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0383/2025 - “Don’t eat my food”: trans women and transvestites’ experiences of food (in)security
“Não coma da minha comida”: experiências de mulheres trans e travestis sobre a (in)segurança alimentar

Author:

• Igor Myron Ribeiro Nascimento - Nascimento, IMR - <igor_myron@outlook.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8577-8262

Co-author(s):

• Ana Paula dos Reis - Reis, AP - <reis.ap07@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6750-0187
• Renata Tannous Sobral de Andrade - Andrade, RTS - <Renatatannous@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4319-4311
• Erik Asley Ferreira Abade - Abade, EAF - <erikasley@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5780-1229
• Marcos Pereira - Pereira, M - <mpsnutricao@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3766-2502


Abstract:

The aim of this study was to understand the experiences of food (in)security among travestis and trans women in the city of Salvador, Brazil. Methods: This qualitative research included semi-structured interviews and the application of the Brazilian Food Insecurity Scale to identify and classify food insecurity while exploring life trajectories. Thematic analysis was used to systematize life stories, with the participation of 17 interviewees, resulting in five thematic categories. Results: The study revealed an intersection between food insecurity (FI) and gender dissidence, where FI emerges in childhood and intensifies due to racism for Black travestis and trans women, functioning as a mechanism of control over their bodies. Conclusions: The analysis underscores the need to broaden the understanding of hunger among travestis and trans women, incorporating their specific needs and unique experiences, to develop strategies that not only provide immediate food relief but also foster long-term social and economic inclusion.

Keywords:

Transgender Persons; Social Stigma; Food Insecurity; Gender Identity; Intersectional Framework.

Content:

Introdução
As mulheres trans e travestis (MT) constituem um grupo historicamente sujeitado a diversas tentativas de interdições.1,2 A experiência da transgeneridade, caracterizada por uma ruptura com a cisnormatividade e a exploração de possibilidades mais amplas de existência, também pode ser marcada por vivências discriminatórias e estigmatizantes3-5, ou seja, “atributos profundamente depreciativos”6 que promovem separação, marginalização e condições de vulnerabilização7,8, e resultam na privação de direitos básicos, como alimentação, educação e saúde.2-4,7
Nesse contexto, a insegurança alimentar (IA) é mais do que a falta de acesso a alimentos, ela é um reflexo das desigualdades sociais e da violação de direitos humanos. A ruptura dos vínculos familiares, a discriminação no mercado de trabalho e a violência são apenas alguns dos desafios enfrentados pelas MT1-4,7,9, que as tornam mais vulnerabilizadas à fome. Portanto, é essencial considerar as interações concretamente vivenciadas, permeadas por relações de poder, estruturas institucionais e questões culturais relevantes, especialmente aquelas discutidas no campo da Saúde Coletiva, como gênero, raça, geração e outras dimensões sociais.10
A cisnormatividade, ao estabelecer normas de gênero, desempenha um papel central nesse processo que normatiza e monitora as vidas cis ou trans (de maneiras particulares), moldando comportamentos e expectativas, produzindo sanções sociais as pessoas dissidentes.3,5,11 A intersecção entre raça, identidade de gênero e classe revela a complexidade dessas dinâmicas, demonstrando como as experiências individuais são marcadas pela interação dessas categorias.5,11-13 Tais relações permeiam todos os aspectos da vida social, reforçando desigualdades e produzindo experiências únicas e desiguais, especialmente no que diz respeito à fome. 11-13
A fome, nesse contexto, não é apenas um problema individual, mas sim uma consequência de um sistema social injusto que perpetua desigualdades. Assim, é um problema de ordem política, social e histórica, apresentando um caráter múltiplo que abrange aspectos fisiológicos, econômicos, sociais e culturais.14,15 Por isso, para sua erradicação ou atenuação, é necessária uma análise criteriosa das suas causas, que são multifatoriais e espacialmente situadas, interdependentes ao contexto social.14-16
O Brasil, apesar de dispor de estratégias voltadas ao combate à fome e pobreza17-20 ainda enfrenta desafios significativos na sua efetiva implementação.21 Estudos nacionais sobre a segurança alimentar (SA) na população ainda se limitam a uma perspectiva cisnormativa.12,21 pois não há desagregação dos dados segundo a diversidade de gênero. Apesar disso, algumas pesquisas, tanto nacional22 quanto internacional23-27, caracterizaram e destacaram as necessidades e experiências das MT em relação à fome. Essas investigações discutiram como a estigmatização e a vulnerabilização socioeconômica podem intensificar a experiência da IA entre MT. Entretanto, a maioria desses estudos foram conduzidos no “Norte” global23-27, em contextos universitários23-25, e apenas um realizado no Brasil.22
Portanto, novos estudos são necessários para ampliar o conhecimento sobre as experiências de IA entre MT. Nesta perspectiva, este estudo objetiva compreender as experiências da (in)segurança alimentar entre mulheres trans e travestis na cidade de Salvador, Bahia, Brasil.

Métodos
Trata-se de um estudo qualitativo, conduzido por meio de entrevistas semiestruturadas. Foi desenvolvido com 17 MT. A escolha deste grupo deve-se ao fato de estudos apontarem maiores iniquidades sociais entre MT quando comparadas a outros subgrupos que compõem a população LGBTI+28,29, associado às diferenças nas formas de manifestação das vulnerabilidades em saúde nesta comunidade.30
A pesquisa foi desenvolvida entre maio e junho de 2024, em um ambulatório especializado em saúde integral para pessoas travestis, transexuais e não binárias, referência no estado da Bahia, que desde 2016 oferece atendimento multidisciplinar com diversas especialidades, conforme a Portaria MS Nº 2803 de 2013.31 A unidade foi selecionada por proporcionar acesso adequado às participantes e contar com o apoio institucional necessário para a coleta de dados.
Os critérios de inclusão do estudo foram identificar-se como mulher trans ou travesti, idade igual ou superior a 18 anos e morar em Salvador no período do estudo. Por se tratar de uma população de difícil acesso, a seleção das interlocutoras se deu no formato não probabilística, por bola de neve.32-34
O roteiro de entrevista possuía questões sobre alimentação e relacionadas à fome; identidade de gênero e suas relações com a IA; políticas sociais, com o intuito de evidenciar seus impactos; enfrentamento à IA; e, por último, cuidados de saúde. Esse roteiro foi projetado para incluir um número reduzido de tópicos, permitindo que os entrevistados tivessem mais liberdade em seus discursos.
Aplicou-se a versão curta da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar e Nutricional22,35 para avaliar a graduação de IA entre as MT, em conjunto com as das entrevistas semiestruturadas. Essa abordagem integrada buscou proporcionar uma compreensão mais abrangente das experiências e das condições de (in)segurança alimentar nesse grupo específico.
Os encontros foram realizados em locais e horários convenientes para as participantes. As entrevistas, com duração média de uma hora, foram gravadas com autorização das participantes. As entrevistas foram transcritas e posteriormente, submetidas à análise temática36,37, que envolveu pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos.
Os relatos foram analisados considerando a experiência como um processo interpretativo que conecta o sujeito à sua cultura, às relações sociais e ao contexto em que está inserido. Os significados emergem da interação com a construção sociocultural e histórica, influenciados pelas relações com o corpo, emoções e normas sociais. Nesse processo, destaca-se o encontro entre vivências individuais e coletivas, onde os significados são moldados pelas relações interpessoais, práticas culturais e estruturas de poder.38
Para além disso, dois referenciais teóricos foram centrais para a análise e discussão dos achados: o estudo do estigma, vulnerabilidade e desigualdades na população MT foi fundamentado em Goffman6 e complementado pelos trabalhos de Ayres10, Bento3 e Butler39; e a compreensão das intersecções entre raça, identidade trans e travesti com a fome, foram utilizados os trabalhos de Collins11, com o auxílio de Vergueiro5, Lugones40 e Butler39.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA, sob parecer n° 6.328.021 (CAAE 69334423.8.1001.5030). As MT leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para garantir o anonimato das participantes, foram identificadas com base em sua identidade de gênero e raça/cor.
Resultados
Participaram do estudo 17 MT, a maioria na faixa etária de 20 a 30 anos, negras, com ensino médio completo, de religiões de matriz africana, desempregadas e residiam em bairros centrais da cidade. Em relação à SA, 12 interlocutoras enfrentavam algum nível de IA, com 5 delas em situação de fome – IA grave (Tabela 1.).
Os temas principais foram organizados em cinco categorias (Figura 1.), sendo elas: concepções sobre a segurança alimentar; percepções experiências da insegurança alimentar; insegurança alimentar intrafamiliar e infância; “dilema”: comida ou hormônio? e o alívio da fome: redes de enfrentamento.
Figura 1. Mapa temático das categorias identificadas sobre a insegurança alimentar entre mulheres trans e travestis em Salvador, Bahia.

Fig. 1

Concepções sobre a segurança alimentar: “É dignidade, entendeu”
A análise das entrevistas revelou uma compreensão ampliada sobre alimentação das interlocutoras. A alimentação emerge como um fato socialmente construído, carregado de significados culturais, simbólicos e afetivos: “A alimentação envolve vários aspectos culturais, sociais e para mim se alimentar bem você se sentir bem e trazer qualidade de vida para você mesmo sem se prejudicar sem prejudicar os outros comer de acordo às suas condições financeiras” (I2 – Mulher trans parda). Além disso, a qualidade nutricional dos alimentos é um aspecto central, associado à promoção da saúde e ao bem-estar: “A alimentação é algo muito importante, né? Não é só você ter alimentação, né, aquela alimentação de fartura, mas também saber o que é que você pode comer para você se manter bem. Comer bem, na verdade, balanceado, com verduras, com frutas” (I13 - Mulher trans parda).
A alimentação também foi compreendida como um elemento que integra os aspectos físicos, emocionais e sociais da vida, assim como é essencial para a vida e o desenvolvimento humano: “Ah, é prioritária. É assim, é essencial, porque poxa, quando a gente tá mal alimentada, nosso humor está péssimo. Tudo parece que dá totalmente errado, então é um dia caótico, quando você não está bem alimentada” (I1 – Mulher trans parda). Neste sentido, a relação entre alimentar, nutrir e comer é explorada nas entrevistas, evidenciando a importância de uma alimentação prazerosa e que promova a conexão entre o corpo e a mente: [...] “Na verdade, é o pensamento mais assim, na questão de suprir necessidades fisiológicas, porque prazer mesmo o que eu sinto de comer é doce. Até minha ansiedade está muito ligada a isso, a questão de gostar muito de doce” (I9 - Mulher trans preta). Portanto, os relatos evidenciam que a alimentação é compreendida além de um mero ato biológico, configurando-se como um processo imbricado em relações sociais e emocionais, que simultaneamente se transforma e transforma os contextos nos quais está inserido.
Diante disso, os relatos registram os pressupostos da SA, identificado através da compreensão da alimentação enquanto direito humano fundamental. Esta percepção emerge como elemento basilar para a garantia da dignidade humana e condições existenciais mínimas, conforme expresso no depoimento: “Eu acho que é dignidade. Eu acho que todo mundo, todo o ser humano, independente de cor, raça, credo, religião, sendo homem, mulher, criança, idoso, é digno [...]. Todo mundo sente fome, mas eu acho que é digno você ter uma comida.” (I16 - Mulher trans preta)
Em paralelo, observa-se, também, a importância do acesso, físico, econômico e permanente aos alimentos em quantidade e qualidade adequadas, assim como a utilização biológica dos nutrientes e o papel sociocultural dos alimentos: “alimentação é ter uma comida na mesa todo dia. Você não passar necessidade, mas não passar fome. Eu venho do interior então é muito importante a gente ter comida no prato mesmo” (I14 - Mulher trans parda). Nessa perspectiva, a alimentação também emerge com papel importante na prevenção saúde e na promoção do bem-estar. Assim, a nutrição é compreendida como uma categoria relevante para abordar a complexidade dos comportamentos e práticas alimentares, além de lidar com os tensionamentos relacionados ao adoecimento: “minha mãe sempre pontuou isso em casa porque meus dois avôs tanto materno quanto paternos morreram de AVC. E aí minha mãe teve muita essa questão da alimentação em interferir na qualidade de vida” (I2 - Mulher trans parda).
A análise dos depoimentos registrou que a noção de SA emerge nos discursos das interlocutoras como um constructo multidimensional, onde a garantia alimentar se articula diretamente com a efetivação de direitos humanos, requisito essencial para a dignidade humana.
Experiência da Insegurança Alimentar: “Fome, fome não! Na realidade, eu passo por isso ainda”
As entrevistas revelaram a complexidade multidimensional da experiência de IA entre MT. Identificou-se, inicialmente, uma dificuldade em autorreconhecimento da situação de IA grave, mediada pela dissociação semântica entre os conceitos de IA e fome, conforme ilustrado no depoimento: "Eu costumo dizer que fome, fome não. Porque na verdade isso [privação alimentar], na realidade, eu passo por isso ainda, infelizmente. Eu não estou empregada" (I1 - Mulher trans parda).
A análise evidenciou que a transfobia se configura como um fator estruturante da IA entre MT. A exemplo da discriminação no mercado de trabalho e a exclusão familiar que emergem como fatores centrais que limitam o acesso a alimentos adequados, seja pelas mudanças circunstanciais tal como: “conflitos em casa [e] os conflitos dentro da escola pela minha expressão de gênero que havia mudado; distanciamento de algumas pessoas que eram próximas em um outro momento a mim e agora passam a não ser” (I6 – Travesti branca) e/ou instabilidade financeira: “quando eu me coloquei feminina mudou tudo isso. Mudou em questões até pela própria questão financeira, né? [...] Tem hora que eu procuro alguma coisa e não acho” (I1 - Mulher trans parda).
Essa precariedade financeira surge como eixo estruturador das limitações alimentares, manifestando-se em uma dupla dimensão: por um lado, através da restrição quantitativa e qualitativa, expressa na dificuldade crônica de acesso a uma dieta balanceada e regular; por outro, na monotonia alimentar compulsória, com redução drástica na variedade de alimentos consumidos.
Essa realidade de privação extrema ganha contornos concretos nos relatos, conforme regista a interlocutora I4 (Mulher branca): "depois que eu saí de casa [...] o que a minha condição permitia, eu comprava. O que não dava, não dava. [...] O dinheiro nunca dá"; situação que frequentemente desembocava em cenários ainda mais críticos, como os descritos por meio da I10 (Mulher trans preta): "minha única refeição era um ou dois salgados de um real que a vizinha vendia"; ou através da I2 (Mulher trans parda), que sobrevivia com refeições baseadas em "refresco velho".
Essas condições são agravadas pela instabilidade habitacional decorrente da rejeição familiar, que limita ainda mais a autonomia alimentar, conforme o relato: "Como agregada na casa da minha amiga, eu não tinha autonomia para questionar: 'Ah, quero comer algo diferente'. Comia o que havia" (I9 - Mulher trans preta). Dessa forma, também cria constrangimentos adicionais nas práticas alimentares, conforme expresso pela participante: "como agregada na casa da minha amiga, eu não tinha autonomia para questionar: 'ah, quero comer algo diferente'. Comia o que havia" (I9 - Mulher trans preta).
Ainda se observa uma estreita relação entre questões de identidade de gênero e o desenvolvimento de distúrbios alimentares. Os relatos das participantes revelam como a vivência da transfobia internalizada, como reflexo das manifestações interpessoais e estruturais, pode desencadear comportamentos alimentares disfuncionais. Como ilustram os depoimentos, algumas entrevistadas desenvolveram quadros de bulimia e anorexia em contextos marcados por "incongruência de gênero" (I6 - Travesti branca) e intensa "pressão psicológica com a questão do corpo" (I7 - Travesti parda), além “minha mãe associava o fato de eu ser magrinha e parecer ser mais menina do que menino. [...] ela queria que eu ficasse mais forte [...] para eu parecer mais homem e aí ela começou a querer me empurrar a comida.” (I2 – Mulher trans parda), demonstrando como a violência transfóbica se corporifica em práticas autodestrutivas relacionadas à alimentação.
Nota-se que práticas específicas de violência alimentar que operam como dispositivos de opressão, nas quais a negação sistemática de alimentos ou a oferta proposital de comida deteriorada funcionam como mecanismos de humilhação e manutenção de hierarquias sociais. O relato uma participante que recebeu "resto de pedaço de carne [...] com uma salsicha crua" (I10 – Mulher trans preta) expõe a crueldade dessas práticas, demonstrando como a alimentação pode ser instrumentalizada para reforçar a desumanização das MT.
As entrevistas evidenciam que a IA entre MT se manifesta como um fenômeno multidimensional, marcado pela dificuldade de autorreconhecimento da condição de privação, restrições financeiras que levam à precarização alimentar e a limitação da autonomia nas escolhas alimentares. É importante ressaltar que essas experiências não são isoladas, mas sim parte de um conjunto de violências e discriminações que marcam a vida das MT. Dado esse quadro, essas experiências são intensificadas por marcadores de raça e classe, o que dificulta o acesso a oportunidades e recursos básicos.
Insegurança alimentar intrafamiliar e infância: “aqui eu não tenho comida”:
Um dos elementos marcantes nos relatos foi a forma particular de IA vivenciada na infância e adolescência por MT, marcada pela restrição alimentar intencional no ambiente familiar. Essas experiências revelam uma forma peculiar de IA nesse grupo: mesmo em domicílios com disponibilidade física e econômica de alimentos, o acesso a alimentação era limitado pela transfobia intrafamiliar.
Os relatos descrevem padrões sistemáticos de discriminação alimentar, tais como: a distribuição desigual de alimentos: "Minha mãe sempre separava o alimento dos meus irmãos do meu" (I4 – Mulher trans branca), com porções menores ou de pior qualidade para a criança trans; o uso da comida como punição, ou seja, privação alimentar como castigo por expressões de gênero dissidentes: "Já estarem insatisfeitos com alguma dissidência [...] e falavam “não coma da minha comida; “Você não quer ser assim, você vai comer alguma quando você puder colocar” (I11 – Travesti branca); manipulação nutricional por meio do preparo intencional de refeições rejeitadas: "eles faziam feijão com arroz [...] justamente que eu não comia" (I11 – Travesti branca); e a retirada total de provisões, visto em casos extremos como "ele tinha parado de comprar comida em casa por minha causa" (I5 – Travesti branca).
Estas práticas configuram a alimentação como instrumento de biopoder, onde o controle sobre o corpo trans se exerce através da regulação alimentar. A IA manifesta-se aqui não como escassez objetiva, mas como violência dirigida, criando um paradoxo onde a criança convive com alimentos disponíveis, mas a ela inacessíveis.
Dilema: comida ou hormônio?
Os relatos evidenciam um dilema cruel imposto pela transfobia estrutural: a necessidade de escolher entre a afirmação da identidade e a SA. Esta "competição orçamentária" compulsória revela como a precariedade econômica das MT não decorre de má gestão financeira, mas de um sistema que as força a arcar com custos básicos de existência que a população cisgênero não enfrenta.
Duas dimensões emergem desta dinâmica. Inicialmente, é a hierarquização de necessidades básicas, descritas pelas interlocutoras em ter que optar entre: alimentação ou hormonização: “muitas vezes, realmente eu me via numa situação crítica assim, entre eu ter que escolher: ou eu comer ou eu comprar hormônio.” (I4 – Mulher trans branca); ou acesso à signos associados ao feminino: “às vezes deixava de lanchar para eu poder comprar uma calcinha, sei lá coisas mais femininas um adereço um brinco e a questão do hormônio também” (I2 - Mulher trans parda); ou intervenções cirúrgicas: “eu deixei de fazer refeição para juntar grana, eu voltava para casa andando, ao invés de pegar o ônibus sabendo que o caminho era quatro, cinco, seis quilômetros” (I11 – Travesti branca).
A segunda dimensão, está relacionada ao custo material da transição como barreira alimentar. Os gastos com tecnologias de gênero, desde roupas até procedimentos médicos, não representam luxos, mas necessidades básicas para segurança pública ao evitar violência imediata através da cispassabilidade: “a gente quer ter uma embalagem, vamos se dizer assim, mais binária pelo fato da gente se camuflar e se proteger, é mais para proteção da violência mesmo” (I3 – Mulher trans parda); e à saúde mental: “desenvolver cada vez mais esse lugar em que meu corpo se sentia confortável, que foi a feminilidade” (I6 - Travesti branca).
Dessa forma, os efeitos cumulativos da privação produzem ciclos viciosos, os quais na fala "até hoje minha alimentação é bem restrita. Só que o dinheiro dá" (I4 – Mulher trans branca) sintetiza a resiliência, mas também a brutalidade deste sistema que força mulheres trans a normalizarem a escassez como condição permanente de existência.
O alívio da fome: redes de enfrentamentos
As estratégias para lidar com a IA se distribuíram em diferentes níveis de complexidade. Em curto prazo, as mulheres recorrem a estratégias imediatas, como “enganar” a fome, com a redução quantitativa da ingestão de alimentos: “Depois eu fiz aquela carteirinha [instituição social privada], aí eu ia comer lá. Quando chegava final de semana, eu comprava a marmita e botava na geladeira para comer. Então comia metade e a outra metade, eu guardava para comer depois”. (I4 – Mulher trans branca)
Outras estratégias identificadas para "enganar" a fome, foram escolhas alimentares associadas a opções de baixa qualidade nutricional ou com alta densidade calórica: “O consumo do que eu tinha em casa, eram alimentos ultraprocessados, eu quase nunca comia legumes, verduras, enfim”. (I6 – Mulher trans branca); “Eu ia na geladeira, pegava um pedaço de tomate e já aconteceu várias vezes de acontecer isso. Eu pegava um pedaço de tomate, botava um pouquinho de sal e comia, ia dormir para não sentir fome, ou comer um macarrão instantâneo” (I9 - Mulher trans preta).
Também foram observados a redução na quantidade de consumo, com escolhas alimentares para proporcionar maior saciedade: “Eu tento esticar o máximo. Dentro da alimentação, o básico do feijão e arroz, sabe? E aí eu colocava uma carne salgada para poder dar uma engrossada no feijão”. (I1 - Mulher trans parda). Além do foco em opções alimentares mais baratas: “Eu lanchava porque perto da faculdade, ali perto do hospital das clínicas, tem o pessoal vendendo os lanchinhos mais baratos.” (I2 - Mulher trans parda).
Em paralelo, o papel da rede de apoio surge em destaque ao envolver a busca por suporte social, alimentar e, em alguns casos, emocional, especialmente junto a amigos e familiares.
Na verdade, eu ia na casa de alguns amigos, parentes, alguns dos parentes. Eu ia aparecer lá de surpresa. Disfarçava. [...] Já recebi doação de alguns parentes [...] uma vez eu me lembro que minha cunhada, ela fez um supermercado para mim. Comprou vários itens e me deu, eu fiquei super feliz (I4 – Mulher trans branca).
Essa rede se mostra crucial para ajudar a minimizar a IA, oferecendo suporte e recursos que contribuem para a sobrevivência e bem-estar das pessoas envolvidas: “Eu só não fiquei em situação de rua, porque eu tenho uma rede de apoio muito forte, então fiquei na casa de algumas amigas aí também em menos de um mês, eu já tava trabalhando de carteira assinada e aí a situação começou a melhorar”. (I11 – Travesti branca). Um relato reforça a importância dessa rede em momentos difíceis, especialmente no contexto de evitar a prostituição compulsória.
A rede de apoio é o que me sustentou em todos os momentos para diversas... todas as coisas, tanto psicológicas quanto de alimentação, quanto para pagar aluguel, às vezes, quanto para conseguir emprego, conseguir me sustentar fora da prostituição, que eu não precisei justamente porque nessa mesma época eu consegui esse emprego. (I7 – Travesti parda)
Além do suporte emocional, essas conexões também servem como um recurso vital para escapar de situações de vulnerabilização e explorar alternativas para a sobrevivência.
Discussão
Este estudo contribui para o entendimento da situação de IA entre MT ao identificar que as violências e exclusões enfrentadas no ambiente familiar, motivadas pela transfobia, influenciam a IA de duas maneiras distintas: a IA direta, resultante da expulsão de casa, que gera vulnerabilidades e privações alimentares; e a IA indireta, em que interdições no núcleo familiar criam barreiras ao acesso à alimentação, mesmo quando a família possui recursos financeiros adequados. Essa dinâmica revela como as tecnologias discursivas3,5,39 se materializam na alimentação, sendo identificadas como uma técnica de controle que busca moldar expectativas de comportamentos de acordo com os gêneros atribuídos ao nascer.
Essa pressão para atender a padrões de comportamento e performance relacionados ao eixo sexo-gênero-sexualidade5,40 pode resultar em transtornos alimentares e mudanças nos modos de se alimentar. A alimentação, enquanto elemento sociopolítico é influenciada pelas relações de gênero, que não apenas determinam o que deve ser ingerido, mas também como, em conformidade com as expectativas de masculinidade ou feminilidade.27,40 Essa normatização pode criar um ciclo vicioso em que a alimentação saudável se torna um privilégio, e não um direito, refletindo desigualdades estruturais que vão além do acesso físico aos alimentos.26,27
Neste sentido, a experiência de discriminação e o estigma social podem levar ao desenvolvimento de comportamentos disfuncionais7,8 incluindo aqueles associados a alimentação, como forma de lidar com o sofrimento emocional e o estresse.43 Um estudo realizado nos EUA25 identificou que o corpo e a performance de gênero são elementos (pré)discursivos essenciais para compreender os desafios enfrentados pelas pessoas trans e não-binárias.3,5,39 Ao analisar a relação entre imagem corporal, transtornos alimentares e IA, o trabalho registrou a influência significativa da cisnormatividade na autoimagem, especialmente em relação aos processos de readequação de gênero.25,43
Frente ao exposto, a interseccionalidade emerge como uma ferramenta crucial para compreender as experiências das MT. O papel da raça, especialmente no contexto do racismo e cissexismo5,40, afeta as experiências em relação a IA.11-13 Observou-se que a maioria das que enfrentaram a IA indireta eram brancas, enquanto as negras, mas especialmente as pretas, vivenciaram a fome de maneira mais acentuada, sendo exacerbado após a autoafirmação da identidade de gênero. Em consonância, diversos estudos12,13,21,25,27,29 enfatizam que pessoas com identidades subvalorizadas em relação à classe, raça e/ou identidade de gênero enfrentam maiores taxas de IA. Nesse sentido, a defesa essencialista da categoria "sexo" como dado biológico natural é, na verdade, a defesa de um constructo ocidental específico, o qual naturaliza valores eurocêntricos, apaga epistemologias corporais e sustenta a ficção regulatória do dimorfismo sexual, mantendo à ordem binária de gênero.3,5,39,40
O movimento itinerante e a instabilidade habitacional dessas MT dificultam o acesso a uma alimentação variada e regular.26,41,42 A expulsão de casa muitas vezes resulta em acolhimento em lares igualmente carentes de recursos, e a falta de trabalho impede que contribuam financeiramente, gerando constrangimentos pessoais e interpessoais. Essa situação não só compromete a SA, mas também afeta a saúde mental e o bem-estar emocional dessas pessoas.22,24,26 Este quadro revela como a vulnerabilização de MT ocorre através da integração de três dimensões: programática, com políticas governamentais insuficientes; social, através de práticas discriminatórias cotidianas; e individual, onde essas instâncias convergem em experiências concretas de exclusão. A articulação entre esses níveis demonstra o caráter sistêmico dos processos de marginalização desse grupo.8,10
Os relatos analisados ressaltam a importância das redes de apoio para a vida das MT, oferecendo recursos e oportunidades que ajudam a mitigar os efeitos da transfobia. Esse achado é recorrente nos estudos sobre vulnerabilização entre MT.23-26 Em particular, as chamadas “redes clandestinas” desempenham um papel fundamental ao desafiar essa marginalização e possibilitar formas de sobrevivência e resiliência diante de adversidades e discriminação social.1,26,41,42 Atrelado a isso, a utilização de equipamentos públicos e privados de assistência social mostra-se fundamental para minimizar o impacto da IA. Contudo, é necessário que os espaços de assistência alimentar sejam pensados de forma a promover um ambiente inclusivo.23-27
Ademais, o dilema financeiro se torna um fator crítico. Muitas enfrentam desafios para equilibrar gastos com alimentação e outras despesas fixas, como aluguel e itens relacionados às tecnologias de gênero, como produtos de beleza, roupas e hormônios. A priorização de gastos é uma necessidade premente, mas essa lógica pode levar a escolhas alimentares prejudiciais, perpetuando a IA. Dois estudos realizados nos EUA23,24 destacam que frequentemente há uma competição entre as obrigações financeiras mensais e os custos associados ao processo de feminização ou masculinização corporal. Essa dinâmica revela como o estigma social sobre corpos trans estrutura circuitos perversos de exclusão, onde a negação do direito ao autorreconhecimento do gênero converte-se em negação do direito à alimentação.
As entrevistas revelaram uma compreensão da alimentação alinhada à definição da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional18 e à Emenda Constitucional nº 6417, que reconhece a alimentação como um direito de todas as pessoas. Além disso, abrange os aspectos culturais e socioafetivos da alimentação, onde o ato de comer é descrito como uma cadeia de ações, como “seleção, escolhas, ocasiões e rituais, entrelaçadas com a sociabilidade, ideias e significados, e com as interpretações das experiências e situações vividas”44. Esses elementos revelam que a percepção da alimentação vai além da nutrição, envolvendo práticas e significados complexos que refletem e reforçam identidades e laços sociais.
A capacidade de escolha alimentar é fundamental para MT, sugerindo que a SA não se resume apenas à quantidade, mas também à qualidade e à dignidade da experiência alimentar.18,19,23-27,45 A reflexão sobre essas questões é vital para o desenvolvimento de políticas públicas que abordem as complexidades da IA de maneira integral, considerando as múltiplas dimensões que afetam a vida dessas populações.12,18,20-27 Portanto, torna-se imprescindível desenvolver iniciativas de SA que incorporem uma abordagem interseccional sensível às especificidades de identidade de gênero, raça e posição socioeconômica.
Tais políticas devem reconhecer a singularidade das experiências vividas por MT, indo além da simples disponibilização de alimentos para garantir condições reais de autonomia alimentar e liberdade de escolha. Como evidenciado, isso requer combater a transfobia estrutural, pois o direito à alimentação está indissociavelmente ligado ao reconhecimento da humanidade plena das MT, condição básica para uma existência digna. A verdadeira SA só será alcançada quando forem superadas as estruturas de opressão que negam a legitimidade das existências trans, criando condições materiais e simbólicas para que essas pessoas possam não apenas se alimentar, mas viver com dignidade em todas as dimensões de sua existência.
Uma das limitações deste estudo foi a centralização da coleta de dados em um serviço de saúde de referência. Embora essa abordagem tenha fornecido insights valiosos sobre as diversas realidades das participantes, as experiências de IA podem variar consideravelmente em diferentes contextos sociais. Isso ressalta a complexidade das relações entre o espaço social e as vivências alimentares, indicando a necessidade de expandir a pesquisa para outras regiões e serviços. Dessa forma, seria possível alcançar uma compreensão ainda mais abrangente do fenômeno, especialmente para incluir travestis e mulheres trans que ainda não acessam esses serviços.
Considerações finais
Este estudo regista intersecção entre a dissidência de gênero e a IA. Essas, por sua vez, iniciada na infância e recorrente ao longo da vida, surge como um mecanismo de controle e de adequação às normas de gênero, intensificando a vulnerabilização desse grupo. Apesar das MT brancas vivenciaram a IA de forma indireta e direta, por imposições e impedimentos nos espaços de sociabilidade familiar, observa-se entre as MT negras, sobretudo às pretas, uma realidade marcada pelo racismo, que as expõe a condições mais agravadas de IA desde a infância. Dessa forma, aponta-se a necessidade de ampliar a compreensão sobre o fenômeno da fome entre MT. Isso não apenas para identificar causas comuns, mas também para destacar, a partir das próprias vivências dessas pessoas, os elementos essenciais para a mitigação e superação das realidades marginais que enfrentam. Essa compreensão pode fundamentar estratégias que abordem as necessidades específicas desse grupo, promovendo ações que vão além do alívio imediato da fome e visam uma inclusão social e econômica duradoura.

Declaração de Disponibilidade de Dados
Os dados de pesquisa do artigo não estão disponíveis.

Referências
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Nascimento, IMR, Reis, AP, Andrade, RTS, Abade, EAF, Pereira, M. “Don’t eat my food”: trans women and transvestites’ experiences of food (in)security. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/Nov). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/en/articles/dont-eat-my-food-trans-women-and-transvestites-experiences-of-food-insecurity/19859?id=19859



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