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0322/2025 - Prática de memorialização virtual no contexto da pandemia de COVID-19 no Brasil: rito do velório online
Memorialization practices in the context of the COVID-19 pandemic in Brazil: the online wake ritual

Autor:

• Lucidalva Costa de Freitas - Freitas, LC - <lucidalvafreitas@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1641-2363

Coautor(es):

• Paulo Roberto Nassar de Oliveira - Oliveira, PRN - <paulonassar@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2251-9589

• Luiz Alberto de Farias - Farias, LA - <lafarias@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3642-4780

• Maria Helena Morgani de Almeida - Almeida, MHM - <hmorgani@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-7266-9262

• Marina Picazzio Perez Batista - Batista, MPP - <marinapperez@usp.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6147-1728



Resumo:

Este estudo buscou compreender o rito do velório online como prática de memorialização
virtual no contexto da pandemia COVID-19 no Brasil. Trata-se de estudo qualitativo
exploratório e descritivo, do tipo pesquisa documental. Foi conduzida uma pesquisa na
plataforma Google, de materiais publicados entre 11 de março de 2020 a 27 de julho de 2021,
em português, com recorte geográfico “Brasil”, a partir de seus links. Dos 4924 links
identificados, 162 links se referem a matérias jornalísticas online publicadas no contexto da
pandemia e disponíveis para acesso na íntegra e de forma gratuita. Destas, selecionou-se 65
que mencionaram o velório realizado de forma virtual, as quais foram analisadas por meio da
análise de conteúdo. Identificou-se transformações significativas na topografia do rito do
velar, que foram adaptados às restrições sanitárias e medidas de distanciamento social, tais
como forma de envolvimento e diversidade de sujeitos envolvidos no oferecimento; modo de
transmissão do rito; aspectos relacionados à espacialidade e temporalidade. A presença de
elementos simbólicos personalizados de pertencimento deu visibilidade ao protagonismo de
enlutados na construção do rito do velar.

Palavras-chave:

Memorialização; Comportamento ritualístico; Tecnologia da Informação e Comunicação; Pandemia por COVID-19

Abstract:

This study aimed to understand the online wake ritual as a virtual Memorialization practice in
the context of the COVID-19 pandemic in Brazil. This is an exploratory and descriptive
qualitative study, with the document analysis as study design. A search was conducted on the
Google platform, with links published between March 11, 2020 and July 27, 2021, in
Portuguese, with “Brazil” as geographic delimitation. Among the 4924 links identified, 162
links referred to online news articles published in the context of the pandemic and available
for full and free access. Among these, 65 were selected as they mentioned the online wake
ritual. They were analyzed through content analysis. Significant transformations were
identified in the topography of the wake ritual, in order to respond to sanitary restrictions and
social distancing measures. These were related, for instance to: the form and diversity of
people involved in the offering; transmission mode; aspects related to spatiality and
temporality. The presence of singularized symbolic elements concerning belongingness gave
visibility to the leading role of bereaved in the design of wake ritual.

Keywords:

Memorialization practices; Ritualistic Behavior; Information Technology; COVID 19 Pandemic

Conteúdo:

Introdução
As práticas de memorialização correspondem às ações simbólicas e/ou organizacionais
diante da morte, do morto e do morrer, na medida em que se faz necessário dar um destino
para o corpo morto. Estas práticas variam conforme aspectos religiosos, sociais, culturais,
econômicos e com o tempo histórico. Em muitas culturas, também envolve a dimensão
político-legal, que determina os parâmetros legais, sanitários e normativos, os quais devem ser

apreciados formalmente. Esta dimensão pode ser concretizada por meio de empresas
funerárias, cemitérios, crematórios e demais órgãos que representam socialmente os lugares
que trabalham com a morte e o morto 1 .
As práticas de memorialização também envolvem os rituais fúnebres, tais como
velório, a cremação, o enterro e o sepultamento, que se relacionam à permanência simbólica
dos sujeitos no pós-morte 1 . Estes rituais fúnebres também envolvem as pessoas enlutadas, nos
quais estão presentes os rituais de luto, destacando-se as práticas informais de memorialização
que reúnem a família e os amigos para apoio mútuo. Nesta perspectiva, a preparação do
corpo, além de corresponder às legislações formais, quando realizada pela família, assume o
lugar de rito fúnebre e rito de luto simultaneamente em razão da existência de vínculo afetivo,
a exemplo da colocação de objetos pessoais nos caixões 1 .
Os rituais diante da morte e no luto compõem transição de encerramento de uma vida
e iniciação de um novo modo de viver na ausência de quem se perdeu² e são caracterizados
por uma conjuntura de sentidos multimilenares³, símbolos e simbolismos permeados pela
necessidade humana de significar a experiência da perda 4 e ações simbólicas de
reconhecimento da identidade comunitária. Possuem a potência de amalgamar os costumes
humanos, os estilos de morrer e as crenças fúnebres universais 5 inerentes à experiência
humana e, simultaneamente, a unicidade inexorável desta experiência.
Destaca-se o rito do velar pela criação topográfica de um espaço-tempo heterogêneo 6
em relação ao comum do cotidiano, que marca a união de uma comunidade para a vivência
ritualizada de interação 7 e manutenção da representação simbólica comunitária 8 . Uma de suas
valências é a criação de um lócus para a visualização do corpo, ato que em parte possibilita a
ritualística na corporeidade e, em parte, informa dados sobre a concretude da morte 4, 5 .
A compreensão do velar como símbolo alinha-se à função do rito proposta por
Douglas 4 para quem os símbolos rituais são eficazes enquanto inspiram confiança; podem ter

uma existência cultural autônoma, proporcionam ordem na desordem que destrói os arranjos
dos elementos, como ocorre em situações de crise representada nesse contexto pela morte, e
nesta desordem se evoca o simbolismo ritual 9 .
O velório é um comportamento ritualístico eminentemente humano diante da morte,
representa um dispositivo narrativo da experiência social multimilenar do morrer e do estar
com o morto, caracterizado por um investimento simbólico polivalente, que compõem e
atravessa a memória ritual coletiva dos distintos povos inter e intraculturalmente 1-5,8-11 .
As práticas de memorialização foram afetadas pelas restrições de distanciamento
social durante a pandemia de COVID-19. Neste sentido, ocorreram mudanças nas práticas de
memorialização ligadas à preparação do corpo, rituais fúnebres, cremação e enterros como
consequência da crise sanitária 12-13 .
Desse modo, pessoas enlutadas se depararam com a impossibilidade de realização de
ritos e rituais tradicionais diante da morte, do morto e do morrer devido ao risco biológico e a
necessidade de distanciamento 12-13 . O cenário pandêmico desvelou a reinscrição dos ritos de
despedidas na virtualidade, caracterizando modalidades de ritos e rituais contemporâneos
diante da morte, do morto, do morrer e no luto 9,14 a partir do acionamento de tecnologias da
comunicação e da informação digitais como ferramentas à ritualidade, à estratégia de
enfrentamento resiliente, cuidado à saúde mental e ao luto. Este estudo propôs-se
compreender o rito do velório online como prática de memorialização virtual no contexto da
pandemia de COVID-19 no Brasil.

Material e Método
Quanto ao desenho do estudo, trata-se de um estudo qualitativo exploratório e
descritivo, do tipo pesquisa documental 16 . Adotou-se nesta pesquisa como documentos as
matérias jornalísticas virtuais de livre acesso publicadas no contexto pandêmico acerca do

velório online como prática de memorialização virtual. Considerando a semelhança entre a
pesquisa documental e a revisão bibliográfica 16 foram adotadas no presente estudo as etapas
que constituem um estudo de revisão integrativa 17 com vistas ao delineamento e
sistematização da pesquisa documental em meio virtual.
Para acesso aos documentos, conduziu-se uma pesquisa na plataforma Google, com os
seguintes critérios para busca: a) links que abordavam o conteúdo de práticas de
memorialização virtuais publicados por organizações; b) links do Google publicados entre 11
de março de 2020 até 27 de julho de 2021. Este período corresponde, respectivamente, à data
da declaração de situação de Pandemia por COVID-19 pela OMS e julho de 2021 foi o
primeiro mês de curva decrescente no Brasil do número de óbitos por coronavírus, após seu
auge. Para tanto, a busca do Google se deu no modo “Pesquisa Avançada”, na qual houve
recorte temporal do dia 11/03/20 ao dia de realização da pesquisa (27 de julho de 2021), não
sendo acrescidas novas buscas após este dia. Além disso, foi delimitado no campo o recorte
geográfico “Brasil” como país e recorte idiomático “Português-Brasil”. Quanto à natureza da
fonte, foram incluídos “qualquer fonte” e “qualquer qualidade”, “notícias" e “vídeos”. Foram
excluídas na busca avançada do Google a) “imagens”, “maps” e links que continham somente
vídeos; b) links que tratavam de propagandas de serviços, sem mencionarem práticas de
memorialização virtuais; práticas de memorialização virtuais que foram realizadas em páginas
individuais de redes sociais de pessoas enlutadas.
Foram utilizadas as seguintes palavras chaves: Memorialização virtual; Luto virtual;
Funeral virtual; Funeral online; Práticas Mortuárias virtuais; Morte virtual; rituais fúnebres
virtuais; Comportamento ritualístico virtual; funeral ao vivo; memoriais virtuais, rituais
virtuais de luto, memorialização, funerais onlines, cremação online, enterro online, memorial
online, cerimônias de luto virtuais, memorialização virtuais; luto virtuais, memorialização e
morte, despedidas virtuais, virtualidade do luto. Esta busca permitiu localizar 4924 links, que

foram exportados para um novo documento em Excel no qual foi realizada a extração dos
dados das fontes primárias, nas seguintes informações dos links incluídos: título do link, seu
website e descrição geral do conteúdo. No processo de extração dos dados, localizou-se 162
documentos relacionados às matérias jornalísticas publicadas no contexto da pandemia de
COVID-19 e disponíveis virtualmente para acesso na íntegra e de forma gratuita. Estas
publicações foram lidas na íntegra, buscando-se mapear práticas de memorialização virtuais.
Destas, selecionou-se documentos referentes ao velório virtual, os quais foram analisados por
meio da análise de conteúdo, do tipo categorial temática 18 . Neste sentido, os 65 documentos 19-83
foram analisados e referenciados como fontes documentais neste estudo e constam no
Apêndice do manuscrito.
O processo de delineamento e tomada de decisão dos critérios de inclusão de busca na
plataforma Google foi realizada por dois pesquisadores de forma conjunta. A localização dos
links e o processo de extração dos dados, que resultou na planilha em Excel com os 4924
links foi realizada por um destes pesquisadores. Já a leitura dos documentos na íntegra e a
decisão por sua inclusão/exclusão no estudo foi realizada conjuntamente entre estes mesmos
dois pesquisadores, assim como o processo de análise.

Resultados

A análise dos documentos identificou aspectos relacionados ao contexto histórico do
velório online no Brasil pré pandêmico 19-22 . A tecnologia para velórios e homenagens virtuais
já compunham os serviços de empresas funerárias desde 2001, porém eram vendidos como
serviços adicionais 19,21,23 esse recurso se prestava a atender familiares e amigos residentes em
outros estados ou países 23 . Uma igreja brasileira relatou a opção pela cerimônia fúnebre virtual
como parte do cuidado aos seus fiéis enlutados com familiares distantes 24 . A necessidade de
transmitir velórios ao vivo era, entretanto, algo ainda latente e as poucas empresas que

tentaram prestar este serviço no passado não tiveram boas experiências, normalmente
envolvendo câmeras e DVRs voltados a sistemas de CFTV convencionais 21 .
Na pandemia, passou a ser ofertado como um serviço obrigatório a ser ofertado pelas
prestadoras de serviços funerários 19-83 . A imposição do distanciamento social, requereu
diferentes serviços onlines, incluindo o velório 19-83 , em todo o mundo 25,26 , quando medidas de
biossegurança recomendadas restringiram às pessoas a possibilidade de acompanhar seus
familiares no leito de hospitais 22 , na morte e no luto. Este contexto, afetou os costumeiros
rituais de despedida 22 , transformando-os em uma experiência dramática pelo impedimento da
ritualidade, da mais banal a mais extraordinária 19 . O velório online se apresentou como
ferramenta inovadora e humanizada para famílias de vítimas da COVID-19 quando o Brasil
ocupava o segundo lugar no ranking mundial de mortes e o primeiro lugar na América Latina
e o mundo estava buscando novas formas para lidar com os mortos e as famílias enlutadas 27 .
Devido às mudanças emergenciais ao segmento funerário, houve aumento da demanda por
estes serviços para compensar as dificuldades e limitações às práticas do velório presencial 29 ,
de modo que as agências funerárias passaram a disponibilizar o acompanhamento virtual de
velórios 26,31-32 e ampliar os investimentos nesta modalidade 22 , em função da migração das
homenagens fúnebres e de luto para o online 30 , por ser uma aposta em tecnologia para
ressignificar a despedida e opção inovadora e humanizada para famílias de vítimas da Covid-
19 27 , transformando a rotina do cemitério e de quem fosse frequentá-lo 28,43 e dos profissionais
de serviços funerários, que também adaptam-se nos cuidados com o luto durante a pandemia 33 .
O aumento da demanda por velório online impôs desenvolvimento de sua dimensão
político-legal de modo que os serviços funerários passassem a oferecê-los gratuitamente em
suas capelas para mortes com covid-19 60 . O Projeto de Lei Ordinária aprovado pela Câmara de
Uberlândia – MG em novembro de 2020 28 propôs a implantação do ‘Velório Virtual’ no
município, autorizou a transmissão ao vivo de imagens do velório via internet aos familiares

das pessoas falecidas e que todas as despesas de instalação e disponibilização do serviço
seriam de responsabilidade das empresas funerárias 28 . Outros Estados brasileiros implantaram
o serviço, devido à ampla divulgação desta recomendação nos diversos meios de comunicação
e as empresas equiparam as salas de velórios para possibilitar a transmissão de pelo menos
10% dos óbitos anuais totais de todo o Brasil, com cerca de 130 mil transmissões em todo o
país. Houve a implantação do velório online em empresas funerárias de Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Espírito Santo, Ceará e Roraima 21 . No início
desse período, ainda era pequena 20 , contudo, as funerárias de capitais brasileiras registraram
crescimento paulatino no serviço por vídeo 29 com aumento de 75% em 2020 e o tempo total
dos acessos deste mês somou 348 horas 19 . Desse modo, o velório online ganhou mais
importância na pandemia 22 .
Para tanto, fez-se necessário oferecimento por empresas de tecnologia, de solução
completa “as a service”, abrangendo desde câmeras com conectividade e áudio integrados até
a integração dos servidores de streaming ao próprio site ou app da funerária e cemitério, com
gerenciamento total pelas empresas funerárias que contratavam o serviço e os próprios
servidores de serviço de velório online replicaram a transmissão para as pessoas que estavam
acompanhando as cerimônias ao vivo 21 , abrangendo a participação online de cerca de 300
pessoas 22 .
O velório online foi considerado um mercado promissor, com o faturamento adquirido
sem qualquer investimento na compra de equipamentos 21 . A recomendação às instituições
públicas e privadas versava sobre a implantação de um modelo simples de serviço, tanto por
ser considerado de baixo custo 28 e pelo direito ao morto de ser velado 22 , 30
Os documentos se referiram ao modo de funcionamento do velório online 24, 29 . As
despedidas virtuais também foram realizadas em plataforma online escolhida pela família 22
por meio de um sistema que criava uma nota de falecimento personalizada e poderia ser

partilhada de forma digital, em que os familiares poderiam enviar mensagens de consolo 22 de
apoio 27 , que podiam ser previamente aprovadas por um familiar e aparecer em um monitor na
sala de velório, para que a família recebesse as condolências em tempo real 27 . O ritual permitia
o uso de mídias como textos, cartas, fotografias para a família 20,27 , cantorias e vídeos para
honrar, homenagear e relembrar o falecido 20,22 , oferecer chuva de rosas no caixão e exibir fotos
e músicas à escolha da família 31 , além de montar o velório através de um link pelo meeting e
filmar o culto e o sepultamento 22 ; registrar em gravação a cerimônia 28,30 e assinar o livro
virtual de presença na despedida virtual 22, 27 , disponibilizar um site para prestar mensagens de
condolências aos familiares 20 . Esta última, já era uma forma de homenagem póstuma realizada
e devido ao contexto pandêmico, foi trazida também para o meio digital 20 .
Os cemitérios também ofertaram velório online para evitar aglomerações em razão do
coronavírus 23,31-33,42-43 , nos quais as câmeras instaladas nas salas de velório, permitiram
acompanhar em tempo real a transmissão da cerimônia por dispositivos móveis 28 por meio de
redes sociais e plataformas digitais 22,27 .
Esse modelo e suas ferramentas digitais oportunizaram à comunidade, aos familiares e
amigos de perto e de longe se despedirem de forma segura do ente querido 22 , além de apenas
os mais próximos terem a liberdade de enterrá-lo sem preocupação 22 , de modo que a
tendência do velório online foi se popularizar 30 . A privacidade das cerimônias foi garantida
através de uma senha cadastrada para cada família, permitindo assim que somente as pessoas
autorizadas recebessem acesso à transmissão ao vivo 19-83 . A plataforma permitia que cada
funerária, cemitério ou crematório pudesse inserir diretamente suas cerimônias através de um
sistema de cadastro onde recebiam login e senha de administração 21,32 . Os códigos necessários
foram fornecidos pela instituição funerária, além de todo o suporte técnico remoto necessário
para instalação e configuração dos equipamentos 21 .
Contudo, apesar de sua popularização 30 , os velórios onlines eram exceção 22 , pois a

transmissão destinava-se apenas para casos de mortes não confirmadas ou suspeitas de
COVID-19 ou de síndrome respiratória aguda grave (Sars), para os quais não deveria haver
velório, nem presencial, nem virtual 19-83 . Nesses casos, o destino final do corpo deveria ser
atingido imediatamente após a morte e considerar apenas os aspectos sanitários da ritualidade.
O velório na pandemia seguiu as prescrições dos modos rituais ao corpo, quando o trabalho
dos funcionários organizou-se segundo diretrizes definidas pelas Unidades de Saúde, Serviços
de Verificação de Óbito (SVO), Institutos de Medicina Legal (IML) e serviços funerários. O
corpo era enrolado em lençol, selado em dois sacos, e posto em caixão fechado, ainda no
hospital. A seguir era transportado diretamente para o cemitério. Quando lá chegava, o caixão
era lacrado com silicone 19, 26 e deveria ser cremado, sendo esse o procedimento recomendado
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o que levou ao aumento da
quantidade de cremações em 44% 33,38 .
As funerárias e cemitérios adotaram medidas de prevenção para os funcionários
lidarem com os corpos 20, 24, 29, 33 com equipamento de proteção individual 19 . "Os coveiros
estavam parecendo astronautas". Outras mudanças ocorreram nos rituais do velar, passando a
serem às pressas, aqueles que tinham início em um dia e contavam com o sepultamento no dia
seguinte foram substituídos por cerimônias de 30 minutos e, no máximo, uma hora e
adotavam as medidas de segurança 29 .
O processo exigia uma rapidez fora do habitual. Para que não se acumulassem corpos,
em razão do risco de contágio, a prefeitura estendeu o funcionamento dos cemitérios e liberou
sepultamentos e cremações da exigência de documento lavrado em cartório. Os cemitérios
públicos da cidade, onde os sepultamentos normalmente ocorrem até às 16h, tiveram horário
ampliado até às 20h, sepultando os pacientes que faleceram pelo vírus em uma quadra isolada
sem a participação dos familiares nas cerimônias 34 . O cemitério também restringiu o tempo de
duração dos velórios 34-35,42 .

Quanto aos objetivos, motivações e funções do velório online identificados nos
documentos, a solução tecnológica correspondia às necessidades das instituições funerárias
para atender melhor seus clientes, com a instalação de câmeras nas salas e nos ambientes de
velório 20-21 , evitava aglomerações na cerimônia fúnebre, ainda que o ente querido não tivesse
sido infectado 24 e, deslocamentos até os locais para prevenir a disseminação do
coronavírus 23,35 . O velório no formato online também visava oferecer às famílias, que se
estendiam por cidades, estados e até países diferentes 22 e, para aqueles que moravam perto,
mas estavam impedidos por conta das restrições, a possibilidade de participar do velório ou
do sepultamento 22, 27 e das cerimônias de despedida ao vivo via internet 21 de forma simples e
segura 21, 22 e com comodidade 21 . Ademais, se apresentava como forma de compartilhar a
experiência de um novo luto 36 em tempos de rituais de luto modificados 37,39 e abreviados 35 ,
marcados pela solidão e isolamento na hora da despedida 43 , sem abraços e com rede de apoio
restrita 34-35,42 ou inexistente 43 .
Acrescenta-se que a virtualidade da cerimônia visava ainda diminuir custos 22 ;
humanizar o atendimento das funerárias 30 ; aproximar as pessoas enlutadas de forma
digitalizada na celebração; permitir a elas demonstração de carinho e atenção em momentos
difíceis 21 ; acalentá-las no momento da perda e oferecer-lhes tranquilidade 22 ; adaptar-se ao
processo de luto e às restrições impostas pelo cenário 19 ; ressignificar os rituais de despedidas;
auxiliar as pessoas na compreensão da finitude humana 22 , oportunizar despedida digna 22 ;
honrar a memória de entes queridos 30 ; facilitar a compreensão de que o falecido não
desapareceu, mas que estava em outro lugar; além de trazer aos olhos a realidade daquilo que
o coração negava aceitar, facilitando o processo de assimilação da perda dos entes queridos 22
e, por fim, minimizar a solidão na dor do luto e manter os laços e relacionamentos 30 . Guias
para favorecer o processo de elaboração do luto no contexto pandêmico foram elaborados,
indicando a importância de estratégias inovadoras nos rituais de despedida, tais como o

velório online, face à alteração dos rituais de luto tradicionais, apontando para o direito de se
dizer adeus 30, 46, 47, 62, 63, 65,68 . A transmissão online era compreensível mesmo sendo algo diferente,
pois o rito do velar virtualizado poderia ser uma experiência positiva 22 .
A tecnologia facilitou o adeus em tempos de pandemia também para as instituições
religiosas, espaços de cultos e celebrações religiosas 24,27,36,40,44,45 . Estes espaços foram fechados
para conter a disseminação do novo coronavírus e as medidas de biossegurança deveriam
considerar a saúde das entidades religiosas que atendiam em situação de morte e luto 25 .
Desde o início da pandemia, várias lives de missas de sétimo dia tomaram conta da
internet, até mesmo rituais budistas foram transmitidos em tempo real para a família
acompanhar 30 . A adoção destes ritos digitais foi justificada pela fé, aduzindo que a fé e o
alcance da benção ultrapassam tempo e espaço. Houve situações em que a própria funerária
forneceu um áudio encaminhado pelos padres para a despedida das vítimas. O velório online
foi também adotado como forma de ritualização, realizado no instante que durava o ato
religioso escolhido e visava oferecer amparo à família e amigos na vivência e experiência
dolorosa do luto 24,44,45,49 .
A utilização das redes sociais facilitou o apoio da igreja a sua comunidade diante do
aumento do número de mortos e as reverberações nas pessoas enlutadas. Neste cenário, a
internet facilitava o acesso aos pedidos de oração e faziam aumentar o pedido de assistência
espiritual, mas ao mesmo tempo representava dificuldades de disponibilizar velórios online
para atender a toda a demanda. Esse fator levou à perda da privacidade do rito. Uma estratégia
adotada foi ritualizar despedidas por meio de missas ou cultos ecumênicos virtuais, pois
várias pessoas que perderam podiam ser acolhidas simultaneamente. Quando se realizava
lives (transmissão ao vivo) em homenagens aos mortos se evidenciava a dimensão da
necessidade das pessoas enlutadas 36, 24, 40,51,52 .
Ainda, se identificou nos documentos opiniões de especialistas que falaram sobre a

dimensão psíquica dos ritos de luto por morte, especialmente sob imposição de isolamento,
que aumentava o risco de luto traumático 29,33,36,53,54 . O ato simbólico do velar tem o potencial de
contribuir na organização das emoções e no processo do morrer e no luto 22 . Ver o corpo físico
da pessoa, ter familiares e amigos presentes na cerimônia, poder se despedir configuram
elementos importantes para o processo de elaboração da perda e sua ausência dificulta a
assimilação da perda 46,53,55,56 . Compreendendo a relevância da validação social da perda por
meio dos ritos, os especialistas apontavam que a despedida virtual como uma forma de
homenagem digna 57,58 que auxiliava a trazer conforto 59 diante de um luto coletivo que fez sentir
como em luto pessoal 36,61 . Esta perda coletiva pode ser expressada na frase: Será que a morte
nessa epidemia, como numa guerra, perdeu sua excepcionalidade para a sociedade? 36 Havia
macro lutos coletivos tais como pela morte, mas também micro lutos, por outras inúmeras
perdas significativas não relacionadas diretamente a ela. Além do luto pelo mundo que se
conhecia, o "mundo presumido", que se refere a um universo das nossas referências, do que é
familiar e previsível, e que nos traz "a ilusão de controle", mas que no contexto pandêmico é
como se tivesse “ruído” 36 .
Os especialistas também colocavam que era preciso utilizar os recursos de
comunicação disponíveis 24,36 e para a necessidade de alternativas para marcar o momento e
unir as pessoas, como orações em grupo via aplicativos de reunião 36 , pois mesmo a ampliação
do complexo funerário apresentava insuficiente em razão da alta demanda 50 .
No que tange às narrativas de famílias enlutadas, estas traziam que, por mais
compreensível que fosse a razão das restrições, elas implicavam na perda da concretude da
morte em função de não poder ver o corpo 13, 19, 22,24, 27 36, 37, 39, 24 . A ritualização virtual foi uma
forma de ressignificar esse processo 19, 68-82 .

Discussão
Este estudo auxiliou na compreensão do velório como rito complexo rico em

simbolismo. Identificou-se que pode ser uma experiência ritual fúnebre, posto que possui a
função de destinar o corpo por distintos sujeitos, conforme a conjuntura sociocultural e os
parâmetros sanitários e políticos-legais. Também se constituiu como experiência ritual de
luto, pois tem a finalidade de favorecer a expressão de gestualidades simbólicas dos enlutados
ao morto e de receber e destinar afeto às suas redes relacionais. Ressalta-se o
compartilhamento de emoções proporcionado pelos ritos de velar, ritos de interação 16 ; a morte
é um aspecto da vida e a vida só é possível em uma troca simbólica com a morte 8 .
Vivenciar estas duas experiências rituais são relevantes para as pessoas enlutadas, pois
são intrínsecas no processo de elaboração da perda: ter contato com o corpo morto e com os
processos formais de destino do corpo que trazem concretude à morte e ao mesmo tempo
vivenciar gestos vinculares significativos e relacionados à pessoa falecida. Esta dupla
perspectiva ao se analisar o velório teve grande significância desvelada durante a pandemia,
mediante às restrições sanitárias, que trouxe alterações tanto na formalidade de destino do
corpo, quanto na gestualidade singular e no apoio relacional no velório.
Os resultados permitem refletir que a interdição aos ritos de luto presenciais, com a
impossibilidade de desligamentos específicos, gerou o efeito de desaparecimento do morto
com impacto significativo na concretude da perda. Em consonância, a literatura aponta que os
sofrimentos psíquicos individuais e coletivos na pandemia foram agravados pelo aumento
exponencial de mortes de forma abrupta e pela impossibilidade de um senso de realidade na
despedida 7 .
Os gestos simbólicos desempenhados pelas pessoas que estão vivendo a experiência
de uma perda significativa e endereçados ao morto são fatores de proteção à elaboração do
luto e, sua ausência dificulta a confrontar a realidade da morte 13-14 . Nestes sentido, a crise de
saúde e sanitária acarretou secundariamente na pandemia da perda e a pandemia do luto 8 .
As multinarrativas localizadas nos documentos sobre as medidas de biossegurança da

pandemia da COVID 19 destacam e relativizam as implicações da ausência do ato de velar
para sobreviventes enlutados e para os atores sociais que também compõem este rito,
essencialmente, em uma coletividade afetada pelas mortes múltiplas e repentinas não
ritualizadas. Essa ausência invocou a topografia do ritual do velório, resultante da memória
ritual coletiva sobre o estar com o corpo-morto e a consequente polivalência dos gestos rituais
vivenciados, profundamente interligados às faculdades simbólicas instauradas nesse espaço-
tempo extraordinário pelos distintos sujeitos que manejam o corpo e o gestualizam,
permitindo às comunidades vincular e institucional desempenhar comportamentos conforme
os costumes fúnebres e de luto compartilhados na história humana. As práticas de
memorialização são multidimensionais e visam à manutenção das narrativas organizacionais e
não organizacionais sobre as ações formais e simbólicas diante da morte e do luto,
envolvendo atores sociais diversos, que buscam estabelecer ordenamento e coesão social 1
diante da morte, do morto e do morrer e no luto, com as especificidades de cada sujeito neste
processo. Contudo, se adaptam e servem à moldura dos distintos contextos socioculturais 5,9,14.
Essas considerações coadunam com o estudo de Kellehear (2013) 5 a respeito da
experiência social do morrer amalgamada e herdada de tradições passadas, que se repetem
socialmente sobre um design do morrer, com desafios próprios de seu tempo e aos quais se
tem que reagir, em função da prevalência de certas doenças, das exigências interpessoais das
instituições sociais e econômicas e dos amplos, mas frequentemente encobertos imperativos
morais e expectativas sociais. Entendendo que distintas sociedades têm sistemas operacionais
para lidar de formas diferentes com a morte e o morto, seja descartando o morto e valorizando
a morte, seja valorizando o morto e descartando a morte 84.
Evidenciou-se nos documentos estudados o destaque sobre os deveres éticos e
biossegurança. Esta perspectiva alinha-se à obra Douglas 4 que explora a ideia de deveres
específicos relacionados à sobrevivência da comunidade como uma ordem racional. Assim,

adotar medidas de biossegurança se torna um dever ético para preservar a vida individual e
coletiva 85 . Apesar do dever de se manter a eticidade e o respeito às recomendações de
distanciamento social 14 de certo modo, as medidas geraram perdas e alteraram a subjetividade
e a cultura do rito funeral e do luto, proporcionando ainda mais tristeza, dor e desolação 15 .
Podemos colocar neste estudo que o ato de velar deve ser exercício de eticidade, posto que a
forma como o corpo é tratado simbolicamente tem profundo impacto nas emoções e na
memória das pessoas enlutadas.
Ademais, os documentos permitiram refletir que a morte pôde ser humanizada por
meios de processos ritualísticos virtuais, alinhado a outros estudos 12 . Mesmo que o corpo
físico estivesse ausente por já estar sepultado, procedia-se o ritual do velório utilizando-se
referências adstritas a ele: os enlutados encontravam-se virtualmente em memória da pessoa
falecida e eram velados os pertences da pessoa ou o caixão sem o corpo. Este aspecto traz um
marcador de transformação da topografia ritual do velório e do comportamento humano
diante da morte, que foi intermediado pelo uso das tecnologias de informação e comunicação.
Estes dados reiteram a literatura que afirma a necessidade humana de ritualizar 2-5 .
O caráter humanizador do ritual face à morte e ao luto é consenso na literatura 1-14, mas
a visão sobre a eficácia ritual no mundo virtual requer uma perspectiva ampliada, que envolve
novas dinâmicas e mudanças de paradigmas na ritualização. Visualiza-se neste estudo o
transbordamento de fronteiras territoriais e os acionamentos de sujeitos que ritualizam, por
meios de processos digitais enquanto marcadores antropológicos modernos inter e
intraculturalemente múltiplos e singulares. Este estudo apresenta resultados alinhados à
contextualização dos rituais em situação de crise e o surgimento de formas rituais
contemporâneas que exploram e ampliam uso da tecnologia para conectar pessoas diante do
sofrimento e para acionar modos de enfrentamento e cuidado à saúde mental.
Desse modo, identificou-se desdobramento da maleabilidade dos ritos, evidenciado

neste estudo pelo reconhecimento e valorização da sua dimensão tecnológica, na perspectiva
da reinscrição do velar e das diversas narrativas que favorecem o desenvolvimento de novos
suportes tecnológicos para ritualizar. A virtualização é uma característica eminentemente
contemporânea dos ritos e que desafia sua própria natureza tradicional temporal e espacial
permitindo configurar-se um tempo que não finda na sua própria constituição ritual, mas pode
ser revisitado conforme interesse de seus detentores. 
Enquanto outrora os ritos pertenciam apenas à memória daqueles que o vivenciavam e
eram repassadas às gerações 2-10 compreendemos nestes achados, que hoje é possível carregá-
los no tempo para além de um recorte instaurado no cotidiano em razão dos meios de
armazenamento virtuais desses rituais por meio das tecnologias. O espaço também se
modificou, pois era possível dispor e recorrer às ferramentas digitais de interação de múltiplos
sujeitos simultaneamente em diferentes locais geográficos; à linguagem dialógica na
virtualidade e à mediação à distância do rito. Entende-se que se mantiveram referências da
ritualização tradicional, mas foram a ela adicionados diferentes gestos simbólicos e recursos,
tais como a utilização de um banco de homenagens. Visualiza-se a função pedagógica do rito,
inseparável de sua cultura, do seu tempo, dos recursos aos quais pode acionar.
Interessa-nos apontar que, quando esses ritos são feitos no presencial, existe um papel
maior da atuação dos profissionais das instituições que realizam os ritos formais, como líderes
religiosos e cerimonialistas das instituições funerárias. Quando são reinscritos na
virtualidade, amplia-se a condução por outros atores, tais como os próprios enlutados e sua
rede de apoio, inclusive criando outros gestos simbólicos, que assumem um papel maior no
rito do velar 9,14,84,85-86 . Ainda, houve maior diversidade de sujeitos envolvidos no seu
oferecimento, com profissionais e grupos voltados ao cuidado ao luto, que propuseram o
ritual, sem necessariamente estarem vinculados à uma instituição. Sendo uma mudança de
paradigma do rito institucional 88 .

Houve mudança no modo como foi transmitido o rito. A transmissão do ritual não se
limitou ao site institucional da agência funerária e ao cemitério, mas se estendeu
simultaneamente, a outros canais de transmissão, que eram usados com frequência, tais como
por distintas plataformas virtuais e aplicativos de disponibilidade gratuita. Pretendeu-se não
apenas possibilitar a transmissão remota de cerimônias de despedida, mas proporcionar ao
público participante, radicado em diferentes localidades, uma experiência imersiva, através de
vivências personalizadas que admitiam a inserção de gestos virtuais. Neste sentido, elementos
simbólicos para que os participantes pudessem enriquecer a construção da experiência e
proporcionar a sensação de presença e pertencimento ao momento do ritual. A narrativa pôde
ser vivenciada de forma simultânea, sincronizada, por vários familiares e amigos. Assim, a
experiência individual pôde ser coletivizada.
Alguns documentos estudados colocam que o contexto pandêmico marcou uma
ausência do rituais de despedida 65,70,7276 mas a análise aprofundada deste estudo identificou a
transformação da topografia do ritual do velório e sua reinscrição na virtualidade, validando-
se como expressão da ação humana e da necessidade de sua manutenção na atualidade, com
uma ressonância multimilenar das memórias rituais compartilhadas individual e
coletivamente. Esses achados reafirmam sobre o morrer implicado às alterações sociais
inerentes à história humana e à possibilidade de reinscrição dos rituais na
contemporaneidade 9,14 confrontando ainda a preocupação apontada pela literatura sobre o
possível desaparecimento dos rituais na sociedade tecnicista 6,8 .
Acredita-se, portanto, que a introdução das tecnologias digitais como elemento que
favorece a ritualização parece responder a uma variedade de solicitações. Em sua origem
encontram-se questões próprias deste tempo, no qual as configurações da experiência,
ensejam novos modos de sentir e induzem novas formas da subjetividade contemporânea
virtualizadas, e para as quais se faz uso na prática cotidiana digitais. Diante deste cenário de

restrições e ainda que não fosse possível se despedir conforme os parâmetros culturais em que
se estava inserido pôde-se demarcar essa passagem ao se realizar a reinscrição e a criação de
novos rituais que faziam sentido para cada cultura familiar ou comunitária, desvelando-se a
dimensão tecnológica dos ritos e os rituais de despedida tecnológicos, dando visibilidade ao
processo de morrer contemporâneo 14 , na relação com a perspectiva sociológica da historia do
morrer 87 .
Neste contexto, insurge o velório online para ressignificar a presença do morto ou do
corpo-morto e ausente por meio da tecnologia, no qual se valida o simbolismo e as diversas
leituras do corpo e da morte e suas interfaces, expandindo a concepção sobre a atitude do
homem diante da morte e sobre a ideia de “boa morte” como restrita a contextos específicos e
alinhando-se à perspectiva Hellehear (2016) 5 , que afirma ser a morrer uma construção
sociocultural em contínua reescritura; uma conversa em andamento.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior – Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

Referências
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Citar

Freitas, LC, Oliveira, PRN, Farias, LA, Almeida, MHM, Batista, MPP. Prática de memorialização virtual no contexto da pandemia de COVID-19 no Brasil: rito do velório online. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2025/set). [Citado em 05/12/2025]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/pratica-de-memorializacao-virtual-no-contexto-da-pandemia-de-covid19-no-brasil-rito-do-velorio-online/19798?id=19798&id=19798

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