0277/2006 - FATORES RELACIONADOS À PRESCRIÇÃO MÉDICA DE ANTIBIÓTICOS EM FARMÁCIA PÚBLICA DA REGIÃO OESTE DA CIDADE DE SÃO PAULO.
RELATED FACTORS OF INNEFECTIVE ANTIBIOTICS PRESCRIPTIONS‘ IN PUBLIC PHARMACY OF WEST REGION OF SÃO PAULO CITY.
Autor:
• Fabiana Gatti de Menezes - Menezes, F.G. - SÃO PAULO, SP - Centro Universitário Nove de Julho - <fabiana.gatti@uol.com.br>Área Temática:
Não CategorizadoResumo:
Os antibióticos são comumente utilizados para melhorar uma infecção estabelecida e possuem a finalidade de eliminar ou impedir o crescimento bacteriano. Os riscos mais importantes relacionados ao seu uso são: reações adversas, resistência bacteriana e possíveis interações medicamentosas. Foram realizadas entrevistas com os pacientes para observar o entendimento dos mesmos sobre o uso do antibiótico e tratamento. 38,3% dos pacientes são menores de 18 anos e a maioria é do sexo feminino. Um terço não compreende diagnóstico ou posologia e a maioria consultou-se com um clínico geral. Ainda há resistência na prescrição do nome genérico. Cerca de 8% das receitas continham interação medicamentosa. Grande parte dos tratamentos pode estar comprometida pelo não entendimento do paciente ou presença de interação medicamentosa. A eficácia do tratamento depende de todos os profissionais de saúde, sendo necessário treinamento a esses profissionais tanto para conhecimento próprio quanto para atenção farmacêutica.Palavras-chave: antibiótico, atenção farmacêutica, interação medicamentosa
Abstract:
Antibiotics are frequently used to treat infection and have the aim to eliminate or to inhibit microorganism growth. The risks related to their use are side effects, drug resistance and potential drug-drug interactions. A structured questionnaire was applied to patients concerning to antibiotics use profile and patients treatment comprehension. 38,3% are younger than 18 years and most of patients are female gender. One third does not understand diagnosis or dosage and the prescription majority comes from general physician. Generic drugs prescriptions maintained in low frequency, probably to physician’s endurance to prescribe this medication. About 8% of prescriptions presented drug-drug interactions. Great part of treatment problems can be prevented by patient understanding or by predicting drug-drug interactions. Medication efficacy depends on all health professionals, being necessary training proper knowledge and pharmaceutical care.Key words: antibiotic, pharmaceutical care, drug-drug interaction
Conteúdo:
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) (2001), as infecções causam 25% das mortes em todo o mundo e 45% nos países menos desenvolvidos.
A administração de antibióticos dá-se com a finalidade de eliminar ou impedir o crescimento de um agente infeccioso sem danos ao hospedeiro. Essa ação pode ocorrer através de vários mecanismos: a) interferência na síntese da parede celular do microorganismo, comprometendo os peptidoglicanos estruturais, como exemplo: penicilinas, cefalosporinas, a vancomicina e a bacitracina, b) comprometimento na síntese de proteínas bacterianas: os aminoglicosídeos, as tetraciclinas, a eritromicina, entre outros e c) inibição da síntese de ácidos nucléicos: o metronidazol, as quinolonas, a rifampicina, as sulfonamidas e trimetoprima (GRAHAME-SMITH et al, 2004).
Mais de 50% das prescrições de antimicrobianos se mostram inapropriadas, dois terços dos antimicrobianos são usados sem prescrição médica em muitos países, 50% dos consumidores compram o medicamento para um dia de tratamento e 90% compram-no para um período aproximado de três dias (HOLLOWAY, 2003). Os antimicrobianos correspondem a aproximadamente 12% de todas as prescrições ambulatoriais (MCCAIG e HUGHES, 1995), sugerindo um gasto aproximado de 15 bilhões de dólares ao ano com esses medicamentos.
O uso desenfreado de antibióticos sem uma cuidadosa avaliação das suas indicações apropriadas pode levar ao crescimento de cepas resistentes, ou seja, acarretar numa mutação seletiva.
Nos países em desenvolvimento poucos recursos são empregados na monitorização de ações sobre o uso racional de antibióticos, tampouco, são limitados os dados sobre o uso desses agentes em hospitais, por exemplo, um estudo realizado em hospital universitário de Porto Alegre (Rio Grande do Sul) relatou que quando existem novas alternativas terapêuticas disponibilizadas em hospitais, o uso de antibióticos antigos decresce (CASTRO et al, 2002). Segundo BRICKS (2003), é preciso desenvolver novos métodos de diagnóstico das doenças infecciosas, bem como educar médicos e leigos sobre o uso criterioso desses medicamentos.
A resistência tem sido especialmente estudada para tratamentos pediátricos e doenças infecciosas em geral (DOWELL, 2004) e nos hospitais tem sido tratada com mais cuidado uma vez que o uso de antibióticos é amplo e pode desencadear infecções severas e cruzadas (BRICKS, 2003).
Além da resistência aos antimicrobianos, a presença de reações adversas constitui outro problema grave de saúde pública, causando hospitalização, aumento do tempo de internação e até levar a óbito. Os antibióticos participam de uma das classes de medicamentos mais consumidas e se destacam pela maior incidência de reações adversas, tais reações poderiam ser evitadas através de programas de farmacovigilância (LOURO, 2004).
Entre os exemplos de reações adversas comuns ao uso de antibióticos temos: diarréia (LEMBCKE et al, 2003); arritmia relacionada ao uso de macrolídeos e fluoroquinolonas (CORRAO et al, 2005); mielossupressão por trimetoprima; as tetraciclinas podem agravar insuficiência renal e produzir diarréia; aminoglicosídeos são ototóxicos e nefrotóxicos, entre outras (GRAHAME-SMITH et al, 2004).
Além das reações adversas, outro fator relevante na análise crítica das prescrições são as interações medicamentosas, por exemplo, tetraciclina potencializa o efeito de varfarina e ao ser administrada com leite ou derivados forma quelatos com cátions divalentes como o cálcio (VERONESI et al, 1999). Já o uso concomitante de antimicrobianos e contraceptivos orais, que pode resultar em perda de eficácia contraceptiva e, conseqüentemente, uma gravidez inesperada (CORREA et al, 1998).
Para tentar minimizar todos esses problemas que estão relacionados ao uso inadequado de antibiótico uma das medidas, seria esclarecer dúvidas do paciente e garantir que este tenha a total compreensão da administração adequada e segura. A eficiência das ações de assistência farmacêutica está seriamente comprometida pelos baixos níveis de compreensão dos pacientes e pela dificuldade de acesso. O acesso a medicamentos e seus serviços é indispensável às ações de saúde e um direito do cidadão segundo a política de medicamentos e a legislação brasileira. A prática da atenção farmacêutica auxilia no entendimento do tratamento pelo paciente (NAVES et al, 2005).
No caso de antibióticos, o paciente deve ter o conhecimento da duração do tratamento e do intervalo entre as administrações, garantindo que haja adesão completa ao tratamento, para que não haja diminuição da concentração plasmática, ou ainda ocorra ineficácia do fármaco e surgimento de resistência bacteriana (GRAHAME-SMITH et al, 2004). Em estudo recente realizado com base nos indicadores de uso de medicamentos da Organização Mundial da Saúde, foi observado que a assistência prestada ao paciente é insuficiente, sendo assim, estudos qualitativos são necessários para uma avaliação dos diversos fatores envolvidos em dispensação de medicamentos (SANTOS et al, 2004).
Considerando que a prevalência das infecções e o conseqüente consumo dos medicamentos para tratá-las acarretam muitos erros de prescrição, relacionadas à incerteza diagnóstica e desconhecimento farmacológico, podendo acarretar em aumento dos problemas relacionados ao uso de medicamentos, e que o desconhecimento pelo paciente pode inviabilizar o tratamento, o objetivo deste estudo é analisar prescrições de receitas contendo antibióticos e que tenham sido emitidas pelo Sistema Único de Saúde do Estado de São Paulo quanto aos padrões de uso e possíveis interações medicamentosas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi aplicado questionário previamente elaborado sobre o uso de antibióticos em uma unidade de farmácia pública, da região Oeste de São Paulo, SP. Os pacientes com prescrição foram entrevistados após autorização dos mesmos, sob a supervisão do farmacêutico responsável pela unidade. Quanto aos dados relacionados a pacientes menores de 18 anos, a entrevista foi realizada com o responsável.
Na entrevista foram avaliadas as variáveis: faixa etária, prescritor (especialidade médica), número de medicamentos prescritos, conhecimento do paciente com relação à doença e à posologia, número de prescrições com nome genérico e possíveis interações medicamentosas a partir das prescrições apresentadas pelos pacientes.
A análise dos resultados foi realizada através do programa EpiInfo. (http://www.saude.rs.gov.br/epiinfo.htm)
RESULTADOS
No estudo foram entrevistados 149 pacientes, sendo que, 57 (38,3%) possuem idade de até 18 anos, 27 (18,1%) têm idade entre 19 e 30 anos, 32 (21,5%) estão entre 31 e 50 anos e 33 (22,1%) possuem idade acima de 50 anos (Fig.1). Cerca de 54,4% desses pacientes são do sexo feminino e 45,6% do sexo masculino.
Foi observado na tabela 1 que em aproximadamente 30% dos casos o tratamento com antibiótico pode estar comprometido, pois, parte dos pacientes desconhece o diagnóstico da sua doença (10,74%), outros não entendem a posologia do antibiótico (15,44%) e uma pequena parcela desconhece tanto o diagnóstico quanto a posologia (3,36%).
A população acima de 50 anos, tanto homens quanto mulheres, constitui parte da amostra que menos entende do diagnóstico e da posologia prescrita na receita.
Complementando o perfil do provável tratamento comprometido, foi verificado que a maior parcela dos pacientes que desconhece o diagnóstico fez consulta em clínica geral (Fig. 2).
Analisando-se a prescrição dos antimicrobianos pelo nome do princípio ativo, pode-se observar que quanto mais medicamentos são prescritos por receita, maior é a porcentagem de receitas que não são prescritas pelo nome genérico (Tabela 2). No caso das receitas com apenas um medicamento prescrito, todas continham o nome genérico (100,0%), porém quando havia três medicamentos na receita, a prescrição por nome genérico diminuía para 60,9%, sendo que este número diminuía ainda mais (50,0%) quando o total de medicamentos em uma só receita atingia a seis medicamentos.
Pediatria e ortopedia são as especialidades médicas com maior número de prescrições com nome comercial de medicamentos, sendo odontologia e ginecologia as áreas que menos prescrevem por nome comercial (Tabela 2).
Com relação às classes de antimicrobianos, as mais prescritas na rede pública foram as penicilinas (51,7%), seguidas das cefalosporinas (39,6%). Sendo as menos prescritas, os aminoglicosídeos (Fig. 3).
Comparando-se os medicamentos prescritos na mesma receita, observou-se que em aproximadamente 8% dos casos houve presença de interações medicamentosas e em duas receitas ocorreu mais de uma interação. Destas interações, cerca de 57,1% delas são classificadas como interação de baixa gravidade (diclofenaco com ácido acetilsalicílico e furosemida com ácido acetilsalicílico) e cerca de 42,9% são consideradas de gravidade moderada (norfloxacino com diclofenaco, ciprofloxacino com diclofenaco e ranitidina com anlodipino), não sendo observadas interações de alta gravidade.
Foi verificado também que houve uma interação (16,67%) intencional e sinérgica, a saber: claritromicina e omeprazol.