0001/2025 - Suesse, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776– Present. London: Cambridge University Press, 2023.
Suesse, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776– Present. London: Cambridge University Press, 2023.
Autor:
• Nilson do Rosário Costa - Costa, N.do R. - <nilsondorosario@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8360-4832
Resumo:
Não se aplicaAbstract:
Não se aplica.Keywords:
Não se aplica.Conteúdo:
O trabalho de Marvin Suesse permite a compreensão das trajetórias do pensamento econômico de orientação nacionalista em uma ampla amostra de regimes políticos e de países: desde os fundadores do pacto federativos dos Estados Unidos à pauta do American First ou ao esforço pela hegemonia tecnológica da China. Não ficam de fora as experiências singulares do nacionalismo econômico na França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Japão, Argentina, Bolívia e Brasil.
O caso do Leste Asiático é detalhadamente revisitado assim como é destacado o pensamento econômico que emergiu na luta anticolonial africana, com foco nas ideias de Kwame Nkrumah em Gana e Julius Nyerere na Tanzânia. Não deixa também de ser interessante a contextualização da emergência das ideias de Friedrich List e a chocante demonstração dos vínculos de Max Weber ao discurso darwinista biológico e ao chauvinismo racista alemão de fins do século XIX e início do século XX. Por fim, as páginas sobre a questão nacional na finada União Soviética são extremamente esclarecedoras e ajudam ao leitor compreender o conflito em curso entre a Rússia e a Ucrânia.
Suesse defende no livro que existem pontos comuns na forma como os nacionalistas veem a economia. Na versão mais radical, o nacionalismo econômico é a expressão, no plano político, da ideia de que economia e nação devem ser absolutamente convergentes. Nesse sentido, esse nacionalismo advoga o desenvolvimento da economia doméstica independente da esfera global, com o comércio e o investimento controlados por compatriotas, restrição ao contato com estrangeiros, privilégio da propriedade de bens e do emprego por concidadãos e exclusão deliberada de não-nacionais de funções públicas. Em outras palavras, segundo Suesse, o privilégio do intercâmbio dentro da nação e não fora dela é objetivo da agenda isolacionista do nacionalismo econômico (p.2).
Desse modo, os intelectuais nacionalistas atacaram a teoria econômica liberal clássica que advoga a globalização das economias domésticas por privatizações de empresas estatais, abertura unilateral do mercado interno, livre fluxo de capitais e destruição dos direitos trabalhistas. De resto, os pensadores do nacionalismo econômico são comumente vistos pelos liberais como antagonistas da globalização.
Suesse mostra que as ideias sobre o desenvolvimento nacional foram efetivas na consolidação de coalizões de interesse, articulando de forma exitosa as demandas domésticas no contexto da globalização. Para ele, o dilema que acompanha a pauta isolacionista é originado pela adoção adicional, por parte de seus formuladores, da agenda da “modernização” da nação. Em alguns casos o sucesso do projeto modernizante permitiu que muitas nações alcançassem padrões tecnológicos e comerciais idênticos aos dos países ocidentais pioneiros da revolução industrial. O sucesso desse catch-up foi possível por alianças com os países hegemônicos no cenário da globalização e políticas agressivas de substituição de importação, de inovação tecnológica e de exportação. Nesse contexto, Suesse denomina como “dilema nacionalista” a tentativa das elites domésticas de conciliar o isolacionismo com os objetivos modernizantes e expansionistas de poder comercial, militar e político.
Com base nas evidência do The Nationalist Dilemma, Rodrik afirma que ninguém pode negar o sucesso dos Estados desenvolvimentistas do Leste da Ásia: Japão, Coreia do Sul, Taiwan e China, que encorajaram a integração econômica global e protegeram seletivamente setores essenciais, ainda que tenham falhado na construção do Estado de Bem-Estar Social. Para ele, “o nacionalismo econômico do leste da Ásia foi uma benção para o resto do mundo. Mesmo com barreiras comerciais aqui e ali, os mercados aquecidos que ele criou para os parceiros comerciais foram muito maiores do que qualquer outra estratégia econômica alternativa teria produzido3”.
São muitas as referências de Suesse sobre a difusão das ideias nacional- desenvolvimentistas no Brasil, com especial destaque para o resgate da influência
decisiva do formulador do modelo de Estado autoritário Mihail Manoilescu nos anos 1920 e 1930. O autor destaca que após 1945, entretanto, o nacional- desenvolvimentismo brasileiro se distanciou do legado autoritário inspirado em Manoilescu e buscou sustentação da sua agenda pela mobilização dos trabalhadores e burguesia industrialista. Suesse também atribui a resiliência das ideias nacional- desenvolvimentistas na América Latina pós II Guerra Mundial à permanência em escala ampliada da agenda desenvolvimentista do segundo Governo Vargas. Esse é um ponto que foi também abordado em extraordinário artigo de 2015 de Wilson Cano4.
O leitor informado sobre a produção intelectual sobre o pensamento econômico no Brasil estranhará a pobreza das referências à importante literatura nacional sobre o desenvolvimentismo. No livro, Celso Furtado recebe apenas uma menção residual. O lançamento em 2023 da coletânea A History of Brazilian Economic Thought, organizada por Bielschowsky, Boianovsky e Coutinho5, certamente ajudará o reconhecimento da produção intelectual doméstica em futura reedição do livro de Suesse. De qualquer modo, The Nationalist Dilemma é uma obra de recomendação segura para a leitura no campo da saúde coletiva. Constitui um texto obrigatório para a compreensão da complexidade intelectual e política que é a construção de um projeto de desenvolvimento para uma nação. É possível concluir, pela leitura da obra de Suesse, que a agenda do desenvolvimento nacional é uma variável determinante de qualquer possibilidade de resiliência do sistema de saúde com base em política industrial ativa, como advoga a pauta inovadora do CEIS.
Referências
1. COSTA, NR, GON, RK. Saúde é desenvolvimento: o Complexo Econômico-Industrial da Saúde como opção estratégica nacional. Saúde Em Debate. 2024, vol. 48, n.140, pp. e9027.
2. SUESSE, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776–Present London: Cambridge University Press, 2023.
3. RODRIK D. Nacionalismo de Maneira Certa. Jornal Valor Econômico. 2023 out 9. [acesso em 2024 April 9]. Disponível em https://valor.globo.com/opiniao/coluna/nacionalismo-da-maneira-certa.ghtml
4. CANO, W. Crise e industrialização no Brasil entre 1929 e 1954: a reconstrução do Estado Nacional e a política nacional de desenvolvimento. Rev. Econ. Polit. 2015, vol. 35, n.2, pp. 444-460
5. BIELSCHOWSKY, R, BOIANOVSKY, M, COUTINHO.MC. A History of Brazilian Economic Thought. London: Routledge, 2023.