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0155/2025 - Women experiencing homelessness in central São Paulo city and eating access.
Mulheres em situação de rua no centro da cidade de São Paulo e acesso alimentar.

Author:

• Fernanda Sabatini - Sabatini, F - <fer.tini@hotmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3037-4447

Co-author(s):

• Ramiro Fernandez Unsain - Unsain, RF - <ramirofunsain@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3142-0561
• Priscila de Morais Sato - Sato, PM - <pri.sato@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9850-6859
• Thifany Helena Torres - Torres, TH - <thif.torres@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3741-3461
• Fernanda Baeza Scagliusi - Scagliusi, FB - <fernanda.scagliusi@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7590-4563


Abstract:

Food access involves subjective issues, such as food desires. In addition, involves social, political, and cultural structures. This study focused on examining food access among women experiencing homelessness (WeH). We conducted an ethnographic study between 2018 and 2022 with WeH in central São Paulo, Brazil, and data were analyzed using the Thematic Content Analysis Method. Black feminist theory and socio-anthropological perspectives on food guided the research's theoretical, methodological, and ethical approach. Two emic category emerged from the findings about the spaces and ways by which participants accessed food, and their perceptions of this access ('Bocas de rango' and 'Bocas de fudê'). We concluded that participants developed strategies for Food and Nutritional Security (FNS) based on their food choices, including what they perceived as pleasurable and desirable to experience through food. In this sense, building FNS by and for WeH requires strengthening the possibilities of material, political, and cultural resources that support their autonomous decision-making about what they want to eat, with their pleasures and desires playing a significant role in this process.

Keywords:

Food and Nutrition Security; Pleasure; Homeless People; Decoloniality; Women.

Content:

INTRODUÇÃO
O acesso alimentar abrange a relação entre as características do ambiente alimentar e as capacidades de indivíduos e coletivos desejarem e estarem propensos fisicamente, materialmente e subjetivamente para usarem esse ambiente¹. Em dimensões práticas, o acesso alimentar está condicionado ao preço dos alimentos, tipos de serviços disponíveis e localidade, relação geográfica e de recursos (como transporte ou renda), preferências e desejos pessoais, e dinâmicas de vida que dificultam ou facilitam o acesso a um ou outro serviço ou a um ou a outro alimento (incluindo acesso a doações). Sob este olhar, o acesso ao alimento implica em questões subjetivas, como desejo alimentar e aceitabilidade, e também em estruturas sociais, políticas e culturais contextualizadas aos sujeitos¹.
Interessa-nos aqui pensar o acesso alimentar de mulheres em situação de rua (MSR), as quais vivenciam Insegurança Alimentar e Nutricional (IA). A IA no Brasil é mensurada a partir da Escala Brasileira de Medida Domiciliar de Insegurança Alimentar², tendo as experiências de famílias domiciliadas como parâmetro, e pode se referir à falta de comida entre os adultos ou, quando grave, de todos os membros da família. A IA também pode se referir a mudanças na qualidade e no tipo de comida que aquela família acessa, como aumento de ultraprocessados³. As MSR não são abarcadas por mensurações como esta, por não estarem domiciliadas, e o que temos de principal informação sobre IA MSR vem de censos, que, até o momento, olharam para a presença ou ausência de comida no dia a dia, e de maneira não discutida por gênero e raça. Pelo censo de 2019, na cidade de São Paulo, 35,3% das pessoas em situação de rua (PSR) entrevistadas responderam que passaram um dia inteiro sem comer nos 7 dias anteriores à pesquisa porque não conseguiram comida4. Foi o único censo que inclui esta pergunta.
A última estimativa sobre a PSR no Brasil apontou para 236.400 pessoas nesta situação5, sendo 22,8% na cidade de São Paulo. Destas, a maior parte se autodeclarava preta ou parda; e apesar da maioria da PSR na cidade se auto reconhecer enquanto homens cis, 40% do número de violências auto notificadas por estar em situação de rua são referentes a mulheres cis e, principalmente, transgênero5. Alguns aspectos sociais que contribuem para que MSR vivenciem a situação de rua de maneira mais violenta, e a IA, são as diferentes exposições a estigmas e violências de bases racistas, misóginas e cis-heterocentradas5.
Jussara Campos e Rita de Cássia Akutsu6, a partir de uma revisão integrativa, discutiram sobre as imbricações entre Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) e gênero, compreendendo que, de acordo com as políticas públicas em Alimentação e Nutrição no Brasil, a SAN consiste “no acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”6(Art. 3º). As autoras pontuam a importância de olhar para estratégias de mulheres para o acesso alimentar, e reforçam a centralidade de mulheres enquanto produtoras de SAN, uma vez que a atuação delas na agricultura e nos domicílios urbanos provém comida às suas famílias e a construção de estratégias adaptativas para obter a comida. Apesar de não ser um critério de exclusão, na revisão das autoras, não emergiram estudos voltados para MSR. Rosa e Brêtas7 trouxeram experiências de violências que MSR vivenciam na capital paulista, inclusive sobre alimentação. As participantes do estudo tinham a percepção de sujeição e encarceramento a regras de horários, convivência e formas de se alimentar em espaços como albergues, nos quais “eram obrigadas a adequarem seus hábitos e costumes de cuidado com o corpo, higiene, alimentação, entre outros, em compatibilidade com as condições que os serviços lhes ofereciam e com as regras que tinham”7 (p. 279). A pobreza, e consequências como a fome, são experienciadas de diferentes formas pelas intersecções de raça com gênero, classe, sexualidade, entre outros marcadores sociais8, e isto atrela-se a elementos coloniais da sociedade moderna.9,10 O sistema capitalista em países como o Brasil permanece se usando de elementos coloniais, como o apagamento cultural e simbólico de mulheres pobres e pessoas negras, e perpassam esses elementos coloniais o controle e disciplinamento de corpos, tanto por regras rígidas e excludentes de convivência quanto por negligência a aspectos subjetivos como desejos e prazeres de sujeitos/as9,10,11. Nesse sentido, a relação com a comida e com o acesso alimentar para MSR perpassa estratégias de combate a estereótipos e estigmas que as levam a ambientes alimentares excludentes e hostis, em que suas subjetividades não são consideradas11,12.
Santos et al.13 contribuíram sobre as implicações de realidades socioeconômicas ao acesso alimentar, a partir de um estudo com mães da área urbana de Cruzeiro do Sul no Estado do Acre. Mesmo não sendo um estudo com MSR, os dados corroboram a importância de olhar para estratégias alimentares de mulheres - sobretudo pobres - enquanto construção de SAN. No estudo, mulheres mães com piores realidades socioeconômicas desenvolviam uma maior quantidade de estratégias para lidar com as dificuldades financeiras e a falta de variedade de alimentos regionais e coerentes culturalmente a elas; por exemplo: substituições de alimentos, como vegetais por ultraprocessados, e a compra fora de grandes supermercados, mas junto a vendedores ambulantes que propiciavam praticidade, alimentos mais regionais e melhores preços.
Nesse sentido, quais as possíveis estratégias que MSR desenvolvem para o acesso alimentar? E como isto pode nos comunicar sobre seus processos de construção de SAN, e a abrangência e profundidade dos obstáculos e potencialidades desse processo. Tendo em vista que o acesso alimentar concatena dimensões subjetivas, como desejo alimentar e aceitabilidade1, que as bases coloniais no Brasil apagam e negligenciam historicamente estas dimensões às MSR e que há uma lacuna de estudos neste sentido frente a este grupo populacional, nos debruçamos nas estratégias para o acesso ao alimento que MSR desenvolvem no centro da cidade de São Paulo cotidianamente; com atenção às estratégias que apontam para o que consideram desejável e coerente enquanto comida.

PROCESSO METODOLÓGICO
Realizamos estudo exploratório, descritivo e qualitativo, com perspectiva etnográfica. Fizemos a imersão e construção dos dados no centro da cidade de São Paulo, em vista de ser a região com maior número da PSR na cidade ao longo dos últimos censos paulistanos.4,29 A duração do estudo foi de 2018 a 2022, período no qual realizamos diferentes modalidades de construção dos dados, conforme detalhado abaixo.

A construção dos dados
Delineamos uma perspectiva metodológica etnográfica, e desenvolvemos observação participante, não participante e entrevistas semiestruturadas no centro de São Paulo, com uso de diário de campo.15 Durante as observações não-participantes, observamos: interação de mulheres pernoitando a região com demais pedestres e comércios e o território em geral; doações ou vendas de comida nas calçadas, praças e embaixo de viadutos; e funcionamento de serviços de alimentação com a presença da PSR, focando na presença ou ausência de MSR. Maria Teresa Anguera15 coloca que a observação não participante prevê que a pesquisadora não inicie uma relação de interação com as pessoas observadas, ou que pelo menos esta interação não seja base para as notas e observações. Porém, isto não implica em neutralidade da pesquisadora em campo, e sem dúvida a presença em si de uma pessoa observadora contorna e impacta nas possibilidades de interações locais.
Iniciamos observações participantes em eventos e audiências públicas produzidas por ou sobre a PSR, no centro da cidade, em serviços de acolhimento e durante a oferta de refeição no território, nas calçadas, viadutos e praças. Além das MSR, desenvolvemos conversas com membros de entidades, organizações e movimentos ligados a MSR. A aproximação a possíveis participantes em logradouros públicos deu-se de maneira gradual e informal, com apresentação prévia da pesquisadora, contando seu nome, seu interesse em estar ali e o foco do seu trabalho. Aquelas que se interessavam e que se auto reconheciam enquanto mulheres que pernoitavam na região eram então convidadas a participar da pesquisa - a partir de observações participantes no seu dia a dia ou de entrevistas. Esta forma de aproximação visava ser não coercitiva ou invasiva, pautando-se em Pacheco-Vega e Parizeau14. As observações participantes e não participantes foram descritas em diário de campo, que funcionou enquanto material de registro empírico, em que as relações intersubjetivas da pesquisadora, participantes e territórios foram sendo anotados, refletidos e reinterpretados, nos auxiliando na compreensão dos avanços e recuos interpretativos do campo, do registro de dilemas éticos e de reformulação de perguntas de pesquisa, além de uma ferramenta auxiliadora no nosso gerar interpretações e conclusões.
No que tange às entrevistas em profundidade, realizamos a aplicação de um questionário semiaberto entre 2021 e 2022. Estas iniciaram apenas em 2021 devido à pandemia de Covid-19, sendo que as conversas se iniciaram informais, a fim de que ambas (pesquisadora e participante) se fizessem entender seus interesses ou aceites. À medida que a participante se sentia confortável para rever a pesquisadora e conversar um pouco mais, as entrevistas ocorriam. A duração das entrevistas deu-se de maneira não uniforme, conforme a disponibilidade da participante, tendo variado de 30 a 120 minutos.

As participantes
A PSR é caracterizada no Brasil enquanto um grupo heterogêneo que possui em comum características como: extrema pobreza, vínculos familiares comprometidos e a inexistência de moradia convencional regular16. A inclusão das participantes deu-se a partir de dois critérios: estar em situação de rua pernoitando albergues ou logradouros públicos do centro da cidade de São Paulo e se auto identificar enquanto mulher. Enquanto critério de exclusão, aquelas que já passaram pela situação de rua, mas estavam domiciliadas no tempo da pesquisa. Ao todo, 27 participantes consentiram com a observação participante e, destas, 13 com entrevistas em profundidade. O processo de consentimento foi descrito nas ‘Questões éticas’ mais abaixo.

Os atravessamentos da Covid-19
Decorrente da pandemia de Covid-1917, entre março de 2020 a setembro de 2020, acompanhamos notícias produzidas por entidades ligadas à PSR e mantivemos contato com entidades ligadas à PSR, sem estarmos em imersão no território. Este momento visou o resguardo da saúde das participantes e da pesquisadora. A partir de setembro de 2020, retomamos a ida ao território para colaboração na distribuição de marmitas junto a entidades e continuidade das observações. Neste período, a prefeitura de São Paulo tomou como principal medida emergencial de alimentação a ação Rede Cozinha Cidadã18. No centro da cidade, havia três pontos de distribuição com oferta de cerca de 2.400 refeições por dia.18,19 Foram nestes espaços que nos inserimos na volta gradual ao território.
Entre maio de 2021 a junho de 2022, com a vacinação da PSR e de profissionais da saúde na cidade, iniciamos entrevistas com MSR e aumentamos a frequência das observações participantes, sempre com anotação em diário de campo. A pesquisadora se encontrava com as mesmas participantes repetidamente ao longo desse período (n=27). A saída do campo (junho de 2022) deu-se devido à saturação dos dados19 em relação à emergência de novos conteúdos e da repetição de dados nas três frentes de produção (observações participantes e não participantes e entrevistas).

Análise dos dados
A análise se deu pelo método de Análise de Conteúdo Temática21. O processo de categorização foi realizado por duas pesquisadoras treinadas. Em uma primeira etapa, as entrevistas foram transcritas logo após cada conversa, e estas transcrições em soma ao nosso diário de campo, foram organizados no software MAXQDA20 formando nossos dados de pesquisa. Em uma segunda etapa, sublinhamos e destacamos trechos com sentidos semelhantes nos dados de pesquisa, e em seguida, dentro do contexto das falas, trechos foram agrupados. Estes agrupamentos foram nomeados, fosse com expressões êmicas ou não, dando conta de tais sentidos, originando temas de análise. Após isto, construímos uma versão resumida de ‘codebook’ recomendado por MacQueen22. Pautando-se neste codebook, a segunda pesquisadora realizou o processo de categorização, e ambas discutiram continuamente a concordância e reprodutibilidade dos temas construídos e trechos categorizados. Os temas que anunciaram sobre estratégias do acesso à comida pelas participantes foram discutidos neste artigo. Interpretamos os dados em interlocução com a Socioantropologia da alimentação e com as epistemologias construídas pelo feminismo negro, a partir por exemplo de Patrícia Hill Collins e bell hooks, e outros(as) autoras(es) decoloniais, como Achille Mbembe.

Questões éticas
Para a condução ética do campo, nos pautamos em Pacheco-Vega e Parizeau14, que colocam três questões para etnografias junto a populações em vulnerabilidade social: 1) posicionalidade da pesquisadora em campo em relação às participantes da pesquisa e ao território, trazendo luz à importância de reconhecer e refletir criticamente sobre os privilégios de raça, gênero, sexualidade e classe de quem escreve a realidade observada; 2) aproximação em campo não coercitiva, que respeite confidencialidades, disponibilidade e disposição das participantes, buscando não gerar constrangimentos na rotina; e 3) comprometimento com um tratamento, interpretação e divulgação dos dados de forma ética, que não represente de maneira estigmatizante as participantes e o território, considerando a posicionalidade das pesquisadoras neste momento e a confidencialidade de informações sensíveis.
Durante as conversas, as tarefas diárias das participantes não eram interrompidas e a pesquisadora se colocava para participar de possíveis demandas, como carregar carrinho de reciclagem ou conversar caminhando no trajeto delas para alguma atividade (como comparecimento em entrevista de emprego). Visto trabalharmos com uma população em extrema vulnerabilidade social, a gravação das entrevistas ocorreu apenas mediante aceite das participantes.
Todas as participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual foi entregue após a descrição detalhada sobre a pesquisa, e recapitulado sempre que solicitado pelas participantes. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (protocolo nº 29137419.9.0000.5421).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização das Participantes
A caracterização das participantes será descrita nesta seção a partir de termos êmicos em articulação com termos estudados pela literatura científica, como é o caso das expressões ‘mulheres cisgênero’ e ‘mulheres transgênero23,24,25, ‘em situação de rua’16 e mulheres ‘brancas, pretas e pardas26,27. Ao longo das falas das participantes, estes termos ajudaram a padronizar a caracterização das interlocutoras.
Apesar de reconhecerem enquanto válida a expressão ‘estar em situação de rua’, esta não foi usada por todas as participantes, devido às diferentes representações do termo para elas. Na literatura científica e entre os movimentos ligados à PSR, a ideia de ‘situação de rua’ serve como uma expressão guarda-chuva, de cunho teórico e político, para agrupar um conjunto heterogêneo de modos de vida, os quais são reconhecidos por quem vivencia.16 Dentre as expressões que emergiram do campo, e que expressam a situação vivenciada, há o ‘ser maloqueira’, que na percepção de Pérola, é representada pela presença da maloca - em seu caso, a barraca - que propicia algum tipo de suporte quando comparado ao estar na calçada, 'em situação de rua' - contexto ainda mais vulnerável aos seus olhos. Para além, surgiram ‘dormindo em serviços de acolhimento’, quando acolhidas em albergues; ou ‘estar pernoitando a região’, ‘estar na rua’, ou 'eu fico ao redor', referindo-se geralmente a não estar acolhida em nenhum serviço e pernoitar debaixo de marquises ou calçadas.
Em relação ao gênero, a autoidentificação ou aparecia de maneira espontânea ao longo da conversa ou era colocada enquanto pergunta para a participante, compreendendo a não linearidade e a fluidez de quaisquer signos estéticos, que não se encerra em uma binaridade feminino e masculino28,29. Algumas participantes atrelaram suas respostas de gênero à orientação sexual, intuindo que ser mulher é se relacionar com homens - geralmente cis -, e afirmando-se enquanto mulheres a partir deste critério. Sobre aquelas que não se identificavam enquanto cisgênero, tanto se auto identificavam enquanto ‘trans’ ou ‘travestis’ ou mesmo ‘mulher gay’, e denominavam as mulheres cisgênero em situação de rua enquanto ‘as outras mulheres’ ou ‘as mulheres normais’. No centro da cidade de São Paulo há apenas uma casa de acolhimento destinada a mulheres transgênero, o que expõe as mulheres trans e travestis às ruas e calçadas30. Do total de participantes (n=27), 34% identificaram-se enquanto mulheres trans, travestis ou ‘mulher gay’.
Sobre raça, a maioria das participantes se reconheceram enquanto mulheres negras (52%), seguidas de mulheres que não obtivemos a auto identificação sobre raça (33%) e mulheres que se auto identificavam como brancas (15%). Erroneamente, não foi estruturada uma pergunta direta sobre raça nas observações participantes, visto não ser uma questão para inclusão das participantes. Porém, ao longo da etnografia, a percepção sobre a importância nos níveis histórico e político em compreender a autoidentificação delas sobre raça nos fez passar a adentrar o tema. A partir deste momento, a maioria dos termos de autoidentificação surgiram enquanto ser negra. Além disso, em uma das falas, a autoidentificação trouxe explícita a intersecção de gênero com a autoidentificação racial:

Pesquisadora: Você se considera em qual gênero?
Natalina: Sou mulher, mulher, negra, cabelo duro” (Natalina, mulher cisgênero negra).

Por fim, tivemos falas em que a autoidentificação racial vinha espontaneamente, e criticamente, pela comparação com a cor da pesquisadora.

Eu não estava em um momento de campo, estava passando enquanto pedestre [...] após atravessar a rua, uma mulher se aproximou “Oi, linda! Eu sei que eu não sou linda, branquinha assim como você- olhou meu corpo-, mas você me ajuda comprando um absorvente? [Iniciamos uma breve conversa, e ela me ajudou com informações sobre o território] (Diário de campo, trecho sobre Lorraine).

É importante frisar que essa auto comparação não se interrompe no nível da cor da pele, visto que cor - enquanto um dos parâmetros de raça - se intersecciona com classe e com gênero23,7. Ademais, as intersecções entre gênero, sexualidade e raça nas autoidentificações das participantes regem uma discussão teórica já bem firmada por intelectuais e feministas negras, as quais enfatizam a importância de compreender que essas categorias sociais constroem mutuamente as vivências das participantes, e que encará-las isoladamente propicia a invisibilização dos sentidos e significados que essas mulheres atribuem à vida31,7.

Temas de análise
Os dados foram categorizados em dois principais temas, apresentados na Figura 1.

“A comida acessada: locais e formas de acesso à comida’
Os locais de acesso a refeições perpassaram: 1) doações por pedestres ou entidades sociais, principalmente em praças, próximo a estações de metrô e embaixo de viadutos; 2) marmitas oferecidas em Centros Temporários de Acolhimento e núcleos de convivência da região central (sobretudo Rede Sefras, espaço social D'Achiropita e núcleo INFOREDES - chamado de Penaforte pelas participantes); 3) refeições produzidas em espaços religiosos de convivência; 4) marmitas oferecidas em pontos de distribuição emergenciais18,32; 5) compra de refeições ou alimentos avulsos nos comércios da região, com o dinheiro da catação de recicláveis ou de outros trabalhos; 6) o ato de pedir aos comerciantes e pedestres locais refeições prontas ou dinheiro para compra; 7) cozinhando a própria comida, o que demandava outras formas de acesso, como o pedir por ingredientes culinários e utensílios, ou comprar ingredientes pela renda de seus trabalhos.
Em termos êmicos, locais de distribuição de refeições por entidades sociais, filantrópicas ou públicas, além de locais no território em que entidades e ONGS iam para doar comida de maneira mais constante, eram chamados de “bocas de rango”. Eram nesses espaços que as participantes acessavam a maior parte de suas refeições. A Figura 2 reúne as principais “bocas de rango” acessadas pelas participantes.
As ‘bocas de rango’ apresentavam dias certos de funcionamento e horário limite para retirada das refeições, inclusive com padrão de horário das doações ao longo do dia. O conhecimento delas sobre o território e os possíveis locais de acesso atrelava-se à possibilidade de não ficarem sem alguma refeição importante do dia. Cada participante locomovia-se entre diferentes ‘bocas de rango’, fosse no mesmo dia ou entre os dias da semana, para buscar refeições diferentes, que considerasse melhores, ou por precisar se deslocar na cidade para trabalhos informais, busca de documentos e outras demandas. Na maior parte das refeições, preferiam acessar ‘bocas de rango’ mais próximas dos seus locais de guarda de pertences, pelo medo da retirada destes por policiais caso não estivessem perto.
A heterogeneidade da vivência da situação de rua por mulheres consiste também nas diferentes formas de interação com as calçadas e praças; isto é importante de ser comentado pois se entrelaça com as formas de acesso à comida. As participantes que pernoitavam nas calçadas em si ou embaixo de viadutos - em barracas próprias, tapetes de papelão ou cobertores - tinham uma relação mais permanente na convivência com as calçadas e praças, uma relação de não-transeunte nas palavras de Frehse32. O acesso à comida do dia a dia, para estas mulheres, também provinha mais das calçadas e praças e, assim, mais elas se identificavam com o estar em situação de rua. A construção de estratégias para o acesso à comida dava-se a partir da interação com esses espaços públicos. Portanto, pedestres, ‘bocas de rango’, vendedores ambulantes, ou comércios locais tornavam-se importantes para o acesso à comida diária. Nestes casos, elas precisavam se relacionar diretamente com diferentes espaços, os quais têm diferentes horários, circulação de pessoas e regras. Isto as levava, apesar da situação de rua ser reconhecida enquanto uma situação de errância, a buscarem ter alguma relação mais estável com o território (pernoitar e comer via locais já reconhecidos por elas, por exemplo), pois a menor errância poupavam-nas de reconstruírem estratégias de acesso constantemente.
Já as participantes que pernoitavam ou mesmo passavam o dia em espaços de convivência se relacionavam com as calçadas e praças do centro enquanto espaços de passagem: para ir ao trabalho ou para a ida a cursos e possibilidades de profissionalização. O acesso à refeição em si dava-se sobretudo nos próprios espaços de acolhimento. Por vezes, a distância da casa de pernoite e as atividades que desenvolviam ao longo do dia as faziam percorrer distâncias a pé dentro da cidade e voltarem apenas para dormir. Este trajeto as fazia esperar para comer na própria casa de acolhimento, ou em ‘bocas de rango’. Nestes dois casos, eram maneiras de comer refeições com arroz e feijão e alguma mistura, sem precisarem pedir por elas em comércios ou a pedestres. Outras vezes, compravam algum alimento pronto, inclusive ultraprocessados como biscoitos, pela praticidade, fome ou desejo que sentiam ao longo do dia.
Algumas participantes pernoitavam casas de acolhida religiosas, que não eram albergues, e que provinham cozinha para uso coletivo. A possibilidade de cozinhar a própria comida fora das calçadas dava a elas o sentimento de maior segurança, além de um maior distanciamento com a percepção de estar em situação de rua. Isto significa que as formas de acesso à comida contornavam a autoidentificação das participantes quanto ao estar em situação de rua. Algumas participantes traziam que não se mora na rua, sobrevive-se nas ruas. Mas este sobreviver não se construía sem afetos e estratégias de acessos prazerosos e desejos. No próximo tema, detalharemos as percepções delas em torno dos locais de acesso e das comidas acessadas.

Fig.1

Figura 2: Mapa* com os principais locais de acesso à comida por mulheres em situação de rua no centro da cidade de São Paulo, conforme estudo etnográfico entre 2018 e 2022.

Fig.2

“Percepções sobre a comida acessada: As ‘Bocas de rango’ e as ‘Bocas de fudê’.”
Violeta: Lá [cidade em que pernoitavam anteriormente], fazíamos assim: quando caia um caminhão, pegávamos as verduras, os legumes, as comidas que caiam e fazíamos um buffet pra todos nós...lá eles tinham fogo em uma lata com gás, e era um monte de coisa!
Jazmin: Uma delícia, nossa! Boca de fudê! É quando tem fartura, sabe? Comida farta! Violeta: Isso. Tinha verdura, legumes, de tudo. (Jazmin e Violeta, ambas mulheres negras transgênero, Entrevista)

Em contraposição às ‘bocas de rango’, inserimos aqui também em termos êmicos suas noções sobre as ‘bocas de fudê’. Dentre as diferenças dos termos êmicos apresentados, há uma nuance importante de significado que os difere. As ‘bocas de rango’ são espaços físicos nos quais o acesso à comida diária tendia a acontecer, fosse esta comida percebida como mais ou menos desejosa, mais ou menos prazerosa. Contudo, as ‘bocas de fudê’ não são um espaço físico de acesso, mas representavam sentidos atribuídos ao comer no que tange à percepção de uma comida deliciosa, prazerosa, quista. Esta percepção teve como base tanto a variedade dos tipos de comida disponíveis, quanto a quantidade, e a vivência do comer de maneira farta, à vontade, servindo-se. Os elementos em torno do comer da ‘boca de fudê’, inclusive, apareceram em outras falas a partir de outros termos como o prazer ou desejo em “comer à vontade” ou no “comer em formato self-service”, “comer de maneira farta\um banquete”, também emergindo aspectos da quantidade livre e da autonomia.
Quanto às ‘bocas de rango’, havia a insatisfação com o sabor, variedade e quantidade das comidas servidas. Contudo, era a maneira mais disponível de acesso à comida. Além, as ‘bocas de rango’ geravam incômodo em algumas participantes pela presença maior de homens cis, o que as faziam se sentir inseguras quanto a assédio ou violências físicas na fila (empurrão e brigas, por exemplo). Algumas mulheres relatavam também não saber se poderiam frequentar alguns desses espaços, pois apesar de pernoitarem nas ruas do centro, elas tinham à disposição casa de parentes.
Ademais, as regras em algumas bocas de rango públicas ou filantrópicas as faziam se sentirem pouco autônomas em relação ao próprio comer, precisando seguir normas quanto às vezes de se servir, quantidade de comida, tempo na fila, horários para estar na fila, e a convivência com grupos muito heterogêneos de pessoas (homens, mulheres, idosos, pessoas sob o uso de álcool e sem uso de álcool, por exemplo). Rosa e Brêtas12 trouxeram dados semelhantes ao pesquisarem sobre experiências de violências a MSR no centro de São Paulo, trazendo relatos sobre se sentirem em ‘prisões semiabertas’ quando frequentavam espaços como albergues. Essa noção de encarceramento pode ser discutida à luz de Michel Foucault11, cujas obras trazem uma ampla discussão acerca de estratégias de disciplinamento na sociedade capitalista moderna enquanto dispositivos de produção de poder. Estas estratégias perpassam a homogeneização de comportamentos em espaços institucionais, como modelo punitivo e disciplinar de corpos e subjetividades.11 O disciplinamento parte da configuração de verdades e saberes hierárquicos que sustentam relações de poder, como a do opressor-oprimido. Mbembé33 (2018) complexifica essa discussão a partir da lógica pós-colonial e de países colonizados, mostrando que as relações de poder no capitalismo partem de políticas de morte, necropolítica, que produzem poder e soberania pela produção de verdades que definem quem deve morrer e quem pode matar nas sociedades. O disciplinamento de corpos, portanto, em uma sociedade de bases coloniais, como o Brasil, precisa também ser discutido pensando nos elementos desse capitalismo moderno que dá continuidade para o projeto de poder colonial sob corpos historicamente alvo da necropolítica, como MSR.
A ideia de “fudê” desloca ainda a ideia de acesso quisto à comida para um lugar socioantropológico do sexo e da luxúria, via fartura, articulando símbolos culturais de prazer sexual/carnal ao prazer alimentar35. A “boca de fudê” subverte a noção de mendicância e de extrema pobreza, e do aprisionamento às normatizações das ‘bocas de rango’. As participantes constroem a subversão tanto ao desejarem o prazer da ‘boca de fudê’ quanto ao estarem atentas a oportunidades de produção dessa forma de comer (como a de pegar alimentos que ‘caíram de um caminhão”). A boca de fudê - mesmo que ainda contextualizada na situação de rua - se difere do acesso mais comum na situação de rua: condicionado a regras, horários, temperos, sabores e alimentos que nem sempre são coerentes com suas percepções de gostoso e quisto. Em meio às limitações das bocas de rango e da falta de moradia, a boca de fudê acaba funcionando como uma estratégia política de saída momentânea do projeto colonial de precariedade material e simbólica para MSR.
Em uma das conversas, Isys, MSR cisgênero negra, compara um núcleo de convivência que frequentava para pessoas em situação de rua a um quartel, afirmando não ir mais ali por não querer ser tratada como se estivesse encarcerada, “Não estou na cadeia”.
As ‘bocas’ são mais que espaços físicos de acesso alimentar, são espaços alimentares em que há diferentes possibilidades de relação com a comida, e com isso de percepções de si mesmas36. No caso de Isys, as regras do albergue remetem à prisão, ao encarceramento. As formas de acesso alimentar, portanto, comunicam relações, inclusive entre o Estado e a população; e torna-se uma continuidade de aspectos de democratização, promoção de saúde ou, como no caso, de disciplinamento e biopoder11,34. Da mesma forma que o pernoitar calçadas e praças confere diferentes formas de se perceberem subjetivamente, o como/o quê/quanto e o onde comer também podem gerar diferentes noções de si.
É importante citar que as bocas de fudê não aconteciam constantemente, sendo oportunidades mais difíceis no centro de São Paulo. Outras estratégias aconteciam na rotina delas, também potentes do ponto de vista de subversão à falta de comidas que saciassem seus desejos e prazeres: o pedir por alimentos e refeições desejadas, o aceitar e comer apenas doações que considerassem gostosas e adequadas para suas saúdes, e quando possível e acessível, comer em casas de familiares (mãe e avó). Estratégias de agenciamento em prol do que elas desejam e sentem prazer em comer remeteram à construção do decidir sobre a própria alimentação. Pensando a partir de bell hooks37, nesse processo de agência, as MSR deslocam a construção da SAN do centro hegemônico da sociedade para a margem da sociedade, para as suas próprias decisões; e deslocam suas subjetividades da ‘margem ao centro’.

CONCLUSÃO
Pesquisas sobre a alimentação de MSR podem influenciar em políticas públicas e no olhar da sociedade em geral para a desconstrução de negligências históricas a pessoas em extrema vulnerabilização. Os contornos do acesso à comida por MSR nos contam sobre o que elas querem comer, e sobre as lacunas estruturais para este acesso. Além disso, as estratégias construídas e os sentidos dados pelas MSR para o acesso à comida nos mostram mulheres agentes do próprio comer, que resistem à redução de sua alimentação à fome biológica e à redução de suas identidades à margem e precariedade. Quando MSR constroem estratégias para sentirem prazer ao comer e persistem no desejo pela fartura e não pelo mínimo para sobrevivência, elas rompem com estereótipos de mendicância e de marginalização, subvertendo as ordens neocoloniais que prescrevem o Brasil.9,10 O prazer e as subjetividades das participantes eram alvo de tecnologias de disciplinamento e de produção de poder.11 As ‘bocas de rango’ se diferem em suas dimensões sociológicas das ‘bocas de fudê’, pelas diferentes interações socioculturais entre indivíduos e processos que produzem ambas (mais ou menos comensalidade, mais ou menos autonomia, mais ou menos coerência com os próprios desejos e preferências), e pelas representações e significados que ambas as ‘bocas’ carregam social e culturalmente (uma, encarceramento; outra, fartura/gozo/autonomia, por exemplo). Assim, o prazer via esse sentimento de ‘fudê’ das bocas desejadas pelas participantes é um caminho de subversão à ordem, em que elas constroem estratégias não hegemônicas de vida e que, em nossa compreensão, podem refletir em caminhos de SAN - inclusive no nível de políticas públicas, caso esses prazeres sejam considerados e respeitados no centro de discussões políticas.
Por fim, as MSR participantes produziam caminhos para SAN anunciando que o exercício do direito à alimentação adequada perpassa não apenas o acesso ao alimento em si, o que se encerraria com a presença de serviços públicos de refeições e doações de refeições no território, por exemplo, mas sobretudo à escuta e valorização dos processos de decisões alimentares delas, o que inclui o que consideram prazeroso e desejável. Nisto, se sublinha a necessidade de fortalecer os meios estruturais, materiais, políticos e financeiros nos quais mulheres precisam se debruçar para exercer suas decisões alimentares, de maneira autônoma e coerente com o que querem para si, seja na ou fora da situação de rua.
FINANCIAMENTO
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001 e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) [número do auxílio 304385/2021-2].

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Sabatini, F, Unsain, RF, Sato, PM, Torres, TH, Scagliusi, FB. Women experiencing homelessness in central São Paulo city and eating access.. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/May). [Citado em 24/06/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/en/articles/women-experiencing-homelessness-in-central-sao-paulo-city-and-eating-access-bocas-de-rango-and-bocas-de-fude/19631?id=19631



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