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0325/2025 - Mulheres que vivem na Rua: uma análise interseccional sobre os modos de viver e a rede de apoio que constroem para si
Women living on the street: an intersectional analysis of the ways they live and the support network they build for themselves

Autor:

• Eliane Oliveira de Andrade Paquiela - Paquiela, EOA - <aneoandrade3@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0916-9203

Coautor(es):

• Julia Santos Silva - Silva, JS - <juliaSilva465@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3361-9577

• Eluana Borges Leitão de Figueiredo - Figueiredo, EBL - <eluanaoft@yahoo.com.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5462-3268

• Fabiana Ferreira Koopmans - Koopmans, FF - <fabianakoopmans@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2238-5469

• Ricardo de Mattos Russo Rafael - Rafael, RMR - <prof.ricardomattos@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1315-4271

• Alessandra Sant'Anna Nunes - Nunes, AS - <asantnunes@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7435-2568

• Ândrea Cardoso de Souza - Souza, AC - <andriacsouza@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6549-8634



Resumo:

O estudo teve como objetivo analisar os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si. Trata-se de pesquisa qualitativa com viés exploratório e elementos etnográficos feito com mulheres viventes das ruas da cidade do Rio de Janeiro. Os dados foram analisados percorrendo três etapas: vinculação com o cenário do estudo; encontros com mulheres que vivem nas ruas a partir do trabalho do Consultório na Rua (CnaR) e o Processamento/Análise das vivências. Emergiram as seguintes categorias de análise dos dados: “Interseccionalidades e o viver das mulheres na rua”, “Redes rompidas causadoras de sofrimento às mulheres que vivem na rua” e “Redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si”. O estudo mostrou os efeitos do racismo, do patriarcado, das opressões de classe e de outras opressões que se interligam e se configuram em sofrimento e apontou para a construção de redes de apoio que as vivências na rua promovem. A partir do conceito de interseccionalidade foi possível refletir sobre a necessidade de compreender as opressões que atravessam os corpos das mulheres para o cuidado tendo em vista a justiça social.

Palavras-chave:

Pessoa em situação de rua; Rede de apoio social; Interseccionalidade; Papel de Gênero.

Abstract:

The aim of the study was to analyze the ways of living and the support network that women living on the streets build for themselves, through an intersectional lens. This is qualitative research with an exploratory bias and ethnographic elements, carried out with women living on the streets in the city of Rio de Janeiro. The data was analyzed in three stages: connection with the study scenario; meetings with women living on the streets through the work of the Street Clinic (CnaR); and processing/analysis of the experiences. The following categories of data analysis emerged: “Intersectionalities and the lives of women on the street”, “Broken networks causing suffering to women living on the streets” and “Support networks that women living on the street build for themselves”. The study showed the effects of racism, patriarchy, class oppression and other oppressions that are interconnected and shape psychic suffering and pointed to the construction of support networks that living on the street promotes. Based on the concept of intersectionality, it was possible to reflect on the need to understand the avenues of oppression that cross women's bodies in order to provide care with a view to social justice.

Keywords:

Homeless people; Social support; Intersectional; Gender roles.

Conteúdo:

INTRODUÇÃO

O estudo tem como objeto os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si. De partida, a título de esclarecimento, é importante destacar que utilizaremos a expressão ‘vivente da rua’, como sugeriu Tiburi1 e mais tarde Merhy2. Os autores apostam no termo pois ainda que ‘situação de rua’ queira se diferenciar de ‘morador de rua’, estar em situação de rua impõe uma condição temporária e passiva à essas pessoas, enquanto a palavra vivente, evoca uma dimensão da vida que ocupa as ruas e os espaços da cidade, o que traz alguma dignidade ativa por parte das pessoas e suas existências, e não meramente a ideia atribuída à coitados passivos e sem moradia.
Há de se considerar que, os modos de viver das mulheres em situação de rua historicamente estão atrelados a uma suposta invisibilidade, onde até mesmo o termo ‘invisibilidade’ é parte de uma estrutura que não apenas produz esse discurso coletivo de que são coitadas, usuárias de drogas, marginais, prostitutas, perigosas, e não vistas pelo Estado, como também produz certo apagamento das singularidades de tais existências, como sugerem Kilomba3 e Almeida4. Somado a isso, quando o assunto é posto sob as lentes de gênero, as mulheres ficam circunscritas dentro de um perfil que é em sua maioria traçado por homens negros e usuários de drogas5,6.
Todavia, ainda que mulheres sejam minoria dessa população, há especificidades em ser mulher e viver nas ruas que necessitam ser refletidas à luz das relações interseccionais e de poder que sustentam as desigualdades de raça, gênero, classe, idade, capacidade, sexualidade e tantas outras7.
Segundo Collins7, a interseccionalidade revela como as estruturas de opressão se relacionam de maneiras complexas em um emaranhado que se traduz em desigualdade econômica indo além da ideia própria de pobreza. Assim, ao pensar os modos de viver dessas mulheres, reconhecemos os muitos atravessamentos e as diferentes opressões que são submetidas, uma delas é a estrutura machista e patriarcal que ora se traduz como violência, ora como rede de “proteção”.
No Brasil, a base fundante dessas estruturas tem efeitos muito particulares nas pessoas, pois estão ligadas intrinsecamente ao colonialismo e a experiência da escravização tanto dos povos indígenas, quanto dos povos vindo de África8. Essas são marcas profundas que reverberam em nossa gente e que atinge a todos e todas, ainda que algumas sintam mais fortemente esses processos, sofrendo racismos e exclusões de toda natureza9.
Todas essas opressões que as mulheres viventes das ruas têm, repercutem em sofrimentos cotidianos em detrimento do contexto social machista, racista, colonialista, misógino, sexista, e tantas outras problemáticas excludentes que atravessam a sociedade brasileira. No entanto, mulheres que vivem nas ruas sentem e nomeiam as opressões que se moldam mutuamente em seus corpos, mas, há uma lacuna de reconhecimento no campo do cuidado em saúde que faz com que elas sejam pouco validadas, transformadas em políticas públicas e em justiça social.
Nessa problemática a ser enfrentada pelos trabalhadores e trabalhadoras da saúde, sobretudo, os que atuam no campo da saúde mental e da saúde coletiva, a lente interseccional ajudará a explorar como as desigualdades de gênero, raça, classe, sexualidade, idade, etnia e tantas outras se agenciam em forma de sofrimento.
Considerando o exposto, emerge a seguinte questão: Como são os modos de viver e as redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si? Diante disso, o estudo tem como objetivo analisar os modos de viver e a rede de apoio que mulheres que vivem na rua constroem para si, segundo perspectivas interseccionais.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo qualitativo com viés exploratório, com elementos etnográficos, justificado pelo interesse na investigação das subjetividades e das experiências sociais por meio das vivências. Esta investigação elegeu como fenômeno a realidade social de mulheres viventes da rua a partir da vivência de uma enfermeira na modalidade de residência uniprofissional em enfermagem psiquiátrica e saúde mental ligada a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) na Área Programática 2.2 da cidade do Rio de Janeiro. Este estudo é um recorte de uma pesquisa maior desenvolvida na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, que tem como objeto de estudo as práticas de cuidado a pessoas em situação de rua. Dessa forma, este estudo permite o aprofundamento no tema, ora por coleta de dados, ora analisando os resultados10.
Para Geertz11, o estudo etnográfico permeia a teoria interpretativa da cultura, considerando que a descrição etnográfica é interpretativa e o que se interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação envolvida. O fazer etnográfico pressupõe uma descrição da interpretação de cada indivíduo faz das coisas, dos acontecimentos, dos fatos, dos fenômenos, todos permeados pela cultura.
Como um modo de recolher as vivências dessas mulheres foram utilizados elementos etnográficos em conjunto com a pesquisa interferência, onde entende-se que não há separação entre pesquisador e pesquisado, logo, o pesquisador não se enquadra na neutralidade científica, todavia, mesmo diante da ausência de neutralidade, há de se considerar que coexistem assimetrias presentes nas relações de poder. Nesse modo de pesquisar, a pesquisadora vai sentindo as necessidades de ferramentas, e não é decidido antes da entrada no campo, pois é a dinâmica da relação que vai dizer quais ferramentas serão acionadas12,13.
Para acompanhar o movimento da pesquisa, o estudo se deu em 3 etapas. A saber: 1) vinculação com o cenário do estudo; 2) encontros com mulheres que vivem nas ruas a partir do trabalho no Consultório na Rua (CnaR) e o Processamento/Análise das vivências das mulheres.
Na primeira etapa procedeu-se a vinculação da residente e da supervisora de campo ao cenário do estudo, especificamente junto a coordenação da Policlínica Hélio Pelegrino que comporta nove equipes de saúde da família e a equipe do Consultório na Rua (CnaR) do território. A vinculação se deu dos meses janeiro a agosto do ano de 2024, período em que a residente participou ativamente do trabalho no CnaR e construiu relações e vínculos com as mulheres viventes da rua da AP 2.2 juntamente com a supervisora de campo.
Esses encontros se deram a partir da consulta de enfermagem em saúde mental tanto em consultório base do CnaR, quanto nas abordagens e consultas feitas nas ruas. Esses encontros duravam em média 45 mim com especial atenção as histórias relacionadas aos atravessamentos interseccionais (raça, gênero, capacidade, idade e outros), às demandas de cuidado em saúde mental e as redes de cuidados que as mulheres iam construindo, para isso, foram utilizadas anotações em diário de campo. Essas anotações foram construídas com base nas relações entre as pesquisadoras e as mulheres, a partir das narrativas feitas através de questionamentos relacionados a interseccionalidade e o viver das mulheres na rua. Além do diário de campo, outros dados foram coletados a partir do prontuário dessas mulheres.
As estratégias de investigação etnográficas perpassam especialmente às técnicas de observação participante e a compreensão de símbolos e categorias para se referir a um grupo. No processo de observação foi utilizado um roteiro com os elementos a serem observados e anotados no diário de campo, que perpassavam os modos de viver e as redes de apoio das mulheres na rua.
A terceira etapa deu início ao momento da análise dos dados. A análise dos dados seguiu a análise etnográfica de domínio14, que inclui seis passos inter-relacionados, como: Eleger uma relação semântica; Preparar uma ficha de análise de domínio; Eleger notas de campo; Buscar possíveis terminologias com relações semânticas; Repetir a busca com outras relações semânticas; e Listar todos os domínios identificados. Esses domínios constituem-se de categorias.
As anotações foram cuidadosamente lidas, e transformadas em um texto único de cada mulher, agrupando as falas de cada uma delas, levando em consideração as informações relevantes para os objetivos propostos. A equipe foi excluindo falas que não se enquadravam nos objetos e nem respondia ao objetivo. Com isto, os dados foram agrupados e foram traçadas categorias.
Para tanto, estabeleceu-se como critério de inclusão: mulheres (cis), maiores de 18 anos e viventes das ruas da área programática 2.2 e vinculadas ao CnaR do território. E critério de exclusão: mulheres em que não foi possível vinculação no período da coleta de dados. Assim, a escolha da população de estudo se deu de forma intencional pelas pesquisadoras, a partir do vínculo afetivo produzido entre as pesquisadoras e as mulheres.
A pesquisa seguiu as Resoluções CNS/MS n° 466/2012, CNS/MS n° 510/2016 e CNS/MS n° 580/2018, tendo sido submetida ao Comitê de Ética da UERJ, sob o parecer CAAE: 48468621.6.0000.5282.
RESULTADOS
Ao total, 11 participantes integraram a pesquisa, sendo 10 mulheres que se autodeclararam negras (8 pretas e 2 pardas) e 1 branca, com faixa etária de 18 a 45 anos. Quanto à escolaridade, todas tinham ensino fundamental, ou médio incompletos e nenhuma havia ensino superior. Em relação a trabalho e renda, todas estavam em trabalhos informais, como catadora de recicláveis. Seis mulheres possuíam algum tipo de benefício como bolsa família e cinco estavam em tramitação de resgate de documentos para dar entrada em benefício da assistência social. Ressalta-se que todas são mães, ficam pela região da clínica da Família, todas mantém relacionamentos duradouros, monogâmicos com homens cisgêneros.
Na organização dos dados foram utilizados nomes fictícios para preservar a identidade das mulheres. Para tratamento dos dados, os conteúdos das falas que se repetiam foram agrupados, resultando em três categorias, sendo elas: “Interseccionalidades e o viver das mulheres na rua”, “Redes rompidas causadoras de sofrimento às mulheres que vivem na rua” e “Redes de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si”.
INTERSECCIONALIDADES E O VIVER DAS MULHERES NA RUA
Como é o viver das mulheres na rua? Como é o viver de mulheres negras na rua? Quais sofrimentos atravessam seus corpos para além e com pobreza pujante? Como o machismo se constitui com mais uma avenida de opressão no viver dessas mulheres? Tais perguntas, não se pretendem ser respondidas no sentido universal, mas há algo em comum no viver dessas mulheres que o estudo evidencia.
Durante o tempo que passamos no campo de pesquisa, uma das coisas que nos chamou a atenção no cuidado em saúde foi que apesar de todas as histórias serem muito singulares, algumas dimensões da vida dessas mulheres se repetiam nas histórias. A partir dessa repetição das temáticas, estamos propondo essa primeira análise sobre a recorrência nos discursos dos sofrimentos ligadas ao racismo, classe e às desigualdades de gênero que se expressam na objetificação de seus corpos e nas vulnerabilidades expressas por medo das violências sexuais.
“Eu vou sim pegar os documentos. Porque nós que vive na rua, já somos muito humilhadas, porque eu por exemplo, sou pobre, não tenho onde cair morta, sou queimadinha, marrom bombom (risos), ainda me visto com essas roupas!!Se eu não arrumar uma roupa melhorzinha fica difícil de conseguir um troco” (Yara).
“É aqui que eu durmo, mas só posso ficar aqui com minhas coisas quieta, porque essa loja está fechada, se alugar, vão me tirar daqui né!? Eles acham que eu sou bicho, que sou escura de sujeira. Não sou. Eu tomo banho, eu sou preta porque deus me fez assim. Mas para me pegar (refere estupro) eu sirvo. É assim que eles (homens) faz, não respeita nem meu companheiro. Eles acham que toda mulher de rua são puta. Eu não sou puta!” (Janaína).
Nessa fala a seguir, ficam expressos tanto o uso de droga como algo para sustentar a vida na rua, quanto à vulnerabilidade de estar na rua enquanto um corpo negro e de mulher.
“Eu fico muito cansada de manhã, porque passo a noite na vigia (referindo que usou drogas para ficar acordada), porque quando chega os mavambos novos na calçada, eu não posso vacilar, porque não sei se é homem ruim, se vai me pegar a força. Você sabe, homem tem diabo no corpo né?!” (Madalena).
Já essa outra participante nos mostra que as relações são mediadas pelas desigualdades de gênero, onde o corpo da mulher é vista como objeto e como força de trabalho.
“Meu marido sabe que tô aqui usando, mas fica bolado porque pensa que estou tendo relação com outros macho para conseguir usar. Eu não tô! Os cara da boca me respeitam. É claro que um servicinho ou outro eu tenho que fazer. Eu limpo, lavo as coisas deles e eles me pagam em droga” (Jocasta).
Havia muitos relatos que também demonstravam como a mulher que vive na rua e mantém relações amorosas com homens, ficam suscetíveis a infecções sexualmente transmissíveis, como vemos no próximo relato.
“Essas porcaria eu pego do meu marido. Ele fica doidão e se mistura com todo mundo. Eu sou fiel a ele. Mais de 20 anos vivendo com essa desgraça e já não é a primeira vez que pego doença. A vez que fui ter filho, descobri um monte de coisa. E é tudo dele. Sempre ele! (Yvone).
As mulheres também mencionavam seus sofrimentos advindos de racismos e exclusão de classe. Mas deixavam claro as desigualdades de gênero, pois se colocavam como cuidadoras de seus companheiros.
“Ele é irresponsável, dotora! Ele tem que entender que somos nós por nós. Já somos preto, pobre. Se a gente não se cuidar, quem vai? Eu que lembro a ele de comer, de fazer as coisas. Às vezes eu falo pra ele dá um rumo na vida. Mas ele fica usando tantas merdas juntas, que se perde. Eu uso também, mas venho as consultas, tomo as vacinas em dia, faço meu corre. Ele come ainda porque eu estou com ele. O dia que eu cansar, ele vai ter que arrumar outra trouxa para botar no lugar” (Emilia).
Havia também a maneira como as próprias mulheres enxergavam sua existência, muitas vezes se vendo quanto objeto e depreciando suas aparências.
“As pessoas finas e ricas têm nojo de mim, doutora. Eu posso tá coberta de ouro, que as pessoas olham de cima a baixo. Eu acho que é porque tenho cabelo duro sei lá. Ou porque sou assim morena fechada. Mas todo homem que ficou comigo, seja alto, branco, preto, rico, pobre, todos, todos morrem aos meus pés. Porque eu sei trabalhar direitinho (falava olhando para as pessoas e ria, se referindo ao ato sexual). Meu marido de agora, duvido me trocar por amapôa qualquer” (Aldicéia).
Os discursos dessas mulheres, mostram que ser uma vivente das ruas, as colocam em constante sentimento de desvalia causado pelo racismo estrutural, pelo desamparo do Estado e vulnerabilidades e desigualdades de gêneros que são impostas aos seus corpos pelos simples fatos de serem mulheres.

REDES ROMPIDAS CAUSADORAS DE SOFRIMENTO ÀS MULHERES QUE VIVEM NA RUA

Apesar das opressões de gênero, classe e raça se configurarem como um causador de sofrimento, há outros fatores que também se impõem na vida das mulheres que vivem na rua, como por exemplo, os conflitos decorrentes dos vínculos rompidos com os familiares, assunto recorrente no discurso das mulheres que participaram da pesquisa.
Sobre essa questão da relação com familiares, as vivências dessas mulheres demonstram que há dificuldades tanto na relação familiar quanto ao retorno aos territórios de origem, demonstrando a complexidade das opressões que causam sofrimentos para essas mulheres que vivem nas ruas, como aponta o trecho abaixo:
“Faz mais de dois anos que não falo com ninguém da minha família. Eles não acreditam que eu estou parando de usar essas merdas (drogas). E pra lá (casa dos familiares) eu não posso voltar porque estamos jurados (de morte) na comunidade. Para segurança deles mesmo, melhor nós ficar por aqui e vamos seguindo a vida. Eu, Damião e deus.” (Emília).
Em algumas falas fica claro como há um afastamento das relações afetivas e um estigma de que a pessoa em condição de vivente da rua é perigosa e por isso, não pode estar próxima de seus familiares, sobretudo, dos filhos, como afirma uma das participantes:
“Eu falo com minha mãe quase todo mês, porque ela que cuida das minhas filhas para mim. Mas ela mesma não quer que eu fique muito perto delas, porque acha que nós somos má influência para elas. E somos né? Mas eu como mãe e ele como pai tem os direitos, mas como ela cuida, eu deixo para lá. (Nesse momento ela chora).” (Alcione).
Há discursos de algumas mulheres que demonstram que o uso de drogas é entendido como algo de escolha da pessoa que sofre, tendo como explicação certa dimensão espiritual e como condição para o retorno familiar está a abstinência, como vemos a seguir:
“Minha mãe diz que é o diabo que faz eu usar essas coisas. Eu já cansei de pedir ajuda, mas ela diz que só volto para casa, se para de usar, mas para eu parar, dotora, preciso voltar para casa, não é?”. (Benedita).
Tais discursos demonstram que os sofrimentos vividos nas ruas muitas vezes são parte de uma complexidade de fatores que se interseccionam nas experiências de vidas, sendo os vínculos rompidos um dos fatores causadores de sofrimentos de mulheres que vivem nas ruas.

REDES DE APOIO QUE MULHERES VIVENTES DA RUA CONSTROEM PARA SI
Além do apontamento dos sofrimentos interseccionais e decorrentes da ruptura familiar, o estudo mostra também que há potências na rua, sendo este o lugar onde as relações afetivas se configuram de tal maneira a dar sustento nas vidas dessas mulheres, o que possibilita inclusive o acompanhamento pelo CnaR e a construção do cuidado a partir da rede afetiva e de solidariedade, como pode ser visto nos trechos a seguir:
“Aqui não adianta, na rua a gente conta com a gente mesmo. Sou eu e ele (marido), e poucos amigos que fecham com a gente aqui. Agora que tô com vocês aqui no postinho, me ajudou melhor. Mas bendizê só tenho ele (companheiro), minha amiga Maria que fica com a gente aqui na rua e namorada dela. Porque minha família não vejo há muito tempo”. (Yvone).
“A gente organiza todo dia nossa comida aqui na praça mesmo. E eu não dou mole não. Boto todo mundo para conseguir as coisas. Até cozinho, mas eles têm que se mexer né. Porque cada um arrumando alguma coisinha já junta e faz uma comida. E quem não tá com nóis aqui, fica difícil de ajudar. Eu e João (marido) ficamos com pena, mas não dá para qualquer um chegar e comer. Tem que fechar com nóis aqui” (Lenice).
“A dona do prédio aqui de frente, ajuda bastante a gente. Ela tem para mais de 5 apartamentos alugados. Ela faz muito por nóis. Mas nem sempre ela vem né. A fome bate e a gente tem que dar nosso jeito. Não cai do céu. Mas quando ela vem, é mais fácil por que ela traz quentinha para nós 7 aqui” (Margô).
“Eu só tenho ele doutora. Ele não é grandes coisas, mas é aquilo né?! Quem não tem cão, caça com gato (risos). A gente briga, mas no final somos só nós mesmo. Porque a rua é astuta. Às vezes, melhor confiar nos mendigos do que nos bacana. Tem muita gente ruim nesse mundo. Esse monte de comércio aqui, pode contar nos dedo quem olha na nossa cara. Se eu morrer aqui ninguém vai sentir falta não”. (Aldicéia).

DISCUSSÃO
Os resultados demostraram que as mulheres negras que vivem nas ruas percebem sua existência de maneira desvalorizada, utilizando termos como: “queimadinha”, “marrom bombom”, além de “pobre”. Esses termos nos mostram que suas existências são marcadas pela desvalorização de sua negritude, e repetindo termos pejorativos sobre raça, exemplificam como o racismo atinge as mulheres negras a partir de uma cultura do embranquecimento.
As falas sobre suas aparências com menções ao cabelo crespo, por exemplo, nos mostram o quanto o racismo as atinge frontalmente, fazendo com que não vejam beleza em si15. O racismo imposto às mulheres negras as desumaniza, atingindo cruelmente a capacidade de perceber belezas em si e amor por seus corpos.
Nesse sentido, Djamila Ribeiro16 reflete em Pequeno Manual Antirracista que alguns termos pejorativos, como os citados pelas mulheres participantes da pesquisa, marcam a diferença pela ideia de ser não branca, e que, via de regra, ser negra seria apontado como certo defeito.
E quando pensamos o racismo alinhado ao sexismo e pobreza, notamos que tal intersecção que cruza gênero, raça e classe resume um pouco o que Collins7 chama de um sistema de poder que gera desigualdades complexas, ou em outras palavras, que as interseccionalidades, muitas vezes são tão misturadas que tentar pinçar apenas um dos vieses, pode deixar escapar alguma dimensão das experiências sociais das pessoas.
Ademais, o olhar para as opressões que se interconectam em mulheres negras viventes das ruas a partir da interseccionalidade nos ajuda a constatar e a refletir a complexidade que é o tema do racismo pelo qual são submetidas e a necessidade de respostas interseccionais às injustiças sociais e as desigualdades de gênero7.
Somado a percepção de uma existência desvalorizada socialmente, as mulheres nos mostram ainda a objetificação e violências que seus corpos são submetidos, fato experienciado por mulheres no geral, como Scott17 nos aponta. Ocorre, que para algumas mulheres da pesquisa, além de conviver com a fome, com a exclusão, ainda precisam se defender de possíveis ataques de homens que poderiam violar os seus corpos.
Sobre esses relatos de violação dos corpos, Richwin e Zanello18 esclarecem que são medos que atingem as mulheres no geral, mas estar desprotegida todas as noites faz da experiência de viver na rua algo muito sofrido para essas mulheres. Estudo de Oliveira et al.19 mostra que o fato de ser mulher que vive na rua e ser de cor não branca são fatores associados ao maior risco de sofrer violências. Desse modo, as violências estruturais e interseccionais são como certa autorização de violação sobre os corpos e subjetividades dessas mulheres como afirmam Ricwin e Zanello18.
Quanto a sexualização exposta nos discursos, trata-se de outra faceta do mesmo mecanismo de aniquilamento que o racismo produz20, pois os corpos das mulheres sempre foram atingidos de forma objetificante, fazendo com que essas experimentem o reconhecimento de seus corpos, pelo êxito de performance sexuais21.
O enfrentamento passa a ser não apenas da pobreza, mas do racismo estrutural, do patriarcado, das desigualdades de gênero que estão intimamente interligados e constroem juntas a estrutura social da desigualdade7.
Sobre a problemática das redes familiares rompidas de mulheres que vivem na rua, os resultados apontaram para rupturas permeadas por conflitos. Brito e Silva22 nos esclarece que as relações de pessoas que vivem nas ruas e suas famílias, podem ser conflituosas porque envolvem muitas vezes o abandono, a desintegração do território existencial e o afastamento dos vínculos familiares.
Nessa direção, o Guia ministerial do ano de 2015, que trata dos direitos das pessoas que vivem nas ruas aponta que mais da metade da população se mantinha na cidade próxima às moradias de seus familiares, e que as relações entre esses, tornaram-se uma das condições que os levaram para as ruas. Grande parte dos problemas que esse guia traz, é sobre problemas com uso de álcool e outras drogas23.
Geralmente os conflitos que giram em torno do uso de drogas, esbarram em questões culturais de cunho religioso, visto que a existência dessa problemática é encarada por parte dos familiares como algo pecaminoso e pautado na ideia de abstinência, dificultando a busca de ajuda nos serviços de saúde territoriais, como o CnaR e os Centros de Atenção Psicossocial, por exemplo, que trabalham pela lógica da redução de danos24. Porém, o uso de drogas que foi apresentado nesse estudo, ainda que estigmatizado pela sociedade, trata-se muitas vezes de um meio de se manter vivo, seja pela renda seja pela “fuga da realidade”25.
Apesar de mencionarem a falta de apoio de familiares, as mulheres que vivem na rua, nos surpreendem em alguma medida, pois nos mostram que também há produção de vida nas ruas, pois mencionam relações de amizade duradouras, a manutenção das relações amorosas ao longo do tempo, os agenciamentos com a comunidade, evidenciando que podem também contar com outras mulheres que vivem na rua25.
Sobre a perspectiva das relações amorosas, percebemos que o estigma da mulher que vive na rua pode colocar em questão as suas lealdades conjugais, já que muitas vezes os seus corpos são vistos por olhares masculinizantes como objeto, ora como mercadoria, ora como força de trabalho como aquela que cuida, zela e organiza o ambiente para os homens. Como Federici26 nos adverte, essa é uma situação muito recorrente à experiência de ser mulher, pois esses atributos são delegados às mulheres ainda muito novas, e como podemos ver se reproduzem inclusive as mulheres que vivem nas ruas. Ainda, Barros et al.27 afirmam que marcadores de raça/cor em mulheres negras que vivem nas ruas, se interseccionam com contextos sociais precários e reforçam ainda mais a condição de sobrecarga.
Todavia, na contramão do imaginário social, o estudo aponta que há a lealdade por parte das mulheres, pois as mesmas se mantêm firmes aos acordos que estabelecem com seus companheiros, porém, as mesmas denunciam que seus parceiros não retribuem essa lealdade28. A autora e filósofa hooks15 nos lembra que mulheres negras passam pela vida sendo constituídas pelo racismo, pois desconhecem o amor, porque não experimentam o endereçamento do olhar amoroso da sociedade e aprendem que seus corpos, suas aparências não são humanizadas.
Sobre esse abandono afetivo que homens no geral cometem com suas parceiras, podemos analisar sobre os relatos das participantes que também há um descompromisso por parte de seus companheiros em relação à uso reduzido de drogas e exposição às relações sexuais com terceiros de forma desprotegida, o que as colocam em maior vulnerabilidade em relação à exposição de ISTs em comparação com mulheres que não vivem nas ruas29. Aqui não há um julgamento do comportamento dos parceiros, mas uma análise do quanto mulheres viventes da rua ou não, se mostram mais responsáveis no cuidado dentro das relações sexuais e afetivas, o que consideramos uma potência30.
Apesar dessa conjuntura social desigual imposta à essas mulheres, essas também experimentam como potências das ruas alguma Rede de Apoio. Como Rede de Apoio, Sanicola31 define como uma estratégia de cuidado que pode ser dividida como primária e secundária. A rede primária são as relações com familiares, amigos e vizinhos. Já a secundária, seriam as relações advindas de instituições, ONGs, vínculos empregatícios.
As mulheres da pesquisa mencionam que outras pessoas que vivem nas ruas perto delas, são suas companhias e suporte, mostrando que há espaços de compartilhamento e solidariedade. Sobre o suporte das redes de solidariedade que encontram na rua, Gramajo32 entendem que esse tipo de conexão entre as pessoas é o que muitas vezes pode possibilitar um cuidado em saúde, justamente porque funcionam como suporte e faz elo entre a equipe e a pessoa que é cuidada. Portanto, sobre essas redes de apoio que as mulheres constroem para si, os resultados nos mostram que além de demonstrar uma ajuda mútua e esforço comunitário diário, essas pessoas são muitas vezes a referência para equipe sobre localização e situação de saúde e sofrimento.
Há também, referência sobre suporte por parte de pessoas que moram próximas à localidade nas ruas onde essas mulheres vivem. As mulheres relataram que geralmente há doações de alimentos de pessoas que moram no entorno, porém, esse tipo de ação apesar de ajudar em alguma dimensão em relação a urgência da fome, ela não se mantém, pois fica a cargo da boa vontade da pessoa que doa. Esse tipo de ação é muito evocada pela dimensão da caridade, reforçada pela cultura cristã de “ajuda aos pobres”, porém, se afasta da noção da dignidade humana e dos direitos humanos, assunto pelo qual está ancorado a temática da fome33.
Há também outra problemática, pois demonstra o quanto a ação baseada em caridade, evidencia as desigualdades sociais, e pode ser sentida como incômodo por quem vive na rua, visto que, apesar da pessoa que doa ter boas condições financeiras, ela doa apenas comida, e somente, às vezes. Claro que não estamos sugerindo que a pessoa que realiza as doações, faça de maneira recorrente. Aqui a análise se encontra em dar saídas para essa problemática sejam de ordem coletiva baseada em garantias de direitos, e não de responsabilidade de um indivíduo caridoso33.
Para além das análises que trouxemos sobre o afastamento dos familiares por conflitos, a rede de apoio mútuo entre as pessoas e a problemática da doação caridosa por parte de moradores, observamos que há recorrência nos discursos sobre a importância das relações com seus parceiros, evidenciando que são um vínculo muito importante para elas, configurando a principal Rede de Apoio primária21. Apesar de apresentarem alguns sofrimentos e sobrecarga de trabalho com essas relações, elas mencionam que esses homens são sua rede de apoio, e que mantém relações duradouras com esses companheiros, baseados em acordos de exclusividade monogâmica, contrariando a percepção de senso comum imposta à essas mulheres, que imaginam que são mulheres que vivem em condição de prostituição.
Fica evidente na pesquisa que os laços com seus companheiros, e suas parcerias nas ruas, são os vínculos que mais as sustentavam vivas, pois apesar de relações que em alguma dimensão traziam sofrimentos para elas, eram ao mesmo tempo um suporte afetivo importante31,32.
Percebem-se de uma maneira geral que as mulheres participantes da pesquisa, se sentem protegidas pelo status de “mulher casada”, visto que traz certa segurança em relação aos perigos da rua. Além de muitas vezes terem construído uma história afetiva que envolve filhos, fazendo com que essas mulheres permaneçam com essas relações.
Assim, as dimensões interseccionais ligadas a raça, gênero e classe das mulheres que vivem na rua se cruzam com a desintegração das redes familiares e territoriais produzindo sofrimentos com características muito singulares e que precisam de políticas de cuidado com vistas a fortalecer a rede de apoio que mulheres viventes da rua constroem para si e políticas que visem a justiça social. Como afirma Collins7, a interseccionalidade, ao reconhecer que a desigualdade social raramente é causada por um único fator, adiciona camadas de complexidade ao que entendemos ser desigualdade social. Assim, as discussões sobre os modos de viver de mulheres na rua precisam passar por análises interseccionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste estudo, observaram-se à luz do conceito de interseccionalidade os modos de viver de mulheres e as redes de apoio de mulheres que habitam as ruas do Rio de Janeiro, especificamente na área Programática 2,2. Além de demonstrar um perfil que se caracteriza por majoritariamente mulheres negras, jovens, mães, casadas e em relacionamento heterossexual segundo a lógica monogâmica.
Sobre os modos de viver, o estudo mostra que são profundamente marcados pela desvalorização de sua negritude e por certa objetificação, abandonos e violências as quais seus corpos são submetidos na relação com os homens do território. Nesses modos de viver, algumas mulheres desmistificam o uso de drogas como algo apenas destrutivo, mas como proteção e cuidado de si. Os resultados mostram que o cuidado em saúde mental passa a ser pautado não apenas pelo atravessamento da pobreza, mas do racismo estrutural, do patriarcado, das desigualdades de gênero que estão intimamente interligados.
Em relação as rede de apoio, o estudo mostrou que as relações afetivas se configuram como suporte e sustento nas vidas dessas mulheres, sobretudo, das amizades que a rua produz, dos relacionamentos conjugais e da presença da equipe do CnaR que constrói vínculo ao longo do tempo. Por outro lado, o estudo aponta que os conflitos familiares são muito presentes e geralmente giram em torno do uso de drogas e de questões culturais de cunho religioso.
Logo, ao trazermos a temática das mulheres e os seus modos de viver nas ruas, estamos propondo dar língua ao que se pode produzir em termos de cuidado em saúde mental, junto à essas mulheres e o território em que vivem, entendendo que há especificidades no fato de serem mulheres, de vivenciar a rua e das redes que elas contam para cuidar de si.

FINANCIAMENTO
Apoio financeiro concedido ao Dr Ricardo de Mattos Russo Rafael pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) do Brasil, na forma de bolsa de produtividade em pesquisa nível 2, sob Processo no. 312056/2022-2.

REFERÊNCIAS
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Paquiela, EOA, Silva, JS, Figueiredo, EBL, Koopmans, FF, Rafael, RMR, Nunes, AS, Souza, AC. Mulheres que vivem na Rua: uma análise interseccional sobre os modos de viver e a rede de apoio que constroem para si. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/set). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/mulheres-que-vivem-na-rua-uma-analise-interseccional-sobre-os-modos-de-viver-e-a-rede-de-apoio-que-constroem-para-si/19801

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