por normas e procedimentos, os quais possuem como eixo principal a segurança e a vigilância constante. A retirada da carteira de visitação dos familiares funciona como punição diante da infração das regras, o que se caracterizou como um dos maiores causadores de medo entre as informantes. Desta forma, a violência institucional toma forma por meio da punição de comportamentos como ferramenta institucional que controla uma ação com o discurso de manutenção de uma determinada ordem. Por meio da estrutura formal, do contexto possibilitador e o fundo ideológico, ocorre a institucionalização da violência11.
No presídio investigado, a revista íntima das mulheres foi substituída pela utilização de scanner corporal e raio X, o que representa um avanço na perspectiva da garantia dos direitos humanos. No entanto, até o ano de 2020 as práticas vexatórias eram utilizadas, caracterizando violência institucional, como relatado por Laura: “para entrar eu tirava toda a roupa e agachava com um espelho embaixo, bem como mostra nos filmes. Um dia eu cheguei a ficar menstruada de tão nervosa que eu fiquei”.
Laura afirma que o nervosismo e a exposição do seu corpo causaram profundo abalo emocional. O procedimento era instituído sob o argumento de garantir que nenhum objeto ilícito fosse entregue aos presos. Assim, a violência institucional foi legitimada em nome da manutenção da segurança e do controle. A revista íntima é considerada uma violação dos Direitos Humanos e recentemente foi pauta do Supremo Tribunal Federal que a extinguiu como requisito obrigatório para o acesso aos estabelecimentos prisionais. A prática é considerada vexatória e sua realização proibida, mesmo diante da ausência de scanner corporal e do raio X30. Apesar disso, o sofrimento relatado por Laura ainda pode ser experienciado por outras mulheres visitantes do cárcere, uma vez que a rotina varia de acordo com a Unidade Prisional e elas comumente são submetidas à arbitrariedade das forças de segurança, sofrendo em seus corpos a extensão da punição estatal31.
A violência institucional ganha contornos drásticos em casos como o relatado por Valéria, a qual foi vítima de violência moral e psicológica durante uma visita íntima. Valéria não cumpriu uma das regras do presídio ao sair da visita íntima. Diante da conferência, constatou-se que o sabonete líquido, o qual Valéria portava ao entrar, havia ficado na unidade, gerando tensão, gritos e ameaças, como relata Valéria: “meu deus, era só um sabonete. Precisava me humilhar tanto?”. Os gritos da guarda ressoavam na recepção, causando uma situação de constrangimento e humilhação. Ao expor a situação, Valéria ainda afirmou: “se a minha carteirinha for retida, vou procurar os meus direitos. Vou denunciar no Ministério Público e registrar que fui tratada como um animal”.
A humilhação vivenciada por Valéria torna evidente as violências institucionais que estão expostos os corpos que visitam a prisão, sobretudo os femininos. Além das agressões verbais, a ameaça de reter a carteirinha também marcou a cena narrada por Valéria. A comparação “tratada como uma animal” apresenta uma experiência de sofrimento individual a partir de seu enquadramento social, que requer compreender que mesmo os sentimentos e emoções mais íntimas são fatos sociais32. Além disso, revela condutas abusivas como forma de violência de gênero institucional, gerada em contextos microssociais de relações desiguais de poder10. De um lado, as mulheres que visitam, e de outro, a instituição detentora e reguladora das regras do jogo.
As fragilidades expostas nesta relação desigual apontam para o que Butler chama de vidas precárias33, apresentando elementos capazes de configurar a valorização de algumas vidas em detrimento de outras. A partir de conceitos como vulnerabilidade, precariedade, violência e luto, a autora reflete sobre a valoração da vida e, sobretudo, sobre quais são os processos políticos, econômicos e sociais capazes de ditar quais vidas podem ser vivíveis e quais mortes serão aceitáveis33.
Os marcadores sociais definidores das trajetórias de vida dessas mulheres as posicionam em um grupo mais vulnerável que outros. Configuram-se como experiências sociais marcadas por violência, privação da proteção das leis e da justiça. A partir disso, podem ser definidas como duplamente precárias, primeiro por circunscrever-se como vidas esvaziadas de valor e, em segundo, por defender, amar e cuidar de vidas não passíveis de luto, as quais perecem atrás das grades.
Limitações do estudo
Entre as limitações do estudo, destaca-se o fato de as entrevistas terem ocorrido no presídio, embora em sala reservada e sem a presença dos funcionários da unidade prisional. Esse fato pode ter interferido no compartilhamento de experiências percebidas pelas entrevistadas no ato de visitar, devido ao receio de sofrerem represália institucional.
Considerações finais
As violências experienciadas por companheiras de homens em privação de liberdade analisadas neste estudo possibilitou compreender vulnerabilidades destas mulheres, intituladas esposas do cárcere. A prisão apresentou-se como um local que potencializa as violências devido às características institucionais, como a adesão à ordem e a ausência de possibilidades de resistências. Investigar este cenário proporcionou perceber as relações de poder que configuram um espaço oculto – acesso controlado e altamente vigiado – o que corrobora para que presos e familiares não sejam vistos, ouvidos e lembrados.
As violências estruturais marcaram as vidas das mulheres por meio de restrições existenciais, materiais e simbólicas. As iniquidades de acesso resultantes dos elementos estruturais, como a classe social e o gênero, apresentaram-se como fatores limitadores de escolhas dessas mulheres antes do cárcere. No entanto, continuaram posicionando-as durante a experiência da prisão, uma vez que lhes obriga a abdicar do trabalho, da educação formal e do cuidado à sua saúde para dedicarem-se ao apoio e cuidado ao companheiro e aos filhos, embora, muitas vezes, desconsiderem os diversos determinantes causadores das violências produzidas pelo cárcere e responsáveis por impactar em suas próprias situações de saúde e de suas famílias.
O cárcere apresentou-se como um depósito da exclusão social – marcado pelas violências estruturais – e responsável por perpetuar as estruturas institucionais injustas. Nessa conjuntura, ser mulher de preso é um marcador social da violência estrutural no cárcere, capaz de elaborar a figura do bandido e, portanto, limitar direitos e representar um fator de risco à saúde nas trajetórias femininas.
As regras e discursos perpetrados no presídio revelaram a reprodução das estruturas sociais injustas que violam, diversas vezes, os direitos humanos, caracterizadas pelas violências institucionais. O sistema patriarcal consolida as violências e humilhações que marcam com ênfase os corpos femininos, por meio de normas, como a obrigatoriedade de oficializar o relacionamento, a retirada da identidade e os procedimentos da revista vexatória. Além disso, condicionar a visita no presídio com a identidade de mulher de família, que possui situação conjugal oficializada, configura-se como uma das faces assumidas pela violência institucional no cárcere.
Por fim, debruçar-se sobre as trajetórias de vidas de mulheres companheiras de homens presos permitiu a identificação da complexa articulação entre cárcere, gênero e violências, por vezes veladas, por outras, gritantes. Permitiu, sobretudo, a identificação de fatores capazes de precarizar duplamente as esposas do cárcere - mesmo que em diversas situações não se identifiquem como tal -, uma vez que se trata de vidas esvaziadas de valor e comprometidas com a defesa de vidas limitadas pelas grades, configurando-se como uma trama de vidas não passíveis de luto.
Agradecimentos
Gostaríamos de expressar nossos agradecimentos ao Ministério da Educação, por meio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pelo financiamento desta pesquisa. Além disso, somos especialmente gratos ao Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina, que, por meio do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, desempenha um papel fundamental na realização de pesquisas semelhantes.
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Inmate Wives: expressions of violence inside a prison in the southern region of Brazil
Resumo (abstract):
This study aims to analyze how structural and institutional violence manifested in the lives of women who are partners of incarcerated men in a prison in the southern region of Brazil. It is an ethnographic study conducted over five months in 2022 with six women who visited their partners in prison. Gender and social class, characterized by structural violence, emerged as social markers responsible for limiting their choices and making them vulnerable. Institutional violence was evident in these women\'s experiences through secondary institutionalization, revealing episodes of moral and psychological violence. It is concluded that incarceration represents a repository of social exclusion, marked by structural violence and responsible for perpetuating unjust institutional structures that condition women to social experiences marked by precarity, deprivation of opportunities, and lack of legal protection.
Inmate Wives: expressions of violence inside a prison in southern Brazil
Virgínia de Menezes Portes
Federal University of Santa Catarina, Department of Public Health, Graduate Program in Collective Health. Florianópolis, Santa Catarina, Brazil.
Email: virginiaportes@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6604-1962
Sheila Rúbia Lindner
Federal University of Santa Catarina, Department of Public Health, Graduate Program in Collective Health. Florianópolis, Santa Catarina, Brazil.
Email: sheila.lindner@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9724-1561
Rodrigo Otávio Moretti-Pires
Federal University of Santa Catarina, Department of Public Health, Graduate Program in Collective Health. Florianópolis, Santa Catarina, Brazil.
Email: rodrigo.moretti@ufsc.br
https://orcid.org/0000-0002-6372-0000
Resumo
Este estudo tem como objetivo analisar como a violência estrutural e institucional se manifestou na vida de mulheres companheiras de homens privados de liberdade numa prisão na região sul do Brasil. Trata-se de um estudo etnográfico desenvolvido ao longo de cinco meses do ano de 2022 com seis mulheres que visitavam seus companheiros no presídio. Gênero e classe social, caracterizados pela violência estrutural, apresentaram-se como marcadores sociais responsáveis por limitar suas escolhas e as vulnerabilizar. A violência institucional evidenciou-se nas experiências dessas mulheres por meio da institucionalização secundária, revelando episódios de violência moral e psicológica. Conclui-se que o cárcere representa um depósito da exclusão social, marcado pelas violências estruturais e responsável por perpetuar as estruturas institucionais injustas capazes de condicionar as mulheres às experiências sociais marcadas por precarização, privações de oportunidades e proteção das leis.
Palavra-chave: Violência; Prisões; Estudos de Gênero; Violência de Gênero.
Abstract
This study analyzes how structural and institutional violence is manifested in the lives of women who are partners of men deprived of liberty in a prison in southern Brazil. Ethnographic research was conducted over a five-month period in 2022 with six women who visited their partners in prison. Gender and socioeconomic status, characterized by structural violence, emerged as social markers responsible for limiting the women’s choices and rendering them vulnerable. Institutional violence was evident in episodes of moral and psychological violence experienced by the women, revealing the effects of indirect institutionalization. It is concluded that incarceration represents a repository of social exclusion. It is marked by structural violence and is responsible for perpetuating unjust institutional structures, which condition women to social experiences marked by precarity, privation of opportunities, and lack of legal protections.
Keywords: Violence; Prisons; Gender Studies; Gender-Based Violence.
Introduction
Between 2000 and 2019, the global prison population increased by 25%, bringing the total number of people incarcerated in 2019 to 11.7 million—a number comparable to the populations of countries like Bolivia and Belgium1. Brazil has the third largest prison population in the world, behind the United States and China2. In 2022, there were 832,295 people incarcerated in Brazilian prisons, which represented a 257% increase vis-a-vis 2000. Most of these inmates are poor and black (68%) and aged between 18 and 293.
The vast majority (96%) of Brazil’s prison population is male4, while the visitors to prisons tend to be female—usually the inmates’ mothers, sisters, daughters, and partners5,6. In some Brazilian states, there are five times more visits to male prisons than there are to female prisons7.
The conditions in Brazilian prisons are poor, and there is little public debate in the country on the social impacts of incarceration, especially on the families of inmates. This matters, because each person in prison has a social, financial, and psychological impact on five other people, on average8.
Structural violence is a kind of violence that causes individual vulnerability. It happens when there are gender, race, and ethnicity inequities, as well as poor economic and political conditions, which can engender suffering, illness, and harm. In other words, all social injustice is structural violence. Unequal power relations induce certain ways of life, behaviors, and institutional and governmental policies9,10. As structural violence is materialized through political and economic measures that benefit some groups to the detriment of others, crystalizing and legitimizing social inequalities, it is crucial to understand it as instrumental in exposing vulnerable groups to crime, especially when considering the prison setting. Structural violence is expressed in institutional violence, so it is also present in prisons, insofar as incarceration itself causes vulnerability, making the life of the person deprived of freedom inconsequential9.
Institutional violence is enacted in prisons through punitive norms, rules, and procedures designed to control behaviors and maintain a certain order. It is a form of structural violence in which the violence is legitimized in an institutional setting11. Institutional behaviors take precedence over individual needs, which are largely are overlooked12.
Studying the structural violence and institutional violence embedded in the prison system as experienced by female visitors, both of which are analyzed simultaneously in this research, is unprecedented in the theoretical and methodological contributions made by the social and human sciences in public health. This is because violence and its relationship with health in prisons are rendered invisible to the public gaze and are difficult to access from a scientific perspective. This study analyzes how structural and institutional violence is manifested in the lives of the female partners of men deprived of liberty in a prison in southern Brazil.
Methods
This ethnographic study investigated the experiences of the wives and partners of male inmates during prison visits. The research developed a “consistent description” that resulted from an immersion in the daily lives of the women investigated. It focused on bringing forth underlying information and details in a bid to explain ways of life and reveal patterns of meaning that could be translated by the culture13.
Ethnography was an important approach for the research, as it enabled the researcher to penetrate the prison walls and document phenomena otherwise rendered invisible. Furthermore, taking this approach meant being available and willing to interact with visitors waiting in line; it allowed the research to probe the relationship between prison and society and how incarceration is articulated both inside and outside the prison walls14.
The ethnographic fieldwork was conducted over five months, between July and December 2022, in a prison in the south of Brazil that has been in operation for over 30 years. At the time, there were 341 inmates in the prison: almost 40% more than its capacity. Participant observation was carried out by immersion in the spaces where the visitors circulate. These spaces can be seen as an “in-between place”: a zone that marks a border beyond which only certain people (in this case, visitors) may go. The immersion was conducted by one member of the research team three to four times a week, when she interacted with workers, male prisoners who worked inside the prison, and family members on visiting days. However, in line with the study objective, it was the visits made by the female partners of male inmates that were the primary focus.
The researcher documented daily life among these individuals in a field diary, which she kept with her throughout the data collection phase. In it, she recorded her perceptions, which included security-related tensions and factors associated with her being a woman in a majority male environment. All these notes enabled a more detailed analysis of the situations experienced.
It was only after five months of ethnographic research that the interviews were begun, with a view to probing further the perceptions that had emerged in the field. The eligibility criteria for participation in the interviews were: 1) being the partner of a male inmate; 2) having seen the researcher at least once when visiting the inmate; and 3) being available and willing to be interviewed. Invitations were issued by the prison’s social service sector when social and conjugal visits were being scheduled.
The interviews were conducted inside the prison after the women had left their partner, as the researcher had already accompanied them on their routine visits. The researcher was also present at the security procedures, which included X-rays, body scans, bag inspections, and frisks.
The interviews followed a semi-structured script and lasted an average of 40 minutes. The topics covered were: (1) relationship with the inmate; (2) experience of the prison routine; (3) situations of violence experienced in the prison; and (4) challenges the family faced due to the imprisonment of the man.
To build trust with her interviewees, the researcher explained that she did not have access to any medical records and did not know what crimes the men had committed. She added that she was not part of a legal or police training program and gave her assurance that all information divulged during the interviews would be kept confidential. She developed this approach when she realized the need to put her interviewees more at ease15.
Data were processed using thematic content analysis, which serves to identify, code, analyze, and interpret themes that emerge in a corpus16.
The research was approved by the research ethics committee of the Federal University of Santa Catarina (approval number 5,440,345). The researcher read out and explained the contents of the informed consent form to the participants before asking for their signature. All the participants have been given fictitious names, and any data that could be used to identify them has been omitted.
Results and Discussion
Six female partners of men deprived of liberty participated in this study. Their sociodemographic characteristics are presented in Table 1.
Only two women received any type of financial benefit from the state: one received prison aid and the other received Bolsa Família, a benefit for low-income households. None of them knew or were part of any organized civil society group defending the rights of prisoners or their families. The women’s household income was low; they were unemployed or in precarious employment; they had few years of education; and they were forced to formalize their relationship with their partners in the form of marriage or common-law marriage (civil partnership). Only two of them owned their own home; three lived in rental properties or properties owned by relatives, and one lived with her parents.
Structural violence: “if you’re in jail, it can’t be for something good”
Structural violence is a concept that helps shed light on certain social markers, such as class, race, gender, sexuality, and age, that result in individual experiences of suffering. It relates to structural elements with historical and social roots that determine which individuals will suffer and which will be protected from risks, harm, damage, and inequity. Furthermore, it dictates who is and who is not free to make choices and take actions, under the influence of sexism, poverty, racism, and political violence. The mechanisms of violence tend to be hidden from sight, and can be exercised in institutions and other hierarchical, rule-based settings10.
Structural violence is cruel, as it spawns poverty, hunger, and diverse forms of submission and exploitation. It is the form of violence that causes the systemic, abject poverty seen around the world17.
In this study, “gender” was found to be an important social determinant of structural violence. For Butler18, gender is performed; it is a script composed of acts that perpetuate the belief in original differences between women and men, passing through different socio-historical constructs. This is compounded by endeavors to frame such differences as immutable under the banner of the natural sciences, based on physiological arguments19.
Structural violence had affected the interviewees’ trajectories in different ways. One such way was the importance attributed to visiting menfolk in prison, seen as a female responsibility. This act of visiting men deprived of freedom has been observed by other researchers, and stands in contrast to the reality at women’s prisons, where visits by male partners are rare5,6. Visiting a person in prison is an act that is related to gender identity: as women and wives, women feel obliged to visit and not abandon their partners. In the words of Marcele, “the biggest challenge is not to abandon him, because you can’t just turn your back. He’s my husband. Ever since I made that choice, I have to support and visit [him].”
The obligation not to abandon the partner is expressed as a social norm. The female is overvalued as a person who will stay by her partner no matter what, taking on the role of caregiver inside and outside the prison, which means making frequent visits to the prison. Drawing on ethnographic work, Lermen20 presents the social meanings of prison visits and women’s devotion to them in male prisons. Being a “bag dragger,” as she terms these women, means performing the kind of love and care that is typically associated with the female gender identity.
Women bear the burden of caring for their partner and family. In the absence of their partner, they become the main breadwinner and have to adapt to the prison routine (visits, legal counsel, and access to healthcare). This is all part of the burden, as Sabrina explains: “you pay for the lawyer, you send in bags [of goods], you spend a lot. I stopped working because of him, because he doesn’t get any visits except mine. So I have to be devoted.”
In addition to covering the costs inherent to prison—a monthly bag’s worth of personal hygiene products and non-perishable foodstuffs—families are impacted in their ability to make ends meet, since it becomes impossible to hold down a regular job and fit in the visiting schedules and other activities required to defend the man’s rights. The women’s difficulty in being the main breadwinner at times of shortage also goes hand in hand with loneliness, as highlighted by Marcele: “It’s hard to cope with everything on your own. Everything is down to me (..) I pay for the lawyer, the prison bank. They’re expenses I hadn’t budgeted for.”
The hardships faced by the women when coping with the imprisonment of a partner are the outcome of a form of structural violence that stems from gender inequalities and self-subjugation to the male partner21. Providing support, being overwhelmed, and displaying dedication are all part of the performance expected of these women, making the relationship something to which they must devote themselves almost exclusively, strengthening their subjugation to the male partner. In this process, (common-law) marriage is paramount. It makes many women endure situations of inequality and violence in their conjugal relations in the name of maintaining the relationship21.
Although none of the women reported having been the victim of physical violence from their sexual partner, the structural violence they experienced as women meant they were under obligation not to abandon them. The constraints imposed by their gender and socioeconomic status were disadvantages that disrupted their life trajectories22. Both before and after the imprisonment of the partner, these trajectories were marked by limitations, hardships, and imposed responsibilities, all of which made them increasingly precarious22. Nonetheless, the women expressed agency and performed functions based on power relations5, with many of them taking on new roles because of their partner’s dependence21. They did not, however, identify these actions, which were the outcome of a complex web of gender inequality, as determinants of situations of violence.
In their words, the women revealed that they felt they were seen by society for their identity as “prisoner’s wives.” This appeared as both a symptom and an effect of structural violence9, as expressed by Laura: “People are really judgmental (…), they think that every prisoner is the same. My family asked how I could be with him if he was a user and was then sent to prison.”
This passage reveals that the stigma associated with being involved with someone who has committed a crime is even expressed by family members. It also shows the perception that society sees all people deprived of freedom in the same light, irrespective of their life story and background, tarring all inmates and their families with the same brush. In this sense, “being an inmate’s partner”—“marrying a criminal”—is itself another social marker of the structural violence produced by prison, as it configures and confirms the criminal as dangerous and depraved. This label is associated with a paucity of choices and actions that stems from the political violence inherent to the figure of the criminal and his female partner.
Extending the label of “criminal” to the families of prisoners causes suffering. It is a stain on the women’s trajectories, something they are branded with like a “social tattoo.” As a result, some of the women interviewed chose not to tell the whole truth. Carla was one: “Everyone thinks that if you’re in jail, it can’t be for something good. So I preferred to lie [and say] that I was separated or a widow than say he was in jail, because that put an end to the subject.”
For more than 20 years, Carla had told people she did not have a partner so as to protect herself against stigmatizing comments about having a husband in prison. She also revealed that her husband was a repeat offender, which meant he had not taken part in raising her daughters; this was all her daughters had known.
The women all shared experiences of stigma and exclusion after their menfolk were imprisoned. They were treated with mistrust and as social pariahs. In other words, having a partner who is incarcerated activates invisible mechanisms of punishment and results in stigmatization and exclusion23,24.
Carla associated physical and mental illness with the stress caused by her partner’s latest prison sentence: “These problems began with the latest stint in prison. I lost a percentage of my lungs and had five [cardiac] arrests. Later, God gave me my life back, and I think, ‘oh Lord, is this what you gave me my life back for?’” Carla also had a son in the same situation. In her extreme suffering, she almost died, and even after recovering she still questioned the point of carrying on.
When Josiane was asked about her health, she said, “I think my psychological health is pretty shaken. I’m not going to say it’s easy, because it’s not. It really affects your emotions a lot; it really affects your psychological [wellbeing].” Josiane revealed that her mental health had been impaired after her partner’s incarceration. Furthermore, the financial costs and time devoted to the situation meant she was unable to seek treatment.
Exposure to the vulnerabilities and suffering inherent to the prison setting was expressed as a risk factor for the partners of the male inmates, constituting another impact of structural violence. The stress of coping with the prison environment impacted the women’s physical and mental health, although they did not associate the daily violence they experienced with poor health. Their conception of health was clearly biological, taking no account of the historical and social dimensions of illness25. In their interviews, they did not clearly identify or mention any of the broader determinants of health, such as the violence associated with the experience of prison.
A recent study estimated that 3.3 million Brazilians suffer some type of disorder due to the incarceration of a family member8. Different vulnerabilities are a result of the combined suffering associated with the organizational practices of the prison institution and the moral harm caused by the social exclusion of having a family member behind bars. Recognizing the vulnerability to suffering associated with prison, the National Policy for Comprehensive Health Care for People Deprived of Liberty in the Prison System has health promotion and harm prevention actions that include care for the families of inmates26.
Our investigation of the trajectories of female partners of male inmates found that preexisting social inequalities were maintained and had the capacity to breed multiple forms of submission and exploitation. These include gender-related asymmetries, precarious working conditions, low household income, unemployment, low levels of education, and stigmatization.
Being the female partner of a man deprived of liberty means bearing the social brand of a specific form of prison-based structural violence that is capable of causing deprivation and suffering. This structural violence, which is heightened in the prison context, exacerbates trajectories marked by existential, material, and symbolic restrictions and has an impact on physical and mental health. It serves to maintain a political and socioeconomic system that legitimizes the exclusion and marginalization of a group that is already vulnerable to social suffering.
Institutional violence: “It was just soap. Did she have to humiliate me like that?”
Institutional violence was identified in the women’s exposure to different situations in the prison setting involving institutional norms, discourse, and penalties. Selected excerpts reveal their submission to the prison rules and codes, which itself indicates the reproduction of social structures and formal and informal rules that are unjust and violate human rights.
One of the situations worth highlighting is the act of visiting one’s partner. Certain prerequisites must be met to earn the right to conjugal visits. These include being married or in a common-law marriage or civil partnership with the inmate; i.e., conjugal visits are ruled out for men in other types of relationship. In view of this, many women are forced to legalize their relationship with their partners, which strengthens their bond to the inmate while also restricting their autonomy and freedom of choice. Marcele explained it in these terms: “I had to do all the documentation for the common-law marriage because we weren’t married. The whole process is complicated. You have to go to the notary’s office, get his signature, pay, and wait (..)”.
Most of the relationships had not been legalized before the men were imprisoned. The women had to formalize the legal bond with their partners, otherwise the prison system would not recognize them. This rule exacerbates gender injustices as it strengthens and maintains the status quo of the institution of marriage. Historically, marriage has served to reproduce men’s domination over women. Legitimized and strongly inspired by feminist struggles, the refusal to marry is linked to women’s self-affirmation as independent subjects free from male domination. Above all, it is linked to the constitution of a female identity that turns its back on the conjugal notions of marriage and family-making27,18.
Institutional violence is also expressed in the dress code and rules that female visitors have to follow. To enter the prison, they must all dress the same way: a crop top that is free of metal elements; a white T-shirt; gray sweatpants; and colored flip-flops, so they cannot be exchanged for the ones worn by the inmates. The women’s identity is further erased, since not only must they wear identical clothes, but they are identified primarily as “so-and-so’s visitor” or “so-and-so’s wife.” This constitutes an act of violence that takes the form of the “mortification of the self”28; violence that extends from the institutionalized individuals to all those who visit them. The female partners of the male inmates are exposed to humiliation and violations that mutilate their individual identities and subjectivities, transforming them into objects, all of which contributes to their depersonalization and loss of social roles28.
The banning of clothing and accessories that symbolize femininity is linked to the prohibition against women’s sexuality. By removing these identity markers, the institution exerts control over the women’s bodies, thereby reinforcing the idea that the only female figure allowed to visit inmates is the “homemaker.” Institutional violence takes the form of repressive measures designed to impose obedience and censorship. Sexuality is centered on the legitimized couple, the family, and is marked by puritanism and interdictions29.
When rules and procedures are not followed to the letter, visits are prohibited. Furthermore, women are only allowed to take certain items with them for conjugal visits: liquid soap, a blanket, a sheet, and a towel, all white. These objects are all inspected meticulously by the guards. The women are also checked when they are leaving to make sure they are carrying the same objects as they entered with. If they are not, they may be penalized, such as having their visitor’s card confiscated and therefore being prevented from making the next conjugal and social visits. Josiane explains: “If I make a mistake or he does something against the rules inside, they immediately take away the card and stop visits.’
Without a visitor’s card, no family member can access the prison. This card is issued only after a background check on the individual, which includes police records, socioeconomic status, and kinship to the inmate. If the family member or inmate breaches any of the rules, the card is confiscated and visits are banned.
The women’s words and the field notes demonstrated a prison routine consisting of rules and procedures focused primarily on security and constant surveillance. Confiscating a relative’s visitor card served as punishment for rule-breaking and was one of the biggest fears expressed by the informants. Here, institutional violence is perpetrated by means of a rule that controls behaviors through punishment, which is justified through a discourse of maintaining order. The formal structure, the enabling setting, and the ideological context all foster the institutionalization of violence11.
In the prison investigated, strip searches had been replaced by body scans and X-rays, which represented progress from a human rights perspective. However, until 2020, humiliating practices had been used, characterizing institutional violence, as reported by Laura: “to get in I would take off all my clothes and squat down with a mirror underneath, just like you see in the movies. One day I was so nervous I got my period.”
Laura reported that her state of nerves and the fact that she had to expose her naked body caused profound emotional distress. The justification for the procedure was that it would prevent illicit objects from being smuggled in: institutional violence was legalized in the name of maintaining security and control. Strip searches are considered a violation of human rights and were recently discussed in the Brazilian Supreme Court, which resulted in their being banned as standard procedure for access to prisons. The procedure is considered degrading and is prohibited even in prisons that have no body scanner or X-ray device30. Despite this, the suffering reported by Laura is still experienced by other women visiting prisons. Since each prison decides on its own routines, female visitors are still at the mercy of random acts by guards. State punishment extends outwards to inflict their bodies with suffering31.
The institutional violence perpetrated inside prisons can be extreme. Valéria reported a case of moral and psychological violence she suffered when she was leaving the prison after a conjugal visit because she had broken one of the prison rules. During the check of her belongings, the guard found that she had left behind the liquid soap she had taken in with her. The guard threatened and shouted at her, causing considerable distress. As Valéria put it, “my god, it was just soap. Did she have to humiliate me like that?” The guard shouted so loud her voice could be heard at the reception, causing embarrassment and humiliation. When Valéria was explaining what had happened, she added: “if my card is withheld, I’ll defend my rights. I’ll report it to the public prosecution service and put on record that I was treated like an animal.”
The humiliation Valéria experienced is one example of the institutional violence to which the bodies that visit prisons—mainly female bodies—are exposed. In addition to verbal abuse, she was also threatened with having her visitor’s card confiscated. The simile she used—being treated “like an animal”—presents a case of individual suffering in its social framework, in which even the most private feelings and emotions are social facts32. Furthermore, it reveals how abuse is exerted as a form of institutionalized gender violence that is generated in microsocial settings of unequal power relations10: on one side, a female visitor; on the other, the institution that dictates and regulates the rules of the game.
The fragility exposed in this unequal relationship is indicative of what Butler calls precarious lives33, in which some lives are valued to the detriment of others. Based on concepts such as vulnerability, precariousness, violence, and mourning, Butler reflects on the value attributed to lives and, above all, the political, economic, and social processes that determine which lives may be lived and which deaths are acceptable33.
The social markers of these women’s life trajectories place make them more vulnerable than others. Their social experiences are marked by violence and an absence of protection by laws and access to the legal system. From this, their lives can be seen as doubly precarious, firstly because they are seen as voided of value and, secondly because they defend, love, and care for lives that dwindle behind bars, unable to be mourned.
Study Limitations
One significant limitation of this study concerns the fact that the interviews were conducted inside the prison. Even though they took place in a private room and in the absence of prison staff, these circumstances may have affected the way the interviewees shared their perceptions of their visiting experiences insofar as they may have feared suffering some form of institutional reprisal.
Concluding Remarks
The violence experienced by the women analyzed in this study—all the partners of men deprived of liberty—sheds light on the vulnerabilities of these “prison wives.” Prison was found to be a place that exacerbates violence due to institutional characteristics, such as the enforcement of order and the lack of means to resist. Investigating this setting gave a new understanding of the power relations that configure a hidden, highly surveilled space to which access is tightly controlled. All this compounds the inability of inmates and their families to be seen, heard, and remembered.
Structural violence was found to mark the women’s lives, taking the form of existential, material, and symbolic constraints. Inequities of access resulting from structural elements, such as socioeconomic status and gender, were found to limit these women’s options even before their contact with the prison. These iniquities continued to exert a strong influence on the women throughout their experience of prison, as it forced them to give up work and formal education and prevented them from caring for their own health in order to devote their energies to supporting and caring for their partners and children. Even so, these women were not aware that the various determinants of violence produced by the prison had a direct impact on their own health and that of their relatives.
Prison is a repository of social exclusion that is marked by structural violence and is responsible for perpetuating unjust institutional structures. Being a prisoner’s partner constitutes a social marker of this structural violence, which has the power to create the figure of the criminal and thereby curb rights, representing a health risk factor for the partners of inmates.
The rules and discourse of prison are instrumental in reproducing unjust social structures that repeatedly violate human rights, constituting institutional violence. The patriarchal system imposes rules that consolidate forms of violence and humiliation, particularly against female bodies. These include the requirement to legalize their relationship with the inmate, the measures by which their identities are erased, and the invasive search procedures. Furthermore, the requirement for the women to be “homemakers”— i.e., in a legally sanctioned relationship with the inmate—is another face of this institutional violence.
Finally, focusing on the life trajectories of the female partners of imprisoned men reveals complex interactions between prison, gender, and violence, which are sometimes veiled, sometimes blatant. Above all, it identifies factors that can make the lives of prison wives doubly precarious, even if they do not necessarily identify them as such: their lives are voided of value and they devote themselves to the defense of other lives constrained by bars. Intertwined lives where loss cannot be mourned.
Acknowledgements
We wish to thank Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, from the Ministry of Education, for financing this research. We are also especially grateful to the Department of Public Health at the Federal University of Santa Catarina, whose Postgraduate Program in Public Health plays a fundamental role in conducting similar research.
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Como
Citar
Portes, V. de M., Lindner, S.R, Moretti-Pires, R.. Esposas do Cárcere: manifestações de violências em um presídio na região sul do Brasil. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/out). [Citado em 22/12/2024].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/esposas-do-carcere-manifestacoes-de-violencias-em-um-presidio-na-regiao-sul-do-brasil/19397?id=19397