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0369/2024 - O FENÔMENO GORDOFOBIA EM PLATAFORMAS DIGITAIS BRASILEIRAS DE NOTÍCIAS: UMA ANÁLISE CRÍTICO-REFLEXIVA E PROBLEMATIZADORA
THE PHENOMENON OF FATPHOBIA ON BRAZILIAN DIGITAL NEWS PLATFORMS: A CRITICAL-REFLEXIVE AND PROBLEMATIZING ANALYSIS

Autor:

• Jádisson Gois Silva - Silva, J.G - <jadissonsilva92@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0089-4852

Coautor(es):

• Cristiano Mezzaroba - Mezzaroba, C. - <cristiano_mezzaroba@yahoo.com.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4214-0629



Resumo:

A tônica deste estudo refere-se às discursividades midiáticas sobre os corpos gordos as quais promovem gordofobia. Então, o objetivo foi problematizar os conteúdos e discursos midiáticos presentes em plataformas digitais brasileiras de notícias concernentes aos corpos gordos. Metodologicamente, caracteriza-se por sua abordagem qualitativa de cunho descritivo-exploratório do tipo documental. O locus para realização da pesquisa foram as plataformas digitais de notícias do UOL Vivabem, em sua seção Saúde, e o Portal G1. Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo (AC), de Lawrence Bardin. Identificou-se um total de 16 matérias. Seguindo os pressupostos teórico-metodológicos da AC, emergiram-se 3 categorias de análise temática: (1) Discursividade biomédica como normatividade; (2) Emagrecer é a palavra de ordem; (3) Mídia e sua pedagogia corporal. A partir dos achados, é possível notar a tendência que a mídia tem em reportar o corpo gordo como sendo doente, predestinado ao sofrimento, justamente pelo fato de romper com os padrões estipulados pelos discursos hegemônicos. Percebe-se, assim, que as subjetividades das pessoas gordas são frequentemente deslegitimadas, a gordura é a tônica das representações sociais e não o sujeito e suas múltiplas dimensões.

Palavras-chave:

Obesidade, Processo saúde-doença, Meios de comunicação de massa, Exclusão social.

Abstract:

The focus of this study is on media discourses about fat bodies, which promote fatphobia. The aim was to problematize the media content and discourses present on Brazilian digital news platforms concerning fat bodies. Methodologically, it is characterized by its qualitative descriptive-exploratory documentary approach. The locus for the research was the digital news platforms of UOL Vivabem, in its Health section, and the G1 Portal. The data was analyzed using Lawrence Bardin\'s content analysis (CA). A total of 16 articles were identified. Following the theoretical-methodological assumptions of CA, 3 categories of thematic analysis emerged: (1) Biomedical discursiveness as normativity; (2) Slimming is the watchword; (3) The media and its body pedagogy. From the findings, it is possible to see the tendency of the media to report the fat body as being sick, predestined to suffering, precisely because it breaks with the standards stipulated by hegemonic discourses. It can thus be seen that the subjectivities of fat people are often delegitimized, with fat being the focus of social representations rather than the subject and its multiple dimensions. Keywords: Obesity, Health-disease process, Mass means of communication, Social exclusion

Keywords:

Obesity, Health-disease process, Mass means of communication, Social exclusion

Conteúdo:

INTRODUÇÃO

A mídia tem sido considerada uma importante ferramenta de mediação acerca do “ideal” de corpo a ser desejado, reconhecido e valorizado – magro/esguio/fitness –, a partir da premissa de que estaria atrelado à saúde, felicidade e beleza. E, ao corpo gordo, atribui-se um estigma¹, marcando-o negativamente¹. Sendo o acúmulo de gordura a marca mais evidente, perceptível a partir da configuração corporal volumosa, pensando nos ideais da ordem biomédica seria aquele/a em que o Índice de Massa Corpórea (IMC) estaria fora da classificação de normalidade (18,5 – 24,9 kg/m²), mas sim, atingindo valores considerados como indicadores de anormalidade (> 30,0 kg/m²).
Compreende-se, nesse sentido, que o corpo é tratado como uma normalidade biopolítica. Para Esposito² a biopolítica é um dispositivo que produz a singularidade como monstruosidade via estatística. É para isso que serve um dispositivo biopolítico médico: para impedir a “anormalidade” dos corpos. “[...] uma anomalia é, etimologicamente, uma desigualdade, uma diferença de nível. O anormal é simplesmente o diferente²” (p. 174).
O mencionado dispositivo, para Agamben³, “[...] é qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes” (p. 40).
A mídia, neste caso, utiliza-se da ciência, de questões empíricas, de questões ligadas ao direito, de imagens e sons, e, ao seu modo, passa a influenciar as pessoas, inclusive referente ao consumo de mercadorias e produtos que, no caso do corpo gordo, tem a finalidade de “ajudar” no processo de emagrecimento, pois “[...] ter um corpo magro, esbelto e definido é a maior promessa de felicidade da contemporaneidade4” (p. 47).
Enquanto em pleno século XXI o corpo gordo tem sido demasiadamente associado à doença, ao desleixo, e até mesmo, ao insucesso pessoal e profissional, isto é, visto como fora da normalização social, sabe-se que há pouco mais de 5 séculos, precisamente na Idade Média, o corpo glutão foi percebido/qualificado como um sujeito opulente, empoderado e desejado5.
Porém, no atual contexto em que vivemos o corpo gordo ora é percebido como aquele que foge às normas do que seria referência a ser seguida, ora é o corpo gordo visto a partir da ordem biomédica como um corpo obeso/doente, e isto se configura como sendo a gordofobia – preconceito e discriminação deliberada e direcionada às pessoas gordas, compreendendo-as como inferiores, como seres humanos “anormais”, equiparando-as, por vezes, a uma “anomalia6,7”.
Surge, assim, o seguinte questionamento: De que maneira as plataformas digitais de notícias têm contribuído para promoção da problemática estigmatizadora da gordofobia?
Desta forma, o estudo em tela objetivou problematizar os conteúdos midiáticos presentes em duas plataformas digitais brasileiras de notícias que tendenciam compreensões de caráter gordofóbico. Enquanto aporte teórico, foram utilizados os estudos de Vigarello5, em “As metamorfoses do gordo”; de Jean-Pierre Poulain9, que contribui com a “Sociologia da Obesidade”; e, Georges Canguilhem8, com a obra “O normal e o patológico”.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa caracterizou-se pela sua abordagem qualitativa10 e de cunho descritivo-exploratório11. Além disso, caracterizou-se como uma pesquisa documental, seguindo a lógica de “análise de produtos midiáticos12”, realizada para compreensão acerca dos discursos e sentidos proferidos acerca do corpo gordo nas plataformas digitais de notícias investigadas. O locus para realização da pesquisa foi o Portal Vivabem UOL, mais precisamente na seção saúde, e o Portal G1 com notícias relacionadas ao tema saúde.
A escolha dos referidos portais ocorreu pelo fato de ambos serem considerados os portais digitais brasileiros de informação com grande acesso e audiência no Brasil, e também, por serem veículos de transmissão de informações dirigidas a um público amplo e diversificado, justamente por veicular informações com embasamento em estudos científicos e por contemplarem discursos, conceitos, valores, representações e ações que perpassam o universo da construção do corpo tido como “ideal” e almejável e sua relação com a saúde na atualidade.
As coletas ocorreram durante o período compreendido entre agosto de 2022 a março de 2023. Na oportunidade, foi criado um grupo no aplicativo Whatsapp Messenger (somente com o primeiro autor deste estudo) nomeado “App diário – corpo gordo”, em que eram enviadas as matérias identificadas e que, na avaliação dos pesquisadores do presente estudo, poderiam compor o corpus da pesquisa (sendo 16 matérias coletadas, 7 do portal UOL e 9 do portal G1).
Posterior às coletas, as matérias foram “transportadas” para um computador e organizadas em pastas nomeadas de “análise de conteúdo UOL” e “análise de conteúdo G1”, para que pudessem ser analisadas e selecionadas, conforme os critérios de inclusão (a matéria veiculada teria que discorrer sobre corpos gordos, que neste caso é demasiadamente reportado pela mídia como corpo obeso, obesidade, sobrepeso, excesso de peso, emagrecimento, e se a discursividade midiática inclinava para o processo de patologização do gordo, impondo-se assim, de certa maneira, culpabilidade e estigmatização) e exclusão (as matérias em que seus conteúdos não tinham relação com o objeto deste estudo), ou seja, conteúdos (textuais e imagéticos) os quais não discorriam sobre corpo gordo com teor gordofóbico.
Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin13, na qual foi realizada através da pré-análise, exploração do material – Quadro 1 – e o tratamento dos achados. O conteúdo textual das matérias analisadas foi transportado para o processador de texto Microsoft Word e os fragmentos (quadro 1) que se repetiam em relação à patologização do corpo gordo, como por exemplo, a palavra doença e suas associações com doenças crônicas não transmissíveis, foram marcados em realce na cor amarela. Já referente aos fragmentos (quadro 1) que, demasiadamente, repetiam-se fazendo referência ao emagrecimento e sua suposta relação com à saúde, como o fragamento perda de peso, por exemplo, foram marcados em realce na cor turquesa.
E, os fragmentos (quadro 1) referente à discursividade que inclinava para a ideia de que a mídia estava exercendo uma pedagógica corporal, foram marcados em realce na cor verde, como por exemplo, melhoras no estilo de vida, conforme o contexto da matéria veiculada.


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Silva, J.G, Mezzaroba, C.. O FENÔMENO GORDOFOBIA EM PLATAFORMAS DIGITAIS BRASILEIRAS DE NOTÍCIAS: UMA ANÁLISE CRÍTICO-REFLEXIVA E PROBLEMATIZADORA. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2024/Nov). [Citado em 07/11/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/o-fenomeno-gordofobia-em-plataformas-digitais-brasileiras-de-noticias-uma-analise-criticoreflexiva-e-problematizadora/19417?id=19417&id=19417

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