0325/2025 - Mulheres que vivem na Rua: uma análise interseccional sobre os modos de viver e a rede de apoio que constroem para si Women living on the street: an intersectional analysis of the ways they live and the support network they build for themselves
O estudo teve como objetivo analisar os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si. Trata-se de pesquisa qualitativa com viés exploratório e elementos etnográficos feito com mulheres viventes das ruas da cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados percorrendo três etapas: vinculação com o cenário do estudo; encontros com mulheres que vivem nas ruas a partir do trabalho do Consultório na Rua (CnaR) e o Processamento/Análise das vivências. Emergiram as seguintes categorias de análise dos dados: “Interseccionalidades e o viver das mulheres na rua”, “Redes rompidas causadoras de sofrimento às mulheres que vivem na rua” e “Redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si”. O estudo mostrou os efeitos do racismo, do patriarcado, das opressões de classe e de outras opressões que se interligam e se configuram em sofrimento e apontou para a construção de redes de apoio que as vivências na rua promovem. A partir do conceito de interseccionalidade foi possível refletir sobre a necessidade de compreender as opressões que atravessam os corpos das mulheres para o cuidado tendo em vista a justiça social.
Palavras-chave:
Pessoa em situação de rua; Rede de apoio social; Interseccionalidade; Papel de Gênero.
Abstract:
The aim of the study was to analyze the ways of living and the support network that women living on the streets build for themselves, through an intersectional lens. This is qualitative research with an exploratory bias and ethnographic elements, carried out with women living on the streets in the city of Rio de Janeiro. The data was analyzed in three stages: connection with the study scenario; meetings with women living on the streets through the work of the Street Clinic (CnaR); and processing/analysis of the experiences. The following categories of data analysis emerged: “Intersectionalities and the lives of women on the street”, “Broken networks causing suffering to women living on the streets” and “Support networks that women living on the street build for themselves”. The study showed the effects of racism, patriarchy, class oppression and other oppressions that are interconnected and shape psychic suffering and pointed to the construction of support networks that living on the street promotes. Based on the concept of intersectionality, it was possible to reflect on the need to understand the avenues of oppression that cross women's bodies in order to provide care with a view to social justice.
Keywords:
Homeless people; Social support; Intersectional; Gender roles.
Conteúdo:
INTRODUÇÃO
O estudo tem como objeto os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si. De partida, a título de esclarecimento, é importante destacar que utilizaremos a expressão ‘vivente da rua’, como sugeriu Tiburi1 e mais tarde Merhy2. Os autores apostam no termo pois ainda que ‘situação de rua’ queira se diferenciar de ‘morador de rua’, estar em situação de rua impõe uma condição temporária e passiva à essas pessoas, enquanto a palavra vivente, evoca uma dimensão da vida que ocupa as ruas e os espaços da cidade, o que traz alguma dignidade ativa por parte das pessoas e suas existências, e não meramente a ideia atribuída à coitados passivos e sem moradia.
Há de se considerar que, os modos de viver das mulheres em situação de rua historicamente estão atrelados a uma suposta invisibilidade, onde até mesmo o termo ‘invisibilidade’ é parte de uma estrutura que não apenas produz esse discurso coletivo de que são coitadas, usuárias de drogas, marginais, prostitutas, perigosas, e não vistas pelo Estado, como também produz certo apagamento das singularidades de tais existências, como sugerem Kilomba3 e Almeida4. Somado a isso, quando o assunto é posto sob as lentes de gênero, as mulheres ficam circunscritas dentro de um perfil que é em sua maioria traçado por homens negros e usuários de drogas5,6.
Todavia, ainda que mulheres sejam minoria dessa população, há especificidades em ser mulher e viver nas ruas que necessitam ser refletidas à luz das relações interseccionais e de poder que sustentam as desigualdades de raça, gênero, classe, idade, capacidade, sexualidade e tantas outras7.
Segundo Collins7, a interseccionalidade revela como as estruturas de opressão se relacionam de maneiras complexas em um emaranhado que se traduz em desigualdade econômica indo além da ideia própria de pobreza. Assim, ao pensar os modos de viver dessas mulheres, reconhecemos os muitos atravessamentos e as diferentes opressões que são submetidas, uma delas é a estrutura machista e patriarcal que ora se traduz como violência, ora como rede de “proteção”.
No Brasil, a base fundante dessas estruturas tem efeitos muito particulares nas pessoas, pois estão ligadas intrinsecamente ao colonialismo e a experiência da escravização tanto dos povos indígenas, quanto dos povos vindo de África8. Essas são marcas profundas que reverberam em nossa gente e que atinge a todos e todas, ainda que algumas sintam mais fortemente esses processos, sofrendo racismos e exclusões de toda natureza9.
Todas essas opressões que as mulheres viventes das ruas têm, repercutem em sofrimentos cotidianos em detrimento do contexto social machista, racista, colonialista, misógino, sexista, e tantas outras problemáticas excludentes que atravessam a sociedade brasileira. No entanto, mulheres que vivem nas ruas sentem e nomeiam as opressões que se moldam mutuamente em seus corpos, mas, há uma lacuna de reconhecimento no campo do cuidado em saúde que faz com que elas sejam pouco validadas, transformadas em políticas públicas e em justiça social.
Nessa problemática a ser enfrentada pelos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, sobretudo, os que atuam no campo da saúde mental e da saúde coletiva, a lente interseccional ajudará a explorar como as desigualdades de gênero, raça, classe, sexualidade, idade, etnia e tantas outras se agenciam em forma de sofrimento.
Considerando o exposto, emerge a seguinte questão: Como são os modos de viver e as redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si? Diante disso, o estudo tem como objetivo analisar os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si, segundo perspectivas interseccionais.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo qualitativo com viés exploratório, com elementos etnográficos, justificado pelo interesse na investigação das subjetividades e das experiências sociais por meio das vivências. Esta investigação elegeu como fenômeno a realidade social de mulheres viventes da rua a partir da vivência de uma enfermeira na modalidade de residência uniprofissional em enfermagem psiquiátrica e saúde mental ligada a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) na Área Programática 2.2 da cidade do Rio de Janeiro. Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior desenvolvida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que tem como objeto de estudo as práticas de cuidado a pessoas em situação de rua. Dessa forma, este estudo permite o aprofundamento no tema, ora por coleta de dados, ora analisando os resultados10.
Para Geertz11, o estudo etnográfico permeia a teoria interpretativa da cultura, considerando que a descrição etnográfica é interpretativa e o que se interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida. O fazer etnográfico pressupõe uma descrição da interpretação de cada indivíduo faz das coisas, dos acontecimentos, dos fatos, dos fenômenos, todos permeados pela cultura.
Como um modo de recolher as vivências dessas mulheres foram utilizados elementos etnográficos em conjunto com a pesquisa interferência, onde entende-se que não há separação entre pesquisador e pesquisado, logo, o pesquisador não se enquadra na neutralidade científica, todavia, mesmo diante da ausência de neutralidade, há de se considerar que coexistem assimetrias presentes nas relações de poder. Nesse modo de pesquisar, a pesquisadora vai sentindo as necessidades de ferramentas, e não é decidido antes da entrada no campo, pois é a dinâmica da relação que vai dizer quais ferramentas serão acionadas12,13.
Para acompanhar o movimento da pesquisa, o estudo se deu em 3 etapas. A saber: 1) vinculação com o cenário do estudo; 2) encontros com mulheres que vivem nas ruas a partir do trabalho no Consultório na Rua (CnaR) e o Processamento/Análise das vivências das mulheres.
Na primeira etapa procedeu-se a vinculação da residente e da supervisora de campo ao cenário do estudo, especificamente junto a coordenação da Policlínica Hélio Pelegrino que comporta nove equipes de saúde da família e a equipe do Consultório na Rua (CnaR) do território. A vinculação se deu dos meses janeiro a agosto do ano de 2024, período em que a residente participou ativamente do trabalho no CnaR e construiu relações e vínculos com as mulheres viventes da rua da AP 2.2 juntamente com a supervisora de campo.
Esses encontros se deram a partir da consulta de enfermagem em saúde mental tanto em consultório base do CnaR, quanto nas abordagens e consultas feitas nas ruas. Esses encontros duravam em média 45 mim com especial atenção as histórias relacionadas aos atravessamentos interseccionais (raça, gênero, capacidade, idade e outros), às demandas de cuidado em saúde mental e as redes de cuidados que as mulheres iam construindo, para isso, foram utilizadas anotações em diário de campo. Essas anotações foram construídas com base nas relações entre as pesquisadoras e as mulheres, a partir das narrativas feitas através de questionamentos relacionados a interseccionalidade e o viver das mulheres na rua. Além do diário de campo, outros dados foram coletados a partir do prontuário dessas mulheres.
As estratégias de investigação etnográficas perpassam especialmente às técnicas de observação participante e a compreensão de símbolos e categorias para se referir a um grupo. No processo de observação foi utilizado um roteiro com os elementos a serem observados e anotados no diário de campo, que perpassavam os modos de viver e as redes de apoio das mulheres na rua.
A terceira etapa deu início ao momento da análise dos dados. A análise dos dados seguiu a análise etnográfica de domínio14, que inclui seis passos inter-relacionados, como: Eleger uma relação semântica; Preparar uma ficha de análise de domínio; Eleger notas de campo; Buscar possíveis terminologias com relações semânticas; Repetir a busca com outras relações semânticas; e Listar todos os domínios identificados. Esses domínios constituem-se de categorias.
As anotações foram cuidadosamente lidas, e transformadas em um texto único de cada mulher, agrupando as falas de cada uma delas, levando em consideração as informações relevantes para os objetivos propostos. A equipe foi excluindo falas que não se enquadravam nos objetos e nem respondia ao objetivo. Com isto, os dados foram agrupados e foram traçadas categorias.
Para tanto, estabeleceu-se como critério de inclusão: mulheres (cis), maiores de 18 anos e viventes das ruas da área programática 2.2 e vinculadas ao CnaR do território. E critério de exclusão: mulheres em que não foi possível vinculação no período da coleta de dados. Assim, a escolha da população de estudo se deu de forma intencional pelas pesquisadoras, a partir do vínculo afetivo produzido entre as pesquisadoras e as mulheres.
A pesquisa seguiu as Resoluções CNS/MS n° 466/2012, CNS/MS n° 510/2016 e CNS/MS n° 580/2018, tendo sido submetida ao Comitê de Ética da UERJ, sob o parecer CAAE: 48468621.6.0000.5282.
RESULTADOS
Ao total, 11 participantes integraram a pesquisa, sendo 10 mulheres que se autodeclararam negras (8 pretas e 2 pardas) e 1 branca, com faixa etária de 18 a 45 anos. Quanto à escolaridade, todas tinham ensino fundamental, ou médio incompletos e nenhuma havia ensino superior. Em relação a trabalho e renda, todas estavam em trabalhos informais, como catadora de recicláveis. Seis mulheres possuíam algum tipo de benefício como bolsa família e cinco estavam em tramitação de resgate de documentos para dar entrada em benefício da assistência social. Ressalta-se que todas são mães, ficam pela região da clínica da Família, todas mantém relacionamentos duradouros, monogâmicos com homens cisgêneros.
Na organização dos dados foram utilizados nomes fictícios para preservar a identidade das mulheres. Para tratamento dos dados, os conteúdos das falas que se repetiam foram agrupados, resultando em três categorias, sendo elas: “Interseccionalidades e o viver das mulheres na rua”, “Redes rompidas causadoras de sofrimento às mulheres que vivem na rua” e “Redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si”.
INTERSECCIONALIDADES E O VIVER DAS MULHERES NA RUA
Como é o viver das mulheres na rua? Como é o viver de mulheres negras na rua? Quais sofrimentos atravessam seus corpos para além e com pobreza pujante? Como o machismo se constitui com mais uma avenida de opressão no viver dessas mulheres? Tais perguntas, não se pretendem ser respondidas no sentido universal, mas há algo em comum no viver dessas mulheres que o estudo evidencia.
Durante o tempo que passamos no campo de pesquisa, uma das coisas que nos chamou a atenção no cuidado em saúde foi que apesar de todas as histórias serem muito singulares, algumas dimensões da vida dessas mulheres se repetiam nas histórias. A partir dessa repetição das temáticas, estamos propondo essa primeira análise sobre a recorrência nos discursos dos sofrimentos ligadas ao racismo, classe e às desigualdades de gênero que se expressam na objetificação de seus corpos e nas vulnerabilidades expressas por medo das violências sexuais.
“Eu vou sim pegar os documentos. Porque nós que vive na rua, já somos muito humilhadas, porque eu por exemplo, sou pobre, não tenho onde cair morta, sou queimadinha, marrom bombom (risos), ainda me visto com essas roupas!!Se eu não arrumar uma roupa melhorzinha fica difícil de conseguir um troco” (Yara).
“É aqui que eu durmo, mas só posso ficar aqui com minhas coisas quieta, porque essa loja está fechada, se alugar, vão me tirar daqui né!? Eles acham que eu sou bicho, que sou escura de sujeira. Não sou. Eu tomo banho, eu sou preta porque deus me fez assim. Mas para me pegar (refere estupro) eu sirvo. É assim que eles (homens) faz, não respeita nem meu companheiro. Eles acham que toda mulher de rua são puta. Eu não sou puta!” (Janaína).
Nessa fala a seguir, ficam expressos tanto o uso de droga como algo para sustentar a vida na rua, quanto à vulnerabilidade de estar na rua enquanto um corpo negro e de mulher.
“Eu fico muito cansada de manhã, porque passo a noite na vigia (referindo que usou drogas para ficar acordada), porque quando chega os mavambos novos na calçada, eu não posso vacilar, porque não sei se é homem ruim, se vai me pegar a força. Você sabe, homem tem diabo no corpo né?!” (Madalena).
Já essa outra participante nos mostra que as relações são mediadas pelas desigualdades de gênero, onde o corpo da mulher é vista como objeto e como força de trabalho.
“Meu marido sabe que tô aqui usando, mas fica bolado porque pensa que estou tendo relação com outros macho para conseguir usar. Eu não tô! Os cara da boca me respeitam. É claro que um servicinho ou outro eu tenho que fazer. Eu limpo, lavo as coisas deles e eles me pagam em droga” (Jocasta).
Havia muitos relatos que também demonstravam como a mulher que vive na rua e mantém relações amorosas com homens, ficam suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis, como vemos no próximo relato.
“Essas porcaria eu pego do meu marido. Ele fica doidão e se mistura com todo mundo. Eu sou fiel a ele. Mais de 20 anos vivendo com essa desgraça e já não é a primeira vez que pego doença. A vez que fui ter filho, descobri um monte de coisa. E é tudo dele. Sempre ele! (Yvone).
As mulheres também mencionavam seus sofrimentos advindos de racismos e exclusão de classe. Mas deixavam claro as desigualdades de gênero, pois se colocavam como cuidadoras de seus companheiros.
“Ele é irresponsável, dotora! Ele tem que entender que somos nós por nós. Já somos preto, pobre. Se a gente não se cuidar, quem vai? Eu que lembro a ele de comer, de fazer as coisas. Às vezes eu falo pra ele dá um rumo na vida. Mas ele fica usando tantas merdas juntas, que se perde. Eu uso também, mas venho as consultas, tomo as vacinas em dia, faço meu corre. Ele come ainda porque eu estou com ele. O dia que eu cansar, ele vai ter que arrumar outra trouxa para botar no lugar” (Emilia).
Havia também a maneira como as próprias mulheres enxergavam sua existência, muitas vezes se vendo quanto objeto e depreciando suas aparências.
“As pessoas finas e ricas têm nojo de mim, doutora. Eu posso tá coberta de ouro, que as pessoas olham de cima a baixo. Eu acho que é porque tenho cabelo duro sei lá. Ou porque sou assim morena fechada. Mas todo homem que ficou comigo, seja alto, branco, preto, rico, pobre, todos, todos morrem aos meus pés. Porque eu sei trabalhar direitinho (falava olhando para as pessoas e ria, se referindo ao ato sexual). Meu marido de agora, duvido me trocar por amapôa qualquer” (Aldicéia).
Os discursos dessas mulheres, mostram que ser uma vivente das ruas, as colocam em constante sentimento de desvalia causado pelo racismo estrutural, pelo desamparo do Estado e vulnerabilidades e desigualdades de gêneros que são impostas aos seus corpos pelos simples fatos de serem mulheres.
REDES ROMPIDAS CAUSADORAS DE SOFRIMENTO ÀS MULHERES QUE VIVEM NA RUA
Apesar das opressões de gênero, classe e raça se configurarem como um causador de sofrimento, há outros fatores que também se impõem na vida das mulheres que vivem na rua, como por exemplo, os conflitos decorrentes dos vínculos rompidos com os familiares, assunto recorrente no discurso das mulheres que participaram da pesquisa.
Sobre essa questão da relação com familiares, as vivências dessas mulheres demonstram que há dificuldades tanto na relação familiar quanto ao retorno aos territórios de origem, demonstrando a complexidade das opressões que causam sofrimentos para essas mulheres que vivem nas ruas, como aponta o trecho abaixo:
“Faz mais de dois anos que não falo com ninguém da minha família. Eles não acreditam que eu estou parando de usar essas merdas (drogas). E pra lá (casa dos familiares) eu não posso voltar porque estamos jurados (de morte) na comunidade. Para segurança deles mesmo, melhor nós ficar por aqui e vamos seguindo a vida. Eu, Damião e deus.” (Emília).
Em algumas falas fica claro como há um afastamento das relações afetivas e um estigma de que a pessoa em condição de vivente da rua é perigosa e por isso, não pode estar próxima de seus familiares, sobretudo, dos filhos, como afirma uma das participantes:
“Eu falo com minha mãe quase todo mês, porque ela que cuida das minhas filhas para mim. Mas ela mesma não quer que eu fique muito perto delas, porque acha que nós somos má influência para elas. E somos né? Mas eu como mãe e ele como pai tem os direitos, mas como ela cuida, eu deixo para lá. (Nesse momento ela chora).” (Alcione).
Há discursos de algumas mulheres que demonstram que o uso de drogas é entendido como algo de escolha da pessoa que sofre, tendo como explicação certa dimensão espiritual e como condição para o retorno familiar está a abstinência, como vemos a seguir:
“Minha mãe diz que é o diabo que faz eu usar essas coisas. Eu já cansei de pedir ajuda, mas ela diz que só volto para casa, se para de usar, mas para eu parar, dotora, preciso voltar para casa, não é?”. (Benedita).
Tais discursos demonstram que os sofrimentos vividos nas ruas muitas vezes são parte de uma complexidade de fatores que se interseccionam nas experiências de vidas, sendo os vínculos rompidos um dos fatores causadores de sofrimentos de mulheres que vivem nas ruas.
REDES DE APOIO QUE MULHERES VIVENTES DA RUA CONSTROEM PARA SI
Além do apontamento dos sofrimentos interseccionais e decorrentes da ruptura familiar, o estudo mostra também que há potências na rua, sendo este o lugar onde as relações afetivas se configuram de tal maneira a dar sustento nas vidas dessas mulheres, o que possibilita inclusive o acompanhamento pelo CnaR e a construção do cuidado a partir da rede afetiva e de solidariedade, como pode ser visto nos trechos a seguir:
“Aqui não adianta, na rua a gente conta com a gente mesmo. Sou eu e ele (marido), e poucos amigos que fecham com a gente aqui. Agora que tô com vocês aqui no postinho, me ajudou melhor. Mas bendizê só tenho ele (companheiro), minha amiga Maria que fica com a gente aqui na rua e namorada dela. Porque minha família não vejo há muito tempo”. (Yvone).
“A gente organiza todo dia nossa comida aqui na praça mesmo. E eu não dou mole não. Boto todo mundo para conseguir as coisas. Até cozinho, mas eles têm que se mexer né. Porque cada um arrumando alguma coisinha já junta e faz uma comida. E quem não tá com nóis aqui, fica difícil de ajudar. Eu e João (marido) ficamos com pena, mas não dá para qualquer um chegar e comer. Tem que fechar com nóis aqui” (Lenice).
“A dona do prédio aqui de frente, ajuda bastante a gente. Ela tem para mais de 5 apartamentos alugados. Ela faz muito por nóis. Mas nem sempre ela vem né. A fome bate e a gente tem que dar nosso jeito. Não cai do céu. Mas quando ela vem, é mais fácil por que ela traz quentinha para nós 7 aqui” (Margô).
“Eu só tenho ele doutora. Ele não é grandes coisas, mas é aquilo né?! Quem não tem cão, caça com gato (risos). A gente briga, mas no final somos só nós mesmo. Porque a rua é astuta. Às vezes, melhor confiar nos mendigos do que nos bacana. Tem muita gente ruim nesse mundo. Esse monte de comércio aqui, pode contar nos dedo quem olha na nossa cara. Se eu morrer aqui ninguém vai sentir falta não”. (Aldicéia).
DISCUSSÃO
Os resultados demostraram que as mulheres negras que vivem nas ruas percebem sua existência de maneira desvalorizada, utilizando termos como: “queimadinha”, “marrom bombom”, além de “pobre”. Esses termos nos mostram que suas existências são marcadas pela desvalorização de sua negritude, e repetindo termos pejorativos sobre raça, exemplificam como o racismo atinge as mulheres negras a partir de uma cultura do embranquecimento.
As falas sobre suas aparências com menções ao cabelo crespo, por exemplo, nos mostram o quanto o racismo as atinge frontalmente, fazendo com que não vejam beleza em si15. O racismo imposto às mulheres negras as desumaniza, atingindo cruelmente a capacidade de perceber belezas em si e amor por seus corpos.
Nesse sentido, Djamila Ribeiro16 reflete em Pequeno Manual Antirracista que alguns termos pejorativos, como os citados pelas mulheres participantes da pesquisa, marcam a diferença pela ideia de ser não branca, e que, via de regra, ser negra seria apontado como certo defeito.
E quando pensamos o racismo alinhado ao sexismo e pobreza, notamos que tal intersecção que cruza gênero, raça e classe resume um pouco o que Collins7 chama de um sistema de poder que gera desigualdades complexas, ou em outras palavras, que as interseccionalidades, muitas vezes são tão misturadas que tentar pinçar apenas um dos vieses, pode deixar escapar alguma dimensão das experiências sociais das pessoas.
Ademais, o olhar para as opressões que se interconectam em mulheres negras viventes das ruas a partir da interseccionalidade nos ajuda a constatar e a refletir a complexidade que é o tema do racismo pelo qual são submetidas e a necessidade de respostas interseccionais às injustiças sociais e as desigualdades de gênero7.
Somado a percepção de uma existência desvalorizada socialmente, as mulheres nos mostram ainda a objetificação e violências que seus corpos são submetidos, fato experienciado por mulheres no geral, como Scott17 nos aponta. Ocorre, que para algumas mulheres da pesquisa, além de conviver com a fome, com a exclusão, ainda precisam se defender de possíveis ataques de homens que poderiam violar os seus corpos.
Sobre esses relatos de violação dos corpos, Richwin e Zanello18 esclarecem que são medos que atingem as mulheres no geral, mas estar desprotegida todas as noites faz da experiência de viver na rua algo muito sofrido para essas mulheres. Estudo de Oliveira et al.19 mostra que o fato de ser mulher que vive na rua e ser de cor não branca são fatores associados ao maior risco de sofrer violências. Desse modo, as violências estruturais e interseccionais são como certa autorização de violação sobre os corpos e subjetividades dessas mulheres como afirmam Ricwin e Zanello18.
Quanto a sexualização exposta nos discursos, trata-se de outra faceta do mesmo mecanismo de aniquilamento que o racismo produz20, pois os corpos das mulheres sempre foram atingidos de forma objetificante, fazendo com que essas experimentem o reconhecimento de seus corpos, pelo êxito de performance sexuais21.
O enfrentamento passa a ser não apenas da pobreza, mas do racismo estrutural, do patriarcado, das desigualdades de gênero que estão intimamente interligados e constroem juntas a estrutura social da desigualdade7.
Sobre a problemática das redes familiares rompidas de mulheres que vivem na rua, os resultados apontaram para rupturas permeadas por conflitos. Brito e Silva22 nos esclarece que as relações de pessoas que vivem nas ruas e suas famílias, podem ser conflituosas porque envolvem muitas vezes o abandono, a desintegração do território existencial e o afastamento dos vínculos familiares.
Nessa direção, o Guia ministerial do ano de 2015, que trata dos direitos das pessoas que vivem nas ruas aponta que mais da metade da população se mantinha na cidade próxima às moradias de seus familiares, e que as relações entre esses, tornaram-se uma das condições que os levaram para as ruas. Grande parte dos problemas que esse guia traz, é sobre problemas com uso de álcool e outras drogas23.
Geralmente os conflitos que giram em torno do uso de drogas, esbarram em questões culturais de cunho religioso, visto que a existência dessa problemática é encarada por parte dos familiares como algo pecaminoso e pautado na ideia de abstinência, dificultando a busca de ajuda nos serviços de saúde territoriais, como o CnaR e os Centros de Atenção Psicossocial, por exemplo, que trabalham pela lógica da redução de danos24. Porém, o uso de drogas que foi apresentado nesse estudo, ainda que estigmatizado pela sociedade, trata-se muitas vezes de um meio de se manter vivo, seja pela renda seja pela “fuga da realidade”25.
Apesar de mencionarem a falta de apoio de familiares, as mulheres que vivem na rua, nos surpreendem em alguma medida, pois nos mostram que também há produção de vida nas ruas, pois mencionam relações de amizade duradouras, a manutenção das relações amorosas ao longo do tempo, os agenciamentos com a comunidade, evidenciando que podem também contar com outras mulheres que vivem na rua25.
Sobre a perspectiva das relações amorosas, percebemos que o estigma da mulher que vive na rua pode colocar em questão as suas lealdades conjugais, já que muitas vezes os seus corpos são vistos por olhares masculinizantes como objeto, ora como mercadoria, ora como força de trabalho como aquela que cuida, zela e organiza o ambiente para os homens. Como Federici26 nos adverte, essa é uma situação muito recorrente à experiência de ser mulher, pois esses atributos são delegados às mulheres ainda muito novas, e como podemos ver se reproduzem inclusive as mulheres que vivem nas ruas. Ainda, Barros et al.27 afirmam que marcadores de raça/cor em mulheres negras que vivem nas ruas, se interseccionam com contextos sociais precários e reforçam ainda mais a condição de sobrecarga.
Todavia, na contramão do imaginário social, o estudo aponta que há a lealdade por parte das mulheres, pois as mesmas se mantêm firmes aos acordos que estabelecem com seus companheiros, porém, as mesmas denunciam que seus parceiros não retribuem essa lealdade28. A autora e filósofa hooks15 nos lembra que mulheres negras passam pela vida sendo constituídas pelo racismo, pois desconhecem o amor, porque não experimentam o endereçamento do olhar amoroso da sociedade e aprendem que seus corpos, suas aparências não são humanizadas.
Sobre esse abandono afetivo que homens no geral cometem com suas parceiras, podemos analisar sobre os relatos das participantes que também há um descompromisso por parte de seus companheiros em relação à uso reduzido de drogas e exposição às relações sexuais com terceiros de forma desprotegida, o que as colocam em maior vulnerabilidade em relação à exposição de ISTs em comparação com mulheres que não vivem nas ruas29. Aqui não há um julgamento do comportamento dos parceiros, mas uma análise do quanto mulheres viventes da rua ou não, se mostram mais responsáveis no cuidado dentro das relações sexuais e afetivas, o que consideramos uma potência30.
Apesar dessa conjuntura social desigual imposta à essas mulheres, essas também experimentam como potências das ruas alguma Rede de Apoio. Como Rede de Apoio, Sanicola31 define como uma estratégia de cuidado que pode ser dividida como primária e secundária. A rede primária são as relações com familiares, amigos e vizinhos. Já a secundária, seriam as relações advindas de instituições, ONGs, vínculos empregatícios.
As mulheres da pesquisa mencionam que outras pessoas que vivem nas ruas perto delas, são suas companhias e suporte, mostrando que há espaços de compartilhamento e solidariedade. Sobre o suporte das redes de solidariedade que encontram na rua, Gramajo32 entendem que esse tipo de conexão entre as pessoas é o que muitas vezes pode possibilitar um cuidado em saúde, justamente porque funcionam como suporte e faz elo entre a equipe e a pessoa que é cuidada. Portanto, sobre essas redes de apoio que as mulheres constroem para si, os resultados nos mostram que além de demonstrar uma ajuda mútua e esforço comunitário diário, essas pessoas são muitas vezes a referência para equipe sobre localização e situação de saúde e sofrimento.
Há também, referência sobre suporte por parte de pessoas que moram próximas à localidade nas ruas onde essas mulheres vivem. As mulheres relataram que geralmente há doações de alimentos de pessoas que moram no entorno, porém, esse tipo de ação apesar de ajudar em alguma dimensão em relação a urgência da fome, ela não se mantém, pois fica a cargo da boa vontade da pessoa que doa. Esse tipo de ação é muito evocada pela dimensão da caridade, reforçada pela cultura cristã de “ajuda aos pobres”, porém, se afasta da noção da dignidade humana e dos direitos humanos, assunto pelo qual está ancorado a temática da fome33.
Há também outra problemática, pois demonstra o quanto a ação baseada em caridade, evidencia as desigualdades sociais, e pode ser sentida como incômodo por quem vive na rua, visto que, apesar da pessoa que doa ter boas condições financeiras, ela doa apenas comida, e somente, às vezes. Claro que não estamos sugerindo que a pessoa que realiza as doações, faça de maneira recorrente. Aqui a análise se encontra em dar saídas para essa problemática sejam de ordem coletiva baseada em garantias de direitos, e não de responsabilidade de um indivíduo caridoso33.
Para além das análises que trouxemos sobre o afastamento dos familiares por conflitos, a rede de apoio mútuo entre as pessoas e a problemática da doação caridosa por parte de moradores, observamos que há recorrência nos discursos sobre a importância das relações com seus parceiros, evidenciando que são um vínculo muito importante para elas, configurando a principal Rede de Apoio primária21. Apesar de apresentarem alguns sofrimentos e sobrecarga de trabalho com essas relações, elas mencionam que esses homens são sua rede de apoio, e que mantém relações duradouras com esses companheiros, baseados em acordos de exclusividade monogâmica, contrariando a percepção de senso comum imposta à essas mulheres, que imaginam que são mulheres que vivem em condição de prostituição.
Fica evidente na pesquisa que os laços com seus companheiros, e suas parcerias nas ruas, são os vínculos que mais as sustentavam vivas, pois apesar de relações que em alguma dimensão traziam sofrimentos para elas, eram ao mesmo tempo um suporte afetivo importante31,32.
Percebem-se de uma maneira geral que as mulheres participantes da pesquisa, se sentem protegidas pelo status de “mulher casada”, visto que traz certa segurança em relação aos perigos da rua. Além de muitas vezes terem construído uma história afetiva que envolve filhos, fazendo com que essas mulheres permaneçam com essas relações.
Assim, as dimensões interseccionais ligadas a raça, gênero e classe das mulheres que vivem na rua se cruzam com a desintegração das redes familiares e territoriais produzindo sofrimentos com características muito singulares e que precisam de políticas de cuidado com vistas a fortalecer a rede de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si e políticas que visem a justiça social. Como afirma Collins7, a interseccionalidade, ao reconhecer que a desigualdade social raramente é causada por um único fator, adiciona camadas de complexidade ao que entendemos ser desigualdade social. Assim, as discussões sobre os modos de viver de mulheres na rua precisam passar por análises interseccionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, observaram-se à luz do conceito de interseccionalidade os modos de viver de mulheres e as redes de apoio de mulheres que habitam as ruas do Rio de Janeiro, especificamente na área Programática 2,2. Além de demonstrar um perfil que se caracteriza por majoritariamente mulheres negras, jovens, mães, casadas e em relacionamento heterossexual segundo a lógica monogâmica.
Sobre os modos de viver, o estudo mostra que são profundamente marcados pela desvalorização de sua negritude e por certa objetificação, abandonos e violências as quais seus corpos são submetidos na relação com os homens do território. Nesses modos de viver, algumas mulheres desmistificam o uso de drogas como algo apenas destrutivo, mas como proteção e cuidado de si. Os resultados mostram que o cuidado em saúde mental passa a ser pautado não apenas pelo atravessamento da pobreza, mas do racismo estrutural, do patriarcado, das desigualdades de gênero que estão intimamente interligados.
Em relação as rede de apoio, o estudo mostrou que as relações afetivas se configuram como suporte e sustento nas vidas dessas mulheres, sobretudo, das amizades que a rua produz, dos relacionamentos conjugais e da presença da equipe do CnaR que constrói vínculo ao longo do tempo. Por outro lado, o estudo aponta que os conflitos familiares são muito presentes e geralmente giram em torno do uso de drogas e de questões culturais de cunho religioso.
Logo, ao trazermos a temática das mulheres e os seus modos de viver nas ruas, estamos propondo dar língua ao que se pode produzir em termos de cuidado em saúde mental, junto à essas mulheres e o território em que vivem, entendendo que há especificidades no fato de serem mulheres, de vivenciar a rua e das redes que elas contam para cuidar de si.
FINANCIAMENTO
Apoio financeiro concedido ao Dr Ricardo de Mattos Russo Rafael pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil, na forma de bolsa de produtividade em pesquisa nível 2, sob Processo no. 312056/2022-2.
REFERÊNCIAS
1. Tiburi M. Ninguém mora onde não mora ninguém. Cult – Revista Brasileira de Cultura 2011; 155(14):27.
2. Merhy EE, Cruz KT, Gomes MPC. Sinais que vem da Ruas: o outro no seu modo de existir como pesquisador-intercessor. In: Carvalho SR, Oliveira CF, Andrade HS, Cheida RS. Vivências do cuidado na rua: produção de vida em territórios marginais. Porto Alegre: Rede Unida; 2019. p. 75-107.
3. Kilomba G. Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó; 2019.
4. Almeida S. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra; 2019.
5. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil (2018a 2022). Nota técnica nº 73. Brasília: IPEA; 2020.
6. Brasil. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. População em Situação de Rua: diagnóstico com base nos dados e informações disponíveis em registros administrativos e sistemas do Governo Federal [livro na internet]. Brasília: MDHC; 2023 [acessado 2025 fev 25]. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/populacao-em-situacao-de-rua
7. Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. Tradução de Rane Souza. 1ª ed. São Paulo: Boitempo; 2021.
8. Núñez GDL. Nhande ayvu é da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude [tese]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2022.
9. Renak A. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras; 2020.
11. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, RJ: LTC; 2008.
12. Figueiredo EBL, Andrade EO, Muniz MP, Abrahão AL. Pesquisa-interferência: um modo nômade de pesquisar em saúde. Rev Bras Enferm 2019; 72(2):598-603.
13. Moebus RLN. Pesquisa interferência desde Heisenberg. Diversitates 2015; 7(1):54-61.
14. Spradley J. Participant observation. New York: Holt, Rinehart and Winston; 1980.
15. hooks b. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. Tradução Stephanie Borges. São Paulo: Elefante; 2021.
16. Ribeiro D. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.
17. Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educ Real 2017; 20(2):71-99.
18. Richwin I, Zanello V. “Desde casa, desde berço, desde sempre”: violência e mulheres em situação de rua. Rev Estud Femin 2023; 31(1):e77926.
19. Oliveira GCM et al. Tipificação e fatores associados à ocorrência de violência em pessoas em situação de rua em um município de Minas Gerais, Brasil. Cien Saude Colet 2023; 28(6):1607–17.
20. hooks b. E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 2020.
21. Carmo NA, Rodrigues OS. “Minha carne não me define: a hipersexualização da mulher negra no Brasil. O Público e o Privado 2021; 40:73-100.
22. Brito C, Silva LN. População em situação de rua: estigmas, preconceitos e estratégias de cuidado em saúde. Cien Saude Colet 2022; 27(1):151-160.
23. Conselho Nacional do Ministério Público. Guia de Atuação Ministerial: defesa dos direitos das pessoas em situação de rua. Brasília: CNMP; 2015.
24. Reis CA, Ferrazza DA. Redução de danos em um CAPSad: discursos e práticas profissionais. Rev Psicol Saude 2022; 14(1):3-18.
25. Silva AB, Olschowsky AC, Silva TJ, Pavani FM. Desvelando a cultura, o estigma e a droga enquanto estilo de vida na vivência de pessoas em situação de rua. Cien Saude Colet 2020;25(10):3713-3721.
26. Federici S. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Editora Elefante; 2019. p. 388.
27. Barros KCC, Moreira RCR, Oliveira JF, Nascimento DFB, Jesus MEF, Ferreira RBS. Vulnerabilidades de mulheres em situação de rua: marcadores sociais de gênero e raça/cor. Rev Rene 2022; 23:e80608.
28. Nardes S, Giongo CR. Mulheres em situação de rua: memórias, cotidiano e acesso às políticas públicas. Rev Estud Fem 2021;29(1):e66011.
29. Santos BS, Faria MF. Vulnerabilidade de moradoras de rua à infecções sexualmente transmissíveis. Braz J Develop 2022; 8(5):40903-40918.
30. Esmeraldo AFL, Ximenes VM. Mulheres em situação de rua: implicações psicossociais. Psicol Cien Prof 2022;42:e235503..
31. Sanicola L. As dinâmicas de rede e o trabalho social. 2ª ed. ampliada. São Paulo: Veras Editora; 2015.
32. Gramajo CS, Maciazeki-Gomes RC, Silva PS, Paiva AMN. (Sobre)viver na Rua: Narrativas das Pessoas em Situação de Rua sobre a Rede de Apoio. Psicol Cien Prof 2023; 43:e243764.
33. Alvarenga R, Gulisz IC. As violações de direitos humanos da população em situação de rua na cidade de Curitiba. Rev Inter de Dir Humanos 2022; 10(1):97-114.
34. Brito RC, Koller SH. Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo. In: Carvalho AM, organizador. O mundo social da criança: natureza e cultura em ação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. p. 115-130
35. Taylor S. Lazos Vitales: de cómo el cuidado y el afecto son esenciales para nuestras vidas. Madrid: Taurus/Pensamiento; 2002. 382p.
Outros idiomas:
Women living on the street: an intersectional analysis of the ways they live and the support network they build for themselves
Resumo (abstract):
The aim of the study was to analyze the ways of living and the support network that women living on the streets build for themselves, through an intersectional lens. This is qualitative research with an exploratory bias and ethnographic elements, carried out with women living on the streets in the city of Rio de Janeiro. The data was analyzed in three stages: connection with the study scenario; meetings with women living on the streets through the work of the Street Clinic (CnaR); and processing/analysis of the experiences. The following categories of data analysis emerged: “Intersectionalities and the lives of women on the street”, “Broken networks causing suffering to women living on the streets” and “Support networks that women living on the street build for themselves”. The study showed the effects of racism, patriarchy, class oppression and other oppressions that are interconnected and shape psychic suffering and pointed to the construction of support networks that living on the street promotes. Based on the concept of intersectionality, it was possible to reflect on the need to understand the avenues of oppression that cross women's bodies in order to provide care with a view to social justice.
Palavras-chave (keywords):
Homeless people; Social support; Intersectional; Gender roles.
Mulheres que vivem na Rua: uma análise interseccional sobre os modos de viver e a rede de apoio que constroem para si
Women living on the street: an intersectional analysis of their ways of living and the support network they build for themselves
Mujeres que viven en la calle: un análisis interseccional de los modos de vida y la red de apoyo que construyen para sí mismas
Eliane Oliveira de Andrade Paquiela
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil
aneoandrade3@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-0916-9203
Julia Santos Silva
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Residência de Enfermagem em Psiquiatria e Saúde Mental, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil
juliaSilva465@gmail.com
Eluana Borges Leitão de Figueiredo
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil.
eluanaoft@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0002-5462-3268
Fabiana Ferreira Koopmans
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil.
fabianakoopmans@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-2238-5469
Ricardo de Mattos Russo Rafael
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil.
prof.ricardomattos@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-1315-4271
Alessandra Sant\'Anna Nunes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem, Rio de Janeiro, Brasil.
asantnunes@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7435-2568
Ândrea Cardoso de Souza
Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
andriacsouza@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-6549-8634
RESUMO
O estudo teve como objetivo analisar os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si. Trata-se de pesquisa qualitativa com viés exploratório e elementos etnográficos feito com mulheres viventes das ruas da cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados percorrendo três etapas: vinculação com o cenário do estudo; encontros com mulheres que vivem nas ruas a partir do trabalho do Consultório na Rua (CnaR) e o Processamento/Análise das vivências. Emergiram as seguintes categorias de análise dos dados: “Interseccionalidades e o viver das mulheres na rua”, “Redes rompidas causadoras de sofrimento às mulheres que vivem na rua” e “Redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si”. O estudo mostrou os efeitos do racismo, do patriarcado, das opressões de classe e de outras opressões que se interligam e se configuram em sofrimento e apontou para a construção de redes de apoio que as vivências na rua promovem. A partir do conceito de interseccionalidade foi possível refletir sobre a necessidade de compreender as opressões que atravessam os corpos das mulheres para o cuidado tendo em vista a justiça social.
Palavras-chave: Pessoa em situação de rua; Rede de apoio social; Interseccionalidade; Papel de Gênero.
ABSTRACT
The aim of this study was to analyze the ways of living and support networks that women living on the streets build for themselves. We conducted a qualitative exploratory study incorporating ethnographic elements with women living on the streets in Rio de Janeiro. The data were analyzed in three stages: contact with the study setting; meetings with women living on the streets during the work undertaken by a mobile clinic; and processing/analysis of the women’s experiences. The following thematic categories were identified: “Intersectionalities and the lives of women on the streets”, “Broken networks that cause suffering to women living on the streets”; and “Support networks that women living on the streets build for themselves”. The findings reveal the effects of racism, patriarchy, class oppression and other interconnected oppressions that cause suffering, highlighting the construction of support networks promoted by the experiences of living on the street. Drawing on the concept of intersectionality, it was possible to reflect on the need to understand the forms of oppression that traverse women\'s bodies to provide care oriented towards social justice.
Keywords: Homeless people; Social support network; Intersectionality; Gender roles.
RESUMEN
El estudio tuvo como objetivo analizar las formas de vida y la red de apoyo que las mujeres que given en la calle construyen para sí mismas. Se trata de una investigación cualitativa con sesgo exploratorio y elementos etnográficos realizada con mujeres que viven en las calles de la ciudad de Río de Janeiro. Los datos fueron analizados a través de tres etapas: vinculación con el escenario de estudio; encuentros con mujeres que viven en la calle a partir del trabajo del Consultório na Rua (CnaR) y el Procesamiento/Análisis de experiencias. Surgieron las siguientes categorías de análisis de datos: “Interseccionalidades y la vida de las mujeres en la calle”, “Redes rotas que causan sufrimiento a las mujeres en la calle” y “Redes de apoyo que las mujeres en la calle construyen para sí mismas”. El estudio mostró los efectos del racismo, el patriarcado, la opresión de clase y otras opresiones que están interconectadas y resultan en sufrimiento y apuntó a la construcción de redes de apoyo que promueven las experiencias en las calles. Utilizando el concepto de interseccionalidad, fue posible reflexionar sobre la necesidad de comprender las opresiones que afectan el cuerpo de las mujeres para brindar cuidados con visión de justicia social.
Palabras clave: Persona sin hogar; Red de apoyo social; Interseccionalidad; Rol de Género.
INTRODUCTION
This study focused on the ways of life and support networks that women living on the streets build for themselves. For clarification purposes, it is important to note that we use the term “street dweller”, as suggested by Tiburi1 and Merhy2. This is because, while “on the streets” differs from “street dweller”, the former implies a temporary and passive condition. In contrast, the word “dweller” evokes a dimension of life that occupies the streets and spaces of the city, conveying active dignity to these people and their existence, rather than an image attributed to poor passive homeless people.
It is important to highlight that the ways of living of women on the streets have historically been associated with invisibility, where even this term “invisibility” is part of a structure that not only produces a collective discourse that characterizes these women as wretched, drug users, marginalized, prostitutes, dangerous and overlooked by the state, but also erases the singularities of such existences, as suggested by Kilomba3 and Almeida4. Moreover, when this issue is analyzed through a gender lens, these women are circumscribed by a profile of homelessness that is dominated by black males and drug users5,6.
However, while forming a minority in the homeless population, woman living on the streets have specificities that need to be analyzed in the light of the intersectional and power relations that sustain inequalities of race, gender, class, age, ability, sexuality and so many others7.
According to Collins7, intersectionality reveals how structures of oppression relate in complex and entangled ways to produce economic inequality that extends beyond poverty. Thus, when thinking about these women\'s ways of life, we recognize the many intersections and different forms of oppression, one of which is the sexist and patriarchal structure that is manifest in violence and the “protection” network.
In Brazil, the founding basis of these structures has very particular effects on people, as they are intrinsically linked to colonialism and the experience of enslavement of both indigenous and African peoples8, producing deep scars that reverberate through our people, affecting everyone, although some people feel these processes more strongly, suffering racism and all kinds of exclusion9.
The forms of oppression experienced by women living on the streets result in daily suffering due to the macho, racist, colonialist, misogynistic and sexist social context and many other exclusionary practices that pervade Brazilian society. While women living on the streets feel and name these mutually shaping oppressions, there is a lack of recognition of this problem in the field of healthcare, meaning that their experiences are rarely validated and leading to gaps in public policy and social justice.
When this issue is faced by healthcare workers, especially those working in mental and public health, an intersectional lens can help explore how inequalities of gender, race, class, sexuality, age, ethnicity and so many others intertwine to produce suffering.
In light of the above, the following question arises: What are the ways of life and support networks that women living on the streets build for themselves like? This study therefore analyzed the ways of life and support networks that women living on the streets build for themselves from an intersectional perspective.
METHODS
We conducted a qualitative exploratory study incorporating ethnographic elements with the aim of investigating subjectivities and social experiences through lived experiences. The research phenomenon was the social reality of women living on the streets, based on the experiences of a nurse undertaking a psychiatric and mental health nursing residency program (Rio de Janeiro State University - UERJ) in Rio de Janeiro’s Program Area 2.2. This study is part of a larger study developed at UERJ focusing on care for people experiencing homelessness. The present study therefore provides a deeper understanding of this topic through both data collection and results analysis10.
According to Geertz11, ethnographic study permeates the interpretive theory of culture, considering that ethnographic description is interpretive and what is interpreted is the flow of social discourse and the interpretating involved. Doing ethnography is describing the interpretation of how each individual does things, happenings, facts and phenomena, all of which are permeated by culture.
To gather together the women’s experiences we used ethnographic elements in conjunction with interference research, where the researcher and that which is being researched are not separated, meaning that the former is not neutral. However, despite the absence of neutrality, it is important to consider that asymmetries coexist in power relations. In this approach, the researcher senses which tools are needed after entering the field, as the dynamics of the relationship determine which tools to employ12,13.
The study was conducted in three stages: 1) contact with the research setting; 2) meetings with women living on the streets during the work undertaken by the mobile clinic (CnaR, acronym in Portuguese); and 3) processing/analysis of the women’s experiences.
In the first stage, the resident and field supervisor initiated contact with the research setting, more specifically with the coordinators of the Hélio Pelegrino Polyclinic, which has nine family health teams and a mobile clinic (CnaR). This process took place between January and August 2024, when the resident actively participated in the work carried out by the CnaR and established bonds with the women living on the streets in Program Area 2.2 together with the field supervisor.
The meetings with the women took place during mental health nursing consultations in the CnaR consulting room and visits and consultations on the streets. The meetings lasted an average of 45 minutes and focused on stories related to intersecting oppressions (race, gender, ability, age, and others) and on the mental health care demands and care networks that the women built, which were noted down in a field diary. The notes were compiled based on the relationships between the researchers and the women, drawing on narratives produced in response to questions about intersectionality and life on the streets. In addition to note taking, other data were collected from the women’s medical records.
Ethnographic research strategies encompass participant observation and understanding symbols and categories to refer to a group. During the observation process, the researchers used a checklist with items to be observed and noted down in the field diary, including ways of living and the women’s support networks.
The third stage consisted of data analysis using domain analysis14, following six interrelated steps: selecting a semantic relationship; preparing a domain analysis worksheet; selecting field notes; searching for possible terms and included terms that appropriately fit the semantic relationship; repeating the search for other semantic relationships; and making a list of all identified domains. These latter are made up of different categories.
The notes were read carefully and transformed into a single text for each woman grouping together their statements, including information relevant to the study goals. The research team excluded statements that had nothing to do with the study topic and goals, grouping the data and defining the categories.
To this end, the following inclusion criteria were established: cis women aged over 18 living on the streets in Program Area 2.2 and affiliated to the CnaR. The exclusion criterion was women with who it was not possible to establish a relationship during the data collection period. Thus, sampling consisted of the intentional selection of participants based on the emotional bond formed between the researchers and the women.
The study was conducted in accordance with the norms and standards set out in national health council resolutions 466/2012, 510/2016 and 580/2018, and was submitted to UERJ’s research ethics committee (report reference number CAAE: 48468621.6.0000.5282).
RESULTS
Eleven participants aged between 18 and 45 took part in the study, 10 of whom self-identified as black (eight black and two brown) and one as white. All the participants had failed to complete elementary school or high school. With regard to work and income, all participants had informal jobs such as refuse and recyclable material collectors. Six of the women received benefits such as bolsa família payments and five were in the process of recovering personal documents to apply for welfare benefits. It is worth noting that all the women are mothers, live in the vicinity of the family clinic and are in long-term, monogamous relationships with cisgender men.
Fictitious names were used for data organization purposes to preserve the women\'s identities. For data processing purposes, the content of recurring statements were grouped into the following three categories: “Intersectionalities and the lives of women on the streets”; “Broken networks that cause suffering to women living on the streets”; and “Support networks that women living on the streets build for themselves”.
INTERSECTIONALITIES AND THE LIVES OF WOMEN LIVING ON THE STREETS
What is life like for women living on the streets? What are the main causes of suffering beyond poverty? How does machismo constitute yet another channel for oppression in these women\'s lives? Although it is not intended to answer such questions in a universal sense, this study highlights some common issues in the lives of these women.
During our time in the field, one of the things that caught our attention with regard to healthcare was that, while each woman’s story was unique, certain aspects of life were repeated in their accounts. Based on the repetition of these themes, this initial analysis addresses the recurrence of suffering linked to racism, class and gender inequalities, which is expressed in the objectification of these women’s bodies and in vulnerabilities expressed through fear of sexual violence.
“Yes, I’m going to sort my documents out. Because us who live on the streets are already very humiliated, because for example, I’m poor, I have nowhere to fall down dead, I’m screwed, I’m chocolate brown (laughs) and I still dress in these clothes!! If I don\'t get myself some better clothes, it’ll be difficult to get any change” (Yara).
“This is where I sleep, but I can only sleep here with my things undisturbed because the store closed down. If it gets rented out, they\'ll kick me out, right? They think I\'m an animal, that I\'m dark cos I’m dirty. I\'m not. I shower, I\'m black because God made me this way. But I\'m alright to hump (referring to rape). That\'s what they (men) do, they don\'t even respect my partner. They think all women on the street are whores. I\'m not a whore!” (Janaína).
The following account highlights drug use is often a livelihood on the streets and the vulnerability experienced by black homeless women.
“I get really tired in the morning because I stay up all night on the lookout (referring to using drugs to stay awake), because when new bums arrive on the sidewalk, I can\'t be caught off guard, because I don\'t know whether they\'re a bad man, whether he\'s going to force himself on me. You know, men have the devil in them, right?!” (Madalena).
Another participant shows us that relationships are mediated by gender inequalities, where women\'s bodies are seen as objects and a source of labor.
“My husband knows I\'m here using (drugs), but he goes wild cos he thinks I\'m having sex with other men to get high. But I\'m not! The guys at the trap house respect me. Of course, I have to do some odd jobs for them. I clean, wash their stuff, and they pay me in drugs” (Jocasta).
Many accounts show that women living on the streets who have romantic relationships with men are susceptible to sexually transmitted infections (STIs), as seen in the following statement.
“I catch this crap from my husband. He gets off his head and mixes with everyone. I\'m faithful to him. I\'ve been living with this jerk for over 20 years, and it\'s not the first time I\'ve caught a disease. When I had a baby I discovered a load of things. All his fault. It’s always him!” (Yvone).
The women also mentioned suffering racism and exclusion based on social class. However, they emphasized gender inequalities, positioning themselves as their partners’ caregivers.
“He\'s irresponsible, doctor! He needs to understand that we\'re in it on our own. We\'re black and poor. If we don\'t take care of ourselves, who will? I\'m the one who reminds him to eat, to do stuff. Sometimes I tell him to get his life together. But he uses so much shit that he loses himself. I use drugs too, but I go to my appointments, my vaccinations are up to date, I do my thing. He only eats cos I\'m with him. The day I tire (of him), he\'ll have to find another sucker to take my place” (Emilia).
The accounts also show how the women view their existence, often seeing themselves as objects and belittling their appearance.
“Rich, sophisticated people are disgusted by me, doctor. If I was covered in gold, people would still look down on me. I think it\'s because my hair is coarse, I don\'t know. Or because I\'m brown. But every man who’s been with me, be they tall, white, black, rich, poor, every one, they all fall at my feet. Because I know how to do it right (looking around and laughing, referring to sex). I doubt my current husband would trade me for any old chick” (Aldicéia).
These women’s accounts show that living on the streets creates a constant feeling of worthlessness due to structural racism, neglect by the state and gender inequalities and vulnerabilities imposed on their bodies simply because they are women.
BROKEN NETWORKS THAT CAUSE SUFFERING TO WOMEN LIVING ON THE STREETS
Although oppressions of gender, class and race are causes of suffering, other factors also affect the lives of women living on the streets, such as conflicts arising from broken family ties, which is a recurring theme in the accounts of the women who participated in the study.
These women\'s experiences reveal difficulties in both family relationships and returning to their home town, demonstrating the complexity of the oppressions that cause suffering, as illustrated in the following account:
“I haven\'t spoken to my family for over two years. They don\'t believe I\'m quitting this shit (drugs). And I can\'t go back home because we\'re sworn to death in the community. For their own safety, it\'s better for us to stay here and get on with our lives. Me, Damião and God” (Emília).
Certain statements clearly show distancing from close relationships and the stigma that people living on the streets are dangerous and therefore cannot be close to their families, especially their children, as the following participant points out:
“I talk to my mum almost every month because she looks after my daughters for me. But she doesn\'t want me too close to them because she thinks we\'re a bad influence. And we are, right? But I, as their mother, and he, as their father, have rights, but since she looks after them, I let it go (she says crying)” (Alcione).
Some of the women’s accounts show that drug use is understood to be a choice made by the person who is suffering and has a spiritual dimension, with abstinence being a condition for returning home, as illustrated below:
“My mum says the devil makes me use this stuff. I\'m tired of asking for help, but she says I can only come home if I stop using. But to stop, I need to go home, right doctor?” (Benedita).
These discourses demonstrate that the suffering experienced on the streets is often part of a complex set of factors that intersect with life experiences, with broken ties being one of the factors that cause suffering among women living on the streets.
SUPPORT NETWORKS THAT WOMEN LIVING ON THE STREETS BUILD FOR THEMSELVES
In addition to highlighting the intersectional dimensions of suffering resulting from family breakdown, our findings also shows that there is potential on the streets. Close relationships formed on the streets can provide support for these women, even enabling monitoring by the CnaR and the provision of care through an affective and solidarity network, as can be seen in the following excerpts:
“There’s no other way here, on the street we have to rely on ourselves. It\'s me and him (the interviewee’s husband), and a few friends who stick with us here. Now that I\'m with you guys here at the clinic, it\'s helped me a lot. But the only people I can really count on are him (the interviewee’s partner), my friend Maria, who lives with us here on the street, and her girlfriend. Because I haven\'t seen my family in a long time” (Yvone).
“We organize our food every day here in the square. And I don\'t give any slack. I put everyone to work to get things done. I might cook, but they have to pull their finger out, right? Because with everyone chipping in, we make a meal. And if you\'re not with us here, it\'s hard to help. João (the interviewee’s husband) and I feel sorry for them, but we can\'t just let anyone come and eat. You have to chip in” (Lenice).
“The owner of the building across the street helps us a lot. She rents more than five apartments. She does a lot for us. But she doesn\'t always come, right? Hunger knocks and we have to fend for ourselves. Food doesn\'t fall from the sky. But when she comes, it\'s easier because she brings hot meals for the seven of us” (Margô).
“He\'s all I’ve got, doctor. He\'s not much, but he\'s all I\'ve got, right? Beggars can\'t be choosers (laughs). We fight, but in the end, we\'re all we\'ve got. Because the streets are tough. Sometimes it\'s better to trust beggars than classy people. There are a lot of bad people in this world. With all these businesses around here, you can count on one hand the people who look us in the eye. If I die here, no one will miss me” (Aldicéia).
DISCUSSION
The results show that black women living on the streets devalue their existence, using terms such as “screwed”, “chocolate brown” and “poor” . These terms reveal that their existence is marked by the devaluation of their blackness, with the repetition of derogatory terms when referring to race exemplifying how racism affects black women through a culture of whitening.
The comments regarding their appearance, such as references to coily hair, reveal how direct the effects of racism are, impeding the women from seeing their own beauty15. The racism faced by black women dehumanizes them, cruelly undermining their ability to perceive their own beauty and love their bodies.
In this respect, in her Pequeno Manual Antirracista (Short Anti-racist Guide) Djamila Ribeiro16 suggests that certain derogatory terms, such as those mentioned by the participants, highlight the difference of being non-white and that, as a rule, being black is seen as a defect.
And when we think about racism aligned with sexism and poverty, it is clear that the intersection of gender, race and class sums up what Collins7 calls a system of power that generates complex inequalities. In other words, intersectionalities are often so intertwined that trying to pinpoint just one of the biases can mean that other dimensions of people\'s social experiences are overlooked.
Furthermore, analyzing interconnected oppressions experienced by black women living on the streets from an intersectional perspective helps us to recognize and reflect on the complexity of the racism they face and the need for intersectional responses to social injustices and gender inequalities7.
In addition to the perception of a socially devalued existence, the women also highlight the objectification of their bodies and violence, which, as Scott¹⁷ points out, is a fact experienced by women in general. For some women in the study, in addition to dealing with hunger and exclusion, they also have to defend themselves from possible attacks by men who could sexually abuse them.
With regard to sexual abuse, Richwin and Zanello18 highlight that these fears affect women in general, but being unprotected every night makes the experience of living on the streets very painful for these women. A study by Oliveira et al.19 shows that being a non-white woman living on the streets is associated with a higher risk of suffering violence. In this respect, Richwin and Zanello18 suggest that structural and intersectional violence act as an authorization to violate the bodies and subjectivities of these women.
The sexualization exposed in women’s accounts is another facet of the same mechanism of annihilation that racism produces20, since women\'s bodies have always been objectified, meaning that the recognition of their bodies is experienced through the success of sexual performance21.
The struggle is no longer against just poverty, but also structural racism, patriarchy and gender inequalities, which are intimately linked and together form the social structure of inequality7.
Regarding the issue of broken family ties, the results suggest that ruptures are permeated by conflict. Brito and Silva22 explain that relationships between people living on the streets and their families are often conflictive because they involve abandonment, existential disintegration and the breakdown of family ties.
In this regard, a 2015 Ministerial Guide on the rights of people living on the streets highlights that more than half of the homeless population remain in cities close to their family home and that breakdown in family relationships was one of the factors that led them to live on the streets. Most of the issues addressed by the guide involve alcohol and drug use23.
Generally, conflicts related to drug use involve cultural issues of a religious nature, with family members viewing the problem as sinful and emphasizing the idea of abstinence, making it difficult to seek help from local health services such as CnaRs and psychosocial care centers, for example, which adopt a harm reduction approach24. However, the drug use presented in this study, while stigmatized by society, is often a means of survival, be it through income generation or as an “escape from reality”25.
Despite mentioning lack of family support, it is surprising to find that these women create a life on the streets, mentioning lasting friendships and romantic relationships and connections with the community, demonstrating that they can also count on other women living on the streets25.
Regarding romantic relationships, the stigma attached to women living on the streets questions their marital loyalties, since the male gaze often views their bodies as objects, commodities and labor, responsible for taking care of, watching over and organizing the environment for men. As Federici26 warns, this situation is very common in the experience of being a woman, as these attributes are assigned to women at a very young age. And, as we can see, they are reproduced by women living on the streets. Furthermore, Barros et al.27 maintain that markers of race/skin color in black women living on the streets intersect with precarious social contexts and further reinforce the condition of being overburdened.
However, contrary to the social imaginary, this study shows that these women are loyal, remaining faithful to the agreements they establish with their partners, while at the same time reporting that this loyalty is not reciprocated by their partners28. The author and philosopher hooks15 reminds us that black women go through life being shaped by racism because they do not know love, because they do not experience society\'s loving gaze, and they learn that their bodies and appearance are not humanized.
Regarding the emotional neglect by men of their partners, the participants\' accounts also show a lack of commitment from their partners to reducing drug use and exposure to unprotected sex with third parties, making these women more vulnerable to STIs than women not living on the streets 29. Here we are not judging the partners\' behavior but rather analyzing how women in general – living on the streets or not – are more responsible when it comes to caring in sexual and close relationships, which we consider to be a strength30.
Despite this combination of social inequalities, one of the strengths of these women on the streets are support networks. Sanicola31 suggests that support networks are care strategies that can be divided into primary and secondary levels. The primary support network consists of relationships with family, friends and neighbors, while the secondary network refers relationships with institutions, NGOs and employment.
The women in this study mentioned that other people living on the streets provide company and support, revealing spaces for sharing and solidarity. Regarding the support provided by solidarity networks on the streets, Gramajo et al.32 suggest that this type of connection between people often enables healthcare, providing support and the link between the health team and the person being cared for.
Thus, when it comes to the support networks that women build for themselves, the results show that, in addition to mutual help and community spirit, these people are often a reference for the health team when locating people living on the streets and assessing their health and suffering.
The participants also mentioned support received from people living close to where they live. The women reported receiving food donations from people living in the surrounding area. However, while helping in relation to the urgency of hunger, this type of action is not self-sustaining as it depends on the goodwill of the person making the donation. Although this type of action is charitable, reinforced by the Christian culture of “helping the poor”, it strays from the notion of human dignity and human rights, in which the issue of hunger is anchored33.
This situation also demonstrates how charitable actions emphasize social inequalities and can cause discomfort to people living on the streets, because despite being well-off, the donor only donates food, and only sometimes. We are of course not suggesting that the person making the donations should do so on a more regular basis. The analysis focuses on providing collective solutions to this problem based on guaranteeing rights rather than the responsibility of a charitable individual33.
In addition to estrangement from family members due to conflict, mutual-help networks and charitable donations by local residents, we observed that the importance of relationships with partners is a recurring theme in the interviewees’ accounts, constituting their primary support network21. Despite experiencing suffering and feeling overburdened in these relationships, the participants mention that these men are their support network and maintain lasting monogamous relationships with their partners, contrary to the common perception that these women live a life of prostitution.
The findings clearly show that the bonds built with their partners and their partnership on the streets are the ties that most keep them alive. Although these relationships cause them suffering, they are also an important source of emotional support31,32.
The findings suggest that the women feel protected by the status of being a “married woman” as it provides a certain degree of security from the dangers on the street and they have often built an emotional history involving children, meaning that they remain in these relationships.
The intersectional dimensions linked to the race, gender and class of women living on the streets intersect with the disintegration of family and territorial networks, producing a unique type of suffering that requires care policies aimed at strengthening the support networks they build for themselves and promoting social justice. As Collins7 maintains, by recognizing that social inequality is rarely caused by a single factor, intersectionality adds additional layers of complexity to understandings of social inequality. Thus, discussions about the ways of living of women living on the streets need to be based on an intersectional analysis.
FINAL CONSIDERATIONS
Drawing on the concept of intersectionality, this study observed the ways of living and support networks of women living on the streets in Rio de Janeiro’s Program Area 2.2. The findings reveal a profile characterized by predominantly young married black mothers in heterosexual monogamous relationships.
The results show that their ways of living are deeply marked by the devaluation of blackness and by the objectification, abandonment and violence their bodies are subjected to in their relationships with men living in the territory. Some of the women demystify drug use as something that is not only destructive, but also a form of protection and self-care. The results show that mental health care should address not only poverty, but structural racism, patriarchy and gender inequalities, which are intimately linked.
In relation to support networks, the findings show that close relationships provide support and sustenance in the lives of these women, especially friendships developed on the streets, marital relationships and the presence of the CnaR team, which builds bonds over time. In contrast, the results show that family conflicts are very common and generally involve drug use and cultural issues of a religious nature.
By addressing the topic of the ways of living of women living on the streets, we seek to highlight the potential of mental health care for these women in the territory where they live, understanding the specificities of being a woman, their experiences of living on the streets and the networks they depend on to take care of themselves.
FINANCIAMENTO
Apoio financeiro concedido ao Dr Ricardo de Mattos Russo Rafael pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil, na forma de bolsa de produtividade em pesquisa nível 2, sob Processo no. 312056/2022-2.
REFERENCES
1. Tiburi M. Ninguém mora onde não mora ninguém. Cult – Revista Brasileira de Cultura 2011; 155(14):27.
2. Merhy EE, Cruz KT, Gomes MPC. Sinais que vem da Ruas: o outro no seu modo de existir como pesquisador-intercessor. In: Carvalho SR, Oliveira CF, Andrade HS, Cheida RS. Vivências do cuidado na rua: produção de vida em territórios marginais. Porto Alegre: Rede Unida; 2019. p. 75-107.
3. Kilomba G. Memórias da Plantação. Episódios de Racismo Cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó; 2019.
4. Almeida S. Racismo estrutural. São Paulo: Editora Jandaíra; 2019.
5. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil (2018a 2022). Nota técnica nº 73. Brasília: IPEA; 2020.
6. Brasil. Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. População em Situação de Rua: diagnóstico com base nos dados e informações disponíveis em registros administrativos e sistemas do Governo Federal [livro na internet]. Brasília: MDHC; 2023 [acessado 2025 fev 25]. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/populacao-em-situacao-de-rua
7. Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. Tradução de Rane Souza. 1ª ed. São Paulo: Boitempo; 2021.
8. Núñez GDL. Nhande ayvu é da cor da terra: perspectivas indígenas guarani sobre etnogenocídio, raça, etnia e branquitude [tese]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2022.
9. Renak A. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras; 2020.
11. Geertz C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro, RJ: LTC; 2008.
12. Figueiredo EBL, Andrade EO, Muniz MP, Abrahão AL. Pesquisa-interferência: um modo nômade de pesquisar em saúde. Rev Bras Enferm 2019; 72(2):598-603.
13. Moebus RLN. Pesquisa interferência desde Heisenberg. Diversitates 2015; 7(1):54-61.
14. Spradley J. Participant observation. New York: Holt, Rinehart and Winston; 1980.
15. hooks b. Tudo sobre o amor: novas perspectivas. Tradução Stephanie Borges. São Paulo: Elefante; 2021.
16. Ribeiro D. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo: Companhia das Letras; 2019.
17. Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educ Real 2017; 20(2):71-99.
18. Richwin I, Zanello V. “Desde casa, desde berço, desde sempre”: violência e mulheres em situação de rua. Rev Estud Femin 2023; 31(1):e77926.
19. Oliveira GCM et al. Tipificação e fatores associados à ocorrência de violência em pessoas em situação de rua em um município de Minas Gerais, Brasil. Cien Saude Colet 2023; 28(6):1607–17.
20. hooks b. E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos; 2020.
21. Carmo NA, Rodrigues OS. “Minha carne não me define: a hipersexualização da mulher negra no Brasil. O Público e o Privado 2021; 40:73-100.
22. Brito C, Silva LN. População em situação de rua: estigmas, preconceitos e estratégias de cuidado em saúde. Cien Saude Colet 2022; 27(1):151-160.
23. Conselho Nacional do Ministério Público. Guia de Atuação Ministerial: defesa dos direitos das pessoas em situação de rua. Brasília: CNMP; 2015.
24. Reis CA, Ferrazza DA. Redução de danos em um CAPSad: discursos e práticas profissionais. Rev Psicol Saude 2022; 14(1):3-18.
25. Silva AB, Olschowsky AC, Silva TJ, Pavani FM. Desvelando a cultura, o estigma e a droga enquanto estilo de vida na vivência de pessoas em situação de rua. Cien Saude Colet 2020;25(10):3713-3721.
26. Federici S. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista. São Paulo: Editora Elefante; 2019. p. 388.
27. Barros KCC, Moreira RCR, Oliveira JF, Nascimento DFB, Jesus MEF, Ferreira RBS. Vulnerabilidades de mulheres em situação de rua: marcadores sociais de gênero e raça/cor. Rev Rene 2022; 23:e80608.
28. Nardes S, Giongo CR. Mulheres em situação de rua: memórias, cotidiano e acesso às políticas públicas. Rev Estud Fem 2021;29(1):e66011.
29. Santos BS, Faria MF. Vulnerabilidade de moradoras de rua à infecções sexualmente transmissíveis. Braz J Develop 2022; 8(5):40903-40918.
30. Esmeraldo AFL, Ximenes VM. Mulheres em situação de rua: implicações psicossociais. Psicol Cien Prof 2022;42:e235503..
31. Sanicola L. As dinâmicas de rede e o trabalho social. 2ª ed. ampliada. São Paulo: Veras Editora; 2015.
32. Gramajo CS, Maciazeki-Gomes RC, Silva PS, Paiva AMN. (Sobre)viver na Rua: Narrativas das Pessoas em Situação de Rua sobre a Rede de Apoio. Psicol Cien Prof 2023; 43:e243764.
33. Alvarenga R, Gulisz IC. As violações de direitos humanos da população em situação de rua na cidade de Curitiba. Rev Inter de Dir Humanos 2022; 10(1):97-114.
34. Brito RC, Koller SH. Desenvolvimento humano e redes de apoio social e afetivo. In: Carvalho AM, organizador. O mundo social da criança: natureza e cultura em ação. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999. p. 115-130
35. Taylor S. Lazos Vitales: de cómo el cuidado y el afecto son esenciales para nuestras vidas. Madrid: Taurus/Pensamiento; 2002. 382p.
Como
Citar
Paquiela, EOA, Silva, JS, Figueiredo, EBL, Koopmans, FF, Rafael, RMR, Nunes, AS, Souza, AC. Mulheres que vivem na Rua: uma análise interseccional sobre os modos de viver e a rede de apoio que constroem para si. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/set). [Citado em 05/12/2025].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/mulheres-que-vivem-na-rua-uma-analise-interseccional-sobre-os-modos-de-viver-e-a-rede-de-apoio-que-constroem-para-si/19801