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0469/2007 - Alta prevalência de usuários que não retornam ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para o conhecimento do seu status sorológico - Rio Grande, RS, Brasil
High prevalence of users who didn’t return to Testing and Counseling Center (TCC) for awareness of their serological status - Rio Grande, RS, Brazil

Autor:

• Fabiana Nunes Germano - Fabiana Nunes Germano - Rio Grande, RS - Fundação Universidade Federal do Rio Grande-FURG - <fngermano@yahoo.com.br>


Área Temática:

Não Categorizado

Resumo:

Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) constituem importantes fontes de informações epidemiológicas, que quando bem gerenciadas e atualizadas, permitem o conhecimento e a análise das características da população atendida por esses serviços. Esse estudo descreve o perfil dos usuários do CTA de Rio Grande-RS que foram submetidos à sorologia anti-HIV entre os anos de 2001 e 2004. Variáveis demográficas relativas ao comportamento e práticas das pessoas que procuraram o serviço foram analisadas, mediante consulta ao banco de dados SISCTA-2002/RG. A soropositividade para HIV-1 foi de 1,1%; 2,4%; 2,3% e 1,7% de 2001 a 2004, respectivamente. Nos anos de 2003 e 2004, 37,7% e 36%, respectivamente, dos pacientes HIV-1+ não retornaram ao CTA para conhecimento dos exames anti-HIV ou confirmatório. Os resultados analisados parecem refletir algumas tendências da epidemia em Rio Grande e no país. É importante ressaltar a alta porcentagem de pacientes HIV-1 positivos que não procuram o resultado do seu teste. Em termos de saúde pública essa situação pode colocar em risco os esforços para o controle da epidemia.
PALAVRAS CHAVE: HIV – CTA – sorologia – sífilis – comportamento de risco

Abstract:

The Testing and Counseling Centers are important sources of epidemical information. This study describes a research accomplished with the users of Testing and Counseling Center of Rio Grande-RS who were submitted to the anti-HIV test during the period from 2001 to 2004. Demographical and behavioral factors of people who attended the service were analyzed, using the database SISCTA-2002/RG to access statistical reports about the users. The seropositivity for HIV-1, from 2001 to 2004, was 1,1%; 2,4%; 2,3% and 1,7%, respectively. In 2003 and 2004, 37,7% e 36% of the HIV-1 positive patients didn’t return to Testing and Counseling Center for awareness of their serological condition about anti-HIV or confirmatory tests. The results reflect some tendencies of the HIV’s epidemic in Rio Grande and in Brazil. It is important to emphasize the high percentage of HIV-1 positive patients who unknown their serological status. In terms of public health this situation may jeopardize the efforts for controlling the epidemic.
KEY WORDS: HIV – serology – syphilis – risk behavior

Conteúdo:

O princípio básico e fundamental em epidemiologia é que os agravos à saúde não se distribuem de uma forma aleatória numa população, já que existem fatores de risco que determinam essa distribuição. No entanto, alguns fatores de risco têm dinâmica e métodos de prevenção bastante complexos, o que torna mais difícil o controle e a erradicação dos problemas a eles associados. É o que se evidencia em relação às doenças sexualmente transmissíveis (DST), que estão diretamente ligadas a fatores culturais e comportamentais e constituem um dos problemas de saúde pública mais prevalentes em todo o mundo1.
O Brasil responde por mais de um terço de pessoas vivendo com HIV na América Latina. O maior número de casos de AIDS ocorre nas regiões sudeste e sul, que juntas somam 84% dos casos notificados. As maiores taxas de incidência estão nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul – que em 2002 registrou a mais alta incidência de casos novos do país naquele ano2. O município de Rio Grande, com 195.392 habitantes3 e taxa de incidência de 39,6 casos de AIDS por 100.000 habitantes4, registrou no período entre 1986-2005 947 casos de AIDS notificados no SINAN (Sistema de Informações de Agravos de Notificação)5. Esse elevado número de casos pode estar vinculado as características de cidade portuária, universitária e balneária, com uma população flutuante e freqüentes situações de prostituição e drogadição. O perfil da epidemia na cidade segue as tendências de heterossexualização, feminização, pauperização, observadas no país6, e crescimento de casos na terceira idade (10% dos casos)7.
Diante da complexidade e da diversidade dos problemas provocados pela epidemia HIV/AIDS, a oferta de testes sorológicos, mundialmente, colocou-se como uma das importantes estratégias de controle epidemiológico. Os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) no Brasil caracterizam-se pela oferta dos testes sorológicos anti-HIV e VDRL (diagnóstico de sífilis) acompanhada de aconselhamento pré e pós-exame. A gratuidade, voluntariedade e confidencialidade são marcas distintivas desses serviços8. As ações de aconselhamento realizadas no âmbito dos CTA (aconselhamento coletivo pré-teste e aconselhamento individual pós-teste) almejam que o indivíduo passe a integrar, na sua experiência pessoal, as informações sobre HIV/AIDS e prevenção, e que encontre alternativas pessoais para o enfrentamento das questões propostas pela epidemia9.
Na cidade de Rio Grande/RS, a Secretaria Municipal da Saúde e a Coordenação Municipal de DST/AIDS montaram em conjunto o CTA e o Laboratório Municipal de Análises Clínicas (LAMAC) que propiciam a realização em parceria do aconselhamento e da testagem sorológica, respectivamente, dos pacientes que procuram esses serviços espontaneamente ou por encaminhamento médico.
O estudo do perfil epidemiológico da população que procura o CTA/RG é importante, pois auxilia no conhecimento das características dos grupos populacionais e possibilita o melhor direcionamento das campanhas de prevenção. O presente trabalho teve como objetivo descrever o perfil epidemiológico das pessoas que procuraram o CTA/RG para conhecer seu status sorológico referente às infecções pesquisadas, entre os anos de 2001-2004.

2. METODOLOGIA
Os testes anti-HIV, VDRL e a triagem sorológica para as hepatites virais B e C são realizados no Setor de Imunologia do Laboratório Municipal de Análises Clínicas (LAMAC), para onde o CTA/RG envia as amostras de soro dos pacientes que procuram o serviço. O LAMAC e o CTA/RG estão localizados no Centro Municipal de Saúde (Posto IV), em Rio Grande-RS. Embora todos esses testes sorológicos sejam oferecidos atualmente, definiu-se como população de referência para o estudo todos os indivíduos atendidos no CTA/RG entre os anos de 2001 e 2004, que realizaram o teste anti-HIV e VDRL. A testagem para as hepatites virais foi inserida na rotina do CTA/RG recentemente e seus resultados não integram a presente pesquisa.
O diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV é regulamentado por meio da Portaria de Nº 59/GM/MS, de 28 de janeiro de 2003. A execução do teste e a emissão dos resultados seguem rigorosamente o fluxograma do Ministério da Saúde. O controle dos resultados dos exames de cada paciente é realizado mediante mapa diário da relação do material biológico (amostras de soro) dos pacientes encaminhados ao laboratório pelo CTA. Os pacientes anti-HIV reagentes pelo método ELISA têm seu soro encaminhado ao Hospital Universitário da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (HU-FURG) para a realização de teste confirmatório por reação de imunofluorescência indireta (RIFI). Havendo divergências quanto ao diagnóstico, a amostra é submetida à análise por método de Western Blot, no Laboratório Central de Análises Clínicas (LACEN) – POA.
No CTA/RG são atendidos indivíduos que, voluntariamente ou por indicação médica, procuram o serviço de saúde para conhecer seu status sorológico em relação às DST (HIV, Hepatite B e Sífilis) e atualmente Hepatite C. Ao dirigirem-se a esse centro de testagem, os pacientes recebem uma orientação pré-teste na forma de palestra coletiva, cujo objetivo é proporcionar esclarecimento sobre essas infecções. Logo após a etapa de pré-aconselhamento, os pacientes que decidirem, mediante consentimento verbal, realizar o teste são encaminhados para a coleta. O anonimato é uma opção àqueles que optam fazer os testes anti-HIV e VDRL (Figura 1).
Os dados das pessoas incluídas no estudo foram coletados através de consulta ao banco de dados SISCTA-2002. Trata-se de um sistema nacional de prontuários de indivíduos atendidos por um CTA em cada município, no qual constam informações obtidas nas etapas de aconselhamento pré-teste e pós-teste e o diagnóstico laboratorial. Dados secundários das pessoas atendidas e que realizaram seus testes anti-HIV entre os anos de 2001 e 2004 foram analisados. Não foi aplicado nenhum tipo de termo de consentimento informado, visto que as informações foram obtidas a partir de relatórios estatísticos agregados e sem qualquer identificação por nome ou número de paciente. A pesquisa teve parecer favorável do Comitê de Ética da FURG. As variáveis analisadas foram: sorologia para HIV (regente, não reagente), retorno ao CTA para conhecimento do status sorológico (Sim/Não), sexo, escolaridade em anos de estudo (nenhum, 1 a 3, 4 a 7, 8 a 11 ou mais de 12), número de parceiros sexuais no último ano e recorte populacional classificado em duas categorias: população geral e população vulnerável. Essa última categoria, por sua vez, agrupa as seguintes categorias de exposição: populações confinadas, caminhoneiros, trabalhadores do sexo, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas injetáveis, usuários de outras drogas, portadores de doenças sexualmente transmissíveis, hemofílicos e profissionais da saúde. Apesar das taxas de infecção entre os profissionais da área da saúde serem baixas, os mesmos encontram-se na categoria de exposição para indicar o risco ocupacional dessa parcela da população à infecção por HIV.
A partir dos relatórios obtidos, os dados foram organizados em um banco de dados no software Excel (Microsoft®). As análises foram realizadas utilizando-se como desfecho duas características observadas no estudo: 1) retorno ou não ao CTA/RG para conhecimento do primeiro resultado ou do confirmatório; 2) o status sorológico positivo ou negativo para HIV-1. Os resultados foram mostrados em gráficos e tabelas.

3. RESULTADOS
A partir da análise do banco de dados SIS/CTA 2002 Rio Grande, obtiveram-se informações sobre o perfil dos usuários do CTA/RG que procuraram o serviço entre os anos de 2001 a 2004 para realizar testes anti-HIV e VDRL. As taxas de soropositividade para HIV (Gráfico 1) foram de 1,1%; 2,4%; 2,3% e 1,7% em 2001, 2002, 2003 e 2004, respectivamente. As taxas de soropositividade para VDRL foram de 1,7%, 1,4%, 0,3% e 0,1% no mesmo período.
As análises a seguir referem-se ao grupo de pessoas atendidas que retornaram ao CTA/RG para conhecimento do seu status sorológico, já que não se dispõe dos dados dos pacientes que não retornam para procurar os resultados de seus testes. A Tabela 1 mostra as características sócio-demográficas dos usuários atendidos pelo CTA/RG. Pode-se observar que, 45,7% das pessoas atendidas tiveram entre 8 e 11 anos de escolaridade e 9,4% eram analfabetos. Entre os indivíduos que foram HIV-1+ entre os anos de 2003 e 2004, 45,9% tinham entre 4 e 7 anos de escolaridade. A maioria dos pacientes testados (93,6%) não integrou as categorias de exposição anteriormente descritas. A proporção de usuários na categoria de populações particularmente vulneráveis cresceu de 1,9% em 2001 para 10,3% em 2004, e entre os indivíduos soropositivos, 55,8% (24/43) em 2003 e 62,5% (20/32) em 2004 pertenciam à essa categoria. Cerca da metade (47,1%) dos pacientes testados tiveram apenas 1 parceiro sexual no último ano e 36,6%, tiveram entre 2 a 4 parceiros sexuais.
A Tabela 2 mostra o número total de pacientes testados e as proporções de não retorno ao CTA/RG para procura do resultado e posterior aconselhamento. Foram realizados 1.472 atendimentos no ano de 2001, 1.365 em 2002, 2.159 em 2003 e 2.225 em 2004. Do total de pessoas atendidas, 24,6% em 2001, 15% em 2002, 13,4% em 2003 e 17,7% em 2004, não retornaram para procurar o resultado do teste anti-HIV realizado. Nos anos de 2003 e 2004, 37,7% (26/69) e 36% (18/50) respectivamente, dos pacientes que tiveram diagnóstico positivo para HIV-1, não retornaram ao CTA/RG para procurar o resultado do seu primeiro teste ou do confirmatório. O não retorno para buscar o resultado do primeiro teste anti-HIV positivo foi de 18,8% (13/69) em 2003 e 22% (11/50) em 2004. Com relação aos anos de 2001 e 2002 não há dados disponíveis, pois as informações sobre os atendimentos nesse período foram perdidas do banco de dados SIS/CTA-2002. Por esse motivo, quanto ao sexo dos pacientes atendidos, só obtiveram-se dados dos anos de 2003 e 2004, onde 61,5% e 60,4%, respectivamente, eram do sexo feminino


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Citar

Fabiana Nunes Germano. Alta prevalência de usuários que não retornam ao Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) para o conhecimento do seu status sorológico - Rio Grande, RS, Brasil. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2007/ago). [Citado em 10/07/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/alta-prevalencia-de-usuarios-que-nao-retornam-ao-centro-de-testagem-e-aconselhamento-cta-para-o-conhecimento-do-seu-status-sorologico-rio-grande-rs-brasil/996?id=996

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