0348/2024 - HETEROCISNORMATIVITY AND THE IMPLICATIONS FOR MENTAL HEALTH
A HETEROCISNORMATIVIDADE E AS IMPLICAÇÕES À SAÚDE MENTAL
Author:
• Camila Santos Costa - Costa, C.S - <xcamilacosta@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0009-0002-9953-9681
Co-author(s):
• Ana Carolina de Albuquerque Cavalcanti Ferreira Novo - Novo, A.C.A.C.F - <carolcnovo@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2584-4299
Abstract:
Human diversity, especially with regard to aspects of gender and sexuality, is still subjugated by social impositions, prejudices and marginalization, causing major damage to the population\'s biopsychosocial health. The present study aims to analyze the impact of hetero-cis-normativity on individuals’ mental health, through a qualitative and integrative review, carried out using the acronym PICo (Population, Interest, Context), in February 2022. Eighteen articles were ed to compose the present study, published2012 to 2021, and showed the impact of hetero-cis-normativity on the lives of individuals rangingthe most diverse gender identities and sexual orientations. Despite the few studies focused on the subject, it was possible to conclude that hetero-cis-normativity impacts people who are or are not part of this established pattern, leading to an oppression of great impact on population mental health, especially with the presence of depressive and anxious symptoms. There is a need for further discussions in society on the subject, with the role of education and health professionals being paramount in favor of hetero-cis-normative cultural deconstruction.Keywords:
mental health, sexism, gender norms.Content:
Introdução
Os primeiros conceitos necessários para uma maior compreensão deste tema são a orientação afetivo-sexual e a identidade de gênero. Esses termos possuem significados distintos e independentes, ao contrário do que muitas vezes é entendido pela sociedade. O primeiro discorre sobre o direcionamento afetivo ou sexual pelo outro, englobando indivíduos homossexuais, heterossexuais, bissexuais, assexuais, entre outros. A identidade de gênero, por sua vez, consiste na percepção identitária de cada indivíduo sobre o próprio gênero. Indivíduos cisgênero se identificam com o gênero correspondente ao sexo biológico reconhecido ao nascimento, ou seja, de acordo com anatomia interna e externa, análise cromossômica e hormonal enquanto, em contrapartida, pessoas transgênero não se identificam com este gênero associado ao sexo biológico.1, 2 A transgeneridade trata-se de um conceito "guarda-chuva" que inclui: indivíduos transexuais, sendo mulheres e homens que se identificam com o gênero oposto ao reconhecido inicialmente; travestis, que compõem uma construção de gênero transfeminino com aspectos culturais e históricos brasileiros, refletido em um movimento de lutas e empoderamento social; pessoas não-binárias, que não se identificam com os polos masculino e feminino, ou se identificam em meio a ambos.1, 3
O desenvolvimento da identidade de gênero se dá por meio de uma fusão de fatores biológicos e socioculturais. Biologicamente, enquanto a diferenciação genital ocorre nos primeiros três meses de gestação, a diferenciação das estruturas cerebrais ocorre em um processo distinto no segundo trimestre, sob influência cromossômica, genética e hormonal, que pode ter resultados diferentes, possibilitando o amplo espectro de diversidades de gênero.4
Em outra perspectiva desse desenvolvimento, Jesus3 aponta o gênero não somente como identidade, mas também como uma expressão de dimensão social, pautada de acordo com expectativas binárias de polos determinados como masculino e feminino, construídas em cada cultura distintamente, apresentando-se individualmente de forma diversificada a partir da percepção de si e da manifestação social. Questionando as percepções sobre construção da identidade, Butler5 aborda que o gênero e suas manifestações apresentam-se para além da concretização cultural padronizada, sendo algo potencialmente mutável e contextual, construído por meio de vivências e performatividades em sociedade, não somente pela diferença entre homens e mulheres, mas entre as diversas formas de ser homem e mulher.
A partir de então, o gênero molda-se pela sociedade atendendo a demandas da heteronormatividade e cisnormatividade, sendo estas definidas como as normas sociais que ditam como ideal, respectivamente, a pessoa heterossexual e cisgênero, baseada em expectativas binárias para tal. Ambas designam critérios para corpos e identidades tidas como “naturais” ao ser humano, favorecendo a estigmatização e apontando como incongruência qualquer identificação que fuja a esse padrão heterocisnormativo.1, 6 Essas expectativas reverberam também em normas para a expressão ou papel de gênero, caracterizado como a forma de se apresentar por meio de vestimentas e maneirismos, além de papéis sociais ditos como masculino/feminino, conceitos que independem de orientação sexual e identidade de gênero para sua determinação.1, 6
A diversidade fora deste padrão segue marginalizada e não validada como legítima na sociedade, transpassando a vivência humana com preconceitos, estigmas e violências diversas. A partir disso pode-se pensar em saúde mental, definida inicialmente como um estado de bem-estar que impacta em vários aspectos a vivência individual e coletiva, sofrendo influência de fatores diversos.7 Historicamente, a saúde mental foi intimamente atrelada à palavra “loucura”, inserida em um contexto sociopolítico hierárquico e violento de marginalização e exclusão de qualquer indivíduo inadequado aos padrões culturais da sociedade em que está inserido.8, 9 Por conseguinte, a saúde mental tornou-se um sinônimo de psiquiatria, com um foco analítico da medicina entre o normal e o patológico sanado unicamente mediante diagnósticos e condutas medicamentosas. 8, 10
Com o decorrer da reforma psiquiátrica, a saúde mental vem recebendo aos poucos uma perspectiva mais integrada e multidisciplinar com o objetivo de superar a padronização coletiva, em respeito ao indivíduo em sua singularidade, limitações e oscilações ao longo do seu ciclo de vida.10 Essa perspectiva se aprofunda à percepção de que a saúde mental está atrelada direta e historicamente a um contexto de posição e desigualdade social baseado em raça, etnia, classe, capacidade, gênero, sexualidade, entre outros, assumindo que populações em situação de vulnerabilidade social estão expostas a estressores tanto individuais como a nível de grupo que interagem de forma complexa entre si.10, 11 Heise et al.11 trazem a intersecção da saúde ao sistema heterocisnormativo por meio de determinantes biológicos, estruturais e sociais para a compreensão de fatores correlacionados à qualidade de vida individual e coletiva onde, segundo os autores, o sexo biológico, o sistema de gênero e a posição social de gênero influenciam a socialização do indivíduo em todas as fases etárias e contextos de sua vivência, causando um impacto cumulativo em aspectos físicos e psicológicos ao longo da vida.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a repercussão da heterocisnormatividade na saúde mental dos indivíduos, de modo a reunir estudos que abordem a temática, além de incentivar o pensamento crítico em sociedade e reflexões acerca das necessidades em saúde e direitos humanos da população. A justificativa se dá pela quantidade limitada do agrupamento de dados voltados a essa temática, além da contínua invalidação da diversidade sexual e de gênero como existente e genuína, que se baseia prejudicialmente na construção social binária heterocisnormativa.
Metodologia
Esta é uma pesquisa do tipo revisão integrativa de caráter qualitativo que busca responder “Qual é a repercussão da hetero e cisnormatividade na saúde mental dos indivíduos?”, realizada por meio do acrônimo PICo (População, Interesse, Contexto), exibido a seguir.
Tab.1
O levantamento de dados foi realizado em fevereiro de 2022, utilizando os descritores “saúde mental”, “sexismo" e “normas de gênero”, como um jogo de palavras realizado em duplas, que abriu maior resultado por meio da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). O uso dos descritores de sexismo e de normas de gênero foram selecionados ao pesquisar respectivamente, cisnormatividade e heteronormatividade, em DeCS/MeSH, que apresentaram os termos como os equivalentes dispostos na hierarquia dos descritores.
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos utilizados foram de texto na íntegra, das mais diversas abordagens metodológicas, presentes nas bases de dados à disposição, sendo: Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), nos idiomas disponíveis, sendo estes: alemão, espanhol, inglês e português. Foram excluídos os artigos em duplicidade e pesquisas que não trouxeram contribuições para a investigação ou que não apresentaram uma correlação entre impactos da heterocisnormatividade na saúde mental. O processo de exclusão e seleção final dos estudos foi realizado a partir de uma análise de título e resumo dos estudos, seguido da leitura na íntegra dos artigos remanescentes, sendo selecionados os que contribuíram efetivamente na construção do presente estudo.
Resultados
A partir do levantamento realizado por meio dos descritores, 70 estudos foram recuperados. Após a aplicação dos critérios de inclusão, os artigos foram filtrados inicialmente pelo assunto dos títulos, seguido da seleção a partir dos resumos e, por fim, a leitura criteriosa dos textos na íntegra para a avaliação de informações relevantes para a realização da pesquisa. Após o processo de elegibilidade, foram selecionados 25 artigos para a composição do presente estudo.
Por meio da Figura 1, é possível ver a sequência de passos seguidos, com início no levantamento de dados, conforme descritores, seguido de análise crítica dos títulos e resumos, finalizando com a leitura dos textos selecionados na íntegra, para a seleção dos que responderam ao objetivo da pesquisa.
Fig.1
Dos artigos selecionados, 8 apareciam na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), 14 na Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), 1 na Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e 2 no Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS).
Quanto ao período, os estudos selecionados se concentraram em um intervalo de dez anos, de 2012 a 2021. Nesse período, 7 artigos foram publicados nos primeiros cinco anos (2012 a 2016), enquanto os demais foram publicados ao longo dos cinco anos seguintes (2017 a 2021). Em relação ao idioma, 6 artigos encontravam-se em espanhol, 16 em inglês e 3 em português.
Acerca da população presente nos estudos, 5 abordavam exclusivamente a população LGB (lésbicas, gays e bissexuais), 4 a população LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, entre outros), 3 exclusivamente a população transgênero, 1 a população transgênero acima de 50 anos de idade, 1 a população LGB acima de 40 anos de idade, 1 a população LGBT+ negra, 2 a população de homens cisgênero heterossexuais, 6 a população de mulheres cisgênero, 1 a população de mulheres negras e 1 profissionais da medicina.
Para análise descritiva dos resultados, optou-se por utilizar uma tabela (Tabela 2) que facilitasse a interpretação dos dados, reunindo os principais achados de forma sucinta, a fim de identificar as informações importantes ao tema da pesquisa.
Tab.2
Discussões
A análise dos estudos encontrados possibilita a percepção de que a imposição da heterocisnormatividade está presente desde antes do nascimento. Quando se descobre o sexo biológico da criança já existem referências sociais, identitárias e corporais, além de expectativas que espera-se serem supridas.12, 13 Oliveira, Francisco, Gonçalves14 argumentam que “o corpo é produto da cultura”, e é por meio da materialidade do sexo biológico que as diferenças sociais são formadas. A imposição de uma hierarquia de gênero se apropria dos corpos para estabelecer desigualdades que oprimem o indivíduo antes de qualquer identidade ser formada.12, 15 Estes dados reforçam a intersecção dos determinantes biológicos, estruturais e sociais abordados anteriormente por Heise et al.11
Nesse sentido, a diversidade identitária e sexual ainda está imersa em crenças sociais e tabus que julgam e rotulam como perversão, pecado, desvio e transtorno qualquer manifestação fora do padrão heterocisnormativo.15 Tais crenças sociais equivocadas e preconceitos presentes em diversas culturas possuem um potencial prejuízo perdurável na saúde mental desses indivíduos, configurando estressores que as minorias sexuais estão sujeitas.16, 17, 18 O estresse de minorias é caracterizado por Meyer19, como a condição de intensa exposição a estressores distais (externos) e proximais (internos) de indivíduos estigmatizados e considerados minoritários na sociedade, ou seja, que a partir da marginalização, não possuem domínio de sua própria existência em relação à cultura dominante. Os estressores distais provêm de vivências discriminatórias, preconceituosas, desrespeitosas, depreciativas, estigmatizantes e dos mais diversos tipos de violência, incluindo ameaças de morte.16, 20 Essas vivências tendem a oprimir e restringir a liberdade de “ser”, gerando sentimentos de inadequação, sofrimento, exclusão, fragilidade e cautela persistente durante as interações, os quais associam-se à explicação dada por Santos21, na qual, a ansiedade, é uma sensação que prepara o ser humano para um perigo que deve ser enfrentado, mas que em grande intensidade pode gerar sofrimentos e adoecimento. O impacto sociocultural afeta o autoconceito desses indivíduos, sob efeito também de estressores proximais que estão relacionados ao estigma social e preconceitos internalizados, rejeição de aspectos próprios, normalização da violência e ocultamento da identidade.16, 18, 20, 22 Este, por sua vez, está associado a uma busca por não decepcionar e perder as redes de apoio, onde tentam mostrar respeito ao que foi aprendido moralmente por meio da família, religião e sociedade. Nesse sentido, Johnson et al.,23 explicam que o elevado estresse crônico vivenciado por essa população resulta em diversas manifestações negativas na saúde física e mental, elevando principalmente o risco de depressão.
Pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, entre outros) relatam maior quebra de laços com a rede de apoio e sociedade do que outros grupos, comprovando que a discriminação contribui para maiores chances de exclusão e solidão.24, 25, 26 Isso está relacionado à autoaceitação e à aceitação pelo outro, uma vez que a sensação de não pertencimento por estar fora de um padrão aceitável culturalmente traz anseios, negação, insegurança, opressão, isolamento social e medo de agressões e represálias.15, 22 É possível perceber, sendo confirmado também por Johnson et al.,23 que locais que possuem maior aceitabilidade e respeito às mais diversas identidades e sexualidades possuem uma taxa maior de saúde e bem-estar, enquanto a discriminação está associada ao prejuízos delas.20 Dessa forma, o suporte familiar e da rede de apoio se mostram um fator imprescindível para uma maior taxa de saúde mental entre a população.
Essas questões levam ao sofrimento que, por sua vez, causa impacto na saúde mental, podendo suceder a quadros de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, ideações e tentativas suicidas, autoagressividade e consumo de substâncias psicoativas.15, 16, 20, 22, 27 A depressão é abordada por Moreno28 como um transtorno emocional crônico grave, com impactos cognitivos e funcionais, que sofre grandes influências de eventos estressantes da vida, levando a uma alta taxa de suicídio. O sofrimento, em sua forma geral, é muitas vezes reprimido para enfrentar ou tolerar situações sociais negativas, levando a um acúmulo de prejuízos psicológicos ao longo dos anos. 16
O uso de substâncias psicoativas (SPAs) lícitas e ilícitas caracterizadas socialmente como “drogas”29 mostra-se mais prevalente na população LGBTQIA+ do que na população geral, sendo este um dado frequentemente associado a valores éticos e morais mais tolerantes e liberais que permeiam o ambiente sociocultural destes indivíduos.20, 26, 27, 30 O uso ocorre comumente em locais frequentados por estes, com foco principal no lazer e socialização. Porém, o uso de SPAs foi observado também em uma relação intimamente conectada ao prejuízo da saúde mental dessa população, no qual vivências cercadas de violência, discriminação, marginalização, opressão e conflito com uma identidade dupla devido à pressão social levam a impactos psicológicos, adjunto a sentimentos de isolamento e não pertencimento social.27, 30
Esses dados corroboram com a abordagem histórica, sociopolítica, moral e científica realizada por Vargas31 e Fiore29, no qual as “drogas” apareceram como uma forma de entorpecer e ajudar a suportar a vida, focando na intensidade em relação à extensão da mesma, em uma relação contínua de privações e excessos, onde a ilusão de um prazer artificial trata-se de um risco e que a dependência química trata-se da falta de controle entre a busca por prazeres e a manutenção do mesmo. Assim como nos estudos de gênero e sexualidade, o processo da construção de regras e prescrições de condutas impostas para a sociedade e a tendência farmacológica e biomédica da medicalização dos corpos e da existência criam uma dualidade entre a “normalidade” e a patologização, categorizando comportamentos e hierarquizando vivências, enquanto define a droga identificada como não medicamentosa (seja em sua composição ou dosagem) como uma ameaça que deve ser criminalizada.29, 31 Já dentro de uma análise científica das SPAs voltada à saúde mental, Marcon32 aborda como os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas estão influenciados por questões biopsicossociais entrelaçadas, em uma perspectiva além de uma predisposição orgânica, no qual:
Fatores psicológicos, sociológicos, culturais, familiares, ambientais e espirituais desempenham importante papel no processo de instalação da dependência química, e o olhar de forma isolada para um dos fatores tende a ofuscar a interação de várias causas, em detrimento da valorização de aspectos particulares. (Marcon, 2013, p. 99)
É de suma importância pensar que, quanto mais tipos de discriminações um indivíduo enfrenta em sociedade, maiores são as chances de ele apresentar algum transtorno mental decorrente do sofrimento psíquico vivenciado por meio de um processo estigmatizante e exclusivo. Em indivíduos de origem africana, indígena, asiática e demais grupos definidos politicamente como minorias étnicas, há uma maior taxa de discriminação e rejeição social e familiar.26 Além de impactos físicos, sofrimento psíquico, depressão e ansiedade, essa situação pode alcançar também questões como ideação suicida e uso de substâncias psicoativas.17, 26 De forma mais aprofundada, estudos mostram que pessoas transgênero reconhecidos como minorias étnicas, apresentam maior taxa de homicídios, se comparadas a mesma população de etnia branca.27 A pressão e sofrimento vivenciadas por esses indivíduos está intimamente relacionada à não conformidade com as normativas socioculturais, como questões de preconceito racial, diversidade sexual e de gênero, bem como a valores étnicos-culturais e religiosos de familiares ou comunidade em que estão inseridos.17, 26, 27
É importante um olhar diferenciado também para os indivíduos LGBTQIA+ em processo de envelhecimento, que vivenciam múltiplas experiências de discriminação, atribuídas não mais somente à identidade de gênero e orientação sexual, mas também a uma idade mais avançada.25, 33 A vivência de mais de uma identidade estigmatizada aumenta as chances de prejuízos da saúde mental (principalmente sintomatologia depressiva) e física, pela maior exposição à opressão da sociedade.33
Eventos estigmatizantes ou discriminatórios foram relatados também no sistema de saúde, no qual a diversidade corporal, sexual e de gênero pode ser invisibilizada, negada, discriminada ou mais comumente, vista como uma patologia ou transtorno mental, sendo, dessa maneira, uma forma de transfobia e homofobia.25, 34 Justificado pela falta de conhecimentos científicos e formação insuficiente, o atendimento em saúde torna-se negligente e prejudicial, impedindo assim o uso de seus serviços, principalmente ginecológicos, pela binaridade de gênero explícita nesses ambientes.34 Como exemplo, estão os pressupostos de que todas as pessoas são heterossexuais e de que todas as pessoas transgênero desejam fazer modificações corporais entre os polos binários masculino-feminino.
A luta pela “despatologização” de indivíduos transgênero na história coloca a diversidade não como um transtorno mental que necessite de avaliações clínicas ou psiquiátricas, mas como o direito humano de ser quem se é, respeitando a pluralidade de expressões e identidades humanas.35 Contudo, é importante salientar que esses indivíduos muitas vezes procuram atendimento de saúde para questões relacionadas à transgeneridade. Para poder ter acesso a estes cuidados no Brasil, é necessário que tenham um CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) correspondente. Contudo, é de extrema importância firmar que, ter um diagnóstico e um CID correspondente, não significa que estes indivíduos estão sendo considerados doentes. Como resultado dessa compreensão, o diagnóstico apresentado no CID-10 publicado em 1990 correspondia a transtorno de identidade de gênero, dentro do capítulo de Transtornos mentais, foi substituído no CID-11, publicado em 2018, como incongruência de gênero, no capítulo “Condições relacionadas à saúde sexual”.36
Sabe-se que indivíduos incluídos na diversidade fora do padrão social estão sujeitos à grande impacto na saúde mental, mas não são apenas os pertencentes a comunidade LGBTQIA+ que sofrem com a heterocisnormatividade.12 Visto que ela causa impactos na vida de todos, em que mesmo o opressor se faz reprimir qualquer indício que coloque em dúvida sua padronização, regulando corpo, comportamento e ética. Estudos demonstram que pessoas que seguem essas normas sociais à risca estão propensas a desenvolver grande sofrimento psicológico devido a necessidade interna e externa de se comportar dentro de um padrão, a partir de uma vigilância rigorosa da sociedade que disciplina identidades não aceitáveis e nega outras possibilidades de masculinidades e feminilidades para além do modelo heterocisnormativo.37
Dentro deste modelo, há uma hipervalorização da masculinidade em relação à feminilidade. Estudos mostram que mulheres cisgênero homossexuais são vistas como mulheres masculinas, enquanto os homens de mesma identidade e orientação sexual seriam vistos como alguém que perdeu essa masculinidade, o que os torna objeto de desprezo da sociedade e, consequentemente gera maior sofrimento.12, 24 Homens cisgênero heterossexuais que atuam na área da enfermagem, por exemplo, vivenciam uma pressão social, uma vez que a profissão é vista como feminina e de menor conhecimento do que a medicina, sendo esta última vinculada socialmente à figura masculina, em uma supremacia do homem cis, hétero e branco.38, 39 Nesse cenário eles vivenciam a associação à homossexualidade por ser a enfermagem caracterizada pela presença de afeto e cuidado com o outro, além de sentimentos de exclusão, frustração, vergonha, tristeza, sensação de inutilidade e falta de motivação.38
É esperado que os homens sejam firmes, dominantes, ativos, agressivos e controladores, sem demonstração de sentimentos, afeto e cuidado.12, 37 No entanto, estudos mostram que, apesar da menor prevalência registrada de depressão nessa população, há uma maior taxa de suicídio. Isso ocorreria devido uma necessidade em manter intacta uma masculinidade em conformidade com noções dominantes de gênero.37 Consequentemente, esse público masculino não tem o autocuidado incorporado à sua cultura, além de apresentar dificuldade em reconhecer sintomas depressivos e em buscar assistência em saúde, vivenciando um sofrimento silencioso reprimido. Moreno28 aborda que, apesar de transtornos depressivos serem muito mais diagnosticados em mulheres do que em homens, isso pode estar relacionado à diferença entre os gêneros para lidar com problemas e consequentemente resolver situações. Dessa forma, homens sentem a necessidade de serem fortes, responsáveis pelas finanças e protetores, porém sem espaço para reflexividade de si.
Os sofrimentos das mulheres cisgênero heterossexuais são um pouco mais complexos. Elas estão submetidas à estereotipia de gênero feminina, na qual devem apresentar características de devoção e complementação aos homens, além do dever de manter castidade, serem submissas, passivas, sensíveis, emotivas e ter consigo um cuidado maternal, em uma relação de controle em que são continuamente desencorajadas a buscar a própria independência e liberdade de ser e existir.12, 13, 40, 41 Devido a essa cultura, associada a essa população, elas estão comumente expostas a diversos riscos de danos à saúde mental, que estão diretamente interligadas a discriminação de gênero, como a dupla jornada de trabalho, maiores responsabilidades domésticas, marginalização no mercado de trabalho unido à baixa remuneração, pobreza, desvalorização social e profissional, diversos tipos de violência ao longo da vida, altas taxas de mortalidade materna e casamento infantil, questões que tendem a se intensificar ao introduzir também a discriminação étnico-racial, que leva à presença de maior estresse psicológico nessa população.13, 39, 42, 43 Além disso, grande parte das vivências relacionadas à discriminação de gênero ocorre em locais públicos, sobretudo em transportes coletivos, mediante insultos ou até mesmo ataques físicos, levando ao sentimento de insegurança e tendência a evitar certos ambientes, em um processo de isolamento e exclusão social.
Essas vivências estão fortemente associadas ao sofrimento emocional, autoestima prejudicada, baixa satisfação com a vida e principalmente danos à saúde mental, como a depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático.13, 44, 45 Moreno28 resume a prevalência de transtornos depressivos na população feminina como relacionada a estresse crônico, pressão social e baixa aceitação a papéis designados como femininos, o que dialoga ainda com uma maior intensidade do processo de estigmatização, exclusão social e violências sofridas por mulheres que não estão em conformidade com as expectativas socioculturais de seu gênero.13, 41 Para além de uma feminilidade esperada pela sociedade, elas sofrem com o impacto da masculinidade cultural no outro. Isso porque estudos mostram que há uma associação entre homens cisgênero heterossexuais que cometeram violência doméstica e que possuem sintomas depressivos, ou seja, elas se tornam um refúgio do sofrimento alheio.38 Além disso, após sofrer violência por parceiros, essas mulheres são julgadas como culpadas ou inocentes, de acordo com o estereótipo de gênero esperado para elas.40 Nesse sentido, mulheres que não estão em maior conformidade com seus gêneros para a sociedade são vistas como culpadas pela violência sofrida pelo parceiro, enquanto as que apresentaram um comportamento esperado, não.
Considerações Finais
Foram encontrados poucos estudos voltados à temática, principalmente no Brasil, evidenciando a limitação do presente estudo. De forma geral, os artigos encontrados mostraram resultados para grupos específicos, não abrangendo toda a população.
Percebeu-se que a opressão heterocisnormativa mostrou impactar de diferentes formas a todos, independente da identidade de gênero e orientação sexual. A discriminação mostrou-se mais prevalente em indivíduos da comunidade LGBTQIA+, enquanto a repressão estava mais associada à população heterossexual e cisgênero, que sofre pressão social para se manter dentro de rígidos padrões estabelecidos socialmente.
Evidencia-se grande impacto na saúde mental da população, principalmente com a presença de sintomas depressivos e ansiosos que estão de alguma forma associados com o sofrimento pela heterocisnormatividade. Indivíduos que possuem múltiplas identidades estigmatizadas socialmente, como por exemplo pessoas LGBTQIA+ idosas e/ou que enfrentam preconceito racial, tendem a apresentar maior chance de transtornos mentais de humor. É reiterado, dessa forma, não ser possível abordar unicamente um sofrimento psíquico decorrente da não conformidade com a heterocisnormatividade, sem visualizar abertamente a influência de múltiplas violências estruturais voltadas à fatores de gênero, idade, raça e classe social, além de valores étnicos-culturais e religiosos no ambiente que o indivíduo está inserido.
Deste modo, a construção de políticas públicas, principalmente de saúde, são cruciais para a quebra das imposições normativas socioculturais e para a superação da dicotomia corpo e mente, objetivo e subjetivo, impactando diretamente na saúde mental dos indivíduos e em seu pertencimento em sociedade. Além disso, dentro dos espaços de saúde, os profissionais da área devem atuar por intermédio da perspectiva da integralidade do cuidado, assegurando um olhar holístico ao indivíduo e ao coletivo e empregando também o seu papel educacional para proporcionar conhecimentos tanto aos usuários do sistema de saúde, como para a equipe multiprofissional na qual estão inseridos.
A partir dos estudos apresentados, evidencia-se a necessidade de uma análise contínua cada vez mais profunda da temática da diversidade sexual e de gênero em sociedade, desenvolvendo assim a capacidade de criar espaços oportunos para debates críticos e extensos sobre as normas socioculturais impostas pela heterocisnormatividade, sendo um fator facilitador para uma compreensão e respeito à individualidade de cada ser, para fomentar o aprimoramento ininterrupto da saúde mental coletiva. Nesse sentido, serviços de educação e saúde possuem um papel primordial, devido à proximidade com a população e a oferta de conhecimentos científicos disponíveis.
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Os primeiros conceitos necessários para uma maior compreensão deste tema são a orientação afetivo-sexual e a identidade de gênero. Esses termos possuem significados distintos e independentes, ao contrário do que muitas vezes é entendido pela sociedade. O primeiro discorre sobre o direcionamento afetivo ou sexual pelo outro, englobando indivíduos homossexuais, heterossexuais, bissexuais, assexuais, entre outros. A identidade de gênero, por sua vez, consiste na percepção identitária de cada indivíduo sobre o próprio gênero. Indivíduos cisgênero se identificam com o gênero correspondente ao sexo biológico reconhecido ao nascimento, ou seja, de acordo com anatomia interna e externa, análise cromossômica e hormonal enquanto, em contrapartida, pessoas transgênero não se identificam com este gênero associado ao sexo biológico.1, 2 A transgeneridade trata-se de um conceito "guarda-chuva" que inclui: indivíduos transexuais, sendo mulheres e homens que se identificam com o gênero oposto ao reconhecido inicialmente; travestis, que compõem uma construção de gênero transfeminino com aspectos culturais e históricos brasileiros, refletido em um movimento de lutas e empoderamento social; pessoas não-binárias, que não se identificam com os polos masculino e feminino, ou se identificam em meio a ambos.1, 3
O desenvolvimento da identidade de gênero se dá por meio de uma fusão de fatores biológicos e socioculturais. Biologicamente, enquanto a diferenciação genital ocorre nos primeiros três meses de gestação, a diferenciação das estruturas cerebrais ocorre em um processo distinto no segundo trimestre, sob influência cromossômica, genética e hormonal, que pode ter resultados diferentes, possibilitando o amplo espectro de diversidades de gênero.4
Em outra perspectiva desse desenvolvimento, Jesus3 aponta o gênero não somente como identidade, mas também como uma expressão de dimensão social, pautada de acordo com expectativas binárias de polos determinados como masculino e feminino, construídas em cada cultura distintamente, apresentando-se individualmente de forma diversificada a partir da percepção de si e da manifestação social. Questionando as percepções sobre construção da identidade, Butler5 aborda que o gênero e suas manifestações apresentam-se para além da concretização cultural padronizada, sendo algo potencialmente mutável e contextual, construído por meio de vivências e performatividades em sociedade, não somente pela diferença entre homens e mulheres, mas entre as diversas formas de ser homem e mulher.
A partir de então, o gênero molda-se pela sociedade atendendo a demandas da heteronormatividade e cisnormatividade, sendo estas definidas como as normas sociais que ditam como ideal, respectivamente, a pessoa heterossexual e cisgênero, baseada em expectativas binárias para tal. Ambas designam critérios para corpos e identidades tidas como “naturais” ao ser humano, favorecendo a estigmatização e apontando como incongruência qualquer identificação que fuja a esse padrão heterocisnormativo.1, 6 Essas expectativas reverberam também em normas para a expressão ou papel de gênero, caracterizado como a forma de se apresentar por meio de vestimentas e maneirismos, além de papéis sociais ditos como masculino/feminino, conceitos que independem de orientação sexual e identidade de gênero para sua determinação.1, 6
A diversidade fora deste padrão segue marginalizada e não validada como legítima na sociedade, transpassando a vivência humana com preconceitos, estigmas e violências diversas. A partir disso pode-se pensar em saúde mental, definida inicialmente como um estado de bem-estar que impacta em vários aspectos a vivência individual e coletiva, sofrendo influência de fatores diversos.7 Historicamente, a saúde mental foi intimamente atrelada à palavra “loucura”, inserida em um contexto sociopolítico hierárquico e violento de marginalização e exclusão de qualquer indivíduo inadequado aos padrões culturais da sociedade em que está inserido.8, 9 Por conseguinte, a saúde mental tornou-se um sinônimo de psiquiatria, com um foco analítico da medicina entre o normal e o patológico sanado unicamente mediante diagnósticos e condutas medicamentosas. 8, 10
Com o decorrer da reforma psiquiátrica, a saúde mental vem recebendo aos poucos uma perspectiva mais integrada e multidisciplinar com o objetivo de superar a padronização coletiva, em respeito ao indivíduo em sua singularidade, limitações e oscilações ao longo do seu ciclo de vida.10 Essa perspectiva se aprofunda à percepção de que a saúde mental está atrelada direta e historicamente a um contexto de posição e desigualdade social baseado em raça, etnia, classe, capacidade, gênero, sexualidade, entre outros, assumindo que populações em situação de vulnerabilidade social estão expostas a estressores tanto individuais como a nível de grupo que interagem de forma complexa entre si.10, 11 Heise et al.11 trazem a intersecção da saúde ao sistema heterocisnormativo por meio de determinantes biológicos, estruturais e sociais para a compreensão de fatores correlacionados à qualidade de vida individual e coletiva onde, segundo os autores, o sexo biológico, o sistema de gênero e a posição social de gênero influenciam a socialização do indivíduo em todas as fases etárias e contextos de sua vivência, causando um impacto cumulativo em aspectos físicos e psicológicos ao longo da vida.
Portanto, o presente trabalho tem como objetivo analisar a repercussão da heterocisnormatividade na saúde mental dos indivíduos, de modo a reunir estudos que abordem a temática, além de incentivar o pensamento crítico em sociedade e reflexões acerca das necessidades em saúde e direitos humanos da população. A justificativa se dá pela quantidade limitada do agrupamento de dados voltados a essa temática, além da contínua invalidação da diversidade sexual e de gênero como existente e genuína, que se baseia prejudicialmente na construção social binária heterocisnormativa.
Metodologia
Esta é uma pesquisa do tipo revisão integrativa de caráter qualitativo que busca responder “Qual é a repercussão da hetero e cisnormatividade na saúde mental dos indivíduos?”, realizada por meio do acrônimo PICo (População, Interesse, Contexto), exibido a seguir.
Tab.1
O levantamento de dados foi realizado em fevereiro de 2022, utilizando os descritores “saúde mental”, “sexismo" e “normas de gênero”, como um jogo de palavras realizado em duplas, que abriu maior resultado por meio da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). O uso dos descritores de sexismo e de normas de gênero foram selecionados ao pesquisar respectivamente, cisnormatividade e heteronormatividade, em DeCS/MeSH, que apresentaram os termos como os equivalentes dispostos na hierarquia dos descritores.
Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos utilizados foram de texto na íntegra, das mais diversas abordagens metodológicas, presentes nas bases de dados à disposição, sendo: Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), nos idiomas disponíveis, sendo estes: alemão, espanhol, inglês e português. Foram excluídos os artigos em duplicidade e pesquisas que não trouxeram contribuições para a investigação ou que não apresentaram uma correlação entre impactos da heterocisnormatividade na saúde mental. O processo de exclusão e seleção final dos estudos foi realizado a partir de uma análise de título e resumo dos estudos, seguido da leitura na íntegra dos artigos remanescentes, sendo selecionados os que contribuíram efetivamente na construção do presente estudo.
Resultados
A partir do levantamento realizado por meio dos descritores, 70 estudos foram recuperados. Após a aplicação dos critérios de inclusão, os artigos foram filtrados inicialmente pelo assunto dos títulos, seguido da seleção a partir dos resumos e, por fim, a leitura criteriosa dos textos na íntegra para a avaliação de informações relevantes para a realização da pesquisa. Após o processo de elegibilidade, foram selecionados 25 artigos para a composição do presente estudo.
Por meio da Figura 1, é possível ver a sequência de passos seguidos, com início no levantamento de dados, conforme descritores, seguido de análise crítica dos títulos e resumos, finalizando com a leitura dos textos selecionados na íntegra, para a seleção dos que responderam ao objetivo da pesquisa.
Fig.1
Dos artigos selecionados, 8 apareciam na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), 14 na Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE), 1 na Base de Dados de Enfermagem (BDENF) e 2 no Índice Bibliográfico Español en Ciencias de la Salud (IBECS).
Quanto ao período, os estudos selecionados se concentraram em um intervalo de dez anos, de 2012 a 2021. Nesse período, 7 artigos foram publicados nos primeiros cinco anos (2012 a 2016), enquanto os demais foram publicados ao longo dos cinco anos seguintes (2017 a 2021). Em relação ao idioma, 6 artigos encontravam-se em espanhol, 16 em inglês e 3 em português.
Acerca da população presente nos estudos, 5 abordavam exclusivamente a população LGB (lésbicas, gays e bissexuais), 4 a população LGBT+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, entre outros), 3 exclusivamente a população transgênero, 1 a população transgênero acima de 50 anos de idade, 1 a população LGB acima de 40 anos de idade, 1 a população LGBT+ negra, 2 a população de homens cisgênero heterossexuais, 6 a população de mulheres cisgênero, 1 a população de mulheres negras e 1 profissionais da medicina.
Para análise descritiva dos resultados, optou-se por utilizar uma tabela (Tabela 2) que facilitasse a interpretação dos dados, reunindo os principais achados de forma sucinta, a fim de identificar as informações importantes ao tema da pesquisa.
Tab.2
Discussões
A análise dos estudos encontrados possibilita a percepção de que a imposição da heterocisnormatividade está presente desde antes do nascimento. Quando se descobre o sexo biológico da criança já existem referências sociais, identitárias e corporais, além de expectativas que espera-se serem supridas.12, 13 Oliveira, Francisco, Gonçalves14 argumentam que “o corpo é produto da cultura”, e é por meio da materialidade do sexo biológico que as diferenças sociais são formadas. A imposição de uma hierarquia de gênero se apropria dos corpos para estabelecer desigualdades que oprimem o indivíduo antes de qualquer identidade ser formada.12, 15 Estes dados reforçam a intersecção dos determinantes biológicos, estruturais e sociais abordados anteriormente por Heise et al.11
Nesse sentido, a diversidade identitária e sexual ainda está imersa em crenças sociais e tabus que julgam e rotulam como perversão, pecado, desvio e transtorno qualquer manifestação fora do padrão heterocisnormativo.15 Tais crenças sociais equivocadas e preconceitos presentes em diversas culturas possuem um potencial prejuízo perdurável na saúde mental desses indivíduos, configurando estressores que as minorias sexuais estão sujeitas.16, 17, 18 O estresse de minorias é caracterizado por Meyer19, como a condição de intensa exposição a estressores distais (externos) e proximais (internos) de indivíduos estigmatizados e considerados minoritários na sociedade, ou seja, que a partir da marginalização, não possuem domínio de sua própria existência em relação à cultura dominante. Os estressores distais provêm de vivências discriminatórias, preconceituosas, desrespeitosas, depreciativas, estigmatizantes e dos mais diversos tipos de violência, incluindo ameaças de morte.16, 20 Essas vivências tendem a oprimir e restringir a liberdade de “ser”, gerando sentimentos de inadequação, sofrimento, exclusão, fragilidade e cautela persistente durante as interações, os quais associam-se à explicação dada por Santos21, na qual, a ansiedade, é uma sensação que prepara o ser humano para um perigo que deve ser enfrentado, mas que em grande intensidade pode gerar sofrimentos e adoecimento. O impacto sociocultural afeta o autoconceito desses indivíduos, sob efeito também de estressores proximais que estão relacionados ao estigma social e preconceitos internalizados, rejeição de aspectos próprios, normalização da violência e ocultamento da identidade.16, 18, 20, 22 Este, por sua vez, está associado a uma busca por não decepcionar e perder as redes de apoio, onde tentam mostrar respeito ao que foi aprendido moralmente por meio da família, religião e sociedade. Nesse sentido, Johnson et al.,23 explicam que o elevado estresse crônico vivenciado por essa população resulta em diversas manifestações negativas na saúde física e mental, elevando principalmente o risco de depressão.
Pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, queer, intersexo, assexuais, entre outros) relatam maior quebra de laços com a rede de apoio e sociedade do que outros grupos, comprovando que a discriminação contribui para maiores chances de exclusão e solidão.24, 25, 26 Isso está relacionado à autoaceitação e à aceitação pelo outro, uma vez que a sensação de não pertencimento por estar fora de um padrão aceitável culturalmente traz anseios, negação, insegurança, opressão, isolamento social e medo de agressões e represálias.15, 22 É possível perceber, sendo confirmado também por Johnson et al.,23 que locais que possuem maior aceitabilidade e respeito às mais diversas identidades e sexualidades possuem uma taxa maior de saúde e bem-estar, enquanto a discriminação está associada ao prejuízos delas.20 Dessa forma, o suporte familiar e da rede de apoio se mostram um fator imprescindível para uma maior taxa de saúde mental entre a população.
Essas questões levam ao sofrimento que, por sua vez, causa impacto na saúde mental, podendo suceder a quadros de depressão, ansiedade, transtornos alimentares, ideações e tentativas suicidas, autoagressividade e consumo de substâncias psicoativas.15, 16, 20, 22, 27 A depressão é abordada por Moreno28 como um transtorno emocional crônico grave, com impactos cognitivos e funcionais, que sofre grandes influências de eventos estressantes da vida, levando a uma alta taxa de suicídio. O sofrimento, em sua forma geral, é muitas vezes reprimido para enfrentar ou tolerar situações sociais negativas, levando a um acúmulo de prejuízos psicológicos ao longo dos anos. 16
O uso de substâncias psicoativas (SPAs) lícitas e ilícitas caracterizadas socialmente como “drogas”29 mostra-se mais prevalente na população LGBTQIA+ do que na população geral, sendo este um dado frequentemente associado a valores éticos e morais mais tolerantes e liberais que permeiam o ambiente sociocultural destes indivíduos.20, 26, 27, 30 O uso ocorre comumente em locais frequentados por estes, com foco principal no lazer e socialização. Porém, o uso de SPAs foi observado também em uma relação intimamente conectada ao prejuízo da saúde mental dessa população, no qual vivências cercadas de violência, discriminação, marginalização, opressão e conflito com uma identidade dupla devido à pressão social levam a impactos psicológicos, adjunto a sentimentos de isolamento e não pertencimento social.27, 30
Esses dados corroboram com a abordagem histórica, sociopolítica, moral e científica realizada por Vargas31 e Fiore29, no qual as “drogas” apareceram como uma forma de entorpecer e ajudar a suportar a vida, focando na intensidade em relação à extensão da mesma, em uma relação contínua de privações e excessos, onde a ilusão de um prazer artificial trata-se de um risco e que a dependência química trata-se da falta de controle entre a busca por prazeres e a manutenção do mesmo. Assim como nos estudos de gênero e sexualidade, o processo da construção de regras e prescrições de condutas impostas para a sociedade e a tendência farmacológica e biomédica da medicalização dos corpos e da existência criam uma dualidade entre a “normalidade” e a patologização, categorizando comportamentos e hierarquizando vivências, enquanto define a droga identificada como não medicamentosa (seja em sua composição ou dosagem) como uma ameaça que deve ser criminalizada.29, 31 Já dentro de uma análise científica das SPAs voltada à saúde mental, Marcon32 aborda como os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas estão influenciados por questões biopsicossociais entrelaçadas, em uma perspectiva além de uma predisposição orgânica, no qual:
Fatores psicológicos, sociológicos, culturais, familiares, ambientais e espirituais desempenham importante papel no processo de instalação da dependência química, e o olhar de forma isolada para um dos fatores tende a ofuscar a interação de várias causas, em detrimento da valorização de aspectos particulares. (Marcon, 2013, p. 99)
É de suma importância pensar que, quanto mais tipos de discriminações um indivíduo enfrenta em sociedade, maiores são as chances de ele apresentar algum transtorno mental decorrente do sofrimento psíquico vivenciado por meio de um processo estigmatizante e exclusivo. Em indivíduos de origem africana, indígena, asiática e demais grupos definidos politicamente como minorias étnicas, há uma maior taxa de discriminação e rejeição social e familiar.26 Além de impactos físicos, sofrimento psíquico, depressão e ansiedade, essa situação pode alcançar também questões como ideação suicida e uso de substâncias psicoativas.17, 26 De forma mais aprofundada, estudos mostram que pessoas transgênero reconhecidos como minorias étnicas, apresentam maior taxa de homicídios, se comparadas a mesma população de etnia branca.27 A pressão e sofrimento vivenciadas por esses indivíduos está intimamente relacionada à não conformidade com as normativas socioculturais, como questões de preconceito racial, diversidade sexual e de gênero, bem como a valores étnicos-culturais e religiosos de familiares ou comunidade em que estão inseridos.17, 26, 27
É importante um olhar diferenciado também para os indivíduos LGBTQIA+ em processo de envelhecimento, que vivenciam múltiplas experiências de discriminação, atribuídas não mais somente à identidade de gênero e orientação sexual, mas também a uma idade mais avançada.25, 33 A vivência de mais de uma identidade estigmatizada aumenta as chances de prejuízos da saúde mental (principalmente sintomatologia depressiva) e física, pela maior exposição à opressão da sociedade.33
Eventos estigmatizantes ou discriminatórios foram relatados também no sistema de saúde, no qual a diversidade corporal, sexual e de gênero pode ser invisibilizada, negada, discriminada ou mais comumente, vista como uma patologia ou transtorno mental, sendo, dessa maneira, uma forma de transfobia e homofobia.25, 34 Justificado pela falta de conhecimentos científicos e formação insuficiente, o atendimento em saúde torna-se negligente e prejudicial, impedindo assim o uso de seus serviços, principalmente ginecológicos, pela binaridade de gênero explícita nesses ambientes.34 Como exemplo, estão os pressupostos de que todas as pessoas são heterossexuais e de que todas as pessoas transgênero desejam fazer modificações corporais entre os polos binários masculino-feminino.
A luta pela “despatologização” de indivíduos transgênero na história coloca a diversidade não como um transtorno mental que necessite de avaliações clínicas ou psiquiátricas, mas como o direito humano de ser quem se é, respeitando a pluralidade de expressões e identidades humanas.35 Contudo, é importante salientar que esses indivíduos muitas vezes procuram atendimento de saúde para questões relacionadas à transgeneridade. Para poder ter acesso a estes cuidados no Brasil, é necessário que tenham um CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) correspondente. Contudo, é de extrema importância firmar que, ter um diagnóstico e um CID correspondente, não significa que estes indivíduos estão sendo considerados doentes. Como resultado dessa compreensão, o diagnóstico apresentado no CID-10 publicado em 1990 correspondia a transtorno de identidade de gênero, dentro do capítulo de Transtornos mentais, foi substituído no CID-11, publicado em 2018, como incongruência de gênero, no capítulo “Condições relacionadas à saúde sexual”.36
Sabe-se que indivíduos incluídos na diversidade fora do padrão social estão sujeitos à grande impacto na saúde mental, mas não são apenas os pertencentes a comunidade LGBTQIA+ que sofrem com a heterocisnormatividade.12 Visto que ela causa impactos na vida de todos, em que mesmo o opressor se faz reprimir qualquer indício que coloque em dúvida sua padronização, regulando corpo, comportamento e ética. Estudos demonstram que pessoas que seguem essas normas sociais à risca estão propensas a desenvolver grande sofrimento psicológico devido a necessidade interna e externa de se comportar dentro de um padrão, a partir de uma vigilância rigorosa da sociedade que disciplina identidades não aceitáveis e nega outras possibilidades de masculinidades e feminilidades para além do modelo heterocisnormativo.37
Dentro deste modelo, há uma hipervalorização da masculinidade em relação à feminilidade. Estudos mostram que mulheres cisgênero homossexuais são vistas como mulheres masculinas, enquanto os homens de mesma identidade e orientação sexual seriam vistos como alguém que perdeu essa masculinidade, o que os torna objeto de desprezo da sociedade e, consequentemente gera maior sofrimento.12, 24 Homens cisgênero heterossexuais que atuam na área da enfermagem, por exemplo, vivenciam uma pressão social, uma vez que a profissão é vista como feminina e de menor conhecimento do que a medicina, sendo esta última vinculada socialmente à figura masculina, em uma supremacia do homem cis, hétero e branco.38, 39 Nesse cenário eles vivenciam a associação à homossexualidade por ser a enfermagem caracterizada pela presença de afeto e cuidado com o outro, além de sentimentos de exclusão, frustração, vergonha, tristeza, sensação de inutilidade e falta de motivação.38
É esperado que os homens sejam firmes, dominantes, ativos, agressivos e controladores, sem demonstração de sentimentos, afeto e cuidado.12, 37 No entanto, estudos mostram que, apesar da menor prevalência registrada de depressão nessa população, há uma maior taxa de suicídio. Isso ocorreria devido uma necessidade em manter intacta uma masculinidade em conformidade com noções dominantes de gênero.37 Consequentemente, esse público masculino não tem o autocuidado incorporado à sua cultura, além de apresentar dificuldade em reconhecer sintomas depressivos e em buscar assistência em saúde, vivenciando um sofrimento silencioso reprimido. Moreno28 aborda que, apesar de transtornos depressivos serem muito mais diagnosticados em mulheres do que em homens, isso pode estar relacionado à diferença entre os gêneros para lidar com problemas e consequentemente resolver situações. Dessa forma, homens sentem a necessidade de serem fortes, responsáveis pelas finanças e protetores, porém sem espaço para reflexividade de si.
Os sofrimentos das mulheres cisgênero heterossexuais são um pouco mais complexos. Elas estão submetidas à estereotipia de gênero feminina, na qual devem apresentar características de devoção e complementação aos homens, além do dever de manter castidade, serem submissas, passivas, sensíveis, emotivas e ter consigo um cuidado maternal, em uma relação de controle em que são continuamente desencorajadas a buscar a própria independência e liberdade de ser e existir.12, 13, 40, 41 Devido a essa cultura, associada a essa população, elas estão comumente expostas a diversos riscos de danos à saúde mental, que estão diretamente interligadas a discriminação de gênero, como a dupla jornada de trabalho, maiores responsabilidades domésticas, marginalização no mercado de trabalho unido à baixa remuneração, pobreza, desvalorização social e profissional, diversos tipos de violência ao longo da vida, altas taxas de mortalidade materna e casamento infantil, questões que tendem a se intensificar ao introduzir também a discriminação étnico-racial, que leva à presença de maior estresse psicológico nessa população.13, 39, 42, 43 Além disso, grande parte das vivências relacionadas à discriminação de gênero ocorre em locais públicos, sobretudo em transportes coletivos, mediante insultos ou até mesmo ataques físicos, levando ao sentimento de insegurança e tendência a evitar certos ambientes, em um processo de isolamento e exclusão social.
Essas vivências estão fortemente associadas ao sofrimento emocional, autoestima prejudicada, baixa satisfação com a vida e principalmente danos à saúde mental, como a depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático.13, 44, 45 Moreno28 resume a prevalência de transtornos depressivos na população feminina como relacionada a estresse crônico, pressão social e baixa aceitação a papéis designados como femininos, o que dialoga ainda com uma maior intensidade do processo de estigmatização, exclusão social e violências sofridas por mulheres que não estão em conformidade com as expectativas socioculturais de seu gênero.13, 41 Para além de uma feminilidade esperada pela sociedade, elas sofrem com o impacto da masculinidade cultural no outro. Isso porque estudos mostram que há uma associação entre homens cisgênero heterossexuais que cometeram violência doméstica e que possuem sintomas depressivos, ou seja, elas se tornam um refúgio do sofrimento alheio.38 Além disso, após sofrer violência por parceiros, essas mulheres são julgadas como culpadas ou inocentes, de acordo com o estereótipo de gênero esperado para elas.40 Nesse sentido, mulheres que não estão em maior conformidade com seus gêneros para a sociedade são vistas como culpadas pela violência sofrida pelo parceiro, enquanto as que apresentaram um comportamento esperado, não.
Considerações Finais
Foram encontrados poucos estudos voltados à temática, principalmente no Brasil, evidenciando a limitação do presente estudo. De forma geral, os artigos encontrados mostraram resultados para grupos específicos, não abrangendo toda a população.
Percebeu-se que a opressão heterocisnormativa mostrou impactar de diferentes formas a todos, independente da identidade de gênero e orientação sexual. A discriminação mostrou-se mais prevalente em indivíduos da comunidade LGBTQIA+, enquanto a repressão estava mais associada à população heterossexual e cisgênero, que sofre pressão social para se manter dentro de rígidos padrões estabelecidos socialmente.
Evidencia-se grande impacto na saúde mental da população, principalmente com a presença de sintomas depressivos e ansiosos que estão de alguma forma associados com o sofrimento pela heterocisnormatividade. Indivíduos que possuem múltiplas identidades estigmatizadas socialmente, como por exemplo pessoas LGBTQIA+ idosas e/ou que enfrentam preconceito racial, tendem a apresentar maior chance de transtornos mentais de humor. É reiterado, dessa forma, não ser possível abordar unicamente um sofrimento psíquico decorrente da não conformidade com a heterocisnormatividade, sem visualizar abertamente a influência de múltiplas violências estruturais voltadas à fatores de gênero, idade, raça e classe social, além de valores étnicos-culturais e religiosos no ambiente que o indivíduo está inserido.
Deste modo, a construção de políticas públicas, principalmente de saúde, são cruciais para a quebra das imposições normativas socioculturais e para a superação da dicotomia corpo e mente, objetivo e subjetivo, impactando diretamente na saúde mental dos indivíduos e em seu pertencimento em sociedade. Além disso, dentro dos espaços de saúde, os profissionais da área devem atuar por intermédio da perspectiva da integralidade do cuidado, assegurando um olhar holístico ao indivíduo e ao coletivo e empregando também o seu papel educacional para proporcionar conhecimentos tanto aos usuários do sistema de saúde, como para a equipe multiprofissional na qual estão inseridos.
A partir dos estudos apresentados, evidencia-se a necessidade de uma análise contínua cada vez mais profunda da temática da diversidade sexual e de gênero em sociedade, desenvolvendo assim a capacidade de criar espaços oportunos para debates críticos e extensos sobre as normas socioculturais impostas pela heterocisnormatividade, sendo um fator facilitador para uma compreensão e respeito à individualidade de cada ser, para fomentar o aprimoramento ininterrupto da saúde mental coletiva. Nesse sentido, serviços de educação e saúde possuem um papel primordial, devido à proximidade com a população e a oferta de conhecimentos científicos disponíveis.
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