0086/2024 - Análise das implicações da pandemia covid-19 na mortalidade materna no Brasil em 2020-2021 Analysis of the implications of the COVID-19 pandemic on maternal mortality in Brazil in 2020-2021
Trata-se de um estudo descritivo e Ecológico que analisou o comportamento da mortalidade materna durante a pandemia de covid-19 no Brasil em 2020 e 2021, tendo como base dados o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) no DataSUS e do Portal da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). A partir das séries históricas das Razões de Mortalidade Materna (RMM) de 1996 a 2021, identificou-se uma mediana de 56,79/100.000 nascidos vivos concentradas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que durante a pandemia subiu para 110,25/100.000 nascidos vivos. Desses óbitos, 40,5% estiveram relacionados a covid-19 e 70% ocorreram no período puerperal, afetando mulheres solteiras, pardas e com ensino médio. A Região Sul, Centro-Oeste e o DF, elevaram mais de 400% a RMM relacionada ao coronavírus. Identificamos a uma baixa adesão vacinal contra a covid-19 nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com enorme disparidade entre o estado de São Paulo com (268,14%) e Roraima com apenas (4,57%) de cobertura vacinal neste grupo. Concluiu-se que a pandemia gerou efeitos trágicos na saúde materna, regredindo cerca de 20 anos as RMM no Brasil, impondo desafios ainda maiores ao cumprimento da Meta ODS 3.1 para redução da mortalidade materna no País.
Palavras-chave:
mortalidade materna; COVID-19; cobertura vacinal; ODS; Brasil.
Abstract:
This is a descriptive and ecological study that analyzed the behavior of maternal mortality during the covid-19 pandemic in Brazil in 2020 and 2021, based on databoth the Mortality Information System (SIM) at DataSUS and the Network Portal National Health Data (RNDS). From the historical series of Maternal Mortality Ratios (MMR)1996 to 2021, it was identified an average of 56.79 maternal deaths per 100,000 live births, concentrated in the North, Northeast, and Midwest regions, during the pandemic an increase of MMR to 110.25/100,000 live births. Of these deaths, 40.5% were related to Covid-19 and 70% occurred during the postpartum period, affecting brown, and high-school level of education women. The South, Midwest Regions and the Federal District increased the MMR related to the coronavirus by more than 400%. We identified a low adherence to vaccination against COVID-19 was observed in the North, Northeast and Midwest regions. With noteworthy disparities between the State of São Paulo there was a (268.14%) vaccination coverage of immunized pregnant and puerperal women, while in the State of Roraima there was only a (4.57%). As a conclusion, the pandemic had tragic effects on maternal health, setting back the MMR in Brazil by about 20 years, which poses even greater challenges to achieving SDG Target 3.1 for reducing maternal mortality in the country.
INTRODUÇÃO
A mortalidade materna é uma das mais graves violações dos direitos humanos de mulheres, evitável em cerca de 92% dos casos com uma assistência ao parto e ao nascimento de qualidade 1. Em 2019, antes do início da pandemia, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicavam que, diariamente, cerca de 830 mulheres morriam no mundo por complicações relacionadas com gravidez, parto ou puerpério, principalmente em países em desenvolvimento 2.
Após ser declarada como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional em fevereiro de 2020, a infecção por SARS-CoV-2 rapidamente se espalhou em decorrência da alta transmissibilidade e mortalidade em diferentes grupos populacionais e exigiu respostas governamentais imediatas 3 4.
As mutações do vírus e o surgimento das novas variantes agravaram os riscos, principalmente nos grupos com maior vulnerabilidade. Em decorrência das mudanças fisiológicas do corpo das mulheres na gestação e no parto, estas já eram consideradas um grupo de risco com alto potencial para evoluir com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), necessitando de suporte ventilatório e cuidados intensivos, além do risco de evoluir com complicações no parto e no puerpério 5 6.
Cientes da magnitude do excesso de mortalidade materna no Brasil durante a pandemia de covid-19, o objetivo deste artigo é analisar o comportamento da mortalidade materna durante a pandemia de covid-19 no Brasil em 2020 e 2021.
A letalidade da covid-19 em gestantes e puérperas no Brasil teve seu ápice em maio de 2021, onde a média móvel chegou a 47,9 óbitos por semana e atingiu, ao final de 2021, a mais de 2039 óbitos registrados 7. Inúmeros fatores relacionaram-se com essas mortes, tais como: as vulnerabilidades, as iniquidades sociais, as fragilidades na assistência prestada à saúde da mulher e os problemas do Sistema Único de Saúde (SUS) nas diferentes regiões do País, bem como o medo e a insegurança de acessar os serviços de saúde durante o auge da pandemia 8 6.
A vacinação contra a covid-19 era a única ferramenta capaz de conter os avanços da infecção, proteger a frente de trabalho e reduzir os colapsos dos serviços de saúde durante a crise sanitária. Houve um esforço global liderado pela OMS para produção de uma vacina eficaz e segura, que fosse disponibilizada de forma equitativa e igualitária para todos os países, cabendo aos governos iniciativas, investimentos e organização para oportunizar a maior campanha de vacinação da história 9.
No Brasil, a vacinação foi iniciada em janeiro de 2021 pelos grupos priorizados dos profissionais de saúde, indígenas, idosos e portadores de comorbidades. Gestantes e puérperas com comorbidades foram incluídas no calendário em março de 2021, mas, em abril, a vacinação foi suspensa por investigação de eventos adversos e retomada em julho de 2021 para todas as gestantes segundo o calendário da campanha de vacinação 10 11.
Até meados de setembro de 2021, o Brasil era responsável por 50% dos óbitos maternos por covid-19 na América Latina 12. Diferentes acordos internacionais efetuados desde a década de 1990 convergiram para os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), pactuado por 193 lideranças mundiais em setembro de 2015, e dentre as metas, propõem até 2030 reduzir a mortalidade materna para 30 óbitos maternos a cada 100 mil nascidos vivos 2.
A mortalidade materna é um grave problema de saúde pública no Brasil e apresenta grandes diferenças regionais as quais foram ampliadas pela covid-19 iniciada em 2020. Com o colapso dos sistemas de saúde público e privado em todo o mundo, a alta letalidade em diferentes grupos populacionais e o excesso de mortalidade materna fizeram com que houvesse uma regressão de cerca de 20 anos de avanços na redução das Razões de Mortalidade Materna (RMM).
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo e ecológico tendo como unidades de análises as Razões de Mortalidade Materna (RMM), os óbitos maternos causados ou associados a infecção por covid-19 ocorridos em 2020 e 2021 e a cobertura a vacinal de covid-19 em gestantes e puérperas no Brasil em 2021. O contexto é analisado segundo Unidades da Federação (UF) e eventos de política pública expressos em linha do tempo.
Foi realizada uma revisão bibliográfica por seleção intencional sobre mortalidade materna e relação com as metas do ODS 3.1 de redução da RMM global para menos de 70 mortes por 100.000 nascidos vivos até 2030, mortalidade materna por covid-19 e vacinação no Brasil. A pesquisa em bases de dados do Sistema Único de Saúde (SUS) foi realizada no Sistema de Mortalidade Materna (SIM) e no Sistema de Informação em Nascidos Vivos (SINASC) para fins de análise das séries históricas de mortalidade materna geral. As informações sobre o número de doses de vacinas aplicadas em gestantes, puérperas e Mulheres em Idade Fértil (MIF) no Brasil foram obtidas no painel Vacinômetro COVID-19 disponível no site do Departamento de Monitoramento, Avaliação e Disseminação de Dados e Informações Estratégicas em Saúde (DEMAS) 13.
Os principais desafios da coleta, organização e análise destes dados relacionaram-se a se tratar de um evento novo, à fragmentação dessas bases e à ausência de informações atualizadas.
Os dados sobre mortalidade materna foram obtidos no SIM, segundo informações de 4 de agosto de 2022 para construir as séries históricas de mortalidade materna no Brasil de 1996 a 2020 e e de 7 de setembro de 2022 para analisar a mortalidade materna por covid-19 em 2020 e 2021. Estes dados referem-se à Declaração de Óbitos Maternos (Domat) de 2021 e foram atualizados em julho de 2022. A consulta teve como variável de desfecho todos os óbitos que continham na Declaração de Óbito (DO), seja como causa terminal, antecedentes, consequencial ou causa contribuinte dos óbitos e contendo um ou mais CID-10 de uso emergencial publicado pela OMS em 10 de fevereiro de 2020 14.
Os registros do CID-10 de desfechos foram: B 34- doenças por vírus, de localização não especificada; B 34.2-Infecção por coronavírus de localização não especificada; B 97.2-Coronavírus, como causa de doenças classificadas em outros capítulos; U04- Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS); U04.9 - Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS); U 07.1-Infecção pelo novo Coronavírus (COVID-19); U 07.2COVID-19, vírus não identificado; U 08- História pessoal de COVID-19; U 08.9 -História pessoal de COVID-19, não especificada; U 09- Condição pós-COVID-19; U 09.9- Condição de saúde posterior a COVID-19, não especificada; U 10- Síndrome inflamatória multissistêmica associada a COVID-19; U 10.9- Síndrome inflamatória multissistêmica associada a COVID-19, não especificada; U 12- Vacinas COVID-19 que causam efeitos adversos no uso terapêutico; U 12.9- Vacinas COVID-19 que causam efeitos adversos no uso terapêutico, não especificado.
Para elaborar os cálculos da RMM, utilizamos os dados do Sistema de Informações Sobre Nascidos Vivos (Sinasc) com o número total de nascidos vivos retirados pelo Tabnet e multiplicado por 100 mil. Os dados para a avaliação da cobertura vacinal basearam-se no número de doses de vacina contra a covid-19 aplicadas em gestantes, puérperas e MIF no Brasil, por regiões e UF.
Devido à ausência de normas e protocolos que definissem os critérios para cálculo de cobertura vacinal na população de gestantes e puérperas em relação a vacinação covid-19, foi realizada uma revisão bibliográfica sobre os critérios adotados por diferentes fabricantes e esquemas vacinais dos imunobiológicos autorizados no Brasil.
A cobertura vacinal é definida como a proporção de doses aplicada de um imunobiológico preconizado no calendário nacional a uma população específica em um determinado espaço de tempo 15. Porém, observamos uma grande variação de critérios de cálculos tanto para o numerador, ao considerarmos vacinas multidose, quanto ao denominador em grupos específicos, como, por exemplo, gestante e puérperas.
Para calcular o numerador, a OMS preconiza, para esquemas de vacina multidose, que esse cálculo seja realizado considerando a última dose de vacina ou atribuído à cada dose (D1, D2), ou seja, estimando-se a cobertura vacinal para cada dose recebida representada em percentuais 15.
O DataSUS, para o cálculo da cobertura vacinal do imunizante tríplice bacteriana (DTP) em gestantes, utiliza como numerador o total de segunda dose somado às doses de reforço (D2 + Ref) das vacinas duplas de adultos e a tríplice bacteriana acelular (dTpa) em mulheres gestantes na faixa etária de 12 a 49 anos de idade. O denominador é a população de nascidos vivos referente ao ano estudado 16.
A Secretaria de Vigilância à Saúde do DF utilizou para o cálculo da cobertura vacinal dTpa em gestantes de 2018 a 2021 como numerador o total de doses aplicadas em MIF, considerando a presença do sub-registro do campo (gestante) no Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI). Como denominador o total de nascidos vivos no período de referência retirados do Sinasc 17.
O Ministério da Saúde (MS) considera como esquema completo da covid-19 a aplicação de duas doses (D1 e D2) das vacinas Pfizer, AstraZeneca, CoronaVac ou dose única da vacina Janssen para as pessoas não imunossuprimidas. O reforço corresponde às doses de vacina subsequentes ao esquema primário para determinados grupos 10.
Com base na revisão efetuada e devido à ausência de protocolos específicos e notas técnicas que especifiquem a cobertura vacinal, definiu-se como gestante imunizada aquela que recebeu a segunda dose de vacina somada a uma dose de reforço (D2 + Ref) e, como denominador, o total de nascidos vivos referente ao ano de 2020 segundo os dados do Sinasc, pois os dados referentes a 2021 ainda não estavam disponíveis.
Como rigor metodológico e considerando os possíveis sub-registros e falhas de identificação deste grupo prioritário, avaliamos também a cobertura vacinal em MIF de 12 a 49 anos levando em conta o número de segunda dose somada à dose de reforço (D2 + Ref) e as doses únicas. Isso deve-se à aplicação da vacina Janssen (dose única) neste público, tendo como denominador a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponível na planilha de projeção da população por sexo e idades simples para 2010/2060.
Durante a coleta de informação, observamos algumas limitações, entre elas, a incompatibilidade de faixa etária, pois o Ministério da Saúde (MS) considera MIF mulheres de 10 a 49 anos e disponibiliza em todos seus painéis esse tipo de agregação. Contudo, o painel de monitoramento da RNDS agrega as informações por faixa etárias, iniciando de 5 a 11 anos e de 12 a 17 anos, sendo incompatíveis com o DataSUS. Dessa forma, devido à inviabilidade de trabalharmos com banco de vacinação unificado da população geral, utilizamos as informações de imunização de mulheres a partir dos 12 anos.
Identificamos também, 655 registros de vacinação de dose única em gestantes e puérperas. Apesar do imunobiológico da Janssen® de dose única, ser contraindicado para esse grupo por se tratar de uma vacina de vetor viral. Esses registros foram excluídos do cálculo da cobertura vacinal.
Os bancos de dados foram organizados por número total de doses de vacinas aplicadas em cada região e UF por dois grupos: (i) faixa etária de MIF de 12 a 49 anos e (ii) gestantes e puérperas, coletados em 29 de agosto de 2022. Vale destacar que as doses de vacinas, nessa fonte, não são disponibilizadas por ano de aplicação. Assim, os cálculos de cobertura vacinal contemplam todas as doses aplicadas, desde o início da campanha de vacinação (18 de janeiro de 2021) até a data de coleta dos dados.
Os cálculos da cobertura vacinal, portanto, deram-se por meio da divisão do Total de doses de vacina (D2 + reforço) aplicadas em gestante e puérperas pelo total de nascidos vivos, multiplicados por 100. E o cálculo de MIF baseou-se no total de doses de vacina (D2 + reforço + dose única) aplicadas em MIF de 12 a 49 anos dividido pela População de MIF de 12 a 49 anos multiplicado por 100.
Todas as informações coletadas foram organizadas em planilhas da Microsoft Excel® buscando descrever a distribuição do óbito materno nas grandes regiões e UF por meio do número absoluto e percentuais de óbitos, utilizando variáveis de faixa etária, localidade do óbito e percentual das principais causas de mortes maternas (por covid-19 ou outras causas, separadas por CID-10 e número absoluto de gestantes, puérperas e MIF que foram imunizadas, doses aplicadas de vacina contra a covid-19.
Após a crítica e a validação dos dados coletados, a análise se deu por estatística descritiva (média, mediana e desvio-padrão) utilizando o software R (versão 1.4.1106) e o pacote do RComander, apresentados por tabelas e quadros.
CONTEXTO POLÍTICO DA MORTALIDADE MATERNA: AGENDA 2030 E A PANDEMIA DA COVID-19
A Agenda 2030 pactuada em 2015 é composta por 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), 169 metas e 232 indicadores econômicos, sociais e ambientais. Indicam a ambição de adoção universal e a preservação de individualidades, realidades e capacidades de desenvolvimento de cada país segundo o envolvimento de governantes e o contexto político, social e econômico 18.
No Brasil, a meta até 2030 é reduzir a RMM para, no máximo, 30 mortes por 100 mil nascidos vivos. Estudo recente 19 mostrou que, além de manterem-se estagnadas entre 1996 e 2018, quanto maior a idade, maior é o risco de morte materna decorrentes de causas diretas que afetam principalmente mulheres pretas, pardas, solteiras e com baixa escolaridade.
Com a evolução da pandemia pelo coronavírus, identificamos um excesso de mortalidade materna no Brasil por covid-19, com um aumento de 192% das RMM que em 2020 era de 10,1/100 mil nascidos vivos, passando para 30,1/100 mil nascidos vivos em 2021 7 12
Segundo a OMS 20, a vacinação é a principal ferramenta na prevenção, proteção e promoção da saúde e com relevante custo-benefício. No Brasil, o início da vacinação ocorreu em 18 de janeiro de 2021 após autorização de uso emergencial das vacinas CoronaVac (Sinovac/Butantan) e AstraZeneca (Universidade de Oxford/Fiocruz), o que só foi possível mediante a iniciativa política de institutos nacionais.
Porém, devido à lógica negacionista do governo federal ao promover o relaxamento das medidas de isolamento social e o incentivo ao uso de medicamentos sem comprovação científica observou-se um proselitismo predatório à vacinação. Isto se deu em nome de teses sobre uma suposta segurança individual e liberdade de escolha que entram em conflito com a segurança coletiva em meio a uma pandemia de elevada letalidade 21.
Todas essas condutas, juntamente com a falta de responsabilização política e jurídico-legal de instâncias do governo federal pelo conflito com as evidências científicas mobilizadas para o enfrentamento da grave crise sanitária, fizeram com que diversos governos estaduais e municipais assumissem a responsabilidade federativa. Isso levou a ações descoordenadas com imensa fragmentação 21 22.
Para Maciel et al. 23, houve uma lentidão da vacinação no País, precedida por inúmeros fatores, entre eles, os discursos pejorativos do governo federal diante das reações e dos riscos das vacinas, da falta de apoio e das interferências políticas ao retirar o protagonismo do PNI na condução da campanha de vacinação. O que permitiu o protagonismo dos estados e dos municípios, amparados pelo Congresso Nacional, por meio de políticas públicas, e da atuação do Supremo Tribunal Federal na mediação dos impasses federativos, instalando assim a abertura de uma conjuntura crítica no País, marcada por diferentes conflitos de ações e reações que caracterizaram vias institucionais alternativas e forças políticas perante a crise sanitária 24.
Neste contexto político, a vacinação foi iniciada cerca de um mês após os países da Europa. Especialistas afirmam que condutas e comportamento da Presidência da República interferiram diretamente na introdução precoce da vacinação no Brasil 6 23 24
A introdução tardia de gestantes, puérperas e mulheres com abortos e óbitos fetais até 15 dias como grupo de risco para a covid-19 só ocorreu em 15 de março de 2021 após a publicação da Nota Técnica nº 1/2021 (DAPES/SAPS/MS)7. Porém logo após essa liberação, em 14 de maio de 2021 a vacinação foi suspensa pelo MS com a notificação de um Evento Adverso pós-vacinação em uma gestante 11.
A hesitação vacinal é considerada pela OMS (1) como uma das dez principais ameaças globais. Diante de todos esses aspectos e insegurança, foi considerada relevante no grupo das gestantes e puérperas em diferentes estudos realizados no mundo. E dentre os fatores que interferem na adesão vacinal destacam-se gestantes multíparas, com baixa escolaridade (menor de 12 anos) e desempregadas 25 26.
A linha do tempo elaborada na Figura 1 resume os principais eventos manifestados em documentos na esfera federal em relação os caminhos percorridos para introduzir os imunobiológicos contra a covid-19 no Brasil. Ao analisarmos os marcos decisórios, destacamos diversas publicações em um curto espaço de tempo com diferentes orientações e controversas, frente a liberação da vacinação no grupo específico de gestantes e puérperas no pais,, que podem ter interferido na adesão vacinal por parte dessas mulheres.
Fig. 1
Resultados e Análises
Analisando a evolução da mortalidade materna afetada pela covid-19 e como esta compromete as metas do ODS 3.1, observamos que no Brasil as RMM de 1996 a 2021 apresentaram oscilações e uma grande variação durante a pandemia – de 71,97 (2020) a 110,25 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos (2021) Conforme o Quadro 1, as variações foram predominantes nas Regiões Norte e Nordeste.
Outras variações também foram identificadas nos anos de 1998 e 2009, apresentando uma RMM de (64,87) e (64,96) óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos respectivamente, em que evidências associam esse aumento às epidemias de H1N1, MERS-CoV e SARS-CoV ocorrida nesses períodos 5 27.
Comparando as Grandes Regiões e o DF, identificamos que Norte e Nordeste apresentaram as maiores RMM nos últimos 25 anos, com medianas de 62,62 e 64,63 respectivamente. Em contrapartida, o Sudeste apresentou as menores RMM com mediana de 51,97. Desigualdades também evidenciadas por Motta e Moreira (2021), que ao avaliar as 450 Regiões de Saúde (CIR) do Brasil em 2019, identificou que mais de 50% das CIR com RMM superior à meta global estão localizadas nas Regiões Norte e Nordeste; e as CIR com RMM adequadas a meta brasileira estão concentradas no Sul e Sudeste.
Os dados também sugerem um aumento das RMM em todas as regiões do País e no DF, nos anos de 2020 e 2021, destaque-se que a Região Centro Oeste (DF excluído) apresenta RMM superiores às da Região Nordeste. Essas disparidades indicam o quanto essas regiões foram afetadas pelos efeitos da pandemia, onde 40,5% desses óbitos maternos estiveram relacionados com a infecção por covid-19 segundo os critérios seguidos neste artigo.
A dimensão da morte materna nas Grandes Regiões do País e no DF é apresentada no quadro 2, onde destacamos a Região Sul que em 2020 teve registrado 6,93 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos e em 2021 passou para 62,38 com aumento equivalente a 900%. Assim como o Centro-Oeste, que passou de 16,92 para 79,75 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos, com aumento de 471%. E o DF, analisado em separado do Centro-Oeste, apresentou uma RMM de 60,56/100 mil nascidos vivos, cerca de 477% maior que em 2020 que registrou RMM de 12,70 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos.
Quadro 1
Quadro 2
Para Souza e Amorim 5, essas altas taxas de mortalidade estão associadas à problemas relacionados com a assistência direta à mulher, como falta de recursos, qualidade do pré-natal, barreiras de acesso aos serviços públicos de saúde e violência obstétrica.
Diante da capacidade limitada do SUS, evidencias indicam que cerca de 90% dos municípios do Brasil não contavam com leitos de UTI no início da pandemia e que a maioria destes municípios se concentravam nas Regiões Norte e Nordeste 28. Segundo Francisco et al 29, tais condições pode explicar que cerca de 25,5% dos óbitos de 1º de março de 2020 a 5 de maio de 2021 foram de gestantes ou puérperas sem acesso à UTI e que 33,5% dessas não receberam suporte ventilatório invasivo.
Destacamos ainda a predominância de óbitos de puérperas, representando 71,43% dos óbitos em 2020 e 75,20% em 2021. Estes dados revelam uma mudança no perfil destes óbitos. Em maio de 2021, a taxa de letalidade era de 7,2% e correspondia prioritariamente às gestantes de 2º e 3º trimestre 7. Portanto, a vacinação no início da gestação poderia evitar tais complicações. No quadro 3, apresentamos a cobertura vacinal de MIF de 12 a 49 anos considerando o número de doses aplicadas das vacinas contra a covid-19.
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Quadro 3
Ao analisar os resultados, observamos uma cobertura vacinal relevante nas diferentes regiões do País, embora não representem uma cobertura vacinal adequada pois, sendo a população estimada desse grupo estimada em mais de 61 milhões de MIF e o esquema completo, estas mulheres precisariam receber no mínimo duas doses (D2 + Ref). O total registrado deveria atingir a cerca de 123 milhões de doses aplicadas não as 85,433,078 milhões (quadro 3). Os altos percentuais observados podem resultar das agregações dos bancos de dados que consideraram o total de doses aplicadas de vacinas, e não o número de mulheres imunizadas somados para 2021 e 2022 e exige uma investigação mais precisa da vacinação em MIF no Brasil.
Já o grupo específico de gestantes e puérperas apresentou baixos percentuais de cobertura vacinal na maioria das regiões do País. Na tabela 1, observamos uma baixa cobertura vacinal nas Regiões Norte com 31,72%, Nordeste com 55,25% e Centro-Oeste com 49,58%. Dentre as UF, destacamos Roraima (4,57%), Amapá (19,05%), Acre (24,42%), Amazonas (25,64%) Mato Grosso do Sul (26%), Tocantins (31,89), Ceará (33,09%), Alagoas (34,92%), Pará (35,40%) e Maranhão (39,15%) com as menores coberturas vacinais de gestantes e puérperas do Brasil.
Ao compararmos as regiões e UF, atribuímos as maiores coberturas vacinais às Regiões Sul com 70,12% e Sudeste com 173,52%, e entre os estados, destacamos São Paulo com 268,14%, Paraná com 86,18%, Espírito Santo com 80,84% e Minas Gerais com 79,56% das gestantes e puérperas imunizadas.
Evidências recentes, afirmam uma redução de 80% das chances de óbitos em gestantes imunizadas com esquema vacinal com duas doses de vacina contra a covid-19, se comparadas àquelas que não receberam nenhuma dose de vacina 30. Entretanto, diante dos resultados, observamos baixas coberturas na maioria das regiões do país e uma enorme discrepância, principalmente ao compararmos o estado de São Paulo com mais de 268% de cobertura vacinal e Roraima com pouco mais de 4,5% das gestantes imunizadas, e que as piores coberturas vacinais se concentram no Norte e Nordeste. Todas essas taxas, que elevam a cobertura vacinal para 99,98%, deixam claro a enorme heterogeneidade das regiões do Brasil e seus desafios.
Tab. 1
CONCLUSÃO
Concluiu-se que a pandemia gerou efeitos trágicos na saúde materna, regredindo cerca de 20 anos as RMM no Brasil, e que a demora na priorização e na liberação da vacinação nesse grupo, bem como os aspectos políticos perante as decisões governamentais, resultaram em baixas coberturas vacinais, o que impõe desafios ainda maiores ao cumprimento da Meta ODS 3.1 para redução da mortalidade materna no País
Desta forma inúmeras ações e implementações precisam ser priorizada por gestores em âmbito nacional, buscando superar as desigualdades regionais, além de: 1) priorizar as políticas sociais de saúde voltadas às MIF, visando superar a complexidade da morte materna, principalmente nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste; 2) investir nos serviços públicos de saúde para alocação e capacitação dos profissionais de saúde, buscando qualificar a assistência à saúde das mulheres durante a gestação, o parto e o puerpério; 3) fortalecer ações na APS, que visem oferecer medidas de prevenção de doenças crônicas, emergentes e reemergentes, reforçando programas existentes no âmbito do SUS; 4) promover o monitoramento adequado, por meio de SIS e de indicadores que favoreçam a tomada de decisão e que permitem ação imediata ante os riscos de morte materna, garantindo os direitos reprodutivos de mulheres independentemente da sua etnia, raça/cor e/ou condição social.
REFERÊNCIAS
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Analysis of the implications of the COVID-19 pandemic on maternal mortality in Brazil in 2020-2021
Resumo (abstract):
This is a descriptive and ecological study that analyzed the behavior of maternal mortality during the covid-19 pandemic in Brazil in 2020 and 2021, based on databoth the Mortality Information System (SIM) at DataSUS and the Network Portal National Health Data (RNDS). From the historical series of Maternal Mortality Ratios (MMR)1996 to 2021, it was identified an average of 56.79 maternal deaths per 100,000 live births, concentrated in the North, Northeast, and Midwest regions, during the pandemic an increase of MMR to 110.25/100,000 live births. Of these deaths, 40.5% were related to Covid-19 and 70% occurred during the postpartum period, affecting brown, and high-school level of education women. The South, Midwest Regions and the Federal District increased the MMR related to the coronavirus by more than 400%. We identified a low adherence to vaccination against COVID-19 was observed in the North, Northeast and Midwest regions. With noteworthy disparities between the State of São Paulo there was a (268.14%) vaccination coverage of immunized pregnant and puerperal women, while in the State of Roraima there was only a (4.57%). As a conclusion, the pandemic had tragic effects on maternal health, setting back the MMR in Brazil by about 20 years, which poses even greater challenges to achieving SDG Target 3.1 for reducing maternal mortality in the country.
Impact of the COVID-19 pandemic on maternal mortality in Brazil, 2020-2021
Análise das implicações da pandemia da Covid-19 na mortalidade materna no Brasil em 2020-2021
Abstract
This is a descriptive ecological study that analyzed the behavior of the COVID-19 pandemic in Brazil in 2020 and 2021, based on data from the country’s Mortality Information System in the database of the Unified Health System (DataSUS) and the portal of the National Health Data Network (RNDS). The analysis of historical series of maternal mortality ratios (MMRs) from 1996 to 2021 revealed a median of 56.79 maternal deaths per 100,000 live births in the North, Northeast, and Central-West regions of Brazil, increasing to 110.25 per 100,000 live births during the pandemic. Of these deaths, 40.5% were related to COVID-19 and 70% occurred in the postpartum period, mainly affecting brown and single women and those with secondary schooling. The South and Central-West regions and the Federal District witnessed an increase of more than 400% in MMRs related to the coronavirus. We identified low adherence to COVID-19 vaccination in the North, Northeast, and Central-West regions, showing a huge disparity between the state of São Paulo (268.14%) and the state of Roraima, with only 4.57% vaccination coverage in this group. We concluded that the pandemic had tragic effects on maternal health, with a setback of some 20 years in MMRs in Brazil, posing even greater challenges for achieving SGD target 3.1 for the reduction of maternal mortality in the country.
Keywords: maternal mortality; COVID-19; vaccination coverage; SDGs; Brazil.
Resumo
Trata-se de um estudo descritivo e ecológico que analisou o comportamento da mortalidade materna durante a pandemia de Covid-19 no Brasil em 2020 e 2021, tendo como base dados o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) no DataSUS e do Portal da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). A partir das séries históricas das Razões de Mortalidade Materna (RMM) de 1996 a 2021, identificou-se uma mediana de 56.79/100,000 nascidos vivos concentradas nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que durante a pandemia subiu para 110.25/100,000 nascidos vivos. Desses óbitos, 40.5% estiveram relacionados a Covid-19 e 70% ocorreram no período puerperal, afetando mulheres solteiras, pardas e com ensino médio. A Região Sul, Centro-Oeste e o DF, elevaram mais de 400% a RMM relacionada ao coronavírus. Identificamos a uma baixa adesão vacinal contra a Covid-19 nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com enorme disparidade entre o estado de São Paulo com (268.14%) e Roraima com apenas (4.57%) de cobertura vacinal neste grupo. Concluiu-se que a pandemia gerou efeitos trágicos na saúde materna, regredindo cerca de 20 anos as RMM no Brasil, impondo desafios ainda maiores ao cumprimento da Meta ODS 3.1 para redução da mortalidade materna no País.
Palavras-chave: mortalidade materna; Covid-19; cobertura vacinal; ODS; Brasil.
INTRODUCTION
Maternal mortality is one of the most serious violations of women’s human rights and is preventable in 92% of the cases through adequate prenatal, childbirth, and postpartum care 1. In 2019, before the beginning of the COVID-19 pandemic, and according to data from the World Health Organization (WHO), 830 women died in the world every day from complications related to pregnancy, childbirth, and the postpartum, mainly in developing countries 2.
Following the declaration of the Public Health Emergency of International Concern in February 2020, SARS-CoV-2 infection spread rapidly throughout the world, with high transmissibility and mortality in different population groups, requiring immediate government responses 3 4.
Mutations in the novel coronavirus and the emergence of new variants exacerbated the risks, especially in more vulnerable groups. Due to physiological changes in women’s bodies during pregnancy and childbirth, pregnant women were considered a risk group with high potential to evolve to severe acute respiratory syndrome (SARS), requiring ventilatory support and intensive care, besides the risk of evolving with complications during delivery and the postpartum period 5 6.
Based on the magnitude of excess maternal mortality in Brazil during the COVID-19 pandemic, the current article’s objective is to analyze the behavior of maternal mortality during the COVID-19 pandemic in Brazil in 2020 and 2021.
COVID-19 case fatality in pregnant and postpartum women in Brazil peaked in May 2021, when the moving average reached 47.9 deaths per week. By late 2021, more than 2,039 such deaths had been recorded 7. Numerous factors were related to these deaths, such as vulnerabilities, social inequalities, weaknesses in women’s healthcare, and problems in the Unified Health System (SUS) in various regions of the country, including fear and insecurity in accessing health services during the height of the pandemic 8 6.
COVID-19 vaccination was the only tool capable of containing the infection’s spread, protecting the workforce and reducing collapses in health services during the crisis. The WHO led a global effort to produce an effective and safe vaccine to be made available with equity and equality to all countries, with governments responsible for initiatives, investments, and organization to deploy the largest vaccination campaign in world history 9.
In Brazil, vaccination began in January 2021 in the priority groups defined as healthcare workers, indigenous people, elderly, and individuals with comorbidities. Pregnant and postpartum women with comorbidities were included in the calendar in March 2021, but their vaccination was suspended in April 2021 pending investigation of adverse events and was resumed in July 2021 for all pregnant women according to the vaccination’s campaign’s calendar 10 11.
By mid-September 2021, Brazil accounted for 50% of all maternal deaths from COVID-19 in Latin America 12. Various international agreements since the 1990s had converged in the Sustainable Development Goals (SDGs), adopted by 193 world leaders in September 2015. The targets included the reduction of maternal mortality to 30 maternal deaths per 100 thousand live births by 2030 2.
Maternal mortality is a serious public health problem in Brazil and displays large regional differences that were further exacerbated by COVID-19 since 2020. The collapse of public and private healthcare systems throughout the world, high case fatality in different population groups, and excess maternal mortality led to a setback of some 20 years in the advances achieved in reducing maternal mortality ratios (MMRs).
METHODOLOGY
This is a descriptive ecological study using as analytical units the maternal mortality ratios (MMRs), maternal deaths caused by or associated with COVID-19 infection in 2020 and 2021, and COVID-19 vaccination coverage in pregnant and postpartum women in Brazil in 2021. The context is analyzed according to regions and states of Brazil and public policy events expressed on a timeline.
A literature review was performed, by intentional selection, on maternal mortality and the relationship to SDG target 3.1 for reduction of overall MMR to fewer than 70 deaths per 100,000 live births by 2030, maternal mortality from COVID-19, and vaccination in Brazil. The search in databases in the Unified Health System (SUS) was conducted in the Mortality Information System (SIM) and the Information System on Live Births (SINASC) for analysis of the historical series on overall maternal mortality. Information was obtained on the number of vaccine doses administered to pregnant, postpartum, and childbearing-age women in Brazil from the dashboard Vacinômetro COVID-19, available on the website of the Department of Monitoring, Evaluation, and Communication of Strategic Data and Information in Health (DEMAS) 13.
The main challenges for the data collection, organization, and analysis involved the fact that COVID-19 was a new event, besides fragmentation of these databases and lack of current information.
Data on maternal mortality were obtained from the Mortality Information System according to information on August 4, 2022, to construct historical series on maternal mortality in Brazil from 1996 to 2020, and on September 7, 2022, to analyze maternal mortality from COVID-19 in 2020 and 2021. These data refer to the maternal death certificates (Domat) from 2021 and were updated in July 2022. The outcome variable for this consultation was all deaths in which the death certificate contained COVID-19 as the immediate, underlying, or contributing cause of death and containing one or more emergency use ICD-10 codes published by the WHO on February 10, 2020 14.
The ICD-10 codes for the outcomes were: B34 – viral infection of unspecified site; B34.2 - coronavirus infection of unspecified site; B97.2 - coronavirus as the cause of diseases classified elsewhere; U04 – severe acute respiratory syndrome (SARS); U04.9 - severe acute respiratory syndrome (SARS), unspecified; U07.1 - COVID-19, virus identified; U07.2 - COVID-19, virus not identified; U08 – personal history of COVID-19; U08.9 – personal history of COVID-19, unspecified; U09 - post-COVID-19 condition; U09.9- post-COVID-19 condition, unspecified; U10 – multisystem inflammatory syndrome associated with COVID-19; U10.9- multisystem inflammatory syndrome associated with COVID-19, unspecified; U12 – adverse reaction to a COVID-19 vaccine; and U12.9 – adverse reaction to a COVID-19 vaccine, unspecified.
To calculate MMRs, we used data from the Information System on Live Births (SINASC) with the total number of live births obtained via Tabnet and multiplied by 100. Data for evaluation of vaccination coverage were based on the number of COVID-19 vaccine doses administered to pregnant, postpartum, and childbearing-age women in Brazil according to major geographic region and state.
Due to the absence of standards and protocols on criteria for calculating vaccination coverage in the population of pregnant and postpartum women in relation to COVID-19 vaccination, we performed a literature search on the criteria adopted by various vaccine manufacturers and regimens for immunobiological products authorized in Brazil.
Vaccination coverage is defined as the proportion of administered doses of an immunobiological recommended on the national calendar in a specific population during a certain period 15. However, we found a wide variation in the criteria for calculating both the numerator, considering multidose vaccines, and the denominator in specific groups such as pregnant and postpartum women.
To calculate the numerator, for multidose vaccines the WHO recommends considering the last dose or attributed to each dose (D1, D2), that is, estimating vaccination coverage for each dose received, represented as percentages 15.
To calculate coverage of the triple bacterial vaccine (DTP) in pregnant women, the DataSUS base uses as the numerator the sum of the second dose plus the booster dose (D2 + booster) of the adult dual vaccine and the acellular-pertussis triple bacterial vaccine (DTaP) in pregnant women from 12 to 49 years of age. The denominator is the number of live births in the respective year 16.
To calculate DTaP coverage in pregnant women from 2018 to 2021, the Health Surveillance Secretariat of Brazil’s Federal District (Brasilia) used as the numerator the total doses administered to childbearing-age women, considering the presence of under-recording of the field “pregnant woman” in the Information System of the National Immunization Program (SI-PNI). The denominator was total live births in the reference period, obtained from the SINASC base 17.
The Brazilian Ministry of Health defines complete immunization against COVID-19 as the administration of two doses (D1 and D2) of the Pfizer, AstraZeneca, or CoronaVac vaccines or a single dose of the Janssen vaccine for non-immunosuppressed individuals. The booster dose is the dose following the primary regimen in certain groups10.
Based on the review and due to the absence of specific protocols and technical notes specifying vaccination coverage, an immunized pregnant woman was defined as one that had received the second dose plus the booster dose (D2 + booster), and the denominator was total live births for the year 2020 according to SINASC data, since the data for 2021 were still not available.
To ensure methodological rigor and considering possible under-recording and failures in the identification of this priority group, we also assessed vaccination coverage in childbearing-age women from 12 to 49 years of age, considering the number of second doses plus the booster dose (D2 + booster) and the single doses. This is due to administration of the Janssen vaccine (single dose) in this group, where the denominator was the population estimated by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), available on the projected population spreadsheet by sex and age for 2010/2060.
We observed some limitations during the data collection, including age group incompatibility, since the Brazilian Ministry of Health defines childbearing-age women as women 10 to 49 years of age and adopts this type of aggregation in all its dashboards. However, the National Health Data Network dashboard aggregates the data by age groups, starting at 5 to 11 years and 12 to 17 years, which is incompatible with the DataSUS base. Thus, due to the unfeasibility of working with a unified vaccination databank for the overall population, we used information on immunization of women starting at 12 years of age.
We also identified 655 records of single-dose vaccination in pregnant and postpartum women, even though the single-dose Janssen vaccine is contraindicated in this group since it is a viral vector vaccine. These records were excluded from the calculation of vaccination coverage.
The databanks were organized by total vaccine doses administered in each geographic region and state according to two groups: (i) childbearing-age women from 12 to 49 years of age and (ii) pregnant and postpartum women, collected on August 29, 2022. Note that the vaccine doses in this source are not reported by year of administration. Thus, calculations of vaccination coverage include all the doses administered, from the start of the vaccination campaign (January 18, 2021) to the date of data collection.
Vaccination coverage was thus calculated as the total number of doses (D2 + booster) administered in pregnant and postpartum women divided by total live births, multiplied by 100. Coverage in childbearing-age women was calculated as total doses (D2 + booster + single dose) administered to childbearing-age women 12 to 49 years of age divided by the population of childbearing-age women 12 to 49 years of age multiplied by 100.
All the collected information was organized in Microsoft Excel® spreadsheets, aimed at describing the distribution of maternal death in the geographic regions and states, as the absolute numbers and percentages of deaths, using as variables age group, place of death, and percentage of principal causes of maternal deaths (COVID-19 or other causes, separated by ICD-10 and absolute number of pregnant, postpartum, and childbearing-age women that were immunized and COVID-19 vaccine doses administered.
After critique and validation of the collected data, the analysis was performed by descriptive statistics (means, medians, and standard deviations) using the R software (version 1.4.1106) and the R Commander package, presented as tables and charts.
POLITICAL CONTEXT OF MATERNAL MORTALITY: 2030 AGENDA AND THE COVID-19 PANDEMIC
The 2030 Agenda that was adopted in 2015 consists of 17 Sustainable Development Goals (SDGs), 169 targets, and 232 economic, social, and environmental indicators. The goals and targets indicate the ambition of universal adoption and preservation of each country’s individual realities and capacities according to the involvement of governments and the political, social, and economic context 18.
In Brazil, the target is to reduce MMR to a maximum of 30 deaths per 100 thousand live births by 2030. A recent study 19 showed that besides stagnant rates from 1996 to 2018, older maternal age was associated with greater the risk of maternal death from direct causes, mainly affecting black, brown, and single women and those with less schooling.
With the evolution of the coronavirus pandemic, we identified excess maternal mortality from COVID-19 in Brazil, with a 192% in MMR: from 10.1/100 thousand live births in 2020 to 30.1/100 thousand live births in 2021 7 12
According to the WHO 20, vaccination is the main tool for prevention, protection, and health promotion and has an important cost-benefit ratio. In Brazil, vaccination began on January 18, 2021, following authorization of emergency use of the CoronaVac (Sinovac/Butantan) and AstraZeneca (University of Oxford/Fiocruz) vaccines, which was only possible through the political initiative of Brazilian national institutes.
However, due to the denialist logic practiced by the Brazilian federal government administration at the time, which promoted the loosening of social isolation measures and encouraged the use of scientifically unproven drugs, the population was exposed to predatory antivax proselytism. This was promoted in the name of theories on purported individual safety and freedom of choice that clashed with collective safety during a pandemic with high case fatality 21.
All these conducts, alongside a lack of political and legal accountability in federal government spheres in conflict with scientific evidence mobilized to confront the grave health crisis, led various state and municipal governments to assume their own federative responsibility, resulting in uncoordinated actions with extensive fragmentation 21 22.
According to Maciel et al. 23, Brazil was slow to implement vaccination, which was preceded by numerous factors such as the federal government’s pejorative discourses concerning the vaccines’ reactions and risks, lack of support, and political interference, denying the leadership role of the National Immunization Program (PNI) in the vaccination campaign. This allowed state and local governments to take the lead, backed by the National Congress, through public policies and action by the Supreme Court in mediating federative impasses, thus opening a critical conjuncture in the country, marked by different conflicts in actions and reactions that characterized alternative institutional paths and political forces vis-à-vis the health crisis 24.
In this political context, vaccination was launched in Brazil approximately one month after European countries. According to experts, the conducts and behavior by the President of Brazil interfered directly in the timely introduction of vaccination in Brazil 6 23 24
Late introduction of vaccination in pregnant and pregnant women and those with miscarriages up to 15 days as a risk group for COVID-19 only occurred on March 15, 2021, following the publication of Technical Note 1/2021 (DAPES/SAPS/MS)7. However, soon after this release, on May 14, 2021, COVID-19 vaccination in this group was suspended by the Ministry of Health after notification of a post-vaccination adverse event in a pregnant woman 11.
The World Health Organization (1) identifies vaccine hesitancy as one of the ten leading global health threats. Given all these aspects and insecurity, such hesitancy has been considered serious in pregnant and postpartum women according to various studies in the world. Factors associated with interference in adherence to vaccination include multiparity, low schooling (less than 12 years), and unemployment 25 26.
The timeline in Figure 1 summarizes the principal events expressed in federal documents in relation to the paths used to introduce COVID-19 vaccines in Brazil. When analyzing the decision-making milestones, we highlight various publications in a short space of time with diverse and contradictory orientations on the release of vaccination in the specific group of pregnant and postpartum women in Brazil. This may have interfered in vaccine adherence by these women.
Figure 1 – Timeline of decision-making milestones on COVID-19 vaccination in Brazil from January 2020 to August 2022.
Results and Analyses
When analyzing the trend in maternal mortality affected by COVID-19 and how it jeopardizes SDG target 3.1, we observed that in Brazil, MMRs oscillated from 1996 to 2021, with major variation during the pandemic, from 71.97 (2020) to 110.25 maternal deaths per 100 thousand live births (2021). As shown in Chart 1, the widest variations were in the North and Northeast regions.
Other variations were identified in 1998 and 2009, with MMRs of 64.87 and 64.96 maternal deaths per 100 thousand live births, respectively. Evidence associates these increased MMRs with the H1N1, MERS-CoV, and SARS-CoV outbreaks in these years 5 27.
Comparing the major geographic regions and the Federal District, we found that the North and Northeast of Brazil showed the highest MMRs in the last 25 years, with medians of 62.62 and 64.63, respectively. Meanwhile, the Southeast showed the lowest MMRs, with a median of 51.97. Motta and Moreira (2021) also identified inequalities when they evaluated Brazil’s 450 Health Regions (Regional Inter-Administrator Commissions) in 2019 and found that more than 50% of the regions with MMRs higher than the global target were located in the North and Northeast, while those with adequate MMRs were concentrated in the South and Southeast.
Data also suggest an increase in MMR in all regions of Brazil and the Federal District in 2020 and 2021, highlighting that the Central-West region (not including the Federal District) had higher MMRs than the Northeast. Such disparities indicate the degree to which these regions were affected by the pandemic, since 40.5% of maternal deaths were related to COVID-19, according to the criteria adopted in this article.
Chart 2 shows the volume of maternal death in Brazil’s major geographic regions and the Federal District. In 2020, the South recorded 6.93 maternal deaths per 100 thousand live births, increasing to 62.38 in 2021, an increase equivalent to 900%. Likewise, the Central-West increased from 16.92 to 79.75 maternal deaths per 100 thousand live births, an increase of 471%. The Federal District (analyzed separately from the Central-West), showed MMR of 60.56 per 100 thousand live births in 2021, some 477% higher than in 2020, when the MMR was 12.70 maternal deaths per 100 thousand live births.
Chart 1 – Maternal mortality ratios in major geographic regions and Federal District by reference year. Brazil (1996-2021)
Chart 2 – Total reported maternal deaths and maternal mortality ratios related to COVID-19 by major geographic regions of Brazil in 2020 and 2021
According to Souza and Amorim 5, these high mortality ratios are associated with problems in direct healthcare for women, such as lack of funding, low quality of prenatal care, barriers in access to public healthcare services, and obstetric violence.
Given the limited capacity of the Unified Health System (SUS), evidence indicates that some 90% of Brazilian municipalities lacked ICU beds at the start of the pandemic, and that most of these municipalities without ICU beds were concentrated in the North and Northeast regions 28. According to Francisco et al 29, such conditions help explain why 25.5% of the deaths from March 1, 2020, to May 5, 2021, were in pregnant or postpartum women without ICU access and that 33.5% of these failed to receive invasive ventilatory support.
We further highlight the predominance of maternal deaths in postpartum women, accounting for 71.43% of the deaths in 2020 and 75.20% in 2021. These data reveal a change in the profile of maternal deaths. In May 2021, the case-fatality rate was 7.2% and consisted predominantly of pregnant women in the second and third trimesters 7. Thus, vaccination in early pregnancy could have prevented such complications. Chart 3 shows the vaccination coverage of childbearing-age women 12 to 49 years of age considering the number of COVID-19 vaccine doses administered.
Chart 3 – COVID-19 vaccination coverage in childbearing-age women 12 to 49 years of age according to major geographic region and state from January 2021 to August 2022. Brazil, 2022
Our analysis of the results revealed important vaccination coverage in Brazil’s regions, although the coverage is not adequate, since the estimated population of childbearing-age Brazilian women is 61 million, and these women would need to have received at least two doses (D2 + booster). The total number of administered doses should have been 123 million rather than 85,433,078 (Chart 3). The high observed percentages may have resulted from aggregation of databanks that considered the total vaccine doses administered rather than the total number of women completely immunized in 2021 and 2022. This discrepancy requires more precise investigation of vaccination in childbearing-age women in Brazil.
Meanwhile, the specific group of pregnant and postpartum women showed low rates of vaccination coverage in most of Brazil’s regions. Table 1 shows low vaccination coverage in the North (31.72%), Northeast (55.25%), and Central-West (49.58%). The states of Brazil with the lowest COVID-19 vaccine coverage in pregnant and postpartum women were Roraima (4.57%), Amapá (19.05%), Acre (24.42%), Amazonas (25.64%) Mato Grosso do Sul (26%), Tocantins (31.89), Ceará (33.09%), Alagoas (34.92%), Pará (35.40%) and Maranhão (39.15%).
When comparing regions and states, we found the highest rates of COVID-19 immunized pregnant and postpartum women in the South (70.12%) and Southeast (173.52%) and in the states of São Paulo (268.14%), Paraná (86.18%), Espírito Santo (80.84%), and Minas Gerais (79.56%).
Recent evidence points to an 80% reduction in the odds of deaths in pregnant women immunized with two doses of COVID-19 vaccine, compared to those who have not received any dose 30. However, with the results, we observed low coverage rates in most of Brazil’s regions and an enormous discrepancy, especially when comparing the state of São Paulo, with more than 268% of pregnant women immunized, to the state of Roraima, with slightly more than 4.5%, and the fact that the worst coverage rates were concentrated in the North and Northeast. All these rates, which increased the overall national vaccination coverage to 99.98%, clearly emphasize the huge heterogeneity between regions of Brazil and the country’s persistent challenges.
Table 1. COVID-19 vaccination coverage in pregnant and postpartum women according to major geographic region and state from January 2021 to August 2022. Brazil, 2022.
CONCLUSION
We concluded that the pandemic took a tragic toll on maternal health in Brazil, producing a setback of some 20 years in MMRs, and that the delay in the prioritization and the release of vaccination in this group, as well as the policy aspects involved in government decisions, resulted in low vaccination coverage. This poses even greater challenges for meeting SDG target 3.1 for the reduction of maternal mortality in the country,
Thus, numerous actions and initiatives need to be prioritized by policy-makers at the national level, seeking to overcome regional inequalities, besides: 1) prioritizing social policies in health targeted to childbearing-age women, aimed at overcoming the complexity of maternal death, especially in the North, Northeast, and Central-West of Brazil; 2) investing in public healthcare services for allocation and training of health workers, seeking to upgrade women’s healthcare during pregnancy, childbirth, and the postpartum; 3) strengthening actions in primary healthcare, aimed at offering measures for the prevention of chronic, emerging, and reemerging diseases, reinforcing existing programs in the Unified Health System; and 4) promoting adequate monitoring through health information systems and indicators that favor decision-making and allow immediate action in the face of maternal mortality risks, thereby guaranteeing women’s reproductive rights independently of ethnicity, race/color, and/or social status.
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Como
Citar
Souza, V. T. F. S., Ribeiro, J. M.. Análise das implicações da pandemia covid-19 na mortalidade materna no Brasil em 2020-2021. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/mar). [Citado em 22/12/2024].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/analise-das-implicacoes-da-pandemia-covid19-na-mortalidade-materna-no-brasil-em-20202021/19134?id=19134