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Artigos

0288/2024 - O consumo alimentar de brasileiros residentes em domicílios com insegurança alimentar: resultados da POF-2017-2018
Dietary intake of Brazilians living in food insecure households: resultsPOF-2017-2018

Autor:

• Emily Emerick Martins da Silva - Silva, E.E.M - <emily.emerick@unifesp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5236-5376

Coautor(es):

• Josiane Steluti - Steluti, J. - <jsteluti@unifesp.br>
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-7629-4189



Resumo:

O número de domicílios com moradores passando fome saltou de 9% para 15,5% em 2022 no Brasil. A partir de dados da POF de 2017-2018, este estudo explora o consumo alimentar da população brasileira nas diferentes dimensões de (In)segurança alimentar e nutricional-(In)SAN. A EBIA foi utilizada para avaliar o nível de SAN no domicílio, enquanto o consumo alimentar foi avaliado por meio de recordatórios alimentares de 24 horas. Os alimentos foram classificados de acordo com o grau de processamento e em grupos/subgrupos alimentares. Destaca-se que a participação em kcal de alimentos in natura ou minimamente processados foi mais expressiva entre a população em (In)SAN. Houve diferença na frequência de consumo de todos os grupos avaliados (p<0,05), com exceção do grupo de cereais, bebidas e sopas/caldos. O consumo (% e gramas) de frutas, legumes e verduras se mostrou muito mais expressivo na população em SAN, enquanto os grupos feijões/outras leguminosas, farinhas e ovos foram mais consumidos pelos domicílios em (In)SAN. Esses resultados demonstram a importância da ampliação de políticas públicas que garantam o acesso a uma alimentação de qualidade e em quantidade suficiente para as populações em maior vulnerabilidade alimentar, respeitando a diversidade e a cultura alimentar.

Palavras-chave:

Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), Consumo Alimentar, Inquéritos Alimentares

Abstract:

The number of households with hungry residents increased from 9% to 15.5% in 2022 in Brazil. Using Survey of Family Budgets (POF) for 2017/2018, this study explores the food consumption of the Brazilian population according to the different dimensions of food insecurity. The Brazilian Food Insecurity Scale (EBIA) was used to assess the level of food security in the household, while the food consumption was assessed through 24-hour dietary recalls. Foods were classified according to the degree of processing and divided into food groups/subgroups. It is noteworthy that the share in kcal of fresh or minimally processed foods was more significant among the population in food insecurity. There was a difference in the frequency of consumption of all groups evaluated (p<0.05), with the exception of the cereals, drinks and soups/broths group. The consumption (% and grams) of fruits and vegetables was much more significant in the population in food security, while the beans/other legumes, flour and eggs groups were more consumed by households in food insecurity. These results demonstrate the importance of expanding public policies that guarantee access to quality food in sufficient quantity for populations with greater food vulnerability, respecting diversity and food culture.

Keywords:

Food Security, Dietary Intake, Diet Surveys

Conteúdo:

INTRODUÇÃO
A alimentação humana é uma prática que deve ser analisada em diferentes aspectos, uma vez que não se restringe somente à dimensão biológica, mas que compreende também um ato socioambiental, cultural, político e econômico. Desta forma, as escolhas alimentares de cada indivíduo e/ou sociedade são influenciadas por inúmeros fatores, como aqueles referentes à relação com o alimento, como tradições e religiosidade; ou ao contexto socioeconômico, como a oferta e demanda e preço dos alimentos1,2.
Nesse sentido, é necessário que as estratégias de promoção à alimentação adequada garantam a todos os cidadãos, independente da classe social, o acesso permanente e regular a alimentos de qualidade e que respeitem suas individualidades culturais, ambientais, sociais e econômicas, sendo um direito fundamental e indispensável ao ser humano3,4. Segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006)4, entende-se por segurança alimentar e nutricional - SAN:
“A realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”.
Por sua vez, a insegurança alimentar e nutricional - (In)SAN é entendida como uma série de problemas, que envolvem desde fome e doenças relacionadas à alimentação inadequada e prejudicial à saúde, até a imposição de um consumo alimentar que não respeite a identidade cultural de um indivíduo ou sociedade em função de problemas socioeconômicos e ambientais5.
Dados referentes aos últimos anos no Brasil expressam a gravidade da fome vivida por diversas famílias brasileiras, como os divulgados no II Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil (II VIGISAN) realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e segurança alimentar e nutricional (Rede PENSSAN), que demonstrou resultados em que mais da metade (58,7%) dos domicílios estudados se encontravam em alguma escala de (In)SAN (leve, moderada ou grave) determinada pela Escala Brasileira de insegurança alimentar (EBIA)6. Além do VIGISAN, a FAO publicou os dados da SOFI 2023 (The State of Food Security and Nutrition in the World 2023). No relatório, a estimativa de insegurança moderada ou grave no Brasil passou de 18,3% no período de 2014-2016, para 32,8% no período de 2020-2022, demonstrando o aumento da situação de (In)SAN no país7.
Recentemente, o IBGE publicou os dados de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua 2023. Observa-se que 21,6 milhões de domicílios (27,6%) apresentaram algum grau de insegurança alimentar. A forma mais grave da (In)SAN englobava cerca de 3,2 milhões de domicílios (4,1%), enquanto 4,2 milhões (5,3%) e 14,3 milhões (18,2%) de domicílios apresentavam (In)SAN moderada e leve, respectivamente. Embora esses resultados expressem a diminuição da situação de insegurança alimentar no país quando comparados ao inquérito da Rede PENSSAN, os números atuais apontam que o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA) no país deve continuar como uma preocupação central na agenda de políticas públicas8.
Esse cenário de (In)SAN está relacionado a fatores como a pobreza e renda, variáveis que se associam diretamente ao consumo alimentar em cada domicílio, que pode não dispor de renda para adquirir alimentos em quantidade e qualidade suficientes. Regiões geográficas já historicamente afetadas pela pobreza podem reagir perante a fome de forma a perder sua identidade cultural e a variedade de alimentos consumidos, em função da falta de acesso e disponibilidade a locais de compra adequados5,9,10.
Em contradição às políticas de apoio à alimentação saudável, cresce atualmente a oferta constante de alimentos ultraprocessados, caracterizados pela pior qualidade nutricional e maior densidade energética quando comparados a alimentos in natura ou minimamente processados. O acesso facilitado a esses produtos, seja devido ao preço mais baixo ou sua abundância em comércios locais, pode gerar um padrão em que o alimento de melhor qualidade nutricional é substituído pelos ultraprocessados, prática que pode se relacionar intimamente à má nutrição9,11.
Sendo o consumo alimentar um fator relacionado diretamente a má nutrição, torna-se de extrema importância a compreensão da (In)SAN em sua totalidade, perpassando por suas percepções, consequências, localidade e determinantes. Se faz necessário, então, conhecer o consumo, comportamentos e cultura alimentar dentro desse cenário, para a identificação dos grupos mais vulneráveis e de suas carências de acesso ao direito humano à alimentação adequada tanto em quantidade quanto em qualidade, e de possíveis fatores sociodemográficos associados. Assim, o principal objetivo do estudo é avaliar o consumo alimentar da população brasileira em domicílios com insegurança alimentar.

MÉTODOS
POPULAÇÃO DE ESTUDO
Nesse estudo, os dados populacionais apresentados são provenientes da Pesquisa de Orçamentos Familiares - POF 2017 - 2018, que cobre todo o território nacional. Os resultados foram obtidos através de uma entrevista junto aos moradores com idade maior ou igual a dez anos de todos os 20.112 domicílios selecionados, o que contempla cerca de 35% dos domicílios investigados pela POF 2017 - 2018 e totaliza o registro do consumo alimentar de 46.164 indivíduos12. Os dados provenientes da segurança e insegurança alimentar foram coletados no questionário POF 6 - Avaliação das Condições de Vida e do consumo alimentar no questionário POF 7 - Bloco de Consumo Alimentar Pessoal.
Assim, foram considerados neste estudo o questionário POF 6 - aplicado à unidade de consumo principal do domicílio - e as respostas individuais referente ao questionário POF 7 - que foi aplicado nos moradores do domicílio selecionado com 10 anos de idade ou mais12.

INSEGURANÇA ALIMENTAR
Para medir as dimensões da segurança alimentar da população estudada, a POF utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), uma escala que mede diretamente o nível de SAN a nível domiciliar e, para além de avaliar o consumo alimentar, contempla também o acesso aos alimentos e quais impactos isso pode levar às dimensões sociais e psicológicas dos moradores3.
Para a aplicação da EBIA, são realizadas quatorze questões quando a presença de um menor de idade no domicílio, e oito quando não há. As respostas possíveis para as perguntas são sim e não, e cada resposta afirmativa equivale a um ponto que deverá ser somado ao final da entrevista. Assim, segundo a pontuação, a classificação do nível de segurança alimentar, quando na presença de um menor de idade, ocorre da seguinte forma: segurança alimentar (0 respostas afirmativas), insegurança alimentar leve (1-5 respostas afirmativas), insegurança alimentar moderada (6-10 respostas afirmativas) e insegurança alimentar grave (11-15 respostas afirmativas). Já quando não há a presença de um menor de idade no domicílio, a classificação se dá: segurança alimentar (0 respostas afirmativas), insegurança alimentar leve (1-3 respostas afirmativas), insegurança alimentar moderada (4-6 respostas afirmativas) e insegurança alimentar grave (7-8 respostas afirmativas)13.

AVALIAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR
Na POF 2017-2018, o consumo de alimentos foi analisado através de dois recordatórios alimentares de 24 horas (R24h), que foram aplicados considerando dias não consecutivos da semana. Desta forma, com o uso do Bloco de Consumo Alimentar Pessoal (POF 7), foi solicitado aos entrevistados que registrassem detalhadamente os alimentos e bebidas consumidos e suas devidas preparações, a quantidade de consumo e seu local, horário e ocasião. As respostas foram registradas com o uso de um software, que possui uma base de dados com 1832 itens. A partir do uso do software, detalhou-se a quantidade consumida de cada alimento com o uso de 64 unidades de medida baseadas em um cadastro prévio. Em determinadas ocasiões - quando o alimento consumido era muito específico -, também houve o registro do modo de preparo e a adição de outros itens normalmente consumidos em conjunto. Para a análise e cálculo da composição nutricional de cada um desses alimentos, utilizou-se a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos - TBCA. Outros detalhes sobre o consumo alimentar são descritos no relatório da análise do consumo alimentar pessoal12.
Neste estudo, para estimativa da quantidade em gramas e mililitros e, posteriormente, cálculo da quantidade de energia (kcal) e frequência de consumo, apenas o primeiro R24h da POF 2017-2018 foi utilizado. O consumo alimentar foi classificado de acordo com duas propostas. Primeiramente, os alimentos consumidos pela população estudada foram reunidos em 116 grupos alimentares conforme descritos na documentação do inquérito POF 2017-201812. Posteriormente, os alimentos também foram avaliados e classificados considerando a proposta de classificação NOVA dos alimentos, que os divide pelo grau de processamento que foram submetidos em in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados14. Além disso, como não foi possível desagregar os ingredientes das preparações culinárias disponíveis no banco de dados, criou-se um grupo de classificação alternativo denominados “preparações culinárias mistas”, para classificar preparos culinários que possuíssem alimentos correspondentes a mais de um grupo da NOVA em quantidades relevantes.

ANÁLISES ESTATÍSTICAS
Para a análise estatística dos dados utilizou-se o programa STATA® (versão 14.0; College Station, Texas, USA). Inicialmente, avaliou-se as características sociodemográficas da população com consumo alimentar pessoal disponível de acordo com os níveis de (In)SAN do domicílio, levando-se em consideração as seguintes variáveis: sexo, faixa etária, renda per capita e situação e localização do domicílio. Além disso, de acordo com a proposta de classificação NOVA, calculou-se a participação relativa (%) no total de energia do consumo alimentar pessoal para os grupos in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários processados, alimentos processados e alimentos ultraprocessados e preparações culinárias mistas. Em seguida, foi avaliada a frequência (presença do alimento no R24h, independentemente da quantidade) e a estimativa do consumo em gramas (mediana) dos principais grupos de alimentos e da classificação NOVA de acordo com o grau de segurança e insegurança alimentar (segurança e insegurança leve, moderada e grave) do domicílio pois o consumo alimentar não apresentou uma distribuição simétrica dos dados. No entanto, devido à ausência de consumo e, consequentemente, a baixa frequência de determinados grupos alimentares, optou-se por apresentar as médias e erros-padrões (em gramas) ao invés das medianas e intervalos interquartis do consumo alimentar dos grupos alimentares para facilitar a leitura e interpretação dos resultados.
Todas as proporções, médias, medianas, intervalos de confiança e os testes estatísticos foram calculados considerando a expansão e o desenho complexo da amostra. O teste Qui-quadrado de Pearson (?2) foi utilizado com o objetivo de explorar as diferenças das proporções (variáveis sociodemográficas e frequência do consumo alimentar) e os níveis de (In)SAN. Enquanto o teste de Theil–Sen e Intervalos de confiança robustos para medianas foram realizados para investigar as diferenças nas medianas de consumo alimentar, em gramas, dos grupos alimentares nos níveis de (In)SAN. O nível de significância de 5% (p ? 0,05) foi considerado em todas as análises estatísticas.

RESULTADOS
A Tabela 1 apresenta as características demográficas e socioeconômicas da população estudada, demonstrando que, dentre os domicílios que se encontravam em algum nível de (In)SAN, houve uma maior prevalência de mulheres (p<0,05) e maior prevalência de adolescentes em relação às outras faixas etárias: a distribuição de (In)SAN grave se deu em 4,6% dos domicílios com moradores adultos, e em 7,6% nos domicílios com moradores de até 19 anos.
A localização do domicílio também se mostrou expressiva em relação às dimensões de (In)SAN, uma vez que a população que vivia em domicílios das áreas rurais apresentou uma maior prevalência de (In)SAN grave (8,2%) em relação à população que residia em domicílios das áreas urbanas (4,4%). Além disso, a população das regiões Norte e Nordeste apresentou importantes marcadores de vulnerabilidade alimentar quando comparado às outras macrorregiões, com (In)SAN grave em 12,7% e 7,8% dos domicílios, respectivamente. Enquanto as outras macrorregiões não ultrapassaram a proporção de 4,2% (Tabela 1). Além disso, a (In)SAN foi bem elevada no primeiro quartil de renda da população em relação aos outros quartis (10,8%; p<0,05).
A Tabela 2 apresenta o percentual de participação em kcal dos grupos da classificação NOVA de alimentos de acordo com os níveis de insegurança alimentar do domicílio, em que observou-se uma maior participação energética de alimentos in natura ou minimamente processados nos domicílios que se encontravam em (In)SAN grave (66,9%) em relação aos domicílios em SAN (60,1%), enquanto os alimentos ultraprocessados foram consumidos em maior frequência pelo grupo em SAN (11,1%) quando comparados com os domicílios em (In)SAN grave (8,1%). Houve significância (p<0,05) entre todas as frequências das participações em kcal dos grupos da NOVA e níveis de SAN, com exceção do grupo de processados.
Quanto ao consumo dos grupos alimentares, houve diferença estatística na frequência de consumo de todos os grupos avaliados (p<0,05), com exceção do grupo de cereais, bebidas e sopas e caldos (Tabela 3). Destaca-se que o grupo feijões e outras leguminosas foi consumido em maior frequência pelos domicílios que se encontravam em (In)SAN leve e moderada, alcançando 78,2% e 77,1%, respectivamente, enquanto as menores frequências foram observadas nos domicílios em SAN (73,5%) e nos domicílios em insegurança alimentar grave (69,6%). A mesma situação foi observada nos grupos de farinhas e ovos, que foram consumidos com maior frequência nos domicílios em níveis moderado e grave de insegurança alimentar.
Há um efeito contrário, no entanto, nos grupos alimentares de frutas, legumes e verduras, em que se verificou uma relação direta entre o baixo consumo desses alimentos com a insegurança alimentar: quanto mais grave a situação de (In)SAN no domicílio, menor a frequência do consumo (Tabela 3). Além disso, verificou-se uma menor frequência de consumo dos seguintes alimentos nos domicílios em situação (In)SAN quando comparados aos domicílios em SAN: raízes e tubérculos, panificados, carnes, laticínios, doces, pizzas, salgados, sanduíches e tortas.
Ainda em relação ao consumo dos grupos alimentares, a tabela 4 ilustra a distribuição, em gramas, do consumo de alimentos. Os resultados da análise de dados demonstram que o consumo de legumes, verduras e raízes e tubérculos foi igual a 0 gramas em todos os diferentes níveis de (In)SAN, enquanto o consumo de frutas se mostrou mais expressivo na população em segurança alimentar. Cerca de 75% da população em (In)SAN moderada e grave não apresentaram qualquer consumo em gramas desse grupo alimentar.
Por outro lado, em alguns grupos alimentares a quantidade em gramas não foi diferente entre os níveis de (In)SAN, como podemos observar no grupo dos panificados, carnes e bebidas (p>0,05). Outros grupos, apesar de apresentarem diferença estatística significante (p>0,05) entre os níveis de (In)SAN, a quantidade em gramas, que variava, era muito pequena, como pode ser observado no grupo de feijões e outras leguminosas, farinhas e massas e ovos.

DISCUSSÃO
A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional - LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006) estabelece a alimentação como um direito humano e social a todos os cidadãos, e configura como dever do Estado a criação de políticas públicas e programas sociais que garantam o acesso permanente e regular a alimentos de qualidade a esses indivíduos4. Embora no Brasil haja muitas políticas relacionadas à alimentação e nutrição, os achados no presente estudo demonstram a necessidade das ações e programas serem mais efetivos em atingir toda a população do país.
Através dos resultados obtidos, observa-se que a renda e a insegurança alimentar estão intimamente relacionadas, uma vez que a proporção de domicílios em (In)SAN grave é maior entre aqueles com menor renda do que entre os lares com maior renda, da mesma forma que a região geográfica e localização do domicílio também se mostraram associados à prevalência de (In)SAN Resultados semelhantes podem ser observados no estudo realizado pela Rede PENSSAN, em que a distribuição percentual de (In)SAN foi mais severa nas áreas rurais, atingindo mais de 60% dos domicílios, da mesma forma que o Norte e o Nordeste apresentaram um maior percentual de famílias em situação de (In)SAN grave, atingindo cerca de 25,7% e 21% dos domicílios, respectivamente. Esses dados demonstram a desigualdade de acesso ao DHAA entre as regiões brasileiras, em que a fome e o acesso inadequado a alimentos se agravam nas regiões com histórico socioeconômico e político de apagamento e marginalização das populações locais6.
Ainda em relação às características sociodemográficas da população de estudo, nota-se que a frequência de insegurança alimentar e nutricional foi consideravelmente maior nos domicílios com a presença de adolescentes quando comparados àqueles com apenas a presença de adultos e idosos, assemelhando-se ao encontrado no estudo da Rede PENSSAN, que demonstrou resultados que relacionam a quantidade de moradores com até 18 anos e a frequência de insegurança alimentar. O estudo evidencia, ainda, como as desigualdades sociais de gênero e raça impactam negativamente na situação de SAN nos domicílios. Percentualmente, os domicílios chefiados por mulheres apresentaram menor prevalência de SAN quando comparados àqueles em que homens eram os responsáveis; da mesma forma que, enquanto cerca de 50% dos domicílios chefiados por pessoas brancas se encontravam em SAN, cerca 65% daqueles em que os responsáveis se identificaram como pretos ou pardos viviam em algum grau de (In)SAN6. Esse é um retrato claro das implicações do racismo estrutural e do patriarcado, que moldaram e construíram os sistemas econômicos, políticos e sociais no Brasil.
É relevante ressaltar que, atualmente, há uma oferta constante de alimentos ultraprocessados, o que pode influenciar diretamente a dieta da população11. Alimentos ultraprocessados, em geral caracterizados por formulações industriais repletas de aditivos como sal, gordura e açúcar para modificar seu sabor, textura, aparência e durabilidade; têm sido relacionados a desfechos adversos à saúde, associando o consumo desses alimentos a mortalidade por doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, obesidade e transtornos mentais. É seguro afirmar que a exposição frequente a esses produtos alimentícios pode acarretar no comprometimento da saúde cardiovascular, gastrointestinal, metabólica, além de aumentar o risco de morte prematura15.
Em relação às diferenças de consumo entre os níveis de SAN, percebe-se que os indivíduos residentes nos domicílios que se encontravam em (In)SAN grave consumiam mais alimentos in natura ou minimamente processados quando comparados aos indivíduos residentes nos lares em SAN. Ao contrário, os alimentos ultraprocessados foram consumidos com maior frequência pela população em segurança alimentar. Segundo Ferraz10 (2018), esse padrão pode ocorrer devido ao fato dos alimentos considerados como base da alimentação brasileira, como arroz e feijão, pertencerem ao grupo de alimentos in natura ou minimamente processados e representarem uma grande relevância nos hábitos alimentares da população mais vulnerável. Por sua vez, arroz, feijão e carnes pertencentes ao grupo in natura ou minimamente processados, são alimentos que compõem o padrão alimentar “Tradicional”, um dos principais padrões identificados na população brasileira com maior adesão entre homens, moradores da região centro-oeste e com menor escolaridade16. Além disso, dados apresentados pela Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 em que se avaliou a aquisição de alimentos por domicílios, mostram que itens que compõem a cesta básica nacional, principalmente itens minimamente processados e não perecíveis, são largamente adquiridos nos domicílios com menor renda17.
Esse mesmo padrão pode ser observado ao se analisar o consumo dos grupos alimentares: os grupos feijões e outras leguminosas, farinhas e ovos foram consumidos em maior frequência pelos domicílios em (In)SAN, mostrando que há uma maior probabilidade de consumo desses alimentos generalizados entre os domicílios com maiores vulnerabilidade socioeconômica, uma vez que os grupos das carnes, laticínios, pizzas, salgados, sanduíches e tortas, que compreendem alimentos menos acessíveis, foram consumidos majoritariamente pelo grupo em situação de SAN.
Um estudo realizado no município de Belo Horizonte-Minas Gerais, associou a insegurança alimentar ao consumo de alimentos e encontrou resultados em que, embora o consumo de ultraprocessados não tenha sido diferente entre os níveis de SAN, o consumo de frutas e hortaliças foi menor em famílias em (In)SAN, enquanto o consumo de feijão foi maior quando comparado a domicílios em segurança alimentar18. Em Campinas-São Paulo, também há evidências de que o feijão é diariamente consumido por famílias em insegurança alimentar grave, enquanto há um baixo consumo de frutas, legumes e verduras, além de alimentos contribuintes de proteína como carne, leite e derivados do leite19. Semelhante aos nossos achados, esses dados deixam claro a relação entre a insegurança alimentar e a baixa variedade de alimentos.
Ao avaliar a quantidade em gramas dos grupos alimentares, destaca-se que os grupos carnes, bebidas e panificados não apresentam diferenças de acordo com os níveis de (In)SAN, ou seja, a quantidade de consumo em gramas foi semelhante na população que residia em domicílio com segurança ou insegurança alimentar. No Brasil, o consumo de carne mostra-se elevado. Em 2008, o consumo foi de 86 g/1000 kcal e observou-se um aumento do consumo de carne em 12% de 2008 a 2017. Apesar de não observar diferenças significativas entre o período analisado para população de estrato de renda mais baixa, as médias de consumo ficaram acima de 90 g/1000 kcal20.
Em relação às bebidas, nossos resultados apontam uma alta frequência de consumo de bebidas na população em geral, o que, segundo Siqueira et al (2021)21, ocorre devido aos hábitos alimentares da população brasileira. Observa-se um elevado consumo diário de cafés, sucos, refrigerantes e refrescos, além da presença muitas vezes constante de bebidas alcoólicas. Resultados da POF 2008, mostraram que as bebidas contribuíram com 17,1% da energia total. Além disso, destaca-se a maior chance de beber café entre a população de menor renda22. Resultados de análises de tendência de bebidas, em destaque para as bebidas açucaradas, conduzidos nas principais capitais brasileiras no período de 2007-2016 considerando os dados do Vigitel Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico, o consumo de bebidas açucaradas diminuiu no período. No entanto, uma parcela significativa da população ainda refere o consumo diário dessas bebidas23.
No presente estudo, os grupos frutas, legumes e verduras não apresentaram grande contribuição em gramas no consumo alimentar da população em geral, demonstrando resultados que apontam que o consumo desses alimentos não chega a atingir a recomendação de ingestão diária de 400g estabelecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em nenhum dos níveis de segurança alimentar e nutricional, com dados ainda mais preocupantes nos domicílios em situações mais graves de (In)SAN. O consumo adequado de frutas, legumes e verduras está diretamente associado à redução do risco de desenvolver doenças crônicas não transmissíveis. Sendo um importante indicador de uma alimentação saudável, são compostos por nutrientes importantes que trazem diversos benefícios para a saúde humana24. Entretanto, o consumo desses grupos alimentares é frequentemente descrito como inadequado, sobretudo no grupo populacional com menor aquisição de renda. Damiani et al.25 (2017), relataram que o consumo de frutas, legumes e verduras no centro-oeste do Brasil corresponde a menos da metade das recomendações da OMS, sendo ainda mais escasso entre a população de baixa renda.
Segundo Oliveira et al.24, há uma relação direta entre a aquisição de frutas e hortaliças com a renda dos domicílios brasileiros. No período de 2017-2018, a aquisição de frutas e hortaliças foi abaixo da quantidade adequada em todas as classes de rendimento e regiões do Brasil, mas os resultados foram ainda mais preocupantes quando comparados aos domicílios localizados nas regiões Norte e Nordeste e com menor renda. A aquisição desses itens alimentares diminuiu conforme a diminuição da renda do domicílio, não somente em quantidade, mas também na variedade dos alimentos adquiridos.
A literatura aponta que, no Brasil, o custo médio de alimentos in natura ou minimamente processados são mais baratos que alimentos processados ou ultraprocessados, embora o preço médio de frutas e hortaliças seja mais caro. Consequentemente, o consumo diário, adequado e variado desse grupo alimentar acarretaria o aumento do custo total com alimentação das famílias brasileiras26. Outrossim, um estudo realizado em Belo Horizonte avaliou a disponibilidade e o preço de frutas e hortaliças, expondo resultados que demonstram que, em áreas onde há a presença de um equipamento público de segurança alimentar e nutricional, há uma maior disponibilidade e preço mais baixo de hortaliças em estabelecimentos de comércio de alimentos in natura, quando comparados a áreas sem a presença desses equipamentos e em locais de comércio de alimentos mistos27. Mora et al. (2020)28, em um estudo de revisão sobre associações entre políticas públicas e aquisição de alimentos de melhor qualidade nutricional, encontraram que incentivos financeiros, tanto para abertura de varejos em áreas menos favorecidas quanto para o oferecimento de benefícios diretos aos indivíduos, não foram associados a mudanças na compra de alimentos ou na qualidade da dieta, mas podem melhorar a segurança alimentar da população.
Desta forma, embora haja uma orientação acerca da importância da ingestão de frutas, legumes e verduras, o seu consumo ainda não faz parte do dia a dia da população. Percebe-se, então, como as políticas públicas representam uma maior possibilidade de acesso a alimentos in natura e de melhor qualidade nutricional para populações em vulnerabilidade alimentar.
É importante ressaltar que este estudo apresenta limitações. O consumo habitual não foi estimado. Para as análises propostas, considerou-se apenas o consumo alimentar da primeira medida do R24h. No entanto, o uso de um único R24h em toda a população é possível e recomendado quando se tem o objetivo de descrever, em medidas de dispersão e diferenças, o consumo alimentar29. Além disso, como os dados da POF refletem o consumo alimentar de 2017-2018, mudanças no consumo podem ter ocorrido diante da crise econômica global e aumento da prevalência de insegurança alimentar, principalmente, após a pandemia de COVID-19 em 2021. Todavia, não há dados mais recentes sobre o consumo alimentar em detalhes.

CONCLUSÃO
Com os resultados aqui obtidos, concluímos que é possível identificar diferenças do consumo alimentar entre os níveis de (In)SAN: a participação em kcal dos grupos da classificação NOVA foi diferente em cada um dos níveis de (In)SAN, principalmente em relação aos alimentos in natura ou minimamente processados e ultraprocessados. Sobre o consumo dos grupos alimentares, destaca-se a diferença na ingestão de frutas, legumes e verduras, que se mostrou mais expressiva na população em situação de segurança alimentar, enquanto o consumo de cereais, feijões e outras leguminosas, farinhas e ovos foi maior entre os indivíduos em (In)SAN. Assim, é necessário que as políticas públicas sejam mais efetivas em garantir não apenas a ausência de fome nas populações mais vulneráveis, mas também que tenham acessibilidade física e financeira a uma alimentação de qualidade e que se adequem às necessidades específicas de cada indivíduo, respeitando a diversidade e a cultura alimentar.

FINANCIAMENTO
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP - Processo nº 2022/15536-2.

REFERÊNCIAS
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Silva, E.E.M, Steluti, J.. O consumo alimentar de brasileiros residentes em domicílios com insegurança alimentar: resultados da POF-2017-2018. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/ago). [Citado em 22/12/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/o-consumo-alimentar-de-brasileiros-residentes-em-domicilios-com-inseguranca-alimentar-resultados-da-pof20172018/19336?id=19336&id=19336

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