0165/2025 - Urban violence and Psycho-Social Suffering in Brazil: A clinical-political discussion of the concept of collective trauma
Violência urbana e sofrimento psicossocial: uma discussão clínico-política em torno da concepção de trauma coletivo
Author:
• Lilian Miranda - Miranda, L - <miranda78.lilian@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8238-8111
Co-author(s):
• Michael O’Loughlin - O’Loughlin, M - <michaeloloughlinphd@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9444-6174
Abstract:
The essay presents a clinical-political approach to collective trauma, based on authors who offer an intersubjective reading of psychoanalysis in dialogue with feminist theorists, responsible for the political interpretation of trauma. This material engages with accounts of experiences from victims of urban violence in Brazil. Collective trauma is seen as a disruptive event, for which there are no representational resources. Among its effects is the corrosion of the ties of the sociability of the social group which experienced the trauma, feelings of impotence, fear, and the loss of the spatial and temporal orientation. Generally based on contexts of exclusion and social oppression, collective trauma has been approached from a medicalizing and reductionist perspective, which disregards its structural roots. In contrast, it is proposed that its chronic nature be recognized, requiring a political discussion, from which it is important to legitimize traumatized people as specialists in the experience they have been through. With their protagonism, confronting trauma should involve both political strategies for creating collective mechanisms, emancipation and the struggle for structural changes, as well as clinical ones - especially group-based- of listening and opportunities for the reconstruction and sharing meanings about what has been lived.Keywords:
Psychological Trauma; Traumas; Interpersonal Relations; Gun violence.Content:
Urban violence and Psycho-Social Suffering in Brazil: A clinical-political discussion of the concept of collective trauma
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Violência urbana e sofrimento psicossocial: uma discussão clínico-política em torno da concepção de trauma coletivo
Abstract(resumo):
O ensaio apresenta uma abordagem clínico-política do trauma coletivo, com base em autores que fazem uma leitura intersubjetiva da psicanálise em diálogo com teóricas feministas, responsáveis pela leitura política do trauma. Esse material é dialogado com relatos de experiências de vítimas da violência urbana no Brasil. Admite-se que o trauma coletivo é um evento disruptivo, para o qual não há recursos de representação. Entre seus efeitos, encontra-se a corrosão dos laços de sociabilidade, sentimentos de impotência, medo e perda de orientação espaço-temporal. Geralmente assentado sobre contextos de exclusão e opressão social, o trauma coletivo tem sido abordado numa perspectiva medicalizante e reducionista, que desconsidera suas raízes estruturais. Em direção oposta, propõe-se que seja reconhecido seu caráter crônico, que exige uma discussão política, a partir da qual é importante legitimar as pessoas traumatizadas como especialistas na experiência vivida. Com o protagonismo delas, o enfrentamento do trauma deve envolver tanto estratégias políticas de criação de dispositivos coletivos, emancipação e luta por mudanças estruturais, como clínicas, sobretudo grupais, de escuta e oportunidades para reconstrução e compartilhamento de sentidos em torno do vivido.Keywords(palavra-chave):
Trauma Psicossocial; Traumas; Relações Interpessoais; Violência armadaContent(conteúdo):
IntroduçãoEntre os maiores problemas sociais brasileiros está a violência urbana armada, que mata milhares de pessoas por ano, atingindo principalmente a população negra. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), no ano de 2021, ocorreram 47847 homicídios no Brasil, sendo que 77, 1% deles foram de pessoas negras. É notável também o número de jovens mortos: foram 24.217 em 2021, o que corresponde a 50,6% dos homicídios, sendo que a cada 100 jovens mortos, 49 foram de homicídio1.
No estado do Rio de Janeiro, a taxa de homicídios em 2021 foi de 26,8 mortes para casa 100.000 habitantes. Valor maior que a taxa de homicídios do Brasil, que foi de 21,26 mortes a cada 100.000 pessoas1, enquanto que no mundo foi de 5,8 mortes a cada 100.000 pessoas2. Esses dados expressam a discrepância e a gravidade da situação de violência armada no país.
A maior parte dessas mortes acontece em favelas, com suas formas de organização social complexas e heterogêneas. A despeito da diversidade e especificidades de cada território, na realidade carioca, por exemplo, certas favelas são marcadas pela coexistência de opostos, como alguma presença do Estado, em escolas e unidades básicas de saúde, e a deterioração e descaso na rede de esgoto inexistente ou mal estruturada. Há potência e saúde entre os milhares de habitantes trabalhadores, mas há miséria e fome entre aqueles que não têm acesso à emprego nem a políticas sociais. Há criatividade e força em organizações e iniciativas de luta por justiça e melhoria das condições de vida, mas há muita morte. Nos contextos de domínio do tráfico de drogas, essas mortes ocorrem, em geral, durante conflitos armados entre grupos rivais que disputam a liderança do tráfico ou entre traficantes e policiais. São utilizadas armas de última geração, capazes de atravessar grossas paredes, o que acontece frequentemente nas casas dos moradores3,4.
Os policiais, sob alegação de combate ao tráfico de drogas, costumam entrar nas favelas em transportes que parecem tanques de guerra, altamente armados, geralmente no início da manhã, quando adultos estão indo trabalhar e crianças se destinam a escolas. É comum também que entrem nas casas dos moradores, de forma agressiva, para procurar por drogas ou por algum traficante. Na troca de tiros, balas atingem casas e pessoas inocentes, são as chamadas “balas perdidas”. Nesse contexto, há muita morte. Morrem policiais, morrem traficantes, morrem pessoas comuns, morrem crianças.
A tragicidade desses dados evidencia a inevitável produção de sofrimento de famílias que perdem seus filhos, irmãos e primos, de vizinhos que temem ser a próxima vítima, de amigos que sobreviveram machucados pelos estilhaços dos tiros e da violência física e simbólica. Embora atingidos indiretamente, também estão envolvidos os professores e profissionais de saúde que, trabalhando na região, aprendem técnicas de proteção contra “balas perdidas”, enquanto exercem sua função de preservar a vida e o futuro de uma população5.
O sofrimento psicossocial derivado dessa experiência vem sendo nomeado e tratado, predominantemente, de modo medicalizante6, sob o signo de transtornos mentais e síndromes7,8. Certamente é desafiador cuidar, nos serviços públicos de saúde, de pessoas com intensos sofrimentos psíquicos, considerando-se os problemas éticos e clínicos derivados de abordagens biomédicas guiadas por valores neoliberais9,10. No entanto, precisamos urgentemente considerar os efeitos traumatizantes do convívio cotidiano com a violência armada. Efeitos que atribuem ao sofrimento algumas especificidades ainda não suficientemente discutidas nas pesquisas sobre essa temática11.
Traumas ligados ao racismo, ao holocausto (e, podemos acrescentar, à violência urbana) têm em comum o fato de configurarem-se como traumas coletivos, ou traumas sociais, um fenômeno complexo e controverso entre os psicanalistas e outros estudiosos12–14. Neste ensaio, assumimos traumas coletivos como aqueles advindos de eventos que produzem efeitos traumáticos singulares em cada envolvido, mas formam um conjunto de pessoas marcadas pelo horror e a dificuldade de elaboração15.
Considerando a complexidade do conceito e o vasto uso do termo no senso comum, propomos uma síntese entre as contribuições de uma leitura clínica do trauma e de uma perspectiva política. Ou seja, delineamos uma interpretação clínico-política do trauma coletivo, pautando-nos em autores que fazem uma leitura intersubjetiva da psicanálise9,15-29. Estes lançam luz a discussões como a transmissão transgeracional do trauma, a natureza não verbal das comunicações traumáticas, os efeitos disruptivos do trauma no psiquismo e nos grupos, bem como a potência das formações grupais para favorecer a narração e elaboração do trauma. Em diálogo com essa abordagem, recorremos a Rachel Paim13 e Bonnie Burstow14, teóricas feministas, responsáveis por uma leitura política do trauma13,14,30.
Apresentando-se como geógrafa social e política, Paim13,30foca suas pesquisas em violência e violência de gênero, bem como trauma e recuperação, sempre priorizando o ponto de vista e o protagonismo das pessoas expostas aos eventos traumáticas. Já Burstow14, denominando-se, na década de 60, como feminista radical, percorreu uma carreira de pesquisa sobre trauma, ativismo em favor da antipsiquiatria e atuação como terapeuta feminista. De ambas autoras, recuperamos a crítica à individualização e medicalização do trauma, a recuperação do papel da cultura como balizador das formas de sentir dos grupos e a ideia de trauma como resposta às violências estruturais que se repetem ao longo de gerações.
Apresentamos, assim, uma compreensão que associa aspectos psíquicos e fatores que abarcam as disputas de poder e inequidades sociais. Esse material é dialogado com relatos de experiências de vítimas da violência urbana, especialmente na cidade do Rio de Janeiro. Tratam-se de relatos colhidos em reportagens de jornal de grande circulação31, num site de um complexo de favelas e em artigos científicos que desenvolveram pesquisas empíricas sobre a temática3-5,11,32,33.
Trauma coletivo: algumas conceituações clínicas
Desde a elaboração do conceito de neurose traumática, a psicanálise seguiu desenvolvendo sua compreensão sobre o trauma de forma a concebê-lo também em sua dimensão coletiva. Tal como Penna16 sistematiza, se inicialmente as pesquisas voltavam-se para os efeitos das Guerras sobre os indivíduos, com o passar dos anos, principalmente na década de 1980, foi possível observar que a memória do trauma se encontrava encapsulada não apenas nos sujeitos, geração a geração, mas também na sociedade. Principalmente preocupados com os efeitos da Guerra do Vietnã e do holocausto, desenvolveram-se estudos sobre o trauma coletivo.
Outro fenômeno que inspirou os estudos sobre a temática foram os desastres ambientais, como aquele estudado por Erikson17, autor que destaca que o trauma coletivo tem como principal efeito o desmantelamento dos laços comunitários e o senso de comunidade. É o caso, por exemplo, dos familiares de jovens assassinados em favelas brasileiras. De acordo com Rodrigues et al32 essas famílias vivem amedrontadas e isoladas, têm a sensação de risco iminente diante de qualquer relação interpessoal, de tal forma que o ensimesmamento tornou-se o principal recurso, o que compromete as experiências de sociabilidade.
Entre as reações ao trauma, Erikson17 destaca a desmoralização (sentimento de que o mundo chegou ao fim, não havendo sentido para novos investimentos); desorientação (sentimento de perda do lugar que ocupam no campo social, que pode durar por meses e até anos); desconexão (pessoas perdem o sentido de si mesmas quando desconectadas do lugar social que ocupavam). O relato de Celeste, nome fictício dado por Schmid e Serpa11 a uma mulher, cujo filho fora assassinado por uma bala perdida durante um conflito entre policiais e traficantes, contribui com a compreensão desse quadro:
Eu sinto ódio, raiva... É tão estranho, nunca tinha sentido isso antes, nunca havia acontecido nada parecido comigo. Já faz dois anos, mas eu ainda sinto assim... Dá um medo de enlouquecer... Eu procurei tratamento porque fiquei quase dois meses trancada no quarto, com raiva, culpando todo mundo e sem aceitar...11 (p. 6).
Pioneira nos estudos sobre trauma coletivo, Caruth18 afirma que ele destrói temporariamente os mecanismos de consciência e memória, sendo registrado literalmente, sem representação, e retornando de modo repetitivo na forma de flashbacks e pesadelos, ou tal como propõe Reis19, de repetição de sensações, sinestesias incompreensíveis para o sujeito traumatizado. Consequentemente, ao tentar transmiti-lo, o que é comunicado não é o conhecimento sobre o horror, mas o horror por ele mesmo. É o que vemos no trecho de um relato publicado num site de um complexo de favelas da cidade do Rio de Janeiro:
[...] Esse morador, muito nervoso, nos contou como se sentia ao acordar e ver as notícias, a correria e gritos de quem passava em frente da sua casa. Muitas cenas se repetiam na sua cabeça num dia como o que se anunciava: barulho estrondoso de tiros que acordam as pessoas no susto, medo de sair de casa para o trabalho, crianças e adolescentes que não podem ir para a escola, gritos de vizinhos que muitas vezes ficam acuados em suas casas, helicóptero que sobrevoa atirando na direção das casas, corpos mortos nas ruas e pessoas feridas [...]34..
Volkan20 afirma que traumas coletivos não elaborados afetam toda a sociedade, na medida em que os sujeitos têm o objeto perdido incorporado, como um corpo estranho, com o qual não podem se identificar e realizar processos de luto. Consequentemente, transmitem esse corpo estranho para várias gerações. Segundo Reis19 essa transmissão não ocorre pela comunicação verbal, mas por modos de ser corporais, hábitos e formas de existência. Como Penglase3 observou, nas favelas brasileiras, marcadas pela violência, impera uma espécie de lei do silêncio, de tal forma que moradores não devem falar nada sobre o tráfico e a polícia, ou mesmo sobre aspectos ruins da vida no bairro. Assume-se uma postura de não saber, cujo silenciamento é transmitido entre as gerações, como um invólucro do trauma.
Erikson35 classifica os traumas como naturais e tecnológicos. Embora na maioria das situações seja difícil distingui-los objetivamente, os últimos são aqueles provocados principalmente pela ação humana. As tragédias naturais são aquelas que invadem, acometem, enquanto que as tragédias tecnológicas têm uma história, um ou mais responsáveis. São elas que mais abalam, pois despertam nas pessoas o sentimento de perda da crença básica de que é possível confiar no ser-humano e no mundo. Elas são vistas como o prenúncio de que outras tragédias podem acontecer, a exemplo da violência urbana, tal como ilustrado pelo seguinte trecho sobre a realidade de um complexo de favelas da cidade do Rio de Janeiro:
Por duas vezes em menos de uma semana, nos dias 29 de junho e 4 de julho, o silêncio das manhãs foi interrompido pelo som estrondoso das hélices metálicas das aeronaves blindadas, com cerca de 10 metros de comprimento e 12 pessoas em seu interior, apontando os fuzis para baixo, a aproximadamente 5 metros acima das casas. Muitas dessas aeronaves, utilizadas pela polícia do Rio de Janeiro, foram instrumentos de guerra em outros países. [...] Dona Josefa chegou para trabalhar antes do sol raiar e percebeu, na tranquilidade das manhãs, que o dia seria próspero. Mas, ao avistar homens de roupa camuflada rondando nas ruas próximas ao seu local de trabalho, pensou logo que seu dia seria atravessado por sons de tiros e, sequencialmente, uma sensação de ardência em sua perna tomou conta dela. Que desespero! Dona Josefa percebeu que foi alvejada por um projétil de arma de fogo e então grita incessantemente por ajuda 36.
Frente aos traumas tecnológicos, é comum entre as pessoas atingidas o sentimento de que a história poderia ter sido diferente e o desejo legítimo pela responsabilização dos culpados pela tragédia. Ocorre que muitas vezes estes não assumem a responsabilidade pelo dano e por sua reversão, gerando profundo sentimento de desrespeito e raiva nas vítimas35. É o caso da leniência que a justiça criminal brasileira costuma ter com policiais que foram violentos com civis37. Assim, o sentimento de desrespeito é aprofundado quando a sociedade naturaliza as tentativas de isenção dos responsáveis pelo desastre. Sem a crença básica no mundo, as pessoas traumatizadas vivem vulnerabilizadas, preveem a possibilidade de ocorrência de infortúnios a partir de suas experiências e não das estatísticas, o que gera constante estado de atenção e ansiedade35.
É relevante também a distinção entre três tipos de traumas (agudo, crônico e complexo), proposta por Herman21. O trauma agudo é aquele ocasionado por um evento específico, como um desastre natural. Já o trauma crônico é causado por exposição prolongada a violências como racismo e machismo, enquanto o trauma complexo também resulta de exposição à violência prolongada, mas esta é infligida por cuidadores desde a infância de um sujeito. Nesta perspectiva, o trauma advindo da violência armada nas favelas do Rio de Janeiro pode ser considerado crônico, pois os confrontos armados persistem desde o final da Segunda Guerra, com ascensão de regimes militares e posterior passagem para democracia no Brasil, além do domínio do neoliberalismo3.
Em relação à memória coletiva do trauma, Hirschberger22 lembra que ela persiste por várias gerações, mas vai sendo modificada na medida em que é transmitida, não apenas porque a dor do trauma se modifica, mas também porque outras formas de linguagem são utilizadas. De todo modo, o autor adverte que, assim como o trauma individual, o trauma coletivo transforma o modo como os sobreviventes veem a si mesmos e à sua relação com o grupo de pertença e com outros grupos. Ocorre um abalo importante no sentido de segurança, que perdura pelo menos por mais duas gerações. Estas, no nível coletivo, apresentam sentimentos de vulnerabilidade, orgulho ferido, humilhação, crise de identidade e predisposição para reagir com maior vigilância a novas ameaças, de tal forma que o sofrimento das gerações antecedentes se mistura com as imposições da vida da geração atual. No trecho a seguir, uma moradora de uma favela da cidade do Rio de Janeiro, entrevistada por Gonçalves, Queiroz e Delgado33 (p.19), nos ajuda a visualizar o processo de perpetuação do trauma coletivo:
Fui humilhada por morar na Maré [...] a polícia entrou, me revistou e perguntou o porquê de estar tão nervosa, que se eu valesse alguma coisa, não estaria morando na favela [...] cresci vendo a polícia bater na cara das pessoas e entrar atirando [...], minha filha de 2 anos, vê um policial e sai correndo de medo.
Hirschberger22 aponta que, num primeiro nível, a memória do trauma ajuda as vítimas a protegerem-se do perigo e sobreviverem a riscos de repetição. Ela passa pelo mecanismo de transmissão psíquica transgeracional, ou seja, conteúdos não elaborados (a falta, a vergonha, o recalcamento, por exemplo) são transmitidos de um espaço psíquico a outro, sem possibilidade de elaboração38. Num segundo nível, uma vez que transmitida transgeracionalmente, a memória promove um senso de continuidade, de controle e segurança, na medida que facilita a coesão do grupo que, inicialmente, em função do evento traumático, fora desmantelado. Consequentemente, “[...] abandonar o trauma é [...] altamente aversivo e dispendioso; é o mesmo que abdicar do significado coletivo; e contra essa ameaça ao significado, as sociedades se mobilizam para manter vivo o trauma como uma lição do passado para o futuro” (p. 3).
Para justificar a afirmação de que é difícil para um grupo abandonar seu trauma coletivo, Hirschberger22 sistematiza o processo de construção de sentido em torno do trauma coletivo, apontando uma fase inicial de transmissão de ensinamentos e tradições culturais que informam as ameaças ao grupo e, uma vez incorporadas, potencializam a tendência a assimilar o trauma num sistema coletivo de significados. Em seguida, o trauma favorece a construção de um eu coletivo que oferece segurança e mitiga os riscos da ameaça existencial. Assim, a memória do trauma é perpetuada, de tal forma que passa a habitar o epicentro a partir do qual o grupo compreende seu mundo. Importante ressaltar, contudo, que esse processo de construção da memória traumática é irregular e repleto de contradições, pois os significados coletivos atribuídos ao trauma resultam de “guerras de memórias” entre vítimas e perpetrador e mesmo entre subgrupos desses atores.
No contexto da cidade do Rio de Janeiro, algumas iniciativas, como a formação de um coletivo de mães de mortos em confrontos armados entre policiais e traficantes – chamado Mães de Manguinhos , são essenciais nessa guerra de memórias. Agrupadas em torno da luta por justiça pela morte de seus filhos, as mulheres fortalecem a memória da violência que recai, sobretudo, nos jovens negros. Em entrevista para o jornal Brasil de Fato31, a líder desse grupo diz que a luta por justiça ao seu filho lhe conferiu sentido à vida e lhe possibilitou continuar, de algum modo, a maternagem.
A respeito da formação de coletivos, vale destacar que embora reconheça que o trauma é essencialmente destrutivo, Hirschberger22 defende que, uma vez trabalhado, pode permitir construções de sentido positivas para o grupo. Isso porque, a memória traumática não é unívoca e estanque – constantemente novas sensações são acopladas e novos sentidos podem ser construídos devido a demandas do presente. Desse modo, ainda que admitindo que comumente o trauma coletivo gera efeitos disruptivos, tal como demonstrado por Erikson17, o autor defende que dele pode advir maior sentimento de comunidade, efeito que aumenta na medida em que se passa o tempo do evento traumático, pois a dor do acontecimento está atenuada, permitindo maior trabalho da memória.
Sobre o efeito de comunidade advindo do trauma, Erikson35 adverte que mesmo traumas individuais têm um caráter comum e admite que as feridas dos indivíduos se comunicam, formando um ethos traumatizado. Não se trata de “camaradagem fácil”, mas de doloroso processo a partir do qual a experiência compartilhada forma uma cultura comum bastante coesa. Assim, se o primeiro efeito do trauma coletivo é a corrosão dos laços comunitários, num segundo momento ele pode promover novos enlaçamentos em torno de si, como parece ocorrer com o coletivo de mães de jovens assassinados em confrontos armados.
A dimensão política do trauma
Fassin e Rechtman23 argumentam que o conceito de trauma deriva de processos coletivos a partir dos quais a sociedade define seus valores e normas introjetadas. As hierarquias e inequidades sociais envolvem o trauma, cujo conceito pode ser entendido e usado para legitimar ou excluir, compensar ou condenar.
No bojo dessa discussão, alguns autores13,14,34,35 chamam atenção para o uso comum e amplamente disseminado do conceito de transtorno de estresse pós-traumático (PTSD) como ferramenta para classificar quem sofre consequências de um trauma. Advertem que além de desconsiderar a subjetividade das pessoas, é despolitizante porque não incorpora as condições históricas sobre as quais aconteceu a experiência traumática, individualizando, mascarando problemas sociais e patologizando pessoas traumatizada. Estas são tratadas como vítimas que requerem atenção de especialistas30. Além disso, ao utilizar o PTSD, profissionais desconsideram o pertencimento a um determinado grupo social e aqueles que sofrem traumas transgeracionais14. Ao ser universalizado, o PTSD mostra-se como poderoso instrumento de domínio do ocidente23, desconsiderando o fato de que cada cultura impacta na regulação e expressão das emoções, estabelece limites de tolerância à experiência afetiva e provê explicações leigas para o sofrimento24.
Schmid e Serpa11 entrevistaram mulheres cujos filhos ou netos não tinham qualquer relação com o tráfico de drogas, mas foram mortos por balas perdidas numa favela da cidade do Rio de Janeiro. Acerca do sofrimento desses sujeitos, os autores apontam experiências de perplexidade, invasão e excessos, o que remete ao trauma e impede uma redução “[...] à temática da incidência de transtornos mentais” (p.15).
Em direção oposta à medicalização, Pain13 aponta que estudos decoloniais mostram a base política - e não essencialmente clínica- dos traumas, documentando efeitos de longo prazo e transgeracionais de experiências coletivas de racismo, supremacia branca, colonização, genocídio, patriarcado. Assim, a partir de uma leitura política, entende-se que o que caracteriza o trauma coletivo é o fato de ser configurado como respostas a violências estruturais dirigidas a locais marginalizados, havendo uma congruência entre a violência passada e a reiteração do trauma por ações sistêmicas relacionadas.
Se consideramos o trauma advindo da violência urbana, observa-se uma distribuição desigual da violência armada, de tal forma que a maior parte dos conflitos se encontra nas favelas, onde vive a população majoritariamente negra e pobre.
Pain30 defende que o trauma está relacionado a abusos psicológicos, como silenciamento, negação e traição, apoiados por fatores culturais ou normas políticas que apagam atos violentos, não reconhecem a magnitude de danos ou fazem reparações adequadas. Assim, em diferentes magnitudes, os traumas coletivos sempre estão associados a tentativas políticas de apagá-los.
De modo convergente, Burstow14 busca uma definição desmedicalizada de trauma, defendendo que “[...] O trauma não é um distúrbio, mas uma reação a um tipo de ferida. É uma reação a acontecimentos e situações profundamente prejudiciais no mundo real e, na verdade, a um mundo em que as pessoas são rotineiramente feridas [...]” (p. 1302). Portanto, os supostos transtornos, ou problemas de saúde mental, de pessoas que procuram os serviços de saúde podem corresponder a reações à situação de constante violência a que estão expostas.
Na esteira desse raciocínio, Pain13 critica a associação do trauma com um evento único que separa um “antes” e um “depois” e que supõe a existência de um “antes” seguro e confiável, que foi abalado pelo evento traumático. Isso pode ser verdade para traumas agudos, tal como definido por Herman21, mas não o é para os traumas crônicos e complexos, cujas violências em geral têm suas raízes no capitalismo, no colonialismo, no racismo e no machismo. A esse respeito, Burstow14 comenta que antes do advento nomeado como traumático, o mundo já era violento para grupos como de negros, sobreviventes da psiquiatria, entre outros. Nesse sentido, supondo a interpenetração das dimensões íntima e coletiva do trauma coletivo, Pain13 aponta que ele sempre acontece em contextos de violência que se arrastam e se repetem ao longo do tempo e das gerações. É o caso dos jovens negros mortos por balas perdidas ou em confrontos. Assim como é o caso de suas mães e avós que carregam o trauma da conjunção de violências que culminou na morte de seus filhos e netos.
Outra diferença que as teorias decoloniais marcam em relação às ocidentais, segundo Pain13, é a ênfase na resiliência, na cura e no ativismo das pessoas traumatizadas. Estas são tratadas como agentes ativos, especialistas na experiência traumática. Há, então, um compromisso com a desmedicalização do tratamento e uma ruptura com a ideia de trauma como a experiência que aprisiona em repetições de sintomas e vivências do passado. A esse respeito, podemos inferir que as mulheres entrevistadas por Schmid e Serpa11 procuraram tratamento porque encontravam-se em profundo sofrimento. Mas, não se furtaram de testemunhar sobre as injustiças e violências sofridas, posicionando-se ativamente na reinvindicação por justiça.
Burstow14 segue esse raciocínio acerca da desmedicalização do trauma, mas não deixa de enfatizar que as comunidades traumatizadas são marcadas pela insegurança, bem como por sentimentos de terror, desespero, desesperança, inutilidade, raiva e, muitas vezes, culpa. São comuns pessoas em estados de entorpecimento, desorientadas espacial e temporalmente, assim como descreveu Erickson17. Contudo, esses estados, muitas vezes associados a sintomas psicopatológicos, são mais bem definidos como estratégias de sobrevivência. Lançando mão destas, as pessoas traumatizadas são vistas como competentes e não como vítimas passivas.
As pessoas traumatizadas, na maior parte das situações, desenvolvem qualidades como capacidade aprimorada de compreender o outro, respeito de e por indivíduos e comunidades, compaixão, interesse em transformar o mundo e superar condições de alienação e profundas habilidades de sobrevivência14. Exemplo disso pode ser extraído de um trecho da entrevista que a líder do grupo Mãe de Manguinhos deu ao Jornal Brasil de Fato:
No processo de luta do [grupo] Mães de Manguinhos, a gente começou a entender a necessidade de também ajudar na formação política das pessoas. Muitas vezes elas são vítimas de violências e violações do Estado, mas não entendem isso. Casos de bala perdida, mortes em presídios. E a gente passa a explicar que o filho delas estava sob a tutela do Estado, que existe uma responsabilidade, que não houve atendimento de saúde dentro do sistema prisional. [...] E a gente vai adquirindo um conhecimento que não podia ficar restrito a gente. Precisávamos levar para a favela. Também assim como levar o conhecimento da favela para fora31.
Há que se pensar, portanto, na disponibilidade e no tipo de enquadres com os quais a pessoa traumatizada contará para lidar com suas experiências. Mas, pensamos em enquadres ligados a uma perspectiva clínica ou política do trauma? Propomos aqui uma síntese entre ambas as perspectivas, ou uma interpretação clínico-política do trauma coletivo e dos enquadres ou estratégias clínicas e políticas que podem apoiar as pessoas traumatizadas num processo de diminuição de sofrimento e empoderamento político. É com essa perspectiva que delineamos a seguir algumas estratégias de enfrentamento do trauma coletivo. São estratégias que podem contribuir com a formulação de políticas públicas voltadas à oferta de cuidado a pessoas expostas a traumas coletivos, como são aqueles advindos da violência armada.
Acolhendo o trauma
A possibilidade de narrar experiências traumáticas e elaborá-las contribui para reduzir seus efeitos nas gerações futuras26. A esse respeito, Baracat, Abraão e Martínez15, baseando-se na obra de Ferenczi, pontuam que em situações de traumas coletivos, o importante é facilitarmos processos de compartilhamento da dor e da falta de sentido, pois assim se torna possível a construção de narrativas. Estas, por sua vez, costumam ser capazes de gerar empatia, contribuindo para a desestruturação de mentiras patológicas que costumam subsidiar os traumas. Para os autores, o trabalho narrativo não objetiva a cura, mas sim o apaziguamento da dor e a transformação dela em algo com sentido e dignificante.
Porém, toda narração exige um ouvinte capaz de atestar a verdade do evento traumático e também sua incompreensibilidade, capaz de vasculhar as lacunas entre o dizível e o indizível e de suportar o terror do que é dito, bem como a falta de respostas sobre as razões que desencadearam o evento traumático27. Assim, o trabalho do luto, inerente ao trabalho de elaboração do trauma, requer um outro para que a perda seja reconhecida, já que, muitas vezes, não foi incorporada pelo eu, não foi representada. É só na presença de um ouvinte que a perda se torna real, podendo assim ser historicizada e, então, elaborada16,28,29.
Seguindo as trilhas freudianas, Sylla12 sugere que a elaboração do trauma coletivo tende a ser mais bem sucedida quando os sujeitos traumatizados encontram um grupo com que se identificarem (muito embora os grupos também possam viver processos de vingança e violência, retardando ou impedindo a elaboração do trauma). A respeito dos grupos como lugar privilegiado para se lidar com o trauma, Penna16 defende que:
“[...] Nos últimos vinte anos, a experiência tem demonstrado que a elaboração de lutos massivos em grupos parece ser mais palatáveis, provavelmente pelo fato de que em grupo a relação narrador-interlocutor adquire maior espaço e continência. Além disso, a experiência de testemunho, dentro de um setting grupal, parece ficar mais amortizada, embora multiplicada. [...]” (p. 17).
Compartilhando da valorização dos grupos, Pain13 adverte que os processos de elaboração do trauma requerem a conformação de dispositivos coletivos e organizados, que reconhecem os sobreviventes do trauma como agentes ativos, ou especialistas, e mostram-se como espaços seguros de escuta e luta social. A autora lembra que esses espaços não podem ser retraumatizantes, nem patologizantes, assim como não podem funcionar para gerar abnegação ou desconsideração das violências estruturais.
Em relação às intervenções voltadas ao tratamento do trauma, Pain13 defende que devem ser baseadas nos pontos fortes da pessoa traumatizada e critica o modelo ocidental de cura, pautado no autoconhecimento do indivíduo. Ao fazê-lo, cita perspectivas não ocidentais e indígenas e seus processos de cura coletivos, bem como movimentos contemporâneos de busca por justiça social, que reivindicam formas ancestrais de tratar o trauma. Por fim, enfatiza que mudanças estruturais são fundamentais para a cura do trauma.
Na mesma direção, Burstow14 propõe uma prática radical, baseada no questionamento da opressão internalizada, bem como na compaixão e interesse genuíno pela complexidade do ser-humano. Alerta que é fundamental não privilegiar a dimensão psicológica do trauma em detrimento da dimensão política. Também é importante valorizar a visão de mundo do traumatizado, reconhecendo que sua realidade realmente é perigosa e opressora. Assim, mais do que autocontrole, o que se visa alcançar é ação sobre o mundo opressor. Além disso, é necessário maior ênfase na comunidade, no trabalho de grupo e de testemunho.
Para desenvolver o trabalho com o trauma, Burstow14 propõe uma espécie de educação crítica de adulto, de modo que as pessoas traumatizadas e o profissional que as atende possam explorar juntos as situações estruturais opressoras traumatizantes e assumir tarefas concretas para enfrentamento das mesmas. Exemplos de ações que combatem a alienação política das pessoas traumatizadas são atividades de narração da própria história, desmascarar mitos sobre a comunidade de pertencimento, criação de rituais e cerimônias públicas de expressão da tristeza e da indignação, reconstrução de laços, tradições e vínculos comunitários e reconexão com a natureza.
No bojo dessas reflexões, é possível apontar que o trauma advindo da violência urbana na cidade do Rio de Janeiro é um problema complexo, que exige soluções múltiplas. Neste artigo, destacamos aquelas ligadas às políticas de saúde, que devem orientar ações que considerem a conexão entre as dimensões psíquica e social dos usuários do sistema de saúde, evitando práticas medicalizantes. O tratamento deve envolver uma escuta clínica capaz de abordar aspectos subjetivos, mas também sociais e estruturais. Além de escutar o sofrimento, importa abordar o grau de consciência que as pessoas têm da opressão sofrida e suas possibilidades de exercer um posicionamento ativo frente às injustiças sociais. Nesse sentido, o suporte de grupos é fundamental, mas também é preciso considerar que o trauma ataca os vínculos sociais, como lembra Erikson17, exigindo que o profissional estimule, faça a mediação ou facilite a formação de novos agrupamentos.
Considerações finais
A revisão de concepções e discussões em torno do trauma coletivo permite a afirmação de que se trata de um evento disruptivo e inesperado, para o qual a comunidade e os indivíduos não possuem recursos de representação. Entre seus efeitos mais comuns, encontra-se a corrosão dos laços de sociabilidade do grupo social que viveu o trauma, além de sentimentos de impotência, medo e perda de orientação espaço-temporal dos indivíduos. Geralmente assentado sobre contextos de exclusão e opressão social, o trauma coletivo pode ter caráter crônico, exigindo uma discussão política. A partir desta discussão, é importante reconhecer as pessoas traumatizadas como especialistas na experiência vivida, capazes de questionamento acerca das suas condições de vida e dos fatores desencadeadores da tragédia traumática. Junto dessas especialistas, o enfrentamento do trauma envolve tanto estratégias políticas de emancipação e luta por mudanças estruturais, como clínicas, de escuta e oportunidades para reconstrução de sentidos em torno do vivido.
No Brasil, a violência armada, própria dos grandes centros urbanos, pode ser compreendida como grande fonte de trauma tecnológico e crônico. A sobreposição de violências a que a população das favelas está exposta dificulta a delimitação do trauma, que tende a ser abordado numa perspectiva medicalizante e reducionista. Esta pode contribuir para a perpetuação do não reconhecimento das condições estruturais geradoras do trauma e para o silenciamento em torno dele. Na direção oposta, tratar o sofrimento advindo de fenômenos como o da violência armada a partir das concepções clínicas e políticas de trauma coletivo, possibilitaria desconstruir a tendência de individualizar e patologizar as experiências dos membros da comunidade envolvida com o problema. Induziria a construção de espaços grupais de escuta dessas experiências, de questionamento de seus determinantes sócio-históricos, de reconstrução de sentidos, de construção de estratégias de enfrentamento e projeção de outros futuros possíveis.
* Artigo proveniente de pesquisa financiada pelo programa Print/CAPES – código 001
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