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0001/2025 - Suesse, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776– Present. London: Cambridge University Press, 2023.
NACIONALISMO ECONÔMICO E O DILEMA DA AGENDA DO COMPLEXO ECONÔMICO E INDUSTRIAL DA SAÚDE

Author:

• Nilson do Rosário Costa - Costa, N.do R. - <nilsondorosario@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8360-4832


Abstract:

Não se aplica.

Keywords:

Não se aplica.

Content:

Suesse, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776–
Present. London: Cambridge University Press, 2023.
A retomada do nacional-desenvolvimentisto está na ordem do dia no Brasil por meio
da agenda do Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS) e da defesa de uma
pauta industrialista abrangente no terceiro governo Lula 1 . É muito comum que os
liberais brasileiros, na academia, mídia social e imprensa tradicional, creditem a
retomada contemporânea da agenda nacional-desenvolvimentista exclusivamente a
pensadores latino-americanos, como forma de destituí-la e vetá-la. O livro The
Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776 – Present 2 ajuda
a pulverizar o argumento liberal ao demonstrar que o ideário da ampla intervenção
política na macroeconomia é patrimônio intelectual das nações que estão vencendo a
globalização em curso ou buscando freá-la.
As ideias do autor ajudam efetivamente argumentar em defesa do desenvolvimento da
capacidade tecnológica nacional autônoma no campo da saúde ao apresentar a
surpreendente trajetória do pensamento econômico de orientação nacionalista em
uma ampla amostra de regimes políticos e de países: desde os fundadores do pacto
federativos dos Estados Unidos à pauta reacionária do American First ou ao esforço
pela hegemonia tecnológica da China dos dias atuais. Não ficam de fora as experiências
históricas do nacionalismo econômico na França, Inglaterra, Itália, Alemanha, Japão,
Argentina, Bolívia e Brasil.
O caso do Leste Asiático é detalhadamente revisitado assim como é destacado o
pensamento econômico que emergiu na luta anticolonial africana, com foco nas ideias
de Kwame Nkrumah em Gana e Julius Nyerere na Tanzânia. Não deixa também de ser
interessante a contextualização da emergência das ideias de Friedrich List e a chocante
demonstração dos vínculos de Max Weber ao discurso social-darwinismo e ao
chauvinismo racista alemão de fins do século XIX e início do século XX. Por fim, as
páginas sobre a questão nacional na finada União Soviética são extremamente
esclarecedoras e ajudam ao leitor compreender, por exemplo, o conflito atual entre a
Rússia e a Ucrânia.

Suesse defende no livro que existem pontos comuns na forma como os nacionalistas
veem a economia. Na versão mais radical, o nacionalismo econômico é a expressão, no
plano político, da ideia de que economia e nação devem ser absolutamente
convergentes. Nesse sentido, esse nacionalismo advoga o desenvolvimento da
economia doméstica independente da esfera global, com o comércio e o
investimento controlados por compatriotas, restrição ao contato com estrangeiros,
privilégio da propriedade de bens e do emprego por concidadãos e exclusão deliberada
de não-nacionais de funções públicas. Em outras palavras, segundo Suesse, o privilégio
do intercâmbio dentro da nação e não fora dela é objetivo da agenda isolacionista do
nacionalismo econômico (p.2).
Desse modo, os intelectuais nacionalistas atacam a teoria econômica liberal clássica
que advoga a globalização das economias domésticas por privatizações de empresas
estatais, abertura unilateral do mercado interno, livre fluxo de capitais e destruição dos
direitos trabalhistas. De resto, os pensadores do nacionalismo econômico são
comumente vistos pelos liberais como antagonistas da globalização.
Suesse mostra que as ideias sobre o desenvolvimento nacional foram efetivas na
consolidação de coalizões de interesse, articulando de forma exitosa as demandas
domésticas no contexto da globalização. Para ele, o dilema que acompanha a pauta
isolacionista é originado pela adoção adicional, por parte de seus formuladores, da
agenda da “modernização” da nação. Em alguns casos o sucesso do projeto
modernizante permitiu que muitas nações alcançassem padrões tecnológicos e
comerciais idênticos aos dos países ocidentais pioneiros da revolução industrial. O
sucesso desse catch-up foi possível por alianças com os países hegemônicos no cenário
da globalização e políticas agressivas de substituição de importação, de inovação
tecnológica e de exportação. Nesse contexto, Suesse denomina como “dilema
nacionalista” a tentativa das elites domésticas de conciliar o isolacionismo com os
objetivos expansionistas não só do poder comercial, mas também político e militar.
Com base nas evidências do The Nationalist Dilemma, Rodrik afirma que ninguém
pode negar o sucesso dos Estados desenvolvimentistas do Leste da Ásia: Japão, Coreia
do Sul, Taiwan e China, que encorajaram a integração econômica global e protegeram
seletivamente setores essenciais, ainda que tenham falhado na construção do Estado
de Bem-Estar Social. Para ele, “o nacionalismo econômico do leste da Ásia foi uma
benção para o resto do mundo. Mesmo com barreiras comerciais aqui e ali, os
mercados aquecidos que ele criou para os parceiros comerciais foram muito maiores

do que qualquer outra estratégia econômica alternativa teria produzido 3”.
São muitas as referências de Suesse sobre a difusão das ideias nacional-
desenvolvimentistas no Brasil, com especial destaque para o resgate da influência
decisiva do formulador do modelo de Estado autoritário Mihail Manoilescu nos anos
1920 e 1930. O autor destaca que após 1945, entretanto, o nacional-
desenvolvimentismo brasileiro se distanciou do legado autoritário inspirado em
Manoilescu e buscou sustentação da sua agenda pela mobilização dos trabalhadores e
burguesia industrialista. Suesse também atribui a resiliência das ideias nacional-
desenvolvimentistas na América Latina pós II Guerra Mundial à permanência em escala
ampliada da agenda desenvolvimentista do segundo Governo Vargas. Esse é um ponto
que foi também abordado em extraordinário artigo de 2015 de Wilson Cano 4 . Ainda
assim, o leitor informado sobre a produção intelectual sobre o pensamento econômico
no Brasil estranhará a pobreza das referências à importante literatura nacional sobre o
desenvolvimentismo, que exerce, atualmente. notável influência na agenda setorial do
CEIS. No livro, o trabalho monumental de Celso Furtado recebe apenas uma menção
residual. O lançamento em 2023 da coletânea A History of Brazilian Economic Thought,
organizada por Bielschowsky, Boianovsky e Coutinho 5 , certamente ajudará o
reconhecimento da produção intelectual doméstica em futura reedição do livro de
Suesse.
De qualquer modo, The Nationalist Dilemma é uma obra de recomendação segura para
a leitura no campo da saúde coletiva. Constitui um texto obrigatório para a
compreensão da complexidade intelectual e política que é a construção de um projeto
de desenvolvimento para uma nação. É possível concluir, pela leitura da obra de Suesse,
que a agenda do desenvolvimento nacional, especialmente na esfera da economia do
conhecimento e inovação, é uma variável determinante de qualquer possibilidade de
resiliência do sistema de saúde com base em política industrial ativa, como advoga a
pauta estratégica do CEIS.
Referências
1. COSTA, NR, GON, RK. Saúde é desenvolvimento: o Complexo Econômico-
Industrial da Saúde como opção estratégica nacional. Saúde Em Debate. 2024,
vol. 48, n.140, pp. e9027.
2. SUESSE, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism,
1776–Present London: Cambridge University Press, 2023.
3. RODRIK D. Nacionalismo de Maneira Certa. Jornal Valor Econômico. 2023 out 9.
[acesso em 2024 April 9]. Disponível em
https://valor.globo.com/opiniao/coluna/nacionalismo-da-maneira-certa.ghtml
4. CANO, W. Crise e industrialização no Brasil entre 1929 e 1954: a reconstrução do
Estado Nacional e a política nacional de desenvolvimento. Rev. Econ. Polit. 2015,

vol. 35, n.2, pp. 444-460
5. BIELSCHOWSKY, R, BOIANOVSKY, M, COUTINHO.MC. A History of Brazilian
Economic Thought. London: Routledge, 2023.


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Costa, N.do R.. Suesse, M. The Nationalist Dilemma: A Global History of Economic Nationalism, 1776– Present. London: Cambridge University Press, 2023.. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/Jan). [Citado em 13/04/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/en/articles/suesse-m-the-nationalist-dilemma-a-global-history-of-economic-nationalism-1776-present-london-cambridge-university-press-2023/19477?id=19477



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