0085/2024 - Fatores associados à qualidade da dieta de trabalhadores de saúde durante o enfrentamento da pandemia de covid-19
Factors associated with health workers\' quality of diet during the fight against the covid-19 pandemic
Autor:
• Laura Moreira Goularte - Goularte, L. M. - <lauragoularte99@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9710-1761
Coautor(es):
• Betina Daniele Flesch - Flesch, B. D. - <betinaflesch@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4245-3131
• Maitê Peres de Carvalho - Carvalho, M. P. - <maite.carvalho@ufpel.edu.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1809-328X
• Ana Laura Sica Cruzeiro Szortyka - Szortyka, A. L. S. C. - <alcruzeiro@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0641-5883
• Felipe Mendes Delpino - Delpino, F. M. - <fmdsocial@outlook.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3562-3246
• Anaclaudia Gastal Fassa - Fassa, A. G. - <anaclaudia.fassa@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6070-6214
Resumo:
O estudo caracterizou a qualidade da dieta dos trabalhadores de saúde de um hospital escola de Pelotas-RS, após o primeiro pico da pandemia de covid-19, entre outubro e dezembro de 2020. Realizou-se um estudo transversal com 1159 trabalhadores do hospital, avaliando a frequência alimentar da última semana e a associação entre aspectos sociodemográficos, comportamentais e ocupacionais e o Índice de Qualidade da Dieta, por regressão logística multinomial. Entrevistados do sexo feminino (OR=1,58), com 50 anos ou mais (OR=3,70), com ensino superior (OR=1,32) e fisicamente ativos (OR=5,37) apresentaram melhor qualidade da dieta. Já os que faziam consumo alto de álcool (OR=0,39), trabalhadores do apoio (segurança, higienização e manutenção) (OR=0,36) e que realizaram suas refeições na rua (restaurante, lanchonete) (OR=0,40) apresentaram pior qualidade da dieta. Durante a pandemia, 48,7% relataram aumento de peso, 25% piora na qualidade e 43,1% aumento na quantidade dos alimentos consumidos. O excesso de peso foi de 63,4%. Os trabalhadores consumiam tanto alimentos saudáveis como não saudáveis e a pandemia afetou negativamente a qualidade da dieta. É preciso realizar ações de educação nutricional e melhorar o acesso à alimentação saudável durante o trabalho.Palavras-chave:
hábitos alimentares, comportamento alimentar, covid-19, pandemia, recursos humanos em hospitalAbstract:
The study characterized the dietary quality of healthcare workers at a teaching hospital in Pelotas-RS, Brazil, after the first peak of the COVID-19 pandemic, between October and December 2020. A cross-sectional study was conducted with 1159 hospital workers, assessing their food frequency in the past week and examining the association between sociodemographic, behavioral, and occupational factors and the Diet Quality Index using multinomial logistic regression. Female respondents (OR=1.58), those aged 50 or older (OR=3.70), with a higher education degree (OR=1.32), and physically active individuals (OR=5.37) demonstrated better dietary quality. Conversely, those with high alcohol consumption (OR=0.39), support staff (security, sanitation, and maintenance) (OR=0.36), and those who ate meals outside (restaurants, snack bars) (OR=0.40) exhibited poorer dietary quality. During the pandemic, 48.7% reported weight gain, 25% reported a deterioration in diet quality, and 43.1% reported an increase in the quantity of food consumed. The prevalence of overweight was 63.4%. Workers consumed both healthy and unhealthy foods, and the pandemic negatively impacted diet quality. Nutritional education initiatives are needed, along with efforts to improve access to healthy food during work.Keywords:
eating habits, feeding behavior, covid-19, pandemic, hospital personnelConteúdo:
A boa alimentação é um requisito básico para a manutenção e proteção da saúde, estando associada à redução da incidência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e ao fortalecimento do sistema imune, o que é crucial para a prevenção e redução de casos mais graves de doenças infectocontagiosas, como a covid-191-4. Os trabalhadores de saúde, representam um contingente de 4,7 milhões de trabalhadores, que enfrentam longas jornadas de trabalho e realização de plantões, enfrentando condições de trabalho que dificultam a manutenção de uma alimentação adequada. Isso é especialmente problemático para aqueles trabalhadores que atuam em hospitais5-8.
Apesar da importância da qualidade da alimentação para a saúde, estudos sobre a qualidade da dieta de trabalhadores do setor saúde têm apontado hábitos alimentares considerados não saudáveis6,9-12. Além disso, alguns estudos apontam baixo consumo de alimentos como frutas e vegetais, e consumo frequente de alimentos com alto teor de açúcar, com prevalências de hábito alimentar considerado saudável variando de 10,1% a 52,1%6,9-13. Alguns estudos realizados com trabalhadores de hospitais durante a pandemia de covid-19 identificaram mudanças na dieta, com aumento do consumo de carboidratos, aumento da ingestão noturna de alimentos, aumento do consumo de refeições prontas, fast food e delivery, redução do consumo de alimentos considerados saudáveis, além de aumento de peso2,14.
Quanto aos fatores associados à qualidade da dieta dos trabalhadores, estudos apontam padrões de dieta mais saudáveis entre indivíduos do sexo feminino, mais velhos, fisicamente ativos e que não consomem tabaco e álcool6,10,13,15-17. Entre os trabalhadores de saúde frequentemente afetados pela baixa qualidade da dieta estão os enfermeiros, principalmente porque tendem a pular as refeições principais e frequentemente não fazem os intervalos programados no trabalho, levando a padrões irregulares de alimentação15,18.
Existem poucos estudos sobre qualidade da dieta com trabalhadores de hospital no Brasil6,14. Os estudos existentes a nível internacional enfocam principalmente enfermeiros e médicos, costumam ter pequeno tamanho amostral e exploram pouco as associações entre os aspectos ocupacionais e a qualidade da dieta. Na pandemia, o número de estudos sobre este tema é ainda menor2,14. Diante do exposto, o objetivo deste estudo é caracterizar a qualidade da dieta dos trabalhadores de saúde de um hospital escola, durante o enfrentamento da pandemia de covid-19 em uma cidade de médio porte do Sul do Brasil, incluindo tanto os profissionais de saúde como os demais trabalhadores do hospital.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo transversal tendo como população-alvo todos os 1731 trabalhadores do Hospital Escola (HE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Rio Grande do Sul, caracterizando-se, portanto, como uma amostra censitária. O hospital é vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS)e foi referência para o tratamento de covid-19. A coleta de dados ocorreu entre os meses de outubro a dezembro de 2020, no período imediato após o primeiro pico da pandemia no município. Este estudo incluiu trabalhadores contratados pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), pelo Regime Jurídico Único (RJU) e trabalhadores terceirizados que estavam ativos presencialmente ou na modalidade remota durante a pandemia de covid-19.
O HE-UFPel é um hospital geral, de referência regional, que conta com 172 leitos de clínica médica e especialidades clínicas, pediatria, ginecologia e obstetrícia, cirurgia geral e especialidades cirúrgicas. O hospital não possui cozinha própria e não fornece refeições para os trabalhadores. Os residentes e doutorandos têm direito de realizar três refeições por dia no buffet do restaurante (o mesmo que fornece refeições aos pacientes), localizado na esquina próxima ao hospital, e os demais trabalhadores podem utilizar o serviço deste restaurante como pagantes. Durante a pandemia, os residentes e doutorandos passaram a receber marmitas para consumo dentro do hospital. Cabe destacar que também não há refeitório dentro do hospital, alguns setores contam com pequenas copas onde os funcionários se revezam para realizar suas refeições.
O desfecho do presente estudo consistiu na qualidade da dieta, que foi investigada através de um questionário elaborado e adaptado com base na metodologia de Gomes et al. (2016)23 e Fernandes et al. (2018)24. Foi utilizado o Índice de Qualidade da Dieta (IQD), levando em consideração a frequência de consumo de determinados grupos de alimentos nos 7 dias anteriores à entrevista. Como marcadores de alimentação saudável, foram considerados: legumes e verduras (cozidos ou crus); frutas; leguminosas; leite; alimentos integrais; carne vermelha ou frango. E como marcadores de alimentação não saudável: frituras; alimentos em conserva, embutidos ou enlatados; produtos congelados e prontos para consumo; doces; e refrigerantes ou sucos artificiais.
Considerando-se que não há uma recomendação ideal de frequência de consumo alimentar, foram atribuídas maiores pontuações para maiores frequências de consumo dos grupos de alimentos considerados saudáveis, e menores pontuações para maiores frequências de consumo de grupos de alimentos considerados não saudáveis. Assim, a pontuação atribuída ao consumo dos alimentos considerados saudáveis se deu em ordem crescente (não consumiram: zero pontos; consumiram todos os dias: três pontos), enquanto a pontuação para o consumo dos alimentos considerados de baixo teor nutricional ou não saudáveis, se deu em ordem decrescente (não consumiram: três pontos; consumiram todos os dias: zero pontos). Após a construção do escore, o tercil de pontuação mais baixa foi de 7 a 18 pontos, o intermediário de 19 a 22 pontos e o tercil de pontuação mais alta de 23 a 32 pontos. A pontuação total do IQD foi de 0 a 33 pontos, sendo que uma maior pontuação representa uma maior frequência de consumo de alimentos considerados saudáveis, e consequentemente uma menor frequência de consumo de alimentos de baixo teor nutricional.
O estudo também investigou, como variáveis independentes, aspectos sociodemográficos, como idade, cor da pele (branca, preta, parda, amarela ou indígena), sexo (masculino ou feminino), situação conjugal (casado(a) ou com companheiro ou solteiro(a) ou sem companheiro). Avaliou-se também o nível socioeconômico de acordo com a ABEP19 e o nível de escolaridade coletado de forma contínua e categorizado em analfabeto a ensino fundamental incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio completo, curso técnico completo, superior incompleto, superior completo, especialização e/ou residência completa, mestrado completo e doutorado completo.
Além disso, foram investigados aspectos comportamentais como hábito de fumar (não fumante, fumante ou ex-fumante), consumo de álcool utilizando o AUDIT-C (não consome, consumo moderado e consumo alto)20, e local onde realizou a maioria das refeições na última semana [em casa, na rua (restaurantes, lancherias, padarias e afins, no local de trabalho), na casa de familiares/amigos ou outro local]. Foram coletadas medidas de peso e altura autorreferidos pelos participantes. A partir das informações de peso e altura, foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC), e foram considerados com excesso de peso aqueles com IMC ? 25kg/m² (WHO, 1995)21. A atividade física (AF) foi avaliada de acordo com a recomendação para adultos da Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo considerados ativos aqueles que relataram realizar em uma semana normal no mínimo 150 minutos de AF moderada, ou pelo menos 75 minutos de AF vigorosa22. Além disso, foi investigado, de forma autorreferida, como estavam o peso (não mudou, aumentou ou diminuiu), a qualidade da dieta (não mudou, melhorou ou piorou) e a quantidade do consumo de alimentos (não mudou, aumentou ou diminuiu) dos alimentos consumidos, bem como, o tempo de atividade física (não mudou, aumentou ou diminuiu) em comparação ao período anterior à pandemia de covid-19.
Quanto aos aspectos ocupacionais, avaliou-se profissão/cargo coletada como questão aberta e posteriormente categorizada em enfermeiros (as), técnicos e auxiliares de enfermagem, médicos (as), residentes e outros profissionais de saúde e apoios administrativos. A categoria residente incluiu profissionais de diversas áreas da saúde, como médicos, enfermeiros, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, dentistas, e educadores físicos, no entanto, não foi possível analisar separadamente por que os números eram pequenos. Avaliou-se também o vínculo/contrato (efetivo/concursado, residente, emergencial/temporário ou terceirizado), se havia local adequado para descanso (não ou sim), e se houve atrasos na saída do trabalho devido a bloqueios no hospital ou demora para utilizar os vestiários (número de atrasos na última semana).
Os trabalhadores do Hospital Escola – UFPel foram convidados a participar do estudo pelo e-mail institucional e através de divulgação com cartazes, na página virtual do hospital e através de mídias sociais. Além disso, os pesquisadores entraram em contato com as chefias dos setores do hospital solicitando apoio para convidar e liberar os trabalhadores para participarem do estudo. Com a finalidade de reduzir as perdas, ao final do estudo foram identificados aqueles que ainda não haviam respondido o questionário e fez-se contato por telefone convidando-os a participar da pesquisa.
A pesquisa foi realizada através de um questionário auto aplicado em tablets, preenchido no próprio hospital, ou através de um link, de forma online para aqueles trabalhadores que estavam em trabalho remoto ou optaram por responder fora do horário de trabalho. Foi utilizado o mesmo questionário na plataforma REDCap25 tanto para os que responderam presencialmente quanto para os que optaram por responder online. Antes de iniciar a coleta de dados, o instrumento foi submetido a um pré-teste para corrigir possíveis falhas. O trabalho de campo contou com 4 supervisoras e 15 entrevistadores previamente treinados, que estiveram acessíveis presencialmente para receber os trabalhadores, orientar o preenchimento do questionário e sanar dúvidas sempre que necessário.
A análise dos dados foi realizada utilizando o pacote estatístico STATA (versão 15.1). Para caracterizar a amostra, foi realizada análise descritiva das variáveis independentes e do desfecho. Com o objetivo de avaliar quais grupos ou combinações de alimentos contribuíram para a categoria de melhor qualidade da dieta, calculou-se a média de pontos de cada grupo de acordo com os tercis de qualidade da dieta. Foi utilizada regressão logística multinomial, com seleção para trás, para estimar o odds ratio bruto e ajustado e seus respectivos intervalos de confiança (IC 95%), conforme as categorias do IQD, sendo a baixa qualidade da dieta a categoria de referência.
A análise ajustada considerou três níveis hierárquicos. No primeiro nível foram incluídas as variáveis demográficas e socioeconômicas, no segundo nível, as variáveis ocupacionais e no terceiro nível, foram incluídas as variáveis comportamentais. As variáveis com valor-p menor ou igual a 0,20 foram mantidas no modelo para controle de confusão e, quando o valor-p foi menor 0,05, a associação foi considerada significativa. Algumas das variáveis tiveram categorias agrupadas para as análises brutas e ajustadas devido ao baixo número de ocorrências. O agrupamento de categorias levou em consideração as semelhanças do padrão alimentar entre grupos.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina (CEP/FAMED) da Universidade Federal de Pelotas sob o parecer nº 4.040.039 em 21 de maio de 2020. Todos os participantes foram informados sobre o tema da pesquisa e sobre o direito à não participação ou interrupção da participação em qualquer momento sem nenhum tipo de prejuízo ao participante. Também foram esclarecidos que as informações coletadas seriam utilizadas de forma agregada, garantindo o sigilo das informações individualizadas. O questionário somente ficou disponível para aqueles que, ao final do termo de consentimento livre e esclarecido, sinalizaram, de forma eletrônica, o aceite em participar da pesquisa.
RESULTADOS
Foram entrevistados 1159 trabalhadores de diferentes setores do Hospital Escola – UFPel, com uma taxa de resposta de 66,9%. Entre os trabalhadores que participaram do estudo, 76,1% eram do sexo feminino; 74,4% se declaravam brancos; 71,9% tinham entre 30 e 49 anos; 38,3% tinham pós-graduação completa; 67,6% pertenciam ao nível socioeconômico A ou B; 66% eram casados (as) ou viviam com companheiros (as) (Tabela 1).
Tab. 1
Entre os trabalhadores pesquisados 69,2% eram profissionais de saúde, sendo que 39,2% eram enfermeiros (as), auxiliares e técnicos (as) de enfermagem e 9,3% eram médicos (as). Os trabalhadores de apoio (higienização, segurança e manutenção) representavam 20,8% dos participantes. No que se refere ao tipo de vínculo/contrato com o HE, a maioria (62,2%) era composta por efetivos/concursados, seguidos pelos terceirizados (23,4%). Quase metade dos trabalhadores relataram que precisaram postergar necessidades fisiológicas (ir ao banheiro, alimentar-se ou tomar água) (56,3%) e consideravam que não havia local adequado para descanso nos horários de intervalo (48,8%). No contexto da pandemia, 19,9% dos trabalhadores relataram que na semana anterior à entrevista houve pelo menos um atraso na saída do trabalho devido a bloqueios que ocorriam ao admitir novos pacientes infectados com covid-19 (Tabela 2).
Quanto aos aspectos de comportamento, 10,2% fumavam, 40% faziam consumo inadequado de álcool e 72,4% realizavam as refeições em casa. No que se refere à realização de atividade física, 47,5% eram inativos de acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde. Em comparação ao período anterior à pandemia de covid-19, 48,7% relataram aumento de peso; 25% relataram piora na qualidade da alimentação; 43,1% referiram aumento na quantidade do consumo de alimentos; e 38,6% diminuíram o tempo de atividade física. A maioria dos trabalhadores apresentou excesso de peso (63,4%) (Tabela 2).
Tab.2
Quanto à qualidade da dieta dos trabalhadores, a média observada do IQD foi de 20,3 (DP=4,0) e a mediana foi de 20, com amplitude de valores entre 7 e 32 pontos. A frequência de consumo dos grupos alimentares na última semana pode ser observada na Figura 1. No que se refere aos grupos alimentares considerados saudáveis, observou-se baixa frequência de consumo de leite e alimentos integrais. Já com relação aos grupos alimentares não saudáveis, doces e refrigerantes ou sucos artificiais foram os grupos que apresentaram maiores frequências de consumo na última semana.
Fig. 1
Na análise bruta, indivíduos do sexo feminino, com 50 anos ou mais, com pós-graduação completa, do nível econômico A segundo a ABEP, que relataram ter local adequado para descanso e eram fisicamente ativos apresentaram maiores chances de ter melhor qualidade da dieta. Já os trabalhadores de cor da pele preta ou indígena, com cargos de apoio (higienização, manutenção e segurança), terceirizados, que tinham hábito de fumar, que tinham consumo alto de álcool e que relataram realizar maior parte das refeições na rua, apresentaram menores chances de ter boa qualidade da dieta (Tabela 3).
Na análise ajustada, mulheres apresentaram 1,57 vezes mais chance (IC95% 1,09 – 2,26) de ter melhor qualidade da dieta do que os homens. A idade estava diretamente associada à melhor qualidade da dieta, os trabalhadores com 50 anos ou mais apresentaram 3,7 vezes mais chance (IC95% 2,05 – 6,72) de se enquadrarem no tercil de melhor qualidade da dieta que os indivíduos com 18 a 29 anos. Os trabalhadores com ensino superior tinham 1,32 vezes (IC95% 0,89 – 1,95) e os com pós-graduação 2,32 vezes (IC95% 1,57 – 3,42) mais chance de ter uma melhor qualidade da dieta do que os trabalhadores que tinham até o curso técnico/ensino médio (Tabela 3).
Quanto às variáveis ocupacionais, os trabalhadores do apoio (higienização, manutenção, segurança) apresentaram 64% menos chance (p=0,026) de ter uma melhor qualidade da dieta em comparação aos enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Quanto aos aspectos comportamentais, os trabalhadores considerados fisicamente ativos tinham 5,37 vezes mais chance (IC95% 3,61 – 7,97) de ter uma melhor qualidade da dieta quando comparados aos inativos. Os trabalhadores que faziam um consumo inadequado de álcool apresentaram 61% menos chance de ter melhor qualidade da dieta do que aqueles que não consumiam álcool (p=<0,001). E os trabalhadores que realizaram a maior parte das refeições da última semana na rua apresentaram 60% menos chance de ter melhor qualidade da dieta quando comparados aos que realizaram suas refeições em casa (Tabela 3).
Tab.3
DISCUSSÃO
A alta frequência de consumo de doces, refrigerantes ou sucos artificiais encontrada neste estudo é consistente com os achados de outros estudos com trabalhadores de saúde que mostram que, embora os trabalhadores apresentem consumo de alimentos saudáveis, também consomem alimentos não saudáveis8,12,17. A piora na qualidade da dieta, o aumento da quantidade de alimentos consumidos e o aumento de peso durante a pandemia também é consistente com outros estudos que apontam um aumento do consumo de carboidratos e ingestão noturna de alimentos2,14.
Dois estudos realizados com trabalhadores de saúde antes da pandemia já indicavam altas prevalências de excesso de peso, 46,7%9 e 63,9%26, dados consistentes com os obtidos no presente estudo. Trabalhadores de hospital são expostos a uma rotina que favorece comportamentos alimentares inadequados, principalmente por lidarem com situações tensas, com sofrimento físico e emocional, com jornadas extensas e sobrecarga de trabalho. Durante a pandemia houve uma intensificação do trabalho dentro dos hospitais, e as medidas de biossegurança dificultaram ainda mais a saída dos setores de trabalho, o que pode ter limitado o tempo para planejar, preparar e realizar as refeições7,27. Estudos apontam que no Brasil, durante a pandemia de covid-19, os trabalhadores de saúde estudados pararam ou reduziram a prática de atividade física e aumentaram a ingestão de carboidratos, ampliando a propensão ao ganho de peso e desenvolvimento de possíveis agravos para a saúde14,28,29.
A melhor qualidade da dieta das mulheres quando comparadas com os homens é bem estabelecida na literatura. As mulheres tendem a se preocupar mais com a aparência física e com a saúde30. Entre trabalhadores de saúde, alguns estudos também apontam a associação positiva entre sexo feminino e melhor qualidade da dieta13,16. No entanto, outras pesquisas não encontraram associação, isso pode ter ocorrido porque o pequeno número de homens entre os trabalhadores de saúde reduz o poder estatístico para esta análise6,15.
A associação positiva entre idade e escolaridade com melhor qualidade da dieta também é consistente com os achados de outros estudos realizados com trabalhadores de saúde6,10,13,16. Os indivíduos mais velhos tendem a cuidar mais da sua alimentação, tanto para prevenir doenças quanto para controlar doenças já existentes, como as DCNT30. A escolaridade mais alta está relacionada à melhor renda, o que proporciona maior acesso a alimentos de melhor qualidade, além de mais acesso à informação e conhecimento sobre alimentação saudável31.
Os estudos encontrados na literatura não exploram a associação entre cargo/profissão com qualidade da dieta de trabalhadores de saúde, principalmente porque a maioria foi realizada somente com enfermeiros, ou não tinha número de participantes suficientes para examinar cada cargo/profissão, o que torna limitada a comparabilidade deste achado. Os trabalhadores do apoio (higiene, manutenção e segurança) são funcionários de empresas terceirizadas contratadas pelo hospital, e, portanto, têm um vínculo trabalhista mais precário quando comparados aos profissionais de saúde efetivos e concursados32. Ser trabalhador do apoio ou administrativo pode ser um marcador de escolaridade e renda mais baixa. Além disso, esses trabalhadores não têm formação em saúde e por isso podem ter menor conhecimento sobre nutrição quando comparados com os profissionais da área. Estes aspectos podem explicar a menor chance dos trabalhadores do apoio e do administrativo de ter uma boa qualidade da dieta quando comparados aos enfermeiros.
A importância do acesso a alimentos saudáveis é evidenciada pela associação negativa entre comer na rua (restaurante, lanchonete, padaria) e a qualidade da dieta. Estudos apontam que as refeições realizadas na rua são frequentemente caracterizadas pelo consumo de alimentos com alto teor calórico e baixo valor nutricional, além do alto teor de gordura, sal e açúcar, o que torna menor a chance de ter melhor qualidade da dieta33. A associação entre comer na rua e a qualidade da dieta pode ter sido inclusive subestimada, porque a pergunta sobre o local das refeições indica onde ela foi realizada, mas não onde foi preparada. Os residentes recebem refeições de uma empresa terceirizada, enquanto os demais trabalhadores que comem no hospital, podem adquirir a refeição dessa empresa, ou utilizar as copas existentes em diversos setores para aquecer refeição comprada ou trazida de casa.
No que se refere aos aspectos comportamentais, os achados do presente estudo são consistentes com estudos anteriores, indicando que os trabalhadores de saúde que praticam atividade física, e que não consomem álcool, teriam um padrão de consumo alimentar mais saudável6,15,16. Esta associação tem bidirecionalidade, já que os comportamentos saudáveis estimulam uns aos outros34,35.
Este estudo incluiu, não somente os profissionais de saúde, mas todos os trabalhadores de um hospital, alcançando uma amostra grande, em comparação com outros estudos realizados com trabalhadores de saúde, e com uma boa taxa de resposta, especialmente considerando que o estudo foi realizado no contexto da pandemia de covid-19. O instrumento para avaliação da frequência alimentar (IQD) é de fácil aplicação e compreensão pelos entrevistados. O recordatório de uma semana reduz a ocorrência de viés de memória, mas por outro lado, não representa o hábito alimentar de longo prazo. A falta de padronização na forma de aplicar o IQD dificulta a comparabilidade dos achados. Visando a comparabilidade com outros estudos locais23,24, nesse estudo, não foi considerado o teor de gordura do leite e da carne, isso pode resultar em um erro de classificação superestimando a qualidade da dieta. Embora a maior pontuação no IQD indique maior consumo de alimentos saudáveis e menor consumo de alimentos não saudáveis, não há definição de ponto de corte para caracterizar a boa ou má qualidade da dieta e ao utilizar o índice, se perde a informação relativa aos alimentos específicos. As informações de peso e altura dos participantes foram autorreferidas, isso pode provocar um viés de informação, já que as mulheres e os homens com excesso de peso tendem a subestimar e os homens com baixo peso a superestimar essa medida36.
CONCLUSÕES
O presente estudo encontrou uma baixa frequência de consumo de leite e alimentos integrais, e alta frequência de consumo de doces e refrigerantes ou sucos artificiais, além de uma alta prevalência de excesso de peso entre os trabalhadores de saúde. A pandemia provocou alterações no processo de trabalho dos envolvidos na linha de frente, acarretando rotinas extenuantes e limitações relacionadas à biossegurança que tiveram impacto negativo em diversos aspectos da qualidade de vida destes trabalhadores, entre eles a qualidade da dieta, com um quarto dos entrevistados relatando piora na qualidade da dieta e metade informando aumento de peso. Trabalhadores do apoio (higiene, manutenção, segurança etc.) e administrativos, bem como aqueles que comiam fora de casa apresentaram pior qualidade da dieta.
Este estudo aponta a qualidade da dieta dos trabalhadores de um hospital escola e seus resultados são válidos para hospitais públicos de porte semelhante. Para ampliar o entendimento sobre a qualidade da dieta em trabalhadores da atenção terciária é necessário estudar hospitais com características diversas de porte e afiliação, incluindo trabalhadores nos mais diversos cargos e profissões. Este estudo apontou associação entre o local de consumo dos alimentos e a qualidade da dieta, mas futuros estudos devem aprofundar o conhecimento sobre a associação entre o local de preparo da refeição e a qualidade da dieta.
Para melhorar a qualidade da dieta é preciso facilitar o acesso dos trabalhadores a alimentos saudáveis durante suas jornadas de trabalho, propiciando o acesso a refeições equilibradas com preços acessíveis e ambientes equipados e acolhedores para a finalização e consumo de refeições trazidas de casa. Além disso, atividades de promoção da saúde como educação nutricional, combate ao consumo de álcool e incentivo à realização de atividade física, principalmente entre os trabalhadores sem formação na área da saúde, podem promover mudanças positivas no comportamento, reduzindo o risco de futuros agravos à saúde.
AGRADECIMENTO
Agradecemos ao Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas (HE-EBSERH), pela colaboração na realização da pesquisa “A epidemia de COVID 19 e a saúde mental dos trabalhadores da atenção terciária à saúde do município de Pelotas (Cuida Covid)”, com apoio logístico e institucional, bem como aos trabalhadores do hospital pela participação na pesquisa.
FINANCIAMENTO
Esta pesquisa foi realizada com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (Capes - Código de Financiamento 001, por meio de bolsas de pesquisa, e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), a principal fonte de financiamento para a realização do estudo.
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