0320/2025 - CONQUISTAS E DESAFIOS DO TRABALHO EM EQUIPE NOS 30 ANOS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA: ENSAIO TEÓRICO
SUCCESSES AND CHALLENGES OF TEAMWORK IN THE 30 YEARS OF THE FAMILY HEALTH STRATEGY: A THEORETICAL ESSAY
Autor:
• Sonia Acioli - Acioli, S - <soacioli@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8243-5662
Coautor(es):
• Nilia Maria de Brito Lima Prado - Prado, NMBL - <nilia.ufba@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8243-5662
• Carla Daniele Straub - Straub, CD - <elainethume@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1169-8884
• Elaine Thumé - Thumé, E - <elainethume@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1169-8884
• Franklin Delano Soares Forte - Forte, FDS - <franklinufpb@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4237-0184
• Isabella Koster - Koster, I - <isabella.koster@fiocruz.br>
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6061-2824
• Maria Inez Padula - Padula, MI - <luceliasansi@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6816-5042
• Lucélia dos Santos Silva - Silva, LS - <luceliasansi@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6816-5042
• José Patrício Bispo Júnior - Bispo Júnior, JP - <jpatricio@ufba.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4155-9612
• Maria Lúcia de Santana Gutemberg - Gutemberg, MLS - <luciagutemberg@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-1260-2772
Resumo:
Este ensaio teórico aborda as conquistas e os desafios do Sistema Único de Saúde em relação ao trabalho em equipe ao longo dos 30 anos da Estratégia de Saúde da Família no Brasil. O objetivo é analisar criticamente a literatura acerca das concepções, elementos estruturantes do trabalho colaborativo entre equipes da saúde da família e outros modelos vivenciados, de modo a identificar as superações necessárias para as próximas décadas. A reflexão baseou-se em uma revisão de publicações de 1994 a 2024, obtidas em bases como PubMed, LILACS, SciELO, BDENF e Cochrane Library, resultando na análise de 34 artigos sobre conceitos fundamentais, natureza/modelo e configuração do trabalho colaborativo, os desafios e recomendações para a lógica interprofissional das equipes. Foram identificadas divergências na organização do trabalho interprofissional em diferentes territórios de Atenção Primária à Saúde, com desafios relacionados à composição das equipes e à definição de novos escopos de práticas devido à inclusão tecnológica observada nas últimas décadas. Essas reflexões geraram recomendações para ampliar o debate propositivo sobre o tema, as quais estão indicadas no desenvolvimento do artigo.Palavras-chave:
Atenção Primária à Saúde; Estratégia Saúde da Família; Equipe multiprofissional em saúde; Equipe interdisciplinar de saúde.Abstract:
This theoretical essay looks at the challenges and achievements of the Unified Health System (SUS) in relation to teamwork over the 30 years of the Family Health Strategy in Brazil, . The aim is to critically analyze the literature on conceptions, structuring elements of collaborative work between ESF teams and other models experienced, achievements and challenges over the last 30 years and proposals for overcoming them in the coming decades. The analysis was based on a review of publications from 1994 to 2024, obtained from databases such as PubMed, LILACS, SciELO, BDENF and Cochrane Library, resulting in the analysis of 34 articles on fundamental concepts, nature/model and configuration of collaborative work, as well as the challenges and recommendations for the interprofessional logic of the teams. Divergences were identified in the organization of interprofessional work in different Primary Health Care territories, with challenges related to team composition and the definition of new scopes of practice due to technological inclusion. These reflections generated recommendations to broaden the debate on the subject.Keywords:
Primary Health Care; Family Health Strategy; Multiprofessional health team; Interdisciplinary health team.Conteúdo:
Nos últimos 30 anos, a Estratégia Saúde da Família (ESF), criada para fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil com a proposta de organização em equipe, tem sua trajetória marcada por contradições, com progressos em alguns aspectos, mas também por desafios persistentes e retrocessos em sua consolidação1,2. Nesta senda, equipes multiprofissionais ganharam vertiginosos significados e espaços no contexto da APS, com subsequente ampliação de suas conformações a partir da incorporação de outras categorias profissionais que pudessem contribuir para o alcance de maior resolubilidade no cuidado em saúde 3,4.
Considerando a complexidade dos aspectos requeridos no âmbito da ESF para atender às necessidades populacionais, é preciso que a atuação multiprofissional seja organizada e implementada de forma interprofissional e colaborativa, de modo que não haja sobreposição e/ou hiatos assistenciais e seja um meio para promover a articulação dos saberes nucleares das diferentes profissões e do campo de atuação5-7. A lógica multiprofissional predominante nas proposições de equipes na APS pressupõe práticas que qualifiquem o trabalho coletivo, a partir da comunicação, identificação de papéis, construção e compartilhamento de objetivos convergentes, buscando favorecer a coordenação do cuidado e a organização dos fluxos assistenciais, garantindo a integralidade e resolutividade das ações em saúde8,9. Dessa forma, promover a integralidade do cuidado não é apenas um objetivo a ser alcançado, mas um processo contínuo que exige esforços coletivos e adaptações constantes10.
Todavia, o caminho rumo à integralidade do cuidado na APS é desafiador. Ao longo das últimas três décadas, as equipes multiprofissionais na APS enfrentaram e ainda enfrentam diversos desafios para organização e operacionalização das ações, que perpassam por fragilidades organizacionais e relacionais11. Dentre estas, destacam-se as fragilidades comunicacionais intra e inter equipes e na coordenação/liderança, escassez de recursos, diversidade de conhecimentos e abordagens profissionais e a precarização dos processos de trabalho e dos vínculos empregatícios, fatores que podem operar como obstáculos para o trabalho colaborativo interprofissional se concretizar, tornando-o fragmentado e desconectado12.
Mesmo diante dos obstáculos supramencionados, a proposição de equipes de referência da ESF apresenta resultados significativos em termos de melhoria nos indicadores de saúde, no acesso aos serviços de saúde e, em especial, redução da mortalidade infantil e das internações por condições sensíveis à APS13,14. Outros estudos15,16 apontaram avanços na transição de uma prática individualizada para um modelo de atenção à saúde alicerçado na colaboração entre profissionais de uma ou diferentes equipes14. Entretanto, especialmente em territórios rurais, rurais remotos, de povos originários e com maior vulnerabilidade social persistem fragilidades na consolidação da abordagem multiprofissional15-21 na ESF.
Neste momento de comemoração dos 30 anos da ESF no Brasil, torna-se mais do que oportuno produzir evidências e explicitar mediações e determinações histórico-políticas para suscitar reflexões sobre as condições que possam ratificar o trabalho em equipe na ESF como aspecto fundamental na consolidação da APS. Em razão do que foi apresentado, o presente ensaio teórico aborda conquistas e desafios do Sistema Único de Saúde (SUS) em relação ao trabalho em equipe ao longo dos 30 anos da ESF no Brasil. A relevância do ensaio teórico reside no fato de que a temática abordada recrudesce atualmente, mas ainda apresenta divergências e contradições que permanecem, especialmente quanto ao modus operandi do trabalho em equipe nos territórios da APS.
METODOLOGIA
Este trabalho tem cunho qualitativo e trata-se de um ensaio teórico reflexivo. Para subsidiar a análise crítica proposta pelo ensaio, optou-se em realizar uma revisão de escopo, considerada um método apropriado para avaliar e compreender a extensão do conhecimento em um campo emergente, ou ainda identificar, mapear, relatar ou discutir as características e conceitos nesse campo22.
A síntese e a revisão dos dados seguiram o manual do Joanna Briggs Institute23 e os princípios do protocolo Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta Analyses PRISMA-SCR24 e utilizou a estratégia PICo25 para definição da pergunta norteadora do estudo: quais concepções, elementos estruturantes e operacionais configuram a lógica de trabalho em equipe implementadas nos últimos 30 anos da ESF? Quais foram os principais desafios ao longo dos últimos 30 anos e possíveis proposições para superações nas próximas décadas?
Para localização das referências, inicialmente foram identificados os descritores no DECS/MESH terms (MeSH headings or Medical Subject Headings), quais sejam: (Interprofessional Relations; Interprofessional Collaboration; Cooperative Behavior; Patient Care Team; Interdisciplinary Communication); Health Care Teams; Patient Care Team; Primary Health Care; Community Health Workers; Multidisciplinary Care Team); (Primary Health Care; Community Health Services; Family Practice; Comprehensive Health Care).
A busca de evidências foi realizada em março de 2025, mediante o acesso às bases de dados científicas PubMed, LILACS, SciELO, BDENF e Cochrane Library. Esse acesso foi realizado por meio da Comunidade Acadêmica Federada (CAFe), através do Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Utilizou-se como estratégia de busca a associação de descritores previamente identificados do MeSH/DeCS terms e palavras-chave, desenvolvidas inicialmente para o PubMed, combinados com os operadores boleanos AND e OR, assim como os termos indicados como sinônimos.
Em seguida, fez-se a elaboração das sintaxes de busca, adequadas à localização dos documentos nas bases de dados selecionadas, a partir da string geral: (("Interprofessional Relations"[MeSH] OR "Interprofessional Collaboration"[MeSH] OR "Cooperative Behavior"[MeSH] OR "Patient Care Team"[MeSH]) OR ("Trabalho interprofissional" OR "Colaboração interprofissional" OR "Práticas colaborativas")) AND ( ("Primary Health Care"[MeSH] OR "Community Health Workers"[MeSH] OR "Family Practice"[MeSH]) OR ("Estratégia Saúde da Família" OR "ESF" OR "NASF" OR "Núcleo de Apoio à Saúde da Família" OR "Equipe multiprofissional" OR "E-multi")) AND ( ("Brazil"[MeSH] OR "Brasil" OR "Saúde da Família no Brasil" OR "APS no Brasil")) AND ("1994/01/01"[Date - Publication] : "2024/12/31"[Date - Publication]).
Para elegibilidade, considerou-se: (1) pertinência ao tema; (2) textos completos publicados entre 1994 (ano de implantação do Programa Saúde da Família com equipe mínima) até 2024; (3) ter seu resumo disponível nas bases de dados incluídas neste estudo; e (4) ser estudo empírico cujo foco abrangesse as práticas colaborativas em equipes interprofissionais na Estratégia Saúde da Família (ESF) da Atenção Primária à Saúde (APS) no Brasil, especialmente aqueles que descreveram experiências de trabalho colaborativo e desafios ao longo dos últimos 30 anos. Foram excluídos documentos normativos, dissertações, teses, literatura cinzenta, cartas ao editor e artigos de opinião.
Foram localizados 2.025 artigos, exportados para o Intelligent Systematic Review (Rayyan)25, sendo excluídas 371 duplicatas de artigos, restando 1.654 estudos a serem analisados. Destes, 1.567 foram excluídos por não abordarem a temática central, que descreveram intervenções em outros países ou fora do contexto da APS/ESF, restando 87 estudos para leitura na íntegra, dos quais 53 foram excluídos por não discutirem os assuntos considerados centrais nesta revisão, resultando 34 artigos no corpus final analítico. (Figura 1)
Figura 1. Fluxograma do processo de seleção dos estudos incluídos na revisão - Prisma.
As principais informações dos artigos incluídos foram sintetizadas para apresentação dos resultados conforme os seguintes tópicos: A. Terminologias e conceitos fundamentais; B. Caracterização ou natureza /modelo do trabalho colaborativo; C. Desafios e possíveis recomendações para a estruturação da lógica interprofissional.
RESULTADOS
Terminologias e concepções de trabalho colaborativo em equipe
A análise dos 34 artigos incluídos permitiu identificar que a organização do trabalho com base em equipes de referência na APS relacionou-se com diferentes terminologias e definições. Considerando o referencial da ação coletiva do campo da sociologia organizacional para a proposição de tipologias e atributos ou características do trabalho em equipe que permitem diferenciar as modalidades de equipes, pode-se afirmar que, de maneira geral, compartilham uma perspectiva teórica comum os seguintes termos: trabalho em equipe26-,42, cuidado pautado na colaboração interprofissional28-33, prática colaborativa interprofissional36, cuidado colaborativo37, trabalho interprofissional38,39, colaboração interprofissional40,43. A maioria dos estudos referiu a interprofissionalidade como definida por D’Amour et al.44. Essa perspectiva teórica refere-se a interprofissionalidade como um construto polissêmico, complexo, atual e emergente no sentido de dar respostas às necessidades envolvidas no trabalho em equipes, sobretudo nos serviços de saúde, ao diferenciar as equipes mais e menos efetivas, as habilidades/especificidades de cada área profissional, autonomia e hierarquização na tomada de decisão. (Quadro 1)
Quadro 1. Terminologias e definições utilizadas para identificar a organização do trabalho com base em equipes na APS, identificadas nos estudos analisados. Brasil, 2025.
De modo abrangente, as terminologias explicitam, como pressuposto central, um modo de agir imprescindível para se atingir a integralidade do cuidado na APS, que se configura quando profissionais de diferentes formações desenvolvem um trabalho cuja colaboração perpassa planejamento e implementação das ações em saúde34, sendo práticas reconhecidas por compreender uma certa intersubjetividade e uma prática ampliada, integral e centrada no usuário, e consideradas mais efetivas do que as tradicionais35.
Melo et al.37 recuperaram duas perspectivas operacionais do trabalho em equipe, preliminarmente discutidas por Peduzzi45, referentes a um agrupamento de equipes e de agentes com justaposição de suas ações; e, à integração em equipe, que preconiza a interação efetiva dos agentes e a conexão das ações, sendo o que se espera como lógica organizacional de equipes multiprofissionais. A esses resultados, podem-se acrescentar os obtidos por Vasconcelos et al.29, que definiram o trabalho em equipe interprofissional como o trabalho conjunto de dois ou mais profissionais para atingir um objetivo comum para favorecer a colaboração interprofissional, que pode ser definida como uma parceria entre uma equipe de profissionais de saúde e seus pacientes em uma abordagem participativa e coordenada, seja numa equipe ou inter equipes no serviço ou na rede assistencial, envolvendo usuários e a comunidade.
Observa-se que a noção de trabalho interprofissional tradicional, usualmente baseada somente no trabalho em equipe, pode conceber outras formas de interprofissionalidade, o que inclui a colaboração e a prática colaborativa interprofissional.
Sob o aspecto mencionado anteriormente, Kanno et al.18 identificaram dois tipos de colaboração interprofissional, a colaboração em equipe, a colaboração em rede e com a comunidade, demonstrando que o trabalho em equipe é o núcleo do trabalho interprofissional, caracterizado por objetivos comuns, identidade compartilhada, clareza de papéis, interdependência e corresponsabilização dos profissionais da equipe, mas que deve ser direcionado por necessidades apontadas pela comunidade. Embutida nessas vertentes, a noção de interprofissionalidade pode ser entendida como um processo complexo e dinâmico, que concerne à construção de uma relação que integra as perspectivas de cada profissional e de uma ação coletiva, voltada para a complexidade das necessidades de saúde dos usuários, influenciada por aspectos organizacionais, inclusive, a articulação entre os trabalhadores36.
Graça et al.30 reforçam que o cuidado interprofissional deve estar pautado nos princípios de integralidade, equidade e universalidade, que reforçam as bases estruturantes para a colaboração interprofissional, com o entendimento de que somente equipes agrupadas não são suficientes para melhorar o acesso e a qualidade da atenção à saúde, tornando-se necessária, a colaboração entre os integrantes das equipes de um mesmo serviço, de equipes de outros serviços e de diferentes setores de uma determinada rede.
Especificamente no âmbito da APS, Noronha & Lima Filho46 associaram a terminologia do trabalho em equipe em alusão ao trabalho produzido pelas equipes da ESF, que se fundamenta numa interrelação com dimensões inter complementares e interatuantes. Prado et al. apontam que, na ESF, a equipe é responsável por um conjunto de famílias e usuários adscritos, configurando o núcleo de produção do cuidado, o que exige uma relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos ACS31.
Assim, é possível caracterizar modelos de equipes com base em arranjos organizacionais, como regras comuns claras e estruturas de informação adequadas, bem como tempo, espaço e recursos que permitam que os profissionais se conheçam e discutam questões que surjam de forma interdisciplinar; ou, colaborativa, o que implica relações de trabalho altamente conectadas e interdependentes.
As evidências, analisadas teoricamente, revelam o pressuposto de processos de trabalhos uniprofissionais do modelo hegemônico de saúde que busca otimizar o processo pelo qual cada profissional em cada equipe mínima contribui em sua capacidade máxima. As análises também abrangeram a perspectiva de resultados inerentes ao trabalho em equipe na APS, que reverberam a lógica da reorganização do trabalho para viabilizar uma ação interprofissional que, de fato, seja capaz de atender as necessidades de saúde da população.
Elementos estruturantes e operacionais do trabalho em equipes na APS
A literatura analisada apresentou elementos estruturantes e operacionais do trabalho colaborativo. (Quadro 2)
Quadro 2. Elementos estruturantes e operacionais do trabalho colaborativo. Brasil, 2025
A comunicação e a interação se destacaram como pré-condição essencial para o trabalho em equipe interprofissional, haja vista que a diferenciação entre modalidades do trabalho coletivo interprofissional, requer o reconhecimento da sua interdependência e a interação dos sujeitos envolvidos expressa pelo nível de compartilhamento de valores, objetivos e identidade entre os profissionais18,24,29,30,31,33,35,38,47,48,49.
Sob essa ótica, torna-se essencial identificar a finalidade ou o propósito do trabalho em equipe que está relacionado às necessidades locais de usuários, famílias e comunidade, bem como as características e as condições de trabalho concretas nas quais atuam os profissionais.
No que condiz à finalidade, a construção de um trabalho conjunto objetiva um cuidado ampliado e decisões compartilhadas, com corresponsabilização, mediante a problematização da realidade para a implementação de práticas integradas de saúde18,29,32,33,35,39,40,41,48,50. Dessa forma, a finalidade da integração entre as diferentes equipes seria oferecer suporte, garantir a integralidade do cuidado e, consequentemente, aumentar a resolutividade dentro da APS, promovendo a articulação entre diversos profissionais. Esse processo de coordenação é facilitado por meio de empatia, respeito, solidariedade, escuta, apoio psicossocial, sensibilidade, afetividade, diálogo no cuidado, acolhimento e vínculo, entre outros aspectos13,23,42,43.
Outro elemento estruturante do trabalho em equipe diz respeito à construção de um projeto assistencial comum, com foco na atenção centrada no paciente, em que a humanização e qualidade do cuidado são elementos propositivos37,49,51,52. Isso perpassa o fortalecimento do processo formativo desses profissionais35,40,53,54. Para a operacionalização do trabalho em equipe, algumas atividades são citadas como promissoras para a integração profissional, tais como a realização de interconsultas, as reuniões de equipe, a agenda compartilhada, o matriciamento, o Projeto Terapêutico Singular (PTS), o compartilhamento de diretrizes e a tomada de decisões coletivas 24,29,30,33,35,36,38,40,41,46,48,49,51,55,56. No entanto, é importante ressaltar que o PTS pode ser fruto de uma produção colaborativa e desse modo independente do apoio matricial.
A organização horizontal do trabalho, com estímulo à participação ativa de profissionais e usuários, é igualmente relevante. Araújo e Rocha55 destacam, inclusive, o uso de planejamento estratégico e o compartilhamento de decisões.
Algumas publicações9,33,37,48,50,55 também destacam a implementação de ações desenvolvidas no território por meio, principalmente, de visitas domiciliares e monitoramento compartilhado de casos complexos. A educação permanente parece otimizar o processo de trabalho mediante alinhamento de saberes dos profissionais e encontros periódicos (oficinas, simulações e aprendizagem baseada em problemas melhoram a capacidade de trabalho em equipe)9,23,30,32,33,35,36,49,51,55, e estabelecimento de uma relação de interação mútua com a comunidade por meio da concretização de espaços democráticos, para controle social e participação comunitária57.
Desafios para a consecução de práticas por equipes da APS no Brasil
Dentre os vários desafios para a incorporação das práticas interprofissionais nos serviços e cotidiano das equipes, as análises suscitaram um conjunto de aspectos que foram agrupados em seis categorias: (1) formação profissional; (2) organização e gestão do trabalho; (3) coordenação do cuidado e apoio matricial; (4) comunicação e trabalho em equipe; (5) infraestrutura e condições de trabalho; e (6) integração com a comunidade e acesso aos serviços (Figura 2).
Figura 2. Síntese dos principais desafios para a prática interprofissional em equipe na APS. Brasil, 2025
Uma barreira que tem se mostrado importante para a prática de atividades colaborativas nas equipes refere-se à formação dos profissionais8,23,29,35,37,38,53,58. Isso pode ser observado tanto pelas falhas na formação na graduação quanto na pós-graduação lato sensu29, com formação insuficiente para o manejo de atividades coletivas35, para o processo de trabalho em equipe uniprofissional e fragmentado, com ênfase no modelo biomédico23,37,38.
Bispo Júnior & Almeida8 ressaltaram também a necessidade de se instituir uma política de educação permanente para as equipes Multidisciplinares (e-multi) na APS, que pode ser percebida como um desafio nesse contexto. Outra questão colocada por Melo et al.37, que merece destaque, é a insuficiente formação de gestores na área da saúde, o que pode se configurar como uma limitação importante no que se refere à compreensão da realidade dos territórios e organização da dinâmica do trabalho coletivo em saúde.
No que se refere à organização e gestão do trabalho, observam-se obstáculos para a implementação de práticas de colaboração interprofissional e para a adaptação dessas práticas à realidade local32-33, além da organização e planejamento dessas práticas dentro dos serviços, uma vez que há pouca ampliação de categorias profissionais inseridas na APS33, assimetria no escopo de prática dos profissionais das equipes43 e, portanto, dificuldades relacionadas à sua operacionalização9.
Outros autores49 também citam dificuldades práticas na organização do trabalho do próprio Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e a fragilidade de certos arranjos organizacionais, como a ênfase no trabalho ambulatorial em vez de apoio matricial. Por outro lado, algumas publicações evidenciaram obstáculos relacionados à coordenação do cuidado e apoio matricial, como a falta de integração entre NASF e ESF, além da insuficiência de fluxos assistenciais claros para a APS, o que pode desencadear descontinuidade das atividades e fragmentação da assistência35 e limita a interprofissionalidade34,46. Além disso, parece não haver definição nítida sobre a organização do trabalho das equipes, como na e-multi8,33, e falta de apoio institucional e financeiro para a prática colaborativa23,51,50,55.
A alta rotatividade dos profissionais na APS, pode corroborar para a descontinuidade do cuidado e sobrecarga dos demais profissionais da equipe18,35,38. Aliado a esse contexto, também apareceu a precarização do trabalho, observada principalmente pela flexibilização das formas de contratação das equipes, contratação de trabalhadores sem qualificação profissional8,35,56.
As equipes ainda enfrentam algumas barreiras no aspecto inter relacional, de comunicação e trabalho em equipe propriamente dito, como, por exemplo, as fragilidades na comunicação interprofissional, com ruídos e conflitos pessoais, além das dificuldades no estabelecimento de uma comunicação formal entre a equipe, fragilizada pelo uso excessivo de tecnologias informais de mensagem, sem formalização dos processos9,24,31,32,37,59, e relações assimétricas de poder entre os membros da equipe, influenciadas, pelo predomínio do modelo biomédico hegemônico9,18,38.
No que se refere à infraestrutura e condições de trabalho, também foram citadas diversas dificuldades relacionadas tanto a precariedade da própria estrutura física das unidades, sem espaços adequados para reuniões8,34,35,36,40,47,54,52 e insuficiência de materiais e equipamentos para a prática interprofissional36,40,53. Vale ressaltar também a insatisfatória remuneração e o alto volume de trabalho, dificultando a implementação de práticas colaborativas18,41,46,59.
Por último, barreiras de integração com a comunidade e acesso aos serviços foram observadas por meio da baixa adesão da comunidade às atividades coletivas35,40,46, da insuficiência de estratégias para ampliar a participação dos usuários em seu próprio cuidado, o que aparece como fragilidade, por desfavorecer o cuidado compartilhado e maior autonomia do usuário9,31,38,50.
Discussão
O ensaio teórico abrangeu sínteses e revisitou concepções, terminologias e elementos estruturantes de equipes de saúde em apoio a ESF, que merecem destaque quanto às contribuições e aos desafios ao longo dos últimos 30 anos.
A ESF representou um avanço civilizatório na saúde pública brasileira, em parte pela atuação das equipes multiprofissionais. No entanto, seu sucesso depende de maior investimento, valorização dos profissionais e fortalecimento da gestão participativa. Neste momento, de comemoração dos 30 anos da ESF no Brasil, é fundamental analisar experiências nevrálgicas para a sua consolidação, o que perpassa por compreender os avanços e desafios na operacionalização do trabalho em equipe na APS, para garantir uma atenção integral, de qualidade e que seja realmente capaz de atender às diversas necessidades da população, nos anos vindouros.
As experiências analisadas demonstram que as equipes multidisciplinares potencializam a resolutividade da APS, reduzem desigualdades no acesso, promovem cuidado integral. Porém, em muitos casos, os NASF, por exemplo, funcionavam de forma pontual, sem integração efetiva com a ESF61. A fragmentação na integração NASF-ESF em Municípios do Nordeste foi um aspecto relevante para outros autores62. que apontaram a atuação paralela sem integração real (73% dos casos estudados); ausência de agenda compartilhada (57% das equipes), e conflitos de recorrentes quanto as indefinições nas atribuições profissionais.
O trabalho na APS com ênfase nas equipes da ESF é reforçado pelo conjunto de publicações analisadas, como uma possibilidade da reorganização da assistência em saúde, para ampliar o acesso à qualidade assistencial e a capacidade de responder aos fatores heterogêneos do processo saúde/doença. Assim, as práticas integradas de profissionais e serviços de saúde em equipes são reconhecidas por proporcionarem uma prática ampliada, integral, centrada no usuário e com custo e qualidade adequados, portanto, mais efetivas do que as tradicionais63.
Considerando a natureza relacional do trabalho em equipe, alguns elementos propositivos podem direcionar novas lógicas organizacionais ou complementares com a combinação de aspectos de diferentes abordagens, como uso de telessaúde e de outras tecnologias digitais em saúde, a fim de integrar equipes de saúde nos serviços e nas redes de atenção à saúde. Este novo desafio exige a renegociação da complexa divisão do trabalho na área da saúde e o fortalecimento da colaboração entre grupos profissionais mais integrados. A partir disso, foi possível refletir quanto à perspectiva e às dificuldades para o fortalecimento do processo de trabalho colaborativo, para suscitar recomendações de ações futuras, que possam consolidar ações intencionais e sistêmicas, vinculadas a políticas públicas consistentes.
Dentre as recomendações que derivam das reflexões levantadas por esse ensaio, destacam-se: a necessidade do fortalecimento da governança para garantir infraestrutura adequada e promover o trabalho interprofissional, além de aproximar a gestão da ESF, com supervisão e apoio institucional contínuo na organização do trabalho36,37,41,46,47,49; o fortalecimento de aspectos políticos e organizacionais, que fragilizaram a atenção primária e podem contribuir para a ampliação de práticas fragmentadas51,53; a implementação de estratégias de avaliação e supervisão das práticas interprofissionais, assegurando sua operacionalização e coerência com os princípios da APS51,46; de valorização profissional e garantia de melhores condições de trabalho8,31,40,41,48,54; reforço na formação dos profissionais, mediante a educação permanente, com foco no trabalho em equipe e na transformação das práticas profissionais com maior ênfase interprofissional8,9,24,29,30,46,48,52.
Da mesma forma, faz-se necessária a criação de espaços para diálogo, reuniões e pactuação entre os profissionais, favorecendo a colaboração, a decisão compartilhada e a comunicação dentro da equipe, interequipe e com usuários, e com demais equipes na rede de serviços18,29,35,56,38,39,45. É essencial fomentar o compartilhamento genuíno do cuidado interprofissional, ampliando o escopo de atuação e as barreiras hierárquicas43.
No que concerne à inclusão de novas tecnologias, será necessário analisar as ações realizadas pelos grupos profissionais, promovendo oportunidades coletivas para desenvolver práticas integradas, respeitando as especificidades profissionais, e encorajando um equilíbrio de domínio tecnológico entre os membros da equipe, para ser avaliada a possibilidade de inclusão de ações que não eram formalmente reconhecidas com a organização tradicional do trabalho exclusivamente presencial60.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os achados do ensaio teórico sobre as equipes multidisciplinares na APS ao longo das últimas três décadas revelam um panorama dinâmico, marcado por avanços significativos, mas também por desafios persistentes que refletem as mudanças conjunturais políticas e econômicas no Brasil.
Na década de 1990, as equipes multidisciplinares eram incipientes e frequentemente caracterizadas por uma abordagem biomédica, onde a fragmentação do cuidado era a norma. A atuação das equipes era muitas vezes restrita a um número limitado de profissionais, com pouca interação entre diferentes áreas de atuação. A ênfase era a especialização numa perspectiva biomédica, resultando em uma visão reducionista do cuidado à saúde.
Nos anos 2000, com a implementação da Estratégia Saúde da Família (ESF), houve um avanço considerável na formação e na atuação das equipes, apesar da mercantilização da educação no campo da saúde. A ESF introduziu uma perspectiva mais integrada e centrada no usuário, promovendo a colaboração entre profissionais de diferentes formações. Essa década também viu um aumento na valorização do trabalho interprofissional, com a introdução de práticas colaborativas que buscavam responder às necessidades locais da população. No entanto, a efetividade dessas práticas ainda era limitada por questões estruturais e de financiamento.
Na última década, o conceito de trabalho em equipe evoluiu ainda mais, incorporando uma abordagem mais holística e colaborativa. As equipes passaram a ser vistas como essenciais para a promoção da saúde, com foco na integralidade do cuidado e na participação ativa dos usuários. No entanto, a implementação dessas práticas enfrenta desafios significativos, especialmente em contextos de mudanças de governo e de prioridades políticas. Por outro lado, a sustentabilidade das práticas interprofissionais é frequentemente ameaçada por cortes orçamentários e falta de continuidade nas políticas públicas.
As mudanças de governo nas conjunturas políticas recentes (2016 a 2022) impactaram diretamente as práticas na APS. O financiamento e as prioridades estaduais variam conforme a ideologia dos gestores, o que pode levar a uma descontinuidade nas ações e na implementação de políticas de saúde com foco na APS. Em certos momentos, houve um forte apoio à formação de equipes e à promoção de práticas colaborativas, enquanto em outros, a ênfase recaiu sobre a austeridade fiscal, prejudicando a capacidade das equipes de funcionar de maneira eficaz. Essa oscilação ideológica e política demonstra a vulnerabilidade das políticas de saúde à instabilidade governamental, o que, por sua vez, compromete a integralidade e a continuidade do cuidado prestado.
Em suma, embora tenha havido avanços significativos nas últimas três décadas em relação às equipes multidisciplinares na APS, esses progressos são frequentemente contidos por desafios estruturais e contextuais. Para garantir a sustentabilidade e o incentivo a práticas mais colaborativas, é fundamental uma abordagem contínua e integrada que transcenda as mudanças políticas, assegurando que as prioridades em saúde estejam alinhadas com as necessidades reais da população. O fortalecimento da governança, o financiamento adequado e a valorização do trabalho em equipe são essenciais para que as práticas colaborativas se tornem uma realidade efetiva e duradoura, com contribuições sustentáveis para o fortalecimento do sistema de saúde brasileiro.
REFERÊNCIAS
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Quadro 1. Terminologias e definições utilizadas para identificar a organização do trabalho com base em equipes de referência identificadas nos estudos analisados. Brasil, 2025
Autor/ano Conceitos fundamentais
(trabalho em equipe / interprofissional / multiprofissional)
Vasconcelos et al., 202429 O trabalho em equipe interprofissional, pode ser definido como o trabalho conjunto de dois ou mais profissionais para atingir um objetivo comum. Em comparação, o trabalho em equipe interprofissional é menos integrado do que a colaboração interprofissional, que pode ser definida como uma parceria entre uma equipe de profissionais de saúde e seus pacientes em uma abordagem participativa, colaborativa e coordenada para alcançar a tomada de decisão compartilhada em relação aos cuidados de saúde. Isso pode ocorrer dentro de uma pequena equipe, entre equipes do mesmo serviço ou na rede envolvendo usuários e a comunidade.
Graça et al., 202430 Cuidado pautado na interprofissionalidade, se estabelece quando há materialização de uma prática colaborativa em saúde, em que os profissionais trabalham e aprendem mutuamente promovendo melhorias nos resultados da assistência à saúde do usuário; em que são levadas em consideração as habilidades de cada um, contribuindo para a redução de erros e ações duplicadas, concretizando o cuidado em saúde de fato; Cuidado interprofissional, pautado nos princípios da integralidade, equidade e universalidade, que reforçam as bases estruturantes para a colaboração interprofissional, com o entendimento de que somente equipes agrupadas não são suficientes para melhorar o acesso e a qualidade da atenção à saúde, tornando-se necessária para a eficácia e excelência do atendimento a colaboração entre os integrantes das equipes de um mesmo serviço, de equipes de outros serviços e de diferentes setores de uma determinada rede; trabalho multiprofissional- trabalho na Atenção Primária à Saúde (APS), com ênfase nas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) voltado para o fortalecimento do sistema de saúde, trazendo a possibilidade da reorganização da assistência em saúde, da melhoria do acesso à qualidade assistencial e da capacidade de responder aos fatores heterogêneos do processo saúde/doença.
Prado et al., 202431 O trabalho interprofissional é constituído por diferentes formas de organização, como trabalho em equipe, colaboração, prática colaborativa e trabalho em rede. O trabalho em equipe constitui o núcleo de produção do cuidado, visto que a equipe é responsável por um conjunto de famílias e usuários adscritos a ela, se caracterizando pela existência de objetivos comuns, intensa interdependência das ações, clareza dos papéis e compartilhamento da identidade e responsabilidade entre os membros; Colaboração interprofissional diz respeito a profissionais de diferentes áreas que querem trabalhar juntos porque reconhecem que a cooperação promove melhor atenção e melhores resultados para os usuários e a população. A colaboração, quando implementada na prática do cuidado, constitui prática colaborativa interprofissional, assim como quando se refere à Rede de Atenção à Saúde (RAS) e ao trabalho em rede colaborativa.
Bispo Júnior & Almeida, 202364 As eMulti são definidas como equipes de profissionais de saúde de diferentes áreas de conhecimento que atuam de maneira complementar e integrada à APS, e vinculação a todas as modalidades de equipes de APS (equipe de saúde da família; equipe de saúde da família ribeirinha; equipe de consultório na rua; equipe de atenção primária; e equipe de unidade básica de saúde (UBS) fluvial. Por sua vez, as equipes de APS apenas podem estar vinculadas a uma eMulti.
Grande et al., 202332 A colaboração interprofissional compreende um trabalho em que profissionais de saúde, de diferentes profissões, assumem responsabilidades, atuam com interdependência, sabem de suas funções e têm orientações objetivas para prestação de cuidado integrado.
Kanno et al., 202318 A colaboração interprofissional é um processo que envolve profissionais de diferentes áreas da saúde, com articulação de distintos saberes para a produção do cuidado, em estudo realizado na atenção primária em saúde (APS) do Sistema Único de Saúde (SUS) identificou dois tipos de colaboração interprofissional: colaboração em equipe e colaboração em rede e com a comunidade. o trabalho em equipe é o núcleo do trabalho interprofissional, caracterizado por objetivos comuns, identidade compartilhada, clareza de papeis, interdependência e corresponsabilização dos profissionais da equipe.
Ribeiro et al., 202234 A interprofissionalidade como um modo de agir imprescindível para se atingir a integralidade do cuidado na APS, e que se configura quando profissionais de diferentes formações desenvolvem um trabalho em equipe, cuja colaboração perpassa planejamento e implementação das ações em saúde.
Saporito et al., 202235 NASF/AB como equipes multiprofissionais por meio de práticas compartilhadas em saúde nos territórios sob responsabilidade das ESF mediante práticas mais dialógicas na perspectiva de produção de autonomia, criação de vínculo, adesão, bem como a garantia do acompanhamento de grupos populacionais que, historicamente, tinham pouco acesso à APS.
Silva & Miranda, 202236 A colaboração interprofissional (CIP) tem por objetivo principal a centralidade do cuidado, materializando-se por meio de equipes interdisciplinares integradas a serviços de outros níveis de atenção e de outros setores, como educação e assistência social (Brasil, 2017). A CIP consiste em um processo complexo e dinâmico, que concerne à construção de uma relação que integra as perspectivas de cada profissional e de uma ação coletiva, voltada para a complexidade das necessidades de saúde dos usuários. Nessa perspectiva, a colaboração é influenciada tanto por aspectos organizacionais como por características relacionais da dinâmica de articulação entre os trabalhadores (D’Amour et al., 2005; D’Amour et al., 2008).
Melo et al., 202237 O trabalho colaborativo e o trabalho em equipe na dimensão da colaboração e da prática interprofissional, considerando que a complexidade do cuidado requer integração de saberes e práticas de diferentes profissionais. Trabalho em equipe baseado em duas modalidades: a. agrupamento de equipes, com agrupamento de agentes e justaposição de suas ações; e b. integração em equipe, que preconiza a interação efetiva dos agentes e a conexão das ações.
Diniz, Melo & Vilar, 202138 O conceito de interprofissionalidade surge para possibilitar uma melhor compreensão de um fenômeno em desenvolvimento, que é a prática de cuidados de saúde integrada e colaborativa entre os profissionais, em resposta às demandas dos usuários. O trabalho interprofissional, por sua vez, apresenta-se como a materialização da interprofissionalidade, sendo caracterizado como uma prática coesa entre profissionais da mesma organização ou de diferentes organizações. O termo "Prática Interprofissional Colaborativa" (PIC) refere-se à colaboração interprofissional expressa no cenário das práticas de atenção à saúde. Ocorre quando profissionais, com diferentes experiências, prestam serviços com base na integralidade, envolvendo os pacientes e suas famílias, cuidadores e comunidade para melhoria da qualidade da atenção à saúde em rede de serviços.
Agreli, Peduzzi, & Silva, 201643 A atenção centrada no paciente (ACP) constitui um dos domínios essenciais para a colaboração interprofissional e elemento primordial do trabalho em equipe e da PIC. A orientação das equipes para ACP é um dos indicadores para diferenciação em três níveis crescentes de colaboração (potencial para colaboração, colaboração em desenvolvimento, colaboração ativa), e reserva a denominação de equipes com “colaboração ativa” àquelas que orientam suas ações tendo como foco o paciente e suas necessidades de saúde.
Previato & Baldissera, 201839 A Prática Colaborativa Interprofissional em Saúde (CISP) é um caminho reconhecido para o necessário envolvimento das equipes de saúde. A CISPS apresenta-se como um construto polissêmico, embora possa ser definida de forma ampla como uma parceria entre uma equipe de profissionais de saúde de diferentes áreas do conhecimento e um cliente, em uma abordagem colaborativa, participativa e coordenada de tomada de decisão compartilhada envolvendo questões sociais e de saúde. Tal prática proporciona uma atenção mais integral, qualificada, ampliada e efetiva aos usuários dos serviços de saúde. Alega-se que, ao estabelecer a CISP, a atenção à saúde é implementada sem fragmentação e em sintonia com as diferentes categorias profissionais
Bispo Júnior & Moreira, 201840 O trabalho do NASF é orientado pelo referencial teórico-metodológico do apoio matricial (Brasil, 2014). Esse arranjo envolve uma equipe de referência, que é responsável pela gestão do cuidado, e uma equipe de apoio, que presta suporte técnico pedagógico e retaguarda especializada (Campos et al., 2014). As ações de apoio vão desde as esferas de promoção da saúde e de prevenção de agravos até ações clínico-assistenciais.
Bispo Júnior & Moreira, 201841 Por cuidado colaborativo entende-se o desenvolvimento do trabalho em saúde, a partir da interação entre profissionais de diferentes núcleos de saber, com foco prioritário nas necessidades dos usuários, a partir de constantes mecanismos de comunicação, integração e tomada de decisão em conjunto, com definições de responsabilidades entre os componentes.
Peduzzi & Agreli, 201865 O trabalho em equipe interprofissional tem sido definido como aquele que envolve diferentes profissionais, não apenas da saúde, que juntos compartilham o senso de pertencimento à equipe e trabalham juntos de maneira integrada e interdependente para atender às necessidades de saúde. O trabalho em equipe interprofissional envolve elementos do contexto social, político e econômico.
Trabalho em equipe”, com intenso compartilhamento de valores, objetivos e identidade de equipe e intensa interdependência e integração das ações, que tende a responder a situações de cuidados imprevisíveis, urgentes e de maior complexidade; “Colaboração interprofissional”, como forma mais flexível de trabalho interprofissional, com níveis menores de compartilhamento e interdependência das ações; e “Trabalho em rede”, no qual se reconhece ainda maior flexibilidade e menor interdependência das ações, mas com a integração em rede mantida.
Escalda & Ferreira Parreira, 201842 A interprofissionalidade pode ser definida como “o desenvolvimento de uma prática coesa entre profissionais de diferentes disciplinas”, que envolve “refletir e operar” um trabalho “capaz de responder às necessidades da comunidade” (p. 9).
Castro, Oliveira, & Campos, 201651 O Apoio Matricial vem sendo definido como uma estratégia de cogestão para o trabalho interprofissional e em rede, valorizando-se, nessa definição, a concepção ampliada do processo saúde/doença, a interdisciplinaridade, o diálogo e a interação entre profissionais que trabalham em equipes ou em redes.
Medeiros, 201553 O apoio matricial, como lógica de organização do trabalho em saúde, aponta para o segundo tempo lógico do cuidado integral ao constituir-se como prática de cooperação entre equipes de ESF e suas referências de apoio - setoriais e intersetoriais - e como modo de potencializar o trabalho com os cuidados primários em saúde em toda sua complexidade.
Matuda et al., 201547 Colaboração interprofissional é um termo utilizado para descrever a natureza da interação entre profissionais de diferentes campos do conhecimento, proporcionando uma atenção à saúde mais abrangente. Está relacionada ao cuidado integral, se aproxima de práticas participativas e de relacionamentos pessoais mútuos e recíprocos entre os integrantes das equipes, contrapondo-se às relações tradicionais hierarquizadas. Envolve um constante processo de comunicação e de tomada de decisões, que permite que os conhecimentos e habilidades de diferentes profissionais atuem de forma sinérgica com o usuário e a comunidade.
Fernandes et al., 201559 O trabalho em equipe de saúde implica interação constante e intensa de um conjunto de trabalhadores para realização da tarefa assistencial, do atendimento integral, de reconstrução dos modos de lidar com os saberes e disciplinas, necessários para o atendimento em saúde.
Agreli, Peduzzi, & Bailey, 20173 O trabalho em equipe consiste em estratégia para a integração das especialidades e das múltiplas profissões, imprescindível para o desenvolvimento da assistência e do cuidado integral do paciente. Outra abordagem concebe o trabalho em equipe como as relações que o grupo de trabalhadores constrói no cotidiano do trabalho e propõe o reconhecimento e a compreensão dos processos grupais pelos seus integrantes como forma de construir a própria equipe. Quanto à distinção entre grupo e equipe, pode-se argumentar que a equipe inclui esforços para construir a coesão grupal entre seus membros, mas vai além disso à medida que deve funcionar visando a eficácia, a eficiência e a efetividade da assistência e dos cuidados à saúde.
Pereira, Rivera, & Artmann, 201348 Peduzzi (2001), ao explicitar modelos para configurações das equipes de saúde, propõe a classificação das equipes multiprofissionais em agrupamento e interação. Na modalidade de trabalho em equipe multiprofissional de agrupamento, ocorre a tendência à manutenção da fragmentação das ações e relações de distanciamento dos trabalhadores entre si e com o trabalho que executam. Já na modalidade interação, a propensão se direciona para a integração dos trabalhos especializados.
Araújo & Galimbertti, 201349 A Colaboração Interprofissional (CI) é um tópico bastante significativo no contexto geral dos processos e organizações de trabalho, apresentando-se como um construto polissêmico, complexo, atual e emergente no sentido de dar respostas às necessidades envolvidas no trabalho em equipes, sobretudo nos serviços de saúde (D’Amour et al., 2005).
Silva et al., 201254 A ESF busca por ações abrangentes de promoção da saúde e prevenção de agravos. Possui como eixos organizativos o trabalho em equipe, a adscrição de clientela, o estabelecimento de vínculos e a família como foco da atenção.
Noronha & Lima Filho, 201146 O processo de trabalho funda-se numa inter-relação pessoal intensa, decisiva para a própria eficácia do ato, e possui dimensões intercomplementares e interatuantes.
Marqui et al., 201052 O conceito de trabalho em equipe pode ser entendido como uma modalidade de trabalho coletivo, em que configura a relação recíproca entre as intervenções técnicas e a interação dos agentes. A interação é uma prática comunicativa, caracterizada pela busca de consensos e com o objetivo de construir um projeto comum de trabalho.
Kell & Shimizu, 201058 A transdisciplinaridade envolve não só as interações ou reciprocidades entre conhecimentos especializados, mas a colocação dessas relações dentro de um sistema total, sem qualquer limite rígido entre disciplinas
Loch-Neckel et al., 200923 A interdisciplinaridade "são ações conjuntas, integradas e inter-relacionadas, de profissionais de diferentes procedências quanto à área básica do conhecimento". O trabalho interdisciplinar envolve a criatividade, originalidade e flexibilidade frente à diversidade de formas de pensar e às suas soluções.
Oliveira & Spiri, 200650 Peduzzi (1998) refere que a noção de equipe está etimológicamente associada à realização de tarefas, de trabalhos compartilhados entre indivíduos, que de seu conjunto de coletivo.
Ribeiro, Pires, & Blank, 200456 "O trabalho em equipe é o trabalho que se compartilha, negociando as distintas necessidades de decisões técnicas, uma vez que seus saberes operantes particulares levam a bases distintas de julgamentos e de tomada de decisões quanto à assistência ou cuidados a se prestar” (p. 233).
Fonte: Elaborado pelos autores, 2025.
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