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0375/2023 - HIGIENIZADORES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19: ENTRE A INVISIBILIDADE E A ESSENCIALIDADE
PRIMARY HEALTH CARE CLEANERS IN THE CONTEXT OF THE COVID-19 PANDEMIC: BETWEEN INVISIBILITY AND ESSENTIALITY

Autor:

• Fernanda Veloso Costa Menezes - Menezes, F. V. C. - <fernanda.veloso@ufba.br>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1966-1170

Coautor(es):

• Mônica Angelim Gomes de Lima - de Lima, M. A. G - <monicangelim@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3364-8439

• Robson da Fonseca Neves - Neves, R.F - <robsonfisioba@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3889-560X

• Alain Coulon - Coulon, A. - <acoulon00@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5354-101X

• Marcelo E. P. Castellanos - Castellanos, M. E. P. - <mcastellanos73@gmail.com>
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4977-5574



Resumo:

Esse artigo apresenta a trajetória dos higienizadores da Atenção Primária à Saúde (APS) no contexto da pandemia Covid-19, seus desafios e enfrentamentos. Partindo da pergunta: como os trabalhadores da higienização expressaram os sentidos da sua experiência sobre o trabalho como higienizador no cenário pandêmico? O objetivo deste estudo foi analisar a experiência dos trabalhadores da higienização sobre o trabalho como higienizador durante a pandemia Covid-19. Adotou-se uma abordagem qualitativa, apoiada na fenomenologia do cotidiano e da etnometodologia, para explorar o trabalho desses atores no contexto da APS. A pesquisa foi desenvolvida em três Distritos Sanitários (DS) do município de Salvador – Bahia e em cada DS foram selecionadas duas Unidades de Saúde da Família (USF). A produção dos dados se deu por meio de entrevistas semiestruturadas em profundidade, tanto remotas quanto presenciais. Os resultados revelaram a presença do binômio invisibilidade versus essencialidade no cotidiano dos trabalhadores da higienização na APS, ou seja, ainda que considerados essenciais, não conseguem a visibilidade e o reconhecimento profissional e social.

Palavras-chave:

COVID-19, Trabalhador de saúde, Saúde do trabalhador, Equipe de saúde, Atenção Primária à Saúde

Abstract:

This article presents the trajectory of Primary Health Care (PHC) sanitizers in the context of the Covid-19 pandemic, its challenges and confrontations. Startingthe question: how did sanitation workers express the meanings of their experience of working as a sanitizer in the pandemic scenario? The objective of this study was to analyze the experience of sanitation workers about working as a sanitizer during the Covid-19 pandemic. A qualitative approach was adopted, supported by everyday phenomenology and ethnomethodology, to explore the work of these actors in the context of PHC. The research was carried out in three Health Districts (DS) in the city of Salvador – Bahia and two Family Health Units (USF) were ed in each DS. Data production took place through in-depth semi-structured interviews, both remote and in-person. The results revealed the presence of the binomial invisibility versus essentiality in the daily lives of hygiene workers in PHC, that is, even though they are considered essential, they do not achieve visibility and professional and social recognition.

Keywords:

COVID-19, Health personnel, Occupational health, Patient care team, Primary Health Care

Conteúdo:

INTRODUÇÃO

A pandemia COVID-19 foi responsável por desencadear uma série de crises, instalando o pânico em meio ao desequilíbrio sanitário, político e socioeconômico. De acordo com o painel de casos de doença pelo coronavírus, até o início de abril de 2023 o número total de casos confirmados no Brasil chegou a 37.319.254 e 700.556 óbitos confirmados. A Bahia alcançou 1.796.350 casos e 31.515 óbitos 1 .
Neste panorama os profissionais da saúde seguem atuantes e, dentre eles, um grupo ainda mais específico exige um olhar especial: os trabalhadores invisíveis da saúde. Afinal, apesar dos trabalhadores de nível médio representarem uma parcela fundamental da força do trabalho em saúde, ocupando funções estratégicas no processo de trabalho nesse setor, infelizmente, seguem sendo excluídos e invisibilizados. O grupo de trabalhadores considerados invisíveis são, ainda, aqueles que se encontram em situação de marginalização social, desempenhando atividades historicamente e culturalmente pouco valorizadas pela sociedade e, em consequência, tornando-se relegados à invisibilidade pública. Tais atividades são desenvolvidas por indivíduos com baixa remuneração e pouca escolaridade, reforçando ideias de desigualdade e injustiça social. Antagonismo de classes, exclusão social, racismo estrutural, precarização do mercado de trabalho, terceirização trabalhista e mercado informal são algumas das questões que circundam esse fenômeno (CASTRO, 2021). Englobam-se aí categorias como a de técnicos e auxiliares de enfermagem, de raio-x, de análise laboratorial, de farmácia, maqueiros, motoristas de ambulância, recepcionistas, pessoal de segurança, limpeza e conservação e agentes comunitários de saúde (FIOCRUZ, 2021).
O trabalho visível é tido como aquele de fácil identificação, que se encontra em evidência e, portanto, é dotado de (auto)reconhecimento. No entanto, sociólogos têm se debruçado sobre um tipo de trabalho, que está inserido fora desse domínio: o trabalho invisível, aquele que não é valorizado ou é pouco valorizado pela sociedade. Inicialmente, os estudos centraram-se no trabalho doméstico e voluntário, com foco na divisão sexual do trabalho. Com o passar do tempo, a expressão trabalho invisível foi ganhando espaço e novas dimensões, fazendo assim com que a invisibilidade passasse a ser aplicada a um número maior de categorias de trabalhadores 2 .
O trabalho invisível é aquele realizado para gerar renda e é negligenciado, ignorado e/ou desvalorizado, não só pelo empregador, bem como pelo próprio trabalhador, pela sociedade em geral e, até mesmo, pelo próprio sistema jurídico. Não está estritamente relacionado ao ato visual, fazendo referência à desvalorização e julgamentos sociais. Em sentido amplo, o trabalho pode ser invisível de duas maneiras. A primeira relaciona-se ao próprio domínio do trabalho, onde algumas profissões são altamente valorizadas ao tempo que outras são socialmente desvalorizadas e a segunda diz respeito à seara sociopolítica e socioeconômica, onde outros interesses são colocados acima das questões trabalhistas 2.
Em seu livro Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, o psicólogo Fernando Braga da Costa discute a existência do fenômeno da invisibilidade pública ao trajar-se de gari e passar o período de sua pesquisa varrendo ruas da Universidade de São Paulo (USP). O que Costa 3 percebeu foi que, ao utilizar o uniforme daqueles trabalhadores, não foi enxergado nem mesmo pelos amigos e colegas mais próximos e, com isso, passou a questionar-se o porquê de haver simplesmente “desaparecido”. Dessa maneira, o autor constata que as pessoas enxergam apenas a função social do outro, a essencialidade dos fazeres para a sociedade está condicionada à divisão social do trabalho. Os trabalhadores considerados “braçais”, uma expressão do racismo estrutural, são, diante dessa sociedade, sombras sociais (seres invisíveis e sem nome) e a humilhação social é sofrimento ancestral imerso em um ciclo repetitivo e continuado sob novas formas, camuflado em golpes menos evidentes 3.
Ao se tratar de trabalho invisível, há ainda que se refletir sobre o trabalho subalterno. Este, considerado o desempenhado por indivíduos com baixa escolaridade, pouca qualificação e pequena remuneração, associado à falta de escolha pessoal, relação de dependência entre patrão/empregado e, aos olhos da sociedade, visto como “inferior”. Quase na sua totalidade realizado por terceirizados, o trabalho da higienização é revestido de invisibilidade e humilhação social 3, 4 . Para Gonçalves Filho 4, “uma modalidade de angústia disparada pelo impacto traumático da desigualdade de classes” (p. 15 ).
Nesse mesmo sentido, no livro Vivendo o trabalho subalterno 5 são relatadas experiências de doze magistrados do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região de São Paulo, trabalhando como garis, faxineiros, copeiros, cobradores de ônibus e caixas de supermercado, durante um dia. Eles afirmaram que se tornaram invisíveis e perceberam que a hierarquia social é plena de silêncios. Segundo os autores, a distância entre os que possuem o direito de escolher seu trabalho e os que possuem necessidade de sobrevivência indica o muro que os separa. Chamam atenção para o fato de que, caso não tomemos cuidado e tenhamos sensibilidade, muito em breve seremos todos trabalhadores subalternos ao comando do capital 5 .
É importante mencionar que algumas tendências impulsionam o aumento do trabalho invisível. Dentre elas o aumento do trabalho precário, a expansão do setor de serviços, a limitação da capacitação, o crescimento da tecnologia e a globalização, que inclui tendências de terceirização. Porém, nem todo trabalho precário é invisível, ainda que haja. maior probabilidade de que isso ocorra em função de questões como a incerteza do vínculo empregatício 2
A terceirização é um fenômeno global fortemente associado ao trabalho invisível. A reforma trabalhista de 2017 intensifica essa situação, fragilizando relações sociais e trabalhistas dos trabalhadores invisíveis. Afinal, a precarização das relações de trabalho e a acentuação da exploração desses trabalhadores intensifica a invisibilidade. A exemplo desses terceirizados temos o grande contingente dos trabalhadores da limpeza que laboram em instituições públicas e privadas e encontram-se na sombra da sociedade 6 .
Segundo a Fundação Oswaldo Cruz - FIOCRUZ, profissionais de nível técnico/auxiliar/apoio somam no Brasil mais de 2 milhões de trabalhadores, dos quais mais de 1,5 milhão atuaram na linha de frente na Pandemia Covid-19 e, ainda assim, seguem fora de foco, sentem-se abandonados pela sociedade em geral. Dentre esses, encontram-se cerca de 1,8 milhão técnicos e auxiliares de enfermagem, 230 mil de saúde bucal, 85 mil de radiologia, 29 mil de laboratório, 20 mil de nutrição e outros milhares que correspondem a categorias diversas no atendimento assistencial (maqueiros, condutores de ambulância, pessoal da limpeza, manutenção, segurança, administração, recepção, dentre outros) 7 .
Apesar da atuação dos serviços de saúde se tornar impossível sem a participação desses profissionais, demonstrando sua essencialidade e de também terem tido sua carga de trabalho intensificada com a pandemia, eles seguem desvalorizados e no anonimato. Para muitos, a equipe de atenção à saúde continua sendo basicamente composta apenas pelos profissionais médico e enfermeiro, fato expresso pela presença quase exclusiva de médicos e enfermeiros como sujeitos das pesquisas em ambiente hospitalar7. Em menor proporção, alguns estudos tratam da equipe multiprofissional e acrescentam aí profissionais como nutricionistas, dentistas e fisioterapeutas. Por vezes, incluem também as equipes de técnicos em enfermagem e de agentes comunitários 7.
Diante desse cenário de invisibilidade, pergunta-se: como os trabalhadores da higienização expressaram os sentidos da sua experiência sobre o trabalho como higienizador no cenário pandêmico? O objetivo deste estudo foi analisar a experiência dos trabalhadores da higienização sobre o trabalho como higienizador durante a pandemia Covid-19. Nesse contexto, este estudo coloca em relevo a reflexão sobre a invisibilidade desses trabalhadores enquanto iniquidade em saúde, iluminando as condições de trabalho e estratégias coproduzidas para a permanência no trabalho durante a pandemia.

MÉTODOS

Trata-se de estudo de abordagem qualitativa, com desenho descritivo-analítico sobre o cotidiano de trabalhadores da higienização da APS no contexto da pandemia Covid-19 em Salvador. Toma como referência a fenomenologia do cotidiano de Alfred Schütz 8, no que diz respeito a como os trabalhadores invisíveis produzem seu mundo da vida cotidiana de trabalho e reivindica sua importância durante a pandemia da Covid-19 8 .
A contribuição da etnometodologia busca a visibilidade da relatabilidade inerente ao mundo social, cotidiano, ordinário, apresentado pelos membros competentes de uma dada comunidade 9. Essa compreensão ocorre por meio da descrição do raciocínio prático 8 . Em referência à Schultz, Coulon 9 afirma a premissa de que somos todos “sociólogos em estado prático” admite como atributo das práticas a potencialidade do ator descrever, ao tempo em que constitui o mundo social, por meio da reflexividade, recurso possível na medida em que este mundo é relatável 9, 10 . Esta perspectiva teórica acentua a potencialidade da interação ator-pesquisador na ênfase ao “fazer falar” sobre fazer-se membro, trabalhador da higienização em Unidades de Saúde da Família (USF) em Salvador.
A pesquisa foi desenvolvida em seis USF, em três Distritos Sanitários (DS) do município de Salvador – Bahia. As unidades foram escolhidas por semelhanças e diferenças das unidades e seus territórios, tais como: condições socioeconômicas, alteração do fluxo e dos serviços prestados, tipos de atendimentos realizados durante a pandemia e participação em programas como o Salvador Protege. Todas as Unidades atuaram intensamente no atendimento de pacientes com suspeita de covid-19.
O trabalho de campo foi realizado por seis pesquisadoras do eixo APS, três mantiveram-se em atividade presencial, logo após a primeira dose da vacina, enquanto as outras conduziram as entrevistas remotas, por meio de uma plataforma de videoconferência.
Todos os trabalhadores da linha de frente das USF dos três DS eram elegíveis para a seleção de entrevistados e esse foi o único critério de inclusão utilizado. Sendo assim, não foi necessário estabelecer critérios de exclusão antes da realização das entrevistas, houve recusas justificadas por receio da gestão ou pela quantidade de trabalho. O projeto do grupo de pesquisa foi apresentado nessas unidades e seus gestores e trabalhadores foram convidados a participar do estudo, alcançando assim variadas categorias de profissionais, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários, recepcionistas e higienizadores.
Para otimizar o recrutamento de entrevistados, cada entrevistado foi solicitado a indicar um colega para participar do estudo, à semelhança da técnica de amostragem conhecida como bola de neve. Complementarmente, as pesquisadoras também recrutavam novos entrevistados no decorrer de sua permanência em campo. Dessa maneira, foi possível acessar pessoas que, em especial por conta do momento pandêmico, não estariam acessíveis ao grupo de pesquisadores.
Houve algumas recusas explícitas e implícitas, relacionadas a preocupações quanto à gestão, sobrecarga de trabalho e dificuldade de tratar o tema. Aos convidados que não responderam às mensagens iniciais foram feitas novas tentativas, tanto via nova mensagem quanto via ligação. Aos que manifestaram interesse em participar, foi enviado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE e a ficha de identificação, além das demais orientações para o momento da entrevista, realizada de acordo com a conveniência de cada participante.
Foram realizadas 79 entrevistas, com duração média de 50 minutos entre o mês de junho/2021 ao mês de novembro/2021. A saída do campo se deu pela decisão das pesquisadoras, diante da densidade do material produzido, quanto ao reconhecimento multidimensional do objeto de estudo, com saturação das informações em torno das principais categorias cotejadas 11 .
A produção dos dados se deu por meio de entrevista em profundidade, orientada por roteiro, contendo temas sobre o trabalho na pandemia. Optou-se pela condução livre da entrevista, cotejando diversos aspectos do objeto de estudo. A condução das entrevistas priorizou a abertura para a escuta dos relatos, procurando respeitar o ritmo, as pausas e a fluidez das narrativas dos entrevistados, aumentando assim a densidade descritiva de diversos aspectos do objeto de estudo, respeitando o ritmo, as pausas e a fluidez do entrevistado nos diversos temas tratados. Admitiu-se ao entrevistador autonomia para realizar outras perguntas de acordo com o andamento da interação, permitindo ao entrevistado percorrer os temas propostos e se sentir livre para expressar seus sentimentos, emoções e experiências.
As entrevistas presenciais foram gravadas em áudio e as remotas em vídeo. Foram realizadas anotações sobre as entrevistas em diário de campo. Os participantes tiveram seus nomes codificados e todas as gravações foram criptografadas, transcritas e revisadas, os nomes aqui apresentados são fictícios. Para fins de análise, foram realizadas leituras repetidas das transcrições, a partir do que foram identificados e discutidos temas orientadores do roteiro de entrevista e temas emergentes não previstos no roteiro. Essa discussão cotejou os dados empíricos com elementos teóricos norteadores deste estudo relativo ao trabalho, o cotidiano, as emoções desses trabalhadores e o contexto de crise. As categorias iniciais do roteiro foram revisadas, a partir dessa discussão. Então, o conjunto de entrevistas foi categorizado utilizando o Software de análise qualitativa NVivo versão Release 1.6.1 (1137).
Após a produção dos dados com as diversas categorias de profissionais, optou-se por recortar, neste estudo, as interações com os higienizadores, pela relevância e contundência como a díade invisibilidade-essencialidade emergiu em quatro das seis entrevistas realizadas com os higienizadores (Quadro 1), ao falarem de seu trabalho e suas contradições. Por meio de uma abordagem indutiva, a entrevista de um dos interlocutores, a quem chamamos de João, é aqui adotada como caso-guia, por apresentar amplitude e densidade das temáticas tratadas. Os demais relatos dialogam, com as categorias prévias e os temas emergentes.
A análise percorreu o corpus empírico reunindo as informações e produzindo sínteses, seguida de leitura indutiva, a partir dos temas centrais deste estudo, sensível a temas emergentes. A leitura horizontal do conjunto das entrevistas permitiu a identificação de convergências e discrepâncias dos relatos produzidos. Metáforas, emoções e sentimentos foram reconhecidos em diálogo com o contexto.
O registro reflexivo da primeira autora quanto às experiências preexistentes, como trabalhadora invisível na recepção de uma USF, permitiu a reflexividade, tocada em muitos momentos pelas falas dos entrevistados. Por em suspensão as evidências e o contexto descrito pelos interlocutores, permitiu o diálogo crítico com o empírico e a análise-interpretação.
Esta pesquisa faz parte de um dos eixos do Projeto ObservaCovid - Análise de modelos e estratégias de vigilância em saúde da pandemia do covid-19 (2020-2022) e respeita os aspectos éticos e compromissos inscritos no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Aprovação do Comitê de Ética - parecer n° 4.586.652.

DA INVISIBILIDADE À ESSENCIALIDADE

O movimento entre a invisibilidade e a essencialidade demonstra-se muito expressivo na análise dos relatos produzidos neste estudo. A invisibilidade participou de maneira intensa na experiência dos trabalhadores das equipes de higienização durante a pandemia. Os relatos descrevem um sentimento de não pertencimento às equipes de trabalhadores das USF de maneira que os higienizadores não se sentirem enxergados e aceitos como trabalhadores da saúde. Nesse percurso, a essencialidade surge como surpresa, seguida de descrença, quanto ao efeito desta descoberta. Apesar da essencialidade da atividade de higienização nos serviços de saúde, ser acentuada pela crise sanitária, não chega a ser convertida em reconhecimento. Ao invés de bônus, emerge o sentimento de ônus por ser essencial, ao ser sobrecarregado em seu cotidiano de trabalho e deparar-se com o desprezo social.

O desprezo social: “...a pior porrada é essa da vida, porque você tá sendo machucado de dentro pra fora, [...] mas você tá ali resistindo.” João

No cenário da APS, João descreve um trabalho considerado exaustivo, onde precisa fazer e refazer o seu trabalho. Um ciclo que tornou-se cada vez mais repetitivo e angustiante: “Rapaz, eu já cheguei a sentir vontade de chorar, de fazer as coisas e ver tudo indo por água abaixo, fazer e ter que fazer de novo, fazer e ter que fazer de novo. É duro, mas me adaptei, consegui me adaptar.”
Nesse sentido, o sentimento de ser desprezado pela sociedade surge e é responsável por abrir feridas, machucando e trazendo amargor para esse trabalhador. A sensação de desprezo ganha força e dói na alma. Invisibilidade e desvalorização pulsam e são sentidas como uma "porrada" que, de fato, machuca. O pensamento de desistir segue tentando dominá-lo ao perceber o descaso para com o seu trabalho, mas a decisão de resistir persiste. Conforme completa João:

"... a dificuldade vem, não interessa o quanto você bate, mas interessa o quanto você suporta apanhar e a pior porrada é essa da vida, porque você tá sendo machucado de dentro pra fora, você vê as coisas que você tá fazendo sendo destruída, sendo desprezada, mas você tá ali resistindo. Então você tem que aprender a suportar, a verdade é essa, o que o mundo quer saber é quanto você suporta a pancada. É muito duro, eu pensei várias vezes em desistir..."

Confirma, assim João: "Tenho que assistir algumas coisas sem poder falar nada pela minha função [...] A gente não tem muita opção não, a gente tem que obedecer." Não resta outro caminho a não ser abaixar a cabeça e seguir as ordens recebidas, ainda que não concorde com elas. Afinal, ir contra o fluxo pode significar perder a tão "privilegiada" vaga de emprego, obedece quem tem medo de perder o pão de cada dia e o sustento da família.

Para Le Blanc 12, esses indivíduos vivem a denominada “invisibilidade social”, impossibilitando-os de participar ativamente na vida pública, por serem fragilizados pelas condições sociais de vida. Nesse sentido, o autor acrescenta que a invisibilidade é a perda da voz. Sendo assim, os indivíduos visíveis são audíveis enquanto os invisíveis não 13 . Invisibilidade essa que, dentro da dinâmica do trabalho invisível, não é inerente ao indivíduo, mas sim à atividade que ele exerce diante de uma sociedade preconceituosa e que faz com que a voz do trabalhador se torne inaudível socialmente. Há ainda que se pensar que para cada forma de invisibilidade há um trabalho emocional oculto, onde o indivíduo suprime seus reais sentimentos para manter-se atuante 2 .
Com o aumento da demanda e a falta de higienizadores suficientes na rede de saúde, os deslocamentos, não apenas internos, bem como para outras USF, acabaram sendo um fato constante e demandante desse trabalhador da higienização. Novamente a essencialidade do profissional da higienização ganha relevo. Afinal, sem esse trabalhador, os atendimentos não podiam ser realizados. Em contrapartida, a invisibilidade da profissão reverbera mais uma vez. Não há diálogo, não há participação nas decisões, há apenas a obrigação de fazer. É um fazer sem consideração, sem respeito, sem o mínimo de preocupação com o trabalhador e com condições básicas como a sua alimentação. É um fazer violento, onde falta não só reconhecimento, mas também inclusão. João confirma esse olhar, acrescentando:

"Porque como é que você vai pra seu local de trabalho e você não tá preparada com almoço, transporte e resolve te relocar em cima da hora, tá errado. [...] “Ah, mas tem que ir.” "Porque a demanda é grande e os funcionários não tem, quantitativo suficiente aí sempre vão deslocando a gente pra dá apoio em outro local."

No que concerne à organização do trabalho, dentre os principais desafios ocupacionais enfrentados nos estágios iniciais da pandemia, esta mudança radical nas atividades individuais, as alterações (em grande parte repentinas) nos seus locais de trabalho e a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI). Condições responsáveis por impactar o trabalhador tanto no cotidiano de trabalho quanto fora dele. As variações de tarefas e local de trabalho, por exemplo, foram responsáveis por gerar ansiedade, mal estar e sobrecarga de trabalho. Surgiram ainda sentimentos de desvalorização e sensação de serem descartáveis. Contudo, o dia a dia de trabalho passou a produzir medo e incerteza, impactando tanto ao profissional, quanto aos que com ele conviviam 13.
Embora muitos profissionais tenham tomado a iniciativa de se oferecerem para essa realocação, ela foi motivo de ansiedade e angústia por não saberem exatamente quais seriam as novas tarefas, nem quando e se seriam realmente realocados. Relataram ainda que, o fato de irem para locais novos com pessoas diferentes associado ao fato de precisarem aprender rápido diversas formas de trabalhar foram aspectos desafiadores enfrentados nesses momentos. É importante mencionar que muitas dessas realocações eram feitas ainda que de forma involuntária e alguns entrevistados demonstraram alívio por não terem sido escolhidos, enquanto outros sentiram vergonha por evitar 14 .
Outros, mais especificamente os mais invisibilizados, não tiveram opção e, inicialmente, essas realocações não eram conversadas e, nem sequer, comunicadas com antecedência. Além do risco de contaminação ser elevado, a falta de aviso prévio não permitia que o trabalhador conseguisse se preparar para a mudança. Tal atitude foi exemplificada pelo trabalhador como falta de cuidado da gestão para com o trabalhador da higienização, um marcador de sua invisibilidade.
Apesar de atuarem há dois anos na linha de frente contra a pandemia, trabalhadores como higienizadores, apoio operacional e administrativo seguiram sem sequer adquirir “cidadania de profissional de saúde”. Seguem invisibilizados pela gestão, pelos próprios colegas de trabalho e até mesmo pelos usuários do serviço. Invisibilidade essa questionada pelos pesquisadores como assustadora e cruel, incidindo no adoecimento desse trabalhador 15 .
Cabe aqui fomentar outra reflexão acerca da denominação estigmatizante “trabalhadores de apoio”, que nos remete à ideia de algo ou alguém utilizado para auxiliar. Dessa maneira, o papel principal lhes é sempre furtado, fazendo parecer que a sua profissão não tem importância, negando a essencialidade que realmente possui e abrindo espaço para a manutenção de padrões culturais que acentuam iniquidades.
No tocante ao trabalho de equipe, duas ideias são tidas como indispensáveis: afiliação e pertença. A primeira, quanto ao processo de tornar-se membro daquele grupo de higienizadores daquele local. A segunda, quanto à relação que se constrói à medida que o trabalho em conjunto acontece, gerando ou não no trabalhador o sentimento de pertencimento. Ambas se demonstram essenciais para que o trabalhador se sinta acolhido, enxergado e tenha a real sensação de ser membro do grupo em que trabalha 9 . Dessa maneira, a equipe não surge somente em função da convivência dos seus integrantes em um mesmo local de trabalho. É preciso que seja construída a partir de um objetivo em comum, baseando-se no respeito e valorização do outro 16 .
Nesse contexto, não há também sentimento de pertencimento. Acredita-se que, por ser higienizador, não pode nem sequer ser considerado funcionário da saúde, fortalecendo a condição de sentir-se invisível, de ser um marcador dessa invisibilidade. Por ser “serviços gerais” e não se sentir, de fato, parte da equipe não seria da sua alçada nem sequer orientar o usuário quanto ao uso de máscara? Não fosse o período atípico da pandemia, deveria permanecer calado e invisível? Os relatos de Olívia indicam essa direção:

"...a gente mesmo higienizador a gente, não somos literalmente funcionários da saúde, né?"
"...alguns são desacreditados da vida, pra usar máscara a gente tinha que ficar pedindo, eles botavam, atendiam sabe, mas tinha que ficar toda hora lembrando, mesmo a gente sendo serviços gerais a gente ia lá e reforçava pra eles."

Para Letícia, ser da limpeza, “não era um trabalho pra se ter", diante do preconceito e da marca de um trabalho indigno, que se apresenta como desprezível e socialmente inaceitável. Após vivenciá-lo, dia após dia, Letícia considera que aprendeu muito, amadureceu e passou a sentir orgulho do trabalho que realiza, passou a acreditar que de fato podia considerá-lo um trabalho. Ainda assim, menciona que depois de trabalhar na higienização é capaz de fazer qualquer coisa (já estaria ela realizando o pior dos trabalhos?). Ressalta Letícia: "... eu achava que higienização não era um trabalho pra se ter. Hoje em dia é trabalho hehe [risos]. Eu tenho até orgulho, sabe? Aprendi até muito com a higienização porque eu não fazia nada, agora, qualquer coisa eu faço." Em contrapartida, acredita também que esse momento serviu para que sua profissão fosse enxergada, ainda que aos poucos.
Os sentimentos e sensações que envolvem a invisibilidade se fazem presente em diversos momentos. No trecho a seguir é possível perceber que o trabalhador tem a real sensação de que “trabalha na parte de baixo” e de que as pessoas não costumam preocupar-se com o que considera “pessoas menos favorecidas”. Assim, destaca João: “Hoje em dia poucas pessoas se preocupam com o cotidiano, com a rotina de vida de outras pessoas e pessoas menos favorecidas, ou seja, as pessoas que estão trabalhando na parte de baixo e isso aí foi um ganho, é um ganho.”
Outros estudos encontrados corroboram com os achados dessa pesquisa. Nesse sentido, em uma revisão, Teixeira et al 17, analisou mais de 100 trabalhos sobre o trabalhador de saúde na pandemia e observou que, além da maioria tratar apenas de médicos e enfermeiros, nenhum deles é direcionado para o conjunto heterogêneo de trabalhadores envolvidos na assistência à saúde. Os estudos analisados revelam a ausência de menção ao conjunto de trabalhadores que, embora não tenham formação específica nas profissões da área, fazem parte da força de trabalho em saúde. Nesta revisão, não foram encontrados estudos voltados para trabalhadores invisibilizados, por exemplo, motoristas envolvidos no transporte de pacientes, maqueiros, trabalhadores de higiene/limpeza e sepultadores 17.
Esse mesmo estudo chama a atenção para o fato da maioria dos trabalhos ser acerca da atenção hospitalar, negligenciando a importância dos profissionais e trabalhadores da saúde da atenção primária e da própria APS como “porta de entrada” do Sistema Único de Saúde 17. E registra que os estudos não incluem uma análise das desigualdades e hierarquia inerentes à equipe de saúde, não apenas no tocante aos médicos, enfermeiros e técnicos, mas, em especial, no que tange os outros membros da equipe 18 . Trabalhadores da higienização, por exemplo, apesar de fornecerem serviços essenciais, seguem invisibilizados mesmo durante o período pandêmico. Um estudo realizado durante a pandemia envolveu higienizadores e observou que eles não se sentem enxergados, tanto dentro do trabalho quanto fora dele. A falta de reconhecimento e o estigma de “trabalho sujo invisível” foram considerados motivos de preconceito social sofrido por esses trabalhadores 19.
Estudo anterior ao período pandêmico corrobora com o tema e já trazia o trabalho invisível associado ao considerado “dirty work” por considerar que alguns trabalhadores enfrentam a invisibilidade crônica em função do trabalho “sujo” que exercem19. Neste estudo foi realizada uma análise fenomenológica indutiva para examinar como as pessoas experimentam a invisibilidade, como se sentem ao não serem vistas ou serem tratadas como se não pudessem serem vistas. A pesquisa procurou entender quando os trabalhadores se sentem invisíveis, como eles dão sentido a essas experiências e as consequências para o seu trabalho e bem-estar. Estiveram envolvidos 199 higienizadores que relataram experimentar a invisibilidade no trabalho ao não serem reconhecidos e a invisibilidade do trabalho ao sentir que o trabalho é ignorado ou desvalorizado 20 .

O descobrir-se essencial: "O higienizador hoje virou peça, já era, mas agora passou a dar valor, como peça fundamental na saúde.” João

Diante do contexto pandêmico, a essencialidade emerge ao não se ter dúvidas de que sem o exercício da sua atividade, nada mais funcionaria e nem um atendimento sequer teria sido realizado em um momento tão delicado. O higienizador convive com a sensação constante de atuar como “peça”, mas, ao menos, na pandemia passou a ser “peça fundamental.
A metáfora “peça”, como trazida por João, acentua a invisibilidade ao compor o interior de uma máquina, de maneira imperceptível. A essencialidade representada pela metáfora de peça fundamental é qualificada ao reconhecer a inviabilidade de permanência desse serviço aberto nesse momento crítico da pandemia. A certeza que o trabalhador tem quanto à importância do seu trabalho, é expressa no compromisso com o seu êxito. Dessa maneira, João adota como estratégia chegar uma hora mais cedo (tempo compensado no descanso do almoço) para que as outras atividades pudessem fluir quando a Unidade fosse aberta. Como peça essencial, localizada em uma linha de produção do serviço, é responsável por soltar, dar partida e garantir maior aproveitamento do tempo do serviço aberto: "[...] vou trabalhando 7 horas mesmo antes de bater o ponto. Porque eu adianto o trabalho, eu solto o trabalho, quando abre 8 horas de 100% já tem 90% pronto."
Com o período pandêmico, a essencialidade da higienização tornou-se ainda mais acentuada. Caso não houvesse a realização dos protocolos de limpeza, não haveria atendimento. O higienizador passou a trabalhar em esquema de prontidão,"[...]a gente ficava a postos, né? Esperando terminar cada atendimento e aí quando terminava a gente limpava tudo." Letícia. Esses cuidados foram mais acentuados para o atendimento odontológico, diante da alta produção de aerossóis, exigindo limpeza terminal ao final dos atendimentos e a desinfecção do ambiente a cada paciente. Para cumprir as orientações e manter a prestação do serviço, a carga de trabalho dos profissionais da limpeza foi intensificada21. Em relação a isso, declara João:
.
"Quando estava no auge da pandemia, a gente tinha que ficar de plantão, porque cada paciente que atendia tinha que fazer higienização da sala... Aí eu, ela atende um paciente, eu limpo, atende outro, aí eu limpo, às vezes são três pacientes, aí dois dentistas atendendo, aí dá uma média uns seis pacientes, aí tenho que limpar a cada, por conta dos protocolos de segurança."

No geral, os trabalhadores entrevistados consideram que o trabalho dobrou com o início da pandemia. O período foi tão difícil que muitos sentiram vontade de desistir. Alguns tiveram, inclusive, o incentivo familiar para não continuar. No entanto, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas no período pandêmico, demonstraram capacidade de adaptação, resistência e responsabilidade para com a manutenção do serviço por ter consciência do papel importante que desempenha na saúde. A referência à essencialidade da função, convoca a certeza de que desempenha papel fundamental na saúde, como descreve Cecília: "...a gente trabalha com a saúde né, não só nossa, mas a dos pacientes, das outras pessoas, dos nossos colegas de trabalho que desempenha um papel importante, então, eu tinha essa consciência né...".
Apesar disso, a trabalhadora vive um conflito familiar relacionado ao seu trabalho, quando é questionada pela filha quanto ao por que ela precisa sair de casa para trabalhar em um momento que exige isolamento social e que muitos outros serviços foram interrompidos. Assim, Cecília relata o momento em que fala sobre a essencialidade do seu serviço, a importância do seu trabalho:

"...aí eu passei a explicar pra ela [filha] a importância né, que desempenhava papel importante que eu tava na área da saúde, que área da saúde era área que não ia ter isso de poder ir pra casa, de tá liberando né, porque as pessoas estavam precisando do meu serviço, do meu trabalho naquele momento..."

Nessa mesma direção, surgem os pensamentos em desistir, dando espaço para o duelo desistir-resistir. A contradição, desencadeada pelo medo, faz reverberar a dúvida do por que permanecer. De um lado, o medo e, do outro, a inevitabilidade da sobrevivência associada ao chamado da profissão. Por fim, a essencialidade ganha força e o trabalhador, antes visto apenas como peça, passa a ser peça fundamental, reconhecido por seus pares e, neste caso, pela gestão. Assim, Letícia salienta:

"Eu acho que foi logo no começo, quando eu queria sair daqui, minha família também queria que eu saísse, mas eu senti que as pessoas precisavam de mim, muita gente, muita gente mesmo, os meus colegas saíram. [...] Ah, no primeiro momento foi desesperador, eu pensei muito em sair, mas aí a gente teve até uma reunião aqui com a gerente, ela conversou com a gente, chamou a equipe de higienização e falou que precisava da gente, que as pessoas precisariam da gente e convenceu. Na verdade, era verdade, né? As pessoas precisavam da gente. Então eu fui mesmo com tanto desespero porque... sofri aqui, viu? Chorei vários dias. Sofri muito, mas... agora... eu...".

A essencialidade para Cecília, na sua primeira experiência na saúde, está ao lado das dificuldades em desenvolver esse trabalho, como algo inesperado, surge a descoberta da essencialidade do trabalho do higienizador em uma unidade de saúde:

"E aí a gente começa a desenvolver esse trabalho e conhecer mais, só quando a gente realmente entra na área. No início, foi bastante assustador, fiquei assustada, eu não imaginaria é, o tamanho que seria esse trabalho e a importância do auxiliar dos serviços gerais desempenha na unidade de saúde."

Apesar dos desafios para a aproximação com os atores deste estudo, as interações trouxeram elementos consistentes acerca da invisibilidade e da essencialidade dos trabalhadores de saúde da APS. A reflexão sobre o cotidiano de trabalho dos trabalhadores invisíveis da saúde da ESF durante a pandemia Covid-19 contribui para possíveis caminhos em torno de políticas direcionadas ao exercício do reconhecimento social de trabalhadores da saúde no âmbito da APS.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A exploração da díade invisibilidade-essencialidade permitiu analisar os processos que envolvem o cotidiano desses atores sociais e compreender as experiências vivenciadas por esses trabalhadores da atenção primária à saúde durante a pandemia Covid-19. Foi possível descrever como lidaram com o seu cotidiano de trabalho, seus sentimentos e sensações no que diz respeito à condição de invisibilidade. A orientação por “fazer falar” sobre o trabalho e suas contradições permitiu refletir com eles sobre invisibilidade e permanência no trabalho, de modo a dialogar sobre dificuldades vivenciadas nesse período e as estratégias para realizar o trabalho, ao lado do sentimento de desvalorização. Esses trabalhadores mantiveram-se ativos, construindo e reconstruindo estratégias para seguir realizando suas funções, viabilizando a manutenção do serviço.
Apesar de desempenharem função essencial como a da limpeza das unidades de saúde, os higienizadores seguiram no limiar da invisibilidade, não alcançando visibilidade pública. Seguem sem voz e sem rosto e sem serem ao menos cumprimentados.
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REFERÊNCIAS

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Menezes, F. V. C., de Lima, M. A. G, Neves, R.F, Coulon, A., Castellanos, M. E. P.. HIGIENIZADORES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CONTEXTO DA PANDEMIA COVID-19: ENTRE A INVISIBILIDADE E A ESSENCIALIDADE. Cien Saude Colet [periódico na internet] (2023/dez). [Citado em 22/12/2024]. Está disponível em: http://cienciaesaudecoletiva.com.br/artigos/higienizadores-da-atencao-primaria-a-saude-no-contexto-da-pandemia-covid19-entre-a-invisibilidade-e-a-essencialidade/19001?id=19001

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