0002/2025 - Mulheres, deslocamentos climáticos e violências: perspectivas para o cuidado em saúde Women, climate change and violence: perspectives for health care
O presente artigo de opinião tem como tema os deslocamentos forçados de mulheres em função de desastres climático-ambientais em seus territórios de origem e parte do caso recente do Rio Grande do Sul/Brasil para discutir o fenômeno dos deslocamentos forçados pela destruição dos locais de moradia e iminente risco à vida, tomando criticamente a categoria desastres naturais. Além disso, registra alguns dos impactos de deslocamentos forçados sobre a vida e saúde de mulheres e suas famílias, como a exposição às violências de gênero, refletindo sobre as políticas de cuidado às mulheres em deslocamentos climáticos e em situação de violências. O texto guia-se pela perspectiva interseccional, visando subsidiar a análise sobre as vulnerabilidades e opressões vividas por mulheres e a necessidade de produção de políticas de saúde para um cuidado sensível e culturalmente localizado. Ademais, aponta que gênero, raça/cor de pele e nacionalidade, entre outros marcadores sociais relevantes a esta população, adicionam vulnerabilidades às vivências das mulheres em trânsito em decorrência dos desastres climáticos.
Palavras-chave:
Migração Humana; Migração Interna; Desastre Climatológico; Violência contra a mulher; Cuidado.
Abstract:
This opinion article focuses on the forced displacement of women due to climate-environmental disasters in their home territories. It startsthe recent case of Rio Grande do Sul/Brazil to discuss the phenomenon of forced displacement due to the destruction of housing and imminent risk to life, critically considering the category of natural disasters. Furthermore, it records some of the impacts of forced displacement on the lives and health of women and their families, such as exposure to gender-based violence, reflecting on care policies for women in climate-related displacement and situations of violence. The text is guided by an intersectional perspective, aiming to support analyses on the vulnerabilities and oppressions experienced by women and the need to produce health policies for sensitive and culturally localized care. It points out that gender, race/skin color, and nationality, among other social markers relevant to this population, add vulnerabilities to the experiences of women in transit because of climate disasters.
Keywords:
Human Migration; Internal Migration; Climatological Disaster; Violence Against Women; Care.
Conteúdo:
Introdução
A escrita deste artigo surge de experiências das autoras – autodeclaradas brancas e feministas – com pesquisas sobre/com mulheres migrantes no encontro entre cuidado e violências, cuja centralidade são os deslocamentos em busca de melhores condições de vida e trabalho. Associado a isso, nos deparamos com a grave tragédia/desastre ambiental no estado do Rio Grande do Sul (RS)/Brasil em maio de 2024 e os casos de violências sofridas por mulheres, crianças e jovens em abrigos, o que motivou a construção do texto. Nesse sentido, destacamos, especialmente, o grave problema de saúde pública que permeia a vida de mulheres e suas famílias, notadamente crianças e jovens, em deslocamentos internos – como é o caso do RS – e pelo continente latino-americano.
No caso do RS, uma enorme inundação atingiu 94% dos municípios, forçando mais de 600 mil pessoas a saírem de suas casas, sendo o maior deslocamento em massa em três décadas1–3. O atual governador havia autorizado mais de 480 mudanças em regras ambientais, as flexibilizando, o que vai ao encontro da última gestão do governo federal (2019-2022), que enfraqueceu políticas e instituições de controle socioambiental e incentivou a exploração predatória de recursos naturais. Ademais, há disputas históricas envolvendo a posse e a propriedade de terras, a exploração de recursos naturais, a presença maciça de grandes empreendedores rurais, garimpeiros e grileiros e a banalização da violência contra camponeses e povos tradicionais, bem como pela violência policial, contexto que atinge, sobretudo, a região Norte4.
Para que um evento seja considerado desastre deve haver a presença de ameaças de “origem natural e/ou tecnológica, exposição, condições de vulnerabilidade e capacidades de prevenção e respostas para reduzir os riscos. Desse modo, um desastre requer um conjunto de aspectos que envolvem condições físicas e sociais”5 (p. 33), incluindo processos que gerados naturalmente ou por ação humana e que requerem capacidades institucionais e governamentais de prevenção, respostas, "mitigação e reabilitação, recuperação e reconstrução das condições de vida e saúde"5 (p. 24). A medida da exposição, os impactos e o tempo de recuperação são diferentes para grupos populacionais e territórios, resultado de condições socioeconômicas e de vida, o que deve ser levado em conta em ações de prevenção e resposta que estimulem a resiliência das comunidades, entendida como adaptação e “processo de ajuste ao clima real ou esperado, à variabilidade climática, decorrente das mudanças climáticas, e seus efeitos"5 (p. 42), englobando toda a rede intersetorial como escolas e serviços de saúde.
Diante do desastre no RS, o governo federal enviou recursos materiais, financeiros e humanos, incentivando o deslocamento de profissionais de saúde de outras regiões para prover cuidado à população local. Foram inúmeras as redes de solidariedade comunitária, envolvendo Organizações da Sociedade Civil, artistas, profissionais da assistência social e defesa civil, para o salvamento imediato de pessoas e animais. No entanto, a ineficácia das ações do Estado, enquanto garantidor de direitos humanos, reitera a necessidade de desenvolvimento de políticas públicas que não apenas garantam a sobrevivência das pessoas, mas a recuperação e a prevenção de novos desastres. Face aos projetos neoliberais implementados no RS e o desmantelamento das legislações ambientais, são necessárias ações céleres e eficazes para enfrentar este grave problema de saúde pública6.
Este artigo propõe problematizar os deslocamentos climáticos e as violências sofridas por mulheres ao longo de seus percursos, tendo como objetivo visibilizar o tema e colaborar com reflexões para subsidiar a proposição e/ou aprimoramento de ações de cuidado sensíveis e culturalmente localizadas. Trazemos as perspectivas teóricas dos estudos interseccionais, ainda que brevemente, para compreender as opressões sofridas pelas mulheres em seus deslocamentos, apresentando o debate sobre violências e cuidado em saúde para que seus direitos e proteção sejam garantidos.
Mulheres em deslocamentos forçados climáticos, opressões e violências
“[...] tudo que se tem a fazer é olhar para as nossas vidas fraturadas e textos fragmentados” (Gloria Anzaldúa).
A escrita de Gloria Anzaldúa7 remete às opressões vivenciadas por mulheres, em diálogo crítico com as questões raciais, de gênero, classe, sexualidade, nacionalidade, geopolítica etc., considerando e complexificando os contextos sociais e históricos nos quais estão inseridas. Os estudos interseccionais apontam que, para além das intersecções destas categorias analíticas, há a necessidade de compreensão da historicidade para a construção de um pensamento crítico que interrogue uma sociedade intensamente marcada pelos efeitos deletérios da colonialidade, do colonialismo e do capitalismo, na qual as mulheres foram e continuam sendo subjugadas pelo racismo, sexismo, classismo7–9.
A partir da interseccionalidade, é possível compreender a diversidade entre as mulheres no contexto latino-americano, suas especificidades e opressões a partir de pertencimentos de raça, classe, território e sexualidade, entendendo que são as mulheres negras e indígenas que sofrem com o racismo que estrutura as relações sociais, além de outras marcas de opressão de maneira interconectada9. A interseccionalidade, um caminho teórico e metodológico, foi e é produzida, sobretudo, pelas mulheres negras, chicanas, pobres, estadunidenses e latino-americanas, que racializam as opressões e a consequente produção de vulnerabilidades, em contraponto ao feminismo branco que as universaliza, desconsiderando as marcas do racismo8,9.
Os diversos cenários mundiais apontam que os desastres socioambientais, que cada vez mais assolam os países e obrigam muitas populações a deslocamentos internos ou internacionais, são um efeito colateral previsível e diagnosticável do modelo de desenvolvimento colonial-predatório que caracteriza o mundo ocidental, fruto do modo de produção capitalista neoliberal que produz efeitos ao nível global. A natureza como recurso é explorada à exaustão, liquidando com a diversidade da flora e fauna, produzindo consequências que crescem em escala exponencial10,11, como aquecimento global via desmatamento, emissão de poluentes industriais e queima de combustíveis fósseis. Como efeito deste regime, o desequilíbrio ambiental provoca, direta e indiretamente, extremos climáticos: secas, inundações, ondas de calor, incêndios, deslizamentos de terra e outros fenômenos que se constroem no encontro entre natureza e o modelo explorador capitalista.
Este ponto é central para compreender a complexidade histórica e social deste grave problema de saúde pública. A depender das intersecções de opressões, as implicações e efeitos dos deslocamentos serão mais ou menos intensos e severos. Mulheres e meninas são as mais atingidas, desterritorializadas em relação a seus espaços e referências de vida sofrem com as violências de gênero que incluem a violência sexual, os casamentos forçados e infantis e têm dificuldades de acesso e permanência no sistema educacional e de saúde12.
Dados sobre deslocamentos climáticos são assustadores. Segundo o Instituto para Economia e Paz, desalojados em função de desastres climáticos podem chegar a 1,2 bilhão em 2050; o Banco Mundial afirma que os deslocados internos serão, até o mesmo ano, 216 milhões; a ONU indica que 80% das pessoas que precisam abandonar seus lares são mulheres2,13.
São as periféricas e negras as mais atingidas pelas secas, enchentes e deslizamentos, que, diante das perdas de moradia e redes de apoio, enfrentam a reorganização da vida, falta de alimentos e água potável e violências de gênero. Nos desastres ambientais, há a intensificação do trabalho de cuidado, trazendo implicações para a saúde física e mental das mulheres14. Este trabalho envolve as ações e sentimentos de responsabilidade nas atividades com pessoas vulnerabilizadas ou não, sendo realizado no espaço doméstico, geralmente de maneira gratuita, por mulheres, ou na esfera produtiva, com pouco status social e má remuneração, sendo considerado extenuante15.
Vivenciar os efeitos dos desastres ambientais é, para as mulheres, ter que lidar com o cuidado familiar sem redes de apoio informais, ou do próprio Estado, para continuarem seguindo a vida. Esta assertiva corrobora pesquisas sobre mulheres e desastres ambientais no Chile, Nepal e Peru, onde foram verificados o aumento das atividades de cuidado familiar e comunitárias, como busca por água potável e alimentos, realização do cuidado físico e emocional com pessoas doentes e crianças, pouco tempo para encontrar emprego, além de preocupações e incertezas com futuras ocorrências climáticas16–18, circunstâncias que se interrelacionam ao aumento do estresse, especialmente entre as mulheres grávidas, que enfrentam complicações durante o ciclo gravídico puerperal16. Muitas mulheres buscam alternativas comunitárias para o enfrentamento e prevenção de outros desastres, assumindo, muitas vezes, a liderança desses movimentos, influenciando a sobrecarga de trabalho em uma sociedade neoliberal e patriarca16,17.
São inúmeros os registros de violações de direitos humanos à vida, habitação e educação, assim como a incidência de violência psicológica, física e sexual, interseccionadas ao sexismo, racismo e xenofobia, além de roubos, furtos e saques em lojas e residências. Em todos estes casos, são mulheres e meninas as mais expostas19. Segundo Maes13, a crise do clima atinge, desproporcionalmente, as mulheres, provocando não apenas deslocamentos, mas violência, evasão escolar, perda de renda e casamento infantil. A Covid 19, uma emergência sanitária global que atingiu desproporcionalmente populações, expôs sua marginalização interseccional ao controle masculino e à violência de gênero, aumentando diversas expressões de violência13,20.
A violência contra mulheres não é um cenário novo, especialmente na América Latina. No Brasil, entre 2012 e 2022, 48.289 mulheres foram assassinadas. Em 2022, 66,4% das vítimas eram negras, com 1,7 vezes mais chances de serem violentadas em comparação às não negras, evidenciando o racismo estrutural e institucional brasileiro. A maioria das agressões ocorre dentro dos lares, sendo cometidas por homens conhecidos como parentes e (ex)namorados/maridos21. Em emergências, alguns fatores contribuem para a piora deste quadro: mudanças bruscas nas configurações familiares, desemprego, perda temporária ou permanente da casa, estresse elevado, enfraquecimento de redes de apoio, adoecimento físico e psíquico e ideação suicida20.
Se as violências contra mulheres fazem parte de uma realidade mundial, nos deslocamentos forçados por desastres ambientais, com graves violações de direitos, estas situações tendem a se exacerbar, pois é necessário deixar territórios em busca da sobrevivência em abrigos temporários e separar-se de redes de apoio, aumentando a suscetibilidade às violências doméstica e sexual e ao tráfico de pessoas para a exploração sexual. Diante do aumento do consumo de álcool pelos companheiros, da pobreza, das violências sofridas por parceiros íntimos, o estresse acomete grande parcela das mulheres18.
Políticas de cuidado para mulheres em situação de violência em desastres climáticos
A dura realidade das mulheres no RS, que perderam suas vidas ou familiares, envolve violências cotidianas que não cessaram no desastre. Elas – e suas crianças – enfrentaram situações de violência, como abusos físicos e sexuais, nos abrigos ofertados para acolhimento, o que foi denunciado22,23 e provocou o Ministério das Mulheres a elaborar um protocolo estabelecendo a obrigatoriedade de “um local para fazer esse tipo de denúncia, banheiros exclusivos para mulheres, abrigos exclusivos para mulheres e crianças, atendimento psicológico e itens específicos em meio às doações que chegam ao estado”22.
É fundamental o estabelecimento de ações para a garantia de direitos através da formulação de políticas e/ou torná-las mais inclusivas, englobando as dimensões individual e coletiva frente ao avanço do processo de insustentabilidade da vida, que atingirá cada vez número maior de pessoas e territórios e que exigirá de governos nacionais e da comunidade internacional a elaboração de ações de proteção, atenção e acolhimento1,2. Em função da heterogeneidade das mulheres que se deslocam e de suas vivências, tais ações precisam ser construídas respeitando as especificidades e intersecções de opressões que as vulnerabilizam em diferentes medidas.
No contexto do desastre do RS, foi protocolado, em maio de 2024, o Projeto de Lei que institui a Política Nacional dos Deslocados Ambientais e Climáticos (PNDAC), estabelecendo direitos e diretrizes para a proteção do Poder Público, construído coletivamente pelo Instituto Marielle Franco, Instituto duClima e Rede Sul-Americana para as Migrações Ambientais (Resama)1,2,24. O PL estabelece a garantia de direitos e de resposta humanitária do Estado, recursos financeiros e estratégias para reconstrução da vida, como habitação, trabalho e proteção às pessoas deslocadas e identificação de pessoas vulneráveis2.
O acesso à saúde e à assistência social a pessoas nacionais e estrangeiras é garantido pela Constituição Federal Brasileira e pela Lei Orgânica da Saúde (n°. 8.080/90), independente de território de moradia. Famílias em situação de vulnerabilidade e risco social têm direito a benefícios como os de redistribuição de renda25 e de apoio em Situações de Calamidades Públicas e de Emergências26.
Para decisão e ação, é necessário conhecer o perfil das pessoas atingidas e suas necessidades, incluindo ações emergenciais como abrigamento, assistência jurídica, social e psicológica, alimentação e medicamentos, e de médio e longo prazos para reintegração e reconstrução de vidas, garantindo o acesso às políticas sociais de forma intersetorial e interdisciplinar. Frente ao cenário que prevê novos desastres socioambientais, é preciso a elaboração de documentos com medidas a serem tomadas para redução de danos e proteção da população2, incluindo o planejamento de estratégias de proteção de mulheres e crianças, especialmente de prevenção de violências.
A articulação e o fortalecimento das redes de saúde, assistência social e outras, como da sociedade civil, são fundamentais para fortalecer os equipamentos públicos e privados, seus profissionais e gestoras(es), o tecido comunitário e as redes familiares e de vizinhança, uma vez que são eles a apoiar e cuidar da população. No campo da saúde mental, a atenção psicossocial orienta-se para atenção e cuidado ao sofrimento psíquico, focando na produção de vínculos e intervenções intersetoriais a partir das necessidades das pessoas, famílias e comunidades, buscando minimizar vulnerabilidades e violências27 e garantir o acesso a serviços emergenciais de acordo com as especificidades de gênero.
Bradley et al.18 recomendam, a partir de uma perspectiva generificada das violências “secundárias” associadas aos desastres, a atenção às complexas relações entre gênero e violências e o desenvolvimento de ações para mitigá-las. Espaços como abrigos devem ser iluminados e garantirem privacidade às famílias e banheiros separados por gênero, além disso, deve haver canais de comunicação para notificações de violências e estratégias de cuidado inter e intrasetoriais para enfrentar riscos associados às violências contra as mulheres.
É fundamental que as(os) profissionais estejam atentas(os) ao risco de aumento das violências contra as mulheres e à importância de seu acolhimento e escuta qualificados. A rede de proteção e atenção psicossocial precisa ser fortalecida e seu acesso, garantido. Os serviços de saúde devem, por obrigatoriedade, notificar casos suspeitos ou confirmados de violências contra populações vulneráveis, como preconizado pela Portaria nº 1271/2014, objetivando gerar informações para tomada de decisão, tanto no que compete casos específicos, como para aprimoramento de políticas de enfrentamento e garantia de direitos20.
Considerações Finais
Frente ao cenário contemporâneo, cujo modelo explorador aponta para um agravamento de emergências e desastres provocados por ação humana, o que atinge em cheio o Sul Global, esperamos aumento dos deslocamentos de populações vulnerabilizadas, com perda de referência territorial, mortes e violências.
Mulheres já acumulam opressões interseccionadas exacerbadas pela colonialidade e colonialismo, tendo as piores condições de vida, trabalho e alimentação, ajuntando, subjetiva e materialmente, os trabalhos de cuidado produtivo e reprodutivo. Elas são expulsas de suas casas e saem em busca, voluntária ou involuntariamente, de melhores condições de vida, ou mesmo de sobrevivência, para si e seus familiares, notadamente crianças e jovens. Nos deslocamentos por motivos climáticos, o retorno aos territórios originais de pertencimento pode ou não ser possível, demandando, com isso, atenção, proteção e cuidado para reconstrução de vidas. É fundamental, portanto, que as redes locais sejam fortalecidas para apoiar este processo e garantir que nenhuma mulher esteja exposta à violência durante as ações emergências e as de médio e longo prazos, uma vez que elas têm o direito fundamental à vida e à saúde.
Referências
1. A tragédia no RS criou refugiados climáticos? [Internet]. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/1ZcBdE9NXPA9ZNoaGRdxg4
2. Ahumada M, Sander I. Rio Grande do Sul tem meio milhão de migrantes climáticos em razão da enchente: entenda o que é isso [Internet]. Miguel Ahumada. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://miguelimigrante.blogspot.com/2024/05/rs-tem-meio-milhao-de-migrantes.html
3. Souza D. Rio Grande do Sul tem 94% dos municípios atingidos pelas enchentes [Internet]. Metrópoles. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/rio-grande-do-sul-tem-94-dos-municipios-atingidos-pelas-enchentes
4. Santos MP, Parreiras A, Cunha VH. Boletim de Análise Político-Institucional: dinâmicas da violência na região norte. Bol Análise Político-Inst.
5. Freitas CM de, organizador. Guia – Preparação para resposta à emergência em saúde pública por inundações graduais. Rio de Janeiro, RJ: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2021.
6. Rizzotto MLF, Costa AM, Lobato L de V da C. Crise climática e os novos desafios para os sistemas de saúde: o caso das enchentes no Rio Grande do Sul/Brasil. Saúde Em Debate [Internet]. 26 de setembro de 2024 [citado 9 de outubro de 2024];48(141 abr-jun):e141ED-e141ED. Disponível em: https://www.saudeemdebate.org.br/sed/article/view/9837
7. Anzaldúa G. A vulva é uma ferida aberta & outros ensaios. Rio de Janeiro: A bolha; 2021.
8. Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. 1a. Sao Paulo: Boitempo; 2021.
9. Curiel O. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. Em: Pensamento feminista: perspectivas decoloniais. Bazar do Tempo; 2019. p. 120–39.
10. Nuñez G. Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo, SP: Editora Planeta do Brasil*; 2023.
11. Krenak A. Futuro ancestral. São Paulo, SP: Companhia das Letras; 2022. 128 p.
12. Pérez BF. Perspectiva de género en las migraciones climáticas [Internet]. 2019 [citado 18 de junho de 2024]. Disponível em: https://migracionesclimaticas.org/wp-content/uploads/2019/11/Informe_ECODES_MC_Perspectiva_de_g%C3%A9nero_en_las_migraciones_clim%C3%A1ticas.pdf
13. Maes J. De perdas econômicas a aumento na violência, mulheres são mais impactadas pelas mudanças no clima [Internet]. Folha de S.Paulo. 2023 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/03/de-perdas-economicas-a-aumento-na-violencia-mulheres-sao-mais-impactadas-pelas-mudancas-no-clima.shtml
14. Nunes J, Belmont M. Enchentes, deslizamentos, falta de água: como a crise climática chega nas mulheres periféricas [Internet]. 2021 [citado 20 de junho de 2024]. Disponível em: https://generoeclima.oc.eco.br/enchentes-deslizamentos-falta-de-agua-como-a-crise-climatica-chega-nas-mulheres-perifericas/
15. Borgeaud-Garciandía N. Cuidado y responsabilidad. Estud Av [Internet]. 2020 [citado 21 de maio de 2020];34(98):41–56. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142020000100041&tlng=es
16. Reyes RR. Gendering responses to El Niño in rural Peru. Gend Dev [Internet]. julho de 2002 [citado 26 de junho de 2024];10(2):60–9. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13552070215907
17. Saavedra J, Rubio Carrasco C, Valenzuela Contreras K, Balboa Jiménez V. Memoria local y afrontamiento de desastres climáticos: el caso de liderazgos de mujeres en Nonguén. Región Soc [Internet]. 2019 [citado 24 de junho de 2024];31:e1240. Disponível em: https://regionysociedad.colson.edu.mx:8086/index.php/rys/article/view/1240
18. Bradley T, Martin Z, Upreti BR, Subedu B, Shrestha S. Gender and Disaster: The Impact of Natural Disasters on Violence Against Women in Nepal. J Asian Afr Stud [Internet]. 2023 [citado 24 de junho de 2024];58(3):354–71. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/00219096211062474
19. Marie F. A crise climática também é uma questão feminista [Internet]. AzMina. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://azmina.com.br/colunas/mulheres-e-a-crise-climatica-uma-questao-feminista/
20. Noal DS, Damásio F, Freitas CM, organizadores. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: violência doméstica e familiar na COVID-19 [Internet]. Fiocruz/CEPEDES; 2020 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41121
21. Cerqueira D, Bueno S. Atlas da Violencia 2024 [Internet]. 2024 [citado 25 de junho de 2024]. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes
22. Universidade J da, Marques A. O agravamento da vulnerabilidade das mulheres e crianças em meio ao desastre climático no RS -. 28 de maio de 2024 [citado 9 de outubro de 2024]; Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/o-agravamento-da-vulnerabilidade-das-mulheres-e-criancas-em-meio-ao-desastre-climatico-no-rs/
23. Ely L. Abuso sexual em abrigos e nas ruas vira outro pesadelo no RS [Internet]. Metrópoles. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/abuso-sexual-em-abrigos-e-nas-ruas-vira-outro-pesadelo-no-rs, https://www.metropoles.com/brasil/abuso-sexual-em-abrigos-e-nas-ruas-vira-outro-pesadelo-no-rs
24. Hilton E, Accorsi A, Xakriabá C. PL 1594/2024 [Internet]. Portal Camara dos Deputados. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2431186&utm_source=catarse.me%2Fazmina%3Futm_source%3Dnewsletter%26utm_medium%3Delas%26utm_campaign%3D20%2F05%2F2024-refugiadas-
25. Andrade CB, Ribeiro FML, Mendes CHF, et al. Migração, trabalho e violência: interfaces com a saúde [Internet]. Fiocruz; 2023. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/61402
26. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação nacional de serviços socioassistenciais. Brasília: Ministério Desenvolvimento Social; 2014.
27. Conselho Federal de Psicologia CRD. Referências Técnicas Para Atuação De Psicólogas (os) Na Gestão Integral De Riscos, Emergências E Desastres. Brasília, DF: Mc&g Design Editorial; 2021. 96 p.
Outros idiomas:
Women, climate change and violence: perspectives for health care
Resumo (abstract):
This opinion article focuses on the forced displacement of women due to climate-environmental disasters in their home territories. It startsthe recent case of Rio Grande do Sul/Brazil to discuss the phenomenon of forced displacement due to the destruction of housing and imminent risk to life, critically considering the category of natural disasters. Furthermore, it records some of the impacts of forced displacement on the lives and health of women and their families, such as exposure to gender-based violence, reflecting on care policies for women in climate-related displacement and situations of violence. The text is guided by an intersectional perspective, aiming to support analyses on the vulnerabilities and oppressions experienced by women and the need to produce health policies for sensitive and culturally localized care. It points out that gender, race/skin color, and nationality, among other social markers relevant to this population, add vulnerabilities to the experiences of women in transit because of climate disasters.
Palavras-chave (keywords):
Human Migration; Internal Migration; Climatological Disaster; Violence Against Women; Care.
Mulheres, deslocamentos climáticos e violências: perspectivas para o cuidado em saúde
Women, climate change, and violence: healthcare perspectives
Fernanda Mendes Lages Ribeiro
Pesquisadora colaboradora do Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. Professora do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. E-mail: fefe.mendeslr@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3766-9758.
Cristiane Batista Andrade
Pesquisadora do Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli, Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz. E-mail: cristiane.batista.andrade@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1441-9171.
Resumo
O presente artigo de opinião tem como tema os deslocamentos forçados de mulheres em função de desastres climático-ambientais em seus territórios de origem e parte do caso recente do Rio Grande do Sul/Brasil para discutir o fenômeno dos deslocamentos forçados pela destruição dos locais de moradia e iminente risco à vida, tomando criticamente a categoria desastres naturais. Além disso, registra alguns dos impactos de deslocamentos forçados sobre a vida e saúde de mulheres e suas famílias, como a exposição às violências de gênero, refletindo sobre as políticas de cuidado às mulheres em deslocamentos climáticos e em situação de violências. O texto guia-se pela perspectiva interseccional, visando subsidiar a análise sobre as vulnerabilidades e opressões vividas por mulheres e a necessidade de produção de políticas de saúde para um cuidado sensível e culturalmente localizado. Ademais, aponta que gênero, raça/cor de pele e nacionalidade, entre outros marcadores sociais relevantes a esta população, adicionam vulnerabilidades às vivências das mulheres em trânsito em decorrência dos desastres climáticos.
Palavras-chave: Migração Humana; Migração Interna; Desastre Climatológico; Violência contra a mulher; Cuidado.
Abstract
This opinion article focuses on the forced displacement of women due to climate-environmental disasters in their home territories. It starts from the recent case of Rio Grande do Sul/Brazil to discuss forced displacement due to the destruction of housing and imminent risk to life, critically considering the category of natural disasters. Furthermore, it records some of the impacts of forced displacement on the lives and health of women and their families, such as exposure to gender-based violence, reflecting on care policies for women in climate-related displacement and situations of violence. An intersectional perspective guides the text to support analyses of the vulnerability and oppression women experience and the need to produce health policies for sensitive and culturally localized care. It also points out that gender, ethnicity/skin color, and nationality, among other social markers relevant to this population, attach vulnerabilities to the experiences of women in transit because of climate disasters.
Keywords: Human Migration; Internal Migration; Climatological Disaster; Violence Against Women; Care.
INTRODUCTION
This article was written based on the authors’ experiences – self-declared white and feminist – with research on/with migrant women in the meeting between care and violence, focusing on moving in search of better living and working conditions. We are also faced with the severe environmental tragedy/disaster in the state of Rio Grande do Sul (RS)/Brazil in May 2024 and the cases of violence women, children, and young people suffered in shelters, which motivated the writing of this text. In this sense, we underscore, in particular, the grave public health issue that permeates the lives of women and their families, especially children and young people, in internal displacements – as is the case in RS – and throughout the Latin American continent.
In the case of RS, a massive flood hit 94% of municipalities, forcing more than 600,000 people to leave their homes, the most significant mass displacement in three decades.1-3 The current governor had authorized more than 480 changes to environmental regulations, making them more flexible, which aligns with the last administration of the federal government (2019-2022), weakening socio-environmental control policies and institutions and encouraging the predatory exploitation of natural resources. Moreover, there are historical disputes involving land ownership and possession, the exploitation of natural resources, the massive presence of large rural entrepreneurs, miners, and land grabbers, and the trivialized violence against peasants and traditional peoples, besides police violence, which mainly affects the North region4.
An event is considered a disaster when one identifies threats of “natural or technological origin, exposure, conditions of vulnerability and prevention and response capacities to reduce risks. Thus, a disaster requires a set of aspects that involve physical and social conditions”5 (p. 33), including processes generated naturally or by human action and that require institutional and governmental capacities for prevention, responses, “mitigation and rehabilitation, recovery, and reconstruction of living and health conditions”5 (p. 24). The extent of exposure, impacts, and recovery time is different for population groups and territories as a result of socioeconomic and living conditions, which must be considered in prevention and response actions that stimulate community resilience, understood as adaptation and “the process of adjusting the actual or expected climate, to climate variability, resulting from climate change, and its effects”5 (p. 42), encompassing the entire intersectoral network such as schools and health services.
In response to the disaster in RS, the federal government sent material, financial, and human resources, encouraging the displacement of health professionals from other regions to provide care to the local population. Numerous community solidarity networks were set up, involving civil society organizations, artists, social assistance professionals, and civil defense to rescue people and animals immediately. However, the ineffective State’s actions as a guarantor of human rights reiterates the need to develop public policies that guarantee people’s survival and the recovery and prevention of new disasters. Given the neoliberal projects implemented in RS and the dismantling of environmental legislation, swift and effective actions are needed to address this severe public health problem6.
This article aims to discuss climate-related displacements and the violence suffered by women along their journeys in order to make the issue visible and contribute to reflections to support the proposal or improvement of sensitive and culturally localized care actions. We bring the theoretical perspectives of intersectional studies, albeit briefly, to understand the oppression suffered by women during their displacements, presenting the debate on violence and health care so that their rights and protection are assured.
Women in forced climate displacement, oppression, and violence
“[...] all one has to do is look at our fractured lives and fragmented texts.”
(Gloria Anzaldúa).
Gloria Anzaldúa’s writing7 refers to the oppression endured by women in critical dialogue with issues of race, gender, class, sexuality, nationality, and geopolitics, considering and complexifying their social and historical contexts. Intersectional studies point out that, beyond the intersections of these analytical categories, there is a need to understand historicity to build a critical thought that interrogates a society intensely marked by the deleterious effects of coloniality, colonialism, and capitalism, in which women have been and continue to be subjugated by racism, sexism, and classism7–9.
From intersectionality, we can understand the diversity among women in the Latin American context, their specificities and oppression grounded on race, class, territory, and sexuality, understanding that Black and Indigenous women suffer from racism that structures social relationships, besides other marks of oppression in interconnected fashion9. Intersectionality, a theoretical and methodological path, was and is produced, above all, by Black, Chicana, poor, American, and Latin American women, who racialize oppressions and the consequent production of vulnerabilities, in contrast to white feminism that universalizes them, disregarding the marks of racism8,9.
Several global settings indicate that socio-environmental disasters that increasingly devastate countries and force many populations to be internally or internationally displaced are a predictable and diagnosable side effect of the colonial-predatory development model that characterizes the Western world, the result of the neoliberal capitalist mode of production that produces effects at a global level. Nature as a resource is exploited to exhaustion, destroying the diversity of flora and fauna, producing consequences that grow on an exponential scale10,11, such as global warming through deforestation, the emission of industrial pollutants, and the burning of fossil fuels. As a result of this regime, environmental imbalance directly and indirectly causes extreme weather conditions: droughts, floods, heat waves, fires, landslides, and other events created by the meeting of nature and the capitalist exploitative model.
This point is central to understanding the historical and social complexity of this serious public health issue. Depending on the intersections of oppression, the implications and effects of displacement will be more or less intense and severe. Women and girls are the most affected, deterritorialized vis-à-vis their spaces and life references. They suffer from gender-based violence that includes sexual violence, forced and child marriages, and struggle to access and remain in the Education and Health systems12.
Climate displacement data are scary. The Institute for Economics and Peace suggests that the number of people displaced by climate disasters could reach 1.2 billion by 2050. The World Bank states that there will be 216 million internally displaced people by the same year, and the UN indicates that 80% of people who have to leave their homes are women2,13.
The most affected by droughts, floods, and landslides are women from peripheral areas and Black women who, before the loss of housing and support networks, faced the reorganization of their lives, a lack of food and drinking water, and gender-based violence. Care work is escalated in environmental disasters, with implications for women’s physical and mental health14. This work involves actions and feelings of responsibility in activities with vulnerable or non-vulnerable people and is conducted by women in the domestic space, generally free of charge, or in the productive sphere, with hardly any social status and poor pay, and is considered exhausting.
Experiencing the effects of environmental disasters means, for women, having to deal with family care without informal support networks or even the State itself to continue moving forward with their lives. This assertion corroborates research on women and environmental disasters in Chile, Nepal, and Peru, where an increase in family and community care activities was observed, such as searching for drinking water and food, providing physical and emotional care to sick people and children, little time to find a job, besides concerns and uncertainties about future climate events16-18, circumstances that are interrelated with increased stress, especially among pregnant women, who face complications during pregnancy and the puerperal cycle16. Many women seek community alternatives to confront and prevent other disasters, often taking the lead in these movements, influencing the work overload in a neoliberal and patriarchal society16,17.
There are countless reports of violations of human rights to life, housing, and education, as the incidence of psychological, physical, and sexual violence intersected with sexism, racism, and xenophobia, besides robberies, thefts, and looting in stores and homes. Women and girls are the most exposed19 in all these cases. Maes13 affirms that the climate crisis disproportionately affects women, causing displacement and violence, school dropout, income loss, and child marriage. COVID-19, a global health emergency that has disproportionately affected populations, has exposed their intersectional marginalization to male control and gender-based violence, increasing several expressions of violence13,20.
Violence against women is not a new situation, especially in Latin America. In Brazil, from 2012 to 2022, 48,289 women were murdered. In 2022, 66.4% of the victims were Black and were 1.7 times more likely to be violated than non-Black women, highlighting the structural and institutional racism in Brazil. Most abuse occurs within homes and is committed by men known as relatives and (former)boyfriends/husbands21. In emergencies, some factors deteriorate this situation: sudden changes in family configurations, unemployment, temporary or permanent loss of home, high stress, weakened support networks, physical and mental illness, and suicidal ideas20.
While violence against women is a global reality, in forced displacement due to environmental disasters, with grave rights violations, it tends to worsen as women have to leave their territories in search of survival in temporary shelters and be separated from support networks, increasing their susceptibility to domestic and sexual violence and human trafficking for sexual exploitation. Given the increase in alcohol consumption by partners, poverty, and violence suffered by intimate partners, stress affects a large proportion of women18.
Care policies for women in situations of violence in climate disasters
The harsh reality for women in RS who lost their lives or their families involves daily violence that did not cease during the disaster. They and their children faced violence, such as physical and sexual abuse in the shelters offered for their care, which was reported22,23 and led the Ministry of Women to draw up a protocol establishing the obligation of having “a place to make this type of complaint, women-exclusive bathrooms, exclusive shelters for women and children, psychological care and specific items among the donations that arrive in the state”22.
It is essential to establish actions to guarantee rights by formulating policies or making them more inclusive, encompassing the individual and collective dimensions in the face of the advancing unsustainable life process, which will affect an ever-increasing number of people and territories and require national governments and the international community to develop protective, care, and support actions1,2. Due to the heterogeneity of women who are displaced and their experiences, such actions need to be constructed respecting the specificities and intersections of oppression that make them vulnerable to different extents.
In the context of the RS disaster, the Bill that sets up the National Policy for Environmental and Climate Displacement (PNDAC) was filed in May 2024, establishing rights and guidelines for the Public Power’s protection, collectively constructed by the Marielle Franco Institute, the Duclima Institute and the South American Network for Environmental Migrations (RESAMA)1,2,24. The Bill guarantees rights and humanitarian response from the State, financial resources and strategies for rebuilding life, such as housing, work, and protection for displaced people and identification of vulnerable people2.
The Brazilian Federal Constitution and the Organic Health Law N° 8.080/90 guarantee access to health and social assistance for nationals and foreigners, regardless of their territory. Families in situations of vulnerability and social risk are entitled to benefits such as income redistribution25 and support in public calamities and emergencies26.
In order to make decisions and take action, it is necessary to know the profile of the people affected and their needs, including emergency measures such as shelter, legal, social, and psychological assistance, food and medicine, and medium and long-term measures for reintegration and reconstruction of lives, ensuring access to social policies in an intersectoral and interdisciplinary fashion. Given the situation predictive of new socio-environmental disasters, it is necessary to prepare documents with measures to be adopted to curb harm and protect the population2, including planning strategies to protect women and children, especially violence prevention.
Coordinating and reinforcing health, social assistance, other networks, and civil society is fundamental to strengthening public and private facilities, their professionals and managers, the community fabric, and family and neighborhood networks since they support and care for the population. In mental health, psychosocial care is geared towards attention and care for psychological distress, focusing on establishing links and intersectoral interventions based on the needs of individuals, families, and communities to minimize vulnerabilities and violence27 and ensure access to emergency services under gender specificities.
Bradley et al.18 recommend, from a gendered perspective of “secondary” violence associated with disasters, attention to the complex relationships between gender and violence and the development of actions to mitigate them. Spaces such as shelters should be well-lit and ensure privacy for families and gender-segregated bathrooms. Furthermore, communication channels for reporting violence and inter- and intra-sectoral care strategies to address risks associated with violence against women should be in place.
Professionals should be aware of the risk of increased violence against women and the importance of providing them with qualified support and listening. The psychosocial protection and care network needs to be strengthened and access guaranteed. As recommended by Ordinance N° 1271/2014, Health services must report suspected or confirmed cases of violence against vulnerable populations to generate information for decision-making in specific cases and improve policies to address and ensure rights20.
FINAL CONSIDERATIONS
In the face of the contemporary situation, whose exploitative model points to an increase in emergencies and disasters caused by human action, which directly affects the Global South, we expect an increase in the displacement of vulnerable populations, with loss of territorial reference, deaths, and violence.
Women already accumulate intersecting oppressions exacerbated by coloniality and colonialism, having the worst living, working, and eating conditions, subjectively and materially combining productive and reproductive care work. They are expelled from their homes and leave voluntarily or involuntarily, searching for better living conditions or survival for themselves and their families, notably children and young people. In climate-related displacements, returning to original territories may or may not be possible, thus requiring attention, protection, and care to rebuild lives. Therefore, local networks should be strengthened to support this process and ensure that no woman is exposed to violence during emergency and medium- and long-term actions since they have the fundamental right to life and health.
REFERENCES
1. A tragédia no RS criou refugiados climáticos? [Internet]. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/1ZcBdE9NXPA9ZNoaGRdxg4
2. Ahumada M, Sander I. Rio Grande do Sul tem meio milhão de migrantes climáticos em razão da enchente: entenda o que é isso [Internet]. Miguel Ahumada. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://miguelimigrante.blogspot.com/2024/05/rs-tem-meio-milhao-de-migrantes.html
3. Souza D. Rio Grande do Sul tem 94% dos municípios atingidos pelas enchentes [Internet]. Metrópoles. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/rio-grande-do-sul-tem-94-dos-municipios-atingidos-pelas-enchentes
4. Santos MP, Parreiras A, Cunha VH. Boletim de Análise Político-Institucional: dinâmicas da violência na região norte. Bol Análise Político-Inst.
5. Freitas CM de, organizador. Guia – Preparação para resposta à emergência em saúde pública por inundações graduais. Rio de Janeiro, RJ: Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca; 2021.
6. Rizzotto MLF, Costa AM, Lobato L de V da C. Crise climática e os novos desafios para os sistemas de saúde: o caso das enchentes no Rio Grande do Sul/Brasil. Saúde Em Debate [Internet]. 26 de setembro de 2024 [citado 9 de outubro de 2024];48(141 abr-jun):e141ED-e141ED. Disponível em: https://www.saudeemdebate.org.br/sed/article/view/9837
7. Anzaldúa G. A vulva é uma ferida aberta & outros ensaios. Rio de Janeiro: A bolha; 2021.
8. Collins PH, Bilge S. Interseccionalidade. 1a. Sao Paulo: Boitempo; 2021.
9. Curiel O. Construindo metodologias feministas a partir do feminismo decolonial. Em: Pensamento feminista: perspectivas decoloniais. Bazar do Tempo; 2019. p. 120–39.
10. Nuñez G. Descolonizando afetos: Experimentações sobre outras formas de amar. São Paulo, SP: Editora Planeta do Brasil*; 2023.
11. Krenak A. Futuro ancestral. São Paulo, SP: Companhia das Letras; 2022. 128 p.
12. Pérez BF. Perspectiva de género en las migraciones climáticas [Internet]. 2019 [citado 18 de junho de 2024]. Disponível em: https://migracionesclimaticas.org/wp-content/uploads/2019/11/Informe_ECODES_MC_Perspectiva_de_g%C3%A9nero_en_las_migraciones_clim%C3%A1ticas.pdf
13. Maes J. De perdas econômicas a aumento na violência, mulheres são mais impactadas pelas mudanças no clima [Internet]. Folha de S.Paulo. 2023 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2023/03/de-perdas-economicas-a-aumento-na-violencia-mulheres-sao-mais-impactadas-pelas-mudancas-no-clima.shtml
14. Nunes J, Belmont M. Enchentes, deslizamentos, falta de água: como a crise climática chega nas mulheres periféricas [Internet]. 2021 [citado 20 de junho de 2024]. Disponível em: https://generoeclima.oc.eco.br/enchentes-deslizamentos-falta-de-agua-como-a-crise-climatica-chega-nas-mulheres-perifericas/
15. Borgeaud-Garciandía N. Cuidado y responsabilidad. Estud Av [Internet]. 2020 [citado 21 de maio de 2020];34(98):41–56. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142020000100041&tlng=es
16. Reyes RR. Gendering responses to El Niño in rural Peru. Gend Dev [Internet]. julho de 2002 [citado 26 de junho de 2024];10(2):60–9. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/13552070215907
17. Saavedra J, Rubio Carrasco C, Valenzuela Contreras K, Balboa Jiménez V. Memoria local y afrontamiento de desastres climáticos: el caso de liderazgos de mujeres en Nonguén. Región Soc [Internet]. 2019 [citado 24 de junho de 2024];31:e1240. Disponível em: https://regionysociedad.colson.edu.mx:8086/index.php/rys/article/view/1240
18. Bradley T, Martin Z, Upreti BR, Subedu B, Shrestha S. Gender and Disaster: The Impact of Natural Disasters on Violence Against Women in Nepal. J Asian Afr Stud [Internet]. 2023 [citado 24 de junho de 2024];58(3):354–71. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/10.1177/00219096211062474
19. Marie F. A crise climática também é uma questão feminista [Internet]. AzMina. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://azmina.com.br/colunas/mulheres-e-a-crise-climatica-uma-questao-feminista/
20. Noal DS, Damásio F, Freitas CM, organizadores. Saúde mental e atenção psicossocial na pandemia COVID-19: violência doméstica e familiar na COVID-19 [Internet]. Fiocruz/CEPEDES; 2020 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/41121
21. Cerqueira D, Bueno S. Atlas da Violencia 2024 [Internet]. 2024 [citado 25 de junho de 2024]. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/publicacoes
22. Universidade J da, Marques A. O agravamento da vulnerabilidade das mulheres e crianças em meio ao desastre climático no RS -. 28 de maio de 2024 [citado 9 de outubro de 2024]; Disponível em: https://www.ufrgs.br/jornal/o-agravamento-da-vulnerabilidade-das-mulheres-e-criancas-em-meio-ao-desastre-climatico-no-rs/
23. Ely L. Abuso sexual em abrigos e nas ruas vira outro pesadelo no RS [Internet]. Metrópoles. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.metropoles.com/brasil/abuso-sexual-em-abrigos-e-nas-ruas-vira-outro-pesadelo-no-rs, https://www.metropoles.com/brasil/abuso-sexual-em-abrigos-e-nas-ruas-vira-outro-pesadelo-no-rs
24. Hilton E, Accorsi A, Xakriabá C. PL 1594/2024 [Internet]. Portal Camara dos Deputados. 2024 [citado 4 de julho de 2024]. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2431186&utm_source=catarse.me%2Fazmina%3Futm_source%3Dnewsletter%26utm_medium%3Delas%26utm_campaign%3D20%2F05%2F2024-refugiadas-
25. Andrade CB, Ribeiro FML, Mendes CHF, et al. Migração, trabalho e violência: interfaces com a saúde [Internet]. Fiocruz; 2023. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/61402
26. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Tipificação nacional de serviços socioassistenciais. Brasília: Ministério Desenvolvimento Social; 2014.
27. Conselho Federal de Psicologia CRD. Referências Técnicas Para Atuação De Psicólogas (os) Na Gestão Integral De Riscos, Emergências E Desastres. Brasília, DF: Mc&g Design Editorial; 2021. 96 p.
Como
Citar
Ribeiro, F.M.L, Andrade, C.B. Mulheres, deslocamentos climáticos e violências: perspectivas para o cuidado em saúde. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/jan). [Citado em 05/05/2025].
Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/mulheres-deslocamentos-climaticos-e-violencias-perspectivas-para-o-cuidado-em-saude/19478?id=19478&id=19478