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Artigos

0059/2024 - Impactos psicológicos da mastectomia em idosas com câncer de mama
Psychological impacts of mastectomy in elderly people with breast cancer

Autor:

• Mariana Pereira Barbosa Silva - Silva, M. P. B. - <marianapbsilvaa@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0852-8099

Coautor(es):

• Júlia Diana Pereira Gomes - Gomes, J. D. P. - <juliagomesjd@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4846-7147

• João Felipe Tinto Silva - Silva, J. F. T. - <felipetinto99@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3662-6673

• Maria do Livramento Fortes Figueiredo - Figueiredo, M. L. F. - <liff@ufpi.edu.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4938-2807



Resumo:

O envelhecimento é um dos principais fatores de risco para o câncer de mama e dentre as opções de tratamento destaca-se o cirúrgico, com realização da mastectomia que pode causar impactos psicológicos na mulher. Esse artigo objetiva realizar um levantamento bibliográfico acerca dos impactos psicológicos da mastectomia em idosas com câncer de mama. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre os meses de agosto e setembro de 2023, por meio do portal da BVS, nas seguintes bases de dados: LILACS, BDENF, SciELO, MEDLINE e no Google Scholar. Foram encontrados 2021 artigos, sendo selecionados 22 após os critérios de inclusão. Dentre os impactos psicológicos destacam-se medo, angústia, tristeza, sentimento de perda, baixa autoestima, vergonha, alteração na imagem corporal, depressão e ansiedade, além de sentimentos positivos como a resiliência, esperança, otimismo, dentre outros, porem observa-se a predominância de sentimentos negativos. Conclui-se que o processo de mastectomia é vivenciado de forma individual por cada mulher, trazendo consigo, alterações físicas e psicológicas, muitas vezes desencadeando sentimentos negativos. O apoio social, da família, dos amigos e, especialmente, dos parceiros, são aspectos essenciais no bem-estar e na saúde mental da mulher.

Palavras-chave:

Saúde Mental, Idoso, Mastectomia, Neoplasias da Mama.

Abstract:

Aging is one of the main risk factors for breast cancer and among the treatment options, surgery stands out, including mastectomy, which can cause psychological impacts on women. This article aims to carry out a bibliographical survey on the psychological impacts of mastectomy on elderly women with breast cancer. This is an integrative literature review, carried out between August and September 2023, through the VHL portal, in the following databases: LILACS, BDENF, SciELO, MEDLINE and Google Scholar. 2021 articles were found, 22 of which were ed following the inclusion criteria. Among the psychological impacts, fear, anguish, sadness, feelings of loss, low self-esteem, shame, changes in body image, depression and anxiety stand out, as well as positive feelings such as resilience, hope, optimism, among others, however it is observed the predominance of negative feelings. It is concluded that the mastectomy process is experienced individually by each woman, bringing with it physical and psychological changes, often triggering negative feelings. Social support,family, friends and, especially, partners, are essential aspects of women\'s well-being and mental health.

Keywords:

Mental Health, Elderly, Mastectomy, Breast Neoplasms.

Conteúdo:

Introdução

O envelhecimento na cultura brasileira está associado a um período de perdas, de declínio da funcionalidade corporal acarretando doenças. As mudanças corporais e sociais vivenciadas pelas mulheres em processo de envelhecimento tem diferentes representações, algumas manifestam medo de invisibilidade, da perda de autonomia e de limitações físicas, e outras identificam os aspectos positivos de seu envelhecimento e se adaptam às mudanças1.
O câncer de mama (CM) corresponde à neoplasia, que acomete as células mamárias, sendo o tipo de tumor maligno mais frequente em mulheres. O CM é considerado uma das doenças mais devastadoras, visto que apesar dos avanços tecnológicos e farmacológicos ainda continua sendo uma das principais causas de mortes no Brasil e em muitos países do mundo, configurando-se como um problema de saúde pública2. Apresenta alta incidência com 74 mil casos novos previstos por ano até 20253.
De acordo com o Ministério da Saúde, o envelhecimento é um dos principais fatores de risco para o CM, que destaca-se como uma das principais causas de morte, fato que está relacionado a 60% dos casos serem descobertos tardiamente e à alta incidência dessa neoplasia com o avançar da idade. A mamografia é um dos principais meios de diagnóstico precoce e pode detectar de 80% a 90% dos casos de CM em mulheres assintomáticas3.
As opções de tratamento do CM são vastas, dentre elas destaca-se o tratamento cirúrgico, a mastectomia4. Todavia o tratamento dependerá do estágio da doença, as características do tumor, a presença ou não de metástases e as circunstâncias clínicas da mulher5. A mastectomia pode ser simples, preventiva ou radical6.
Sendo as mamas uma parte do corpo feminino que têm muita relevância na feminilidade, sexualidade, sua retirada pode causar danos emocionais, físicos7, bem como econômicos, social/familiar, entre outros, além de provocar efeitos negativos na qualidade de vida em todos os aspectos até dois anos após o diagnóstico de câncer8.
Estas alterações podem favorecer o aparecimento de sintomas depressivos. A sintomatologia depressiva acomete até 25% das mulheres que se submetem à mastectomia9.
Nesta perspectiva, é fundamental compreender os impactos psicológicos ocasionados pela mastectomia, para que se possa prestar uma assistência em saúde de forma humanizada, que contemple os sentimentos vivenciados por essas idosas, visando buscar estratégias a fim de minimizar os impactos causados pela mesma.
Com a revisão busca-se evidenciar o que a literatura aborda sobre os impactos psicológicos ocasionados pela mastectomia em idosas com câncer de mama, os sentimentos mais prevalentes, visto a necessidade de estudos que abordem essa temática em idosas.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo realizar um levantamento bibliográfico acerca dos impactos psicológicos da mastectomia em idosas com câncer de mama.

Métodos

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura com objetivo de reunir, sintetizar e avaliar de forma crítica, evidências teóricas e empíricas de uma determinada área de pesquisa em uma ordem sistemática10. Para elaboração da questão norteadora, utilizou-se o acrônimo PICo (P = População, I= Fenômeno de interesse, Co = Contexto do estudo), sendo a população representada pelas idosas; o fenômeno de interesse, os impactos psicológicos da mastectomia; e o contexto referiu-se ao CM. Em atenção ao objetivo desta revisão delimitou-se a seguinte questão de pesquisa: “O que a literatura científica aborda sobre os impactos psicológicos da mastectomia em idosas com câncer de mama?”.
A busca foi realizada entre os meses de agosto e setembro de 2023, por meio do portal da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Banco de Dados de Enfermagem (BDENF), Scientific Electronic Library Online (SciELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e no Google Scholar. Essas bases foram selecionadas por representarem os principais canais de publicações da literatura científica nacional e internacional que abrange a área da saúde. Para seleção dos descritores, considerou-se a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DECS) e da Medical Subject Headings (MeSH). Desse modo, foram utilizados os seguintes descritores associados e os seus equivalentes nos idiomas inglês e espanhol: “Saúde Mental” AND “Idoso” AND “Mastectomia” AND “Neoplasias da Mama”; “Mental Health” AND “Aged” AND “Mastectomy” AND “Breast Neoplasms”; “Salud Mental” AND “Anciano” AND “Mastectomía” AND “Neoplasias de la Mama”.
Definiu-se como critério de inclusão: artigos publicados entre o período de 2018 a 2023, por contemplar o período dos últimos cinco anos com publicações mais recentes sobre a temática. Nos idiomas português, inglês ou espanhol, que retratassem a temática central do estudo. Foram excluídos artigos de reflexão, relatos de experiência, cartas ao leitor, editoriais de jornais sem caráter científico e artigos duplicados em mais de uma base. Após aplicação de todos os critérios e o refinamento da busca pela leitura dos resumos dos artigos pré-selecionados, a amostra se restringiu a 22 artigos. Na seleção das publicações, seguiram-se as recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA 2020)11.
Posteriormente os artigos foram organizados no Quadro 1 que caracteriza os estudos utilizados na presente revisão com dados de autoria e ano, local do estudo, abordagem metodológica, número de participantes, além de objetivo e principais resultados.

Resultados e Discussão

Na primeira etapa, foram buscados artigos relacionados à temática abordada, contabilizando 2021(100%) artigos, divididos por BVS Saúde (n = 676) 33,44%, Medline (n = 651) 32,21%, Pubmed (n = 111) 5,49%, Web of Science (n=85) 4,20% e Google Scholar (n=498) 24,64%. Após a leitura do título, foram selecionados 202 (9,99%) artigos, destes, 30 (1,48%) eram duplicados, 52 (2,57%) tratavam de uma temática fora da área de interesse e 42 (2,07%) eram de acesso indisponível. Após a leitura do resumo dos artigos, foram selecionados inicialmente 78 (3,85%), no entanto, após a aplicação dos critérios de inclusão, apenas 22 (1,08%) foram selecionados para a análise integral. O processo de seleção dos artigos consta em detalhes na Figura 1.

Fig.1

Quadro 1

Os estudos incluídos na amostra foram em sua maioria publicados nos ano de 2019, 2020 e 2022 com cinco estudos cada, seguido dos anos de 2018 e 2021 com três estudos cada e 2023 com apenas um estudo. Quanto ao país de publicação a maioria dos estudos foi realizado no Brasil com dezesseis, mas houveram publicações também de Portugal, Reino Unido, Chipre, Irã, Polônia e Sérvia, com um estudo respectivamente. Quanto à categoria profissional houve predominância da enfermagem com dez estudos, seguido de psicologia com seis estudos, medicina com quatro estudos e dois de fisioterapia.
Referente à abordagem metodológica dos estudos, nove eram qualitativos, quatro transversais, sete revisões de literatura, um estudo prospectivo multicêntrico e um estudo de coorte retrospectivo.
Os estudos evidenciaram a predominância de sintomas negativos12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,24,25,26,27,28,29,30,31,32,33, como a falta da mama, tristeza, medo, ansiedade, baixa auto estima, bem como a presença de sentimentos positivos12,14,18,21,23,25,26,28,29,30,31, como fé, otimismo, resiliência, alívio, resignação e também estratégias de enfrentamento12,14,17,21,25,26,30,31,32,33 que ajudam a mulher em sua nova etapa de vida.
A partir da análise dos artigos emergiram as seguintes categorias: Impactos negativos vivenciados por idosas mastectomizadas, Impactos positivos decorrentes da mastectomia e Enfrentamento de idosas mastectomizadas, a serem abordados a seguir.

Impactos negativos vivenciados por idosas mastectomizadas
A mastectomia carrega consigo uma representação muito significativa no tratamento do CM e é vivenciada por cada mulher de forma individual. O “corpo imperfeito”, decorrente da mastectomia e dos tratamentos, causa sentimentos de tristeza e de estranheza, reforçados pelo olhar do outro à mulher acometida12.
No estudo de Santos et al.13 aborda que as queixas mais comuns entre as mulheres após cirurgia são danos à qualidade de vida, satisfação sexual e recreativa, assim como à autoimagem em razão da queda de cabelo e ganho de peso, o surgimento de sentimentos de inferioridade e pior autopercepção do corpo, o que acarreta em sintomas de depressão, tristeza, vergonha, isolamento e visão pessimista do futuro, refletindo em alterações no cotidiano.
São evidenciados sentimentos de tristeza, desvalorização, vazio existencial, vergonha, angústia, medo, a preocupação com o que pode acontecer no futuro e maldizeres. Após a mastectomia observa-se que a mulher passa a ter uma visão deturpada de sua imagem corporal, levando-a na maioria das vezes a um estado melancólico e depressivo14.
A mastectomia altera a aparência, sendo um dos grandes desafios para as mulheres, gerando dificuldade na aceitação do novo corpo15.
O sentimento da falta de um pedaço do corpo, gera a sensação de que a pessoa está incompleta, fazendo com que sintam-se impotentes e desoladas diante da situação imposta, e principalmente após a visualização do resultado da mastectomia. A mulher expressa a sensação de estranhamento ao ter o corpo alterado, sensação de frustação com um corpo estranho, passando a se sentir com um corpo incompleto e dificuldade em se olhar no espelho16.
O estudo de Oliveira et al.12 aponta que de dez mulheres entrevistadas, para nove a mastectomia representou uma mutilação, onde emergiu a sensação de está faltando algo por conta da perda de um órgão representativo da identidade feminina, causando tristeza e vergonha dentre outros sentimentos.
A perda da mama e alterações decorrentes dela causam perturbações e conflitos, uma vez que se trata de uma mudança que envolve não só o aspecto físico, como também a identidade feminina17.
A retirada de mama impacta na identidade da mulher, pois a faz sentir que algo está faltando, sentindo-se doente e incapacitada. As mulheres caracterizam a perda mamária como uma privação da sua identidade e dignidade, afetando sua imagem corporal18.
A mastectomia altera a identidade da mulher a nível social e sexual, influenciando os relacionamentos interpessoais19. Podendo levar ao isolamento da mulher, a qual possivelmente vê sua feminilidade diminuída perante outras mulheres da sociedade, e a um progressivo estado depressivo, alterando suas atividades cotidianas e seus relacionamentos, ocasionando a baixa autoestima20.
O comportamentos de isolamento é comum devido a tristeza pela mutilação, vergonha e receio do preconceito das outras pessoas21.
E ainda a mastectomia afeta a mulher no desempenho das atividades diárias18. O estudo de Ballance et al.22 demonstra que o impacto físico que a cirurgia teve nas atividades levou a um desgaste psicológico, por serem constantemente lembradas de sua doença e algumas atrasaram o retorno às atividades de vida diária devido ao impacto psicológico gerado pela mastectomia.
No estudo de Fireman et al.23 observou-se que todas as mulheres entrevistadas relataram efeitos e limitações decorrentes do tratamento para o CM, relacionados à autoimagem, ao trabalho, a atividades domésticas e de vida diária, a restrições de movimento com o membro superior, a alterações psicológicas, a sentimentos de insegurança e incapacidade, entre outros. Em relação à autoimagem, relataram dificuldades em aceitar a perda da mama, demonstrando diminuição de sua autoestima. Relataram alteração de sua percepção como mulher e vergonha de sua própria imagem, impactando em suas relações afetivas.
A imagem corporal alterada pela mastectomia as trazem sentimentos negativos com relação à sua autoimagem, de forma que o fato de se verem sem roupas é o principal indicio de insatisfação neste cenário. Além disso, algumas evitam se expor sem roupas, olhar as cicatrizes e seu corpo ao tomarem banho24.
A perda de uma mama traz consigo questões sobre a feminilidade e a autoestima, e que uma das maiores preocupações das mulheres após a mastectomia é o medo de rejeição dos seus parceiros, sendo o apoio dos mesmos primordial para a diminuição do nível de depressão e a satisfação sexual25.
Após a mastectomia, a mulher se sente estranha, com vergonha, tendo dificuldade de se relacionar com o companheiro, se sentindo sexualmente repulsiva e com medo que o companheiro não as aceite mais. Algumas mulheres relatam ter dificuldade de escolher roupa para vestir, ir à praia ou até mesmo ter um contato físico com outra pessoa, isso porque a vida dessas mulheres é fortemente influenciada pela alteração corporal sofrida26.
Observa-se relatos de problemas na relação conjugal, insegurança na retomada da vida sexual e diminuição na frequência da atividade sexual. Além disso, a presença de uma visão amedrontada da doença, que também gera sentimentos negativos, desânimo, vergonha, desvalorização da imagem corporal e alterações na sexualidade27.
A perda da feminilidade devido à mastectomia é uma das principais causas de depressão, uma vez que as mulheres não se percebem mais atraentes e femininas como antes. Além disso, a perda da integridade física devido a mutilação, as fazem se perceberem com os corpos deformados e assimétricos24.
As emoções vivenciadas pela mulher com câncer, da aceitação do diagnóstico até o tratamento, influenciam diretamente no processo saúde/doença. No entanto é importante destacar que cada mulher vivencia de forma particular cada etapa. Muitas mulheres apresentam depressão, baixa autoestima, inferioridade, medo da recidiva, desconforto físico e redução das atividades28.
A tristeza pela perda da mama é o sentimento mais relatado pelas mulheres, causando alterações na imagem corporal, principalmente pelo fato do corpo agora se apresentar fora dos padrões de beleza definidos pela sociedade. O não sentir-se mulher e a ausência de significado na vida em consequência da mutilação, são muito presentes em mulheres mastectomizadas28.
Entende-se que os impactos nas mulheres submetida a mastectomia estão relacionados a condição psicológica (desenvolvimento do medo, angústia, sentimento de perda e desgosto, baixa auto estima e negação frente às condições impostas pela doença), vida social e qualidade de vida (aspectos biológicos afligidos como consequência do desenvolvimento da doença e cirurgia)29.

Impactos positivos decorrentes da mastectomia

A mastectomia causa consequências traumatizantes na vida de cada mulher, mas também observa-se que algumas mulheres enfrentam de forma positiva esse momento e se adaptam à mastectomia26.
Há mulheres mastectomizadas que constroem uma definição que ressignifica o ser mulher, onde a amputação da mama não desencadeia impactos negativos na sexualidade e feminilidade, apoiando-se em uma visão que permite um novo olhar sobre si mesma29.
Algumas mulheres produziram modos de expressar e ressignificar sua sexualidade de forma positiva em suas relações cotidianas, demonstrando que a experiência pode ter um caráter potencializador de mudanças construtivas30.
Sentimentos de aceitação, resignação, otimismo, fé e esperança são comuns entre as mulheres e auxiliam no processo de pós-mastectomia14. Mulheres se apegam com fé e esperança, a fim de alcançar a cura e aceitação do tratamento26.
Brandt-Salmeri e Przyby?a-Basista25 destaca o sentimento positivo de aceitação e melhora da autoestima em mulheres à medida em que as mesmas tiveram apoio de seus parceiros, diminuindo os impactos negativos gerados pela mastectomia.
No estudo de Urio et al. 21 foi expressado por algumas mulheres sentimentos positivos, de força e de esperança, onde as mesmas passaram a reconhecer, valorizar e agradecer a vida e a saúde, com o desejo de superação, segurança e inspiração, reformulação e reconstrução de uma nova identidade, ressignificando sua vida presente e futura.
Percebe-se que uma minoria das mulheres sentiram-se aliviadas após a mastectomia, pois com a retirada da mama também retirou-se o tumor que lhe comprometia a vida, portanto a mastectomia representou uma esperança da cura28, sentindo-se satisfeitas e vitoriosas, e se apegando a fé e a ideia de que tudo acontece por um motivo12.
No estudo de Almeida et al.31 observou-se a existência de sentimentos de compreensão da necessidade de retirar a mama e o sentimento de resiliência.
No estudo de Fireman et al.23 todas as pacientes relataram impacto positivo do tratamento fisioterapêutico no desempenho das suas atividades de vida diária e domésticas, sentindo-se mais seguras e independentes no retorno à rotina e em seu autocuidado, visto a pós-mastectomia trazer diversas repercussões na vida da mulher, dentre elas as disfunções no membro superior que tem impacto negativo no desempenho de tarefas do dia a dia, impactando diretamente em sua qualidade de vida e funcionalidade.

Enfrentamento de idosas mastectomizadas

O enfrentamento é definido como esforços comportamentais e cognitivos de um indivíduo visando manejar um acontecimento estressante, fazendo-o entender quais são os fatores que irão influenciar o resultado final do processo. O abalo emocional e o convívio com as repercussões negativas do tratamento quimioterápico causam debilidade física e afetam o processo de recuperação26.
O sentimento de aceitação surge como uma parte do processo de enfrentamento, uma forma de adaptar-se à nova condição. Algumas mulheres buscam conformar-se e aceitar a mastectomia pois acreditam que sentimentos negativos dificultam o tratamento12.
É comum que a mulher mastectomizada vivencie vários sentimentos emocionais sejam eles desagradáveis ou agradáveis, como também dificuldades físicas e é nesse momento que a mulher necessita do apoio familiar, de profissionais e de pessoas que compreendam o momento que ela está vivendo17.
A motivação para o enfrentamento da doença e o tratamento está relacionada com o apoio recebido nesse período, seja de familiares, filhos, marido, amigos, da fé em Deus, da religiosidade ou da espiritualidade, que as encorajam e as tornam fortes e seguras nesse momento, auxiliando no enfrentamento das angústias, incertezas, misto de sentimentos e dificuldades vivenciadas neste processo21.
O apoio de familiares e amigos é essencial para o enfrentamento do câncer e a mastectomia, pois, mesmo diante da fragilidade e sensação de incapacidade, o suporte daqueles mais próximos proporcionam leveza e fortalecimento. Foram destacados como estratégias de enfrentamento, a presença ativa da rede de apoio, incluindo família, amigos, parceiro, a espiritualidade, o trabalho voluntário por meio de palestras em igrejas e escolas para chamar a atenção sobre o cuidado com a doença em pessoas acometidas pelo câncer também e o acompanhamento médico e psicológico31.
No estudo realizado por Brandt-Salmeri e Przyby?a-Basista25 destaca que o sentimento de que o parceiro aceita a mulher contribui para que a mesma sinta-se aceita e atraente para o parceiro tendo um impacto positivo na sua autoestima o apoio recebido do parceiro, reduzindo os sintomas de depressão nas mulheres e favorecendo a satisfação conjugal e melhor funcionamento sexual das mulheres.
Observa-se que o estresse psicológico nas pacientes as torna mais vulneráveis a sofrer de depressão e/ou ansiedade, prejudicando o funcionamento pessoal e a qualidade de vida geral. O reconhecimento do sofrimento psíquico pela equipe de saúde é fundamental. A comunicação aberta com a equipe médica, a empatia do parceiro aumentam o bem-estar psicológico das mulheres e a percepção da imagem corporal e sexualidade. Além disso, a interação entre o paciente e o médico durante a consulta clínica tem uma influência significativa na experiência geral do paciente com CM32.
A assistência à mulher nesse momento por parte da equipe multidisciplinar vai além da preocupação com seu estado físico. É importante os cuidados relacionados à saúde mental da mesma, através da escuta por parte do profissional sobre os sentimentos e queixas relatadas, visto que a mulher passa por um momento de estresse emocional, como medo, tristeza e angústia que podem desencadear uma depressão. Além disso, é importante a indicação de atividades de entretenimento, que tragam sentimento de prazer e relaxamento17.
O apoio social desempenha um papel mediador no bem-estar social, no bem-estar funcional, na qualidade de vida geral e na saúde mental dos pacientes33.
O apoio da família e amigos é crucial para que a mulher supere os sentimentos que possam lhe afligir. O carinho e o afeto da família estão diretamente relacionados ao grau de aceitação da perda do seio e da própria doença, otimizando e promovendo a estabilidade no comportamento. Outro meio de apoio é a espiritualidade que traz paz e conforto às mesmas, depositando em Deus a esperança de cura. Percebe-se que a crença religiosa tem significado relevante para as mulheres, especialmente quando passam pela mastectomia14.
O apego à espiritualidade estimula a mulher a vencer os desafios que circundam o procedimento cirúrgico e a doença, oferecendo subsídios para que a mesma se fortaleça e permaneça tranquila durante o tratamento. Independente da crença, a fé revela-se como um amparo, um alicerce, tornando-as mais seguras para seguirem adiante14.
Além disso, os grupos de apoio funcionam como sustentáculo para a continuidade do processo de recuperação e adaptação à nova condição de mulheres mastectomizadas, e ainda como ambiente de transformação nos aspectos psicofísico e psicossocial, melhoram os sintomas relacionados ao estresse e à ansiedade despertada pelo contato com amigos e familiares durante o tratamento30.

Conclusão

Os resultados dos estudos analisados evidenciam que o processo de mastectomia é vivenciado de forma individual por cada mulher, trazendo consigo, alterações físicas e psicológicas, muitas vezes desencadeando sentimentos negativos, como: tristeza, vergonha, medo, preocupação, anseios, estranheza, vazio existencial, desvalorização, angústia, insatisfação e revolta, podendo levar à depressão, além de sentimentos positivos, como: resiliência, esperança, otimismo. Observa-se ainda que a mama é apontada como uma representação da identidade feminina, e a realização da mastectomia, pode gerar impactos na saúde mental e afetar a autoestima, a imagem corporal e a qualidade de vida da mulher.
As evidências apontam a importância do apoio social, da família, dos amigos e, especialmente, dos parceiros, sendo aspectos essenciais no bem-estar e na saúde mental da mulher, além de melhorar sua qualidade de vida geral. Além disso, a participação em grupos de apoio tem se tornando uma base para superação e aceitação de sua atual condição. Outrossim, o reconhecimento da necessidade de suporte, a comunicação aberta pelos profissionais de saúde e a empatia pela paciente, também, torna-se fundamental para melhoria dos sentimentos e anseios apresentados pela mesma, além de melhorar seu cuidado em saúde.
O estudo viabiliza discussões sobre o gênero feminino, o envelhecimento da mulher e a cobrança social para atingir um ideal de beleza, uma vez que a sociedade cada vez mais digital e em busca da perfeição impacta negativamente na saúde mental de mulheres idosas mastectomizadas, que por diferentes motivos enfrentam impasses para a reconstrução mamária e sofrem com os problemas de autopercepção, convívio social e sexualidade, motivos estes que levam as idosas que realizam a cirurgia da retirada da mama a enfrentam esse processo de forma negativa.
Observa-se a necessidade de mais produções sobre os impactos psicológicos da mastectomia em idosas, visto tratar-se de uma temática essencial para a saúde pública e saúde mental, sobretudo devido aos índices crescentes de CM em mulheres idosas. Essa pesquisa estimula a produção de novas pesquisas de temática similar, para que se possa contribuir no melhor atendimento e abordagem à idosa mastectomizada, visando melhorar a qualidade de vida da mesma.

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Silva, M. P. B., Gomes, J. D. P., Silva, J. F. T., Figueiredo, M. L. F.. Impactos psicológicos da mastectomia em idosas com câncer de mama. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/Fev). [Citado em 07/10/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/impactos-psicologicos-da-mastectomia-em-idosas-com-cancer-de-mama/19107?id=19107&id=19107

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