0281/2025 - Beyond human victims: a systematic review of women and animals as simultaneous victims of domestic violence
Além das vítimas humanas: uma revisão sistemática de mulheres e animais como vítimas simultâneas de violência doméstica
Author:
• Thiago da Silva Brandão - Brandão, TS - <thiagos_brandao@hotmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7186-8726
Co-author(s):
• Edinete Lúcio Pereira - Pereira, EL - <edineteluciio@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2160-1617
• Almir Pereira de Souza - Souza, AP - <almir.pereira@professor.ufcg.edu.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8587-5724
Abstract:
The aim of this systematic review was to investigate the characteristics of women who were victims of domestic violence, sought refuge in specialized services, and owned pets that were also targeted by the same aggressor. Four databases were used: PubMed, PsycInfo, Scopus, and Web of Science, utilizing search terms related to animal cruelty and abuse, as well as domestic violence. Of the 2,682 articles identified, 21 were included in this study after evaluating titles, abstracts, and reading the full articles, adhering to the eligibility and exclusion criteria of the research. The selected articles were published in English, Spanish, and Portuguese, with no restrictions on country or year. The majority of the studies were from the United States of America (61.9%). The prevalence of animal abuse in abusive relationships ranged from 25% to 89.1%. Control over the woman was the main reason for the abuse of pets (66.67% [14/21]). Moreover, 76.19% (16/21) of the studies indicated that women delayed leaving the aggressor due to concern for their animals. It is concluded that animal abuse is a strategy of control and coercion within the abusive dynamic against women.Keywords:
Companion animals, animal welfare, human-animal interaction, violence against women, intimate partner violence.Content:
A violência doméstica contra a mulher consolida-se como uma problemática de grande relevância social. Esse fenômeno tem raízes de ordem cultural, social e econômica, e é, também, caracterizado pela relação de poder do homem sobre a mulher1. No entanto, suas ramificações vão além das sequelas humanas, atingindo os membros silenciosos da família: os animais de estimação. Considerados frequentemente como parte integrante do núcleo familiar2, esses seres enfrentam formas semelhantes de abuso físico e emocional associadas à violência doméstica3. Essa proximidade os torna suscetíveis às formas insidiosas de coerção, transformando-se em instrumentos de controle nas mãos dos agressores, que os utilizam para manter as vítimas humanas aprisionadas em relacionamentos abusivos3,4.
A ligação emocional entre a vítima e seu animal de estimação surge como uma via adicional para infligir abuso psicológico. A exploração desse vínculo pelos agressores, por meio de ameaças e danos aos animais, intensifica a angústia mental das vítimas, deixando-as vulneráveis à manipulação. Infelizmente, muitos animais de estimação se tornam vítimas fatais dessa dinâmica de controle5.
Estudos revelam que mulheres agredidas, ao procurarem abrigo em locais seguros, frequentemente relatam ameaças ou atos concretos de violência contra seus animais de estimação6, adiando a decisão de abandonar ambientes abusivos em prol da segurança de seus companheiros animais. Alguns agressores direcionam explicitamente sua violência aos animais de estimação como uma tática adicional de controle, coagindo, intimidando e amedrontando suas vítimas7.
Estudos realizados nos Estados Unidos da América demonstraram que mulheres em busca de refúgio em instituições especializadas para vítimas de violência doméstica enfrentam uma probabilidade de mais de 11 vezes em relatar que seus parceiros prejudicaram ou mataram seus animais de estimação, em comparação com aquelas sem histórico de violência. Além disso, aquelas mulheres, que são emocionalmente ligadas a seus animais de estimação, são particularmente mais suscetíveis a ameaças ou danos infligidos por seus companheiros, impactando-as significativamente8, contundo, apesar do reconhecimento da violência contra animais em contextos domésticos, há escassez de investigações sistemáticas acerca do perfil das mulheres que buscam refúgio acompanhadas de seus animais, o que compromete o desenvolvimento de políticas específicas e efetivas.
Desta maneira, objetivou-se com essa revisão sistemática caracterizar o perfil das mulheres vítimas de violência doméstica que buscaram refúgio em serviços especializados, juntamente com seus animais de estimação, alvos do mesmo agressor, e desta forma entender padrões e fatores de risco relacionados a essa conjuntura, visando contribuir para estratégias de intervenção mais eficazes e o desenvolvimento de políticas de proteção.
MATERIAL E MÉTODOS
Desenho da pesquisa
O presente estudo apresenta caráter descritivo no qual foi utilizado o método de revisão sistemática da literatura abordando dados quantitativos e qualitativos. Para tanto foram elaboradas as seguintes perguntas: “Como a violência doméstica contra mulheres e os maus-tratos simultâneos a seus animais de estimação pelo mesmo agressor estão interligados?” “Quais padrões e fatores de risco podem ser identificados para informar estratégias de intervenção e políticas de proteção mais eficazes?” Para sua elaboração utilizou-se a estratégia PICo (acrônimo de Paciente, Intervenção, Comparação e “Outcomes”) em que se buscou a identificação, seleção e inclusão dos artigos que apresentassem relevância e que estivessem, dentro dos critérios de elegibilidade previamente determinados. Além disso, foram seguidas as recomendações da metodologia PRISMA - Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses9. A respectiva revisão foi registrada no Registro Internacional Prospectivo de Revisões Sistemáticas (PROSPERO): CRD42024563810.
Critérios de elegibilidade e exclusão
Foram considerados elegíveis para esse estudo, artigos completos, Short communications e relatos de casos que descreveram a relação entre abuso animal e violência doméstica no âmbito familiar concomitantemente, levando em consideração atitudes lesivas comissivas direcionadas às espécies, canina, felina e humana em convivência intrafamiliar com o possível agressor. Ademais, foram selecionados trabalhos publicados em inglês, espanhol e/ou português, sem restrições ao seu país de origem e ano de publicação, de modo que exclusivamente foram selecionados àqueles estudos no qual as mulheres (possuíssem animais de estimação) e estivessem frequentando ou haviam procurado algum tipo de serviço ou casa de apoio para vítimas de violência doméstica.
Foram excluídos trabalhos que não apresentavam os critérios de elegibilidade descritos acima, além disso, foram excluídos, revisões de literatura, capítulos de livros, enciclopédias, anais de eventos/resumos de congressos, manuais técnicos e publicações com restrições de acesso, também foram excluídos artigos que relatassem o abuso animal em outras espécies e as diferentes modalidades de violência ocorridas em outros ambientes que não seja o doméstico, como também estudos que levassem em consideração perspectivas sobre tal relação por profissionais diversos, como médicos veterinários, prestadores de serviços dos abrigos, assim como a população geral, ou até mesmo pesquisas realizadas com estudantes, pois tais pesquisas não se alinhavam diretamente com o objetivo proposto desta revisão.
Fontes de informação e estratégias de pesquisa
A partir dos critérios de inclusão pré-estabelecidos, iniciou-se o processo de busca entre os dias 04 e 10 de julho de 2023 utilizando as plataformas de dados: PubMed® (National Library of Medicine), APA PsycNet® (American Psychological Association), Scopus® e Web of Science™. Diante disso, foram realizadas combinações dos seguintes termos: “animal cruelty OR animal abuse OR companion animal abuse OR pet abuse” AND “domestic violence OR family violence OR intimate partner violence”, empregando a forma de pesquisa específica para cada plataforma. Após a etapa de busca dos documentos nas bases de dados estabelecidas, estes foram salvos e baixados em formato “BibTex” ou em pdf e exportados para um gerenciador de referências bibliográficas (Mendeley®) para triagem posterior.
Seleção de estudos
No gerenciador bibliográfico (Mendeley®) as duplicatas foram excluídas, permanecendo apenas um artigo de cada, evitando-se assim, sua repetição. Posteriormente, dois pesquisadores (T.S.B e E.L.P) fizeram a seleção dos estudos de forma independente, mediante leituras do título e dos resumos. Posteriormente, realizou-se a leitura completa dos artigos, com a finalidade de excluir aqueles que não atendiam aos critérios de elegibilidade. Os casos que inicialmente divergiram durante a seleção entre ambos os pesquisadores foram resolvidos após consenso entre os mesmos.
Extração e síntese dos dados
Após seleção dos estudos deu-se início às extrações dos dados em que foram dispostas da seguinte forma: autores; ano de publicação; título do artigo, país de publicação e área do conhecimento. Além do mais, também foram extraídos dados referentes ao número de participantes, média de idade, raça/cor/etnia, estado civil e escolaridade. Além disso, espécies animais envolvidas, tipo e frequência de maus-tratos animais. Os dados extraídos foram compilados em planilha eletrônica (Microsoft Excel®) e depois analisados de forma descritiva com a utilização de frequências absolutas e relativas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificados um total de 2.682 artigos em diversas bases de dados, incluindo Scopus (n=1.708), PubMed (n=464), Web of Science (n=287) e PsycInfo (n=223). Após uma revisão minuciosa para eliminar duplicatas, 392 artigos foram excluídos, resultando em 2.290 artigos restantes. Destes, 2.175 foram descartados durante a análise de títulos e resumos, restando 115 para uma leitura completa. No final desse processo, permaneceram 21 artigos, os quais foram considerados e integrados à revisão sistemática em questão (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma de busca, seleção e inclusão dos artigos para elaboração da revisão sistemática.
Fonte: Autores, mediante PRISMA9.
Características dos estudos incluídos
Os artigos incluídos nesta análise foram publicados entre os anos de 1998 a 2022, e em cinco países (Quadro 1). Destaca-se os Estados Unidos da América em termos de quantidade de publicações, representando expressivos 61,9% (13/21) do total analisado. Na sequência, observou-se a contribuição do Canadá com 14,3% (3/21), seguido por Irlanda e Austrália, ambos com 9,5% (2/21) cada, e, por fim, o Brasil, com 4,8% (1/21), provavelmente essa maior distribuição nos Estados Unidos, ocorreu pelo fato deste país ter sido pioneiro em relação à realização de estudos com esta temática6.
Quadro 1. Informações dos estudos incluídos na revisão sistemática
Fonte: Autores.
Em relação à categorização por área de conhecimento, após uma análise do escopo de cada periódico, estes foram agrupados em sete áreas. A área Interdisciplinar4,6,8,14,15,17,22 se destacou com sete periódicos, representando 33,33% do total. Em seguida, verificou-se seis periódicos na área de Criminologia5,12,20,21,23,26, totalizando 28,57%. As áreas de Serviço Social10,24, Medicina Veterinária18,19 e Ciências Sociais16,25contribuíram com dois periódicos cada, perfazendo 9,52% cada uma. Adicionalmente, as áreas de Antropologia13 e Sociologia11 apresentaram um periódico cada, equivalendo a 4,76% cada uma. Essa análise proporcionou uma visão abrangente das áreas predominantes nos periódicos examinados, refletindo assim o interesse pela discussão sobre a relação entre a violência interpessoal e os maus-tratos aos animais, demonstrando que a temática abordada é discutida em diversas esferas do conhecimento (Quadro 1).
Com relação ao tipo de instrumento de coleta dos dados, 52% (11/23) optaram por empregar questionários1,4-7,9,10,12,13,18 para coletar dados junto às mulheres vítimas de violência doméstica, enquanto 48% (10/23) desses mencionaram a condução de entrevistas2,3,8,11,14-17,19-21 diretas com elas. Ao identificar os tipos de estudos observou-se que estes eram observacionais transversais e que apresentavam, 48% de estudos quantitativos5,6,8,11-13,15,17,18,23, 33% de estudos qualitativos10,14,16,19,20,22,25 e 19% de estudos mistos4,21,24,26. Desta maneira pode-se perceber que foram utilizadas diferentes formas para a coleta de dados, com as participantes, sejam por questionários ou entrevistas diretas, estas estratégias tiveram o objetivo de identificar a possível relação da violência doméstica e os maus-tratos animais, entretanto independentemente da estratégia utilizada , as perguntas sobre posse de animais de estimação e abuso de animais exigiam que os entrevistados dependessem de suas próprias definições sobre esses conceitos7, deixando ambas as formas com um patamar semelhante sobre as perspectivas das vítimas acerca das agressões. Entretanto a análise de tais estudos observacionais e sua integração em revisões sistemáticas possibilitam delimitar o conhecimento existente e formular novas hipóteses, que podem ser testadas por meio de outros delineamentos.27
Características da população estudada
O número de participantes nos estudos variou de 13 vítimas25 a 1.28323 vítimas de violência doméstica perpetrada por parceiro íntimo. Todas as participantes eram mulheres residentes em abrigos ou de serviços para vítimas de violência doméstica. Em relação à idade, a menor média encontrada foi de 30,2 anos6, enquanto a maior média de idade foi de 49 anos25. No entanto, cinco estudos não forneceram a média de idade das participantes10,13,18,19,23. Quanto ao intervalo de idades das vítimas, estas variaram desde a idade mínima de 16 anos22 até a idade máxima de 74 anos26. Essa variação nas idades das vítimas demonstra que a violência doméstica é uma condição que acomete mulheres em diversas fases da vida, e não apenas em uma faixa etária isolada. Poucos estudos descreveram a idade do agressor [19% (4/21)], entre esses, um definiu a média de idade de 38,6 anos21 e nos demais, um intervalo de variação da menor idade à maior idade de 21 a 66 anos13, 23 a 53 anos16 e de 30 a 50 anos19.
No que diz respeito à raça/cor, os artigos demonstraram que as vítimas de violência doméstica participantes nesses estudos eram predominantemente brancas4,8,11-13,15-17,20,22,24, com uma frequência de 52,4% (11/21). Sete desses artigos não dispunham dessa informação6,10,18,19,23,25,26, resultando em uma frequência de 33,3%. Além disso, 4,8% (1/21) eram negras5. Também foi encontrada uma prevalência de 9,5% (2/21) de vítimas com etnia hispânica14,21 em estudos originários dos Estados Unidos da América (Quadro 2).
Quadro 2. Dados sociodemográficos das vítimas de violência doméstica extraídos dos artigos selecionados
Fonte: Autores.
Em relação ao estado civil, 38,1% (8/21) dos artigos indicaram que a maioria das participantes eram casadas5,6,8,16,17,19,21,22. Em contrapartida, 19% (5/21) evidenciaram que as mulheres eram separadas11,12,15,26. Surpreendentemente, 42,9% (9/21) dos estudos não forneceram informações sobre o estado civil das participantes4,10,13,14,18,20,23-25. No entanto, ao analisar o conjunto completo dos 21 artigos, evidenciou-se que todas elas, eram de mulheres que mantinham vínculos com seus agressores, incluindo companheiros, ex-companheiros, namorados ou ex-namorados, o que de fato é uma característica observada nesse tipo de situação, onde casos de violência doméstica são realizadas pelos parceiros da vítima e em casais heterossexuais, em grande maioria, pelo indivíduo masculino19.
No que diz respeito à renda das vítimas, apenas cinco (23,8%) dos 21 estudos forneceram informações sobre os rendimentos das participantes. Dois estudos do Canadá indicaram que elas recebiam até 20.000 dólares canadenses anuais11,12, enquanto três estudos dos Estados Unidos da América apresentaram diferentes cenários: um com renda até 20.000 dólares americanos21, outro até 30.000 dólares americanos4, e um terceiro que não especificou claramente, abrangendo um intervalo de 18.000 a 200.000 dólares americanos22. Além disso, três estudos (14,3%) não detalharam informações sobre a renda. Entretanto, abordaram a condição de trabalho das vítimas, revelando que a maioria estava desempregada. Um estudo na Austrália25 e dois nos Estados Unidos da América16,17 destacaram essa condição. Por fim, a maioria dos artigos [61,9% (13/21)] não dispunha de informações sobre a renda das participantes.
Dessa forma, observa-se que, na maioria dos estudos em que a renda foi declarada ou a condição de trabalho foi explicitada, são evidenciadas condições econômicas desfavoráveis e vulnerabilidade social. Esses fatores podem estar diretamente relacionados à perpetuação de atitudes de violência doméstica e/ou maus-tratos aos animais. A complexidade dessa interligação entre vulnerabilidade econômica, vulnerabilidade social e a manifestação de comportamentos prejudiciais sugere a necessidade de uma abordagem abrangente ao abordar a violência doméstica, incorporando considerações sobre os contextos socioeconômicos que influenciam tais comportamentos.
Ao analisar os níveis de educação das participantes nos artigos avaliados, percebeu-se que 42,9% (9/21) desses estudos não forneceram informações sobre o nível educacional das mulheres envolvidas. Nos estudos que disponibilizaram esses dados [57,1% (12/21)], evidenciou-se uma diversidade significativa, sendo observado em um deles (4,8%) que as mulheres apresentavam ensino médio incompleto25. Em contrapartida, sete trabalhos (33,3%) enfatizaram que as participantes possuíam ensino médio completo4,5,8,13,20,21,26. Outros três estudos (14%) indicaram que as mulheres tinham ensino superior incompleto11,12,15, enquanto um estudo específico (4,8%) destacou a predominância de mulheres com ensino superior completo16. Enquanto isso, apenas um estudo definia o grau de escolaridade dos agressores, onde predominava o ensino médio13. Assim, pode-se notar que independentemente do nível educacional das participantes, estas se mostraram vulneráveis a serem vítimas de violência doméstica por parte de seus parceiros, apesar dos estudos acima citados não terem realizadas associações acerca do nível de escolaridade e a possibilidade de violência doméstica e maus tratos animais.
A abordagem feminista propõe que a violência nas relações íntimas reflete a opressão de gênero em uma sociedade patriarcal, indicando que a violência contra a mulher não é um fenômeno uniforme e não se manifesta da mesma maneira em diversos contextos, no qual apresentam aspectos diversificados, moldados pela singularidade dos indivíduos envolvidos28. De tal maneira que os agressores utilizam tanto violência física quanto abuso emocional para consolidar poder e exercer controle sobre mulheres em relacionamentos íntimos16,17. Além disso, atributos como etnia, gênero e classe social não são simplesmente características individuais. Esses fatores demográficos estão incorporados na estrutura social, resultando em privilégios e penalidades diferenciadas para membros de grupos dominantes e vulneráveis29.
Prevalência de abuso de animais e os casos de violência doméstica por parceiro íntimo
Todos os 21 artigos analisaram a ocorrência de ameaças ou maus-tratos aos animais domésticos durante relacionamentos abusivos por parceiros íntimos, com estas variando de 25%23 a 89,1%15 de frequência, sendo que os cães e gatos se destacaram como os principais animais atingidos pelos maus-tratos (Quadro 3). Animais de estimação são mais propensos a serem vítimas, pois vivem em estreita proximidade com os seres humanos, resultando em impactos mais severos diante de atos cruéis ou negligência, em comparação com outras categorias de animais8,30-32. Ascione6 destacou-se como pioneiro ao investigar o abuso de animais de estimação no contexto de mulheres vítimas de agressão. Em um estudo realizado com residentes de um abrigo para mulheres vítimas de violência em Utah, nos Estados Unidos, 71% das mulheres que possuíam animais de companhia relataram que seus parceiros masculinos ameaçaram ou causaram a morte desses animais. A maioria das pessoas que têm animais de estimação relatou formar laços muito estreitos com eles, muitas vezes vendo-os como membros da família33.
No âmbito da Violência de Parceiro Íntimo (VPI), a conexão entre humanos e animais pode intensificar-se significativamente; as pesquisas sobre VPI indicam que é frequente os agressores buscarem isolar suas vítimas de amigos e familiares16. Como resultado, para muitas mulheres que enfrentam a violência perpetrada por um parceiro íntimo, a relação amorosa e de apoio com um animal de companhia pode representar a única fonte de vínculo positivo remanescente12. A suposição de que o abuso de animais é utilizado como meio de desestabilizar emocionalmente as vítimas humanas da VPI fundamenta-se na observação do vínculo que pode se desenvolver entre mulheres vítimas de abuso e seus animais de estimação15.
Quadro 3. Relação entre violência doméstica, maus-tratos a animais e envolvimento das espécies relatadas nos artigos incluídos.
Fonte: Autores.
A renomada "Roda de Poder e Controle"34, cataloga diversas estratégias empregadas por parceiros íntimos masculinos para controlar suas parceiras, abrangendo aspectos como controle econômico, intimidação, isolamento e ameaças. Diversos estudos destacam várias maneiras pelas quais agressores utilizam animais de estimação para controlar suas parceiras, recorrendo a ameaças (como prejudicar ou dar o animal de estimação), abuso físico, como bater, chutar ou matar, além de atos de omissão, como proibir alimentação ou cuidados veterinários6,26. Além do mais, estudos que investigam o abuso de animais em famílias afetadas pela VPI revelaram que homens que maltratam suas parceiras também praticam abuso contra animais em proporções significativamente superior aos homens envolvidos em relacionamentos não abusivos8,26.
O abuso de animais passou a ser reconhecido como um sério fator de risco para a segurança das mulheres35. Comparando as taxas de abuso de animais de estimação entre mulheres sobreviventes de VPI e mulheres da comunidade sem violência doméstica, pode-se notar que aquelas que sofreram ameaças contra seus animais de estimação por seus parceiros tinham cinco vezes mais chances de também terem sofrido VPI26. Já em um outro estudo, mulheres que residiam em abrigos tinham quase 11 vezes mais risco de relatar que seus parceiros machucaram ou mataram seus animais de companhia em comparação com uma amostra de mulheres que não relataram violência doméstica3. Além do mais foi verificado que ameaças de danos e danos reais aos animais desempenham um papel importante na coação de algumas mulheres, levando-as a cometer atos ilegais22.
Em um estudo realizado com 1.283 sobreviventes de violência doméstica que buscaram abrigo no Texas - EUA, constatou-se que os parceiros abusivos de sobreviventes que também foram vítimas de abuso de animais de estimação empregavam uma variedade mais ampla de táticas abusivas, além disso, esses parceiros apresentavam maior propensão a perpetrar formas graves de violência e comportamentos controladores em comparação com os parceiros abusivos de mulheres que não tinham histórico de abuso contra seus animais de estimação23. Em outra pesquisa comparativa entre sobreviventes de violência doméstica em abrigos, levando em consideração a presença ou ausência de animais de estimação, observou-se que mulheres que relataram abuso frequente e/ou grave contra seus animais de companhia apresentavam significativamente maior probabilidade de relatar experiências de violência severa e frequente11.
Alguns estudos também apontaram que, à medida que o apego de uma mulher a um animal de estimação aumenta, cresce também o risco de abuso desse animal16,20. Portanto, não é surpreendente que mulheres cujos animais de estimação são alvo de abuso por parte de seus agressores enfrentem uma variedade de consequências psicológicas e emocionais adversas, incluindo sentimentos intensificados de medo, raiva, culpa e luto16,17.
Ademais, constatou-se que em 9,52% dos artigos (2/21), os animais demonstraram tentativas de intervenção ao defender suas tutoras nos momentos em que estas estavam sendo agredidas por seus parceiros16,20. Entretanto apenas esses dois artigos relataram essas condições, os demais não informaram se os animais interviam quando as mulheres eram agredidas (Quadro 3). Importante salientar que animais constantemente submetidos ao estresse manifestam uma variedade de comportamentos ansiosos, como imobilidade, deslocamento constante, movimentos circulares e inquietação, assim como comportamentos de medo, incluindo fuga, evitação, postura defensiva, fobias e episódios de ataques de pânico36. Além disso, os efeitos fisiológicos do estresse prolongado ocasionam aumento da pressão arterial, perda de libido, infertilidade, inibição do crescimento, alterações na função imunológica, inibição de respostas inflamatórias e modificações cognitivas, tais como diminuição da capacidade de atenção e concentração37.
As intervenções para animais de companhia que testemunham ou sofrem abusos são difíceis, uma vez que os animais têm legalmente um proprietário e a defesa da sua remoção forçada geralmente requer o envolvimento de organizações de bem-estar animal. Na ausência de alojamento no local para animais de companhia em abrigos de violência doméstica, a resposta recomendada é incentivar as mulheres a abandonarem o ambiente familiar, levando consigo os seus animais ou colocando-os aos cuidados de um cuidador adotivo ou de proteção animal, enquanto as mulheres se mudam para locais seguros com seus filhos25.
Entre os principais tipos de abuso animal perpetrados por parceiros íntimos, destacaram-se consistentemente em todos os estudos desta revisão sistemática: abuso físico6,8,10,13,18-20,26; abuso emocional, manifestado por meio de ameaças5,11,12,14; e a combinação de abuso físico e emocional4,15,17,21-25. Além disso, também foram relatados casos de abuso envolvendo três aspectos: físico, emocional e sexual16. Exemplos de abusos físicos relatados em um estudo foram: chutes, balançar o animal segurando pela cauda, arremessar o animal, socos, afogamentos, queimá-los com cigarro, administração de álcool e até mesmo morte dos animais10 (Quadro 3).
Motivações para o abuso de animais no contexto da violência doméstica
No que diz respeito aos principais motivos para a perpetração do abuso animal, 66,67% (14/21) dos estudos destacaram o controle sobre a mulher como o principal motivo para o abuso infligido a seus animais de estimação4,8,10-12,15,16,18-20,22,23,25. Nas amostras pesquisadas, a maioria das mulheres que foram vítimas de abuso, afirmou acreditar que os maus-tratos infligidos por seus parceiros a seus animais de estimação foram impulsionados pelo anseio de exercer controle sobre elas.
Se os agressores, de fato, utilizam os animais estrategicamente para prejudicar deliberadamente as vítimas humanas que zelam por esses animais, então a ocorrência de abuso animal pode ser menos provável quando não há uma ligação próxima entre a vítima de VPI e seus animais de estimação5. Essa forma de instrumentalização dos animais implica no uso tático dos mesmos como ferramenta para alcançar objetivos específicos, tais como exercer controle, infligir sofrimento ou manipular emocionalmente as vítimas humanas5. Adicionalmente, sugere-se que as ameaças e danos reais aos animais de estimação podem estar mais profundamente vinculados ao abuso emocional e psicológico por parte de parceiros íntimos21. Sob tais circunstâncias, o abuso físico direcionado aos animais de estimação pode não ser indispensável quando o controle é mantido por meio do abuso físico direcionado à mulher12.
Logo, é plausível argumentar que o abuso de animais de estimação seja utilizado como uma tática de controle coercitivo contra sobreviventes e/ou como uma abordagem disciplinadora/punitiva direcionada aos animais, pode ser percebido como uma manifestação singular de violência familiar. Essa dimensão específica de violência pode complicar as experiências de Violência por Parceiro Íntimo e a elaboração de estratégias de segurança38. Em entrevistas com mulheres vítimas de violência doméstica por seu parceiro, muitas delas relataram que estes apresentavam ciúmes da relação afetiva com seus animais, fatores que também poderiam influenciar na motivação para abuso dos mesmos4.
Ademais, ao serem indagadas sobre as questões que mais incomodavam seus parceiros em relação aos animais de estimação da família, mulheres em abrigos nos Estados Unidos revelaram que 95% dos agressores de animais de estimação eram apontados por terem expectativas irreais sobre esses animais. Tais expectativas incluíam sentir-se incomodado com a falta de respeito que o animal demonstra em relação ao agressor, o animal não reconhecer a autoridade do agressor, danos à propriedade causados pelo animal, e percepções negativas dos outros em relação à família devido ao comportamento inadequado do animal. Em comparação, 64% dos não agressores de animais de estimação tinham preocupações semelhantes13.
Preocupações com animais de estimação e a decisão de deixar o parceiro
Ao verificar os artigos que descreviam alguma demora ou preocupação em deixar o parceiro agressor em detrimento de seus animais de estimação, um total de 76,19% (16/21) dos estudos mencionaram tal condição4-6,8,10-12,14,16-18,20,21,24-26. A decisão de uma mulher de se separar de um parceiro abusivo é manifestamente influenciada por uma variedade de elementos, abrangendo considerações financeiras, inquietações relacionadas ao bem-estar emocional e físico de seus filhos, bem como uma avaliação criteriosa do risco de segurança inerente ao ato de deixar um parceiro que pode persistir em perseguições e retaliações de natureza física, econômica ou legal5.
Em síntese, a consideração pelo bem-estar dos animais de estimação emerge como apenas um entre os diversos fatores que permeiam a tomada de decisão das mulheres submetidas a situações de abuso5. No entanto, a compreensão dos obstáculos que as mulheres enfrentam ao encerrar relações abusivas, o impacto dessas dificuldades nas decisões tomadas por elas e o processo que conduz à escolha de deixar os agressores é importante para investigar como a preocupação das mulheres agredidas com relação aos seus animais de estimação influencia suas decisões24. Portanto, infere-se que os agressores direcionam suas atitudes lesivas aos animais, porque estes percebiam que as mulheres estavam emocionalmente ligadas a esses animais de estimação, de modo que ameaçar ou machucar o animal se transformariam em estratégias eficazes para intensificar o abuso emocional das vítimas5.
Em uma pesquisa qualitativa, no qual envolveu entrevistas com 10 vítimas de violência doméstica que tinham animais de estimação em abrigos, foi constatado que 40% dessas mulheres retardaram a busca por abrigo devido à apreensão acerca de seus animais de companhia, haja vista não haver algum local específico para deixá-los em segurança, ou mesmo pelo fato do abrigo não aceitar a presença de animais de estimação16. Observou-se também que àquelas que não tinham filhos apresentavam maior probabilidade de relatar que sua decisão de buscar abrigo foi afetada pela preocupação com seus animais de estimação do que as mulheres com filhos. Tal dado pode sugerir que aquelas com filhos consideram inicialmente o bem-estar destes antes da tomada de decisão, enquanto aquelas sem filhos podem considerar seus animais como sendo filhos, haja vista a sua ligação emocional com estes24.
Outros autores4 constataram que 48% das vítimas consideraram retornar ao ambiente domiciliar junto ao seu agressor devido a preocupações oriundas de ameaças aos seus animais de estimação, enquanto 25% admitiram ter retornado anteriormente ao agressor por essa razão. Além disso, naqueles casos em que realmente os animais foram de fato maltratados anteriormente, 35% das vítimas regressaram ao lar onde sofreram violência devido receio de prejuízos maiores aos seus animais perpetrados pelos seus ex-companheiros.
A preocupação com os animais, não apenas afetou a decisão de deixar o ambiente abusivo, mas como também de permanência em casas de apoio às vítimas de violência doméstica, haja vista, boa parte destas não acolherem os animais6,14,16. Mulheres cujo parceiros haviam ameaçado seus animais de estimação tinham aproximadamente sete vezes mais chances de relatar que a preocupação com seus animais de estimação havia afetado sua decisão sobre sair ou ficar com seu agressor5. Em um estudo realizado no Canadá, cerca de 47% das entrevistadas indicaram que era provável ou extremamente provável que teriam antecipado sua saída se tivessem a oportunidade de trazer seus animais de estimação consigo11. Corroborando com estudo realizado na Irlanda em que 84,62% de mulheres afirmaram que achariam útil uma instalação pra que acolhesse seus animais, de modo que também teriam antecipado a sua saída do ambiente abusivo18.
Fica evidente que as mulheres, por vezes, resistem a deixar um ambiente hostil devido à sua preocupação com os animais de estimação. Isso revela um vínculo emocional significativo, chegando algumas vezes a considerar esses animais como membros da família. Se existissem instalações adequadas para acomodar seus animais, é provável que muitas delas antecipassem a saída do ambiente hostil, assegurando o bem-estar de seus animais em um local seguro. Deste modo é essencial que sejam realizadas estratégias de intervenção para dirimir tais condições, como a adoção de políticas públicas, sejam essas, não apenas visando a acomodação desses animais no ambiente do abrigo, mas também de capacitação de profissionais desses locais, o estabelecimento de parcerias entre tais abrigos e organizações de proteção animal, serviços sociais e governamentais, criando assim uma rede de apoio abrangente que atenda às necessidades de todas as vítimas, sejam essas humanas ou animais.
Limitações
Quanto às limitações dos estudos analisados, 47,62% (10/21) não forneceram informações sobre estas5,8,10,12,16-19,22,24. Entre os artigos que abordaram suas limitações, destacam-se aspectos que impactam a validade e generalização dos resultados. Inicialmente, a composição voluntária da amostra6,11 introduz um possível viés de seleção, comprometendo a representatividade das famílias abordadas. A falta de avaliação das diferenças entre famílias de abrigos e aquelas que permanecem em casa6 restringe a compreensão das nuances associadas à violência doméstica. Além disso, a pequena amostra11 impede a extrapolação dos resultados para a população em geral. A influência da cultura regional4,13 direciona o foco apenas para sobreviventes que não buscam serviços específicos.
Além disso, a ausência de informações sobre recusas de participação e preenchimento incompleto de questionários podem impactar a qualidade dos dados14. A dependência exclusiva das percepções das mulheres sobre a intenção e motivação dos agressores em relação ao abuso animal é ressaltada como uma limitação5, indicando possível falta de consciência ou minimização por parte das participantes. A ausência de um grupo de comparação21, juntamente com a dependência exclusiva dos relatos das mulheres sobre o comportamento dos parceiros e a falta de acesso direto às informações fornecidas pelos agressores22, 23, contribui para limitar a compreensão completa da população estudada. Reconhece-se também a significativa limitação das disparidades demográficas entre os grupos de violência doméstica e não doméstica26. Em síntese, essas limitações4-6,11,13,14,21-23,26 evidenciam a complexidade da interpretação dos resultados, ressaltando a importância de considerar as restrições metodológicas e contextuais do estudo.
CONDIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos analisados evidenciam que as mulheres vítimas de violência doméstica que buscaram refúgio em serviços especializados eram predominantemente casadas, mantinham relacionamentos heterossexuais, sendo seus companheiros os principais agressores. Nesse contexto, os maus-tratos a animais de estimação surgem como uma forma de coerção e controle, fazendo parte da dinâmica abusiva para reforçar o domínio sobre as mulheres. Ademais, a preocupação com a segurança dos animais frequentemente constituiu um obstáculo significativo para a busca por abrigo, especialmente devido à falta de serviços especializados que atendam a essa demanda específica. Esses achados apontam para padrões e fatores de risco importantes, ressaltando a necessidade de desenvolver políticas públicas inclusivas e estratégias de intervenção que garantam a proteção integrada tanto das mulheres quanto de seus animais de estimação, para auxiliar no rompimento do ciclo da violência doméstica.
Considerando as limitações identificadas, recomenda-se que pesquisas futuras adotem metodologias que ampliem a diversidade amostral e incluam múltiplas perspectivas, como a dos agressores, além de investigarem intervenções integradas para a proteção simultânea das mulheres e seus animais. Tais estudos poderão aprofundar a compreensão da dinâmica da violência doméstica e subsidiar o desenvolvimento de políticas e práticas mais eficazes e contextualizadas.
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