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0160/2025 - Eventos tóxicos em adolescentes no período de 2015 a 2022: características e fatores associados a tentativas de suicídio
Toxic events in adolescents from 2015 to 2022: characteristics and factors associated with suicide attempts

Autor:

• Anyelle Barroso Saldanha - Saldanha, AB - <anyellesaldanha@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0567-2741

Coautor(es):

• Maria Augusta Drago Ferreira - Ferreira, MAD - <augusta_drago@yahoo.com.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6767-1659

• Larissa Fortunato Araújo - Araújo, LF - <larissafortunatoaraujo@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6695-0365

• Karla do Nascimento Magalhães - Magalhães, KN - <karlafarmufc@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5289-5625

• Polianna Lemos Moura Moreira Albuquerque - Albuquerque, PLMM - <polianna.albuquerque@cdu.edu.au>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8969-1711

• Luciano Lima Correia - Correia, LL - <correialuciano@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8948-8660



Resumo:

O objetivo foi analisar os eventos tóxicos em adolescentes e se os fatores sociodemográficos, a forma de exposição, a classe do agente tóxico e o período pré e pandemia estão associados às tentativas de suicídio. Estudo transversal com dados secundários de adolescentes expostos a agentes tóxicos entre 2015 e 2022, atendidos no Centro de Informação e Assistência Toxicológica no Ceará. Foram estimadas as razões de prevalências e seus respectivos IC 95%, utilizando a regressão de Poisson com variância robusta entre as variáveis explicativas e a tentativa de suicídio. Dos 703 casos de intoxicação em adolescentes, 69,6% (IC95% 66,0-72,8) ocorreram em mulheres, 77,6% (IC95% 74,4–80,7) foram tentativas de suicídio. Em relação aos agentes tóxicos utilizados, 63,9% utilizaram medicamentos e 17,4% praguicidas, com 44,1% destes casos envolvendo um inseticida de uso ilegal no Brasil. Na análise multivariada, estar no período pandêmico, ser mulher, o incremento da idade, estar em casa, utilizar medicamentos e praguicidas, e o uso associado de dois ou mais agentes permaneceram associados a maior prevalência de tentativa de suicídio. Os achados destacam a necessidade de ações preventivas focadas no ambiente doméstico, no controle de substâncias tóxicas e na proteção de adolescentes vulneráveis como mulheres.

Palavras-chave:

Tentativa de suicídio; Saúde do adolescente; Intoxicação.

Abstract:

The objective was to analyze toxic events in adolescents and determine if sociodemographic factors, the mode of exposure, the toxic agent, and the pre- and pandemic periods are associated with suicide attempts. A cross-sectional study was conducted using secondary data from adolescents exposed to toxic agents between 2015 and 2022, treated at the Brazilian Poison Control Center in Ceará. Prevalence ratios and their respective 95% CI were estimated using Poisson regression with robust variance between the explicative variables and suicide attempt. Out of 703 cases of poisoning in adolescents, 69.6% (95% CI 66.0-72.8) occurred in females, and 77.6% (95% CI 74.4–80.7) were suicide attempts. Regarding the toxic agents used, 63.9% of adolescents used drugs and 17.4% used pesticides, with 44.1% of these cases involving an insecticide illegally used in Brazil. In the multivariate analysis, being in the pandemic period, being female, increasing age, being at home, using drugs and pesticides, and the combined use of two or more agents remained associated with a higher prevalence of suicide attempts. The findings highlight the need for preventive actions focused on the domestic environment, the control of toxic substances, and the protection of vulnerable adolescents, particularly females.

Keywords:

Suicide, Attempt; Adolescent Health; Poisoning;

Conteúdo:

INTRODUÇÃO
O termo "evento tóxico" refere-se à exposição a agentes químicos capazes de causar intoxicação — processo patológico provocado por substâncias químicas endógenas ou exógenas, evidenciado por sinais, sintomas ou testes laboratoriais.1 Agentes tóxicos podem ser classificados, quanto à origem, em dois grupos principais: toxinas, produzidas por sistemas biológicos e toxicantes, resultantes de atividades humanas ou fenômenos naturais.2
A Organização Mundial da Saúde (OMS), reconhecendo a intoxicação como um importante problema de saúde pública global3, promoveu o estabelecimento de serviços especializados para lidar com esses eventos em todo o mundo. Esses serviços, chamados Centros de Controle de Intoxicações, fornecem informações sobre a toxicidade de substâncias químicas e auxiliam na prevenção, diagnóstico, prognóstico e tratamento de intoxicações.4 No Brasil, esses centros foram estabelecidos na década de 1970, mas somente em 2 de outubro de 2015, por meio da Portaria nº 1678 do Ministério da Saúde, eles se tornaram oficialmente parte do Sistema Único de Saúde (SUS), na Linha de Cuidado ao Trauma, dentro da Rede de Atenção às Urgências e Emergências, sob o nome de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox).4
Segundo estimativas da OMS, em 2016, cerca de 20% dos suicídios globais ocorreram devido à intoxicação intencional, especialmente pelo uso de praguicidas3. Além disso, em 2019, a intoxicação não intencional resultou em aproximadamente 85.173 mortes em todo o mundo.5
No contexto brasileiro, os adolescentes constituem um dos grupos etários mais afetados pela intoxicação exógena, representando 22,3% do total de casos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) em 2022.6 A adolescência é um período de mudanças socioemocionais, em que indivíduos podem ser expostos a agentes tóxicos sob diferentes circunstâncias, como acidentes, uso abusivo de substâncias, violência interpessoal e autoinfligida, entre outras.7 Na última década, as tentativas de suicídio têm sido a principal circunstância relacionada a casos de envenenamento em adolescentes no Brasil.6 A tentativa de suicídio (TS) é uma forma de violência autoinfligida, caracterizada por ação deliberada com intenção de pôr fim à própria vida, mesmo sem desfecho fatal.7
Conforme a OMS, o uso de agentes tóxicos é método mais comum de TS entre adolescentes atendidos em ambientes hospitalares.7 Fogaça et al.8 verificaram que 84,1% dos adolescentes atendidos em um hospital secundário de São Paulo, entre 2015 e 2020, utilizaram agentes tóxicos para autolesão. Identificar os agentes tóxicos envolvidos é fundamental, já que diferentes substâncias requerem cuidados e tratamentos distintos. Por exemplo, a atropina e a naloxona são antídotos indispensáveis para o tratamento de intoxicações agudas causadas por inseticidas organofosforados e carbamatos, e por opioides, respectivamente.2 Além disso, conhecer a frequência de uso dessas substâncias reflete o acesso dos adolescentes a elas.
Durante a pandemia de Covid-19, observou-se um aumento significativo nas TS em adolescentes por uso intencional de toxicantes em países ocidentais e orientais, como Estados Unidos, França, China e Coreia do Sul.9,10,11,12 Segundo Panchal et al.,11 a prevalência de TS em estudantes chineses aumentou 1,74 vezes de novembro de 2019 a maio de 2020 após o início das medidas de restrições em resposta à pandemia (p?<0,001).
Considerando o exposto, é importante identificar os agentes tóxicos frequentemente utilizados por adolescentes para implementar medidas de tratamento adequadas e mitigar os riscos à saúde. Investigar os fatores de risco associados às TS, especialmente em adolescentes, permite o planejamento e a implementação oportuna de ações preventivas, inclusive em períodos de crise de saúde pública, como na pandemia de Covid-19. Portanto, o objetivo deste estudo é analisar os eventos tóxicos em adolescentes atendidos no CIATox no estado do Ceará e se os fatores sociodemográficos, a forma de exposição, a classe do agente tóxico e o período pré e pandemia estão associados às TS.

MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal que analisou dados de casos de exposição aguda a agentes tóxicos envolvendo adolescentes (10 a 19 anos), de ambos os sexos, atendidos no CIATox, o qual funciona em um hospital terciário localizado em Fortaleza, Ceará, e presta assistência a casos provenientes de todo o estado.
Para a condução deste estudo, foram coletados dados dos eventos tóxicos ocorridos entre 2015 e 2022 do DATATOX, um sistema brasileiro mantido pela Associação Brasileira de Centros de Informação e Assistência Toxicológica, ofertado para o uso pelos CIATox de todo o país, o qual registra, acompanha e recupera informações em toxicologia clínica. No CIATox em questão, o registro dos eventos tóxicos é realizado por meio da Ficha de Atendimento Humana, Animal e de Informação, padronizada e disponibilizada pelo sistema, a qual inclui dados sociodemográficos do paciente atendido, além de informações relacionadas ao agente tóxico, à exposição ao agente tóxico e/ou intoxicação. Após o preenchimento, os dados das fichas são inseridos no sistema DATATOX pelos profissionais do centro.
A extração dos dados ocorreu por meio do DATATOX BI, conforme descrito na Figura 1.
Variável Resposta
A prevalência de tentativa de suicídio (não, sim).
Essa variável foi derivada da “circunstância de exposição” presente no banco de dados DATATOX. Considerou-se “sim” para os casos em que o agente tóxico foi utilizado intencionalmente para TS, e “não” para os casos em que a exposição ocorreu por outras circunstâncias, incluindo acidentes, abuso de substâncias químicas, e outras (automedicação, ocupacional, erro de medicação, violência/maus tratos/homicídio, tentativa de abortamento, uso indevido, uso terapêutico, outro).
Variáveis explicativas
As variáveis explicativas foram divididas em três categorias: informações sociodemográficas do adolescente, características da exposição ao agente tóxico e da classe do agente tóxico.
No que se refere aos aspectos sociodemográficos, foram incluídos a idade em anos como variável contínua e o sexo (masculino e feminino) dos adolescentes. Com relação à exposição ao agente tóxico, foram considerados o ano de atendimento como contínuo na análise descritiva (2015-2022) e categorizado em pré-pandêmico (2015-2019) e pandêmico (2020-2022) na análise multivariada. Além disso, foram avaliados a zona (rural, urbana e periurbana), o local de ocorrência da exposição (residência-habitual, residência-outra, ambiente externo/público, escola, local de trabalho, outro) e a via de exposição ao agente tóxico (oral, cutânea, nasal, ocular, respiratória/inalatória).
Quanto aos agentes tóxicos, considerando os grupos aos quais pertencem, eles foram classificados conforme descrito a seguir. Medicamentos, segundo a Classificação Anatômica, Terapêutica e Química;13 praguicidas, conforme o tipo de praga a ser controlada e seu grupo químico;1 saneantes de uso domiciliar, que compreendem sabões e detergentes, desinfetantes, agentes de limpeza, excluindo-se os inseticidas, raticidas e repelentes domésticos, os quais foram incluídos no grupo dos praguicidas;1 drogas de abuso, tais como opiáceos, estimulantes do Sistema Nervoso Central (SNC), depressores do SNC, inalantes, canabinoides e alucinógenos;1 e outros produtos químicos como solventes, metais, gases e cosméticos. Além disso, analisou-se o uso simultâneo de dois ou mais agentes tóxicos da mesma classe e de classes diferentes (não, sim). Para a análise multivariada, os agentes foram distribuídos em medicamentos, praguicidas, saneantes de uso domiciliar e outros (drogas de abuso, outros agentes químicos e associação entre agentes químicos de diferentes classes).
Aspectos éticos
O estudo com Certificado de Apresentação para Apreciação Ética n° 67210323.90000.5054 foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade Federal do Ceará sob o parecer nº 5.936.031, conforme as exigências da resolução n° 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde.
Análise Estatística
Para a realização das análises estatísticas, os dados foram extraídos do sistema DATATOX BI e importados para o Software Stata versão 17.0 para Windows. A descrição da população de estudo foi feita por meio de frequências absolutas e relativas e seus respectivos intervalos de confiança de 95% (IC95%) para variáveis qualitativas, e mediana e intervalos interquartílicos para variáveis quantitativas com distribuição assimétrica. As classes de agentes tóxicos utilizados nas TS e nas outras circunstâncias de exposição foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas.
Adicionalmente, verificou-se a distribuição das prevalências de TS causadas pelos agentes tóxicos do tipo toxicante e especificamente pelos medicamentos e praguicidas, durante o período estudado (2015-2022), incluindo a frequência relativa e seus respectivos IC95%. Para a verificação de associação entre TS por medicamentos e praguicidas e o ano de atendimento (variável categórica) foi realizado o teste qui-quadrado de Pearson.
Por fim, foram estimadas as razões de prevalências e seus respectivos IC95% por meio da regressão de Poisson com variância robusta. A variável dependente foi a TS e as variáveis explicativas incluíram o ano de ocorrência, sexo, idade, local de exposição, via de exposição, zona rural/urbana, classe do agente tóxico e o uso de dois ou mais agentes tóxicos simultaneamente (Modelo 1). Posteriormente, fez-se ajustamento mútuo pelas variáveis que permaneceram estatisticamente significativas (p-valor <0,05) no modelo 1 (Modelo 2).

RESULTADOS
Durante o período de 2015 a 2022, foram atendidos e registrados 703 casos de adolescentes expostos a toxicantes no CIATox em Fortaleza, Ceará. Conforme a Tabela 1, a prevalência de casos em todo o período foi de 12,5%, sendo 11,92% na pré-pandemia (2015-2019) e 30,3% na pandemia (2020-2022). Considerando por ano de ocorrência, o ano de 2020 foi o que apresentou o menor número de casos, embora não sendo estatisticamente significativa essa diferença (Tabela 1).
Em relação à idade dos adolescentes, a mediana foi de 16 anos (1º-3º quartis: 14-18). Aproximadamente 69,6% dos casos (IC95% 66,0–72,8) envolveram adolescentes do sexo feminino (Tabela 1).
Cerca de 90,8% (IC95% 88,4–92,8) dos adolescentes atendidos no CIATox foram expostos a agentes tóxicos em suas residências habituais, e 91,6% (IC95% 89,3–93,5) estavam na zona urbana. A exposição oral ao toxicante ocorreu em 88,9% (IC95% 86,3–91,0) dos casos. As principais circunstâncias de exposição dos adolescentes aos toxicantes foram TS (77,6%; IC95%: 74,4 – 80,7), acidente (13,4%; IC95%: 11,0 – 16,1) e abuso de substâncias químicas (5,5%; IC95%: 3,9 – 7,4) (Tabela 1).
A Tabela 2 apresenta as principais classes de agentes tóxicos implicadas nos casos de TS e aqueles ocorridos em outras circunstâncias de exposição. Os medicamentos foram responsáveis pela maioria dos eventos tóxicos estudados (n=434; 63,9%). Nessa classe, os grupos farmacológicos que se destacaram foram os medicamentos antiepilépticos (fenobarbital), antidepressivos (amitriptilina), antipsicóticos (haloperidol) e ansiolíticos (diazepam). Além disso, em 41,9% dos casos observou-se o uso de diferentes medicamentos (dois ou mais) simultaneamente.
A segunda classe de toxicantes mais implicada nos eventos estudados foi a dos praguicidas (17,4%), sendo os inseticidas a subclasse responsável pelo maior número de casos (75,9%). Os eventos tóxicos ocasionados por um inseticida de uso ilegal, conhecido popularmente como chumbinho, representou 44,1% dos casos envolvendo praguicidas, sendo a maioria utilizada em TS. Em 1,7% houve o emprego conjunto de diferentes agentes tóxicos dessa classe em TS.
Finalmente, a terceira classe de agentes tóxicos mais envolvida nos casos estudados foi a dos saneantes de uso domiciliar (6,9%), os quais foram, em sua maioria, desinfetantes, destacando-se entre eles o hipoclorito de sódio/cloro ativo. Em 6,4% observou-se o uso concomitante de diferentes agentes tóxicos dessa classe.
Os adolescentes foram expostos à combinação de dois ou mais toxicantes de diferentes classes em 4,0% dos eventos, e em 96,3% deles, os medicamentos estavam presentes (Tabela 2).
Ao observar as prevalências e seus IC95%, relativos aos casos de adolescentes que tentaram o suicídio por uso de toxicantes ao longo do período de estudo (2015 a 2022), contatou-se que houve diferença estatisticamente significativa entre os anos 2019 (pré-pandemia; 10,4; IC95% 8,1–13,3) e 2022 (pandemia; 16,2; IC95% 13,7–20,1), como ilustrado na Figura 2.a, representando um aumento de 55%. Além disso, TS causadas por medicamentos (Figura 2.b) apresentaram um aumento na prevalência no decorrer dos anos, apresentando diferença estatisticamente significativa entre 2016 (pré-pandemia; 58,5; IC 95% 44,6–71,1) e 2022 (pandemia; 84,1; IC95% 74,7–90,4) (p-valor=0,0001). Em contraste, as TS causadas por praguicidas (Figura 2.c) diminuíram ao longo desse período, com diferença estatística entre 2016 (pré-pandemia; 30,2; IC 95% 19,2–44,1) e 2022 (pandemia; 7,9; IC95% 3,8–15,9) (p-valor=0,0001).
Entre os adolescentes expostos a agentes tóxicos, a prevalência de TS foi aproximadamente 3 vezes em comparação com aqueles que não apresentaram esse desfecho (RP= 2,99). A Tabela 3 apresenta as razões de prevalências entre os fatores de risco para TS registradas no CIATox. Observou-se um aumento de 14% (IC95% 1,05-1,23; p-valor= 0,001) no risco de TS no período pandêmico comparado ao pré-pandêmico. Ser mulher também apresentou um risco 25% (IC95% 1,12-1,40; p-valor= 0,0001) maior em comparação com homens. Adolescentes que estiveram expostos a toxicantes em casa foram associados a uma prevalência 105% maior (IC95%: 1,59-2,65; p-valor= 0,0001) de TS em comparação com outros locais de exposição, como escola, ambiente externo/público, local de trabalho, outras residências e outros lugares. A exposição pela via oral apresentou uma prevalência 4,81 vezes maior em comparação a outras vias como a cutânea, inalatória/respiratória, nasal e ocular (IC95% 3,44-9,81; p-valor= 0,0001). Residir em área urbana foi considerado um fator de proteção (0,84; IC95% 0,76 - 0,93; p-valor= 0,001) para TS em comparação com residir em área rural.
Já o uso de medicamentos (3,38; IC95% 2,34–4,89; p-valor= 0,0001) foram associados a uma maior prevalência de TS em comparação com outras classes de agentes como as drogas de abuso, outros agentes químicos e associação entre diferentes classes de agentes químicos. Os praguicidas (3,10; IC95% 2,13–4,52; p-valor=0,0001) e os saneantes de uso domiciliar (2,03; IC95% 1,28 – 3,19; p-valor= 0,002) também foram associados a uma maior de prevalência de TS em comparação a outros agentes (drogas de abuso, outros agentes químicos e associação entre diferentes classes de agentes químicos). O uso combinado de dois ou mais agentes tóxicos esteve associado a uma prevalência 9% (IC95% 1,00-1,18; p-valor= 0,04) maior em comparação a utilização de apenas um agente tóxico.
Após ajuste mútuo (Modelo 2) pelas variáveis que permaneceram estatisticamente associadas no modelo bruto, não foram observadas mudanças significativas nas magnitudes das associações. Entretanto, o uso de saneantes domissanitários não se manteve estatisticamente significativo para a TS, e por isso, não foi incluído no modelo final.

DISCUSSÃO
Este é um estudo pioneiro por investigar os fatores associados a tentativa de suicídio por exposição a toxicantes em adolescentes de um estado do nordeste brasileiro. De 2015 a 2022, o CIATox atendeu a 703 casos de exposição a toxicantes envolvendo adolescentes, sendo que destes, 77,6% estavam relacionados a TS. Observou-se que estar no período correspondente à pandemia (2020-2022), o incremento da idade, ser mulher, estar em casa, morar na zona rural, utilizar a via de exposição oral, o uso de medicamentos e praguicidas, e o uso combinado de mais um agente estiveram associados de forma independente à TS por toxicantes.
Constatou-se um aumento de 55% nas TS por eventos tóxicos em adolescentes em 2022, em comparação com 2019. Entretanto, em 2020, foi registrado o menor percentual de TS nessa faixa etária. Isso também foi observado em um estudo realizado nos Estados Unidos,9 que mostrou uma diminuição em 2020 e um aumento de 30% no número de TS por autointoxicação em adolescentes de 10 a 19 anos em 2021, em comparação com 2019.
As razões para essa diminuição seguida de aumento no número de TS por toxicantes pode ser atribuída a múltiplas causas. Durante o período inicial da pandemia, o confinamento pode ter mantido os adolescentes mais próximos fisicamente da família, possivelmente reduzindo o risco de exposição a agentes tóxicos.11 No entanto, esse mesmo período de confinamento pode ter gerado estresse cumulativo, agravando problemas de saúde mental em adolescentes, inclusive entre aqueles com transtornos mentais, mais suscetíveis a esses efeitos.14 Ademais, a redução dos casos de TS pode também estar associada a uma tendência de comportamento altruísta e comunitário observada em situações traumáticas, como desastres naturais e guerras — fenômeno conhecido como “efeito lua de mel”. Contudo, sendo temporário, esse efeito tende a ser seguido por manifestações emocionais e psicológicas tardias.14
Os achados sobre a prevalência de TS neste estudo são semelhantes aos de Azab et al.15, que identificaram, entre 2009 e 2013 no Cairo (Egito), 79,4% casos de intoxicação aguda em adolescentes decorrentes de autolesão intencional. Vale considerar que, nesse período, o Egito enfrentava o contexto da Primavera Árabe, marcado por instabilidade política, tensões sociais e econômicas, que podem ter influenciado negativamente a saúde mental dos jovens.16 Em contraste, um estudo realizado no Nordeste do Brasil, entre 2007 e 2015, identificou uma prevalência menor (28,9%) de intoxicações relacionadas a TS entre adolescentes.17
A frequência de adolescentes do sexo feminino neste estudo supera a observada em outras pesquisas brasileiras, como as realizadas em Mato Grosso (60,9%)18 e em Alagoas (63,1%)17, mas aproxima-se dos dados de um estudo internacional, realizado na Austrália, que identificou 76,8% dos casos entre meninas.19
A predominância de meninas entre os casos registrados de TS neste estudo está de acordo com os achados de Rios et al.20, Spiller e Miranda-Mendizabal et al.²1, que também identificaram maior frequência desse comportamento entre o sexo feminino. Essa associação foi estatisticamente significativa no modelo final, e encontra respaldo na literatura, como demonstrado por Silva et al.²2 e Zhang et al.²3 que apontam maior ocorrência de TS entre meninas em comparação aos meninos. Fatores psicossociais, como ansiedade, depressão e estresse, tendem a afetar mais frequentemente adolescentes do sexo feminino, o que pode contribuir para esse padrão.24,25 Além disso, o uso predominante de métodos menos letais, como toxicantes, entre meninas, em contraste com métodos mais letais usados pelos meninos, armas de fogo e enforcamento, pode explicar parte da diferença observada.21
A mediana da idade dos adolescentes (16; 1º e 3º quartis:14-18) indica maior predominância de TS entre os mais velhos. A fase da adolescência tardia, marcada por mudanças biológicas, emocionais e sociais, aumenta a vulnerabilidade ao consumo excessivo de álcool e desenvolvimento de transtornos mentais, que, por sua vez, aumentam o risco de comportamento suicida. 26,27
Dentre os diferentes tipos de agentes químicos estudados, os medicamentos foram a classe predominante nos eventos tóxicos entre adolescentes, com envolvimento em 63,9% dos casos. Estudos realizados no Brasil por Oliveira e Suchara18 e por Melo et al.17 também identificaram os medicamentos como os principais agentes responsáveis por intoxicações agudas em adolescentes, embora em proporções menores, correspondendo a 35,4% e 35,9% dos casos, respectivamente. O uso de medicamentos foi associado a uma maior ocorrência de TS no presente estudo, corroborando com os achados de Rios et al.,20 Zakharov et al.,28 e Overall et al.29 Além disso, durante o período pandêmico houve uma maior prevalência de TS por medicamentos, semelhante ao que foi encontrado por Farah et al.9
No presente estudo, os medicamentos mais implicados nos eventos tóxicos, tanto em TS como em outras circunstâncias de exposição, pertencem aos grupos farmacológicos dos antiepilépticos (fenobarbital, ácido valproico, carbamazepina e clonazepam), antidepressivos (amitriptilina e sertralina), antipsicóticos (haloperidol e risperidona), ansiolíticos (diazepam e alprazolam) e analgésicos (paracetamol). Os medicamentos dos três primeiros grupos são sujeitos a controle especial pela Portaria No. 344/1998, sendo alguns classificados como psicotrópicos, com potencial de causar dependência física ou psicológica30, exigindo prescrições específicas e maior monitoramento. A facilidade de acesso a esses medicamentos, inclusive aqueles sujeitos a prescrição controlada pela vigilância sanitária, levanta questionamentos quanto aos fatores que o propiciam. Entre eles, destaca-se o uso contínuo ou prévio desses fármacos, prescritos tanto para os próprios adolescentes quanto para seus familiares, favorecendo sua presença nos domicílios.8
Em contraste, nos Estados Unidos, Farah et al.9 identificaram o analgésico paracetamol como principal medicamento utilizado pelos adolescentes em TS, seguido pelo anti-inflamatório ibuprofeno, e pelos antidepressivos sertralina e fluoxetina. Isso pode ser explicado por diferenças no padrão de prescrição, regulação e acesso aos medicamentos entre os países. Nos Estados Unidos, medicamentos como paracetamol e ibuprofeno são amplamente acessíveis sem prescrição médica e frequentemente vendidos em embalagens de grande volume. Essa disponibilidade facilita o acesso direto por adolescentes, sem a necessidade de supervisão adulta ou mediação por profissionais de saúde, o que pode contribuir para seu uso em episódios de intoxicação intencional.9,31
Os praguicidas foram a segunda classe de agentes tóxicos mais utilizada pelos adolescentes (17,4% dos casos) e o principal agente não farmacêutico envolvido. Achado semelhante foi relatado em um estudo no Egito (2009 e 2013), onde essas substâncias também predominaram entre os agentes não farmacêuticos.15 Considerando que tanto o Brasil quanto o Egito são países em desenvolvimento, esse padrão pode refletir características contextuais, como o uso ampliado desses produtos e a fragilidade no controle de seu acesso.15 Ademais, os praguicidas foram associados a maior prevalência de TS. No entanto, durante a pandemia de Covid-19, observou-se uma redução estatisticamente significativa nessa prevalência. A literatura vigente não identificou praguicidas como agentes tóxicos utilizados por adolescentes em TS durante a pandemia, dificultando comparações com outros contextos culturais e socioeconômicos.9,32
A subclasse de praguicidas mais frequentemente envolvida foi a dos inseticidas, e o “chumbinho”, inseticida de uso ilegal cuja comercialização está proibida no Brasil desde 2012,33 foi responsável por 61,2% dos eventos tóxicos causados por agentes dessa subclasse, o que é motivo de preocupação devido à sua alta toxicidade.2 Essa realidade também foi constatada por Carvalho et al.34, Anjos et al.35 e Tirolla et al.36 que apontaram a persistência do “chumbinho” nos casos de intoxicação exógena, mesmo após sua proibição. Esses achados reforçam a urgência de políticas que intensifiquem a vigilância nos estados e municípios do país, com ações efetivas de fiscalização e controle do comércio ilegal desses compostos.
No presente estudo, as TS ocorreram com maior frequência nas residências dos adolescentes, apresentando uma associação estatisticamente significativa no modelo multivariado. Resultado semelhante foi apresentado em um estudo conduzido em um hospital secundário de São Paulo, onde 83% das TS ocorreram no ambiente domiciliar.8 Tal padrão pode ser atribuído ao fato de que o domicílio é o local onde os adolescentes passam a maior parte do tempo e onde há maior disponibilidade de substâncias potencialmente tóxicas, como medicamentos.8
Além disso, 35,5% dos adolescentes utilizaram mais de um toxicante em TS, o que foi estatisticamente significativo no modelo multivariado, e está em acordo com Overall et al.,29 os quais relataram em seu estudo que 33,5% dos adolescentes utilizaram múltiplas substâncias químicas em TS.
Embora a zona urbana tenha concentrado a maior proporção de TS, foi considerada um fator de proteção no modelo multivariado em comparação à zona rural. Resultado semelhante foi observado em um estudo realizado na China, que, apesar de registrar menor proporção de TS na zona rural (35,6%), identificou maior letalidade nesse contexto (p < 0,01), atribuída à ingestão de praguicidas - substâncias de alta toxicidade amplamente utilizadas nas atividades agrícolas dessas regiões.37
Entre 2007 e 2011, o Centro de Informação Toxicológica da República Tcheca constatou que, após TS envolvendo toxicantes, 58,2% dos adolescentes apresentaram sinais e sintomas leves, 10,6% apresentaram sintomas moderados a graves, e o restante estava assintomático.28 No presente estudo, observou-se uma proporção maior de casos moderados a graves (42,5%, dados não mostrados) e 44,0% (dados não mostrados) dos adolescentes necessitaram de hospitalização por mais de 24 horas. A via de exposição oral foi a mais frequente, o que está em concordância com os resultados encontrados no centro da República Tcheca.28
Estudos anteriores sugerem que indivíduos com histórico de TS têm maior risco de morrer por autointoxicação em comparação com outros métodos, como armas de fogo ou enforcamento.38,39 Portanto, é essencial garantir atendimento adequado aos adolescentes que tentaram suicídio utilizando toxicantes, por meio de acompanhamento especializado por uma equipe multidisciplinar, visando a prevenção de novos comportamentos de risco e até mesmo o suicídio.
Dentre as limitações do presente estudo, se inclui a análise transversal baseada em dados secundários. Contudo, por se tratar de um evento agudo, é possível considerá-lo como um evento incidente que tem maior poder de inferir causalidade. Outro fator é a impossibilidade de identificação dos adolescentes envolvidos nesses eventos devido à ausência de números para sua identificação, o que torna inviável identificar recorrências de TS. Além disso, é importante mencionar a ausência de informações sociodemográficas mais específicas, como o nível de escolaridade e a renda familiar dos adolescentes, o que dificulta uma melhor caracterização dessa população.
Apesar dessas limitações, o estudo forneceu informações atualizadas abrangendo os períodos pré-pandemia e pandemia no nordeste brasileiro, contribuindo para a literatura sobre os principais agentes tóxicos utilizados em TS envolvendo adolescentes e identificando possíveis fatores de risco associados a essas TS. Os achados implicam a possibilidade de o serviço articular com políticas públicas, colaborando ativamente com as autoridades de saúde no monitoramento dos casos de TS e na padronização do preenchimento das informações dos pacientes no banco de dados.
Em conclusão, este estudo fornece contribuições significativas para a análise das TS por uso de toxicantes entre adolescentes. Observamos que a pandemia esteve associada a uma maior prevalência de TS; ser mulher; medicamentos e praguicidas foram os principais toxicantes implicados; um número significativo de casos envolveu exposição a mais de um toxicante; e, finalmente, a maioria dos adolescentes tentou suicídio em suas próprias casas e tendo a zona urbana como fator de proteção para TS. Vale ressaltar a confirmação do acesso de adolescentes a um inseticida proibido no país.
É necessário implementar ações preventivas que melhorem o acesso a cuidados de saúde mental de qualidade, incluindo apoio psicossocial em escolas e outros ambientes comunitários,40 bem como intervenções para reduzir o estigma associado à saúde mental.27
Além disso, é crucial que o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990),41 que visa proporcionar proteção integral aos adolescentes, esteja mais alinhado com a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e Suicídio, estabelecida em 2019 (Lei nº 13.819/2019).42 Essa articulação pode promover a saúde mental de adolescentes por meio da efetiva implementação dessa política em diferentes níveis de cuidado do SUS. No âmbito dessa política, recomenda-se incluir estratégias destinadas a restringir o acesso a agentes tóxicos (principalmente praguicidas e medicamentos psicotrópicos) e a outros meios de violência autoinfligida, como medida preventiva.?
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Saldanha, AB, Ferreira, MAD, Araújo, LF, Magalhães, KN, Albuquerque, PLMM, Correia, LL. Eventos tóxicos em adolescentes no período de 2015 a 2022: características e fatores associados a tentativas de suicídio. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/jun). [Citado em 07/08/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/eventos-toxicos-em-adolescentes-no-periodo-de-2015-a-2022-caracteristicas-e-fatores-associados-a-tentativas-de-suicidio/19636?id=19636

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