0041/2025 - E-SUS VACCINATION APPLICATION: AN E-SUS APS STRATEGY TECHNOLOGY FOR VACCINATION CAMPAIGNS IN THE UNIFIED HEALTH SYSTEM
APLICATIVO E-SUS VACINAÇÃO: UMA TECNOLOGIA DA ESTRATÉGIA E-SUS APS PARA CAMPANHAS DE VACINAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE
Author:
• Eduarda Talita Bramorski Mohr - Mohr, E.T.B - <e.bramorski@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2881-5207
Co-author(s):
• Ianka Cristina Celuppia - Celuppia, I.C - <ianka@bridge.ufsc.br>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2518-6644
• Ricardo Luiz Camargo Prado - Prado, R.L.C - <ricardo@bridge.ufsc.br>
ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3692-4529
• Júlia Meller Dias de Oliveira - Oliveira, J.M.D - <julia.meller@bridge.ufsc.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6508-3503
• Flávia Amin Barbosa - Barbosa, F.A - <flavia.amin@bridge.ufsc.br>
ORCID: https://orcid.org/0009-0005-9179-8322
• Jades Fernando Hammes - Hammes, J.F - <jades@bridge.ufsc.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3483-8621
• Raul Sidnei Wazlawick - Wazlawick, R.S - <wazlawick@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4293-1359
• Eduardo Monguilhott Dalmarco - Dalmarco, E.M - <eduardo.dalmarco@ufsc.br; dalmarco@bridge.ufsc.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5220-5396
Abstract:
During the COVID-19 pandemic, the use of digital technologies facilitated communication between professionals, patients, and health systems. The incorporation of these technologies enhanced the resilience of public health systems, contributing to the direct response to the pandemic. The objective of this paper is to describe the development, utilization, and adaptation of e-SUS Vacinação during and after the COVID-19 pandemic in Brazil, highlighting its contributions to the resilience of the Unified Health System (SUS). This study included a descriptive design that analyzes the development and application of e-SUS Vacinação, evaluating the application through data comparison, pilot projects, Google Analytics analyses, and user usability surveys. The application demonstrated a reduction of up to 95% in the time required to fill out information, with over 338,000 immunobiologicals administered by 107,000 active users. The application's usability was rated at 4.10, indicating a favorable responseusers. Therefore, e-SUS Vacinação exemplifies the resilience of digital technologies in healthcare, reinforcing their importance for the continuity and effectiveness of vaccination campaigns in Brazil.Keywords:
Health System Resilience, Primary Health Care, Unified Health System, Unified Health System, Mobile ApplicationsContent:
Durante a pandemia de COVID-19, o uso de tecnologias digitais serviram como ponte para a comunicação entre profissionais, pacientes e sistemas de saúde. A pandemia forçou uma mudança estrutural nos modelos de atendimento, onde as organizações de saúde tiveram que renunciar ao cuidado presencial, investindo em soluções tecnológicas1, 2. Os aplicativos mobile, por exemplo, foram capazes de fornecer suporte para o rastreio de fontes de dados digitais, alimentando sistemas de controle de imunobiológicos e de tomada de decisões clínicas3, 4. A incorporação e bom uso destas tecnologias digitais fortaleceu diretamente o entendimento e consolidação dos conceitos de resiliência dentro de sistemas públicos de saúde.5, 6
A resiliência pode ser entendida como a capacidade de um sistema, comunidade ou indivíduo de absorver, adaptar-se e se recuperar de eventos adversos, mantendo suas funções essenciais e, muitas vezes, emergindo mais forte e preparado para futuros desafios7. Trata-se de um conceito com um potencial valioso para a prevenção e promoção da saúde da população, embora seu total entendimento transcenda esta contextualização8. A busca pela integração de novas tecnologias e funcionalidades dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) passa a transpor diversas barreiras, fomentando a evolução, adequação e consolidação de um novo e melhorado sistema de atendimento, focado na segurança, agilidade e bem-estar de profissionais e pacientes9.
A resiliência dos sistemas de saúde é complexa e não pode ser medida apenas por dados objetivos. É importante saber se o sistema pode ser resiliente quando enfrenta problemas, considerando tanto sua estrutura quanto seu funcionamento8, 10. Pautada em ações de cunho adaptativo e transformador, o conceito de resiliência passou a estabelecer novas prioridades e estratégias dentro dos sistemas de saúde, na tentativa de torná-los mais preparados para desafios presentes e futuros. Tais iniciativas ressaltam a importância do entendimento e aplicabilidade da resiliência dentro desses ecossistemas, onde o objetivo se torna muito maior do que apenas a resolução de uma adversidade ou problema momentâneo5. A resiliência no SUS é um processo contínuo que exige comprometimento, planejamento e ações coordenadas em todos os níveis do sistema de saúde. Este conceito deve ser desenvolvido continuamente e não apenas quando crises acontecem. Devido à complexidade geopolítica de nosso país, é necessário expandir o entendimento com relação à resiliência, introduzindo sua aplicabilidade para lidar tanto com eventos extraordinários quanto com as adversidades do dia a dia11.
Diante da complexidade destes eventos, surge o aplicativo e-SUS Vacinação. Integrado ao Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC e-SUS APS), este aplicativo foi criado com o intuito de facilitar e otimizar o trabalho dos profissionais de saúde no registro das aplicações de imunobiológicos durante o enfrentamento da pandemia de COVID-1912. Atualmente, as funcionalidades deste aplicativo transcenderam as campanhas de vacinação contra o SARS-CoV-2, abrangendo toda e qualquer campanha promovida pelo Programa Nacional de Imunização (PNI). Sendo assim, o objetivo deste trabalho é descrever o desenvolvimento, utilização e adequação do e-SUS Vacinação durante e após a pandemia de COVID-19 no Brasil, ressaltando suas contribuições diretas ao processo de resiliência do SUS.
METODOLOGIA
Desenho do estudo
Estudo de cunho descritivo, focado no desenvolvimento, funcionalidades, coleta e organização dos dados do aplicativo e-SUS Vacinação durante e após a pandemia de COVID-19 no Brasil. O aplicativo e-SUS Vacinação foi desenvolvido em 2021, com lançamento em março de 2022, pela equipe do Laboratório Bridge com parceria e apoio da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) do Ministério da Saúde. O e-SUS Vacinação integra a estratégia e-SUS APS, sendo distribuído gratuitamente pelo Ministério da Saúde em plataformas de serviço de distribuição digital. Desenvolvimento do aplicativo
O desenvolvimento deste aplicativo foi pautado na análise e dinâmica de trabalho dos profissionais de saúde durante as campanhas de vacinação contra COVID-19 no Brasil, buscando consolidar o processo de trabalho resiliente em meio à situação de calamidade instaurada na pandemia. Durante a etapa de Discovery do produto, o Laboratório Bridge utilizou a técnica do Mapa de Empatia, onde uma persona foi criada, seguindo pesquisas empíricas com profissionais da área para identificar os principais aspectos que aumentavam a produtividade durante as atividades de imunização em campanhas. Esta metodologia foi concebida pela consultoria de design XPLANE, como parte da Metodologia Canvas para modelos de negócios13.
Nessa lógica, foram considerados alguns desafios recorrentes de trabalho dos profissionais de saúde que lideravam as ações de imunização no país, como a falta de conectividade com a internet, principalmente durante campanhas de vacinação em áreas de difícil acesso; o grande número de campos e informações que precisavam ser preenchidos nos sistemas de informação em saúde; a necessidade urgente de desenvolvimento de estratégias para o enfrentamento da pandemia de COVID-19; e a priorização do modelo de trabalho com imunizações no formato Drive Thru, empregado em todo o território brasileiro durante as campanhas iniciais de imunização contra o SARS-CoV-2.
Desta forma, 4 pilares passaram a fundamentar a criação do e-SUS Vacinação: 1) a compatibilidade com smartphones pessoais e tablets, visando a diminuição de gastos com equipamentos para os profissionais da saúde; 2) o funcionamento offline first, onde os dados podem ser majoritariamente registrados de maneira offline; 3) o desenvolvimento ágil do aplicativo, baseados no modelo SCRUM14, framework Flutter15 e em padrões de design já reconhecidos e validados; e 4) a reorganização do modelo de dados da Ficha de Vacinação da Coleta de Dados Simplificada (CDS), com foco na agilidade de preenchimento de informações para o contexto de campanhas de vacinação.
É válido ressaltar que a estratégia e-SUS APS conta com dois softwares distintos, denominados como sistema de Coleta de Dados Simplificada (CDS) e o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC e-SUS APS). O e-SUS Vacinação foi desenvolvido para integrar-se ao PEC e-SUS APS, favorecendo inicialmente o compartilhamento de dados durante a pandemia de COVID-19.
Municípios Pilotos
Para avaliar o desempenho e aplicabilidade do e-SUS Vacinação antes de seu lançamento em março de 2022, o aplicativo passou por testes piloto. Participaram da validação municípios de diferentes regiões e densidade populacional. Sendo assim, descrevemos os principais testes desenvolvidos, bem como, sua data de início e fim.
Otimização e agilidade durante as campanhas de vacinação
Para quantificar o potencial de otimização do aplicativo e-SUS Vacinação durante as campanhas de vacinação, dados referentes aos campos preenchidos foram dispostos em planilha de Excel (Microsoft, Redmond, Washington, USA), comparando de maneira direta as listagens de campo obrigatórios para cada cenário (campos existentes nas fichas CDS, no PEC e-SUS APS e no aplicativo e-SUS Vacinação). Partindo da soma de cada campo obrigatório, foi possível estimar a porcentagem de otimização referente a usabilidade do aplicativo pelos profissionais de saúde em serviço. Essa métrica levou em consideração a quantidade de interações necessárias para o preenchimento de 19 itens obrigatórios do conjunto mínimo de dados enviados. No aplicativo e-SUS Vacinação foram considerados 3 cenários de uso: 1) Uso do aplicativo para o cadastro e aplicação de um novo imunobiológico; 2) Uso do aplicativo para o registro de aplicação de um imunobiológico já cadastrado; e 3) Uso do aplicativo para o registro de aplicação de múltiplas doses de imunobiológicos (versão 3.2.5).
Fonte de dados
Após implementação do aplicativo e buscando avaliar a distribuição e utilização do aplicativo e-SUS Vacinação pelos profissionais de saúde, dados do Google Analytics (Google LLC, Menlo Park, Califórnia, EUA) foram analisados. Os dados coletados a partir de junho de 2022 buscaram determinar o número de usuários, número de imunobiológicos e tempo de engajamento dos profissionais. Estas informações foram quantificadas e dispostas na tentativa de demonstrar numericamente a utilização do aplicativo pelos profissionais de saúde. Além disso, dados relacionados aos estados e municípios que mais utilizaram o aplicativo também foram analisados, visando a determinação de um panorama geral sobre o uso do e-SUS Vacinação durante e após a pandemia de COVID-19 nas diversas regiões do Brasil.
Usabilidade e experiência dos usuários
Para determinar o grau de usabilidade dos usuários após a implementação do aplicativo, o seguinte questionamento foi aplicado: Qual o seu grau de satisfação após o uso do aplicativo e-SUS Vacinação? Para quantificar tais dados, uma escala Likert de 5 pontos foi utilizada, onde 0 significa “muito insatisfeito” e 5 corresponde a “muito satisfeito”. Este questionamento foi aplicado de forma on-line, a partir de pop-ups na tela do aplicativo após novas versões selecionadas. Por se tratar de uma escala quantitativa focada na usabilidade do aplicativo, os dados pessoais dos usuários não são coletados, garantindo a não identificação dos profissionais de saúde.
O aplicativo conta com 19 versões, das quais apenas 14 foram selecionadas para análise no estudo. Por se tratar de atualizações de menor impacto, a pesquisa de satisfação não foi disponibilizada para cinco versões menores. O índice de satisfação após o uso do aplicativo e-SUS Vacinação foi dividido em: satisfação geral e satisfação por por versão avaliada. Para quantificar a satisfação geral, uma média das 14 versões foi realizada com o auxílio de uma tabela Excel (Microsoft, Redmond, Washington, USA).
RESULTADOS
Funcionalidades, coleta e organização dos dados do e-SUS Vacinação
O e-SUS Vacinação foi criado para facilitar o registro de informações de imunização pelos profissionais de saúde durante as campanhas. O aplicativo permite a criação de fichas de vacinação de forma offline, necessitando apenas de uma autenticação inicial online com o servidor do PEC e-SUS APS para validar registros e dados profissionais. Sua capacidade de funcionar offline demonstra continuidade operacional, permitindo que os profissionais de saúde continuem seus trabalhos de maneira eficiente mesmo em áreas com conectividade limitada.
Diferentemente dos fluxos do PEC e-SUS APS e CDS, o aplicativo prioriza o registro de múltiplas aplicações do mesmo imunobiológico para vários cidadãos, agilizando o processo durante as campanhas de vacinação. Diferentemente do fluxo instituído no PEC e-SUS APS e no CDS, as fichas preenchidas no aplicativo priorizam o registro de diversas aplicações de um mesmo imunobiológico para vários cidadãos, assim como era feito nas campanhas Drive Thru. Sendo assim, as informações referentes ao imunobiológico aplicado são preenchidas antes dos dados pessoais dos cidadãos que serão imunizados. Essa lógica inversa de registro visa um ganho de agilidade no preenchimento e atendimento dos cidadãos ao longo das campanhas de vacinação (Figura 1). Posteriormente, são preenchidos os dados de identificação dos cidadãos (data de nascimento, CPF/CNS, sexo e data do atendimento) e informações sobre condições específicas (como gestação ou hanseníase) e a dose aplicada (Figura 2).
As informações registradas no e-SUS Vacinação são integradas ao sistema do PEC e-SUS APS, sendo enviadas à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) após validação pelo Centralizador Nacional. Embora desenvolvido durante a pandemia de COVID-19, o aplicativo agora abrange o registro de todos os imunobiológicos do calendário vacinal brasileiro, seguindo as diretrizes do Programa Nacional de Imunizações (PNI).
A inclusão de todos os imunobiológicos recomendados no calendário vacinal do país demonstra uma abordagem abrangente e flexível, adaptando-se às necessidades em constante evolução da saúde pública. Portanto, o e-SUS Vacinação não apenas busca otimizar os processos de imunização, mas também fortalecer a resiliência do sistema de saúde ao garantir continuidade, adaptabilidade e integração eficiente das informações de saúde, mesmo em tempos de crise.
Otimização de registros durante as campanhas de vacinação
Seguindo os passos acima descritos, estima-se que esse processo seja capaz de reduzir em até 95% o tempo gasto para o preenchimento das informações pertinentes (dados de identificação do serviço e do profissional, dados do cidadão, dados do imunobiológico) durante o atendimento realizado pelos profissionais de saúde nas campanhas de vacinação (Tabela 1) (material suplementar). O e-SUS Vacinação é um sistema resiliente, que permite a otimização do processo de registro de imunizações, aumenta a eficiência operacional e permite que os profissionais de saúde lidem melhor com grandes volumes de atendimentos durante campanhas intensivas.
Podemos observar ainda, que a versão 3.2.5 do aplicativo e-SUS Vacinação favorece o preenchimento automático das informações referentes a todos os grupos de dados analisados, favorecendo o preenchimento automático e progressivo das informações vinculadas aos atendimentos. Sendo assim, o backend do aplicativo garante a repetição automática das informações referentes aos imunobiológicos em cada registro de vacinação gerada, apresentando uma redução significativa para os campos preenchidos manualmente, sendo que apenas 1 item precisa ser digitado (dose do imunobiológico aplicado) (Tabela 1).
Municípios Pilotos
Ao todo, foram realizados 8 testes, sendo que apenas o primeiro foi realizado antes do lançamento do aplicativo. Para manter a viabilidade do projeto, os demais testes foram realizados em paralelo com as versões disponibilizadas aos usuários. Sendo assim, optamos por descrever os dois principais testes (0.1.0 e 3.0.0), considerados como marcos para o desenvolvimento do aplicativo.
O primeiro foi utilizado para validar o mínimo produto viável do aplicativo e suas funcionalidades, enquanto o terceiro se destaca por avaliar uma importante nova funcionalidade, que consiste na opção de cadastro múltiplo de imunobiológicos. Os dois testes contaram com a participação de profissionais de saúde de 22 municípios, sendo 11 em cada. A lista de municípios piloto abrange diversas regiões do Brasil, e a sua composição é definida pelo Ministério da Saúde. O teste da versão 0.1.0 teve seu início em 8 de outubro de 2021 e foi finalizado em 23 de fevereiro de 2022, enquanto o da versão 3.0.0 foi iniciado em 5 de dezembro de 2022 e concluído em 31 de maio de 2023.
No primeiro teste foram incluídas 5 capitais e cidades de diferentes estados do Brasil, o que permitiu avaliar a eficácia do sistema em contextos urbanos variados, além de possibilitar a identificação de padrões e necessidades específicas de metrópoles e cidades de menor porte populacional. A escolha de capitais reflete o esforço para compreender a resposta do sistema em locais com maior visibilidade e complexidade de gestão em saúde.
O segundo teste priorizou a inclusão de municípios de diferentes estados, o que permitiu entender a resiliência do sistema em um espectro mais amplo de contextos regionais. Tal esforço busca avaliar a flexibilidade e a adaptabilidade do sistema em cenários distintos, assegurando que o feedback e os resultados obtidos sejam representativos de uma variedade mais ampla de contextos.
Dados de uso
Desde seu lançamento até o final de 2022, o aplicativo contou com mais de 80 mil usuários ativos, totalizando mais de 84 mil aplicações de imunobiológicos. Este número foi ampliado em 2023, somando 107 mil usuários ativos e mais de 257 mil imunobiológicos aplicados. De 01 a 19 de janeiro de 2024, o aplicativo totalizou mais de 11 mil usuários ativos, que registraram a aplicação de mais de 16 mil imunobiológicos. Desde o seu lançamento em março de 2022, o aplicativo foi utilizado para o registro de mais de 338 mil imunobiológicos em cidadãos brasileiros (Tabela 2).
O uso do aplicativo se concentra nas regiões sudeste, nordeste e sul do Brasil. De junho de 2022 a 19 de janeiro de 2024, os estados com maior número de usuários totais foram São Paulo (51.597), Rio de Janeiro (15.243), Bahia (15.202), Minas Gerais (14.381), Paraná (7.766), Rio Grande do Sul (7.533), Pará (7.472), Santa Catarina (7.426), Pernambuco (7.406) e Ceará (6.836). Os município com maior número de usuários nesse mesmo período foram São Paulo (29.949), Rio de Janeiro (9.697), Salvador (8.106), Belo Horizonte (5.702), Recife (4.257), Fortaleza (4.066), Brasília (4.044), Belém (3.910) e Campinas (3.414) (Tabela 2).
Podemos observar ainda, algumas diferenças com relação ao uso do e-SUS Vacinação durante e após a pandemia de COVID-19, oficialmente encerrada em 05 de maio de 2023 pela OMS. Após a pandemia de COVID-19, o número de eventos de aplicação de imunobiológicos praticamente dobrou, sugerindo a utilização deste aplicativo nas demais campanhas de vacinação organizadas pelo Sistema Único de Saúde. Além disso, o tempo médio de engajamento foi bem maior após a pandemia, indicando um tempo maior de uso do aplicativo pelos profissionais de saúde (Tabela 2). O tempo médio de engajamento representa o tempo em que os usuários permanecem ativos no aplicativo após a validação do seu login.
Usabilidade dos usuários
A média geral das avaliações das 14 versões incluídas foi de 4,10 (Tabela 3). Observando as avaliações das versões, é possível identificar algumas correlações e tendências. Versões mais recentes tendem a ter avaliações médias mais altas, indicando que melhorias feitas nas versões mais novas foram bem recebidas. Por exemplo, a versão 3.2.2, que é uma das mais recentes, tem a avaliação média mais alta, de 4.76, enquanto versões mais antigas como a 2.1.0 têm uma avaliação média significativamente mais baixa, de 3.08.
Além disso, a variabilidade nas avaliações é notável. A versão 1.1.0, com uma avaliação média de 4.69, é uma das melhores avaliadas, o que sugere que, apesar de ser uma versão mais antiga, foi muito bem recebida. Ademais, a quantidade de respostas parece não ter uma correlação direta clara com a avaliação média. Versões com poucos feedbacks, como a 2.0.1, têm avaliações mais baixas, mas isso não é uma regra geral, já que versões com um número maior de respostas, como a 2.1.3, também têm avaliações relativamente altas.
DISCUSSÃO
A pandemia de COVID-19 evidenciou a necessidade da inserção de tecnologias digitais resilientes, capazes de facilitar e equilibrar sistemas de saúde que quase tiveram seus recursos exauridos. Uma visão sistêmica de resiliência complementa a abordagem tradicional da pesquisa clínica que se concentra nos indivíduos16. Essa visão sistêmica foca na capacidade do sistema como um todo, considerando todas as ferramentas disponíveis para a consolidação e manutenção de sistemas de saúde. Dentro desta concepção, podemos considerar que tecnologias digitais demonstram um desempenho resiliente, favorecendo a capacidade sistêmica de sistemas de saúde em ajustar seu funcionamento antes, durante ou após mudanças ou perturbações17, 18 .
No Brasil, uma variedade de aplicativos relacionados à vacinação desempenharam papel fundamental na gestão e no acesso às vacinas durante a pandemia de COVID-19. Aplicativos desenvolvidos pelo governo, como o Meu SUS Digital (antigo Conecte SUS)19 e o Coronavírus-SUS20 buscaram fornecer informações sobre as campanhas de vacinação disponíveis pelo SUS. Além disso, aplicativos como o ContraCovid21 e o MeVacinei22 ofereceram funcionalidades específicas, facilitando o registro, agendamento e distribuição de vacinas contra o SARS-CoV-2. Diferentemente das iniciativas acima citadas, o e-SUS Vacinação destaca-se como um aplicativo mobile que permite o cadastro de cidadãos elegíveis para vacinação, o registro da aplicação das doses e cobertura vacinal, além de gerar relatórios para o monitoramento e avaliação dos programas de imunização.
O e-SUS Vacinação exemplifica a resiliência do SUS ao incorporar características como compatibilidade, funcionamento offline, agilidade nas campanhas vacinais, uso direto pelos profissionais de saúde e reorganização do modelo de dados CDS. Essas funcionalidades foram selecionadas a partir dos desafios relatados pelos profissionais de saúde que lideravam as ações de imunização no país, permitindo a rápida adequação e manutenção da continuidade dos serviços de saúde. A abordagem adotada para o desenvolvimento do aplicativo e-SUS Vacinação reflete uma sólida compreensão da resiliência no contexto da saúde pública, especialmente em resposta às complexidades enfrentadas durante as campanhas de vacinação contra a COVID-19 no Brasil. A análise e a dinâmica de trabalho dos profissionais de saúde, conduzida por meio do Mapa de Empatia e da metodologia Canvas, permitiram identificar desafios críticos como a falta de conectividade, a sobrecarga de informações e a necessidade urgente de soluções eficazes para o enfrentamento da pandemia23, 24.
Após o fim da pandemia de COVID-19, o e-SUS Vacinação evoluiu para se tornar uma ferramenta móvel essencial para o registro e acompanhamento de qualquer campanha de imunização. A tecnologia offline first do aplicativo contribui para a resiliência na Atenção Primária à Saúde (APS), garantindo que os serviços de vacinação alcançassem qualquer população, independente da conectividade local. Diante da complexidade do Calendário Nacional de Vacinação, que serve como referência mundial na imunização gratuita e de qualidade, o apoio e adequação dos profissionais de saúde torna-se um fator imprescindível para a cobertura vacinal no Brasil25. A adesão dos profissionais de saúde ao e-SUS Vacinação é evidente quando observamos a média geral das avaliações de satisfação. Com uma média de 4.10, pode-se afirmar que os usuários estão satisfeitos com a aplicabilidade prática do aplicativo durante as rotinas de imunização.
Além disso, os resultados obtidos desde o lançamento do aplicativo e-SUS Vacinação até janeiro de 2024 refletem um crescimento significativo no seu uso e impacto na saúde pública brasileira. Desde março de 2022, o aplicativo registrou mais de 338 mil imunobiológicos aplicados por 107 mil usuários ativos até o final de 2023, com um aumento notável após o fim da pandemia de COVID-19. Esse aumento no uso sugere que o aplicativo se tornou uma ferramenta indispensável para campanhas de vacinação em todo o país, facilitando a organização e execução das mesmas. Devido à complexidade geopolítica de nosso país, é necessário pensar na resiliência com foco na sua aplicabilidade para lidar tanto com eventos extraordinários, quanto para as adversidades do dia a dia11, 26 . Sendo assim, a remodelação do uso do aplicativo e-SUS Vacinação pós-pandemia pode ser considerado um exemplo de plasticidade dentro dos ideais fomentados por sistemas resilientes11, 27.
A realização de testes de usabilidade em diferentes realidades regionais, é uma estratégia crucial para garantir que o sistema seja robusto e adaptável a diferentes condições e desafios locais. Esta abordagem busca driblar problemas recorrentes no Brasil, incluindo seu território continental, com vasta diversidade cultural, populacional e socioeconômica. Tais fatores dificultam a adesão e padronização de tecnologias digitais, contribuindo para a fragmentação e dificuldade de interoperabilidade entre os sistemas atuantes28.
Ademais, estudos demonstram que o aumento da utilização de tecnologias mobile pode influenciar favoravelmente o raio de abrangência de campanhas de vacinação em países de baixa e média renda, facilitando o trabalho de profissionais de saúde, nos mais diversos cenários econômicos e geopolíticos29, 30. Sendo assim, o e-SUS Vacinação mostra-se como um novo aliado perante estes problemas recorrentes no Brasil, visto que se integra de maneira sutil a outros sistemas digitais. Este aplicativo passou a ser caracterizado como uma forma alternativa (além do PEC e-SUS APS) para o registro de quaisquer imunobiológicos aplicados no país, contribuindo para o aumento de novos registros em plataformas como Meu SUS Digital, RNDS e PNI. Tal desenvolvimento e readaptação demonstra a capacidade de órgãos públicos em fomentar e, principalmente, adequar suas tecnologias aos diferentes cenários sanitários que integram o Brasil31.
Além disso, o aumento no tempo médio de engajamento após a pandemia indica que os profissionais de saúde estão dedicando mais tempo ao uso do aplicativo, melhorando a qualidade e a abrangência dos registros de vacinação. Esses dados reforçam a adaptabilidade do SUS, demonstrando sua capacidade de evoluir e integrar novas tecnologias para melhorar a eficiência e a cobertura vacinal no Brasil. Tais resultados buscam confrontar o negacionismo e suas consequências para a resiliência dos sistemas de saúde brasileiros27, 32. O alastre de fake news referente às vacinas contra o SARS-CoV-2 contribuíram de maneira direta para o atraso na aquisição e distribuição das vacinas, comprometendo o início e a progressão das campanhas de vacinação. Até mesmo a adesão da população foi afetada, evidenciando severos riscos para a resiliência do SUS33, 34. Além disso, algumas especificidades como o tamanho continental do país, a falta de saneamento básico, a presença de populações de risco (indígenas, ribeirinhos e comunidades de centros urbanos) e a dificuldade de instaurar medidas de profilaxia, contribuíram ainda mais para o aumento dos casos de COVID-1935, 36. Diante disso, iniciativas bem-sucedidas como o e-SUS Vacinação passam a fortalecer os alicerces das campanhas de vacinação no país durante e após a pandemia de COVID-19 no Brasil.
Limitações
Este estudo apresenta limitações relacionadas à falta de literatura que permita a comparação entre as funcionalidades e dados de uso do e-SUS Vacinação com outros aplicativos ou ferramentas de registro específicas para imunobiológicos. Este fator pode estar relacionado à fragmentação dos sistemas de saúde no país. A grande diversidade de serviços digitais e as diferenças socioeconômicas visualizadas no vasto território brasileiro, dificultam a pesquisa e o acesso a dados comparativos com demais aplicativos mobile.
Além disso, o pouco tempo entre o lançamento e uso do aplicativo e-SUS Vacinação reduziram o período de análise temporal realizada durante este trabalho. Embora o tempo de engajamento e uso do aplicativo tenham triplicado após a pandemia, mais estudos e acompanhamentos junto aos profissionais de saúde se fazem necessários para confirmar a adesão, satisfação e usabilidade do aplicativo durante uma janela temporal maior.
Outra limitação significativa está relacionada ao desenho do estudo. Por ser um artigo descritivo, este pode apresentar uma dependência de dados auto relatados para descrever o desenvolvimento do aplicativo e-SUS Vacinação, introduzindo potencial viés de memória e de desejo social. Ainda, as informações analisadas e discutidas neste manuscrito se limitam a dados de usabilidade, o que pode restringir a compreensão do fenômeno de implementação e uso do aplicativo pelos profissionais de saúde.
Conclusão
A pandemia de COVID-19 destacou a necessidade imperativa de tecnologias digitais resilientes para sustentar sistemas de saúde que estavam à beira do colapso devido à pressão intensa sobre recursos físicos e humanos. O conceito de resiliência, que vai além da adaptabilidade individual, foi central para o desenvolvimento do e-SUS Vacinação. Este aplicativo exemplifica a capacidade de um sistema de saúde de se ajustar e manter sua funcionalidade diante de adversidades, refletindo uma abordagem sistêmica para resiliência. Suas funcionalidades permitiram que os sistemas de saúde superassem desafios como a falta de conectividade e a necessidade urgente de soluções rápidas para a vacinação, evidenciando a adaptabilidade e a robustez do SUS em um cenário de crise.
O impacto contínuo do e-SUS Vacinação após a pandemia sublinha a importância da resiliência tecnológica na gestão de campanhas de imunização. O aumento no uso do aplicativo e a adaptação bem-sucedida dos profissionais de saúde demonstram a eficácia de um sistema que evolui e se ajusta conforme as necessidades emergentes. Em um país cheio de diversidade como o Brasil, o sucesso do e-SUS Vacinação ilustra a capacidade dos sistemas de saúde de se transformar e integrar novas tecnologias, garantindo a continuidade e a eficácia dos serviços de vacinação. A resiliência do e-SUS Vacinação reflete não apenas sua habilidade de enfrentar crises, mas também de manter sua relevância e funcionalidade ao longo do tempo.
Contribuição dos autores
ETBM, ICC e JMDO participaram da concepção e delineamento do estudo; RLCP, ICC e FMB realizaram a análise e interpretação dos dados; ETBM, ICC e JMDO foram responsáveis pela redação do artigo; RLCP, FMB, JFH, RSW e EMD realizaram a revisão crítica do manuscrito. Todos os autores (ETBM, RLCP, ICC, JMDO, FMB, JFH, RSW e EMD) leram e aprovaram a versão final do artigo a ser publicada.
Conflitos de interesse
ETBM e JMDO são bolsistas da produção científica do Laboratório Bridge, sem atuação direta no desenvolvimento de tecnologias digitais. RLCR foi product owner do aplicativo e-SUS Vacinação desde sua concepção até setembro de 2022. FMB atua como product owner do aplicativo e-SUS Vacinação desde janeiro de 2023. ICC atua como business analyst do e-SUS Vacinação desde a sua concepção. JFH é CEO do Laboratório Bridge. RSW e EMD são coordenadores de projeto no Laboratório Bridge. As opiniões expressas são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião oficial das agências financiadoras.
Financiamento
Este estudo foi financiado, em parte, pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código Financeiro 001 e pelo Ministério da Saúde, mediante o Termo de Execução Descentralizada – TED Nº 101/2017. RSW e EMD são bolsistas de produtividade em desenvolvimento tecnológico e extensão inovadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).