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0246/2025 - Feasibility and acceptability of actions on physical activity and health promotion from the perspective of different school actors
Viabilidade e aceitabilidade de ações de promoção da atividade física e saúde sob ótica de diferentes atores da escola

Author:

• Janiel Ferreira Felício - Felício, JF - <janielferreira1@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-5601-0086

Co-author(s):

• Isabela Natasha Pinheiro Teixeira - Teixeira, INP - <isabela.pinheiro@aluno.uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0009-0006-5314-857X
• Laécio de Lima Araújo - Araújo, LL - <laecio.lima@aluno.uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1051-2240
• Raquel Sampaio Florêncio - Florêncio, RS - <sampaio.florencio@uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3119-7187
• Victor José Machado de Oliveira - Oliveira, VJM - <oliveiravjm@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7389-9457
• Ana Maria Fontenelle Catrib - Catrib, AMF - <anacatrib051@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2088-0733
• Valter Cordeiro Barbosa Filho - Barbosa Filho, VC - <valtercbf@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4769-4068


Abstract:

This study aimed to compare the perception of different school actors regarding the acceptability and feasibility of actions about physical activity and health promotion which were based on the Health-Promoting Schools framework from the World Health Organization (HPS-WHO). This is a cross-sectional study, with convenience sampling from all five regions of Brazil. The “snowball” strategy was used. A standardized list with actions from the eight HPS-WHO categories was used, including 20 actions on governance and 16 on school organization. For each action, acceptability (0-20 points) and feasibility (0-8 points) scores were calculated with a standardized scale. Generalized Linear Models (GLM) were used for comparisons, with p<0.05. A total of 121 participants were included in this study from all regions of Brazil: 15 school managers, 23 researchers, 37 schoolteachers and 46 school health professionals. Lower acceptability scores were observed among managers in comparison to other groups for four actions on government policies, one action on school policies and resources, and one action on the school health services. In conclusion, reducing disparities between school actors on how HPS-WHO’s governance actions can be implemented is needed to promote physical activity and health in the school context.

Keywords:

School Health, Health Promotion, Implementation Sciences, Cross-sectional study, Youth Health.

Content:

Introdução
A escola tem sido reconhecida como contexto relevante para fortalecer estratégias e políticas públicas que visam a promoção da saúde de crianças e adolescentes1. Na idade escolar, a promoção de condições de vida saudáveis (incluindo a prática de atividade física, segurança alimentar, dentre outros) permite que crianças e adolescentes desenvolvam toda as suas potencialidades e sejam protegidas das iniquidades/vulnerabilidades que podem produzir doenças crônicas mais tarde na vida2.
O cenário escolar, dentro do contexto para ações de saúde, sofreu mudanças ao longo dos anos por fatores políticos, sociais e históricos3. Nesse sentido, a Carta de Ottawa elenca o entendimento do território, incluindo a escola como potencializadora das políticas públicas para criar ambientes de apoio e cuidado em saúde4. Isso foi reforçado, sobretudo, nos anos de 1990, quando a Organização Mundial da Saúde propôs recomendações e princípios para a Escola Promotora de Saúde (EPS-OMS)5.
Após mais de 20 anos, com o desenvolvimento de experiências e a produção de evidências sobre as estratégias e recomendações de promoção da saúde na escola baseadas na proposta da EPS-OMS, a OMS publicou uma série de documentos com a descrição de padrões (adiante, denominados por nós de categorias) com indicadores específicos para cada um e etapas de implementação da EPS6-7.
Nestes documentos, ações em oito categorias distintas foram recomendadas, as quais buscam fortalecer a governança (gestão de recursos e liderança) e a estruturação do contexto escolar (no currículo, na organização dos ambientes físicos e sociais e dos serviços de saúde) para favorecer a saúde e o desenvolvimento da sua comunidade. A partir destas propostas, a OMS fez uma chamada para que os diferentes atores da escola (formuladores de políticas, gestores escolares, profissionais da saúde que atuam na escola, professores, estudantes) possam reconhecer ações e se engajar na implementação de ações de promoção da saúde na escola à luz desta proposta 6-7.
Contudo, intervenções prévias com ações similares aos propostos na EPS-OMS apresentam dificuldades na sua implementação, incluindo fragilidades na aceitabilidade dos atores envolvidos nas ações (alunos, pais e funcionários) e na viabilidade (adaptação) das ações à realidade local, bem como o desalinhamento com os objetivos e ações da governança escolar8. Portanto, estudos que possam reconhecer elementos que favorecem a implementação de ações de promoção da saúde na escola, como a promoção da atividade física, representam parte de uma agenda de pesquisa a ser valorizada no que tange a área de saúde escolar.
As percepções dos indivíduos envolvidos influenciam como as ações serão implementadas e como elas terão impacto na rotina e nas práticas na escola9. Em particular, a avaliação da aceitabilidade permite compreender como a ação é agradável e satisfatória, o que é importante para a adoção de ações em diferentes contextos e realidades10. Não obstante, a avaliação da viabilidade contempla como uma nova ação poderá ser usada com sucesso dentro de uma determinada escola, permitindo compreender as condições (formação e recursos) necessários para implementar as ações propostas10. Neste cenário, a implementação de ações de promoção da saúde é influenciada por múltiplos fatores, incluindo o contexto organizacional, as estratégias de implementação em cada realidade e como elas são percebidas pelas pessoas que irão aplicá-las ou recebê-las11. Portanto, compreender esses pressupostos das ciências da implementação podem apoiar a tradução das evidências sobre as estratégias a serem consideradas pelos atores escolares.
Com base nestas premissas, o estudo buscou comparar a percepção de aceitabilidade e viabilidade de diferentes atores da escola sobre ações de promoção da atividade física e saúde baseadas na estratégia da EPS-OMS.





Método
Desenho e aspectos éticos de estudo
Estudo transversal, envolvendo diferentes grupos de atores escolares brasileiros. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética sob o parecer 6.107.653 e todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre, voluntário e esclarecido (TCLE) para participar do estudo.
População, amostragem e critérios de seleção
Este estudo envolve uma amostra intencional, não-probabilística, considerando os seguintes critérios de inclusão: adultos que se autodeclararam pertencer a um dos grupos de atores interessados em saúde na escola, conforme definidos pela OMS6: 1) gestores/formuladores de Educação/Saúde, ou seja, que trabalham na gestão de políticas ou programas municipais, estaduais ou federais voltados diretamente à saúde na escola (por exemplo, no Brasil, os coordenadores locais ou municipais do Programa Saúde na Escola); 2) pesquisadores, sendo aqueles atuantes em instituições de ensino e pesquisa e que desenvolvem estudos científicos contemplando diretamente a saúde na escola; 3) profissionais da saúde que desenvolvem ações de promoção da saúde na escola (por exemplo, vinculados ao Programa Saúde na Escola); e 4) professores de Educação Básica. Desta forma, eles foram elegíveis independentes da região do país ou contexto de atuação e pesquisa (ações de saúde voltadas à atividade física, prevenção da obesidade ou outros temas de saúde na escola) ou contexto de atuação/pesquisa (escolas públicas/privadas, zonas urbanas/rurais etc.).
Foram excluídos os indivíduos que aceitaram participar da pesquisa, porém respoderam de forma incompleta o questionário. Buscou-se alcançar representantes de todas as cinco regiões do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste).
A estratégia bola de neve foi implementada, a partir de uma lista inicial de contatos de atores da escola, incluindo contatos pessoais (email ou contato telefônico) e institucionais (ex. Escolas estaduais de Saúde Pública) e perfil profissionais em ambientes virtuais (grupos de redes sociais)12. Para o grupo de pesquisadores, uma lista de contatos foi produzida considerando autores de publicações científicas sobre saúde na escola e atividade física e saúde. Contatos eletrônicos disponíveis nos portais eletrônicos de Programas de Pós-graduação em Saúde Coletiva, Ciências do Movimento Humano e áreas afins das cinco regiões do país também foram abordados.
Além disso, participantes foram convidados por email, mensagens de texto e publicações em redes sociais como Whatsapp® e Instagram®, sendo ferramentas úteis para alcance de públicos13-14. Foi realizado o envio do TCLE e do questionário para os potenciais participantes. Quando finalizado o preenchimento, o participante recebia um certificado de participação e o pedido para indicações e compartilhamentos da pesquisa com outros atores com o objetivo de alcançar novos participantes elegíveis. A seleção dos participantes foi finalizada quando a saturação foi percebida pelos pesquisadores, ou seja, as estratégias de convite e divulgação da pesquisa não culminaram em novos participantes12.
Coleta de dados e variáveis em estudo
A coleta de dados ocorreu no período de julho a setembro de 2023. Os participantes receberam o convite, contendo o link de acesso do TCLE com questionário, após o aceite e a assinatura do TCLE, deram seguimento ao preenchimento do questionário. O questionário foi estruturado na plataforma SurveyMonkey®, a qual permite um melhor controle e qualidade das respostas (ao evitar respostas não padronizadas) em levantamentos online. O questionário foi composto por diferentes seções: 1) orientações e anuência; 2) identificação dos grupos de atores; 3) percepção da aceitabilidade e viabilidade; e 4) dados sociodemográficos.
A seção do questionário de identificação tinha questões relativas à identificação profissional e sociodemográfica: nome completo, e-mail, região do país onde mora e atua, grupo de atores da escola a qual pertence, faixa etária, estado civil, ocupação, gênero, raça/cor da pele, escolaridade, área de formação (graduação) e área de saúde na escola que mais se interessa. As oito seções seguintes continham as ações de promoção da atividade física e saúde conforme as oito dimensões da EPS-OMS.
Estas ações foram baseadas em um estudo prévio, o qual elaborou uma lista desenvolvida para contemplar de ações de promoção da atividade física e saúde baseadas nas categorias da EPS-OMS15. No estudo, 24 documentos e revisões sistemáticas sobre intervenções baseadas na EPS-OMS foram consultadas e sumarizadas, incluindo experiências em escolas brasileiras, seguida de uma análise de clareza e semântica das ações. Portanto, este estudo representava uma lista abrangente das diferentes possibilidades de ações de promoção da atividade física e saúde na escola. Ao todo, 36 diferentes ações foram analisadas, sendo 20 sobre as quatro categorias de governança (oito ações sobre políticas e recursos governamentais; cinco sobre políticas e recursos da escola; três sobre, governança e liderança da escola e quatro sobre parcerias da escola com a comunidade) e 16 sobre as quatro categorias de organização da escola (sete ações sobre currículo da escolar; três sobre o ambiente socioemocional; três sobre o ambiente físico; e três sobre serviços de saúde na escola) baseadas na EPS-OMS.
Os participantes indicaram sua percepção de aceitabilidade e viabilidade para cada uma das ações. Para tanto, questões adaptadas de instrumentos de aceitabilidade e viabilidade de ações em saúde16,17,18-19 foram consideradas. A aceitabilidade incluiu cinco questões com respostas objetivas: 1) Você gostaria que esta estratégia fosse usada na sua escola/rede escolar?; 2) Quão útil você classifica esta estratégia para promover saúde e bem-estar?; 3) Quão fácil para você seria usar esta ação/estratégia?; 4) O tempo necessário para realizar esta estratégia é aceitável?; e 5) Como você classificaria sua satisfação geral com esta estratégia? Para avaliação da percepção da viabilidade, outras duas questões foram consideradas: 1) Esta estratégia é atrativa e viável para ser realizada em escolas com diferentes realidades?; e 2) Você acha que os profissionais na escola têm treinamento suficiente para usá-lo corretamente?
As opções de resposta destas questões variaram em uma escala do tipo Likert de cinco pontos, baseado nas escalas16-18: -2: “Discordo totalmente”; -1: “Discordo”; 0: “Tanto faz”; 3: “Concordo” e 4: “Concordo totalmente. Os valores das respostas foram organizados em polos negativos e positivos para representar a direção da percepção dos participantes sobre os questionamentos, ou seja, uma avaliação positiva ou negativa de cada questão de aceitabilidade e viabilidade. Em seguida, estes escores foram somados para gerar um escore total de aceitabilidade e viabilidade, onde pontuações mais elevadas indicam uma melhor percepção nestes dois constructos. Pela quantidade de questões para viabilidade (cinco) e aceitabilidade (duas), os escores totais de cada ação poderiam variar de -10 a 10 pontos para aceitabilidade e -4 a 4 pontos para viabilidade.
Tratamento e análise dos dados
Os dados foram importados do SuveyMonkey® para uma planilha de Excel. A avaliação dos dados válidos (completos) foi feita por um pesquisador e revisada por outro pesquisador. As informações foram organizadas conforme os grupos de atores da escola, ações e categorias da EPS-OMS.
A caracterização dos participantes foi apresentada por meio da frequência absoluta e relativa, enquanto os valores de percepção foram organizados por indicadores de tendência central (média) e variabilidade (desvio padrão). (Material suplementar 1).
Para melhor representação gráfica dos resultados20, os valores médios dos escores de aceitabilidade e viabilidade foram apresentados em gráficos do estilo radar. Neles, é possível visualizar quão próximo do máximo e distintos são os valores médios dos escores de aceitabilidade e viabilidade em cada grupo de atores (cada linha inserida no radar) e cada ação (cada ponta do radar). Portanto, é possível visualizar as curvas do radar (formatos, assimetrias e variações) de acordo com o grupo de atores da escola. Considerando que a quantidade de ações varia conforme a categoria da EPS-OMS, os radares elaborados têm formas geométricas distintas (triângulos, losangos, entre outras).
Em adição à análise de dados, os Generalized Linear Models (GLM) foram utilizados para comparar os valores médios entre os grupos de atores para cada um dos escores de aceitabilidade e viabilidade. Esta análise permite apresentar parâmetros estatísticos robustos frente à distribuição dos dados gerados a partir das escalas de resposta e escores totais. Para tanto, foi escolhido o software Statistical Package for the Social Science (SPSS), considerando um intervalo de confiança de 95% (IC95%) e um nível de significância de p < 0,05.

Resultados
O procedimento de bola de neve permitiu alcançar 375 participantes potencialmente elegíveis, por terem acessado o formulário. Desses, 137 marcaram que aceitavam participar da pesquisa, mas não deram continuidade em nenhuma das questões; sete não aceitaram participar da pesquisa; 47 só preencheram os dados iniciais (nome; e-mail; onde mora; ator da escola) e 63 não finalizaram todas as seções do questionário. Portanto, a amostra final do estudo foi composta por 121 participantes, sendo 15 Gestores/formuladores de políticas e programas, 23 pesquisadores, 37 professores e 46 profissionais de saúde.
Conforme a tabela 1, a maior parcela dos participantes era do Nordeste (61,2%), do gênero feminino (56,2%), da faixa etária de 35 a 39 anos (22,3%), de raça/cor da pele parda (42,1%), com especialização concluída (42,2%) e da área de interesse a atividade física/vida ativa (35,6%).
***INSERIR TABELA 1 AQUI***
Os valores médios dos escores foram apresentados nas Figuras 1 e 2. Dados detalhados (média, desvio padrão e valor de p das comparações entre os grupos) foram apresentados no material suplementar.
Na visualização gráfica e o formato das linhas no radar (ver Figura 1), é possível perceber que, de modo geral, os profissionais da saúde apresentaram maiores escores totais de aceitabilidade das ações das diferentes categorias da EPS-OMS. Isso fica visível pelas linhas tracejadas de cor cinza nas partes mais externas no radar. Nas das ações da categoria 5 (ações curriculares), os professores tiveram escores de aceitabilidade mais elevados, com distribuição no radar similar aos dos profissionais de saúde. Contrariamente, o formato das linhas do radar, com linhas com curvaturas próximas a valores menores, demonstra menores escores de aceitabilidade para os demais grupos nas diferentes categorias da EPS-OMS, principalmente, nos gestores/formuladores de políticas (linhas pontilhadas de cor preta).
***INSERIR FIGURA 1 AQUI***
Na viabilidade (ver radares da Figura 2), o formato das linhas de cada grupo de atores demostra importantes variações no escore de viabilidade entre os grupos e as ações das categorias da EPS-OMS. Embora os profissionais da saúde (linhas tracejadas de cor cinza) tivessem maiores escores de viabilidade em boa parte das ações e categorias, houve sobreposições das linhas em vários gráficos do radar; ou seja, outros grupos com maiores escores de viabilidade para uma determinada ação. Por exemplo, na categoria sobre ações curriculares, os pesquisadores (linhas com traços e pontos de cor cinza) tiveram escores médios próximos de zero na ação “planejar e executar aulas que incluem metodologias ativas”, e escores de viabilidade mais próximos dos demais grupos para outras ações.
***INSERIR FIGURA 2 AQUI***
Na comparação estatística entre os grupos de atores da escola, piores escores de aceitabilidade foram observados entre os gestores de saúde/escolares para quatro ações da categoria da EPS-OMS sobre políticas e recursos governamentais, a saber: “apoiar a implementação de ações de saúde nas redes de ensino e escolas” (p-valor= 0,05), “criar um sistema organizacional de planejamento, monitoramento, desempenho e revisão” (p-valor = 0,03), “priorizar recursos financeiros do governo” (p-valor = 0,02) e “estabelecer de parcerias intersetoriais” (p-valor = 0,01). Piores escores de viabilidade foram observados para os pesquisadores em uma ação da categoria da EPS-OMS sobre currículo da escola: “planejar e executar aulas que incluem metodologias ativas”. Não houve diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de atores da escola para as outras ações das categorias da EPS-OMS.






Discussão

Os resultados do presente estudo revelaram similaridades entre os atores da escola na percepção de indicadores de implementação (aceitabilidade e viabilidade) de boa parte das ações de promoção da atividade física e saúde baseadas na EPS-OMS. Contudo, em quatro das oito ações sobre governança institucional e escolar foram percebidas com menor aceitabilidade pelos participantes que atuam diretamente como gestores de políticas e programas de Educação/Saúde em comparação aos pares que assumem outras funções/papéis na escola. Isso demonstra que a complexidade de promover atividade física e saúde na escola é percebida de forma desafiadora pelos atores que atuam diretamente no planejamento e na gestão escolar. Estes achados enfatizam a necessidade de fortalecer a implementação de ações voltadas à governança e gestão escolar que favoreça a promoção da saúde no contexto escolar.
Houve diferentes percepções entre os profissionais da saúde e gestores em diferentes ações avaliadas. Enquanto os profissionais da saúde apresentaram maiores escores de aceitabilidade das ações, ocorreu o inverso entre os gestores. Uma possível explicação envolve a pouca difusão destas estratégias aqui no Brasil. Um estudo21 apontou uma incompreensão em parcela de gestores quanto à amplitude das ações que envolvem a promoção da saúde, principalmente em relação à intersetorialidade - um desafio a ser superado. Isso gera comportamentos limitados a parcerias, com acordos frágeis no tocante a encaminhamentos, compartilhamentos de alguns recursos materiais e humanos22.
Outra possibilidade envolve a formação de profissionais para assumir cargos de gestão nos setores da saúde e educação. Muitas vezes, o processo de formação inicial e continuada não permitem que competências profissionais específicas para este campo sejam desenvolvidas21. Quando inseridos nas funções de gestão dos setores, as dificuldades da formação se alinham com os desafios financeiros, de recursos humanos e de infraestrutura. Portanto, mudanças advindas de novas tecnologias e propostas que agregam complexidade ao processo de trabalho, como a EPS-OMS, enfrentam resistências e dificuldades de implementação21.
A promoção da saúde que visa a construção de EPS-OMS deve ter estratégias que visam agregar as competências, os recursos e a rotina de trabalho de gestores. Para isso, o processo onde gestores adquirem e adotam conhecimentos, competências e práticas para agir com outros atores da escola, com o devido suporte para sua implementação e reconhecendo as práticas exitosas que ocorrem nos contextos escolares. Assim, as ações de governança política e da escola poderão ser implementadas e impactar positivamente, quando envolvidos na apropriação de habilidades advindas do desenvolvimento de ações de promoção da saúde.
Considera-se que as práticas intersetoriais podem contribuir para uma melhor compreensão dos papeis e ações de promoção de saúde, o que acarretará na melhoria das condições de saúde da comunidade escolar a longo prazo21. No entanto, os desafios de colocar a intersetorialidade em prática não abrangem sobre os gestores. Em relação a gestão e trabalho em saúde na escola, há o desafio de estabelecer uma prática integrada de trabalho, considerando-se que o setor saúde sozinho não é capaz de efetivar a promoção da saúde, uma vez que não consideraria os determinantes sociais da saúde23.
Os pesquisadores tiveram piores escores de viabilidade sobre ações curriculares para aulas que incluem metodologias ativas, quando comparados aos demais grupos. Esse achado indica como pode haver distanciamentos na percepção dos profissionais no serviço e pesquisadores que estudam o objeto em análise sobre as estratégias de promoção da saúde na escola. Para superar esta realidade, pesquisas que priorizem o diálogo com os profissionais e outros atores do contexto escola devem ser incentivadas, tais como, investigações qualitativas que buscam compreender fenômenos decorrentes de desalinhamentos e falta de colaboração para a transformação das realidades escolares. Ao pesquisador é possível estabelecer relações horizontalizadas, em que se busque perceber as limitações de cada postura epistemológica e considerar ele próprio como ferramenta da pesquisa24.
Nota-se melhor avaliação das ações de aceitabilidade pelos grupos de profissionais de saúde. Isso pode significar um aprimoramento dos paradigmas formativos para profissionais de saúde, com foco em um modelo de saúde direcionado para práticas de promoção da saúde24. Esse achado indica a complexidade dos aspectos formativos que se interconectam com saberes curriculares, saberes experienciais da vida cotidiana e profissional e o reconhecimento dos determinantes sociais, econômicos, culturais, ambientais e políticos na produção da saúde26. Esses processos evidenciam a práxis como um dinâmico entre os aspectos teórico-conceituais e as metodologias práticas que (re)produzem ações de promoção da saúde, estimulando ações intersetoriais como a estratégia da EPS-OMS27.
No Brasil, constata-se avanços em prol de aspectos intersetoriais como a Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) e a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNERS), que podem estar impactando o desenvolvimento profissional ao favorecer o reconhecimento do trabalho como espaço de aprendizagem e a importância de formação específica para a promoção da saúde28-29. Sob este prisma observa-se, no contexto brasileiro, esforços nos currículos de formação profissional com a criação das residências e mestrados que valorizam aspectos formativos para a área da promoção da saúde. Nesse sentido, leva-se em consideração a substituição da lógica biologicista (de uma intervenção descontextualizada) por uma perspectiva ampliada e holística do desenvolvimento humano que leva as pessoas a refletir sobre os objetos em seu contexto e sua complexidade30.
Professores tiveram escores de aceitabilidade e viabilidade semelhantes aos demais grupos em todas as ações. Entretanto, em uma interpretação dos dados dentro deste grupo para as ações curriculares da EPS-OMS, escores médios foram mais próximos dos valores máximos para aceitabilidade do que para viabilidade. Isso reflete parte de desafios conjunturais e estruturais relacionados a implementação de ações de saúde na escola no Brasil. Em particular, pela falta de relações nos currículos de formação de professores com imersão nas temáticas de saúde e outros temas que permeiam a vida, fazendo com que muitos professores foquem exclusivamente nas habilidades duras dos componentes curriculares e se tornem resistentes aos desafios para a inclusão destes temas nas aulas de forma transversal. Além dos desafios do processo formativo de professores, a falta de recursos e estruturas em muitos cenários tem inviabilizado a implementação de estratégias que englobam práticas inovadoras de promoção da saúde nas ações curriculares31.
Os achados do presente estudo reforçam indicações para futuras pesquisas que almejam apoiar políticas e práticas de saúde na escola baseadas na EPS-OMS. Futuros estudos devem focar em processos (por exemplo, na pesquisa-ação) para engajar e desenvolver as competências de gestores e da comunidade escolar para lidar com governança e práticas intersectoriais de saúde na escola. Por exemplo, pode-se aprofundar em ações como oferta de formações permanente e apoio com recursos, para que os participantes possam aprimorarem sua percepção de competência e os recursos para implementar as ações baseadas na EPS-OMS. Isso é necessário para ampliar as ações em escolas brasileiras que garantem a intersetorialidade e o protagonismo dos diferentes atores de promoção da atividade física e saúde na escola. Este estudo teve maior concentração de participantes da região Nordeste do Brasil, o que limita a extrapolação dos resultados para cenários de outras regiões ou uma representatividade nacional. Um melhor alcance a contextos representativos e de outros com baixo número de participantes (pesquisadores e gestores) pode ser obtido com outras estratégias de divulgação (por exemplo: contatos durante eventos científicos presenciais ou encontros nacionais), uma vez que as estratégias virtuais foram limitadas em alcançar uma quantidade elevada de participantes de outras regiões e destes grupos. Não obstante, estudos futuros podem considerar detalhar diversas temáticas de saúde para os atores da escola – uma vez que, mesmo com sete temas majoritários, uma parcela importante se identificou como especialista em “outros” temas. Portanto, estudos futuros devem considerar tais aspectos para ampliar o conhecimento sobre a pluralidade de territórios e possibilidades de promoção da saúde na escola.




Conclusão
O presente estudo evidenciou que os profissionais de saúde, quando comparados aos outros grupos de atores da escola (gestores, professores e pesquisadores) tiveram uma melhor percepção de aceitabilidade de quatro das oito ações sobre políticas e recursos governamentais da EPS-OMS. Ao mesmo tempo, a análise gráfica permitiu identificar que gestores apresentavam baixos escores médios de aceitabilidade e viabilidade das ações baseadas na EPS-OMS. Não obstante, pesquisadores de saúde na escola têm uma melhor percepção viabilidade de uma das ações curriculares, quando comparados aos professores, gestores e profissionais da saúde.
Estas diferenças revelam a importância de políticas, programas e pesquisas que apoiem a implementação de futuras ações da EPS-OMS no Brasil. Em particular, com ações envolvendo e fortalecendo o protagonismo dos múltiplos atores da escola (gestor, professor, profissional, familiares, estudantes e pesquisador), mobilizados para decisões e ações intersetoriais de promoção da saúde. Também, há a necessidade de maior investimento em políticas públicas com financiamento de recursos e desenvolvimento de formações para os profissionais que assumem a governança escolar e o trabalho pedagógico na escola e nas redes de ensino. Ações para reduzir estas disparidades entre atores da escola sobre como ações baseadas na EPS-OMS podem ser implementadas pode representar uma estratégia promissora para ampliar a promoção da atividade física e saúde na escola no contexto brasileiro.








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Felício, JF, Teixeira, INP, Araújo, LL, Florêncio, RS, Oliveira, VJM, Catrib, AMF, Barbosa Filho, VC. Feasibility and acceptability of actions on physical activity and health promotion from the perspective of different school actors. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/Jul). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/en/articles/feasibility-and-acceptability-of-actions-on-physical-activity-and-health-promotion-from-the-perspective-of-different-school-actors/19722



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