0339/2025 - DENTISTRY TAUGHT OUTSIDE COLLEGE: SPACES, ACTORS AND CONTESTED GROUND
A ODONTOLOGIA ENSINADA FORA DA ESCOLA: ESPAÇOS, ATORES E TERRENOS EM DISPUTA
Author:
• Ricardo Ferreira de Paula - Paula, RF - <rfpaula@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1575-2905
Co-author(s):
• Enoque Fernandes de Araújo - Araújo, EF - <enoquefa1010@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3239-1467
• Marcelo de Castro Meneghim - Meneghim, MC - <marcelomeneghim@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2673-3627
• Pedro Augusto Thiene Leme - Leme, PAT - , SP - <pedrotl@unicamp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3894-3189
Abstract:
This study investigates how ideologies intrinsic to the medical/dental-industrial complex are incorporated into the social representations within the field of dentistry, fostering consumerism and promotion within the sector. The data were obtained through semi-structured interviews conducted with 16 dentists (from both public and private sectors) and 25 dental students from public and private dental schools, and analyzed using the Collective Subject Discourse (CSD) method. Field observations were conducted both in person and in social networks, accompanied by field diary entries, and later combined within the context of the discussion. We analyzed the virtual profiles mentioned in the interviews (40 personal, 29 educational sector, and 21 companies in the dental sector) and extracted a CSD with six categories related to the theme. It can be concluded that the medical/dental-industrial complex impacts dentists and dentistry students. Social networks, as unregulated spaces, enable dental-influencers to promote consumerism aligned with the market, indiferente to traditional academic and scientific production. Promoting ethical scientific dissemination is essential. Regulatory policies in Collective Health and dental education must address social networks' role in education.Keywords:
Education, Dental; Social Networking; Medicalization; MarketingContent:
A formação do cirurgião-dentista tem início na graduação em Odontologia, período durante o qual o estudante está imerso na academia, um ambiente estruturado pelas políticas e diretrizes curriculares obrigatórias1. Contudo, como pessoa imersa em determinado contexto histórico mediado por redes digitais, também começa a interagir no campo odontológico para além dos limites da instituição2, inclusive em ambientes virtuais, como as redes sociais, o que talvez possa influenciar sobre seus comportamentos, opiniões e percepções3.Embora os estudantes contemporâneos já tenham contato com esses espaços virtuais antes de ingressarem na faculdade, a partir do momento em que se identificam como agentes ou pretendentes do campo odontológico, passam a interagir em ambientes específicos, como perfis de redes de grandes empresas do setor, escolas de formação e profissionais influenciadores. A observação empírica desses ambientes permite inferir a hipótese de que consistem em espaços significativos para a formação e reprodução de uma determinada cultura odontológica, um habitus, com novos atores ocupando posições dominantes do campo, anteriormente preenchidas por agentes mais próximos da academia e da pesquisa.
No conceito de Pierre Bourdieu, o campo é um espaço estruturado de posições sociais, ocupadas mediante diferenças de capital específico. O direito de ingresso é conferido pelo reconhecimento dos valores, regras e história do campo. Em outras palavras, um agente dominante em um campo exige que o aspirante possua capital e se comporte de acordo com o habitus desse campo, como em um microcosmo social com valores, objetos e interesses específicos4.Ainda na teoria de Bourdieu, o habitus refere-se a um conjunto de disposições internalizadas, que influenciam como percebemos, sentimos, agimos e pensamos. Essas disposições são adquiridas de forma inconsciente, por meio da assimilação das estruturas sociais, e se manifestam como comportamentos que parecem naturais em contextos específicos. O habitus é o que sustenta condutas regulares e previsíveis dentro de determinado campo social4.Dessa forma, a problemática sobre as características e os habitus dos cirurgiões-dentistas egressos dos cursos de graduação deve considerar a socialização e a incorporação de conhecimentos para além do que está previsto nos currículos, sobretudo no contexto atual, em que a conexão do aspirante ao campo da odontologia se dá mediante poucos cliques.
Este estudo propõe uma análise sobre a obtenção de conhecimento, formação de gostos e preferências profissionais no campo odontológico, considerando as redes sociais virtuais e outros espaços concretos disputados pelos agentes dominantes do campo.A mídia e os congressos odontológicos, pautados pelo complexo industrial médico-odontológico, procuram ocupar diversos espaços, inclusive o acadêmico, sendo pertinente explorar as representações sociais dos circulantes desse campo5,6.
O desenvolvimento dessa pesquisa justifica-se pela necessidade de ampliar a compreensão sobre os elementos do campo odontológico que moldam o habitus do cirurgião-dentista durante e após sua educação e socialização na graduação. O objetivo é explicitar influências que vão além da educação formal/tradicional e ampliar a compreensão sobre a ocupação dos espaços de dominação dentro do campo.
Compreender esse cenário em maior profundidade poderá servir como subsídio para políticas públicas de ensino profissional, diretrizes curriculares nacionais e projetos pedagógicos dos cursos. Tal análise pressupõe que o processo educativo não é neutro, mas sim atravessado por relações de poder que reproduzem desigualdades e exclusões, propondo um olhar crítico sobre a limitação de se pensar a estrutura curricular sem levar em consideração os mecanismos invisíveis de dominação no campo.
Métodos
A presente pesquisa foi submetida e aprovada pelos Comitês de Ética em Pesquisa (CEP) das universidades envolvidas (CAEE: 68298423.3.0000.5418 e 68298423.3.3002.0295). Os dados foram obtidos de diferentes formas, e depois combinados no contexto da discussão: I) entrevistas semidirigidas com 16 cirurgiões-dentistas (setores público e privado) e 25 alunos de Odontologia de duas universidades (pública e privada) analisadas pelo método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)8, II) observação de campo em universidades, associações de classe, congressos e jornadas acadêmicase III) observação de campo das redes virtuais, acompanhadas por registros em diário de campo.
O pesquisador principal, cirurgião-dentista, branco, do sexo masculino, morador do interior do São Paulo, atuante nos setores privado, há 21 anos, e público, há 10 anos, conduziu as entrevistas. Durante a fase de construção do projeto de pesquisa, houve reuniões de balizamento em que profissionais de outras áreas (psicólogos e psiquiatras, pesquisadores com experiência no método) orientaram e colaboraram com a preparação do pesquisador.
Com vistas a incorporar no estudo uma polifonia sobre os praticantes do campo odontológico, buscou-se representantes de quatro diferentes nichos: estudantes de faculdade pública, estudantes de faculdade particular, cirurgiões-dentistas que trabalhavam exclusivamente em serviço privado e cirurgiões-dentistas com vínculo no serviço público (ainda que pudessem dividir carga-horária no setor privado). Trata-se de uma amostra de conveniência que incluiu pessoas maiores de idade, sem distinção de gênero ou raça, que fossem estudantes de Odontologia com ao menos um semestre do curso, ou que fossem cirurgiões-dentistas formados com até 60 anos de idade.
Os participantes estudantes de universidade pública foram convidados a participar pessoalmente e aqueles que aceitaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) eram conduzidos a uma sala de aula para serem entrevistados.Os participantes estudantes de universidade particular foram abordados por um professor local, que lhes solicitou um número de telefone para que o pesquisador principal pudesse entrar em contato, via mensagem eletrônica. Aqueles que aceitaram o TCLE foram entrevistados por videochamada. O professor local não teve acesso a quem participou, ou não, da pesquisa.O pesquisador principal não conhecia os estudantes de ambas as universidades.Os profissionais dos setores público e privado foram convidados a participar por mensagens eletrônicas e, aqueles que aceitaram, receberam o TCLE e agendaram as entrevistas. Eles conheciam o pesquisador, mas não tinham relações de dependência e não havia como outros colegas saberem quem participou, ou não, das entrevistas.
Para que não houvesse a presença de não-participantes, durante as entrevistas estiveram presentes apenas o pesquisador e o participante, sendo que, quando realizadas por videochamadas, era solicitado ao participante que estivesse em sala privada. A escolha por entrevista presencial ou por videochamada se dava por conveniência, conforme a disponibilidade do participante.O Quadro 1 informa quantas entrevistas presenciais ou por videochamadas foram realizadas, assim como a média de tempo das entrevistas em cada grupo, assim como apresenta os dados sociodemográficos dos 41 entrevistados: 25 estudantes e 16 cirurgiões-dentistas. Não houve contagem daqueles que não quiseram participar da pesquisa e não lhes foi cobrada uma justificativa. Apenas o áudio foi gravado e nenhuma entrevista foi refeita. O único interesse era o científico, não havendo escusas que pudessem motivar conflitos de interesse.As entrevistas foram conduzidas a partir de roteiro composto por questionário sociodemográfico e perguntas disparadoras. A pergunta dava ensejo a uma dinâmica de conversa que era conduzida com vistas aos objetivos da pesquisa. As perguntas disparadoras constam no Quadro 2.
Inicialmente, havia a intenção de conhecer o participante, que poderia relatar suas motivações mais intrínsecas em relação à Odontologia e dar ensejo às motivações, apreços ou mesmo desgostos nesse campo. Também era importante trazer à tona pensamentos relacionados ao mercado em que os entrevistados atuavam ou desejavam atuar, deflagrando percepções sobre o papel do complexo odontológico sobre suas carreiras, perspectivas em relação ao futuro e sobre o investimento em conhecimento. As perguntas sobre redes sociais levaram a conversa para esse contexto. Conhecer os perfis que os entrevistados seguiam mostrou-se importante para fundamentar o entendimento sobre o ensino da odontologia fora dos ambientes universitários, assim como o assunto dos congressos, jornadas e feiras odontológicas.Durante as entrevistas havia a observação participante, em que o pesquisador anotava os comportamentos, expressões, tom de voz, inquietações ou demonstrações de humor que os entrevistados apresentavam. Esses dados eram somados aos textos transcritos de maneira a possibilitar a análise dos discursos por todos os pesquisadores.
As entrevistas ocorreram entre 13 de maio de 2023 a 7 de novembro de 2023 e, durante o processo, a saturação de dados foi discutida entre os pesquisadores.Nenhum participante requereu as transcrições, portanto não houve feedback. Não houve evidência de temas secundários não relacionados ao tema principal. Os dados colhidos e os resultados se relacionam de maneira consistente. Não é possível identificar quem é o autor das citações constantes no DSC. Esta pesquisa foi adequada aos critérios do checklist ConsolidatedCriteria for ReportingQualitativeResearch (COREQ)8.
Os métodos qualitativos são aplicados a situações concretas, referentes a relatos de indivíduos em que se busca compreender os sentidos em um âmbito de investigação científica. Estende sua atenção à fala do sujeito, com foco na sua formação/educação, aos ambientes e/ou ao modo como esses entrevistados manejam suas vivências7.Para a análise dos dados dos DSCs, foi utilizada técnica qualiquantitativa de processamento de dados9, embasada pela Teoria das Representações Sociais10. O método considera o objeto de estudo (a opinião de um grupo), uma variável ao mesmo tempo qualitativa e quantitativa. Qualitativa porque, segundo Lefévre&Lefévre (2010)7, o que as pessoas têm a dizer deve ser tratado como uma incógnita, e quantitativo, pois as opiniões possuem diferentes graus de compartilhamento dentro do grupo estudado, o que é passível de mensuração.O DSC é um método de análise de respostas a perguntas abertas, que resulta, ao final do processo, em depoimentos coletivos feitos a partir de diferentes depoimentos individuais com vistas a produzir o efeito do coletivo expresso diretamente10. O grau de compartilhamento (GC) representa, numericamente, a proporção de pessoas que compartilham ideias semelhantes (categorias). O GC das categorias encontradas nos DSCs está discriminado no Quadro 3. Tais resultados são obtidos através de uma série de operações de organização de dados sob a forma de texto10.As transcrições, o fichamento dos dados, a identificação das expressões-chave, as ideias centrais e as categorias foram realizadas com o auxílio dos softwares Google Documentos e Google Planilhas. O uso consciente e sistemático do diário de campo contribui para que a observação participante seja de fato útil a uma pesquisa qualitativa, é uma base sólida de registro do dia a dia de um universo populacional11. Nessa pesquisa, o diário de campo se desenvolveu antes, durante e após a fase de entrevistas, de maneira que a observaçãofeita pelo entrevistador ocorresse em diversos ambientes (universidades, associações de classe, congressos e jornadas acadêmicas).Os perfis pessoais citados nas entrevistas foram checados nos Conselhos Regionais de Odontologia com vistas a verificar quem, de fato, era graduado em Odontologia e/ou especialista em alguma área odontológica, assim como na Plataforma Lattes, para a busca de informações sobre pós-graduações e o trabalho como professor universitário.
Resultados
Com o intuito de ilustrar os dados obtidos através do diário de campo, relacionamos abaixo dois excertos que descrevem uma jornada acadêmica de universidade e um congresso odontológico internacional, em seguida, serão apresentados os dados extraídos das entrevistas.
1. 31/5/2023, local: Jornada Acadêmica, Piracicaba-SP:
Observou-se uma divisão clara: uma feira comercial com poucos expositores em que os alunos apenas passavam e, naturalmente, demonstravam curiosidade em experimentar materiais e equipamentos. E havia a parte científica, com exposição de painéis, além de palestras diversas. Nesses espaços havia mais frequentadores e mais entusiasmo. Os patrocinadores do evento, empresas do ramo de higiene bucal, promoviam suas marcas por meio de mídias físicas, como panfletos, e ofereciam palestras direcionadas à divulgação de seus produtos, com a distribuição de brindes após as apresentações.
2. 21/01/2024, local: Congresso Odontológico Internacional, São Paulo-SP:
Percebeu-se que, desde a entrada no local do evento, o foco estava na feira comercial, que contava com estandes suntuosos, muitos com palestras patrocinadas que eram altamente disputadas pelos congressistas. As empresas atraíam a atenção dos participantes com comida, bebida, brindes, e até mesmo pela exploração da imagem de pessoas famosas. Essas palestras eram rápidas, com alta rotatividade de público e promoviam os produtos e materiais das marcas patrocinadoras. Em contraste, em uma palestra da grade científica houve ênfase no conteúdo acadêmico e cuidado ao mencionar marcas e produtos durante a exposição.
Os participantes da pesquisa tiveram a oportunidade de indicar quais perfis seguiam nas redes sociais: identificou-se um total de 40 perfis pessoais mencionados e encontrados em cinco redes sociais. A maioria possuía perfil em mais de uma rede e alguns citados tinham múltiplos perfis: 38 no Instagram; desses, 30 também tinham perfil no Facebook, 25 no YouTube, 22 no TikTok e 18 no LinkedIn. Apenas duas pessoas não tinham perfil no Instagram, mas ambas possuíam perfis no Facebook e LinkedIn.Outros 50 perfis de redes sociais foram citados nas entrevistas: 29 de universidades, faculdades ou perfis relacionados ao ensino, como portais de cursos, conselhos de classe, congressos acadêmicos e ligas acadêmicas; 21 de empresas do setor odontológico.Todos os perfis citados foram visitados e “seguidos” pelo pesquisador principal, assim como outros perfis sugeridos pelas redes sociais, de maneira a agregar ao diário de campo não só anotações, mas também capturas de tela acompanhadas de comentários.Embora alguns entrevistados tenham relatado pouco uso e interesse limitado por redes sociais, todos afirmaram seguir perfis relacionados à área de Odontologia. Tanto os estudantes quanto os profissionais seguiam perfis de seus professores, de sua universidade ou de locais que tenha estudado. Quatro perfis pessoais citados tinham mais de um milhão de seguidores, dez com mais de 100 mil seguidores e 26 com menos de 100 mil seguidores. A Figura 1 apresenta uma nuvem de palavras com os perfis pessoais citados, em que, quanto maior o tamanho da fonte, mais menções nas entrevistas ocorreram. Essa contagem foi feita logo após o término das transcrições das entrevistas.
O Gráfico 1 apresenta o grau de titulação dos responsáveis pelos perfis encontrados, com informações extraídas da Plataforma Lattes (nível acadêmico de Mestrado ou Doutorado e se tinha algum vínculo com universidade) e dos sites dos Conselhos Regionais de Odontologia (graduação em Odontologia e especialidades). Assim, dos 10 perfis que possuíam apenas a graduação, nenhum informava ser professor universitário, ainda que seis ministrassem cursos on-line. Seis perfis pertenciam a especialistas, dos quais um era professor universitário, enquanto dois participavam de cursos on-line. Entre os nove perfis de Mestres, cinco eram professores universitários, e seis participavam de cursos on-line. Por fim, entre os 15 perfis de doutores, 11 eram também professores universitários e seis envolviam-se com cursos online.Dentre as instituições de ensino, conselhos de classe e grupos de estudo, um total de 29 perfis diferentes foram citados, sendo que 34 entrevistados citaram os locais em que estudam ou estudaram. O maior congresso odontológico do Brasil foi citado por 21 pessoas entrevistadas, além de 14 participantes que mencionaram associações de classe e 6 que mencionaram outras instituições de ensino.Das empresas mencionadas, 24 pessoas citaram perfis do ramo de higiene bucal, 12 de marcas de materiais odontológicos, 10 de lojas de materiais dentários (“dentais”), 5 de marcas de instrumentos e 4 de marcas de equipamentos odontológicos.
Os DSCs encontram-se na sequência. Somam-se às categorias algumas observações ilustrativas do diário de campo, demonstrando a combinação de métodos para fomentar a compreensão do pesquisador. O Quadro 3 especifica o GC de cada grupo.
Categoria 1 - Pessoas próximas e dentistas me influenciaram na escolha pela Odontologia
DSC: Eu tive a influência de amigos e familiares, que me disseram “Por que você não tenta? Odontologia é uma área muito legal”. E me lembro de ter uma dentista na infância que eu achava incrível a forma como ela tinha carinho em atender, pretendo dar essa atenção para os pacientes e assim poder fazer a diferença. É uma área que me identifico muito e amo o que faço, quando eu terminei o ensino médio, comecei a ver muitos vídeos no Youtube e Instagram e fui pegando amor naquilo, fui acompanhando os dentistas e acho que as redes sociais me influenciaram mais ainda.
Diário de campo:
30/06/2024: captura de tela em que o influenciador mostra uma mensagem que recebeu de uma seguidora que diz: “Você inspirou minha filha a fazer odontologia, ela está terminando o 1º ano”.
Categoria 2 - Preciso me capacitar sempre
DSC: A gente sempre tem que estar se atualizando sobre as coisas, estar com um maior leque de opções. Vejo muitos anúncios de cursos e isso me interessa muito, mesmo alguns on-line. Já fiz aperfeiçoamento em diversas áreas, procuro participar de hands-on e cursos de menor duração, gostaria de fazer outros em áreas que na minha graduação foram deficientes. No começo da carreira, como todo recém-formado, achava que tinha que fazer curso de tudo, fiz vários, não dá para parar, não é?
Diário de campo:
09/01/2023: Captura de tela em que o influenciador mostra a foto de si sobre o palco, segurando um microfone com os dizeres “O show vai começar” e informa que o espectador pode receber um passo a passo sobre como lidar com o paciente infantil.
Categoria 3 - No serviço público não preciso me especializar tanto
DSC: O serviço público é outra coisa, outro rumo na profissão, ou seja, ajudar a população que mais necessita. Os caminhos na prefeitura foram me direcionando para as áreas que mais atuo, tenho aperfeiçoamentos, atualizações, já sei o necessário para o que eu faço no dia a dia. A intenção em fazer um novo curso seria melhorar a minha parte técnica naquilo que faço fora daqui. O consultório particular é outro foco.
Diário de campo:
26/01/2024: captura de tela em que o profissional demonstra revolta e escreve “quem vai ao congresso não se preocupa com quem atua no SUS (...) só vai quem tem grana”.
Categoria 4 - Interajo com muita coisa de Odontologia nas redes sociais
DSC: Sigo meus professores, alguns dentistas famosos e perfis de divulgação da Odontologia em geral, gosto de vê-los fazendo o trabalho. Às vezes, vejo um procedimento com um material que me interessa, para ver se dão alguma dica. Também sigo minha faculdade e outras instituições que dão cursos. E marcas de instrumentos, dentais e empresas de higiene bucal. Já fiz consultorias on-line e elas me mandam amostras por conta disso, me dão assistência no consultório, dicas e mandam informações por e-mail. Aparecem anúncios e eu vou vendo muita coisa mesmo sem seguir.
Diário de campo:
16/12/2023: captura de tela que mostra um estudante, o logotipo de sua universidade e uma frase informando que ele se tornará embaixador “futuro profissional” de uma marca de produtos de higiene bucal.
Categoria 5 - Acho os congressos fracos, é muito marketing
DSC: A gente tem que filtrar o que está aparecendo no mercado, eles aparecem com produtos revolucionários, mas fico um pouco perdido, costumo desconfiar um pouco de produto muito diferente. Acho os congressos muito fracos, os cursos são breves e superficiais. Ultimamente, os maiores estandes são relacionados à harmonização, estou percebendo que a “Odontologia mesmo” tem ficado de canto. Na feira, não vejo vantagem nos preços. Hoje, a informação vem de outras formas e, quando chega lá, já não tem novidade, é muito marketing, tentam te empurrar qualquer coisa para você comprar, no final você percebe que é só para vender produtos. As feiras comerciais eram muito melhores antigamente! Tem fila para entrar, fila para palestras, isso desanima.
Diário de campo:
24/01/2024: captura de tela em que o profissional mostra uma fila de pessoas esperando por brindes e faz um relato sobre o “clima” do congresso.
27/01/2023:
Assisto a uma palestra de 30 minutos sobre toxina botulínica. Era um assunto denso que exigiria mais tempo para ser apresentado. Ganhei uma bola antiestresse, caneta e sacola para divulgar a marca.
27/01/2024:
O estande da empresa de harmonização orofacial é um dos maiores do congresso.
A fila para assistir a uma palestra e ganhar brindes da empresa de higiene bucal demora mais de meia hora.
Categoria 6 - O lado positivo dos congressos e feiras
DSC: Conheci áreas que não tinha noção de como eram, ampliou a minha visão da Odontologia. Na feira comercial, dá para tirar dúvidas sobre os materiais, pegar na mão, experimentar equipamentos. Antes das palestras, podemos pegar amostras, panfletos e cupons para concorrer a brindes. Tem muitos produtos que não são da nossa realidade, além da oportunidade de encontrar profissionais de referência que a gente segue. Esse mercado motiva as pesquisas e as empresas a fazerem coisas melhores. Os congressos são uma forma muito confiável para a gente coletar informações, tanto sobre pesquisas novas que estão sendo desenvolvidas, quanto de técnicas diferentes.
Diário de campo:
27/01/2024:
Assisto a uma palestra, paga, por uma hora. O professor enfatiza não ser patrocinado. Ele demonstra compromisso com a ciência e critica a “adoração aos gurus da biomimética”.
27/01/2024:
Encontro a empresa de manequins odontológicos mencionada por alguns entrevistados. As pessoas manuseiam os produtos e estes podem ser adquiridos.
Discussão
O campo acadêmico, certamente, não é o único a exercer influência na formação profissional do cirurgião-dentista2,3. Tesser et al.5relatam que a mídia e os congressos odontológicos, pautados pelo complexo industrial médico-odontológico, procuram ocupar diversos espaços, inclusive o acadêmico, seduzindo os futuros profissionais. Como visto na categoria 1, que teve GC de 78,04%, a admiração por um profissional e seu ambiente de trabalho podem influenciar, desde o momento da decisão pela profissão, o futuro cirurgião-dentista.
Bortoli et al.6, discutindo o que definem por mercantilização da profissão, observaram que os problemas sobre os quais a Odontologia se debruça passaram a se confundir com serviços e produtos comercializáveis, em fiel compromisso com o mercado, além de afirmarem que a propaganda de produtos e serviços, a partir da distribuição de brindes, cursos e oficinas de autopromoção em congressos, é também motor da medicalização. Os autores destacam que “a Odontologia precisa direcionar politicamente suas ações em prol do bem viver”: menos mercadológica e que promova emancipação humana. De maneira antagônica, foi anotado no diário de campo no dia 21/1/2024:
Há também um grande painel que mostra um colutório que promete manchar menos os dentes, ao lado, um pincel clareador dentário e a propaganda do creme dental dessensibilizante. Parece perfeito: manchar, clarear, dessensibilizar.
De maneira similar foi registrado na categoria 4 relatos inferindo a exposição à propaganda em redes sociais de empresas, de instituições ou mesmo influenciadores que vendem cursos, enquanto na categoria 5 fica evidente que perceber a influência do mercado não significou neutralizar ou se proteger dessa influência.
Leme et al.12 relatam que apesar do setor “Promoção de Saúde” ser enaltecido dentro da Política Nacional de Saúde Bucal, cirurgiões-dentistas no contexto do serviço público preservam atitudes contraproducentes ao conservarem práticas próprias do núcleo duro da Odontologia de mercado, em detrimento às do campo da Saúde Coletiva, enquanto políticas públicas precisariam identificar as limitações da odontologia e agir para otimizar a saúde na população. Como aparece na categoria 2, existe uma ânsia pela capacitação ou, mais que isso, pela hiperespecialização, seja para suprir deficiências, ou para satisfazer ao mercado. Em contraste, na categoria 3, uma parcela dos profissionais do setor público relata desinteresse por capacitações, como se o serviço público não merecesse a incorporação de novas tecnologias.
Para Chaves et al.13, uma perspectiva sociológica pode contribuir para o entendimento do complexo médico/odontológico industrial e sua pertinência com as instituições ligadas ao campo de serviços à saúde no Brasil. Os autores relatam que a Odontologia dispõe de dois campos econômicos: o universal, que foca na saúde coletiva, em proteção à saúde e que promove o discurso da saúde para todos, e o campo do mercado, que se constitui pelo espaço de relações de poder entre proprietários das indústrias, companhias e distribuidores que buscam monopolizar o mercado para si.
Manfredini e Botazzo14 relatam que a indústria de equipamentos odontológicos tem espaço privilegiado para divulgação de materiais, técnicas e equipamentos nos congressos organizados pelas entidades odontológicas e que, nesses eventos, o espaço físico destinado à atualização técnico-científica é mínimo, frente ao ocupado pela indústria nas feiras comerciais.
Em nossas observações, constatamos que as empresas usam seus espaços de maneira a realizar palestras patrocinadas, rápidas, muitas vezes com o apoio de influenciadores que não são acadêmicos, mas são figuras que detém capital específico do campo nas redes sociais.
Essa constatação foi compartilhada também durante as entrevistas, principalmente na categoria 4, que trata de assuntos relacionados às redes sociais e nas categorias 5 e 6, que falam sobre congressos e feiras odontológicas. Esses discursos evidenciam dinâmicas do campo do mercado, que se apropria dos espaços acadêmicos e das redes sociais, procurando influenciar até mesmo aqueles que não participam dos congressos, ou que fazem pouco uso das mídias, fomentando o consumo.
Spallek et al.3 relatam que as mídias sociais têm um importante impacto nas relações pessoais e profissionais, incluindo a maneira como trabalhamos. Os autores analisaram como o mundo das mídias sociais mudou a educação em Odontologia reportando que, indiferentemente aos meios formais de ensino, quando em redes sociais, os alunos se comunicam de maneira espontânea, múltipla, fragmentada e em tempo real, e confiam nas informações coletadas desta maneira, levando à aquisição do conhecimento além das bordas da escola, ou seja, “a faculdade já não é mais detentora da palavra final dos assuntos relacionados ao ensino odontológico”. Isso foi documentado no diário de campo:
O influenciador fez uma live, apresentou casos clínicos em detalhes, ensinando o passo a passo de “sua” técnica, indicou materiais e fez sorteios, também indicou seus cursos on-line. A audiência, imediatamente, fazia perguntas. Tanto o apresentador, quanto outros espectadores, respondiam de maneira colaborativa, mas nem sempre com referências científicas.
Como Curtis et al15 esclarecem, a forma de conquistar alunos mudou, evidenciando que a plataforma Instagram, por exemplo, pode ser usada para divulgar fotos e vídeos de procedimentos com o intuito de compartilhar informação e que isso, de fato, gera engajamento entre os usuários da plataforma. Ooi e Kelleher16 chamam esse movimento em direção à publicidade nas redes sociais de Instagram Dentistry, ou “Odontologia do Instagram” em tradução livre, relatando que o uso dessa plataforma para fins educacionais é uma realidade e está em pleno crescimento, o que foi encontrado em nossos achados, ou seja, perfis capazes de interagir com centenas de milhares de cirurgiões-dentistas e que alternam o uso do humor, polêmicas e entretenimento enquanto encorajam os profissionais a exporem suas próprias fotos de casos clínicos.
O cirurgião-dentista passou a ter acesso a um novo montante de informações de imediato acesso, em contraste ao que ocorria no passado, quando a informação dependia da consulta a revistas especializadas ou livros3. Da mesma forma, evidencia-se que surgiram atores que vêm ocupando novos espaços dominantes no campo da instrução em Odontologia, até pouco tempo ocupados por docentes situados em academias ou escolas tradicionais, eventualmente pesquisadores em contextos institucionais3,16.
A observação das redes permitiu, ainda, notar a presença de alguns atores mais antigos, docentes e pesquisadores oriundos da academia, que incorporaram as formas digitais contemporâneas de divulgação e interação com sua rotina. É oportuno notar que a análise do conteúdo das publicações permite verificar o que Bourdieu17 explica como a presença de um campo aberto de luta, ou de disputa, refletindo uma batalha existente pela ocupação de posições dominantes no campo odontológico, onde representantes da academia ou da pesquisa tradicionais tomam posicionamentos públicos perante atores ou narrativas emergentes, conforme ilustrado nas notas do diário de campo de 29/10/2024:
Capturas de tela (publicações do Instagram) em que se observa:
1.Luta pela ocupação de espaços dominantes no campo odontológico, no caso, um professor pesquisador vs ideias provenientes de atores emergentes, evidenciado pela oposição de termos “’transgressora’ odontologia biológica” vs “odontologia clássica”; e pelas expressões “estamos defendendo a ciência”; “chegamos a um ponto crucial”; “estamos tentando te avisar” (representando “nós-cientistas” vs “eles-emergentes”).
2.As expressões “novas narrativas”; “Existe um meio, existe um caminho, para você saber o que é de verdade certo” (científico); A mensagem evidencia a ideia de que existiria, portanto, um outro meio/caminho “errado”, certamente o não-científico, o emergente das redes.
3.A disputa do campo com uso explícito, pelo autor, dos termos “batalhas”, “vídeos combativos”, e de expressões na primeira pessoa do plural, evidenciando o “nós” (cientistas) vs “eles (influenciadores)”
4. A disputa do campo, pela oposição entre “professores influenciadores renomados” vs “outro lado”, “colegas competentes que mostrem a verdade científica dos fatos”
O uso das redes sociais para a educação em saúde foi reportado por Douglas et al.18 cujos dados evidenciaram o aumento expressivo na quantidade de “seguidores” de perfis com foco em saúde, mas que nenhum dos perfis analisados explicitava de maneira clara como era feito o controle da qualidade do material divulgado, além de evidenciar que 27,5% dos perfis usavam seu conteúdo para algum tipo de publicidade.
Grassia et al.19 ponderam que os pacientes usam as mídias sociais para compartilharem suas experiências, demonstrando altas expectativas em relação ao tratamento com alinhadores estéticos e que isso se dá, provavelmente, devido ao marketing que acompanha essa modalidade. No diário de campo foi comum a constatação da interação entre influenciadores e pacientes, com vistas a dar explicações sobre tratamentos, divulgando empresas de alinhadores estéticos, por exemplo.
Lima et al.20, em um estudo sobre o uso do Facebook como uma ferramenta pedagógica, concluíram pela viabilidade de seu uso em um ambiente de pós-graduação, mas que ainda havia pouca participação dos alunos nos fóruns. Marocolo et al.2 relatam que a obtenção de informações de alta qualidade migrou de conferências científicas para recursos online, como redes sociais, devido à redução de custos e maior alcance, e que, no entanto, muitas publicações são baseadas em opiniões e marketing, sem embasamento científico. Influenciadores, frequentemente, divulgam informações sem fontes confiáveis, resultando em baixa qualidade científica. Em observação do campo, verificamos tal situação:
15/9/2022:
Influenciadora digital, não é do campo da odontologia, contratada por empresa de higiene bucal para divulgação de produto que tem por função rejuvenescer a gengiva, o produto se apresenta em embalagem e nome comercial que remete a maquiagem para a pele.
Ramos et al.21 propõem o uso do TikTok para melhorar o conhecimento de estudantes peruanos de estomatologia por meio de intervenção educativa nessa plataforma, sendo que os resultados mostraram melhora no conhecimento. De maneira similar, observou-se que muitos professores universitários, ou mesmo perfis dedicados à divulgação científica, marcam presença nas mídias sociais, e não raro, posicionam-se de forma combativa frente a outros atores:
20/03/2024, captura de tela em que o Influenciador, cirurgião-dentista, exalta colega que ensina sobre a área de dentística e destaca “a esperança na educação e na ciência se renova”.
Conclusões:
O complexo odontológico-industrial exerce influência na percepção dos cirurgiões-dentistas e dos estudantes de odontologia e as redes sociais despontam, contemporaneamente, como ambiente de liberdade para que novos atores sejam propagadores de certa doutrina de consumo, amplamente fomentada pelas empresas do ramo, muitas vezes à larga da produção acadêmica e científica tradicionais.Surge a figura de um novo ator dominante no campo, o do cirurgião-dentista influenciador, detentor de um “capital digital” acumulado independentemente do capital acadêmico, que cultiva e explora sua popularidade nas redes e atua divulgando marcas, ideias e técnicas do campo da Odontologia. Profissionais e estudantes tendem a seguir as redes sociais de seus professores e faculdades, porém, propagam o consumo de produtos do setor, recebendo publicidade paga ou em congressos e eventos direcionados a estudantes e profissionais de Odontologia.Mostra-se importante que os atores do campo odontológico observem a presença e atuação do complexo médico-odontológico em seu campo, de maneira que reflitam sobre suas intenções comerciais, tomando consciência sobre as “propostas” de sobrediagnóstico, medicalização e obsolescência programada. Igualmente, perfis de divulgação científica em redes sociais que entendam seu papel enquanto agentes políticos na sociedade devem ser estimulados.Políticas regulatórias relacionadas à Saúde Coletiva, à Saúde Bucal e às diretrizes curriculares devem abranger a ação do complexo médico-odontológico/industrial nos espaços acadêmicos formais e informais, compreendendo o papel das redes sociais na educação odontológica.
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