0269/2025 - Use of technologies for education and promotion of voluntary blood donation: scoping review
Uso de tecnologias para educação e promoção da doação voluntária de sangue: revisão de escopo
Author:
• Natália Bastos Ferreira Tavares - Tavares, NBF - <natalia.bastos@aluno.uece.br>ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1139-600X
Co-author(s):
• Aretha Feitosa de Araújo - Araújo, AF - <aretha.feitosa@gmail.com>ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9297-8281
• Vinícius Rodrigues de Oliveira - Oliveira, VR - <vinciusrodriguesvro@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9915-0062
• Carlos Vinícius de Souza Felipe - Felipe, CVS - <cvsfelipe17@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0009-0004-0821-7519
• Roberta Magda Martins Moreira - Moreira, RMM - <roberta.magda@aluno.uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8225-7576
• Raimundo Augusto Martins Torres - Torres, RAM - <augusto.torres@uece.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8114-4190
Abstract:
The use of digital technologies in strategies to attract blood donors, given the scarcity of these individuals, is an increasingly necessary measure. This review aims to explore the technologies available in the literature and how they are used to educate and promote voluntary blood donation. This is a scoping review, carried out as proposed by the JBI methodology and following the recommendations of the PRISMA-ScR guide. The database search mapped 640 potentially eligible studies, of which 20 remained in the final sample. The selected studies showed that the integration of technologies in health education has proved effective in encouraging blood donation. The main tools used include mobile applications, digital platforms and educational materials such as videos and booklets. The combination of theoretical models and scientific evidence contributes to the development of more effective technologies in the health-education context. It was concluded that there are multiple technologies and the means by which they facilitate the adherence of voluntary blood donors, and that the integration of such tools is capable of promoting the culture of blood donation with the potential to save lives and strengthen public health.Keywords:
Blood Donation. Information Technology. Health Education.Content:
O sangue constitui uma substância de extrema importância para a sobrevivência humana, que, até então, não pode ser substituída artificialmente. A crescente demanda mundial por elementos constituintes do sangue, ocasionada, prioritariamente, pelo aumento de doenças, acidentes automobilísticos e cirurgias, faz com que haja a necessidade imediata de manter os estoques de sangue adequados. Apesar da importância vital das transfusões, os hemocentros ainda enfrentam um desafio crucial para recrutar e fidelizar doadores de sangue voluntários qualificados1.
A doação voluntária de sangue está caracterizada como um gesto solidário e espontâneo e se configura como um grandioso movimento social, fundamentado no princípio da equidade. Ações voluntárias, altruístas e livres de preconceitos promovem a troca solidária e a manutenção da vida2. A hemoterapia, portanto, é uma ferramenta crucial para garantir a equidade na assistência à saúde da população3.
É imperioso destacar que a baixa taxa de doação de sangue impede a autossuficiência do Brasil na manutenção de estoques sanguíneos adequados para o atendimento das necessidades da população. Essa carência coloca em risco a saúde pública e limita o acesso a um tratamento vital para milhares de pessoas. Desse modo, desenvolver estratégias de captação de doadores voluntários é de fundamental importância para a manutenção de estoques de bolsas de sangue e hemocomponentes nos hemocentros ou bancos de sangue4.
Dados de 2022 do Ministério da Saúde do Brasil revelam que, aproximadamente 1,4% da população brasileira doa sangue anualmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo as regiões norte e nordeste as que possuem menores taxas de doação por mil habitantes (13,6‰ e 13,7‰, respectivamente). Apesar do percentual de doadores no país atender aos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS), que estipula a margem de 1,0% a 3,0% de doadores de sangue, faz-se necessário aumentar o número de doadores para manter os estoques de todo país regulares, sem risco de desabastecimento5.
A Organização Pan-Americana de Saúde também reforça a necessidade de aumentar o engajamento da população para a doação de sangue, sobretudo em épocas de pandemia como a da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19)6. O isolamento social e as incertezas relacionadas à pandemia provocaram uma queda significativa nas doações de sangue. Em 2020, apenas 21,0% da população brasileira manteve o hábito de doar7. Apesar de o Severe acute respiratory syndrome coronavirus type 2 (SARS-CoV-2) se concentrar nas vias respiratórias, muitos doadores se mostraram receosos de contrair o vírus por meio da doação8.
Os serviços de hemoterapia buscam diuturnamente novas estratégias de comunicação em saúde que possibilitem a manutenção do estoque sanguíneo. Nesse contexto, as estratégias educativas são efetivas no que se refere ao conhecimento sobre doação de sangue, dentre estas, a educação em saúde mediada por tecnologias9.
As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) firmam-se como um instrumento útil e cativante, em que é possível estabelecer discussões produtivas em variadas situações, proporcionando elaboração de circunstâncias para construir conhecimento com ampliação e/ou aquisição de saberes10. Essas TICs também possibilitam a criação de ferramentas inovadoras e atrativas, abrangendo diversos temas e explorando linguagens, gráficos, animações, textos, sons e vídeos. Essa convergência de recursos amplia consideravelmente o significado da informação, tornando-a mais envolvente e acessível para todos11.
As TICs estão cada dia mais integradas no cotidiano das pessoas, promovendo verdadeiras mudanças em todos os setores da sociedade moderna. Nessa perspectiva, na qual a sociedade se utiliza cada dia mais das TICs, a inclusão digital emerge como uma necessidade política, social e cultural12.
O emprego de recursos tecnológicos pode fortalecer a promoção da doação de sangue e, consequentemente, aumentar a eficácia das iniciativas educativas direcionadas ao público-alvo no Brasil entre as idades de 16 a 69 anos13. Essa prática não apenas capacita as pessoas, mas também complementa ou substitui métodos de ensino tradicionais, favorecendo o fortalecimento e a eficácia do processo de aprendizagem14.
Os avanços tecnológicos na saúde, especialmente com a introdução e da expansão das tecnologias eHealth e mHealth, vêm desempenhando um papel importante na ampliação do acesso às informações e aos serviços de saúde por meio de soluções inovadoras, aproximando dos princípios da equidade e da justiça social. Essa realidade se estende às iniciativas direcionadas à captação e retenção de doadores de sangue, em que a tecnologia desempenha um papel essencial na facilitação e eficiência desses processos, que vão desde a inscrição até o agendamento e acompanhamento, tornando-os mais práticos e acessíveis para todos3,9. Portanto, utilizar a potencialidade das tecnologias, seja para campanhas direcionadas ou para dinamizar o processo de doação, é algo sensato e almejado.
Baseado no exposto, torna-se imprescindível a utilização de tecnologias como ferramentas eficazes para a disseminação do conhecimento sobre a importância do ato de doar sangue, favorecendo, assim, o alcance de um público amplo e diversificado com interesse autêntico em doar sangue e salvar vidas. Logo, este estudo tem por objetivo explorar as tecnologias disponíveis na literatura e o modo como são utilizadas para educação e promoção da doação voluntária de sangue.
Método
Desenho do estudo
Trata-se de uma revisão de escopo como proposto pela metodologia do Instituto Joanna Briggs (JBI), a qual possibilita mapear a literatura existente sobre determinado assunto em termos de natureza, características e volume15. Esta revisão teve o protocolo de pesquisa registrado no Open Science Framework (https://osf.io/9b7sn/), sendo desenvolvida com base nas recomendações do guia internacional Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses extension for Scoping Reviews (PRISMA-ScR). Para orientar a formulação da questão norteadora, adotou-se a estratégia População, Conceito e Contexto (PCC) com a seguinte pergunta: Quais as tecnologias disponíveis na literatura e o modo como são utilizadas para educação e promoção da doação voluntária de sangue? Assim, foram definidos: População – doadores voluntários de sangue; Conceito – tecnologias; e Contexto – Educação e Promoção da Doação Voluntária de Sangue.
Critério de elegibilidade dos estudos
Foram incluídos na revisão estudos que apresentassem dados primários, secundários e literatura cinzenta, sem delimitação de ano de publicação e idioma e que tiveram como objeto o uso de tecnologia direcionada para a educação e promoção da doação voluntária de sangue. Excluíram-se resumos publicados em anais de congressos, manuais, comunicações, comentários, cartas ou editoriais e, por fim, os estudos cujos textos completos não puderam ser obtidos, mesmo após extensa busca ou solicitação aos autores.
Fontes de informação e estratégia de busca
A busca ocorreu em fevereiro de 2024 nas seguintes bases de dados, diretórios e repositórios: WEB OF SCIENCE – core collection; SCOPUS (via Portal CAPES); EMBASE (via Portal CAPES); MEDLINE (via PubMed); LILACS (via Biblioteca Virtual em Saúde); e no Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). As referências dos artigos selecionados foram verificadas para identificar novos estudos não localizados nas buscas anteriores, observados os critérios de inclusão previamente estabelecidos.
A estratégia de busca se deu a partir dos descritores controlados do Medical Subject Headings (MeSH) e dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), acrescidos das palavras-chaves para expandir o material disponível na literatura. A estratégia foi adaptada conforme as especificidades de cada base utilizada considerando os descritores: “Blood Donors”, “Technology”, “Health Education”, “Health Promotion” (Quadro 1), utilizando os operadores booleanos AND e OR, além de optar por termos semelhantes presentes no MeSH e DeCS. Os resultados das buscas foram exportados para o Rayyan – Intelligent Systematic Review (https://www.rayyan.ai) e os duplicados foram removidos.
Análise e tratamento dos dados
Dois revisores realizaram a triagem dos estudos de forma autônoma e os selecionaram com base nos títulos e resumo. Posteriormente, os mesmos revisores, independentemente, realizaram a leitura dos textos completos para a seleção dos estudos a serem incluídos. No intuito de alcançar o consenso entre os revisores, as divergências encontradas foram resolvidas por discussão e em colaboração com um terceiro revisor.
O processo de seleção dos estudos incluídos nesta revisão está apresentado no fluxograma de itens de relatórios preferenciais para revisões sistemáticas e meta-análises com extensão para Revisão de Escopo (PRISMA-ScR) (Figura 1).
A extração e o gerenciamento dos dados foram efetuados por meio de um mapeamento, contendo informações de caracterização, como autoria, ano, país de origem, aspectos metodológicos, tipo de tecnologia e objetivos (Quadro 2).
Ao final, elaborou-se um resumo crítico, sintetizando todas essas informações.
Quadro 1
Resultados
A busca nas bases de dados mapeou 640 estudos potencialmente elegíveis, permanecendo 20 na amostra final, conforme mostrado na Figura 1.
No que se refere às características dos 20 estudos selecionados, o primeiro foi publicado no ano 2013 e os demais, descontinuamente, até o ano de 2023. A maior produção ocorreu nos anos de 2012 e 2019, com quatro artigos em cada ano, seguida de 2018 e 2023 com três artigos/ano, 2016 com dois artigos/ano e, finalmente, os anos de 2017, 2020 e 2022 com um artigo em cada ano. Os países onde foram produzidos os estudos foram: Brasil (n = 13), Arábia Saudita (n = 2), e, com um artigo cada, Estados Unidos da América, Malásia, Gana, Espanha e Indonésia. Os estudos foram publicados em língua portuguesa (n = 12) e inglesa (n = 8), sendo quatorze estudos metodológicos, quatro estudos de abordagem quantitativa, uma revisão sistemática e um estudo etnográfico.
As tecnologias encontradas para a promoção da doação de sangue foram: aplicativo móvel (n = 7), mídias/redes sociais (n = 3), vídeo (n = 3), jogo educativo (n = 2), plataforma online (n = 1), chatbot (n = 1), curso online (n = 1), melodias de chamada de celular (n = 1) e cartilha educativa (n = 1).
O Quadro 2 mostra as características das publicações segundo as tecnologias encontradas para promoção da doação voluntária de sangue e as estratégias utilizadas para essa promoção.
Quadro 2
Fig. 1
Quadro 2
Discussão
Os estudos aqui mapeados sobre o uso de tecnologias para educação e promoção da doação voluntária de sangue se concentram mais no Brasil e refletem uma diversidade de tecnologias que favorecem a procura pela doação de sangue. Também em nível internacional foi perceptível o interesse pela criação e desenvolvimento de tecnologias que incentivam a captação de doadores. Essa característica demonstra a importância que esses países desenvolvidos e, sobretudo, aqueles em desenvolvimento vêm dando à temática da doação de sangue, principalmente no que se reporta à garantia do direito à saúde da comunidade global.
Neste sentido, vale destacar que a doação de sangue é indispensável para a manutenção da vida, haja vista que ela pode auxiliar pacientes em diversos tipos de tratamentos que requeiram da terapêutica transfusional. O crescente nível de complexidade na prática médica, impulsionado pelos avanços técnico-científicos e pelo envelhecimento da população, tem resultado em uma demanda cada vez maior por transfusões sanguíneas e, em virtude dessa condição, torna-se cada vez mais necessário o incentivo à prática da doação de sangue na sociedade3.
O impacto da sazonalidade no fluxo de doadores nos hemocentros apresenta variações significativas ao longo do ano e afeta diretamente o quantitativo de bolsas de sangue. É comum haver uma diminuição durante os feriados e um aumento durante a Semana Nacional da Doação de Sangue ou demais campanhas específicas35. Diante desse cenário, os serviços de hemoterapia, empresas e instituições de ensino têm buscado desenvolver estratégias educativas por meio da implementação de novas tecnologias visando aumentar a disposição e acessibilidade dos doadores com o objetivo de sensibilizar e conscientizar sobre a importância vital da doação de sangue36.
A promoção da doação voluntária de sangue, principalmente, por meio de tecnologias educacionais, demanda mais do que a propagação reducionista de informações. Para que se alcance uma mudança de atitude consistente faz-se necessário analisar os aspectos psicológicos, socioculturais que influenciam a decisão de doar sangue37. Assim, a aplicação de diferentes modelos teóricos e evidências empíricas apresentadas na literatura corroboram para a construção de tecnologias mais precisas.
A incorporação de tecnologias digitais ao processo de educação em saúde tem demonstrado ser uma ação bem sucedida para promover o incentivo a doação de sangue16. Por exemplo, Gao; Mei e Mao (2024)38 ao realizar um ensaio clínico com mais de 500 participantes, evidenciaram que intervenções digitais bem estruturadas, isto é, ações que combinaram materiais educativos com estratégias comportamentais persuasivas foram úteis não somente para ampliar o número de vezes que as doações voluntárias aconteciam, mas também em fortalecer valores associados ao altruísmo e à responsabilidade coletiva.
Outro resultado positivo foi relatado por Li et al. (2023)16, onde os autores evidenciaram que usuários de aplicativos específicos para doação de sangue apresentaram maior intenção de realizar novas doações, além de adquirirem maior conhecimento sobre o processo de doação de sangue e reduzirem os medos relacionados a essa prática. Esses resultados apontam para a relevância do uso aplicativos móveis com funcionalidades educativas, expondo-os como um meio promissor no contexto saúde-educação de possíveis doadores.
France et al. (2011)39, obtiveram resultados ainda mais abrangentes ao combinar diferentes formatos de materiais educativos tecnológicos. Seus resultados sugerem que essa combinação é eficaz para diminuição da ansiedade, aumentar a confiança acerca da doação de sangue, além de desmistificação de tabus referentes ao procedimento.
Os objetos tecnológicos que mais se destacaram neste estudo foram os aplicativos móveis/gamificação seguidos de plataformas digitais e vídeos/cartilhas educativas. Essas tecnologias são direcionadas mais especificamente para o público-alvo composto por indivíduos entre 16 e 69 anos com o objetivo de aumentar a capilaridade da população no que diz respeito à doação, favorecendo a captação e a fidelização dos doadores.
As tecnologias móveis de saúde (mHealth) e saúde digital (eHealth) desempenham um papel crucial na promoção em saúde, em especial na doação de sangue, facilitando o engajamento e a conscientização dos doadores. Por meio de aplicativos móveis específicos e plataformas online, essas tecnologias oferecem uma série de recursos que, entre outras características, melhoram a eficácia dos serviços prestados, ampliam o escopo dos cuidados de saúde, melhoram a qualidade do atendimento bem como oportunizam uma maior participação e empoderamento dos pacientes40.
Arigo et al.41 destacam os smartphones como ferramentas tecnológicas que possibilitam o download de aplicativos, especialmente aqueles voltados para a saúde e que incluem desde ferramentas de automonitoramento, agendamento de consultas online, notificações e até estratégia de gamificação, além de facilitar o estabelecimento de metas e recursos de redes sociais. Essas tecnologias, portanto, abrangem a prevenção e diagnóstico bem como o tratamento de doenças, com o propósito de facilitar o acesso à informação e promover uma melhor qualidade de vida42,43.
Os dispositivos móveis somaram mais de 5,4 bilhões de usuários no mundo no ano de 2022, totalizando aproximadamente 70,0% dos habitantes do planeta. Além disso, no mesmo ano, mais de 250 bilhões de downloads de aplicativos foram feitos, o que representou um aumento de 11,0% em relação ao ano anterior, ficando o Brasil na quarta posição mundial em relação ao número de downloads, respondendo por mais de 10,6 bilhões desse total44.
É oportuno destacar que a mHealth está relacionada não somente a celulares ou smartphones, mas também a consoles de games, tablets, e-book readers (como iPad e Kindle), óculos, relógios, etc40. Nesta perspectiva, o uso de aplicativos em dispositivos móveis para cuidados e monitoramento da saúde é uma tendência irreversível, impulsionada pelo progresso tecnológico. Essa evolução tem facilitado o acesso da população a informações rápidas e, muitas vezes, gratuitas, sobre estilo de vida, qualidade de vida e hábitos saudáveis43.
Para Scholz & Teetz45, a saúde digital é apoiada por uma variedade de plataformas e canais, como blogs, sites, redes sociais, comunidades virtuais, fóruns e aplicativos para dispositivos móveis. Essa diversidade de recursos oferece várias oportunidades de intersecção entre saúde, comunicação e tecnologia.
No contexto da doação de sangue, as estratégias de comunicação são aspectos de extrema relevância a serem consideradas pelo marketing das instituições. O marketing social, amplamente utilizado em campanhas sociais, é um caminho para que as organizações públicas possam direcionar as suas ações sociais46. Serve, pois, de subsídio para o planejamento e a implementação de mudanças sociais e, portanto, para estabelecer e/ou melhorar as relações com os candidatos à doação de sangue, permitindo uma comunicação mais assertiva e uma fidelização de doadores47.
Nesse cenário, as mídias e as redes sociais ganham destaque haja vista a criação de novos espaços de socialização e empoderamento da população nas causas sociais, o que gera benefícios tanto para as instituições, como os hemocentros, quanto para a sociedade em geral. Por meio de estratégias de marketing bem planejadas e da utilização eficaz das redes sociais, é possível aumentar a conscientização sobre a importância da doação de sangue e incentivar a participação ativa da comunidade.
As mídias sociais oferecem um espaço dinâmico e acessível para alcançar um público amplo. Ao utilizar plataformas como Facebook, Instagram, Twitter entre outras, as organizações podem compartilhar informações relevantes sobre a doação de sangue, incluindo os benefícios para os receptores, os requisitos para doação e a localização de bancos de sangue e campanhas de doação. Além disso, as redes sociais permitem o engajamento direto com os seguidores, respondendo a dúvidas, fornecendo orientações e incentivando ações concretas, como agendar uma doação3.
O estudo de Kotler et al.48, evidenciou que em 2016, a agência We Are Social registrou 2,5 bilhões de usuários de mídia social, correspondendo a 31,0% da população mundial. Dentre as principais mídias sociais, destaca-se o sítio eletrônico Facebook como a mais acessada no mundo27.
A Série 2024 Global Digital Reports, publicada pelas agências We Are Social e Meltwater, ressalta em seu relatório Digital para o Brasil que, em janeiro de 2024, o país tinha 144,0 milhões de usuários de mídias sociais, o que corresponde a cerca de 66,3% da população total e representa um aumento de 1,4% entre o início de 2023 e o início de 2024. Destas mídias, a plataforma Facebook continua sendo a mais acessada no mundo, e, no Brasil, foi acessada por 111,3 milhões de usuários no início do ano de 2024, conforme números publicados pela empresa Meta49.
As tecnologias mHealth e eHealth também desempenham um papel importante na educação e conscientização sobre a doação de sangue. Por meio de conteúdo educacional, essas plataformas ajudam a desmistificar o processo de doação e a incentivar mais pessoas a se tornarem doadoras regulares3. É o caso também dos vídeos e cartilhas educativas que são utilizados com o objetivo de despertar maior interesse, explorar os temas abordados e oferecer uma melhor visualização e aprendizagem do conteúdo50,51. Esse tipo de tecnologia, alinhado com os objetivos educacionais, torna-se uma ferramenta capaz de proporcionar empoderamento em relação à temática estudada52.
A utilização de tecnologias avançadas na educação e promoção da doação de sangue é fundamental para enfrentar os desafios atuais e futuros nessa área. As ferramentas tecnológicas permitem a criação de conteúdos interativos e envolventes, que podem alcançar um público mais amplo e diversificado, promovendo a conscientização e o engajamento de maneira eficaz. Essas tecnologias têm, pois, o potencial de salvar vidas, garantindo que os bancos de sangue tenham o suprimento necessário para atender às demandas daqueles que necessitam de transfusões sanguíneas36.
Considerações finais
O uso de tecnologias voltadas para a educação e a promoção da doação voluntária de sangue mostra-se cada vez mais necessário para ampliar o suprimento de sangue nos serviços de saúde no Brasil e no mundo. Os resultados apresentados por esta revisão demonstram a variedade de tais tecnologias e a relevância de utilizá-las como estratégias para o desenvolvimento de ações e o cuidado em saúde.
As tecnologias permitem a personalização da aprendizagem, adaptando o conteúdo às necessidades e preferências de diferentes grupos de indivíduos; a criação de campanhas de marketing direcionadas, que podem ser rapidamente disseminadas para grandes audiências; o agendamento online e notificações por aplicativos, facilitando o processo de doação e tornando-o mais conveniente para os doadores. Por meio dessas tecnologias, os doadores podem encontrar locais de coleta, agendar suas doações e desmistificar mitos e preconceitos sobre o processo de doação de sangue, melhorando a sua experiência geral e aumentando a probabilidade de doações regulares. Ao integrar essas ferramentas inovadoras, é possível promover uma cultura de doação de sangue mais robusta e sustentável, salvando vidas e fortalecendo a saúde pública.
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