0119/2024 - Vivências ambivalentes das pessoas em tratamento da coinfecção tuberculose-HIV: uma metassíntese de estudos qualitativos Ambivalent experiences of people undergoing treatment for tuberculosis-HIV coinfection: a meta-synthesis of qualitative studies
Este estudo objetivou apreender, na literatura científica, as vivências das pessoas em tratamento da coinfecção tuberculose-HIV, a partir de uma revisão sistemática com metassíntese (registro n.º CRD42023410141). Foram buscados artigos originais com dados qualitativos, publicados em português, inglês e/ou espanhol até 2022, em dez bases de dados e nas listas de referências. Os 11 estudos incluídos geraram um meta-tema, composto por quatro temas: (i) o diagnóstico e o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV impactam a vida da pessoa acometida; (ii) a sobreposição de vulnerabilidades pessoais, sociais e econômicas em pessoas com coinfecção tuberculose-HIV; (iii) a carga medicamentosa e as debilidades programáticas prejudicam o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV; e (iv) as redes de apoio e os fluxos de cuidado amparam o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV. As pessoas com coinfecção tuberculose-HIV apresentam necessidades biopsicossociais devido ao diagnóstico, as quais, associadas a fragilidades dos serviços e profissionais da saúde, influenciam negativamente na qualidade de vida e na adesão. No entanto, desvelou-se a importância do suporte social, familiar e de saúde para estimular o (auto)cuidado e proporcionar o adequado tratamento.
This study aimed to capture, in the scientific literature, the experiences of people undergoing treatment for tuberculosis-HIV coinfection, based on a systematic review with meta-synthesis (registration no. CRD42023410141). Original articles with qualitative data, published in Portuguese, English and/or Spanish until 2022, were sought in ten databases and reference lists. The 11 studies included generated a meta-theme, composed of four themes: (i) the diagnosis and treatment of tuberculosis-HIV coinfection impact the life of the affected person; (ii) the overlapping of personal, social and economic vulnerabilities in people with tuberculosis-HIV coinfection; (iii) the medication burden and programmatic weaknesses hinder the treatment of tuberculosis-HIV coinfection; and (iv) support networks and care flows facilitate treatment of tuberculosis-HIV coinfection. People with tuberculosis-HIV coinfection present biopsychosocial needs due to the diagnosis, which, associated with weaknesses in health services and professionals, negatively influence quality of life and adherence. However, the importance of social, family and health support to stimulate (self)care and provide adequate treatment was revealed.
Introdução
A tuberculose (TB) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV) perduram como infecções desafiadoras que impactam os sistemas de saúde, especialmente pela interação mútua na progressão de uma infecção sobre a outra1-3. As chances de adoecimento por TB em pessoas com HIV são cerca de 20 vezes maiores em comparação às pessoas não acometidas pelo vírus1,2. Além disso, as pessoas com HIV comumente apresentam desfechos malsucedidos do tratamento da TB, como óbito, falência e perda de seguimento4-6.
Globalmente, existe um movimento colaborativo para findar as epidemias de TB e HIV até 2030, conforme o postulado na terceira meta do quadro dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU)7. Nesse sentido, são inequívocos os progressos substanciais na detecção precoce, por meio da testagem concomitante para as infecções, e no tratamento oportuno, com a disponibilidade de emprego da terapia antirretroviral (TARV) associada ao regime terapêutico da TB1,3,8.
No Brasil, entre 2010 e 2021, foram notificados 122.211 casos novos de coinfecção TB-HIV na população com 18 a 59 anos; houve tendência de queda da incidência em -4,3% ao ano (intervalo de confiança de 95% [IC95%] -5,1 a -3,7) nesse período9. Todavia, a concomitância das infecções afeta desproporcionalmente o território brasileiro, uma vez que a existência de clusters de alta ocorrência é mais notável em municípios de grande porte, como as capitais, e em áreas de elevada prevalência do HIV e/ou incidência da TB10.
Cabe destacar que as pessoas acometidas pela coinfecção TB-HIV enfrentam barreiras econômicas, socioculturais e comportamentais para o tratamento efetivo das infecções, sobretudo em países com recursos limitados para controle e enfrentamento11,12. Tais entraves decorrem de aspectos relacionados à baixa alfabetização, ao aumento da pobreza, à desigualdade de gênero, à insegurança alimentar ou desnutrição, a estigmas sociais em relação às infecções e à fragilidade no acesso e na vinculação aos serviços de saúde11.
É premente pontuar que o tratamento da coinfecção TB-HIV envolve a adesão a duas terapias: a do HIV que acontece de maneira ininterrupta e a da TB que, em casos típicos da doença, dura pelo menos seis meses13. Embora complexa, a adesão ao tratamento do HIV e da TB é um importante determinante para os resultados bem-sucedidos da coinfecção TB-HIV, minimizando o surgimento de resistência aos medicamentos, de recaída e/ou progressão das infecções e, até mesmo, de morte associada aos agravos14.
Os cuidados centrados na pessoa têm se destacado na vinculação ao tratamento da TB15. Aponta-se que, ao compreender os fatores que interferem nesse seguimento — objeto já abordado por estudos quantitativos4-6 —, é particularmente relevante considerar que: não obstante os efeitos biológicos sejam similares, a experiência com o tratamento é particular e, portanto, deve ser apoiada por estratégias específicas16,17. Outrossim, compilar a literatura qualitativa pode ser útil para permitir que tais singularidades sejam contempladas no cuidado16.
Preliminarmente a este estudo, efetuou-se busca por eventuais revisões sistemáticas, conforme o recomendado18, nas bases: Joanna Briggs Institute (JBI) Evidence Synthesis, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Cochrane, Database of Abstracts of Reviews of Effects e International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), usando-se a estratégia: (“systematic review”) AND (tuberculosis OR coinfection OR “AIDS-related opportunistic infections”) AND (HIV OR “acquired immunodeficiency syndrome”).
As 2.324 publicações recuperadas em fevereiro de 2023 foram analisadas e, como não se tratavam de revisões com metassíntese, percebeu-se o ineditismo em mapear e compilar as evidências qualitativas. Sendo assim, objetivou-se apreender, na literatura científica, as vivências das pessoas em tratamento da coinfecção TB-HIV, visto que compreender esse fenômeno poderá auxiliar na elaboração e/ou na reformulação de planos de cuidados específicos e singulares para promover a melhor qualidade de vida dessa população.
Métodos
Desenho do estudo
Esta é uma revisão sistemática com metassíntese, que visa proporcionar recomendações para nortear políticas públicas a partir da aglutinação de descobertas qualitativas. Esta pesquisa foi elaborada de acordo com os critérios do JBI e relatada conforme as recomendações do checklist Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis (PRISMA)18,19. Ressalta-se que o protocolo foi registrado no PROSPERO (CRD42023410141) e o dataset com os materiais suplementares foi depositado no Mendeley Data20.
As revisões sistemáticas buscam fornecer uma síntese abrangente e imparcial de estudos relevantes, usando métodos rigorosos e transparentes de busca e seleção com intuito de mapear e compilar o conhecimento por meio das seguintes etapas18: (i) formulação da questão de pesquisa; (ii) definição de critérios de inclusão e exclusão; (iii) localização dos estudos; (iv) seleção dos estudos; (v) avaliação da qualidade dos estudos; (vi) extração dos dados; (vii) análise e síntese dos estudos; e (viii) apresentação e interpretação dos resultados.
Formulação da questão de pesquisa
Para estruturar a questão da revisão, empregou-se o mnemônico PICo: população (P), fenômeno de interesse (I) e contexto (Co)18. Neste caso, definiu-se o público adulto (pessoas com idade igual ou superior a 18 anos) como a P; as vivências no decorrer do tratamento para a TB como o I; e a singularidade do conviver com HIV como o Co. Dessa forma, a questão norteadora para as buscas da revisão foi: quais são as vivências de pessoas adultas que convivem com HIV no tratamento da coinfecção por TB?
Definição de critérios de inclusão e exclusão
Foram considerados artigos originais com dados qualitativos publicados nos idiomas português, inglês e/ou espanhol, considerando-se a fluência dos autores, em qualquer período anterior a 2023, tendo em vista que foi o ano de início da revisão. Foram excluídos os trabalhos repetidos, não disponíveis na íntegra e/ou não gratuitos, com resultados parciais e/ou não condizentes com a questão norteadora, incluindo aqueles centrados na perspectiva dos profissionais de saúde e na terapia preventiva da TB entre as pessoas com HIV.
Localização e seleção dos estudos
Inicialmente, localizaram-se Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e equivalentes na Medical Subject Headings (MeSH); e realizou-se busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e na PubMed Central (PMC). Assim, foram considerados os termos: HIV, infecções oportunistas relacionadas com a aids (AIDS-related opportunistic infections), síndrome de imunodeficiência adquirida (acquired immunodeficiency syndrome), tuberculose (tuberculosis), coinfecção (coinfection) e pesquisa qualitativa (qualitative research).
Para a localização dos estudos, foram elencadas dez bases de dados, possibilitando a construção de estratégias de busca específicas e o emprego de filtros para otimizar o processo de seleção (Quadro 1). Os descritores foram associados entre si pelos operadores booleanos “AND” e “OR”; e o descritor do tipo de abordagem foi utilizado somente nas bases em que a busca inicial na sua ausência resultava em um vasto quantitativo de publicações. Além do recorte temporal de publicações até 2022, utilizou-se o refinador de busca: artigo original.
A etapa de busca ocorreu entre abril e agosto de 2023 e foi conduzida por dois doutorandos (LVL e GP), de maneira independente, com auxílio do Rayyan, visando à fidedignidade da seleção. Com o propósito de assegurar maior abrangência no processo de recuperação de estudos, as bases de dados foram consultadas por meio do acesso da Comunidade Acadêmica Federada, disponibilizado no Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Ministério da Educação – Brasil (Capes/MEC).
Os estudos foram selecionados em duas etapas, ilustradas em um fluxograma19. Na primeira, foram analisados os títulos e os resumos, pré-selecionando os potencialmente elegíveis; após, realizou-se a avaliação pela leitura na íntegra. Também foram analisadas, pelas mesmas etapas, as listas de referências dos artigos selecionados pela leitura na íntegra (busca reversa). Nesse momento, divergências entre os revisores em quatro artigos (incluídos) foram resolvidas em consenso com os demais pesquisadores (Material Suplementar 1)20.
Avaliação da qualidade dos estudos
Os estudos potencialmente elegíveis foram submetidos a um processo de avaliação pelo Critical Appraisal Checklist for Qualitative Research, proposto pelo JBI18, que se compõe em dez itens que visam analisar, criticamente, a qualidade e a credibilidade das evidências. A avaliação de cada critério se deu pelas alternativas: “sim”, “não”, “incerto” e “não se aplica”. Os artigos foram avaliados considerando-se a consistência de 70% (ao menos sete itens assinalados como “sim”) como parâmetro para inclusão (Material Suplementar 2)20.
Extração, análise e síntese dos dados
Foram extraídos: autores, título, ano e periódico de publicação, referencial teórico-metodológico (adotado e descrito pelos autores nos estudos), participantes, contexto, técnica(s) de coleta e análise, principais achados e considerações finais. Essas informações foram apresentadas por frequência absoluta (n) e relativa (%). Em seguida, procedeu-se à extração das descobertas da seção de resultados, retirando-se as interpretações (descrições e sínteses) e, pelo menos, uma ilustração que as sustentassem (dado primário proveniente da coleta)18.
Após, essas descobertas foram avaliadas quanto à congruência entre as interpretações e as ilustrações da seguinte forma18: as descobertas inequívocas foram aquelas que não geraram dúvidas quanto à coerência; as equívocas foram aquelas em que a associação entre o dado e a ilustração foi duvidosa; e as descobertas não suportadas foram aquelas em que a ilustração não correspondeu à interpretação. Esse processo foi conduzido por LVL e GP e discutido até a concordância entre os revisores (Material Suplementar 3)20.
A metassíntese qualitativa se deu em três momentos18: no primeiro, houve a extração das interpretações (n=90) com sua respectiva ilustração; o segundo se deu pela categorização das descobertas inequívocas (n=76) e equívocas (n=10) por semelhança teórico-conceitual, gerando achados primários (n=35), que foram agrupadas em subtemas (n=8); e no terceiro, a síntese das categorias originou os temas (n=4) e o meta-tema (n=1) da revisão, que contiveram uma descrição abrangente e explicativa em forma de recomendação.
Apresentação e interpretação dos resultados
A metassíntese se apresentou como uma progressão da concentração de dados de um número maior de achados até um número decrescente de categorias e resultados sintetizados. Dessa forma, para além da construção de um quadro-síntese contendo o percurso de agregação, optou-se por apresentar os achados da revisão por uma representação gráfica, na qual foram representadas, visualmente, as categorias temáticas oriundas dos estudos, contemplando suas interrelações para a compreensão e a explicação do fenômeno de interesse18.
Aspectos éticos
Para este estudo, os autores aderiram às responsabilidades éticas estabelecidas no Brasil por meio da Resolução n.º 466, de 12 de dezembro de 2012, e da Resolução n.º 674, de 6 de maio de 2022, do Conselho Nacional de Saúde. Essas normativas categorizam esta pesquisa como uma investigação isenta de risco por envolver dados anonimizados de domínio público e por não apresentar participantes diretos de pesquisa. Dessa forma, o estudo foi dispensado de apreciação por comitê de ética em pesquisa.
Resultados
O processo de seleção nas bases de dados e nas listas de referências foi ilustrado na Figura 1. Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, esta revisão foi composta por 11 estudos21-31. Os anos de publicação dos artigos foram: 2010 (n=1; 9%), 2012 (n=1; 9%), 2015 (n=1; 9%), 2019 (n=1; 9%), 2020 (n=2; 19%), 2021 (n=2; 19%) e 2022 (n=3; 27%). A origem dos estudos foi predominantemente o Brasil (n=7; 64%), seguido da África do Sul (n=1; 9%), Angola (n=1; 9%), Etiópia (n=1; 9%) e Ucrânia (n=1; 9%) (Quadro 2).
Dentre as características dos estudos incluídos, destacaram-se os exploratórios (n=7; 64%), seguidos por estudos do tipo descritivo (n=3; 27%) e convergente-assistencial (n=1; 9%). Para a coleta de dados, as técnicas empregadas foram: entrevista individual (n=7; 64%), triangulação de métodos (n=3; 27%) e grupo focal (n=1; 9%). Os estudos incluídos tiveram as seguintes avaliações de qualidade: 70% (n=4; 36%), 80% (n=1; 9%), 90% (n=5; 45%) e 100% (n=1; 9%). As demais informações dos estudos foram apresentadas no Quadro 2.
A partir da extração e análise das descobertas emergiu um meta-tema, composto por quatro temas: (i) o diagnóstico e o tratamento da coinfecção TB-HIV impactam a vida da pessoa acometida; (ii) a sobreposição de vulnerabilidades pessoais, sociais e econômicas em pessoas com coinfecção TB-HIV; (iii) a carga medicamentosa e as debilidades programáticas prejudicam o tratamento da coinfecção TB-HIV; e (iv) as redes de apoio e os fluxos de cuidado amparam o tratamento da coinfecção TB-HIV (Quadro 3).
Apreendeu-se que as pessoas com coinfecção TB-HIV apresentam necessidades biopsicossociais que decorrem do impacto do diagnóstico e influenciam negativamente na adesão. Além disso, apresentam desconhecimento sobre o HIV e a TB, possuem práticas de exposição e de risco, dependem de uma carga elevada de medicamentos e vivenciam práticas profissionais inadequadas. No entanto, desvelou-se a importância do suporte social e de saúde para proporcionar o (auto)cuidado e o adequado seguimento ao tratamento (Figura 2).
Discussão
Os achados desta revisão sistemática revelaram uma realidade complexa de difícil gerenciamento do cuidado das pessoas acometidas pela coinfecção TB-HIV, a qual esteve associada à carga de diferentes esquemas terapêuticos, a más condições socioeconômicas e ao estigma social sobre ambas as infecções. Em contraposição, reafirmou-se a potencialidade das políticas públicas e ações que amparam a organização dos serviços de saúde e a vinculação com a rede profissional e social para o adequado seguimento ao tratamento.
A qualidade de vida consiste em um dos principais fatores para avaliar a saúde e o bem-estar das pessoas que vivem com HIV32. Alguns debates sugerem que esse constructo deveria ser compreendido à luz, até então, das metas 90-90-90 (90% das pessoas conheçam seu estado sorológico; 90% das pessoas diagnosticadas estejam em TARV; e 90% das pessoas em TARV tenham supressão viral), considerando-o como um “quarto 90”: 90% das pessoas com carga viral suprimida apresentem boa qualidade de vida33,34.
Todavia, estudo transversal que avaliou a qualidade de vida de pessoas que vivem com HIV na Holanda e na Inglaterra identificou que um terço dos holandeses (35%) e quase metade (47%) dos ingleses relataram ansiedade e/ou depressão34. Vale mencionar que vários fatores podem contribuir para esses sintomas, como a descoberta do diagnóstico de HIV, o impacto nos relacionamentos, a estigmatização, o isolamento social e a experiência de viver com uma doença crônica34, que também foram identificados nesta revisão.
Ainda, essa complexidade de fatores se acentua na presença da TB. Pesquisa realizada em uma cidade da Índia apontou que as pessoas com TB-HIV tiveram uma pontuação média significativamente mais baixa nos domínios relacionados à qualidade de vida em comparação àquelas apenas com HIV35. Nesse sentido, destaca-se a importância de estudos sobre as necessidades e as dificuldades na vivência do processo saúde-doença desse público, podendo colaborar na identificação de demandas e na promoção da qualidade de vida36.
A coinfecção por TB pode impactar, também, o contexto socioeconômico das pessoas com HIV. Estudo de métodos mistos desenvolvido com pessoas acometidas pela TB desvelou que, mesmo após o tratamento, houve recuperação limitada do rendimento e do emprego, dificuldades financeiras persistentes e interrupções escolares contínuas37. Esse cenário reforça a necessidade de programas de proteção social para pessoas com coinfecção, dado o potencial na melhoria das taxas de cura e de adesão ao tratamento38.
Outros aspectos que impactaram negativamente nas vivências de pessoas com TB-HIV foram o conhecimento frágil sobre as infecções e a adoção de hábitos de risco, como uso de álcool e drogas. Outrossim, nota-se que as estratégias de educação em saúde podem ser fundamentais para o seguimento, pois permitem a instrumentalização da pessoa acometida e colaboram para a disposição ao (auto)cuidado39,40. Essas ações podem, inclusive, motivar a mudança de práticas de risco, com vistas a fortalecer a adesão às terapias39,41.
A frágil aderência ao tratamento foi intrinsecamente relacionada à elevada carga de comprimidos. Pesquisas demonstraram que a ocorrência de potenciais interações entre os fármacos, toxicidades aditivas dos medicamentos e problemas de tolerabilidade podem prejudicar o processo de gestão do tratamento41-43. Não obstante, ressalta-se que a combinação atual dos medicamentos da TB com a TARV, na dosagem certa e com início correto, tem gerado uma resposta clínica adequada e uma segurança aceitável41.
Atualmente, diferentemente de diretrizes anteriores do Ministério da Saúde do Brasil, recomenda-se que as pessoas com diagnóstico concomitante das infecções sejam submetidas aos dois tratamentos, com vistas a reduzir a mortalidade associada aos agravos44. A depender da contagem de linfócitos T-CD4+, a TARV deve ser iniciada até a 2ª semana ou na 8ª semana de tratamento anti-TB; para as pessoas com HIV em TARV antes do diagnóstico da TB, o início do tratamento da doença do bacilo de Koch deve ser imediato44.
Além disso, viu-se que a desarticulação entre os níveis de atenção à saúde e a relação fragilizada com os profissionais da saúde também prejudicaram o tratamento da coinfecção TB-HIV. Estudo ecológico em um estado brasileiro identificou maior ocorrência da coinfecção em municípios com alta cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF)45. Os autores sugeriram que a assistência é fragmentada e reativa, com poucas perspectivas de integração do cuidado e de priorização das ações de prevenção e promoção às condições crônicas45.
No contexto nacional, sugere-se que o tratamento da TB seja descentralizado à Atenção Primária à Saúde (APS); em casos de coinfecção com HIV, a pessoa é encaminhada para o seguimento compartilhado, em tese, com os Serviços de Atenção Especializada (SAE)44. Todavia, os SAE assumem, por vezes, o tratamento de forma integral, contribuindo para a persistência de um cuidado pouco integrado sob a lógica de rede, no que pode dificultar o acesso e a vinculação ao tratamento das pessoas em regiões mais distantes e periféricas.
Nesse aspecto, é mister considerar a influência histórico-cultural do estigma e do preconceito, atribuídos às condições, na opção pelo serviço de seguimento e na possível desassistência por parte de profissionais e serviços, decorrente da insegurança em lidar com essa população. Esse contexto coaduna a relevância de fluxos bem estabelecidos entre as redes de atenção local e regional, tendo a vigilância epidemiológica como protagonista a fim de favorecer a troca de informações para o embasamento da assistência.
O estabelecimento de linhas de cuidado integradas e proativas deve ser uma prioridade para os programas de controle da TB e do HIV. Algumas políticas colaborativas de diagnóstico e tratamento, como a oferta da testagem simultânea para ambas as infecções e o fornecimento de terapias da TB e do HIV em serviços descentralizados, têm sido adotadas na América Latina e no Caribe, com bom desempenho na resposta às infecções46. Apesar disso, persiste a necessidade de se reforçar a articulação na prestação de serviços de saúde.
Nesta revisão, as pessoas em tratamento da coinfecção TB-HIV destacaram a importância dos fluxos de cuidado e da organização dos serviços. Pesquisa conduzida em serviço ambulatorial de um município brasileiro identificou que a oferta regular dos medicamentos, a realização periódica de exames para as infecções na própria unidade e a flexibilidade no agendamento de consultas foram fatores que, atrelados à relação e ao vínculo com a equipe multiprofissional, potencializaram a adesão ao tratamento para TB-HIV47.
É importante considerar o papel decisivo atribuído ao apoio social e familiar para o seguimento do cuidado na perspectiva das pessoas com a coinfecção. Estudo transversal realizado na capital do Peru identificou que o suporte social e a qualidade do cuidado influenciaram significativamente na educação em saúde das pessoas acometidas por TB48. Da mesma forma, os autores perceberam que a educação em saúde colaborou com o apoio social e a qualidade do cuidado, oportunizando a melhoria da adesão ao tratamento48.
Nesse contexto, os achados desta revisão ratificam a atuação multi e intersetorial como proposta prioritária para o enfrentamento das infecções, sobretudo da TB6,9,10,49. Essas reflexões convergem para o quadro de ação colaborativa e intersetorial sobre a TB da Organização Mundial da Saúde (OMS), que busca apoiar os países na introdução e na expansão de serviços holísticos centrados nas pessoas com TB, considerando suas comorbidades (como HIV) e seus fatores de risco à saúde, para acelerar a resposta de enfrentamento da doença50.
A exemplo, instituiu-se no Brasil, pelo Decreto n.º 11.494, de 17 de abril de 2023, o Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculose e de Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS), visando propor políticas públicas estruturais e amplas, com foco, para além do tratamento adequado e universal, no acesso à saúde e em medidas de saneamento, inclusão social, educação, moradia, entre outras. As ações do CIEDDS deverão ser avaliadas e, se eficazes, poderão inspirar a atuação de países na eliminação da TB e do HIV até 2030.
Ante o exposto, presume-se o potencial de contribuição desta revisão sistemática para a proposição e a qualificação de políticas públicas, visto que trouxeram luz ao aprofundamento teórico acerca das vivências das pessoas em tratamento da coinfecção TB-HIV. Destarte, as estratégias de vinculação e adesão ao cuidado direcionadas a essa população devem considerar as experiências individuais, sociais e programáticas desveladas neste estudo, atentando-se, também, às particularidades geográficas e culturais entre as populações e os países.
Embora a metassíntese não precise de um mínimo de estudos18, aponta-se como uma limitação desta revisão o pequeno número de publicações, seja pela escassez de pesquisas ou pelo processo de inclusão percorrido. No segundo caso, essa situação pode decorrer da restrição linguística na busca e/ou na seleção; no entanto, não foram encontrados estudos potencialmente elegíveis em outro idioma. Ainda, menciona-se a possibilidade de não captação de estudos indexados em bases de dados não consideradas nesta revisão.
Considerações finais
Esta revisão sistemática apresentou insights sobre a ambivalência das vivências de pessoas em tratamento da coinfecção TB-HIV. Os achados corroboraram a necessidade de projetos terapêuticos individuais, com intuito de propor estratégias e intervenções singulares que visem oportunizar a vinculação e o acesso aos serviços e a adesão às terapias. Além disso, destacaram a necessidade de implementação e fortalecimento de fluxos de informações e de ações entre os serviços de saúde da rede de atenção.
Ressalta-se, ainda, a importância da atuação intersetorial na resposta de enfrentamento às condições, com parceiros envolvidos em todas as etapas da assistência à população, desde a elaboração do plano de cuidado à proposição de comitês e leis que resguardem os direitos a serviços básicos de saúde e bem-estar social. Desse modo, considerar as especificidades das experiências das pessoas em tratamento da TB e do HIV consiste em um dos degraus para acelerar a resposta de eliminação dessas infecções até 2030.
Finalmente, sugere-se que estudos qualitativos sejam desenvolvidos para ampliar a compreensão da coexistência TB-HIV para além da (não) adesão ao tratamento. Nesse sentido, seria oportuno considerar outros atores envolvidos nessas vivências, como familiares, amigos e profissionais de saúde. Além disso, é necessário que tais estudos avancem em termos de: (i) robustez teórica, elegendo referenciais que sustentem a interpretação dos dados; e (ii) robustez metodológica, substituindo o plano descritivo-exploratório para o explicativo-interpretativo.
Colaboradores
LV Lima e G Pavinati: concepção e delineamento do estudo, coleta de dados, levantamento de referências, análise e interpretação dos dados, redação do artigo, revisão crítica e aprovação da versão final. AJR Barrêto, MA Salci, MS Barreto e GT Magnabosco: análise e interpretação dos dados, revisão crítica e aprovação da versão final do artigo.
Conflitos de interesse
Os autores não têm conflitos de interesse a declarar.
Financiamento
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brasil (MCTI/CNPq) – Processo n.º 445760/2023-0.
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Ambivalent experiences of people undergoing treatment for tuberculosis-HIV coinfection: a meta-synthesis of qualitative studies
Resumo (abstract):
This study aimed to capture, in the scientific literature, the experiences of people undergoing treatment for tuberculosis-HIV coinfection, based on a systematic review with meta-synthesis (registration no. CRD42023410141). Original articles with qualitative data, published in Portuguese, English and/or Spanish until 2022, were sought in ten databases and reference lists. The 11 studies included generated a meta-theme, composed of four themes: (i) the diagnosis and treatment of tuberculosis-HIV coinfection impact the life of the affected person; (ii) the overlapping of personal, social and economic vulnerabilities in people with tuberculosis-HIV coinfection; (iii) the medication burden and programmatic weaknesses hinder the treatment of tuberculosis-HIV coinfection; and (iv) support networks and care flows facilitate treatment of tuberculosis-HIV coinfection. People with tuberculosis-HIV coinfection present biopsychosocial needs due to the diagnosis, which, associated with weaknesses in health services and professionals, negatively influence quality of life and adherence. However, the importance of social, family and health support to stimulate (self)care and provide adequate treatment was revealed.
Ambivalent experiences of people in treatment for tuberculosis-HIV coinfection: a meta-synthesis of qualitative studies
Vivências ambivalentes das pessoas em tratamento da coinfecção tuberculose-HIV: uma metassíntese de estudos qualitativos
Lucas Vinícius de Lima (https://orcid.org/0000-0002-9582-9641) – Lima, L. V. – lvl.vinicius@gmail.com – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. Av. Colombo, 5.790 – Bloco 02, Zona 7, 87020-900.
Gabriel Pavinati (https://orcid.org/0000-0002-0289-8219) – Pavinati, G. – gabrielpavinati00@gmail.com – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil.
Anne Jaquelyne Roque Barrêto (https://orcid.org/0000-0002-6852-8480) – Barrêto, A. J. R. – anne.jaquelyne@academico.ufpb.br – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil.
Maria Aparecida Salci (https://orcid.org/0000-0002-6386-1962) – Salci, M. A. – masalci@uem.br – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil.
Mayckel da Silva Barreto (https://orcid.org/0000-0003-2290-8418) – Barreto, M. S. – msbarreto@uem.br – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil.
Gabriela Tavares Magnabosco (https://orcid.org/0000-0003-3318-6748) – Magnabosco, G. T. – gtmagnabosco@uem.br – Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil.
Abstract
This study examined the scientific literature, by means of a systematic review with meta-synthesis (PROPSPERO No. CRD42023410141), to discover the experiences of people undergoing treatment for tuberculosis-HIV coinfection. Ten databases and reference lists were searched for original articles with qualitative data, published in Portuguese, English and/or Spanish up to 2022. The 11 studies included yielded a meta-theme comprising four themes: (i) tuberculosis-HIV coinfection diagnosis and treatment have impact on the life of the affected person; (ii) personal, social and economic vulnerabilities overlap in people with tuberculosis-HIV coinfection; (iii) medication burden and programmatic weaknesses hinder the treatment of tuberculosis-HIV coinfection; and (iv) support networks and care flows facilitate treatment of tuberculosis-HIV coinfection. Due to the diagnosis, people with tuberculosis-HIV coinfection raise biopsychosocial needs which, associated with weaknesses in health services and practitioners, adversely affect their quality of life and treatment adherence. However, social, family and health care support were revealed to be important to stimulating (self-)care and providing appropriate treatment.
Keywords: HIV; Tuberculosis; Coinfection; Systematic review; Qualitative research.
Resumo
Este estudo objetivou apreender, na literatura científica, as vivências das pessoas em tratamento da coinfecção tuberculose-HIV, a partir de uma revisão sistemática com metassíntese (PROSPERO n.º CRD42023410141). Foram buscados artigos originais com dados qualitativos, publicados em português, inglês e/ou espanhol até 2022, em dez bases de dados e nas listas de referências. Os 11 estudos incluídos geraram um meta-tema, composto por quatro temas: (i) o diagnóstico e o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV impactam a vida da pessoa acometida; (ii) a sobreposição de vulnerabilidades pessoais, sociais e econômicas em pessoas com coinfecção tuberculose-HIV; (iii) a carga medicamentosa e as debilidades programáticas prejudicam o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV; e (iv) as redes de apoio e os fluxos de cuidado amparam o tratamento da coinfecção tuberculose-HIV. As pessoas com coinfecção tuberculose-HIV apresentam necessidades biopsicossociais devido ao diagnóstico, as quais, associadas a fragilidades dos serviços e profissionais da saúde, influenciam negativamente na qualidade de vida e na adesão. No entanto, desvelou-se a importância do suporte social, familiar e de saúde para estimular o (auto)cuidado e proporcionar o adequado tratamento.
Palavras-chave: HIV; Tuberculose; Coinfecção; Revisão sistemática; Pesquisa qualitativa.
Introduction
Tuberculosis (TB) and human immunodeficiency virus (HIV) have persisted as challenging infections with impact on health systems, especially from the interaction between progression of the two infections1-3. Persons with HIV are around 20 times more likely to contract TB than those without the virus1,2. Also, persons with HIV commonly display unsuccessful TB treatment outcomes, including death, failure and loss to follow-up4-6.
A global collaborative movement is underway to end the TB and HIV epidemics by 2030, as stated in the third goal of the United Nations (UN) Sustainable Development Goals (SDGs)7. In that connection, substantial progress has undeniably been made in early detection by means of concomitant testing for the infections and early treatment, as antiretroviral therapy (ART) has become available for use in combination with the TB therapy regimen1,3,8.
In Brazil, between 2010 and 2021, 122,211 new cases of TB-HIV coinfection were reported in the population from 18 to 59 years of age; incidence trended downward by −4.3% per year in that period (95% confidence interval [95%CI] −5.1 to −3.7)9. Nonetheless, these infections occurring concomitantly affect Brazil disproportionately nationwide, because of the existence of high-occurrence clusters, particularly in larger urban municipalities, such as state capitals, and in areas where HIV prevalence and/or TB incidence are high10.
Note that people suffering from TB-HIV coinfection face economic, socio-cultural and behavioural barriers to effective treatment, particularly in countries with limited resources for controlling and combating these infections11,12. These obstacles result from factors relating to low levels of literacy, increasing poverty, gender inequalities, food insecurity or malnutrition, infection-related social stigmas, and poor access to and bonding with health care services11.
It must be stressed that treatment for TB-HIV coinfection entails adhering to both therapies: to HIV therapy, which is uninterrupted, and to TB therapy, which lasts at least six months in typical cases13. Although treatment for HIV and TB is complex, adherence is a prime determinant of successful TB-HIV coinfection outcomes and minimises the emergence of drug resistance, relapse and/or progression of the infections, and even death associated with these conditions14.
Person-centred care has played a prominent role in TB treatment15. It has been pointed out that, in understanding the factors in play in this follow-up—as addressed by quantitative studies4-6—it is particularly important to bear in mind that, although the biological effects are similar, the experience of treatment is individual and, accordingly, should be supported by specific strategies16,17. In that light, a compilation of the qualitative literature may be useful in enabling care to contemplate these singularities16.
As a preliminary to the study and as recommended18, a search for systematic reviews was conducted in the following databases: Joanna Briggs Institute (JBI) Evidence Synthesis, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online, Cochrane, Database of Abstracts of Reviews of Effects and International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), using the strategy: (“systematic review”) AND (tuberculosis OR coinfection OR “AIDS-related opportunistic infections”) AND (HIV OR “acquired immunodeficiency syndrome”).
The 2,324 publications retrieved in February 2023 were examined and, as none was a review with meta-synthesis, it was realised that to map and compile the qualitative evidence would be unprecedented. Accordingly, the aim here was to review the scientific literature to learn the experience of persons undergoing treatment for TB-HIV coinfection, given that understanding that phenomenon would assist in formulating and/or re-formulating specific, individual health care plans to foster better quality of life for this population.
Methods
Study design
This systematic review with meta-synthesis was designed to assemble qualitative discoveries and to produce recommendations to guide public policymaking. This study was conducted to JBI criteria and reported as recommended by the Preferred Reporting Items for Systematic Review and Meta-Analysis (PRISMA) checklist18,19. The protocol was registered with PROSPERO (CRD42023410141) and the dataset with supplementary material was deposited in Mendeley Data20.
Systematic reviews seek to provide a comprehensive, impartial synthesis of important studies, using rigorous, transparent search and selection methods, then to map and compile knowledge by way of the following stages18: (i) formulating the research question; (ii) specifying inclusion and exclusion criteria; (iii) locating studies; (iv) selecting studies; (v) appraising the studies’ quality; (vi) extracting data; (vii) analysing and synthesising studies; and (viii) presenting and interpreting the results.
Formulating the research question
The research question was structured by employing the mnemonic PICo: population (P), phenomenon of interest (I) and context (Co)18. In this case, P was specified as the adult population (persons aged 18 or more years old); I as experiences in the course of treatment for TB; and Co as the singularity of living with HIV. In that way, the question guiding the searches for the review was: what are the experiences of adult persons living with HIV in treatment for coinfection with TB?
Specification of inclusion and exclusion criteria
The search considered original particles with qualitative data published in Portuguese, English and/or Spanish (in which the authors are fluent) at any time prior to 2023 (as that was the year in which the review began). The search excluded repeat studies, studies not available in full and/or free of charge and those whose findings were partial and/or not relevant to the guiding question, including those centring on a health practitioners’ perspective or on TB-prevention therapy among persons with HIV.
Locating and selecting studies
First, Health Sciences Descriptors (DeCS) and Medical Subject Headings (MeSH) equivalents were identified and searches were conducted of the Virtual Health Library (VHL) and PubMed Central (PMC). Here, the terms used were: HIV, infecções oportunistas relacionadas com a aids (AIDS-related opportunistic infections), síndrome de imunodeficiência adquirida (acquired immunodeficiency syndrome), tuberculose (tuberculosis), coinfecção (coinfection) and pesquisa qualitativa (qualitative research).
Studies were located from a list of ten databases, which made it possible to construct specific search strategies and use filters to optimise the selection process (Table 1). Associations were established between the descriptors using the Boolean operators “AND” and “OR”, while the “approach type” descriptor was used only on databases where the initial search without it resulted in a vast number of publications. In addition to the timeframe of publications up to 2022, the search was refined using “original article”.
The search was conducted between April and August 2023 by two doctoral students (LVL and GP), working independently with the assistance of Rayyan, to assure a trustworthy selection. In order to assure a more inclusive article retrieval process, the databases were consulted using the Comunidade Acadêmica Federada access, provided on the Portal de Periódicos of the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/Ministry of Education (CAPES/MEC).
The studies were selected in two stages, as illustrated below in a flow diagram19. The first stage involved examining the titles and abstracts and preselecting potentially eligible studies, which were then evaluated by reading in full. The reference lists of articles selected for reading in full were also examined (reverse search), following the same stages. At that point, divergences between the reviewers on four included articles were resolved in consensus with the other researchers (Supplementary Material 1)20.
Appraising the quality of the studies
The potentially eligible studies underwent a process of evaluation guided by the JBI Critical Appraisal Checklist for Qualitative Research18. This comprises ten items to guide critical appraisal of evidence quality and credibility. Assessment on each criterion is expressed by the alternatives: “yes”, “no”, “uncertain” and “not applicable”. The articles were evaluated on the basis of 70% consistency (i.e., at least seven items assessed as “yes”) as the inclusion parameter (Supplementary Material 2)20.
Data extraction, analysis and synthesis
The data items extracted were: authors, title, year and journal of publication, theoretical and methodological frame of reference (as adopted and described by the study’s authors), participants, context, data collection and analysis techniques, main findings and final remarks. This information was presented as absolute frequency (n) and relative frequency (%). Extraction of data on the discoveries of the findings section recorded the interpretations (descriptions and syntheses) and at least one supporting illustration (a primary datum originating in the data collection)18.
These discoveries were then evaluated for congruency between interpretations and illustrations, as follows18: unquestionable discoveries were those that raised no doubts as to their consistency; questionable discoveries were those where the association between datum and illustration was dubious; and unsupported discoveries were those where the illustration did not match the interpretation. This process was performed by LVL and GP and discussed until the reviewers were in agreement (Supplementary Material 3)20.
The qualitative meta-synthesis took place in three stages18: the first involved extracting the interpretations (n=90) with their respective illustrations; in the second, the discoveries were categorised, by their similarities in theory and concept, as unquestionable (n=76) and questionable (n=10), resulting in primary findings (n=35), which were grouped into sub-themes (n=8); and, in the third stage, synthesis of the categories yielded the themes (n=4) and meta-theme (n=1), the latter containing an inclusive, explanatory description and recommendation.
Presentation and interpretation of results
The meta-synthesis took the form of a progressive concentration of data from a larger number of findings, synthesising to a decreasing number of categories and results. In addition to building a synthesis table reflecting the aggregation process, it was decided to present the review findings graphically, representing them as thematic categories arising from the studies and contemplating their interrelations, with a view to understanding and explaining the phenomenon of interest18.
Ethical considerations
For this study, the authors fulfilled the ethical responsibilities stipulated in Brazil by National Health Council Resolution No. 466, of 12 December 2012, and Resolution No. 674, of 6 May 2022. These norms categorise this study as risk-free, because it involves anonymous data in the public domain and does not involve research participants directly. Accordingly, the study was dispensed from assessment by the research ethics committee.
Results
The process of selecting from the databases and reference lists is illustrated in Figure 1. After application of the inclusion and exclusion criteria, this review comprised 11 studies21-31. By publication year, the articles numbered: 2010 (n=1; 9%), 2012 (n=1; 9%), 2015 (n=1; 9%), 2019 (n=1; 9%), 2020 (n=2; 19%), 2021 (n=2; 19%) and 2022 (n=3; 27%). The studies originated predominantly in Brazil (n=7; 64%), followed by South Africa (n=1; 9%), Angola (n=1; 9%), Ethiopia (n=1; 9%) and Ukraine (n=1; 9%) (Table 2).
The studies included were primarily exploratory (n=7; 64%), followed by descriptive (n=3; 27%) and convergent-care (n=1; 9%) studies. The data collection techniques employed were: individual interview (n=7; 64%), triangulation of methods (n=3; 27%) and focal group (n=1; 9%). The quality of the studies included was rated as: 70% (n=4; 36%), 80% (n=1; 9%), 90% (n=5; 45%) and 100% (n=1; 9%). Other information on the studies is given in Table 2.
Extraction and analysis of the discoveries yielded a meta-theme, comprising four themes: (i) diagnosis and treatment of TB-HIV coinfection have impact on the life of the person involved; (ii) personal, social and economic vulnerabilities overlap in people with TB-HIV coinfection; (iii) drug burden and programme weaknesses impair treatment of TB-HIV coinfection; and (iv) support networks and care flows favour treatment of TB-HIV coinfection (Table 3).
It was discovered that people with TB-HIV coinfection present bio-psycho-social needs resulting from the impact of the diagnosis, which adversely affect adherence. Moreover, they show a lack of knowledge of HIV and TB, engage in exposure and risk behaviour, depend on a heavy drug burden and experience inappropriate professional conduct. However, social and health care support was found to be important to fostering (self-)care and proper treatment follow-up (Figure 2).
Discussion
The findings of this systematic review revealed the complex, difficult realities of managing care for people with TB-HIV coinfection, which were associated with the burden of different therapeutic regimens, socioeconomic conditions and the social stigma attendant on both infections. On the other hand, they reaffirmed the potential of public policies and measures to support health service organisation and bonding with the professional and social network in favour of proper treatment follow-up.
Quality of life is one of the main factors in assessing the health and wellbeing of people who live with HIV32. Some discussions have suggested that this construct should be understood in the light of (at that date) the 90-90-90 goals (90% of people living with HIV knowing their serological status, 90% of people living with HIV who know their status being on ART and 90% of people living with HIV on ART achieving viral suppression)—considering a “fourth 90” to be 90% of people who achieve viral suppression enjoying good quality of life33,34.
However, a cross-sectional study that evaluated the quality of life of people living with HIV in Holland and England found that one third (35%) of the Dutch participants and nearly half (47%) the English participants reported anxiety and/or depression34. Note that several factors can contribute to these symptoms, such as the discovery of a diagnosis of HIV, its impact on relationships, stigmatisation, social isolation and the experience of living with a chronic disease34, as were also identified in this review.
Also, this complexity of factors is accentuated by the presence of TB. A study in a city in India found that, on average, people with TB-HIV scored significantly lower in the quality of life-related domains than those with HIV alone35. In that regard, studies of this public’s needs and difficulties in experiencing the health-disease process can collaborate in identifying demands and promoting quality of life36.
Coinfection with TB can also have an impact on the socioeconomic context of people with HIV. A mixed-method study of people with TB found that, even after treatment, recovery of income and employment was limited, financial difficulties persisted and interruptions to schooling continued37. This scenario underlines the need for social protection programmes for people with coinfection, given the potential for improved rates of cure and treatment adherence38.
Other factors with adverse impact on the experiences of people with TB-HIV were their scant knowledge about the infections and engaging in risk habits, such as alcohol and drug use. Meanwhile, note that health education strategies can be fundamental to follow-up, because they enable the coinfected person and collaborate towards a willingness to engage in (self-)care39,40. These measures can even motivate a change away from risk behaviour, with a view to strengthening adherence to therapy39,41.
Weak treatment adherence was intrinsically related to high drug burden. Research has shown that the occurrence of potential interactions between drugs, additive drug toxicities and problems of tolerability can undermine the treatment management process41-43. Nonetheless, the current combination of TB drugs with ART, at the right dosage and correctly timed onset, has produced appropriate clinical response and acceptable safety41.
At present, unlike the Brazilian Ministry of Health’s previous guidelines, it is recommended that persons with concomitant HIV-TB diagnoses should be treated for both infections, with a view to reducing related mortality44. Depending on the T-CD4+ lymphocyte count, ART should be started by the second week or on the eighth week of anti-TB treatment; for persons with HIV on ART prior to diagnosis of TB, treatment for TB should begin immediately44.
In addition, a lack of coordination between levels of health care and a fragile relationship with health practitioners also undermined treatment for TB-HIV coinfection. An ecological study in one Brazilian state identified greater occurrence of coinfection in municipalities with strong coverage by the Family Health Strategy45. Its authors suggested that care is fragmented and reactive, with little prospect of integrating care or of prioritising prevention and promotion measures for chronic conditions45.
In the Brazilian context, it is suggested that TB treatment should be decentralised to primary healthcare; in cases of coinfection with HIV, the patient is referred to follow-up shared, in principle, with specialised care services44. At times, however, the specialised services take over treatment completely, thus contributing to a persistent lack of care integration in the system, which can hinder access and adherence to treatment among people in more distant and peripheral areas.
It is essential to consider the historical and cultural influence of the stigma and prejudice attendant on these conditions: on the one hand, they affect patients’ choices of follow-up services and, on the other, underlie a possible lack of care on the part of health practitioners, resulting from insecurity in dealing with this population. This underscores the importance of firmly established flows between local and regional care networks, with epidemiological surveillance playing a leading role, so as to favour sharing of information on which to base care.
Establishing integrated, proactive lines of care must be a priority for TB and HIV control programmes. Some collaborative diagnostic and treatment policies applied in Latin America and the Caribbean have offered simultaneous testing for both infections and provided TB and HIV therapies in decentralised services. These have performed well in responding to the infections46. Nonetheless, there is a persistent need to reinforce coordination in health service provision.
In this review, the people undergoing treatment for TB-HIV coinfection stressed the importance of care flows and service organisation. A study in one Brazilian municipality’s outpatient service found that a regular supply of drugs, periodical testing for the infections at the facility itself and flexible appointment scheduling were factors that, jointly with the relationship and bond to the multi-profession staff, strengthened adherence to TB-HIV treatment47.
It is important to consider, from the perspective of people with coinfection, the decisive role of social and family support to follow-up care. A cross-sectional study in the capital city of Peru found that social support and quality of care significantly influenced the health education of people infected with TB48. The study’s authors also found that health education collaborated with social support and quality of care to provide opportunities for improving treatment adherence48.
The findings of this review ratify the appropriateness of multi- and inter-sector care as a priority for combating these infections, particularly TB6,9,10,49. This thinking converges with the World Health Organisation’s framework of collaborative and inter-sector measures against TB, which is designed to support countries in introducing and expanding comprehensive services centred on persons with TB and considering their comorbidities (such as HIV) and health risk factors, in order to accelerate the response by efforts to combat the disease50.
In Brazil, for example, Decree No. 11,494, of 17 April 2023, instituted the Comitê Interministerial para a Eliminação da Tuberculosis e de Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS), with a view to proposing broad, structural policies going beyond appropriate and universal treatment, to focus on access to healthcare and sanitation measures, social inclusion, education, housing and so on. The actions of the CIEDDS should be evaluated and, if effective, can inspire countries’ efforts to eliminate TB and HIV by 2030.
In view of the foregoing, this systematic review will contribute to proposing and informing public policies, given that it has thrown in-depth theoretical light on the experiences of people undergoing treatment for TB-HIV coinfection. Accordingly, strategies designed to improve bonding and adherence to the care directed to this population should consider the individual, social and programmatic experiences revealed in this study and contemplate also the specific geographic and cultural features of the populations and countries involved.
Although there was no need for a minimum number of studies in this meta-synthesis18, one limitation of this review is the small number of publications resulting from either the lack of studies or the inclusion process. In the latter case, this situation may have resulted from the language restrictions on the search and/or on the selection process; however, no potentially eligible studies in other languages were found. Any studies indexed in databases not considered by this review would also not have been included.
Final remarks
This systematic review offered insights into the ambivalence of the experiences of people undergoing treatment for TB-HIV coinfection. The findings corroborate the need to formulate individual therapeutic projects and to propose singular strategies and interventions designed to offer opportunities for access and bonding to services and adherence to therapies. Moreover, they highlighted the need to implement and strengthen flows of information and action among health services in the care network.
It is also important that the response to combat these conditions rest on inter-sector action engaging the partners involved at all stages of care for the population, from the development of care plans to proposals for committees and laws to safeguard the right to basic health services and social wellbeing. In this way, one of the steps towards accelerating the response to eliminate these infections by 2030 is to take into consideration the specific features of the experiences of people undergoing treatment for TB and HIV.
Lastly, it is suggested that qualitative studies be undertaken to expand the understanding of the coexistence of TB and HIV beyond (non-)adherence to treatment. It would be a good idea to consider other actors involved in these experiences, such as relatives, friends and health practitioners. Moreover, such studies must seek to be more: (i) theoretically robust, by selecting frames of reference that sustain the interpretation of their data; and (ii) methodologically robust, moving beyond the descriptive-exploratory plane to become explanatory and interpretative.
Collaborators
LV Lima and G Pavinati: study conception and design, data collection, search of references, data analysis and interpretation, drafting of the article, critical review and approval of the final version. AJR Barrêto, MA Salci, MS Barreto and GT Magnabosco: data analysis and interpretation, critical review and approval of the final version.
Funding
Ministry of Science, Technology and Innovation/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Brazil (MCTI/CNPq) – Process No. 445760/2023-0.
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Como
Citar
Lima, L. V., Pavinati, G., Barrêto, A. J. R., Salci, M. A., Barreto, M. S., Magnabosco, G. T.. Vivências ambivalentes das pessoas em tratamento da coinfecção tuberculose-HIV: uma metassíntese de estudos qualitativos. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/abr). [Citado em 23/01/2025].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/vivencias-ambivalentes-das-pessoas-em-tratamento-da-coinfeccao-tuberculosehiv-uma-metassintese-de-estudos-qualitativos/19167?id=19167