0314/2025 - SABERES E FAZERES TRADICIONAIS E SAÚDE MENTAL EM COMUNIDADES DE PESCADORES QUILOMBOLAS DA BAHIA
TRADITIONAL KNOWLEDGE AND PRACTICES AND MENTAL HEALTH IN QUILOMBOLA FISHERING COMMUNITIES IN BAHIA
Autor:
• Valerie Ganem - Ganem, V - <ganemvalerie@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1289-0202
Coautor(es):
• Rita de Cassia Lopes Gomes - Gomes, RCL - <ritaglopes60@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8298-0836
• Paulo Gilvane Lopes Pena - Pena, PGL - <pena@ufba.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9653-5509
Resumo:
Esse artigo tem o objetivo de estudar o caráter terapêutico para a saúde mental da valorização, difusão e realização dos saberes e fazeres tradicionais em comunidades de pescadores artesanais e quilombolas da Baia de Todos os Santos. O estudo tem por base quatro pesquisas de psicodinâmica do trabalho, sendo duas feitas com pescadoras marisqueiras quilombolas de Santo-Amaro e de Maragogipe (Bahia - Brasil) e as duas outras com dois grupos de Agentes Comunitários de Saúde trabalhando nesses dois municípios, durante o período de 2021 a 2023. Essas pesquisas mostraram que, para esses membros de comunidades quilombolas, a possibilidade de implementar saberes tradicionais e deles ganhar a vida contribuía para preservar e construir sua identidade e, portanto, sua saúde mental. O que significa que, nesses territórios, pelo menos, as melhorias das ações preventivas para a saúde mental consistem em projetos de valorização e de transmissão desses saberes e fazeres tradicionais, o que foi experimentado em alguns territórios dessa região.Palavras-chave:
Saúde mental, Meio ambiente, Trabalho, Tradicional, QuilombolasAbstract:
This article studies the therapeutic impact for mental health of valuing, transmitting, and practicing traditional knowledge and skills within "quilombolas" communities of traditional fishermen from “Baia de Todos os Santos” (Brazil). The study is based upon four investigations of psychodynamic of work, two were conducted with “quilombola” fisherwomen from Santo Amaro and Maragogipe. and the other two with two groups of “Agentes Comunitários de Saúde” (Community Health Workers), who also work in these cities. This research took place between 2021 and 2023. These studies have shown that, for these members of “quilombola” communities, the possibility of implementing traditional knowledge and earning a living from it, would contribute to the preservation and formation of their identity and, thus, their mental health. This suggests that, at least whithin these territories, the improvement of preventive actions towards mental health consists of valorization and transmission of these traditional knowledge and practices through projects, which has been experienced in some territories in this region.Keywords:
Mental health, Environment, Work, Traditional, Quilombo.Conteúdo:
As ligações entre saúde mental e trabalho têm sido objeto de muitas pesquisas iniciadas pelos psiquiatras a partir da Segunda Guerra Mundial, em particular na França. Alguns desses estudos comprovaram o caráter terapêutico 1,2 e outros, pelo contrário, o potencial patogênico para a saúde mental 3,4. Se o trabalho sob certas condições pode de fato ser terapêutico 5, é de se lamentar que as atuais organizações do trabalho (Call center, plataforma digital - Uber, Delivery, dentre outras que privilegiem a rentabilidade em detrimento da qualidade, a avaliação individualizada de desempenho etc.) ao não atenderem essas condições levam mais os trabalhadores à descompensação do que à construção de sua saúde mental 6,7. Com isso, os números relativos à saúde mental no trabalho continuam a deteriorar-se no mundo, onde 41% dos trabalhadores afirmam que atualmente enfrentam pelo menos cinco problemas psicológicos por causa do seu trabalho 8.
As pesquisas em psicodinâmica do trabalho 9 conseguiram mostrar que o potencial destrutivo ou construtivo do trabalho advém, em particular, do fato de envolver a identidade das pessoas que trabalham, que pode ser considerada como a espinha dorsal da saúde mental, pois a descompensação psíquica sempre tem como o ponto de partida uma crise de identidade 9. No artigo de 1994 10 intitulado: “pour comprendre la résistance au changement” (“para entender a resistência à mudança”), Christophe Dejours, Dominique Dessors e Pascale Molinier mostraram que havia uma ligação entre a implementação da técnica e a identidade, e que era por esta razão que os indivíduos resistiam à mudança de técnica porque esta última era suscetível de desestabilizar a sua identidade e, portanto, a sua saúde mental. Para demonstrar, a definição da técnica utilizada por esses autores foi a proposta pelo antropólogo Marcel Mauss em 1934 11 definida como “Ato tradicional eficaz”. Nesta demonstração, o caráter tradicional deste ato parece decisivo tanto para garantir os atributos técnicos do ato (não deve ser um ato isolado) como para assegurar a relação entre técnica e identidade, na medida em que é o caráter tradicional do ato que garante o seu reconhecimento pelos outros. Este olhar dos outros é determinante para a saúde mental do sujeito se seguirmos, como fazem estes autores, o triângulo da dinâmica da identidade proposto por François Sigaut 12.
No entanto, verifica-se que a literatura científica ainda não aprofundou a relação que existe entre os saberes e fazeres tradicionais, a sua implementação, a sua valorização e a sua transmissão, por um lado, e a saúde mental, por outro. O que existe são dados sobre saberes tradicionais relativos aos cuidados de saúde mental, em particular nas comunidades dos povos originários e nas comunidades quilombolas. 13,14,15 Secundariamente, alguns estudos relatam o impacto negativo na saúde mental das pessoas que não conseguem implementar esses saberes e fazeres tradicionais. 16,17,18 Ressalta-se que esse impacto negativo sobre a saúde mental só é estudado para esses povos indígenas e comunidades tradicionais como os entendemos no Brasil e como se os outros habitantes desta terra não estivessem afetados por isso.
Além disso, o caráter terapêutico de colocar em prática esses saberes e fazeres tradicionais para a saúde mental é pouco enfatizado. A caça aparece como tal em uma pesquisa quantitativa realizada sobre a relação entre saúde mental e atividades tradicionais no Canadá 19 e na Colômbia, onde essas atividades são identificadas como terapêuticas pelos próprios membros de uma comunidade de povos originários, conforme pesquisas qualitativas sobre a concepção que essas pessoas têm de saúde mental 20.
Na literatura consultada que trata da investigação sobre a associação entre saúde mental e os saberes e fazeres tradicionais, em língua inglesa, francesa, portuguesa ou espanhola, se verifica que tem sido negligenciada a importância do caráter tradicional das ações realizadas no trabalho que se pretendem terapêuticas.
As pesquisas que geraram o presente estudo se iniciaram em investigação anterior sobre a análise, de forma geral, das ligações prováveis entre trabalho, saúde mental e meio ambiente, nas quais os saberes e fazeres tradicionais e a saúde mental emergiram como centrais no decorrer de sua realização. Nesse sentido, o presente artigo tem o objetivo de estudar o caráter terapêutico para a saúde mental da valorização, transmissão e realização dos saberes e fazeres tradicionais em comunidades de pescadores artesanais e quilombolas da Bahia.
2. Metodologia
Trata-se de pesquisa ação que busca transformar as situações no decorrer dos estudos. Importante considerar que a metodologia da psicodinâmica do trabalho 9 21, consiste em desenvolvimento coletivo da experiência de trabalho a partir de reuniões, lideradas por duas pessoas reunidas com diferentes profissionais interessados no sistema de análise.
Nessa perspectiva, objetivou-se produzir, a partir das falas dos participantes, uma descrição subjetiva do trabalho e de suas contradições que puderam ser utilizadas para deliberação e ação. Essa dinâmica mobilizou a reflexão dos participantes e das pesquisadoras sobre a análise de problemas concretos e os recursos ou espaços de manobras que eles tinham para resolver as dificuldades inerentes à realização do trabalho em contextos específicos. A descrição foi transcrita e sistematizada, bem como o novo entendimento nascido desses encontros sob forma de um relatório validado pelos participantes. São os extratos desses relatórios da pesquisa que compuseram as fontes dos dados utilizados e colocados em destaque nesse artigo. Trata-se de um material específico da psicodinâmica do trabalho que não é constituído de narrativas brutas das participantes nem de comentários ou interpretações das pesquisadoras, mas, do resultado do pensamento em andamento dessas duas categorias permitidas pelas conversas ocorridas durante a pesquisa. O processo de pensamento descrito nos relatórios e validados pelos participantes durante a última sessão da pesquisa representa a dimensão empírica do presente artigo, conforme a metodologia da psicodinâmica do trabalho.
Esse tipo de investigação tem princípios metodológicos importantes a serem respeitados, como: a pesquisa deve ter como ponto de partida a solicitação dos participantes, que pode ser um assunto, um problema concreto sobre o qual o coletivo esteja pronto a refletir; a participação das pessoas nas reuniões ocorre mediante a expressão clara da vontade de participar ao final da primeira reunião chamada “reunião de informação”; ao menos duas pessoas devem pesquisar juntas com o coletivo de participantes; os participantes devem ser do mesmo nível hierárquico no contexto desse tipo de pesquisa; cada participante da pesquisa representa a si mesmo. O relatório final deve ser validado pelos participantes, os quais decidirão sobre a divulgação desses resultados.
Seguindo a orientação técnica da psicodinâmica do trabalho, a formação dos grupos foi composta de quatro a quinze pessoas em que foram asseguradas no mínimo, duas semanas de intervalo entre as quatro reuniões com a duração de três horas, para que os participantes tivessem tempo de reflexão sobre os comentários dos outros e dos seus próprios, além da reflexão sobre a realidade do trabalho vivida entre as sessões.
Assim, foram realizadas quatro sessões com os grupos, feitas após a reunião de informação na qual as pessoas puderam definir o assunto sobre o que queriam pensar juntas e identificarem-se como voluntarias. Após a leitura do tema, as duas primeiras sessões consistiram em uma investigação coletiva não diretiva, ou seja, sem roteiros estruturados. A partir da terceira reunião, iniciou-se o trabalho de construção conjunta do relatório centrado no procedimento do pensamento coletivo. Assim, a coleta dos dados como a interpretação foi realizada com os participantes e pesquisadoras durante toda a investigação.
Em detalhes, quatro pesquisas foram realizadas em dois municípios da região denominada Recôncavo Baiano, do Estado da Bahia, segundo essa metodologia:
- Uma pesquisa em julho e agosto 2022, com comunidades de pescadores artesanais quilombolas da região de Santo Amaro da Purificação e outra em Maragogipe, seguidas da apresentação conjunta dos relatórios.
- Uma pesquisa foi realizada com os Agentes Comunitários de Saúde de Santo Amaro da Purificação em julho e agosto 2022, e outra em Maragogipe nos meses de fevereiro e março de 2023.
- Foram realizadas também em março 2023 apresentações conjuntas dos relatórios entre as comunidades pescadoras e os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) na presença das coordenadoras dos serviços de atenção básica de saúde dos municípios e membros das Unidades de Saúde da Família.
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Bahia, UFBA, com o número CAAE: 58505821.
3. Resultados
Pesquisas com as marisqueiras
Como indicado na metodologia, uma pesquisa de psicodinâmica de trabalho tem como ponto de partida uma solicitação do grupo formulada como um assunto sobre o qual as participantes concordaram em pensar juntos.
Desde o primeiro momento, a questão dos saberes e fazeres tradicionais se impôs sob a forma do texto da solicitação do grupo de Santo Amaro: “Descrever e entender o papel da conservação dos saberes e fazeres ancestrais para manter a saúde mental da comunidade e do meio ambiente, frente à violência do modo de desenvolvimento imposto e quando a luta não dá resultado e, ao contrário, é criminalizada”.
A palavra “ancestral” foi escolha do grupo, e não a palavra “tradicional”. No entanto, a definição das palavras: tradicional, “baseada em práticas repetidas ao longo de várias gerações”22; ancestral, que significa “relativo aos antepassados ou que se herdou deles” 23, pressupõe-se que saberes e fazeres ancestrais e tradicionais podem ser consideradas como sinônimos. Veremos, a seguir, como o pensamento do grupo se desenvolveu em torno dessa solicitação.
No primeiro momento da pesquisa, foi feito o inventário do que pode ser considerado como saberes e fazeres ancestrais. Assim, percebemos que os saberes e fazeres encontravam-se além dos existentes na pesca ou na horta ao se somarem aos outros relacionados às manifestações culturais, a exemplo: a corrida de canoa; o nego fugido; a festa Mandu; Maculelê, bem como a capoeira sempre presente nesses eventos.
“Quando as pesquisadoras pediram maiores explicações sobre qual seria a relação entre essas manifestações culturais e a saúde mental, foi respondida inicialmente que “elas tiravam as crianças das drogas’’. Em seguida, afirmaram que o samba, em particular, “curava a alma’’, “era uma terapia para a mente’’. De acordo com os presentes, “durante essas manifestações culturais esquece-se de tudo, é só a alegria predominando”. Entendeu-se que tais manifestações permitiriam a divulgação da história do quilombo, uma forma de relatar o que se passou com o povo escravizado. Diante de todas as afirmativas sobre a positividade das manifestações culturais, revelaram que “através delas se sentem representadas.” (extrato do relatório de Santo-Amaro)
Depois desse episódio, houve um longo tempo de reflexão sobre o samba e a alegria que se tornou algo central na relação subjetiva ao trabalho dessas pescadoras marisqueiras, como foi mostrado por Ganem et al. 23. Na segunda sessão dessa pesquisa, o grupo sublinhou que a realização desses eventos tradicionais foi suspensa durante a pandemia da COVID-19 e retomada posteriormente porque essas manifestações constituíam uma forma de luta contra a droga e a violência, segundo elas.
Outros relatos dos adultos revelaram preocupação, porque diante “da baixa renda da pesca ligada a poluição dos territórios pesqueiros pela chegada das indústrias, os jovens não queriam mais pescar”. (extrato do relatório de Santo-Amaro). Relataram ainda que no governo anterior ao do presidente Jair Bolsonaro (2018 -2022), jovens eram trazidos na comunidade para aprender sobre os saberes e fazeres quilombolas e recebiam bolsas - “o que era determinante, segundo eles, para que a cultura quilombola possa tornar-se atrativa para os jovens.” (extrato do relatório de Santo-Amaro). Tinham consciência que para incentivar essa juventude a prosseguir com esses saberes e fazeres da pesca necessitavam “fazer ligação entre esse trabalho, a história e a cultura quilombola”. Os jovens validaram esse relato dizendo que gostariam de ter lugares institucionalizados na comunidade para aprender pescar com os adultos pela importância desses conhecimentos para a comunidade, sua história e porque “era bom aprender tudo isso para se virar na vida”. Houve concordância de que “esse trabalho da pesca, da roça gerava autonomia e por isso era importante conservar e transmitir as técnicas necessárias à sua realização aos jovens”. (extrato do relatório de Santo-Amaro).
Ao fazer conexões entre a poluição do meio ambiente, a redução da renda da pesca e o risco de desaparecimento dos saberes e fazeres quilombolas, o grupo percebeu que “tinha uma ligação estreita entre conservar os saberes e fazeres da pesca artesanal e conservar o meio ambiente” e que “era necessário lutar pelo meio ambiente para poder continuar pescar e manter sua saúde mental também.” (extratos do relatório de Santo-Amaro). Assim, concluiu-se que realmente, conservar e transmitir conhecimentos tradicionais era um modo de cuidar, simultaneamente, da saúde mental e do meio ambiente: “lutar pela preservação do meio ambiente, sem o qual o trabalho da pesca e da mariscagem tradicional é impossível, está realmente ligada a preservação e a construção da saúde mental dos pescadores e marisqueiras quilombolas” (extratos do relatório de Santo-Amaro)
O grupo de Maragogipe não colocou imediatamente o tema dos saberes e fazeres tradicionais na sua relação com a saúde mental, sendo o texto expresso na forma seguinte: “Como cuidar da saúde mental de cada um na comunidade através do trabalho?” No entanto, desde o começo dessa pesquisa, a ideia de que a pesca era uma terapia se impôs e essa frase foi escolhida como título da primeira subparte do relatório. Após a reflexão sobre o caráter terapêutico da pesca foi acrescentado pelas participantes que gostar do trabalho agrícola e do artesanato tinham as mesmas virtudes para a saúde, pois nessas comunidades havia a liberdade de escolha dentre as diversas atividades. Podemos caracterizar esses trabalhos (pesca, agricultura, artesanato) como parte dos saberes e fazeres tradicionais quilombolas, na medida em que foram realizados, desde sua origem, para assegurar a sobrevivência dos membros da comunidade.
Várias participantes falaram como essas atividades curaram doenças mentais, como depressão, consequentes de dificuldades maiores como a prisão do marido, ou com marido “chato”. Houve relato de um episódio sobre o irmão de uma participante que teve um “surto” e melhorou “cuidando de sua roça”. O mais impactante foi a fala de uma participante que relatou como, depois de tornar-se tetraplégica, foi salva pelo trabalho e em particular com as atividades de articulação de seis territórios quilombolas da região.
No final da pesquisa, algumas participantes do grupo de Maragogipe “se arrependeram de não ter falado da relação entre meio ambiente e saúde, do sofrimento que elas sentiam com a poluição das indústrias. Elas reforçaram que por causa dessa poluição não tinham mais tantos mariscos e que isso gerava medo de não ter o que comer, beber água contaminada ou alimentar-se com mariscos contaminados. Elas afirmaram que esse medo era um perigo para a saúde mental deles também.” (extratos do relatório de Maragogipe). Diante da redução e/ou do desaparecimento pontual de algumas espécies de peixes e mariscos, elas se perguntaram: “será que as crianças não vão saber o que são esses mariscos?”. (extrato do relatório de Maragogipe).
Pesquisas com os Agentes Comunitários de Saúde
A solicitação, ponto de partida de uma pesquisa de psicodinâmica do trabalho, foi a mesma para o grupo de ACS de Santo Amaro e o de Maragogipe: “Descrever e entender quais são as dificuldades a enfrentar para cuidar bem da saúde física e mental das comunidades quilombolas da região”.
O grupo de ACS de Maragogipe colocou diretamente na discussão a questão do caráter terapêutico da valorização, da difusão e da prática dos saberes e fazeres tradicionais para a saúde mental. No início da pesquisa, eles descreveram uma situação crítica do ponto de vista da saúde mental nas comunidades rurais em geral e nas comunidades quilombolas em particular, segundo o entendimento deles: “O problema de saúde mental é muito grave em Maragogipe. O número de suicídio tinha aumentado muito nas zonas rurais. Eles estavam frente às situações problemáticas e não sabiam o que fazer para resolvê-las.” (extrato do relatório de Maragogipe)
Na segunda sessão, os ACS se queixaram de um aumento muito importante do consumo de álcool e outras drogas nas zonas rurais que apresentavam muitos problemas sociais e sanitários.
“Isso se torna cultural, é rotineiro, está no cotidiano e totalmente banalizado. Não é só o homem que consome o álcool, mas também a mulher e o jovem que usa muito. [...] E quem não vai, tem que se justificar.” (extrato do relatório de Maragogipe).
Quando perguntamos as razões desse aumento de consumo, os ACS culparam os pais:
“Não teria mais regras nas famílias. Beber se torna a regra: consumo de álcool gera violência, inclusive doméstica, depressão, gravidez precoce...”. (extrato do relatório de Maragogipe). Relataram que aumento do consumo de álcool tinha iniciado antes da pandemia, e sublinharam que o período pandêmico piorou a situação de saúde mental devido ao aumento do consumo de álcool e, sobretudo, do uso das redes sociais:
“Com a pandemia, muitas pessoas se acostumaram a ficar na casa usando celular, embora até agora nem todas as casas têm o wifi. Assim, muitas pessoas teriam desenvolvido doenças mentais também [...] Antes quem trazia informações para o filho era o pai, agora é o contrário”. (extrato do relatório de Maragogipe).
Em seguida, guiados pela sua própria percepção da situação, os ACS associaram a relação entre o aumento do consumo de álcool e outras drogas com a chegada das indústrias:
“A chegada das indústrias teria aumentado tudo: tráfico, número de usuários, prostituição. A indústria chegou, movimentou o comércio, movimentou a sociedade e de repente abrandou e acabou.” (extrato do relatório de Maragogipe)
Sobre esse aspecto, as pesquisadoras se perguntaram se essas indústrias que ofereciam outros tipos de trabalho não teriam desviado as pessoas dos saberes e fazeres ancestrais e diversões tradicionais associadas aos sentidos dessas tradições na cultura quilombola. Com a implantação das indústrias na região, o álcool seria também uma consequência das dificuldades desse trabalho. Com efeito, a psicodinâmica do trabalho tem mostrado o papel do uso de bebidas alcoolizadas nas estratégias coletivas de defesa viril contra o medo na indústria petroquímica ou na construção civil 24,25. Paralelamente, diante da redução da renda e da autonomia decorrentes das atividades de pesca ou de agricultura em benefício do trabalho industrial, associado à poluição dos respectivos territórios, essas pessoas desenvolveriam, possivelmente, a estratégia coletiva de sobrevivência com negligência de sua própria saúde, e que poderia ser associada a alegria defensiva (festas alcoolizadas) 26. O conjunto dessas estratégias de defesa coletivas gerariam a ausência de pensamento da realidade que produz o sofrimento e possibilidades de transformações. Com essa desvalorização do trabalho, dos produtos e da cultura tradicional que constituíam os sentidos da vida nas comunidades rurais, ampliou-se o uso e abuso do álcool e outras drogas que preencheriam, inconscientemente, o vazio na vida por conta dessa desvalorização. Isso explicaria a falta de perspectivas das pessoas e os casos de renúncia das famílias a educar os filhos. Os ACS estavam concordando com essas hipóteses.
O sentido da vida nas zonas rurais quilombolas, originário do trabalho da pesca e da roça, permitiu aos remanescentes de quilombolas, ao se libertarem da escravidão, viverem de forma autônoma. Realizar atividades de pesca e agricultura, transmitir a cultura quilombola às crianças representavam o sentido da vida, e se constituía em lazer também. Os ACS testemunharam que tinham comunidades onde esse modo de vida era ainda transmitido e desenvolvido, resultando no bem-estar.
Com esse entendimento os ACS, assim como as marisqueiras, fortaleceram a ideia de que a melhor opção para lutar contra a dependência do álcool e de outras drogas seria então, incentivar projetos coletivos valorizando os saberes e fazeres e as tradições rurais em geral e quilombolas em particular. Os ACS citaram vários exemplos de projetos coletivos, principalmente voltados à valorização do trabalho e da cultura tradicional feitos com sucesso como:
- Instalação de energia nas comunidades para armazenar peixes e marisco em congeladores e assim emancipar-se do atravessador; adquirir embarcações em fibra de vidro;
- Beneficiamento dos produtos na própria comunidade (aipim, mel, cocada, mariscos beneficiados, farinha de mandioca, azeite de dendê, dentre outros) a fim de vender direto para o consumidor aumentando os ganhos nos preços finais dos produtos;
- Divulgação dos produtos da pesca e agricultura nas redes sociais; incentivar/promover turismo de base comunitária nas comunidades envolvendo o conhecimento dos saberes e fazeres e das tradições das comunidades rurais quilombolas.
Os ACS adicionaram iniciativas relacionadas ao trabalho deles nas Unidades de Saúde da Família (USF) que atuam nos territórios quilombolas e de pescadores artesanais, a exemplo: dialogar semanalmente com jovens das comunidades sobre temas escolhidos por eles; atividades educativas de “sala de espera” (pacientes e usuários que aguardam consultas) nas USF; e ampliar essas conversas com as famílias no intuito de sensibilizar crianças e jovens.” (extrato do relatório de Maragogipe).
Entretando os ACS se queixaram da ausência de cooperação intersetorial (saúde, educação, assistência social...) para conseguir incentivar tal dinâmica coletiva, além da ausência do apoio político das instituições locais, inclusive durante a pandemia.
“Tem comunidades que não tem local nem equipamento adequado para fazer qualquer tipo de reunião, de projeto coletivo. Por exemplo, houve ocasião em que as pessoas tiveram de se sentar no chão por ausência de cadeira.
Com a pandemia e essa falta de apoio da prefeitura, ninguém acredita mais no poder do coletivo e é muito difícil retomar essa dinâmica.” (extratos do relatório de Maragogipe)
Quanto ao grupo dos ACS de Santo Amaro, houve apenas uma abordagem sobre a associação entre os saberes e fazeres tradicionais e a saúde mental. Ressalte-se que, no início da investigação, percebemos que havia uma certa confusão sobre o significado de ser quilombola, pois muitos pensavam que significava ser herdeiro de escravizados. Após uma longa discussão, o grupo chegou a um acordo sobre o que isto significava e, só então, trouxe a ideia de que esta capacidade que tinha as comunidades quilombolas de preservar e transmitir a sua história e os saberes tradicionais associados era uma fonte de saúde mental para eles:
“A transmissão da cultura, as manifestações culturais, o trabalho e o jeito de trabalhar em mutirão faziam a diferença. [...] Os negros fugiram, conseguiram ter um local para morar livres. Importante passar esse conhecimento às pessoas para relembrar e fincar raízes. No final das contas, ser quilombola significava orgulho de suas raízes e saber que você conhece um modo de vida susceptível de ser capaz de sobreviver em quaisquer circunstâncias. Não precisava estar no território quilombola por isso, e psiquicamente, fazia toda diferença.” (extrato do relatório Santo Amaro)
4.Discussão
A partir desses resultados, foi possível sustentar a hipótese de que a diminuição das práticas dos saberes e fazeres tradicionais consequente a chegada das indústrias seria fonte de adoecimento mental nas comunidades quilombolas como foi evocado pelas pesquisas sobre o impacto da despossessão das terras pelos povos primeiros 16. Mas a maior contribuição dessas pesquisas qualitativas foi explicar do ponto de visto psíquico, como a redução dessas práticas atuaram no aumento do consumo de álcool e outras drogas. Segundo as pesquisas com as pescadoras, praticar as manifestações culturais em geral, o samba em particular, sustentaria a identidade quilombola e assim tiraria os jovens da droga e “curaria a alma”. Enquanto para os ACS, o aumento do consumo de álcool estaria relacionado à necessidade de defender-se contra o medo gerado pelo trabalho industrial associado à chegada dos respectivos trabalhadores exteriores às comunidades quilombolas, com seus hábitos sociais e culturais de entretenimento e alimentação em particular. Isso teria contribuído com a desvalorização dos saberes e fazeres tradicionais quilombolas que, assim, não possibilitariam mais a sobrevivência para quem queria continuar a praticá-los.
Recordemos o raciocínio proposto por Dejours, Dessors e Molinier 10 no artigo citado anteriormente: “A identidade na psicodinâmica do trabalho envolve, em primeiro lugar, as características do sujeito que o tornam semelhante aos outros sujeitos da mesma classe. Ser homem é possuir um certo número de características em comum com todos os outros homens. Ser adulto é ter características em comum com a classe adulta”. (p. 114). Assim, podemos defender a ideia de que pertencer à comunidade quilombola, ser quilombola, faz parte da identidade dessas pessoas, que, lembremos, é a espinha dorsal da saúde mental.
Além disso, a identidade é essencialmente uma experiência subjetiva que, para ter certeza, precisa de alguma forma de objetivação. Ou seja, necessita de uma autenticação que fuja da subjetividade. Assim, a identidade está indexada à realidade. E o reconhecimento da identidade pelos outros é sempre também o reconhecimento pelos outros de uma ligação de verdade entre o ego e a realidade, tal como proposto por François Sigaut 12 (Gravura 1) com o seu triângulo da dinâmica da identidade.
Gravura 1
Este reconhecimento não se relaciona diretamente com o ego, mas com o fazer, ou seja, é mediado. Só numa segunda fase é que o reconhecimento do trabalho, do saber-fazer ou do trabalho do ego, pode ser repatriado pelo sujeito como confirmação da sua identidade. Assim, a própria possibilidade de implementar os saberes e fazeres tradicionais quilombola parece decisiva para manter em cada membro da comunidade a convicção de fazer parte dela, de ser quilombola e nutrir este componente da sua identidade.
Seria ainda necessário que outros reconheçam a validade desta ação, que outros compreendam o seu significado, ou seja, que o ato seja situado em relação a uma tradição comum, que seja considerado uma técnica no sentido de Mauss: “ato tradicional eficaz”. Finalmente, o reconhecimento da qualidade deste vínculo que se estabelece pelo ato entre o ego e a realidade supõe que este ato não seja absurdo, mas que seja eficaz. Encontramos assim os três termos do conceito de técnica como “ato tradicional eficaz”. Cada um desses três termos refere-se especificamente a uma das relações interativas entre os três vértices do triângulo de identidade tomados dois a dois. Dessa forma, esses autores propõem o seguinte triângulo que demonstra a ligação entre técnica e identidade segundo eles (Gravura 2).
Gravura 2
Os resultados das pesquisas qualitativas aqui apresentados tendem a consolidar a ideia de que, para esses membros de comunidades quilombolas, a possibilidade de implementar saberes e fazeres tradicionais (exemplos: pesca, roça, artesanato, manifestações culturais), e “ganhar a vida com eles” contribuiria para preservar e construir sua identidade e, portanto, sua saúde mental.
Assim, os ACS puderam vivenciar uma das ações de prevenção mais eficazes para promover a preservação da saúde mental destas comunidades o que consiste em promover a implementação, transmissão e valorização dos saberes e fazeres tradicionais. Seria importante estudos adicionais em outras comunidades tradicionais para avaliar a pertinência desse tipo de ação preventiva. Na revisão da literatura realizada, ações preventivas foram encontradas apenas nas entrelinhas de estudos sobre o impacto da desapropriação de terras na saúde mental de povos originários 16, dos que vivem em reservas no Canadá 19, e dos povos indígenas da Colômbia 20.
4. Conclusão
Neste artigo, graças à abordagem da psicodinâmica do trabalho, pudemos oferecer uma descrição do processo psíquico que está em ação neste caso. Provavelmente, os benefícios da prática, transmissão e valorização dos saberes e fazeres tradicionais vão muito além das comunidades quilombolas ou dos primeiros povos. A contínua perda destes conhecimentos no mundo ocidental não é alheia ao aumento dos problemas de saúde mental e, em particular, no mundo do trabalho.
Este estudo evidenciou a estreita ligação que existe entre as possibilidades de práticas das habilidades tradicionais e a preservação do meio ambiente. Com efeito, estes saberes e fazeres tradicionais que contribuíram, desde o alvorecer da humanidade, para permitir a subsistência, estão intimamente ligados à existência de outros seres vivos, cuja sobrevivência está conformada na qualidade das águas, da terra e do ar. Assim, entendemos claramente que para essas comunidades quilombolas existe um vínculo inabalável entre a preservação do meio ambiente, a preservação de seus saberes tradicionais e a preservação de sua saúde mental. Isso também foi mencionado nas pesquisas citadas sobre os primeiros povos.
Mas, aqui novamente, podemos questionar o fato de que só para estes últimos, esta associação poderia ter sido destacada. Será o trabalho no mundo ocidental tão dissociado do meio ambiente e dos outros seres vivos que a preservação destes últimos já não aparece como condição para preservar a saúde mental da espécie humana? Durante o 11º Colóquio Internacional sobre Psicopatologia e Psicodinâmica do Trabalho, esta ligação foi mencionada tanto para pescadoras e marisqueiras quilombolas 27 quanto para o trabalho da criação de bovino28. Mais pesquisas e experimentos deveriam, portanto, ser realizados sobre esta relação entre meio ambiente, saberes e fazeres tradicionais e saúde mental, que parecia inabalável para essas comunidades quilombolas.
Consideramos, portanto, oportuno propor a ideia de desenvolver estudos sobre condutas terapêuticas centradas na aprendizagem, transmissão e promoção de saberes e fazeres tradicionais, particularmente para jovens que sofrem de doenças mentais. Nessa perspectiva, pretende-se dar continuidade aos estudos por meio de projeto de pesquisa-ação internacional (França - Guiana Francesa e Guadalupe e Caribe francês / Brasil) que visa descrever e analisar as relações entre os saberes e fazeres tradicionais, saúde mental e meio ambiente no âmbito de comunidades tradicionais quilombolas existentes nesses países, baseados na aprendizagem, valorização e/ou transmissão de conhecimentos tradicionais.
Referências
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